Norma-mãe do concreto, ABNT NBR 6118 entra em revisão

Crédito: Banco de Imagens
No dia 10 de outubro de 2019 foi reativada a Comissão de Estudo de Estruturas de Concreto - Projeto e Execução (CE-002:124.115) do Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-02). O objetivo do grupo é encaminhar o processo de revisão da ABNT NBR 6118 (Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimentos). Depois de receber mais de uma centena de sugestões, e de reativar a comissão, o trabalho de revisão deve se estender ao longo de 2020.
Conhecida como norma-mãe do concreto, a 6118 teve sua mais recente revisão em 2014. Em seguida, conquistou o padrão internacional pela ISO/TC71, por atender aos requisitos da ISO 19338 - Performance and assessment requirements for design standards on structural concrete. O documento estabelece os parâmetros mundialmente aceitos para as normas de projeto de concreto estrutural, conferindo à ABNT NBR 6118 a possibilidade de ser aceita em outros países.
A ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) está à frente do processo de revisão da norma-mãe. Os engenheiros civis Suely Bacchereti Bueno, diretora de normas técnicas da ABECE e coordenadora da comissão, e Alio Kimura, diretor-adjunto de normas técnicas da ABECE e secretário da comissão, explicam na entrevista a seguir o que será atualizado na ABNT NBR 6118.

Crédito: ABECE
A ABNT NBR 6118:2014 entrou em novo processo de revisão. Já se sabe quais os pontos que devem ser atualizados?
Ao longo de 2018, recebemos mais de 100 sugestões de melhorias em diversas partes do texto normativo. Estas sugestões foram apresentadas e discutidas, havendo um entendimento do que pode ser incorporado e sobre o que requer mais análise. A participação de profissionais de todo o Brasil nas sugestões vem se intensificando, à medida que se ampliam os recursos de reuniões remotas. Salientamos que a revisão da norma é aberta para todos. Todos podem contribuir para o aprimoramento e o aperfeiçoamento do texto, que muitas vezes leva a interpretações diversas. Expor pontos que geram dúvidas ou distorções na aplicação da norma, por parte dos usuários, já é uma importante contribuição.
A norma ganhará apenas atualizações ou terá partes novas para abranger novos tipos de concretos, como, por exemplo, os nanoestruturados e os de ultra-alta resistência?
Até o presente momento, não há previsão para abranger novos tipos de concreto. A introdução de um novo tópico tem que ser estudada e discutida com antecedência. É importante que tenha sido formatada e apresentada anteriormente. Agora, na reta final, é muito difícil introduzir temas como esses.
“Trata-se de uma norma que necessita ser constantemente revisada, uma vez que a área de projetos de estruturas de concreto está em constante evolução.”
Como trata de estruturas de concreto, daria para dizer que a ABNT NBR 6118 precisa sempre estar em processo de atualização?
Sim, trata-se de uma norma que necessita ser constantemente revisada, uma vez que a área de projetos de estruturas de concreto está em constante evolução. O estudo sobre o comportamento das estruturas evolui no mundo todo. O Brasil acompanha esta evolução da pesquisa. Participamos de comitês em diversos organismos de normalização internacional e temos que manter nossas normas sempre atualizadas.
A ABNT NBR 6118:2014 possui padrão internacional por atender aos requisitos da ISO 19338. A revisão causa alguma alteração nessa certificação?
Sim, após a publicação pela ABNT, a norma revisada precisará passar por uma revalidação na ISO.

Crédito: ABECE
Com relação à verificação do projeto, isso será reforçado na nova revisão?
O texto sobre a verificação de projetos existe desde 2003. Ele foi um pouco alterado na edição de 2014. Dentre as sugestões recebidas em 2018, algumas tratam deste assunto, e teremos que debatê-las.
Como se encontram os trabalhos da comissão que fará a revisão da norma e quantos engenheiros participam dela?
As reuniões em 2018 foram realizadas dentro do âmbito do comitê IBRACON/ABECE CT-301. Há poucos meses, conseguimos reativar a comissão CE-02:124.15 na ABNT. Então, de agora em diante, as reuniões estarão dentro do âmbito da ABNT. Usualmente, o grupo de engenheiros participantes não é elevado. Gostaríamos que fosse maior.
O trabalho de revisão deve se estender ao longo de 2020?
Sim, deve se estender durante todo o ano de 2020.
Qual a expectativa de data para que o texto revisado da ABNT NBR 6118 seja publicado?
A expectativa é que o texto seja publicado no início de 2021 ou final de 2020.
Entrevistados
Engenheiros civis Suely Bacchereti Bueno, diretora de normas técnicas da ABECE e coordenadora da comissão (CE-002:124.115), e Alio Kimura, diretor-adjunto de normas técnicas da ABECE e secretário da comissão
Contato
abece@abece.com.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Varejo desperta para as certificações greenbuilding

Crédito: GBC Brasil
O varejo é o novo protagonista das construções sustentáveis no Brasil. Liderado por redes de lojas e de restaurantes, o setor fez crescer 40% o volume de certificações LEED (Leadership in Energy and Environmental Design [Liderança em Energia e Design Ambiental]) em 2019, na comparação com 2018. “O varejo é o principal contratante de certificações Greenbuilding em 2019”, confirma Sandrino Beltrane, Head de Desenvolvimento de Negócios no Brasil pelo GBCI Inc. (GreenBuilding Certification Institute), em palestra no GreenBuilding Brasil 2019.
O segmento também é responsável pelo aumento da diversificação no número de clientes e tipo de empresas. Segundo Beltrane, 60% dos novos registros estão ligados ao varejo. Até outubro de 2019, houve 115 solicitações de certificações LEED no Brasil. “A gente percebe a democratização dos conceitos de construção sustentável. Saiu da esfera do real estate (mercado imobiliário residencial) e também não está mais confinado ao topo da pirâmide do setor produtivo. Antes, apenas as indústrias brasileiras de grande porte e as multinacionais buscavam certificações. Hoje vemos indústrias de pequeno e médio porte, além do varejo”, cita o palestrante.
De acordo com o Head de Desenvolvimento de Negócios no Brasil pelo GBCI Inc., o varejo, por exemplo, é bem objetivo em sua busca pela certificação. “O mercado de varejo clama por desempenho”, diz. Ou seja, as redes de lojas e restaurantes querem soluções para reduzir consumo de água, de energia elétrica e de resíduos. Um case é a rede de lojas Renner. A empresa já possui três edificações com o selo LEED, após superar requisitos para a redução no consumo de água em 72% - o objetivo inicial era de 45% de economia - e atingir a meta quanto à reciclagem e reutilização de resíduos, que alcançou 80% - 5% acima dos 75% fixados pelo USGBC.
Além do comércio, cresce a demanda por certificações voltadas a bairros inteligentes
As medidas para alcançar esses níveis de desempenho incluem o aproveitamento de água de chuva, o uso de lâmpadas LED, de madeira certificada e de tintas e adesivos com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis. O USGBC também exigiu a coleta seletiva na operação e o controle da qualidade do ar interno durante a fase de construção. A unidade da Renner no shopping RioMar, em Fortaleza-CE, foi a primeira a obter o selo LEED Silver, em 2015. Já em 2018 foi a vez do prédio administrativo da empresa, em Porto Alegre-RS, reconhecido na categoria LEED Gold.
Em sua palestra no GreenBuilding Brasil 2019, Sandrino Beltrane destacou também a crescente demanda por certificações a bairros inteligentes. Recentemente, foi concedido ao empreendimento Cidade dos Lagos, em Guarapuava-PR, o primeiro LEED Communities do Brasil. O condomínio atende uma área com 3 milhões de m2, que reúne indústria, comércio, escolas, hospitais, prédios corporativos e habitacionais. “O conceito de construção sustentável vem mexendo com paradigmas em vários segmentos e mudando as cidades”, finaliza Beltrane.
Veja o vídeo da palestra no GreenBuilding Brasil 2019
Entrevistado
Reportagem com base na palestra de Sandrino Beltrane, Head de Desenvolvimento de Negócios no Brasil pelo GBCI Inc. (GreenBuilding Certification Institute), no GreenBuilding Brasil 2019
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Até onde chegarão os edifícios em concreto pré-moldado?

Crédito: fib
A The Breaker Tower, inaugurada em 2015, no Bahrein, é atualmente o maior edifício do mundo construído 100% com concreto pré-moldado. A obra tem 165 metros de altura, mas em breve perderá esse título. Está em construção na Holanda uma torre que alcançará 200 metros, e que também terá 100% de suas estruturas em pré-fabricado. Para o engenheiro-projetista britânico George Jones, coordenador do GT 6.7 (grupo de trabalho) de Edifícios Altos Pré-Fabricados da fib (International Federation for Structural Concrete), atualmente a tecnologia pode viabilizar torres com até 300 metros de altura, com ampla segurança.
Segundo Jones, a evolução dos pré-moldados está permitindo erguer prédios altos com grande velocidade. Ele citou o caso de uma edificação em Londres-Inglaterra, com 18 pavimentos e 1.000 apartamentos, e que em 25 semanas teve a sua estrutura montada. O engenheiro britânico avalia que a tecnologia só precisa vencer a dificuldade de transporte para se tornar dominante na construção de prédios altos até 300 metros. “Deslocar grandes volumes de peças em concreto pelos centros urbanos é um desafio que a indústria do pré-moldado aos poucos está conseguindo superar. De que forma? Projetando estruturas mais simples e mais esbeltas”, revela.
De acordo com George Jones, outro grande passo dado pela indústria de pré-fabricados de concreto é que esse é o setor da construção civil que mais avança com a produção automatizada de peças. “Na Europa Ocidental diria que esse é um processo consolidado, e que evolui para outros elementos da obra, como as fachadas com função estrutural. Também cresce a integração do pré-moldado com o aço”, diz. O engenheiro-projetista britânico aproveitou sua palestra no ENECE 2019 para fazer um relato da evolução da cadeia produtiva da indústria do concreto pré-fabricado. “Hoje não há o que não possa ser construído com essa tecnologia”, assegura.
Quinze cases de prédios altos inovadores, construídos em 12 países

Crédito: Cia. de Cimento Itambé
Para comprovar o que disse, George Jones mostrou 15 cases de prédios altos inovadores, localizados em 12 países, e que utilizam pré-moldados. Entre as obras, estão o Bella Sky Hotel, em Copenhague-Dinamarca, com paredes, painéis da fachada e lajes. A edificação ganhou o prêmio fib 2014 de estruturas de concreto. As demais edificações são: Dexia Tower, em Bruxelas-Bélgica, com colunas, vigas e lajes pré-moldadas; Breaker Tower, no Bahrein, onde o edifício todo é estruturado com pré-fabricados; Urban Dock Park, na região de Tóquio-Japão, com vigas, colunas e lajes resistentes a abalos sísmicos; Deux Tower, também em Tóquio-Japão, com colunas, vigas e lajes alveolares, e Tampere Tower Hotel, em Helsinque-Finlândia, com painéis-sanduíche nas paredes, para desempenho térmico e acústico da edificação.
No Brasil, o engenheiro selecionou o edifício Parque da Cidade, em São Paulo-SP, que possui um estacionamento subterrâneo com 6 pavimentos, construído com estruturas pré-moldadas. Também foram citados o Conjunto Paragon, em Santa Fé-México, que utiliza painéis côncavos e convexos no revestimento da fachada; Hospital North Western Memorial, em Chicago-EUA, que possui fachada com painéis protendidos, painéis-sanduíche nos pavimentos das garagens e painéis-portantes nos demais andares do edifício; Centro Médico Erasmus, em Roterdã-Holanda, que foi totalmente construído com pré-moldados; The Paramount, em São Francisco-EUA, com 128 metros de altura e fachada antissísmica; Premier Tower, em Melbourne-Austrália, com colunas e megacoluna central; Austrália 108 (em construção), em Melbourne-Austrália, com 317 metros de altura e que possui painéis e colunas pré-fabricadas; Seismic Resistant, em Xangai-China, com vigas e colunas pré-moldadas, e Torre de Cristal, em Madri-Espanha, com 250 metros e lajes protendidas.
Veja a apresentação da palestra do engenheiro-projetista George Jones
Entrevistado
Reportagem com base na palestra “O que é possível fazer com o concreto pré-moldado em edifícios altos?”, do engenheiro-projetista britânico George Jones, coordenador do GT 6.7 (grupo de trabalho) de Edifícios Altos Pré-Fabricados da fib (International Federation for Structural Concrete), no ENECE 2019
Contato: abece@abece.com.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Itaipu financia série de obras na fronteira Brasil-Paraguai

Crédito: Infraero
Três importantes obras estruturais na fronteira entre Brasil e Paraguai estão saindo do papel graças ao financiamento da Itaipu Binacional. A empresa que faz a gestão da segunda maior hidrelétrica do mundo está à frente da ampliação do aeroporto de Foz do Iguaçu-PR, cuja pretensão é se tornar a principal conexão entre os países do Mercosul para voos que levem à Europa e aos Estados Unidos, além de investir na construção de duas pontes. Uma no rio Paraná, entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco, no Paraguai, que irá desafogar a Ponte da Amizade, que liga Foz a Ciudad del Este; outra sobre o rio Paraguai, entre Porto Murtinho-MS e Carmelo Peralta, também no Paraguai.
Essa obra é considerada um marco para o corredor Bioceânico, e que pretende promover a ligação rodoviária entre os oceanos Atlântico e Pacífico, cruzando 4 países da América do Sul. A estrada nasce em Campo Grande-MS, corta Paraguai e Argentina e termina em Iquique e Antofogasta, no Chile. Por isso, a ponte entre Porto Murtinho-MS e Carmelo Peralta é estratégica para a rodovia. Ao custo de 300 milhões de reais, financiados pela Itaipu Binacional, a obra será estaiada e terá 680 metros de comprimento, com previsão de conclusão em março de 2024. Já a previsão orçamentária para a conclusão do corredor Bioceânico, também chamado de "Canal do Panamá da América do Sul", é de 443 milhões de dólares - aproximadamente 1,77 bilhão de reais.

Crédito: Acifi
No caso da segunda ponte sobre o rio Paraná, as obras iniciadas em agosto estão avançadas no lado brasileiro e devem começar no lado paraguaio em dezembro de 2019 ou, mais tardar, no início de 2020. Para chegar à fase de execução foi preciso superar questões tributárias para a exportação de máquinas e equipamentos, impasses trabalhistas e migratórios, além da busca de soluções para a navegação pelo rio Paraná e o uso de área no Paraguai para a construção do canteiro de obras.
Recursos vêm de convênios, patrocínios e redução de custos em outras áreas da empresa
Do lado brasileiro, o canteiro se encontra no bairro Porto Meira, em Foz do Iguaçu. O trabalho de desmonte de rochas próximo à margem do rio Paraná já teve início, para que, no lugar, seja erguido um dos dois pilares com 120 metros de altura, e que vão sustentar os cabos a serem estendidos no vão da estrutura. Construída pelo consórcio Construbase /Cidade /Paulitec, a Ponte da Integração tem custo estimado de 323 milhões de reais. Mais 140 milhões de reais serão alocados para a construção da Perimetral Leste, que ligará a nova ponte à BR-277. A previsão é de que seja inaugurada em 2023.

Crédito: Itaipu Binacional
Internamente, o conjunto de obras financiadas por Itaipu é chamado de “Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística”. O diretor-geral brasileiro da binacional, general Joaquim Silva e Luna, reforça que os investimentos só foram possíveis porque todos os atores envolvidos entenderam que os projetos mudarão completamente a economia da região. Além disso, a empresa ainda financia duas obras para o município de Foz do Iguaçu: a restauração do Hospital Ministro Costa Cavalcanti e a construção do Mercado Municipal de Foz. Os recursos para todos os empreendimentos virão de convênios, patrocínios e redução de custos em outras áreas da binacional.
Entrevistado
Itaipu Binacional (via assessoria de imprensa)
Contato: imprensa@itaipu.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
UNICAMP produz bloco intertravado com água de reúso

Crédito: UNICAMP
Pesquisa em desenvolvimento na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da UNICAMP busca substituir a água potável pela de reúso, a partir de esgoto tratado, na produção de blocos intertravados de concreto. Ensaios mostram desempenho praticamente semelhante em todos os corpos de provas e nas peças produzidas, seja com a água de esgoto tratado ou água potável. “As indicações iniciais sugerem que a água de reúso poderá vir a ser uma boa alternativa para reduzir o consumo de água potável na produção de alguns tipos de artefatos de cimento [não-estruturais]”, diz o professor Gustavo Henrique Siqueira, do departamento de engenharia de estruturas da UNICAMP.
A pesquisa também tem a participação da arquiteta e urbanista Mariana Rodrigues Ribeiro dos Santos e do engenheiro químico Adriano Luiz Tonetti, ambos ligados ao departamento de infraestrutura e ambiente da universidade. Cada um cuidou de uma etapa do estudo. O engenheiro químico avaliou a viabilidade da utilização da água de reúso do esgoto tratado, proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) localizada em Barão Geraldo, distrito de Campinas-SP. Já o engenheiro civil acompanhou a produção dos corpos de provas, constituídos por amostras cilíndricas de 10 centímetros de diâmetro por 20 centímetros de altura. Foram avaliadas a resistência à compressão em ensaios onde a água potável foi substituída pela água do esgoto tratado em 25%, 50%, 75% e 100% dos corpos de prova.
Norma técnica não permite usar água de reúso de esgoto tratado para produzir concreto
Os parâmetros utilizados nas comparações mostraram-se praticamente semelhantes em todos os corpos de provas. “As indicações iniciais sugerem que a água de reúso poderá vir a ser uma boa alternativa para reduzir o consumo de água potável na produção de concreto”, avalia a equipe que coordenou a pesquisa. Para testar os pisos intertravados, um trecho das vias internas da UNICAMP foi substituído pelos blocos resultantes da pesquisa, a fim de verificar se eles suportam o tráfego de veículos leves. A maioria dos que frequentam a universidade não percebeu diferença entre os blocos lá implantados, exceto por causa da coloração. O que utiliza água de reúso tem um tom mais avermelhado.
Os blocos fabricados com água de esgoto tratado chegam a ser 60% mais em conta que os que utilizam água potável na confecção. O estudo ganhou artigos na revista da Associação Internacional de Águas (IWA Publishing) e no Journal of Water, Sanitation &Hygiene for Development. No entanto, vale destacar que as normas técnicas brasileiras não permitem a utilização de água de esgoto tratado para produção de concreto. Além disso, a equipe de pesquisadores não dá o estudo como encerrado, pois ainda existe a necessidade do acompanhamento do comportamento do material ao longo do tempo e também avaliações de suas propriedades microscópicas – os blocos instalados nas vias da UNICAMP completaram 19 meses em novembro de 2019.
Entrevistado
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da UNICAMP (via assessoria de imprensa)
Contato: infoascom@reitoria.unicamp.br
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Produtividade da construção esbarra em gargalos históricos

Crédito: CBIC
Com ampla experiência na engenharia civil e na execução de projetos, Luiz Henrique Ceotto foi o palestrante escolhido para fechar os debates que marcaram o Conecti CBIC 2019 (Congresso Nacional de Engenharia, Construção, Tecnologia e Inovação), que aconteceu nos dias 21 e 22 de novembro, na cidade de Maringá-PR. Ceotto fez uma abordagem sobre os gargalos que impedem a construção civil brasileira de alcançar níveis de produtividade semelhantes aos de países mais desenvolvidos. Ele também fez questão de ressaltar que se tratam de barreiras históricas. “Há 50 anos a construção civil brasileira discute sua baixa produtividade”, lembra.
Professor-titular da Universidade Federal do São Carlos (UFSCar) e professor-visitante da Universidade de São Paulo (USP), Ceotto cita que entre os gargalos que prejudicam a produtividade da construção civil alguns são de ordem governamental. Como os tributos, por exemplo, que atrapalham o uso de processos industrializados nos canteiros de obras. “No Brasil, um processo construtivo industrializado paga de 18% a 20% a mais de tributos”, diz. O engenheiro reforça ainda que o formato de financiamento no país também contribui para que obras atrasem. “O cliente não se prepara para a compra de um imóvel. Com isso, as empresas dão prazo. Prazo para iniciar a obra e prazo ao longo da construção, a fim de dar tempo do comprador se preparar para pagar a unidade. Isso desestimula a visão industrial do setor”, completa.
Não existem parâmetros para medir a produtividade da construção civil brasileira
Luiz Henrique Ceotto ressalta que o setor também se acostumou a não adotar parâmetros de produtividade. “Existe uma negligência com o tempo, que é um dos únicos recursos que não se recuperam. É comum um projeto demorar de 5 anos a 10 anos para ser aprovado. Além disso, um negócio imobiliário no Brasil dura, em média, de 5 anos a 8 anos para a conclusão da obra. Isso resulta em aumento de custo e risco, sem contar que o produto é entregue envelhecido. O resultado de tudo isso é o afastamento do investidor”, destaca. O engenheiro civil complementa alertando para a falta de dados sobre a produtividade da construção civil brasileira, lembrando que há raros estudos sobre o tema.
Ceotto cita que a pesquisa mais recente sobre o assunto foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 2002 e 2006. Os levantamentos apontaram que a produtividade brasileira no setor era 1/3 da norte-americana e que o prazo para a construção de um empreendimento era duas vezes e meia maior. “Estamos em um ciclo vicioso, onde prazos longos na realização do negócio refletem na redução da rentabilidade e no aumento de custos e riscos”, afirma. Para finalizar, o engenheiro frisa que para mudar o atual cenário deve ser feito um trabalho conjunto. “Temos que falar com o governo, com o setor financeiro, apontar caminhos e ter visão de soluções de curto, médio e longo prazo. Estamos cometendo falha de gestão estratégica no setor da construção civil há mais de 50 anos”, conclui.
Veja a palestra do engenheiro civil Luiz Henrique Ceotto, no Conecti CBIC 2019
Entrevistado
Reportagem com base na palestra concedida dentro do painel “A Inovação e o Futuro da Construção”, proferida pelo engenheiro civil Luiz Henrique Ceotto, no Conecti CBIC 2019
Contato: comunica@cbic.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Indústria de material de construção conjuga o verbo investir

Crédito: CBIC
Segundo o termômetro da indústria de material de construção, divulgado pela ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), 81% das empresas do setor têm pretensão de aumentar os investimentos nos próximos 12 meses (novembro de 2019 a outubro de 2020), seja na expansão de sua capacidade atual, seja na modernização de seus meios de produção. No ano passado, essa pretensão de investir abrangia 57% das companhias. "Continuamos buscando caminhos para um desenvolvimento sustentável da indústria de material de construção”, explica Rodrigo Navarro, presidente da ABRAMAT.
Para 73% dos empresários ouvidos para o termômetro da indústria, a intenção de expandir a produção independe das ações governamentais. Já 23% declaram estar otimistas com o governo para 2020. Para esses, além do desejo de utilizar mais da capacidade atual de produção há também a vontade de expandi-la com a aquisição de novos equipamentos. Dos entrevistados, apenas 4% se declararam pessimistas para os próximos 12 meses. Para o presidente da ABRAMAT, se o governo não atrapalhar já estará ajudando o setor. Porém, o dirigente considera que existem ações importantes para impulsionar a construção civil.
De acordo com Rodrigo Navarro, a ABRAMAT aguarda a retomada de investimentos em obras de infraestrutura, além de uma atuação propositiva que estabeleça canais de diálogo transparentes entre o setor público e a indústria de material de construção. “Questões como o apoio à modernização do marco regulatório do saneamento básico, às reformas estruturais, eliminação de burocracias, engajamento do setor no âmbito da Indústria 4.0 e combate à falta de conformidade técnica e fiscal são temas que terão continuidade e fazem parte desse contexto de crescimento sustentável”, afirma.
Varejo da construção civil está entre os setores que mais crescem em 2019
Independentemente dos impulsos que a macroeconomia pode dar à construção civil, sinais de que o setor retoma seu crescimento - ainda que lento e gradual - são cada vez mais evidentes. A ABRAMAT apurou que a indústria de materiais de construção cresceu 1,9% no período que compreende de novembro de 2018 a outubro de 2019. Comparativamente, de novembro de 2017 a outubro de 2018 a elevação chegou a 1,2%. O crescimento maior ocorreu no segmento de materiais de acabamento, que registraram alta de 4,7%. O aumento de demanda na indústria é reflexo do volume das vendas no varejo da construção, que em 12 meses cresceu 3,5%, aponta o IBGE.
O varejo da construção civil só está crescendo menos que veículos, motos e peças (11,2% no acumulado de 12 meses), produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (6,6% no acumulado de 12 meses) e artigos de uso pessoal e doméstico (6,3% no acumulado de 12 meses). Para Navarro, um crescimento mais uniforme em todos os setores abrangidos pela ABRAMAT depende da modernização da produtividade de alguns segmentos. “Entendemos como fundamentais para sustentar o crescimento, o incentivo à modernização dos parques fabris dos nossos associados e o intercâmbio de boas práticas internacionais e domésticas”, afirma.
Entrevistado
Reportagem com base no termômetro da indústria de material de construção, da ABRAMAT, e no índice de vendas do varejo, do IBGE
Contatos
abramat@abramat.org.br
comunica@ibge.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Caixa vai retirar indexadores do crédito imobiliário

Crédito: FGV EPGE
A Caixa Econômica Federal vai adotar o crédito habitacional pré-fixado a partir de 2020. Significa que o banco quer eliminar indexadores das prestações da casa própria, tornando-as fixas desde a primeira até a última parcela. A mudança deve ocorrer ainda no primeiro semestre do próximo ano, provavelmente a partir de março. “No ano que vem queremos lançar o crédito imobiliário sem IPCA e sem TR. Ou seja, sem nenhum tipo de correção. Quando você lança este tipo de financiamento é o mais fácil para poder securitizar e o mais fácil de poder, como cliente, comparar. Quando você tem uma taxa fixa, é muito mais claro para a sociedade”, diz o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.
O anúncio ocorreu em palestra do dirigente na FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças), no final do mês de outubro. Para mudar o formato de financiamento imobiliário é necessário atrelá-lo à securitização da carteira de créditos imobiliários e manter um quadro de inflação controlada por longo prazo. Na securitização, o banco repassa o risco de calote para investidores, através de títulos lançados no mercado financeiro. A Caixa estima que com essa modalidade poderá alavancar até R$ 300 bilhões para sua carteira imobiliária. Para os demais bancos, no entanto, o governo federal primeiro deveria regulamentar o financiamento pré-fixado.
Para aderir à modalidade, as instituições financeiras privadas também sugerem que os contratos com prestações pré-fixadas sejam no máximo de 5 anos ou que possam ser revistos de 5 anos em 5 anos. Pedro Guimarães, porém, entende que, quando a Caixa lançar seu modelo, os demais bancos irão segui-la. “A minha impressão é que os demais bancos virão também para este sistema”, avalia. Segundo Guimarães, o momento econômico do país é propício a quem deseja adquirir a casa própria. Ele justifica dizendo que o crédito imobiliário está aquecido e que os preços dos imóveis estão convidativos. “Temos redução de taxa de juros, estamos retomando o crescimento, existe crédito imobiliário disponível e os preços dos imóveis ainda não tiveram alta significativa”, diagnostica.
Em 2019, Caixa já reduziu três vezes as taxas para aquisição da casa própria
Só em 2019, a Caixa já reduziu três vezes as taxas para aquisição da casa própria. Nos financiamentos imobiliários com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE), a menor taxa passou de 8,5% ao ano para 7,5% ao ano e a maior de 9,75% ao ano para 9,5% ao ano. Antes, o banco havia criado a linha de financiamento imobiliário com saldo corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nesse modelo, a taxa mínima é o IPCA mais 2,95% ao ano e a máxima o IPCA mais 4,95% ao ano. Também tiveram quedas as cobranças de juros do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Nas duas modalidades, a taxa efetiva mínima será a soma da Taxa Referencial (TR) mais juros que variam de 6,75% ao ano a 8,5% ao ano.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, na FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças)
Contato: imprensa@caixa.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Queda de prédio em Fortaleza-CE é alerta para condomínios

Crédito: Cia. de Cimento Itambé
Para o coordenador-técnico da COSEDI (Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis), o engenheiro civil Marcelo Solera, a lição que o desabamento do edifício Andrea, em Fortaleza-CE, deixa é de que os condomínios precisam se preocupar com a manutenção das edificações pelas quais são responsáveis. “Houve uma clara negligência do condomínio daquele prédio para com a manutenção. A ponto de comprometer totalmente a estrutura do prédio”, diz o engenheiro, que palestrou recentemente na Habitacon, em Curitiba-PR.
Solera alerta que a melhor forma de evitar acidentes e problemas com a estrutura em imóveis, que podem causar desabamentos e provocar vítimas, é fazer a manutenção periódica da edificação. A orientação é que, uma vez por ano, o dono do imóvel contrate um engenheiro civil para fazer uma avaliação e verificar se há necessidade de manutenção da edificação. “A responsabilidade legal pela manutenção é do proprietário do imóvel e, no caso de um prédio, do síndico”, alerta o coordenador da COSEDI, organismo ligado à prefeitura de Curitiba.
O engenheiro civil explica que situações preocupantes ocorrem quando o aço de pilares e vigas começa a ficar visível em meio ao concreto - a chamada armadura exposta. “Se isso acontecer, é preciso acionar os organismos competentes. Esse tipo de situação acontece quando a umidade infiltra no concreto, enferruja e oxida o aço, fazendo com que ele se expanda e estoure o concreto. Esse processo deteriora a resistência do concreto e cresce a possibilidade de toda a estrutura desabar”, diz Marcelo Solera.
Síndicos devem sempre observar pilares, vigas e lajes de concreto dos prédios que administram
O coordenador da COSEDI recomenda sempre que os síndicos observem pilares, vigas e lajes de concreto. “Uma fissura capilar nesses pontos é mais preocupante que uma rachadura em uma parede de alvenaria não-estrutural”, orienta. “Afundamento no imóvel é outra situação preocupante, por indicar problemas na fundação ou desestabilização do solo. Telhado também requer cuidados, pois uma infiltração de água de chuva pode apodrecer o madeiramento e causar a queda da cobertura”, completa.
O coordenador da COSEDI recomenda que o revestimento das fachadas e a pintura estejam sempre bem conservadas, pois contribuem para minimizar a entrada de umidade nas estruturas da edificação. Esse tipo de manutenção foi negligenciada no prédio que desabou em Fortaleza-CE, no dia 15 de outubro de 2019. Havia 14 anos que a edificação começou a revelar problemas estruturais, o que foi confirmado pelo CREA-CE. A tragédia deixou um saldo de 9 mortes.
O presidente do CREA-CE, Emanuel Maia Mota, acrescenta que contribuiu para o desabamento o fato da lei de inspeção predial da capital cearense não ser respeitada. “Temos registrado repetidos acidentes causados pela falta de manutenção das construções. E mesmo quando essas edificações tinham alvará, o poder público não tinha detalhes sobre o plano de manutenção da estrutura predial”, afirma. O edifício Andrea foi construído há 40 anos, mas a prefeitura de Fortaleza só tinha registro da obra a partir de 15 de setembro de 1995.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra “Riscos estruturais iminentes e obrigatoriedade de manutenção em condomínios”, do engenheiro civil Marcelo Solera, coordenador-técnico da COSEDI (Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis), na Habitacon
Contato: cosed@smds.curitiba.pr.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Construtoras voltam a se valorizar no mercado de ações

Crédito: Banco de Imagens
As construtoras e incorporadoras que estão listadas na Bolsa de Valores experimentam nova valorização de suas ações. Levantamento da consultoria Alvarez&Marsal mostra que algumas empresas já alcançaram altas significativas em seus papéis, no período de 12 meses (novembro de 2018 a outubro de 2019). São os casos da Trisul (301,2%), da Helbor (105,63%), da Eztec (95,59%), da Even (78,23%), da Cyrela (65,97%), da Direcional (49,76%) e da Tenda (44,45%) - todas com sede na cidade de São Paulo-SP -, além da MRV (39%), de Belo Horizonte-MG. Só em 2019, essas empresas, somadas, já captaram 4,4 bilhões de reais na Bolsa.
As construtoras e incorporadoras mais bem avaliadas no mercado de ações se dividem entre as que atuam no segmento de edifícios de luxo e superluxo e as que têm suas marcas atreladas ao programa Minha Casa Minha Vida. Destas, apenas a Tecnisa não teve valorização de suas ações no recente período de 12 meses. A empresa registrou desvalorização de 18,54%, porém não afetou a percepção positiva do mercado. A análise é de que a construção civil está iniciando um novo ciclo, fruto da inflação controlada e dos juros baixos.
Otimistas, as empresas estão indo ao mercado de ações para captar mais recursos para seus empreendimentos. “O setor entendeu que o governo não irá mais subsidiá-lo e está buscando investidores. Isso demonstra maturidade”, revela relatório da Alvarez&Marsal. Dados da consultoria Economatica comprovam isso. A Trisul, por exemplo, viu seu valor de mercado saltar de 599 milhões de reais para 2 bilhões de reais. Capitalizada, a construtora espera fechar 2019 com 10 lançamentos e um VGV (Valor-Geral de Vendas) entre 900 milhões de reais e 1 bilhão de reais, contra 664 milhões de reais em 2018.
Empresas ligadas ao mercado imobiliário contrastam das que atuam na construção pesada
Já a Eztec é a que mais captou com ofertas de ações em 2019, entre as empresas da construção civil que operam na Bolsa. Foram 979 milhões de reais. Para o presidente da ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras), Luiz França, a percepção do investidor é de que as ações dessas empresas estão relativamente baratas e podem se valorizar com os sinais de que o setor da construção civil está, finalmente, voltando a crescer. “O que tem sustentado as captações é a mudança do ponto de vista dos investidores institucionais, inclusive de estrangeiros, sobre o quadro econômico do Brasil. O ambiente está melhor no país e o mercado imobiliário vai tirar proveito disso”, afirma.
O sucesso das construtoras ligadas ao mercado imobiliário contrasta com os constantes prejuízos das empresas que atuam na construção pesada. Em três anos, as receitas do grupo que inclui Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, UTC e Constran diminuíram 85%. O principal motivo para essa contração é o envolvimento das construtoras no escândalo de corrupção trazido à tona pela operação Lava Jato. A receita das empresas citadas caiu de 71 bilhões de reais para 10,6 bilhões de reais, entre 2015 e 2018.
Entrevistado
Reportagem com base em relatório da consultoria Alvarez&Marsal, sobre o desempenho das empresas da construção civil no mercado de ações
Contato: info@amcapitalre.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330








