Revisão realça NBR 6118 como referência internacional
Norma-mãe do concreto evolui desde 1940, quando foi criada como NB 1, e hoje é considerada uma das mais importantes para a construção civil mundial
Por: Altair Santos
Depois de passar por debates no Enece 2013 (Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural) e no 55º Congresso Brasileiro do Concreto, promovido pelo Ibracon, o texto revisado da ABNT NBR 6118 - Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento - está pronto para ser publicado. Os eventos serviram para aparar as últimas arestas, mesmo depois de encerrado o período de consulta pública, cujo prazo venceu dia 30 de setembro de 2013. Agora, a expectativa é de que a nova norma entre em vigor em dezembro de 2013, sem nenhum prazo de carência. Entre as novidades, em relação ao texto de 2003, e que aprimorado foi em 2007, está a de que a NBR 6118 passa a abranger classes de concreto com resistência até 90 MPa. A revisão também aprimorou os itens de segurança da norma.

Depois desta etapa, a NBR 6118 fica submetida a um comitê permanente, coordenado pela Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e voltará a passar por um processo de revisão em 2018. A cada cinco anos, a norma terá que ser modernizada para que preserve seu status de referência internacional, reconhecido pela ISO TC 71 - comitê técnico que avalia mundialmente as normas relacionadas ao concreto. "Essa é uma das poucas normas elaboradas no Brasil e reconhecida como referência internacional. Por isso, na revisão, tivemos todos os cuidados para preservar a herança que ela carrega desde a NB1, editada em 1940. Não é à toa que é considerada a norma-mãe da construção civil no país", comenta Alio Kimura, que secretariou a revisão da NBR 6118.
Carinhosamente chamada pelos engenheiros estruturais de a "velha senhora", a norma 6118 passou por cinco etapas de evolução. Nasceu como NB1, em 1940, no primeiro passo para que o Brasil criasse tradição na elaboração de normas. Quando concebida, a NB1 foi a primeira do mundo a tratar de cálculos abrangendo concreto e aço. Depois, na revisão de 1960, a norma seguiu inovando e abordou os problemas da resistência à característica do concreto. Em 1980, a NB1 foi registrada no Inmetro e passou a se denominar NBN 1-18. A grande reforma, porém, ocorreu em 2003 - e que foi concluída em 2007. "Naquele ano, a norma foi totalmente remodelada. A sequência de capítulos mudou drasticamente, deu-se prioridade à parte de projetos, houve a unificação de toda a parte de concreto - simples, armado e protendido - e surgiram requisitos de durabilidade e análise estrutural", revela Alio Kimura.
Em 2008, a NBR 6118 foi aceita pela ISO TC 71 e aprovada como norma de parâmetro internacional. "Foi um trabalho que envolveu muita gente, mas hoje o Brasil tem uma norma no rol das gigantes do mundo. A NBR 6118 se alinha às melhores normas sobre estruturas de concreto existentes nos Estados Unidos, na Europa, no Japão, na Arábia Saudita e na Austrália", cita o secretário da norma 6118, lembrando que para que ela atingisse esse estágio foi preciso que a ABNT revisasse também a NBR 15200 - Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio - e a NBR 15421 - Projeto de estruturas resistentes a sismos - Procedimento. "Foram revisões que precisaram conciliar todas as visões. Do projetista ao fabricante, do certificador ao tecnologista", completa.
Na revisão de 2013, além de abranger classes de concreto com resistência até 90 MPa, a NBR 6118 trata com mais detalhes da resistência à tração do concreto, revalidando vários itens. O controle de qualidade do projeto agora independe do porte da obra e as dimensões mínimas de pilares foram encorpadas, aumentando de 12 centímetros para 14 centímetros. A norma também melhorou a segurança para a produção de pilares altamente esbeltos e estabeleceu novos padrões para o uso de elementos finitos no concreto. Por fim, dá mais liberdade para que as lajes pré-moldadas sejam analisadas a partir das normas específicas para pré-fabricados.
Entrevistado
Engenheiro civil Alio Kimura, secretário da comissão que elaborou a revisão da ABNT NBR 6118
Contato: alio@tqs.com.br
Crédito foto: Divulgação/Abece
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Instituto Brasileiro do Concreto intensifica intercâmbio internacional
Em seu 55º congresso, Ibracon contou com a participação de pesquisadores da Índia, dos EUA, da Noruega, da Espanha e da Itália
Por: Altair Santos
O 55º Congresso Brasileiro do Concreto, que aconteceu em Gramado-RS, de 29 de outubro a 1º novembro de 2013, terminou com uma unanimidade entre os participantes: a de que o Brasil está se aproximando com mais rapidez de países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha e França, no que se refere à pesquisa do concreto. Estas nações estão na vanguarda, quanto às novas descobertas que envolvem o material, e um dos motivos de o país estar diminuindo a distância para elas é a intensidade com que promove intercâmbios internacionais.

Neste aspecto, o Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto ) tem sido relevante. O congresso que acaba de terminar é um exemplo. Nomes de peso, como os do indiano Ravindra Gettu, do Instituto Indiano de Tecnologia; do norte-americano Dan Frangopol, da Lehigh University e presidente do IABMAS (Associação Internacional para a Segurança e a Manutenção de Pontes); do italiano Fábio Biondini, do Politecnico di Milano; do norueguês Borge Johannes Wigum, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, e do espanhol Alberto Delgado Quiñones, do Instituto de Ciências da Construção de Madri, estiveram no evento.
As autoridades internacionais em concreto, junto com importantes nomes da engenharia civil brasileira, debateram temas como reação álcali-agregado (RAA), segurança e manutenção de pontes e aplicação de nanossílica - componente reológico indicado para concretos de alto desempenho e pré-fabricados. O fórum técnico também serviu para a apresentação da nova ABNT NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto - Procedimento, após encerrado o período de consulta pública. "Foram intensos os debates, assim como os cursos. Destaco o que focou o concreto reforçado com fibra", diz o presidente do Ibracon, Túlio Nogueira Bittencourt.

Outro assunto definitivamente incorporado no Congresso Brasileiro do Concreto foi o da sustentabilidade. Para o presidente do Ibracon, não há mais como pensar em produzir concreto sem levar em conta essa questão. "Essa é toda a motivação da indústria de concreto no momento: reduzir a pegada de carbono do concreto. Trata-se de um material que tem potencial enorme para sequestrar CO₂ e ainda tem a possibilidade de ser reciclado. Neste aspecto, diga-se de passagem, o índice de desperdício continua alto. Creio que a indústria do setor, nos próximos anos, tende a se concentrar mais no reaproveitamento de materiais para, daí sim, termos eficiência plena sob o aspecto da sustentabilidade", completa Túlio Nogueira Bittencourt.
A 55ª edição do Congresso Brasileiro do Concreto chamou a atenção também para o fato de proliferarem escolas de engenharia civil sem estar devidamente equipadas. "Infelizmente, têm surgido universidades que não conseguem atender as necessidades tecnológicas e, consequentemente, não possibilitam um ambiente favorável para investigações e inovações. O Brasil avançou sobremaneira no campo da pesquisa do concreto, mas os estudos estão muito concentrados em poucas universidades", alerta o presidente do Ibracon.
Entrevistado
Engenheiro civil Túlio Nogueira Bittencourt, presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) e professor-doutor da Universidade de São Paulo (USP)
Contatos
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tulio.bittencourt@poli.usp.br
Créditos fotos: Divulgação/Ibracon
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Obras de infraestrutura vão puxar economia em 2014
Ao analisar riscos e tendências para a construção civil, economista Fernando Sampaio projeta que eleições farão grandes obras saírem do papel
Por: Altair Santos
Qual será o carro-chefe da economia brasileira em 2014? No entender do economista Fernando Sampaio, diretor da LCA Consultoria, o investimento em obras de infraestrutura irá puxar o país no ano que vem. O especialista, que recentemente palestrou no Enece 2013 (Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural) afirma haver sinais claros de que megaempreendimentos começarão a sair do papel nos próximos meses.

Um dos indícios é a quantidade de recursos já liberados pelo governo federal; o outro, é a proximidade das eleições, que em 2014 irão abranger cargos como presidência da República e governadores. "Dos 26 estados da União, mais o Distrito Federal, 23 já tomaram dinheiro para investir em infraestrutura. São obras de saneamento básico, mobilidade urbana e trechos rodoviários, que, finalmente, tendem a sair do papel. Além disso, crescem os incentivos às PPPs (Parcerias Público-Privadas) e o programa de concessões do governo Dilma, mesmo que atabalhoado, acabará gerando mais obras em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos", avalia Sampaio.
O economista também aposta que o governo federal deverá dar mais injeção ao programa Minha Casa Minha Vida, principalmente para obras destinadas à faixa 1 (até 3 salários mínimos). "Tratam-se de imóveis de baixo padrão, que exigem mais músculo do que tecnologia e, portanto, geram mais emprego à mão de obra com baixa qualificação. Para o governo, o que interessa é que o setor crie cada vez mais vagas formais e o Minha Casa Minha Vida tem sido um bom instrumento para isso. Além disso, o programa estimula o financiamento imobiliário, haja vista que no ano passado o crédito habitacional cresceu 35% e este ano (2013) deve se manter neste patamar", projeta.
Para a cadeia da construção civil, Fernando Sampaio calcula que 2014 tende a ser de crescimento acima do PIB (Produto Interno Bruto), mas estima que, a partir de 2015, possa ocorrer uma "freada" no setor. "Começo de governo, independentemente de quem ganhar, é sempre de ajustes. Por isso, as obras ligadas a gastos públicos deverão ser mais contidas", afirma o economista, para quem o PIB brasileiro poderá crescer 4% em 2014 e talvez ter uma queda em 2015 - ficar em 3% -, para voltar a crescer em 2016. "Daqui a três anos, a expectativa é de que a crise internacional dê um alívio. Mas não veremos mais a euforia de antes de 2009. O mundo seguirá com aversão ao risco e o Brasil terá que ter projetos sólidos para atrair o capital estrangeiro. Por isso, confio que as obras de infraestrutura deverão liderar esse movimento", completa.
Fernando Sampaio finaliza apontando que se o Brasil quiser ter parceiros internacionais fortes deve mirar a China e os Estados Unidos. O primeiro, porque, segundo o economista, "salvou" o mundo de 2009 a 2012, e seguirá calibrando a economia mundial; o segundo, porque dá sinais de recuperação. "Os Estados Unidos demonstram retomada da economia, e isso é bom para os exportadores brasileiros, inclusive os fabricantes da cadeia produtiva da construção civil. Na minha avaliação, apenas a zona do euro vai demorar mais para crescer, provavelmente só após 2016", conclui.
Entrevistado
Economista Fernando Sampaio, graduado pela USP e pós-graduado pela Unicamp e diretor da LCA Consultoria
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Crédito foto: Divulgação/Abece
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
CREA-PR teme que "Mais Médicos" inspire "Mais Engenheiros"
Conselho está em alerta, após entrada em vigor do polêmico programa que importa profissionais de medicina e os admite no mercado sem validar diplomas
Por: Altair Santos
Lançado no começo do segundo semestre de 2013, o programa “Mais Médicos” tornou-se uma das ações mais polêmicas do governo federal. Por conta da quebra de regras, criou-se uma disputa entre os conselhos da categoria e o ministério da Saúde, que passou a se responsabilizar pela validação dos profissionais vindos do exterior. Numa primeira leva, vieram 1.232 médicos. A partir de outubro, outros 2.167 desembarcaram no Brasil. O objetivo é, até 2014, importar 7,5 mil estrangeiros - dos quais, 80% serão cubanos. A medida acendeu a luz de alerta entre outras categorias, principalmente a dos engenheiros. Isso ficou claro no 20º Fórum de Docentes, promovido recentemente pelo CREA-PR. O temor é que o “Mais Médicos” inspire um "Mais Engenheiros".

Para o presidente do CREA-PR, Joel Krüger, o principal risco é a ruptura do regramento estabelecido na lei 5.194, de 1966, que regula o exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrônomo no país e exige que estrangeiros sejam submetidos a exames em uma universidade pública para validar seus diplomas. "Atualmente, o CREA-PR, dentro do que a lei exige, autoriza cerca de 30 engenheiros estrangeiros por ano a trabalhar no Paraná. Agora, se há a predisposição para flexibilizar isso, precisamos saber o limite. No nosso entender, a validação automática pode ser bastante perigosa", diz Krüger, convicto de que esse será um problema que a categoria terá de enfrentar no curto prazo. "Já estamos trabalhando em um grupo de trabalho, cuja prioridade é defender o regramento. Não podemos esquecer que em 2015 o acordo do Mercosul estabelece o livre trânsito de serviços", completa.
Para Joel Krüger, na questão do Mercosul, uma solução é estimular a passagem dos estrangeiros pela Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) com sede em Foz do Iguaçu-PR. "Quem estuda na Unila não terá problema nenhum, já que o registro do diploma de quem se forma na universidade é aceito pelo CREA. Neste caso, o que precisamos é que a graduação na Unila seja reconhecida pelos outros países do bloco (Argentina, Uruguai, Venezuela e Paraguai). É necessário que haja a reciprocidade que se dá aqui, pois pode ser que haja problema em relação ao brasileiro formado na Unila, quando ele for trabalhar em outro país", afirma o presidente do Crea-PR. A Unila possui os cursos de graduação em engenharia civil de estruturas, engenharia de energias renováveis e arquitetura e urbanismo.

Segundo o presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná, Oscar Alves, os indícios são de que um "Mais Engenheiros" está a caminho. "Sabemos que há estudos no MEC (ministério da Educação) para que haja a abertura para engenheiros estrangeiros, como houve no "Mais Médicos". Mas o problema não é abrir o mercado. O problema é contratar profissionais sem que seus diplomas sejam validados. Já recebemos denúncias de que empresas têm contratado engenheiros como assistentes técnicos ou tecnólogos, para que eles não passem pela inspeção do CREA", revela Alves. Outra preocupação da categoria é com relação à normalização da construção civil no Brasil. "Os engenheiros estrangeiros não conhecem nossas normas, principalmente as relacionadas às estruturas", alerta o engenheiro civil Alexandre L. Vasconcellos, diretor-geral da Método Estruturas, em recente palestra no Enece 2013 (Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural).
Entrevistados
- Engenheiro civil Joel Krüger, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR)
- Oscar Alves, graduado em medicina e presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná
- Engenheiro civil Alexandre L. Vasconcellos, diretor-geral da Método Estruturas
Contatos:
presidencia@crea-pr.org.br
cee@pr.gov.br
Créditos fotos: Leandro Taques/CREA-PR
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Preço de material de construção não pauta mais a relação fornecedor-cliente
Pesquisa da Anamaco mostra que atendimento, variedade de produtos e logística passaram a definir as boas vendas no setor de material de construção
Por: Altair Santos
Os dados mais recentes divulgados pela Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção) revelam que o Brasil tem atualmente 129 mil lojas de material de construção e 10 mil atacadistas espalhados por seus 5.564 municípios. Dependendo do local do país, de um ano para o outro os pontos de venda crescem entre 5% e 11%. "Isso significa concorrência. É mais comum do que se imagina ter duas ou três lojas na mesma rua. Às vezes, uma em frente da outra. Diante deste cenário, a pergunta que se faz é: como ter lucro?", questiona o presidente, Cláudio Elias Conz.

O empresário, que no começo de outubro esteve palestrando na Intercon 2013 (Feira e Congresso da Construção Civil) realizada em Joinville-SC, afirmou que uma loja só pode pensar em ter lucro se priorizar atendimento, variedade e logística. "Os insumos que as lojas de materiais de construção vendem hoje estão com uma inflação praticamente congelada, se comparados com serviços e custos administrativos e operacionais. Isso significa que os produtos, cada vez mais, são commodities. Então, o preço não pauta mais a relação fornecedor-cliente. Ao mesmo tempo, não sobrevive quem não obtiver margem de lucro entre 45% e 50%. Como atingir esse percentual? Só consegue quem investir em atendimento, variedade e logística", afirma o presidente da Anamaco.
Cláudio Elias Conz apresentou pesquisa encomendada pela associação, na qual o preço aparece em quarto lugar entre os atrativos que levam o consumidor a procurar uma loja de material de construção. À frente, estão qualidade no atendimento, variedade de produtos e capacidade da loja em entregar dentro do prazo prometido (logística). "O cliente não entra mais na loja para comprar tinta. Ele quer ver como a casa dele vai ficar com aquela tinta. Ele não entra mais para comprar cerâmica. Ele quer ver como a casa dele vai ficar. Então, tem de haver essa conexão entre produto e consumidor, e quem faz é o lojista. De que forma? Oferecendo treinamento, treinamento e treinamento aos seus atendentes", diz.
Falando para um público formado em sua maioria por donos de lojas de material de construção da região de Joinville, o presidente da Anamaco foi explícito: "Hoje, loja estática não vende. Ela precisa conversar com o consumidor. Está comprovado que quem faz isso melhora as vendas em até 40%". Cláudio Elias Conz relatou que já há comerciantes utilizando a logística reversa como diferencial. "Conheço lojas que recolhem as latas de tinta, e dão destinação. Fazem o mesmo com as embalagens de cimento e de cal. Outras têm parcerias com empresas que reciclam entulhos da construção civil e orientam o consumidor a dar destino aos resíduos, após uma reforma. Essa é a nova loja da material de construção. É nesse ambiente que se cresce", concluiu.
Entrevistado
Cláudio Elias Conz, presidente da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção)
Contato: presidencia@anamaco.com.br
Crédito foto: Divulgação/CIENTEC
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Governo eleva teto para uso do FGTS e divide mercado
Organismos ligados à construção civil enxergam aquecimento moderado nas vendas, enquanto especialistas em real estate veem alta nos preços
Por: Altair Santos
No final de setembro de 2013, o governo federal anunciou uma medida que há algum tempo o mercado imobiliário esperava: a elevação do valor máximo de compra de imóveis com o uso de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Para os estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, além do Distrito Federal, o teto passou para R$ 750 mil. Nos demais estados, ficou em R$ 650 mil. Significa que o comprador pode utilizar sua conta de FGTS para amortizar o preço de imóveis com valor acima de R$ 500 mil - o teto anterior. Um exemplo: se o mutuário tem R$ 50 mil no FGTS e quer comprar um imóvel que vale R$ 650 mil, ele irá financiar apenas R$ 600 mil.

De imediato, a pergunta que se fez foi: essa decisão pode resultar em aumento do metro quadrado? Foi o suficiente para dividir o setor. Organizações de classe, como o Secovi, entendem que não. Já os analistas de real estate avaliam que o novo teto pode estimular reajustes. "Pode influenciar, mas não de forma geral. A influência maior ocorrerá nos imóveis que estavam com valores próximos ao limite anterior (R$ 500 mil). Eles se mantinham nesta faixa de preços porque eram produtos direcionados para clientes com perfil que utilizam o FGTS", alerta Fernanda Maria Ferreira, do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP.
A especialista destaca ainda que o preço de um imóvel é estabelecido por uma série de variáveis, e o limite do FGTS é apenas uma delas. "Depende do produto, do público alvo, da localização, do padrão, e uma das variáveis que pode ou não influenciar a flutuação do preço do imóvel é o limite para a utilização do FGTS. Mas para ocorrer essa influência o produto deve estar direcionado para um público que anseia por utilizar o FGTS. Com certeza, onde houver essa margem, que possibilite aumento, ele ocorrerá", ressalta Fernanda Maria Ferreira.

Outra análise feita pela pesquisadora da USP é a de que, embora a medida do governo tenha sido para estimular o consumo de imóveis, o mercado imobiliário passa por uma fase de reassentamento, depois de um período de cinco anos de euforia. "De 2008 para cá, houve um descolamento entre o valor dos imóveise o poder de compra da população. Isso foi gerado, basicamente, por demanda reprimida, aumento nos custos de produção, aumento de custos de terrenos, escassez de mão de obra e aumento da oferta de crédito. Houve também um componente especulativo, o que gerou teses sobre o risco de bolha. Mas o Brasil tem regras muito conservadoras para o crédito imobiliário e a tendência atual é a de que o mercado se reorganize dentro da lei da oferta e da procura", diz.
Fernanda Maria Ferreira entende que as novas regras para financiamento imobiliário com recursos do FGTS atendem ao consumidor interessado em adquirir a casa própria ou trocar de imóvel para morar. Já o cenário não é propício a investidores. "A medida beneficia o comprador, que pode ter acesso a uma variedade maior de imóveis, e ao construtor e ao incorporador, que podem aumentar suas vendas. Já o investidor deve ter cautela. Os imóveis deixaram de se valorizar tanto e a velocidade das vendas caiu. Talvez seja o momento de buscar investimentos lastreados em imóveis e não especificamente os imóveis", recomenda.
Entrevistada
Fernanda Maria Ferreira, engenheira civil, pós-graduada em finanças pelo Insper e mestre em real estate pela Poli-USP. Faz parte da equipe do Núcleo de Real Estate da Universidade de São Paulo
Contatos:
fefemaria10@yahoo.com.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Concretagem em tempo quente
Altas temperaturas provocam efeitos indesejáveis em algumas características do concreto
Por: Jorge Aoki, Gerente de Assessoria Técnica na Cia. de Cimento Itambé
Com a chegada do verão e das altas temperaturas, são necessários determinados cuidados com o concreto. As características básicas do material, quando fresco, são as mais afetadas, embora o concreto endurecido também necessite de atenção especial, principalmente na questão da cura das primeiras idades.

A perda rápida de água da massa de concreto e das argamassas provoca a chamada retração hidráulica, que por sua vez causa o aparecimento das indesejáveis trincas e fissuras. Esse efeito fica acentuado com o aumento da velocidade dos ventos e da baixa umidade relativa do ar. No momento da aplicação do concreto é provável a ocorrência de uma dificuldade a mais com a perda da plasticidade.
Nos concretos convencionais, a maior parte da água de amassamento determinada no momento da dosagem tem apenas a função de permitir a correta aplicação com o total preenchimento das fôrmas. A retirada do ar da massa, com o uso de vibradores, fica bem facilitada quando a plasticidade é adequada. Porém, esta mesma água adicional, que depois vai sair por evaporação (exudação) é a que sofre a ação das altas temperaturas. Uma das funções fundamentais do processo de cura é exatamente impedir a saída rápida desta água, evitando a retração.
Define a ABNT NBR-7212 ( Execução de concreto dosado em central) em seu item 4.5.4: "A temperatura ambiente para lançamento do concreto deve estar entre 5° C e 30° C, conforme a ABNT NBR 14931 (Execução de Estruturas de Concreto - Procedimento). Fora desses limites devem ser tomados cuidados especiais acordado entre as partes. A temperatura do concreto por ocasião de seu lançamento deve ser fixada de modo a evitar a ocorrência de fissuração de origem térmica.
Portanto, algumas precauções são necessárias:
1. No caso de o concreto ser dosado em central, programar o intervalo entre caminhões-betoneira de modo a evitar a espera dos mesmos na obra. Desta forma, ganha-se tempo de aplicação.
2. Verificar com atenção o horário de mistura dos materiais componentes do concreto - anotado, obrigatoriamente, na nota fiscal -, pois a partir deste começa a contar o tempo de início de pega do concreto.
3. Nos bombeamentos, evitar paradas prolongadas, pois a tubulação exposta ao sol aumenta o efeito do início de pega e provoca entupimentos frequentes.
4. Dimensionar bem o pessoal da obra envolvido no transporte vertical/horizontal do concreto e adensamento (vibração) agilizando a descarga e ganhando tempo.
5. Manter as fôrmas bem molhadas para que não absorvam a água do concreto, aumentando o efeito da retração e provocando o aparecimento de fissuras.
6. Observar atentamente os procedimentos da cura do concreto, evitando a perda de água e a ocorrência de fissuração térmica.
Os métodos mais comuns de cura são:
- Irrigação ou molhagem contínua da superfície do concreto logo após o término da concretagem e por um período de pelo menos 7 dias, inclusive nos horários noturnos.
- Utilização de lonas plásticas para cobrir a superfície do concreto, evitando a perda de água.
- Recobrimento das superfícies com areia, serragem, sacos de aniagem ou papel, sempre mantidos bem úmidos.
- Emprego de películas de cura que evitam a evaporação rápida de água.
Crédito foto: Cia. de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Manaus tem maior conjunto do Minha Casa Minha Vida
Das 8.895 unidades previstas, 3.511 já foram entregues. Sistema de paredes de concreto armado viabiliza megaconstrução do programa habitacional
Por: Altair Santos
Balanço do Minha Casa Minha Vida, divulgado em julho de 2013 pela ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, revela que, desde o lançamento do programa, em 2009, 340.774 unidades da faixa 1 (três salários mínimos) foram entregues. Entre essas moradias, 8.895 estão concentradas no Residencial Viver Melhor, em Manaus-AM, que detém o título de maior conjunto habitacional do MCMV.

Localizado na zona norte da capital amazonense, o complexo habitacional foi concebido sob o conceito de bairro planejado. "Paralelamente, foram construídas uma estação de tratamento de esgoto, ruas asfaltadas, creches, posto de saúde, escolas e uma linha de transporte público para o conjunto. É o primeiro bairro planejado popular do país", afirma Regina Lúcia Ferreira Gomes, diretora-técnica da Superintendência de Habitação do governo do Amazonas (Suhab).
Na primeira etapa do Viver Melhor, foram entregues 3.511 unidades habitacionais em setembro de 2012. Em dezembro de 2013, outras 5.384 serão concluídas. Para cumprir o cronograma, a Direcional Engenharia - construtora que ganhou a licitação da obra -, optou pelo sistema de paredes de concreto armado.
Segundo Ismar Fernandes, engenheiro que gerencia o empreendimento, o modelo traz um elevado ganho de produtividade. "A montagem das fôrmas e a concretagem permite construir 32 estruturas de apartamentos por dia. Em processos convencionais, a construção de 32 unidades, incluindo acabamento, leva em média seis meses. Com esse método, o tempo diminui para 60 dias. A primeira etapa da construção das moradias durou dois anos", revela. "A mão de obra foi treinada para montar e desmontar as fôrmas com grande agilidade, o que também dá rapidez ao processo", completa
O planejamento prevê que as 8.895 unidades do conjunto consumirão 149 mil m³ de concreto. Para viabilizar o bairro do Minha Casa Minha Vida, o investimento é de 463,1 milhões, num formato de financiamento que envolve a Caixa Econômica Federal e o governo amazonense. O empreendimento gera 2.500 empregos diretos e 8.500 indiretos. Entre os operários, 150 mulheres foram contratadas para atuar especificamente nos trabalhos de acabamento.
Cada casa e apartamento mede 33 m², com sala, cozinha, dois quartos, banheiro e área de serviço. "O residencial atende as famílias, segundo critérios estabelecidos pelo ministério das Cidades: famílias chefiadas por mulheres; famílias residentes em áreas de risco; famílias com filhos com residência fixa em Manaus há, no mínimo, três anos; famílias que residem na condição de cedidos ou alugados, que não foram contempladas com programas habitacionais de esfera federal, estadual, municipal, bem como assentamentos, e famílias com membros que possuam doenças crônicas degenerativas. Some-se a esses critérios, a renda familiar, que não pode ultrapassar R$ 1.600,00 reais por mês", finaliza Amilca Pontes Negrão, diretora de habitação da Suhab.
Veja vídeo sobre o maior conjunto do MCMV
Entrevistado
Superintendência de Habitação do governo do Amazonas (Suhab) (via assessoria de imprensa)
Contatos:
assessoriadecomunicacao@suhab.am.gov.br
dehab@suhab.am.gov.br
Crédito foto: Divulgação/Suhab
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Custo torna quase inviável a construção de metrôs
Luís Afonso dos Santos Senna, professor da UFRGS e especialista em mobilidade urbana, defende que cidades priorizem projetos de BRT e VLT
Por: Altair Santos
O professor de engenharia de produção e transportes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Luís Afonso dos Santos Senna, defende que as grandes cidades brasileiras pensem em soluções alternativas para o transporte público, que não seja o metrô. Segundo ele, o sistema, que é o sonho de consumo de 10 entre 10 prefeitos de capitais, tornou-se economicamente inviável de construir. Dados apresentados pelo especialista, no Congresso Brasileiro de Construção Sustentável 2013, mostram que, no Brasil, o quilômetro construído do metrô não sai por menos de R$ 100 milhões, podendo chegar a R$ 500 milhões em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. "O custo e a escassez de terras para desapropriar, associada às tecnologias cada vez mais sofisticadas para escavar túneis, encareceram por demais esse modelo de transporte", alerta Santos Senna.

Indiretamente, a cidade de São Paulo começa a valorizar outros modais. A prefeitura espera criar 150 quilômetros de BRT (Bus Rapid Transit) até o final de 2016, ao custo de R$ 6 bilhões. Com o mesmo volume de recursos, seria possível fazer apenas 12 quilômetros de metrô na capital paulista. O governo federal também se convenceu de que deve deixar de ver o metrô como a alternativa número um para a mobilidade urbana. Desde as manifestações populares de junho de 2013, linhas de crédito incentivando a criação de BRTs e VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) nas principais cidades brasileiras já somam R$ 50 bilhões para projetos que prometem ser viabilizados nos próximos quatro anos.
O professor da UFRGS lembra que o metrô foi um modal importado para o Brasil, mas que hoje não é mais prioridade nem na Europa nem nos Estados Unidos. "Nos países europeus e nas cidades norte-americanas, os metrôs existentes foram consolidados no século passado. Hoje, esse sistema de transporte tornou-se muito caro até para eles", afirma Luís Afonso dos Santos Senna, citando que o que se busca atualmente nos países desenvolvidos é o network da mobilidade urbana. "Se o metrô já está construído, perfeito. Então, que se conecte a cada estação um terminal de ônibus e uma faixa de ciclovia. Los Angeles é quem melhor faz isso. A cidade decidiu trocar o metrô pelo investimento em ônibus. Primeiro, partiu para a compra de veículos sofisticados, com ar-condicionado e som ambiente, mas esqueceu de dar mobilidade a eles. Foi aí que a prefeitura se deu conta de que era necessário menos luxo e mais praticidade. Los Angeles hoje tem corredores exclusivos próximos das estações de metrô, conectando os sistemas", conta.

Para Luís Afonso dos Santos Senna, o Brasil precisa caminhar neste sentido e ter uma política séria de transporte público e mobilidade urbana para as grandes cidades. "A estratégia nacional de desenvolvimento do país tem seus fundamentos na produção de automóveis. O Brasil precisa mudar isso, caso contrário só irá piorar o quadro atual. Para se ter uma ideia, a velocidade do fluxo de veículos hoje nas metrópoles brasileiras é semelhante ao da Inglaterra na revolução industrial. Pior: a inclusão social agravou o problema de mobilidade nos grandes centros, pois quem não tinha carro, agora tem", alerta. Para o especialista, é hora de o Brasil pensar em políticas que subsidiem a não utilização de automóveis, que controlem a oferta de estacionamentos e que restrinjam a circulação de automóveis nos centros das metrópoles. "Não temos mais tempo para sermos amadores em termos de mobilidade", completa.
Entrevistado
Luís Afonso dos Santos Senna, engenheiro civil, ex-secretário municipal de transporte na cidade de Porto Alegre e professor-doutor de engenharia de produção e transportes da UFRGS
Contato: lsenna@producao.ufrgs.br
Crédito foto: Divulgação/Cia. de Cimento Itambé/ Consórcio Via Quatro
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Inmetro dá mais atenção à cesta básica da construção
Portaria que regulamenta fabricação e comercialização de blocos de concreto para alvenaria é uma das ações do Instituto voltadas ao setor
Por: Altair Santos
Atualmente mais de 350 mil produtos fabricados no Brasil ou importados contam com o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). Eles estão distribuídos em 197 famílias, das quais 160 são submetidas a avaliações compulsórias e 37 a inspeções voluntárias. Em um destes grupos encontra-se a cesta básica da construção civil. Atualmente, barras e fios de aço, plugues e tomadas, cabos e fios elétricos, além de disjuntores e produtos do segmento sanitário, como torneiras, misturadores, registros e sifões, já são obrigados a estar em conformidade com o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, que baliza as ações do Inmetro. A partir do ano que vem, será a vez dos artefatos de concreto.

A exemplo do que já ocorre com telhas cerâmicas, os blocos de concreto para alvenaria e as telhas de concreto também passarão a ter inspeções compulsórias. O primeiro passo nesta direção foi a publicação da portaria que regulamenta a fabricação e a comercialização destes produtos, publicada em abril de 2013. A partir daí, os fabricantes terão até outubro de 2014 para se adequar. "Demos esse prazo para que as indústrias e o comércio do setor se adaptem, tanto para comprar equipamentos e aprimorar a linha de produção quanto para esgotar o estoque de produtos fabricados antes da implementação do programa", explica Alfredo Lobo, diretor de avaliação de conformidade do Inmetro, que durante o Concrete Show 2013 explicou como se darão as mudanças.
Segundo Alfredo Lobo, futuramente outros produtos vinculados à construção civil também serão submetidos a programas de certificação do Inmetro. "Argamassas colantes, cal hidratada, piso de madeira maciça, tintas e porcelanatos, além de dispositivos hidráulicos prediais e metais sanitários também passarão a ter inspeções compulsórias. Isso já foi aprovado pelo conselho curador do FGTS, para que haja um controle mais rigoroso na produção destes materiais", diz. Ainda de acordo com o diretor, quando um produto passa a receber certificação, o Inmetro tem condições de promover fiscalização técnica, recolhendo exemplares no varejo para que suas especificações sejam testadas em laboratórios. "Outra vantagem é que nossas certificações são reconhecidas internacionalmente, o que facilita o exportador brasileiro", completa.
No caso dos blocos de concreto para alvenaria e das telhas de concreto, para que eles obtenham a certificação do Inmetro terão de cumprir requisitos técnicos mínimos relacionados à dimensão, composição, absorção de água e resistência. "Nossos programas priorizam sempre a concorrência justa", afirma Alfredo Lobo. Uma das razões de o instituto dar mais atenção à cesta básica da construção civil se deve a dois motivos: a entrada em vigor da norma de desempenho (ABNT NBR 15575) e o volume crescente de denúncias relacionadas a habitações do Minha Casa, Minha Vida construídas com produtos sem conformidade. "Apesar de não poder intervir quando o produto já está de posse do usuário, o Inmetro tem a missão de acompanhar a conformidade dos produtos da fábrica ao ponto de venda", revela Alfredo Lobo.
Entrevistado
Alfredo Carlos Orphão Lobo, engenheiro mecânico e diretor de avaliação de conformidade do Inmetro
Contato: dconf@inmetro.gov.br
Crédito foto: Divulgação/Inmetro