Pesquisa em desenvolvimento na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da UNICAMP busca substituir a água potável pela de reúso, a partir de esgoto tratado, na produção de blocos intertravados de concreto. Ensaios mostram desempenho praticamente semelhante em todos os corpos de provas e nas peças produzidas, seja com a água de esgoto tratado ou água potável. “As indicações iniciais sugerem que a água de reúso poderá vir a ser uma boa alternativa para reduzir o consumo de água potável na produção de alguns tipos de artefatos de cimento [não-estruturais]”, diz o professor Gustavo Henrique Siqueira, do departamento de engenharia de estruturas da UNICAMP.
A pesquisa também tem a participação da arquiteta e urbanista Mariana Rodrigues Ribeiro dos Santos e do engenheiro químico Adriano Luiz Tonetti, ambos ligados ao departamento de infraestrutura e ambiente da universidade. Cada um cuidou de uma etapa do estudo. O engenheiro químico avaliou a viabilidade da utilização da água de reúso do esgoto tratado, proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) localizada em Barão Geraldo, distrito de Campinas-SP. Já o engenheiro civil acompanhou a produção dos corpos de provas, constituídos por amostras cilíndricas de 10 centímetros de diâmetro por 20 centímetros de altura. Foram avaliadas a resistência à compressão em ensaios onde a água potável foi substituída pela água do esgoto tratado em 25%, 50%, 75% e 100% dos corpos de prova.
Norma técnica não permite usar água de reúso de esgoto tratado para produzir concreto
Os parâmetros utilizados nas comparações mostraram-se praticamente semelhantes em todos os corpos de provas. “As indicações iniciais sugerem que a água de reúso poderá vir a ser uma boa alternativa para reduzir o consumo de água potável na produção de concreto”, avalia a equipe que coordenou a pesquisa. Para testar os pisos intertravados, um trecho das vias internas da UNICAMP foi substituído pelos blocos resultantes da pesquisa, a fim de verificar se eles suportam o tráfego de veículos leves. A maioria dos que frequentam a universidade não percebeu diferença entre os blocos lá implantados, exceto por causa da coloração. O que utiliza água de reúso tem um tom mais avermelhado.
Os blocos fabricados com água de esgoto tratado chegam a ser 60% mais em conta que os que utilizam água potável na confecção. O estudo ganhou artigos na revista da Associação Internacional de Águas (IWA Publishing) e no Journal of Water, Sanitation &Hygiene for Development. No entanto, vale destacar que as normas técnicas brasileiras não permitem a utilização de água de esgoto tratado para produção de concreto. Além disso, a equipe de pesquisadores não dá o estudo como encerrado, pois ainda existe a necessidade do acompanhamento do comportamento do material ao longo do tempo e também avaliações de suas propriedades microscópicas – os blocos instalados nas vias da UNICAMP completaram 19 meses em novembro de 2019.
Entrevistado
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da UNICAMP (via assessoria de imprensa)
Contato: infoascom@reitoria.unicamp.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330