Reter alunos de engenharia é mais difícil do que captar

Fernando Micali, professor doutor da USP, explica por que evasão é grande nos cursos de engenharia. Segundo ele, é preciso falar a linguagem das novas gerações

Por: Altair Santos

Os mais recentes dados do MEC (Ministério da Educação) sobre evasão de alunos dos cursos de engenharia mostram que de 227 mil matriculados apenas 45 mil finalizaram a graduação em 2011 - 62,32% pertenciam às instituições públicas e 43,41% às particulares. Destes números, 24% estavam vinculados à engenharia civil. A estatística vai de encontro à tese do professor Fernando Micali - mestre e doutor em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) - de que hoje o grande desafio da escola não é captar o aluno, mas retê-lo. A prova é que, segundo o MEC, pelo menos meio milhão de estudantes prestam vestibular todo o ano para os cursos de engenharia. "Se há demanda, onde está o problema: no aluno ou na escola?", questiona Fernando Micali, que recentemente palestrou no 20º Fórum de Docentes, promovido pelo Crea-PR.

Fernando Micali: retém o aluno quem consegue feedback constante e interação intensa

Segundo o especialista, que atualmente se dedica ao desenvolvimento de softwares para ajudar na retenção dos alunos por parte das escolas, o primeiro passo é entender para quem se está ensinando. "A geração atual tem o seguinte perfil: não utiliza manual, prefere a tentativa e erro; tem dificuldade em planejar, prefere o improviso; é multiprocessada e totalmente familiarizada com a tecnologia; tem necessidade de ter voz ativa e repudia o autoritarismo. Quem não perceber isso, não obtém o diálogo. Então, o grande desafio, hoje, é estabelecer uma comunicação para essas inteligências múltiplas. Caso contrário, como escreveu Rubem Alves, em seu livro Histórias de quem gosta de ensinar, o professor estará agindo como um Gepetto ao contrário: transformando gente em boneco de madeira", diz Fernando Micali.

Em um mundo onde a informação está disponível a todos, Micali defende que o novo professor deve agir como um mediador desta informação, motivando e inspirando o aluno. "Ele deve transmitir conhecimento, mas também desenvolver no aluno habilidades e atitudes. Veja o que ocorre hoje nas escolas de engenharia, sejam públicas ou privadas. O estudante passa dois anos aprendendo ferramentas para calcular estruturas e fundações, mas o professor não ensina ele a usar aquilo interdisciplinarmente, que é o que exige a engenharia atual", afirma o professor doutor, que é defensor de métodos de ensino baseados no conceito "problem based learning" (aprendizagem baseada em problema). "Isso desenvolve no aluno o interesse pelo estudo prévio, pelo feedback constante e pela interação intensa", completa.

Para Fernando Micali, o papel das escolas de engenharia deve ser o de dar habilidade para os alunos continuarem aprendendo, comportando-se como eternos aprendizes. “A formatura, como era conhecida no passado, não existe mais. Ninguém mais pode se considerar formado", alerta o especialista, lembrando que a taxa de conhecimento por indivíduo é cada vez menor. Dados apresentados por ele mostram que um jovem médio, na faixa de 20 anos, detém atualmente apenas 0,004% de tudo o que é produzido de conhecimento no mundo. "Por que isso ocorre? Porque o novo conhecimento não se faz mais de forma evolucionária, mas revolucionária, ou seja, quando surge um novo conhecimento o anterior pode ser jogado fora", explica.

Micali usou o seguinte exemplo para explicar sua tese: "Há 600 a.C., Aristóteles detinha 90% do conhecimento da humanidade, que ia de medicina a astronomia. Em 1700, Leonardo da Vinci detinha 60%. Já Isaac Newton, detinha 30%; Einstein, menos de 10%. Isso chama-se volatilidade do conhecimento. Há cada três anos todo o conhecimento da humanidade dobra. Diante deste desafio, o que o professor precisa é transmitir fundamentos sólidos ao aluno, para que ele aprenda a desenvolver a habilidade de continuar aprendendo sempre." Em sua análise, são esses profissionais que as empresas buscam hoje. "As corporações modernas se projetam como visionárias e querem colaboradores capazes de prospectar o futuro, para antever o que vai acontecer", finaliza.

Entrevistado
José Fernando Montovani Micali, engenheiro civil, professor doutor da USP e presidente da TNT Technology, especializada em soluções de TI para educação
Contato: fernando.micali@tntedu.com.br

Créditos fotos: Leandro Taques/Crea-PR

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Olimpíadas vão gerar bairro mais sustentável do Brasil

Ilha Pura abrigará 50 mil moradores depois dos jogos de 2016. Complexo sustentável terá 31 edifícios de 17 andares cada um e consumirá 350 mil m³ de concreto

Por: Altair Santos

O evento dos jogos olímpicos, que acontece daqui a três anos no Rio de Janeiro, tem entre seus projetos essenciais a construção da vila olímpica - local que tradicionalmente abriga os atletas que disputam as competições. No caso da Vila dos Atletas, a Construtora Odebrecht planeja transformá-la no bairro mais sustentável do Brasil.

Projeção de como ficará a Vila dos Atletas, que após as Olimpíadas se transformará no bairro Ilha Pura

Depois de agosto de 2016, o local será rebatizado de Ilha Pura e deverá abrigar 50 mil moradores. As obras estão 15% concluídas e devem ser finalizadas no final de 2015, com prazo-limite até maio de 2016. Segundo Maurício Cruz Lopes, diretor de projetos da Odebrecht, desde o início da construção da Vila dos Atletas tem sido tomadas medidas que garantam a sustentabilidade do empreendimento. Uma delas é que 100% da água cinza produzida dentro do canteiro de obras é coletada, tratada e reusada no vestiário que serve os 2,5 mil operários contratados. "Há preocupação também com a pegada de carbono. Por isso, selecionamos fornecedores que fazem esse controle desde a extração da matéria-prima até a entrega do produto no local da obra", explica Maurício Cruz Lopes.

O empreendimento também se preocupa com a emissão de gás carbônico (CO₂) na produção de concreto. Por isso, foram instaladas duas centrais na obra, com capacidade de produzir, por ano, 100 mil m³ de material. "Faremos uma economia de 1,5 milhão de quilômetros, poupando o transporte de concreto por betoneiras, e, com isso, haverá a redução anual de 1.200 toneladas de gás carbônico", revela o diretor de projetos da Odebrecht. Com 31 edifícios de 17 andares cada, espalhados em uma área de 632 mil m² da Barra da Tijuca, o Ilha Pura irá consumir um total de 350 mil m³ de concreto.

Obras já estão em andamento e previsão é de que estejam 100% concluídas no 1º semestre de 2016

Construídos de acordo com as normas da certificação AQUA, os prédios do Ilha Pura terão os seguintes equipamentos voltados para a sustentabilidade do bairro planejado: aquecimento solar, telhado verde, painéis fotovoltaicos, tomadas para veículos elétricos, paisagismo com espécies nativas, central de tratamento de água, iluminação eficiente em led e elevadores capazes de gerar 60% da energia que irão consumir. "Acreditamos que o uso de tecnologia verde permita reduzir o consumo de energia em 30%, se comparado a uma obra convencional. Isso nos primeiros dez anos", avalia Maurício Cruz Lopes, que expôs o projeto no Congresso Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS 2013).

No mesmo evento foi apresentado o projeto do Jardim das Perdizes, que a Construtora Tecnisa está empreendendo na região da Barra Funda, em São Paulo. Trata-se de um outro bairro sustentável, com 28 torres distribuídas em uma área de 250 mil m².  Os apartamentos terão de 80 m² a 197 m², para atender famílias com renda mensal entre 6 e 20 salários mínimos. "A principal característica deste empreendimento é a possibilidade de inclusão social", destaca Fábio Villas Bôas, diretor-técnico da Tecnisa. Além do Jardim das Perdizes e do Ilha Pura, existem no Brasil outros dois bairros sustentáveis em fase de construção: o Pedra Branca, em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, e o Noroeste, no Distrito Federal.

Projetos de bairros sustentáveis foram apresentados no CBCS 2013

Entrevistados
Engenheiros civis Maurício Cruz Lopes, diretor de projetos da Construtora Odebrecht, e Fábio Villas Bôas, diretor-técnico da Construtora Tecnisa
Contato: secretaria@cbcs.org.br

Créditos fotos: Divulgação/COB/SCHWING-Stetter/CBCS 20013

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Colaborador-tóxico: saiba como evitar ou recuperá-lo

Apesar de ter grande capacidade de influenciar outros colaboradores, não é fácil identificá-lo dentro da corporação, diz especialista

Por: Altair Santos

Os conceitos de que o coletivo é mais importante do que o individual e de que os valores são mais relevantes do que a habilidade têm prevalecido nas empresas. Para encontrar quem se encaixe a esse novo perfil, as Companhias passaram a aprimorar métodos que identifiquem o chamado colaborador-tóxico, ou seja, aquele que, por algum motivo, gera ambiente negativo e pode contaminar o setor em que atua.

Renata Falco: empresas com valores bem definidos conseguem detectar com mais facilidade os colaboradores-tóxicos

Para a psicóloga Renata Falco, apesar de todas as ferramentas disponíveis, não é fácil evitar um colaborador-tóxico, principalmente no momento da contratação.  De acordo com a especialista, independentemente do aparato de que disponha o departamento de recursos humanos da empresa, são os valores da corporação que conseguem atuar como um filtro para que a Companhia minimize o risco de "intoxicação". Confira na entrevista a seguir:

Como se define um colaborador-tóxico?
Fazendo referência ao conceito literal do termo tóxico, torna-se fácil compreender a expressão colaborador-tóxico. Define-se como um colaborador que possui a capacidade de envenenar o outro. Trazendo ao contexto de comportamento e estrutura de personalidade, trata-se de um profissional que influencia, manipula e controla o comportamento de colegas de trabalho com personalidade mais vulnerável, intencional e exclusivamente para benefício próprio. Dependendo da capacidade de contaminação, pode provocar um abalo na estrutura organizacional, caso esta não esteja preparada para lidar com esse tipo de comportamento.

Colaboradores-tóxicos são recuperáveis?
Há estudiosos da psicologia que consideram que o ser humano inicia sua estrutura de personalidade a partir de suas experiências no convívio familiar e social. Porém, há aquelas que defendem que sua formação inicia desde sua concepção, havendo características de ordem genética. Tais linhas conceituais podem dar respostas diferentes quanto à possibilidade de recuperação:
- Se o comportamento tóxico foi aprendido em convívio com a sociedade, e através de suas experiências emocionais, o tóxico pode sim ser recuperado, através do ato de ressignificar o comportamento aprendido;
- Se o comportamento vier de ordem genética, e for estimulado pelo convívio social, o tóxico pode ser controlado, mas não recuperado, através de medicamentos e psicoterapia.

Como a empresa deve agir se o colaborador-tóxico for também talentoso?
O ponto mais difícil do processo é a identificação. A partir disso, a empresa deve analisar as consequências de tentar recuperá-lo e mantê-lo no quadro de colaboradores, mesmo correndo o risco de perder outros colaboradores. Vale destacar que os tóxicos são pessoas inteligentes, mas na empresa possuem basicamente dois objetivos: conquistar poder e retorno financeiro dentro da organização.

Maus gestores e o ambiente da empresa contribuem para gerar colaboradores-tóxicos?
O comportamento tóxico é sim potencializado pelos estímulos aos quais está inserido, seja pelo ambiente em geral da empresa em que atua ou por um ou mais gestores. Porém, pela idade com que o tóxico em formação ou inato entra em uma organização, o mesmo já possui bagagem suficiente para atuar, não sendo assim um gestor capaz de gerar um colaborador- tóxico, mas com plena capacidade de torná-lo ainda mais avassalador.

Existem colaboradores motivados e colaboradores determinados. Quais deles têm mais probabilidade de vir a se tornar um colaborador- tóxico?
A motivação e a determinação são competências que fazem parte do mesmo universo, sendo uma praticamente a consequência da outra. Motivação é um desejo, uma energia psicológica que desperta no ser humano o movimento para iniciar e continuar uma ação específica. Já a determinação provém de uma decisão, de um despertar de coragem para cumprir a ação. Sendo assim, a determinação é uma competência mais embasada, que geralmente faz com que a pessoa leve a decisão tomada até sua efetiva conclusão. Já a motivação é baseada em desejo, em estímulos que podem acabar se dispersando no decorrer do tempo. Se tivermos que classificar uma dessas características para definir o tóxico, com certeza seria a motivação, pois o sentimento de posse, de humilhar o outro e de conquistar um benefício (sob seu olhar) pode mudar de foco rapidamente caso um outro caminho, pessoa ou ação possa gerar mais vantagens para o mesmo.

Steve Jobs definia seus bons colaboradores como “classe A”, ou seja, aqueles que dão o máximo, independentemente da situação e da tarefa. Esse é o colaborador ideal de hoje?
A descrição citada por Jobs deixa claro que o potencial do colaborador “classe A” é o comportamento. Dar o máximo é esforçar-se, é ser responsável, comprometido, focado, alinhado ao contexto citado, independentemente da situação ou da tarefa. Até poucas décadas o foco das contratações era por colaboradores com potencial para resultados produtivos, com capacidade intelectual, e, de preferência, com muitas formações acadêmicas e técnicas. Baseado neste perfil, considerando os índices de colaboradores desligados, há pesquisas que mostram que a maioria é contratada pelos conhecimentos e quase todos são demitidos por problemas de comportamento. Este resultado mostra que o perfil das contratações está mudando, que as empresas começaram a perceber que não adianta ser inteligente e gerar bons resultados se não há interação com a equipe, trabalho em grupo, relacionamento interpessoal, honestidade, ética, bom senso e, principalmente, respeito para com os outros. Essas passam então a ser as competências primordiais para a escolha dos candidatos.

É possível identificar um potencial colaborador- tóxico na entrevista de contratação? Caso sim, como?
Uma das principais características de um colaborador tóxico é exatamente sua capacidade manipulativa, além de ser muito simpático, envolvente e sedutor. Todas essas características tendem a levar o selecionador à aprovação do candidato no processo seletivo, pois possivelmente se sobressairá mediante comparação com outro candidato. Se o selecionador tiver formação em psicologia e empregar testes psicológicos projetivos, terá mais chances de detectar características tóxicas no candidato e minimizar o risco de contratação.

As grandes corporações, que tem um RH mais complexo, possuem maior facilidade para identificar colaboradores-tóxicos, em comparação com as médias e pequenas empresas?
Não necessariamente a identificação do tóxico será feita pela equipe de recursos humanos, assim como, não necessariamente, o porte da empresa influencia na identificação. Porém, alguns pontos merecem atenção especial:
- Sendo a empresa de grande porte, infere-se que possui uma estrutura mais completa (e complexa) no que se refere à gestão de pessoas; isso remete a processos, políticas e cultura melhor delineadas e melhor implementadas, pontos que, por si só, já dificultam a entrada do tóxico.
- Quanto maior a organização, maior a quantidade de colaboradores e a diversidade de personalidades. Isso culmina em melhor experiência para compreender os comportamentos.
- No caso de pequenas e médias empresas, ambas devem se respaldar tendo seus valores muito bem definidos, para que possam perceber e tomar uma atitude rapidamente quando detectarem um comportamento que diverge daquilo que acreditam.

Entrevistada
Renata de Oliveira Falco é psicóloga, com MBA em gestão de pessoas por competências e coaching, e desenvolveu tese sobre colaborador-tóxico
Contato: renatafalco9@gmail.com

Créditos fotos: Divulgação autorizada

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Construtoras trocam lucro por pontualidade do MCMV

Garantia de receber sem atraso levam médias e pequenas empresas a optar pelo credenciamento no programa, em vez de priorizar o mercado imobiliário

Por: Altair Santos

Principalmente no interior do país, construtoras de pequeno e médio porte estão preferindo empreender com exclusividade para o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) em vez de trabalhar voltadas para o mercado imobiliário, onde a lucratividade é maior. O que faz essas empresas privilegiarem a política habitacional do governo federal é a pontualidade do pagamento. "A vantagem é que trata-se de um programa com credibilidade, onde o empresário, executando a obra, tem a garantia de que vai receber na data combinada, conforme o contrato", exalta o engenheiro civil Álvaro Pereira da Silva, da Provectum Engenharia e Empreendimentos.

Conjunto Iguatemi, construído pela Provectum: empresa já empreendeu três mil unidades para o MCMV

Para ter margem de lucro, as construtoras que empreendem para a faixa 1 do MCMV (de um a três salários mínimos) precisam ter volume de obras. "A margem no Minha Casa, Minha Vida é pequena. Não é como na iniciativa privada, onde a empresa incorpora e vende a um preço que o mercado aceita pagar. Quem faz as avaliações é a Caixa Econômica Federal, e ela define o preço. Então, é preciso ganhar no volume", diz Álvaro Pereira da Silva, que em quatro anos já viabilizou cerca de três mil unidades nas regiões norte e noroeste do Paraná. No caso da Provectum, a prioridade são as habitações horizontais, construídas em alvenaria convencional. "Estamos estudando adotar sistemas inovadores de construção para o ano que vem", revela Álvaro Pereira da Silva.

Quem também constrói para a faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida é a CCP Engenharia de Obras, que atua em municípios da região metropolitana de Londrina, como Rolândia e Cambé. Segundo o engenheiro civil e diretor técnico da empresa, José Maria Soares, está se criando um nicho de construtoras especializadas em atuar na faixa 1 do MCMV. Boa parte, composto por empresas de pequeno porte. "A empresa de pequeno porte tem mais flexibilidade para atuar nessa faixa, pois é preciso ter um jogo de cintura para se inserir neste mercado", cita José Maria Soares, afirmando que a pontualidade no pagamento compensa. "É preciso ter consciência de que se está trabalhando para um programa público. Por isso, é preciso responsabilidade. Mas o pagamento é rigorosamente em dia", completa.

A CCP já construiu aproximadamente mil unidades para a faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida. A maioria de habitações horizontais e em sistema de alvenaria convencional.  As empresas alegam que adotar métodos construtivos inovadores só é interessante se o volume de casas contratadas for de quinhentas unidades para cima. "É um processo evolutivo, que talvez para futuros empreendimentos possa se viabilizar", diz José Maria Soares, que avalia positivamente o MCMV. "É um programa que vai durar muitos anos, pois existe demanda", completa. Da mesma forma, Álvaro Pereira da Silva também elogia o Minha Casa, Minha Vida. "É bom para todo mundo. Para a construtora e para o governo. Além disso, por causa da demanda alta, é um programa fortemente subsidiado", enaltece.

Entrevistados
Engenheiros civis Álvaro Pereira da Silva, da Provectum Engenharia e Empreendimentos Ltda., e José Maria Soares, da CCP Engenharia de Obras Ltda
Contatos
provectum@provectum.com.br
alvaro@provectum.com.br
vasco@construtora-ccp.com.br
jmsoares@construtora-ccp.com.br

Crédito foto: Divulgação/Provectum

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Norma para estacas pré-fabricadas está na reta final

Consulta pública terminou no dia 10 de outubro de 2013 e expectativa é que a ABNT publique a norma no começo de 2014

Por: Altair Santos

O projeto da norma técnica exclusiva para estacas pré-fabricadas de concreto encerrou a fase de consulta pública no dia 10 de outubro de 2013. Segundo o engenheiro civil Luís Fernando de Seixas Neves, que secretariou a elaboração da norma, a expectativa é de que a Associação Brasileira de Normas Técnicas estabeleça a validação no primeiro semestre de 2014. "Houve uma boa repercussão durante o período de consulta pública e há pouquíssimos pedidos de mudança", afirma. Há muito tempo que o setor via a necessidade de estabelecer uma norma para estacas de concreto. O CB-18  - Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados, implantou o projeto e coordenou as reuniões da Comissão de Estudos. O Coordenador da Comissão de Estudos foi o Eng. Cláudio Gonçalves.

Luís Fernando de Seixas Neves: com a norma, Brasil terá requisitos técnicos para exportar estacas

Entre os itens que podem levar a alterações no texto da norma estão o que define o tempo mínimo de concretagem para que uma estaca seja considerada apta à cravação e o que estabelece obrigatoriedade de ensaios de absorção de água pelo concreto. No original, o comitê concluiu que as estacas estarão liberadas para a cravação quando a resistência do concreto for maior que 35 MPa e o tempo de fabricação for maior ou igual a sete dias. Da mesma forma, sugere que devem ser feitos ensaios para determinar a taxa de absorção de água por imersão pelo menos uma vez ao mês ou quando houver mudança no traço do concreto ou nos materiais, ou quando solicitado pelo cliente.

Ainda sem numeração, a nova norma para estacas pré-fabricadas de concreto é aguardada com ansiedade pelo setor. O motivo é que dará mais credibilidade aos produtos fabricados no Brasil e tende a abrir mercado no exterior. "Em uma das palestras que dei sobre a norma, esteve presente o representante da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. Ele estava interessado em saber como se dará a normatização do produto no Brasil e como isso poderá gerar parcerias comerciais entre os dois países", diz Luís Fernando de Seixas Neves.

Como a nova norma aborda aspectos técnicos e de garantia de qualidade nas etapas de fabricação, manuseio, estocagem e transporte, os importadores de produtos brasileiros avaliam que terão mais garantias de receber estacas sem avarias. "Neste aspecto, o item mais crítico, e que a norma espera solucionar, é o manuseio. Muitos segmentos de estaca acabam sofrendo avarias importantes em obra por falta de cuidados básicos a serem seguidos durante manipulação das peças", explica o engenheiro civil.

Uma característica da norma, alerta Luís Fernando de Seixas Neves, é que ela não foi criada para "engessar" o produto. “Esse não é o objetivo. Acreditamos que seja saudável a existência de estacas executadas de modo artesanal e a meta é garantir a qualidade do produto final, seja ele fabricado em uma grande indústria ou no canteiro de obra. A norma de estacas fará o que qualquer outra norma faz: garantir ao cliente final um produto com requisitos básicos de qualidade, sem engessá-lo. Cada empresa fabricante poderá impor ao seu produto suas características próprias", resume.

Independentemente da nova norma, a produção de estacas pré-fabricadas de concreto também continuará submetida a outras normas já existentes, como a ABNT NBR-6118 (Projeto de estruturas de concreto - Procedimento) e a ABNT NBR-9062 (Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado) além da ABNT NBR-6122 (Projeto e execução de fundações).

Clique aqui e entenda a norma técnica para estacas pré-fabricadas de concreto.

Saiba mais sobre a nova norma para estacas pré-fabricadas de concreto:
http://www.cimentoitambe.com.br/estaca-pre-fabricada-de-concreto-tera-norma-propria/

Entrevistado
Engenheiro civil Luís Fernando de Seixas Neves, secretário da comissão técnica da ABNT que trabalhou no conteúdo da nova norma sobre estacas pré-fabricadas de concreto
Contato: lfneves@cepollina.com.br

Crédito foto: Divulgação/Meccanica

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

SC vira endereço de prédios mais altos do Brasil

Balneário Camboriú inaugurou recentemente um edifício residencial com 160 metros de altura, mas outros arranha-céus já estão a caminho

Por: Altair Santos

Balneário Camboriú ultrapassou a fama de polo turístico. A cidade do litoral catarinense tornou-se também um marco da engenharia nacional. É em seu território onde estão em construção os maiores edifícios do Brasil - alguns com pretensão de serem os mais altos da América Latina. Por conta do plano diretor da cidade, que permite empreendimentos residenciais ou comerciais sem limite de andares, estabeleceu-se no município uma competição de arranha-céus.

Rogério Rosa: Balneário Camboriú coloca o Brasil na rota dos arranha-céus

O Villa Serena deu a largada. Construído pela Embraed, o prédio é hoje o residencial mais alto do Brasil, mas já está fadado a perder esse título. O sucesso da obra, que mede 160 metros e tem 46 pavimentos, levou a construtora a projetar um edifício com 301 metros de altura e 82 andares. "É uma estratégia que agrega o embelezamento da cidade à possibilidade de construir verdadeiras obras de arte, com inovações", diz Rogério Rosa, presidente do grupo Embraed.

No caso do Villa Serena, as inovações levadas à obra estiveram ligadas à logística e ao estaqueamento de grandes dimensões. "Utilizamos betoneiras localizadas em todos os andares, o que gerou uma grande produtividade e permitiu adiantar o prazo de entrega da obra. Além disso, foi um empreendimento pioneiro no uso de blocos de grandes dimensões estaqueados. Para se ter uma ideia, foram utilizadas 693 estacas com profundidades de 30 metros a 60 metros”, explicam os engenheiros civis João Bosio e Ernandi Fey.

Fachada do Villa Serena, da construtora Embraed: 160 metros e 46 pavimentos

Construído em cinco anos, o Villa Serena envolveu a mão de obra de 450 trabalhadores, consumiu 23 mil m³ de concreto e 2.500 toneladas de aço. Pela sua envergadura, o edifício é relativamente leve. Pesa 65 mil toneladas. "Uma das soluções para dar mais leveza foi utilizar concreto pré-resfriado na construção dos blocos de fundação", relata Ernandi Fey, que já se prepara para os desafios do Embraed Towers, que a construtora quer que seja o maior da América Latina.

Reconhecido pelo Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) - organismo internacional que valida a altura dos edifícios -, o Villa Serena, no prazo máximo de cinco anos, também será ultrapassado por outras duas edificações em obras em Balneário Camboriú: o Sky Tower e o Infinity Coast - esse já em construção -, ambos da FG Engenharia e Empreendimentos. As edificações terão 210 metros e 240 metros de altura, respectivamente, e vão superar o Titanium La Portada, de Santiago do Chile, que mede 194 metros e hoje é considerado o mais alto edifício do continente sul-americano.

No Brasil, os prédios mais altos ainda continuam sendo os antigos Palácio Zarzur, com 170 metros, e o Edifício Itália, com 165 metros, localizados no centro da cidade de São Paulo. Porém, segundo Rogério Rosa, é apenas uma questão de tempo para que esses prédios passem a ser lembrados apenas nos livros de história. "O Brasil definitivamente entrou na fase dos grandes edifícios, por dois motivos: a engenharia local se sente com mais suporte tecnológico para construir e também pela questão do custo da terra, que passou a exigir uma maior concentração de pessoas em um único terreno", explica o presidente da Embraed.

Entrevistados
Rogério Rosa, presidente do grupo Embraed, e os engenheiros civis João Bosio e Ernandi Fey, responsáveis pela construção do Villa Serena.
Contato: www.embraed.com.br

Crédito foto: Diogo Ramos/Edson Bellini/Embraed

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Canal do Panamá transforma economia brasileira

Megaobra atrai construtoras do país e, quando pronta, em 2015, tende a mudar polo portuário para as regiões norte e nordeste

Por: Altair Santos

A extensão do Canal do Panamá, com a construção do terceiro jogo de eclusas para receber embarcações de grande calado - os chamados supernavios -, atinge diretamente a economia brasileira.  Na obra, construtoras brasileiras, empresas fornecedoras de softwares e materiais, além de projetistas nacionais, atuam direta ou indiretamente no empreendimento. Há ainda cerca de 200 profissionais brasileiros trabalhando no canteiro de obras, entre engenheiros e operários.

Porto de Pecém, no Ceará: ligação entre Ásia e Europa será facilitada

Poderia ser mais abrangente a participação brasileira na megaobra panamenha, caso o consórcio FBC - formado pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Bardella, em conjunto com as francesas Alstom e Bouygues e as chinesas Sinohydro e Covec - tivesse ganhado a licitação. Porém, o grupo vencedor foi o liderado pela espanhola Sacyr Vallehermoso, a italiana Impregilo, a belga Jan de Nul e a panamenha Construtora Urbana do Panamá.

Mesmo assim, há o entendimento de que em 2015, quando o novo Canal do Panamá estiver pronto, a economia do Brasil será uma das mais favorecidas pela obra. Principalmente o sistema portuário nacional.  É o que prevê a ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). "Os portos de Pecém (Ceará) e Itaqui (Maranhão) podem ser pivôs de um novo triângulo de comércio marítimo internacional, “ligando-se” com os portos da costa oeste dos Estados Unidos e da Europa. Neste cenário, poderiam ser os terminais concentradores de cargas oriundas destes dois polos produtivos da economia global", avalia Fernando Serra, gerente de Estudos e Desempenho Portuário da ANTAQ.

Os portos de Suape (Pernambuco) e Vila do Conde (Pará) também tendem a ser beneficiados. No entanto, a ANTAQ avalia que, mesmo diante de boas perspectivas, é preciso que sejam feitos investimentos nos portos do norte e nordeste do país, como a ampliação da capacidade física e operacional no trato das cargas. "Este tipo de instalação portuária, para ser rota constante do comércio marítimo internacional, deve ser de alta performance", destaca Fernando Serra.

Canal do Panamá: várias empresas brasileiras ligadas à construção civil atuam na megaobra

Quantos aos portos de Santos e Paranaguá, os mais tradicionais do Brasil, o novo Canal do Panamá não trará nenhum reflexo econômico sobre os dois terminais, pois eles são diretamente influenciados pelas rotas que utilizam o Cabo da Boa Esperança. No entanto, com a megaobra panamenha, o custo do frete por tonelada no istmo tende a ficar, em média, 35% mais barato. "Será muito competitivo para o mercado dos grandes navios de contêineres, já que a expansão do canal permitirá a passagem dos chamados navios post-panamax, cuja capacidade já chega a 12.000 TEU", revela o gerente da ANTAQ.

Como o Canal do Panamá irá favorecer o transporte de contêineres, coincidindo com a vocação dos portos do norte e nordeste do país, o Brasil tem chances de avançar no ranking da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development). Hoje, a navegação nacional ocupa a 17ª em  movimentação de contêineres em TEU (do inglêsTwenty-foot Equivalent Unit ou Unidade equivalente a 20 Pés, que costuma ser o comprimento médio de um contêiner).

Além disso, a megaobra pode impulsionar as construções de dois grandes eixos ferroviários: a Ferrovia Norte-Sul e a Transoceânica. "Para nossos portos aproveitarem todo o potencial que o Canal do Panamá irá proporcionar, eles precisarão ter boas instalações e equipamentos, tarifas competitivas, grande produtividade, boas ligações terrestres e acima de tudo uma área de influência econômica que garanta fluxo constante de cargas durante todo ano", completa Fernando Serra.

Fernando Serra, da ANTAQ: expansão do Canal do Panamá trará novas oportunidades ao sistema portuário brasileiro

 

Confira vídeos que mostram a evolução das obras no Canal do Panamá

Entrevistado
Fernando Serra, gerente de Estudos e Desempenho Portuário da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários)
Contato: asc@antaq.gov.br

Créditos fotos: Divulgação//Cearáportos/Porto de Itaqui/micanaldepanama.com/ANTAQ

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Píer de concreto atraca no setor marítimo

Equipamentos começam a ser fabricados no Brasil com material de alta qualidade e podem receber embarcações de até 100 pés de comprimento

Por: Altair Santos

Flutuantes em concreto/EPS transformam o mercado de píeres. O setor, antes dominado por estruturas de madeira e metálicas, ganhou um concorrente que agrega durabilidade e segurança aos atracadouros. A inovação tem atendido marinas, iates clubes, cais para embarque, passarelas marítimas, quebra-ondas e até instalações industriais. O sistema, que é reforçado com fibras plásticas, comporta-se bem tanto em água doce quanto no mar. Insubmersíveis, os píeres de concreto garantem extrema inércia à estrutura, cujo peso varia de 300 kg/m² a 500 kg/m², podendo receber embarcações de até 100 pés de comprimento.

Píer de concreto: flutuantes em concreto/EPS têm durabilidade superior a 30 anos

Os flutuantes de concreto/EPS passaram a ser fabricados recentemente no Brasil. Entre os que detêm a tecnologia está a PierBrasil Tecnologia, que instalou indústria própria em Cotia-SP para produzir as peças. "É a primeira vez que se produz píeres de concreto de alta qualidade no país, e com tecnologia 100% nacional", diz Richard Kubail, lembrando que nos Estados Unidos há estruturas que apresentam durabilidade de até 30 anos e com baixíssima manutenção. "Como o concreto usado para fabricar o píer é de alta resistência e de alto grau de impermeabilidade, o ciclo de vida das peças é bastante longo, seja em água doce ou em ambiente marítimo", completa.

A produção dos píeres requer que eles sejam fabricados em um ambiente industrial e não in loco. "O controle de qualidade com a cura na preparação do concreto são fundamentais para produzir peças resistentes. Mas os flutuantes, quando prontos, são facilmente transportados em carretas, como qualquer outro pré-moldado de construção civil. Na descarga e lançamento, são usados muncks ou guindastes, dependendo do peso de cada peça", explica Richard Kubail, garantindo que o custo do sistema de píeres de concreto é baixo se comparado à durabilidade.

Richard Kubail: trazendo tecnologia que já está consolidada nos Estados Unidos

Em portos
Píeres industrializados também são utilizados em portos, como atracadouros de grandes embarcações. No entanto, a tecnologia empregada é diferente. São sistemas montados com blocos de concreto que medem 13 metros de comprimento e lajes protendidas de 12 metros. Tais peças foram usadas no complexo portuário de Suape, em Pernambuco, para receber navios petroleiros. Com elas, montou-se um molhe em "L" com 3.050 metros de extensão. Neste caso, o concreto aplicado na construção das peças recebeu metacaulim e aditivos especiais para diminuir a porosidade e aumentar o ciclo de vida das estruturas dentro do mar. O recobrimento também foi reforçado - de 3,5 centímetros para 4,5 centímetros. No caso de Suape, os píeres podem receber petroleiros de até 170 mil TPB (Tonelagem de Porte Bruto).

Entrevistado
Richard Kubail, administrador de empresas e sócio-fundador da PierBrasil
Contatos
richard@pierbrasil.com.br
www.pierbrasil.com.br

Créditos fotos: Divulgação/PierBrasil

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Logística é peça-chave para indústria de pré-fabricados

Por causa da precariedade na infraestrutura de transporte, e da carga tributária, distância máxima entre obra e fábrica deve ser de 200 quilômetros

Por: Altair Santos

A construção industrializada ganhou um importante impulso com a Copa do Mundo. Todos os 12 estádios escolhidos para sediar o evento de 2014 utilizam a tecnologia do pré-fabricado, assim como as obras de ampliação dos aeroportos. O setor também avança significativamente em empreendimentos como condomínios logísticos, indústrias, shopping centers e supermercados, mas não consegue se consolidar no segmento habitacional. Por dois motivos: logística e carga tributária. "Com a industrialização agregaríamos produtividade à questão habitacional, mas a tributação e a infraestrutura de transporte, por enquanto, inviabilizam isso", explica Íria Doniak, presidente-executiva da Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) em entrevista coletiva concedida recentemente no Concrete Show 2013.

Agnaldo Mafra Júnior e Iria Doniak, da ABCIC: Copa do Mundo ajudou a difundir estruturas pré-fabricadas

Em muitos casos, a logística dificulta mais o emprego da construção industrializada do que a carga tributária. "Como o Brasil tem pouca navegação de cabotagem e pouca ramificação ferroviária, o transporte das peças pré-moldadas depende das rodovias. Isso faz com que tenhamos que concorrer com o agronegócio, o que encarece o frete. Então, se estabeleceu um padrão de que, para que a construção industrializada possa ser competitiva, a distância entre a fábrica e o local da obra não pode ser superior a duzentos quilômetros", explica Agnaldo Mafra Júnior, presidente do conselho estratégico da Abcic. "Essa questão da logística e dos impostos também impede que a construção industrializada tenha um preço definido do metro quadrado. Não dá para saber, pois o frete e o ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias) variam de estado para estado", completa Íria Doniak.

Somente em projetos especiais o limite de duzentos quilômetros entre fábrica e obra permite ser rompida. "Já fabriquei painéis alveolares em Florianópolis e levei de caminhão para Brasília, mas era uma obra que exigia componentes com tecnologia de vedação com alta precisão, e que só podiam ser produzidas em uma fábrica com fornos especiais. Quanto mais tecnologia embarcada há nas peças, mais difícil fabricá-las em canteiro de obras", comenta Agnaldo Mafra Júnior, contando que, apesar dos empecilhos tributários e de logística, a construção industrializada tende a conquistar novos mercados. "Existe uma expansão de shopping centers em cidades médias e a energia eólica também aumentou a demanda por pré-fabricados de concreto", completa o empresário, que também esteve na entrevista coletiva concedida pela Abcic no Concrete Show 2013 .

Por isso, continua o presidente do conselho estratégico da Abcic, é que cresce o interesse de trabalhadores em se especializar em construção industrializada. "Somos um setor que coloca cada vez mais mão de obra qualificada no mercado. São operadores de gruas, laboratoristas, projetistas, enfim, um legado que mostra que a industrialização da construção é irreversível", diz. A Abcic conta atualmente com 104 associados, das quais 54 são empresas produtoras de pré-fabricados. Os demais são fornecedores da cadeia produtiva e profissionais que operam com a tecnologia. A principal norma do setor é a ANBT NBR 9062 - Projeto e Execução de Estruturas Pré-moldadas de Concreto.

Entrevistados
Engenheira civil Íria Doniak, presidente-executiva, e Agnaldo Mafra Júnior, presidente do conselho estratégico da Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) e diretor comercial da Cassol
Contato: abcic@abcic.org.br

Créditos fotos: Divulgação/ABCIC

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Concreto celular estrutural inova obras habitacionais

Blocos do material atendem especificações da norma de desempenho e permitem erguer prédios de até 12 pavimentos. No Brasil, sistema está só começando

Por: Altair Santos

Na Alemanha, país onde as temperaturas no inverno chegam facilmente abaixo do zero grau Celsius, os blocos de concreto celular estrutural têm se popularizado rapidamente entre as edificações habitacionais com até 12 pavimentos. A característica do material é que o faz ganhar mercado na construção civil alemã. Altamente eficiente sob o ponto de vista térmico e acústico, a peça também é leve e com estrutura para suportar compressão de 12 MPa e densidade de 300 kg por m³.

Construção com blocos de concreto celular estrutural: alta eficiência térmica e acústica

O que garante essas propriedades ao bloco de concreto celular estrutural é que as peças, normalmente medindo 20 centímetros de espessura, 60 centímetros de altura e 1,20 m de comprimento, são curadas em forno de autoclave a pressão de 34 bares (34 atmosferas). A fabricação é feita com cimento CP II-F-32 ou CP II-Z-32, areia fina e aditivo a base de alumínio ou aerante, que no Brasil só é conseguido através de importação.

Os fornos de autoclave também não são fabricados no país, o que encarece a instalação de uma fábrica. Há apenas duas indústrias em funcionamento no território nacional que produzem blocos de concreto celular autoclavado: a Siporex, em Minas Gerais, e a Cocal, em Santa Catarina. No entanto, uma terceira entrará em funcionamento em 2014 no município catarinense de Imbituba. Trata-se da Blocel, do grupo Inkor.

Para o engenheiro civil Luiz Francisco Teixeira Marcondes, diretor-técnico e comercial da Blocaus Pré-Fabricados Ltda., esse deve ser o futuro da indústria de blocos de concreto no Brasil. "O sistema tem um custo elevado de implantação fabril, mas baixo custo de produção. O investidor que conseguir implantar uma estrutura com fornos de autoclave e cortadeiras programáveis terá amortizado o seu investimento em três anos", estima.

Francisco Marcondes, da Blocaus: construção fica até 60% mais rápida do que a convencional

Francisco Marcondes esteve recentemente na BAUMA 2013, que aconteceu em Frankfurt, na Alemanha, e onde são mostrados produtos e equipamentos que balizam as inovações na construção civil mundial. "Estou convicto de que o mercado assumirá com muita rapidez esse processo construtivo, por sua racionalidade, facilidade de corte e agilidade que dá à obra. Assentado com argamassa colante, o sistema reduz a construção em até 60% se comparado à construção convencional", diz.

Norma de desempenho
Marcondes afirma que as peças eliminam a compatibilização de projetos e permitem a alteração das instalações durante a construção, conforme a vontade do cliente. "Elas reduzem os custos em 50% em relação aos reticulados de concreto armado fechados com tijolos. Por isso, é o futuro das construções para países emergentes, onde a padronização de produtos, a redução de mão de obra e a racionalização construtiva são a sobrevivência das empresas que constroem para as classes média e baixa", completa.

Na Alemanha, o engenheiro civil também visitou edifícios construídos em alvenaria estrutural com blocos de concreto celular estrutural autoclavado. "Em Frankfurt e em Khöln vi prédios de até 12 pavimentos. São edificações construídas de acordo com as rigorosas normas europeias, que preveem isolamento térmico e acústico para atender os desconfortos dos verões e invernos do hemisfério norte, além de segurança contra abalos sísmicos e ventos de mais de 250 Km/h. Portanto, se transferidas para as condições do Brasil, elas atendem plenamente a norma de desempenho (ABNT NBR 15575)", garante Francisco Marcondes.

Para o diretor-técnico e comercial da Blocaus, cuja sede industrial fica em Biguaçu-SC, a chegada ao Brasil do bloco de concreto celular estrutural autoclavado irá mudar o mercado. "Em cinco anos, o bloco de concreto convencional perderá a atratividade. Ele continuará em uso para a construção de habitações de interesse social do Minha Casa, Minha Vida, na faixa 1, e em edificações de até três pavimentos. Acima disso, o bloco de concreto celular estrutural será imbatível. A Blocaus, claro, pretende sim participar desta nova etapa que se inicia para a construção civil no Brasil", afirma.

Entrevistado
Luiz Francisco Teixeira Marcondes, engenheiro civil e diretor-técnico e comercial da Blocaus Pré-Fabricados Ltda
Contato: franciscomarcondes@blocaus.com.br

Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330