Quer montar uma fábrica de artefatos de cimento? Veja como
ABCP promove cursos com especialistas neste tipo de negócio. Eles orientam desde o chão da fábrica até a certificação da qualidade
A ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) tem incentivado o empreendedorismo voltado para a abertura de fábricas de artefatos de cimento. Sistematicamente, promove cursos com especialistas neste tipo de negócio. Eles orientam desde o chão da fábrica até a certificação da qualidade, a busca de padronização dos produtos, além dos números que envolvem o empreendimento: custos, distribuição dos produtos, segmentos de mercado e produto a serem comercializados.
O curso apresenta três modelos de plantas de fábricas de blocos de concreto, pisos e outros artefatos, com as respectivas expectativas de produção. De acordo com a ABCP, os artefatos de cimento são termos genericamente empregados para os mais diversos produtos, desde tubos de concreto para saneamento até pré-lajes, sacadas e escadas pré-fabricadas, mourões, blocos, telhas, lajotas e mobiliário urbano, como explica um dos orientadores do curso, o engenheiro civil Idário Fernandes.
A ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) tem incentivado o empreendedorismo voltado para a abertura de fábricas de artefatos de cimento. Tem havido bom interesse neste segmento, através do curso que o senhor ministra?
Sim, a mais recente edição, realizada em 22 e 23 de maio de 2018, contou com a presença de 21 participantes, um bom número considerando o atual momento pelo qual passa a economia, sobretudo a construção civil.
Qual o perfil de quem busca o curso e com qual noção ele sai do curso?
O perfil é muito variado. Desde recém- formados a profissionais maduros que buscam conhecer o segmento, para avaliar oportunidades de um novo negócio. O curso é ministrado por mim e pelo arquiteto Flávio Nese. A minha parte tem foco nas características do produto, obtenção dos insumos, exigências de normas, detalhes de produção e controle de qualidade. A parte do arquiteto Flávio é mais focada na montagem e gestão da planta. No geral, a avaliação dos participantes já é muito boa, mas estamos investindo para somar novos conhecimentos para as próximas edições. Uma delas será agregar ações de marketing, competitividade do setor e formação de preços dos produtos.
O senhor percebe que há muitos engenheiros civis recém-formados buscando empreender em fábricas de artefatos de concreto?
Existem alguns engenheiros recém-formados em busca de uma opção de negócio, mas a maioria dos participantes é composta de pessoas experientes em outro setor, em busca de diversificar seus negócios, entrando para a área de cimentícios. Em geral, os participantes vêm para o curso focado em blocos e pavimento intertravado, mas saem com uma gama de opções de produtos a base de cimento. Entre eles, piso cimentício, telhas e objetos decorativos.
Artefatos de cimento englobam diversos produtos. O curso abrange todos estes produtos ou prioriza um segmento em especial?
Realmente, artefatos de cimento englobam uma gama muito grande de produtos e soluções. Temos cadastrados na DoutorBloco mais de 250 itens conhecidos no mundo, que vão desde anéis e brincos até pequenos pré-moldados, como bancos e churrasqueiras. Cerca de 70 destes produtos são fabricados no Brasil. O curso é oferecido para os segmentos blocos, pavimento intertravado, tubos, telhas, cobogós, balaustres e outros artefatos de concreto vibroprensados ou dormidos. Porém, o interesse dos inscritos é sempre centralizado nos blocos e nos intertravados, com pequena parcela voltada para tubos de concreto e pisos cimentícios.
Entre tubos de concreto, pré-lajes, sacadas, escadas pré-fabricadas, mourões, blocos, telhas, lajotas e mobiliário urbano, quais artefatos hoje têm um melhor mercado?
O bloco de concreto é o artefato que tem a maior procura dos interessados, mas é o pior mercado atualmente devido a uma grande oferta de produtos e menor demanda. Por esta razão, sempre alertamos os inscritos a não entrar neste mercado neste momento, a não ser que já estejam produzindo ou que tenham plena segurança de êxito, caso o mercado local mostre um cenário diferente da média nacional.
Entre a intenção de montar uma fábrica de artefatos de cimento e a entrada dela em operação, quanto tempo o empreendedor vai levar?
Não dá para ser preciso. Depende de vários fatores. Entre eles, se o empreendedor vai comprar uma planta usada completa que já estava em operação, comprar uma planta nova nacional, importar uma máquina, importar uma fábrica completa, além de quanto dinheiro ele tem para investir.
Em termos de investimento, qual o capital mínimo necessário para montar e operar uma fábrica de artefatos?
Depende do artefato que será fabricado. Uma planta de piso cimentício convencional custa de 60 mil a 100 mil reais, mais a parte civil. Uma planta para blocos e intertravados, com equipamento nacional, requer um investimento aproximado de 2 milhões de reais. Uma planta importada, totalmente automática, para produzir 20 mil blocos ou 1.200 m² de intertravados/dia, pode custar de 6 a 8 milhões de reais, só os equipamentos.
Dos que participam do curso, todos são interessados em empreender ou boa parte já tem fábrica e busca aprimorar conhecimentos?
A maior parte já tem outro negócio ou tem uma fábrica pequena no ramo de cimento e visa conhecer melhor o processo para identificar onde pode melhorar. É muito pequeno o número de profissionais recém-formados que querem conhecer o assunto para analisar se entram ou não neste mercado. Mesmo assim, o curso tem a preocupação de alertar para que não entrem no negócio por aventura. O segmento de blocos não está tão atrativo atualmente, pois a oferta é maior que a demanda. Muitos pensam que vão ganhar muito, mas a margem não chega a 12% ou 15% para quem já tem a expertise do negócio, e é menor ainda para quem vai ter que pagar pelos percalços do aprendizado.
Questões como desperdício, uso da tecnologia, qualificação da mão de obra e concreto autoadensável são abordados no curso?
Concreto autoadensável não, pois praticamente não se aplica a artefatos. Desperdício, tecnologias de produção, qualificação da mão de obra e muitos outros temas são discutidos no curso com grande interesse e aproveitamento dos participantes.
Quantas fábricas de artefatos estão em operação hoje no Brasil?
É muito difícil responder a esta pergunta, pois o mercado está muito confuso. Em 2016, fizemos uma estimativa de, aproximadamente, 2.400 plantas operando, incluindo pequenos, médios e grandes produtores. Nos últimos dois anos, muitas fecharam por conta da forte retração do mercado, principalmente aquelas cujo foco eram blocos para construtoras.
N.R: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que no Brasil, até 2014, existiam aproximadamente 12,5 mil estabelecimentos dedicados a esse tipo de negócio.
Entrevistado
Engenheiro civil Idário Fernandes, consultor em tecnologia de concreto e sistemas construtivos e dono da Doutorbloco Consultoria em Concreto
Contato
idario@doutorbloco.com.br
cursos@abcp.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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