Após crise, construção civil nunca mais será a mesma
Quadrinômio formado por eficiência, produtividade, segurança e lucratividade tende a estar cada vez mais presente nos canteiros de obras
Por: Altair Santos
A crise pode fazer a construção civil fechar 2015 com quase 500 mil demissões, mas também tem servido de alavanca para o setor acelerar processos que melhoram a produtividade e tornam os canteiros de obras mais enxutos. Especialistas que debateram o tema no M&T Expo 2015 concluíram que, ao final desta transformação, surgirá uma mão de obra muito mais qualificada, além de empresas capacitadas tecnologicamente e com um leque maior de sistemas construtivos para empreender. Enfim, uma construção nacional mais moderna e competitiva.

O engenheiro mecânico Márcio Cardoso, que palestrou no M&T Expo 2015 - evento voltado a equipamentos para canteiros de obras e sistemas construtivos -, lembra que há um quadrinômio que já é perseguido pelas empresas do setor. “Eficiência, produtividade, segurança e lucratividade é o que vai nortear as construtoras brasileiras a partir de agora, assim como foi nos Estados Unidos após a crise de 2008. Lá, hoje, há 800 mil equipamentos trabalhando nos canteiros de obras. Aqui, são 35 mil, mas com forte potencial e viés de alta. É um caminho sem volta”, avalia.
O especialista lembra que esse processo de transformação começou com o programa Minha Casa Minha Vida. “Foi com o Minha Casa Minha Vida que se introduziram as gruas nos canteiros de obras. Também foi com o impulso do programa que os fabricantes passaram a paletizar seus produtos para entregá-los nas áreas em construção. Isso é um sinal evidente de investimento em produtividade”, afirma. De acordo com Márcio Cardoso, a tecnologia cada vez mais agregada à construção civil levará a execuções mais rápidas e eficientes e à redução do número de horas/homem.

Em vez de pás, joysticks
Na avaliação do palestrante, sairão os operários e entrarão os operadores de máquinas nos canteiros de obras. Para isso, Márcio Cardoso destaca que as construtoras precisarão investir fortemente em treinamento. Até porque, a sofisticação das máquinas é cada vez mais acentuada. “A versatilidade dos equipamentos permite que eles operem tanto em áreas externas quanto internas. Também podem carregar mais cargas, em alturas mais elevadas e em terrenos mais acidentados. Quanto ao sistema de operação, os fabricantes optam por algo parecido com os games, usando joysticks, por exemplo. Isso requer treinamento”, diz.
Diante do cenário de crise, o M&T Expo 2015 mostrou que a lógica das empresas será seguir o lema “mais com menos”. Não apenas nos canteiros de obras de construções habitacionais, mas também nas áreas que envolverem grandes construções, haja vista que o país colocou um pacote de concessões em curso para melhorar sua infraestrutura. “É inexorável que o Brasil deverá viabilizar grandes obras e isso demandará investimentos também em equipamentos e na modernização na forma de construir. A construção civil nacional sabe que precisa executar mais rápido e com mais eficiência”, destaca o vice-presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), Mário Humberto Marques.
Entrevistados
Engenheiro mecânico Márcio Cardoso, vice-presidente de vendas e aftermarket da JLG para a América do Sul
Engenheiro mecânico Mário Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração)
Contatos
treinamento@jlg.com
sobratema@sobratema.org.br
Créditos Fotos: Divulgação/M&T Expo 2015
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
O que é mais barato: construir ou comprar pronto?
Ainda que os índices para construção própria sejam mais em conta, o gerenciamento da obra é decisivo para não estourar o orçamento
Por: Altair Santos
Em maio de 2015, o valor médio do Índice Nacional da Construção Civil (INCC), medido pelo IBGE e pela Caixa Econômica Federal, foi cotado em R$ 1.001,31. Trata-se do indicador que mede a variação dos preços de materiais, mão de obra e matéria-prima da construção civil. Por isso, serve de balizador para quem constrói e faz crer que, em comparação com outros índices - como os que medem o m² construído -, seja mais barato viabilizar um empreendimento por conta própria do que comprar o imóvel pronto.

Mas não é tácito afirmar que construir é mais barato que comprar pronto. Ainda que o metro quadrado construído seja, em média, de cinco a seis vezes mais caro que o INCC, é preciso colocar nesta conta o custo do gerenciamento da obra e também do terreno em que ela será erguida. Se quem for construir por conta própria tiver um bom engenheiro civil, mão de obra qualificada e souber comprar os materiais adequadamente, a obra, de fato, pode custar mais barato. Caso contrário, o estouro do orçamento pode ser inevitável.
Segundo o engenheiro civil Euclésio Manoel Finatti, assessor de relações com o setor empresarial do CREA-PR, para quem vai construir por conta própria o gerenciamento é decisivo. “Quando o gerenciamento é feito com o objetivo de otimizar a execução, promover compras programadas, buscar custos, prazos e qualidade, ele atinge seu objetivo: reduzir o custo da obra. Um bom gerenciamento se paga. Por outro lado, caso o gerenciamento seja desastroso, a obra pode ficar mais cara que comprar pronto”, avalia.
A recomendação para quem se propõe a viabilizar uma obra, seja residencial, comercial ou industrial, é que contrate especialistas competentes. “Um bom arquiteto e um bom engenheiro civil basta para que uma obra seja feita corretamente e adequada ao seu custo. O dono da obra não deve contratar mão de obra. Isto é atribuição de quem conhece de execução de obra, que é o engenheiro. Este é um dos papéis deste profissional: saber selecionar a mão de obra adequada para cada parte, cada fase da obra”, complementa Finatti.

Retrabalho fulmina custo da obra
Sobre o que pesa mais no custo da obra, se materiais, mão de obra ou terreno, o especialista do CREA-PR revela que o impacto do terreno chega, no máximo, a 20%. Significa que a influência de mão de obra e materiais é maior no preço final. “Um profissional sem a qualificação devida causará prejuízo, pois o trabalho terá que ser refeito. Por outro lado, materiais de construção de qualidade duvidosa também geram retrabalho. Neste caso, o custo é dobrado, pois paga-se para retirar e refazer o serviço”, afirma.
Por fim, Euclésio Finatti explica que o preço da obra pronta é maior por, normalmente, existir a figura do investidor neste tipo de empreendimento. “O investidor colocou seu capital antes, e quer remunerá-lo - ao menos no valor da inflação do período. Nesta conta, ele ainda acrescenta seu ganho como investidor, e também o custo da obra. Tudo isso somado deixa a construção pronta mais cara”, reitera.

Entrevistado
Engenheiro civil Euclésio Manoel Finatti, assessor de relações com o setor empresarial do CREA-PR
Contato: euclesio@braengel.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/CREA-PR/Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Ponte de Laguna é marco da engenharia nacional
Obra de infraestrutura construída no trecho catarinense da BR-101 começa a funcionar em julho, tornando-se referência a futuros projetos
Por: Altair Santos
Relevante obra para o tráfego de transporte rodoviário no Sul do país, a Ponte de Laguna entra em operação até a segunda quinzena de julho de 2015. A construção começou em 2012 e, junto com o trecho leste do Rodoanel de São Paulo, é a única no Brasil a usar a tecnologia de cimbramento móvel. O sistema permite construir grandes vãos com estruturas mais leves e de forma mais rápida. Através dele, a concretagem in loco das aduelas ocorre dentro do equipamento, evitando contato com o solo. É ideal para obras erguidas em áreas alagadas ou sobre braços de mar, como é o ambiente em que se localiza a Ponte de Laguna.

No caso da superestrutura construída no trecho catarinense da BR-101, no município de Laguna-SC, a tecnologia de cimbramento móvel foi usada pela primeira vez no Brasil para viabilizar uma ponte em curva. Por isso, a construção é considerada um marco da engenharia nacional, como explicou o engenheiro civil Bruno Galvani Oliveira. Ele citou a obra como case no VIII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, realizado pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e pela ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas) entre 21 e 22 de maio.
Bruno Galvani Oliveira disse que a Ponte de Laguna estabeleceu um recorde de concretagem no país, através do sistema de cimbramento móvel. “Conseguimos concretar 50 metros de ponte em três dias e meio”, revelou. O engenheiro explicou também que o equipamento permitiu usar menos aço no concreto protendido. “Com isso, construímos tabuleiros com menor número de juntas, reduzindo o risco de corrosões. Consequentemente, a durabilidade da obra será muito maior”, explicou.
Fluxo de até 30 mil veículos por dia
O engenheiro citou que a Ponte de Laguna tem 52 vãos. O central (estaiado) mede 500 metros, com dois adjacentes de 100 metros cada um. Além disso, conta com outros 49 vãos de 50 metros. Segundo dados do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), a extensão da ponte é de 2.830 metros. Ela foi construída com 588 aduelas, das quais 94 estão no trecho estaiado. Cada aduela pesa em torno de 60 toneladas.
O vão principal é sustentado por 60 estais (cabos), sendo 52 longitudinais e 8 transversais (nos mastros). A altura dos mastros centrais chega a 66 metros. Ao todo, a obra consumiu 86.772 m³ de concreto dosado em central. O volume seria capaz de encher 3.471 piscinas olímpicas, com capacidade para 25 mil litros. A Ponte de Laguna também usou 12.520 toneladas de aço. As pistas medem 25,3 metros cada e a expectativa de fluxo de veículos é de 27 mil a 30 mil por dia. O consórcio da obra foi liderado pela Camargo Corrêa e o custo final chegou a R$ 695 milhões, envolvendo 1.700 trabalhadores em seu canteiro de obras.
Entrevistados
- Engenheiro civil Bruno Galvani Oliveira, business development manager da BERD (Bridge Engineering Research & Design), com sede em Portugal
- Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) (via assessoria de imprensa)
Contatos
info@berd.eu
imprensa@dnit.gov.br
Créditos Fotos: Jurandir Figueiredo, Divulgação/Dnit, Guarnição Especial PM Laguna e Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Versão 4 da certificação LEED prioriza fabricantes
No país, documento será lançado na 6ª edição da Greenbuilding Brasil, em agosto. Desafio é equilibrar rigor técnico com expectativa do mercado
Por: Altair Santos
Agendada para acontecer de 11 a 13 de agosto de 2015, em São Paulo, a 6ª conferência anual do Greenbuilding Brasil marcará o lançamento da versão 4.0 da certificação LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental) no país. O novo modelo é uma evolução do que está em vigor desde 2009. Seu lançamento internacional se deu no final de 2013 e nos Estados Unidos já existem construções dentro dos parâmetros da 4.0.

A versão ganhou atualizações técnicas e aumentou as exigências para que os empreendimentos ganhem o selo de obra sustentável. Agora, a certificação preocupa-se detalhadamente com os materiais. Passou a exigir, por exemplo, análises do ciclo de vida (ACV), divulgação da composição dos produtos utilizados na edificação e identificação de compostos químicos tóxicos nos produtos aplicados na obra.
Na 6ª conferência, um dos seminários previstos é: LEED versão 4, nossos fabricantes estão preparados? O objetivo é que especialistas do Green Building que atuam no Brasil comecem a balizar os fabricantes para que os produtos passem a carregar o LEED versão 4 em suas embalagens. A implantação da versão 4.0 será gradual, pois o principal receio dos profissionais é que o mercado da construção civil não esteja preparado para acompanhar as novas propostas, principalmente no que tange a tecnologias e produtos necessários para o atendimento dos novos créditos do LEED.
Além disso, a certificação nova é mais abrangente. Não atende apenas edifícios habitacionais e comerciais, mas também data centers, centros de distribuição e edifícios escolares. Ele é também mais exigente para que o edifício construído preserve o selo LEED quando estiver em funcionamento.
Evolução desde 1998
Conceitos como concepção integrada de projeto, compensação de carbono e medição setorizada do consumo de água, além do ciclo de vida de materiais e do empreendimento, passaram a ser levados em conta. Por isso, a GBC Brasil avalia que a versão 4.0 do LEED, além de necessária para que a certificação continue evoluindo no país, traz avanços nos conceitos de desempenho ambiental e nos critérios técnicos.
Para tal, a atualização considerou todas as evoluções tecnológicas e construtivas desde 1998, quando surgiu a certificação LEED. Foram lições aprendidas em milhares de projetos certificados ao redor do mundo, o que serviu para o sistema amadurecer e impulsionar o setor da construção civil na direção da sustentabilidade.
Atualmente, há 18 mil edifícios certificados em todo o mundo e 36 mil em processo de obter o selo verde. No Brasil, apesar do movimento pela construção sustentável ser recente, iniciado em meados de 2006, já são 783 empreendimentos registrados e 115 com LEED.
Resumo das principais mudanças na certificação LEED 4.0
• Exige análise das condições iniciais do terreno, antes do desenvolvimento do projeto
• Requer entorno com boa mobilidade urbana e prioridade ao transporte público
• Obrigatoriedade na redução do consumo de água para paisagismo, ao menos em 30%
• Dispositivos hidrossanitários das edificações devem reduzir consumo de água em pelo menos 20%
• Obrigatoriedade de se desenvolver um plano de gestão de resíduos durante a construção
• Pede análise de ciclo de vida (ACV) dos materiais empregados na obra
• Exige coleta, armazenamento e disposição correta de resíduos perigosos
Entrevistado
Green Building Council Brasil (via assessoria de imprensa)
Contato: marketing@gbcbrasil.org.br
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Pós-venda cria ciclo virtuoso para novas vendas
Desde a Norma de Desempenho, sucesso do empreendimento só é concretizado se satisfizer consumidor e gerar novas perspectivas mercadológicas
Por: Altair Santos
Construtoras e incorporadoras nunca estiveram tão atentas ao pós-venda. A atenção cresceu, principalmente, após a criação da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575), que em junho de 2015 completou dois anos em vigor. Além disso, passou a pesar também o aspecto mercadológico. O pós-venda hoje é visto como uma alavanca para futuros negócios, além de preservar as empresas de problemas com o Código do Consumidor. Outro elemento que fortalece o círculo virtuoso do pós-venda são as redes sociais. Construtoras e incorporadoras têm utilizado esses canais para prestar assessoria técnica, principalmente quando o comprador do imóvel tem dúvidas com relação a reformas.

A força do pós-venda para atrair novas vendas é analisada pelo engenheiro civil Leonardo Pissetti, diretor de empreendimentos da Swell Construções e Incorporações, que recentemente criou um departamento de engenharia de qualidade para as demandas dos clientes que já residem em seus empreendimentos. Segundo ele, a construção civil persegue os padrões de dinâmica de venda e de execução de garantias semelhante aos existentes na indústria automobilística. Confira a entrevista:
É possível, através do pós-venda, criar um ciclo virtuoso para novas vendas de imóveis?
Sim. É aí que se faz a manutenção do cliente e da satisfação dele após a entrega do produto. Nas etapas anteriores, ele estava na intenção de compra ou tinha comprado a ideia. No pós-venda, já morando e vivenciando o uso do imóvel é que surgem as demandas. Neste caso, a assistência da construtora em todo este processo é muito importante.
O pós-venda auxilia também para que a construtora aprimore seus padrões de qualidade?
Sem dúvida, vale como um programa de qualidade para a empresa. Permite avaliar materiais, equipamentos usados na obra e corrigir vícios construtivos. Afinal, há muitas descobertas que só surgem depois que o proprietário passa a morar no imóvel.
Sob o ponto de vista mercadológico, o pós-venda é também uma alavanca para futuras vendas, principalmente para preservar a marca da empresa de problemas com o código do consumidor e para que ela ganhe impulso nas redes sociais?
Antes de adquirir um imóvel o comprador pesquisa. Isso se dá através dos canais disponíveis na internet. Qualquer reclamação que haja contra o empreendimento ou a construtora poderá deixá-lo inseguro. Assim, não tem como a construtora se esconder atrás de um problema.
Mas todo comprador de imóvel tem esse perfil hoje?
O mercado atual tem dois perfis de consumidores. Um é aquele que busca o desconto, o melhor negócio, e que pensa: por esse preço que eu estou comprando vale a pena correr o risco. Esse não quer pós-venda. E tem o que prioriza o relacionamento com a construtora. Afinal, quando vendemos um imóvel estamos também vendendo um relacionamento de cinco anos com o comprador (o Código do Consumidor prevê que a construtora deve prestar atendimento ao imóvel ao longo deste período, caso surjam problemas decorrentes da execução da obra). Achamos que isso tem peso, pois é através desta assistência, do atendimento e da imagem que se forma, que se consegue influenciar a rede de relacionamento do cliente, com ele recomendando os empreendimentos da construtora para os amigos.

O pós-venda inclui prestação de assessoria técnica quando o comprador do imóvel tem, por exemplo, dúvidas com relação às reformas?
Ao receber o imóvel, o proprietário recebe um manual que orienta como proceder. Desde solicitar a ligação de luz na companhia elétrica até os cuidados que deve ter para não furar uma tubulação. Também mostra se pode fazer a retirada de uma parede para ampliar um cômodo, quais os procedimentos técnicos e burocráticos. Hoje é preciso ter um responsável técnico pela obra, contar com a aprovação do síndico, entre outras exigências. Todos esses passos devem vir detalhados no manual do proprietário e também estar disponível nos canais de acesso direto ao cliente da construtora, como sites e e-mails.
Qual o peso das normas ABNT NBR 15575 (Desempenho das Edificações), ABNT NBR 5674 (Manutenção das Edificações) e ABNT NBR 14037 (Diretrizes para Elaboração de Manuais de Uso, Operação e Manutenção das Edificações) nesta mudança de relação entre construtoras e consumidores?
São poucos os imóveis ainda entregues sob esse conjunto de normas, já que elas passaram a valer a partir de alvarás emitidos desde julho de 2014. Mas elas também passaram a atribuir responsabilidades ao comprador, quando exigem que ele siga um plano de manutenção. Se o proprietário não cumprir com o que dizem as normas ele vai reduzir a vida útil do imóvel. É como a garantia de um carro. O comprador perde se não realizar as revisões programadas ou fizer alterações significativas no veículo.
Como as empresas se estruturam para fazer o atendimento pós-venda, tanto na parte técnica quanto no marketing e no relacionamento direto?
Na Swell Construções e Incorporações, por exemplo, montamos um setor de engenharia de qualidade, que faz o atendimento desde o pré-venda, passando por geração de contratos e documentos de emissão, até o pós-venda. Isso engloba atendimento técnico em caso de reformas no empreendimento.
É possível que no futuro, o mercado imobiliário chegue ao nível da indústria automobilística, que hoje faz recall e tem garantia estendida?
O sonho das construtoras é que o mercado imobiliário chegue aos padrões do mercado automobilístico. Desde a execução dos produtos até a dinâmica de vendas, análise de crédito, geração de contratos e execução de garantias.
Entrevistado
Engenheiro civil Leonardo Pissetti, diretor de empreendimentos da Swell Construções e Incorporações.
Contato: leonardo@swellconstrucoes.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Swell Construções
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
A 400 dias das Olimpíadas, obras não subiram no pódio
Construções avançam, mas em ritmo lento. Incógnita, agora, é saber qual o impacto que a Lava Jato causará nos empreendimentos para os jogos
Por: Altair Santos
Em 1º de julho, dentro da contagem regressiva para as Olimpíadas de 2016, a cidade do Rio de Janeiro-RJ completou a marca de 400 dias para o início dos jogos. As obras no complexo olímpico avançam, mas ainda em ritmo lento. Se fossem atletas, daria para dizer que o desempenho não é suficiente para levá-las ao pódio. Porém, a Prefeitura do Rio e a Empresa Olímpica Rio 2016, que administram a construção dos empreendimentos, asseguram que o cronograma está adequado. Mas uma incógnita paira no ar: qual o impacto que a Operação Lava Jato causará no canteiro de obras dos jogos, já que boa parte das construtoras contratadas está envolvida no escândalo?

Recentemente, em visita ao local dos jogos, a presidente Dilma Rousseff refutou o risco de paralisação das obras. “Eu não vejo qual o impacto que a Lava Jato terá nas obras olímpicas. Eu não tenho nenhuma avaliação que mostra que exista algum impacto”, disse. No entanto, as empresas investigadas na operação detêm 73% do investimento em obras para o evento. Dos R$ 37,6 bilhões previstos no orçamento oficial das Olimpíadas de 2016, R$ 27,4 bilhões estão concentrados em obras tocadas por Odebrecht, OAS, Mendes Junior, Queiroz Galvão e uma subsidiária da Camargo Correa, a CCR. O receio é que o Ministério Público Federal possa pedir a paralisação das obras para revisar contratos.
Estão a cargo das empreiteiras denunciadas na Lava Jato as seguintes obras:
Camargo Correa, através da CCR
- VLT do Porto (R$ 1,188 bilhão) e Transolímpica (R$ 1,806 bilhão).
Mendes Júnior
- Desvio do Rio Joana, para a contenção de enchentes na área do Maracanã (R$ 185,94 milhões).
OAS
- Parque de Deodoro (R$ 647,1 milhões), revitalização da região portuária (R$ 8,2 bilhões), construção de reservatórios contra enchentes (R$ 421 milhões) e limpeza das lagoas da Barra (R$ 673 milhões).
Odebrecht
- Parque Olímpico (R$ 1,678 bilhão), Vila dos Atletas (R$ 2,909 bilhão), construção do VLT do Porto (R$1,188 bilhão), Transolímpica (R$ 1,806 bilhão), duplicação do Elevado do Joá (R$ 459,88), saneamento da zona oeste do Rio (R$ 431 milhões), revitalização do porto (R$ 8,2 bilhões) e Linha 4 do metrô (R$ 8,890 bilhões).
Queiroz Galvão
- Parque de Deodoro (R$ 647,1 milhões), Linha 4 do Metrô (R$ 8,890 bilhões) e limpeza das Lagoas da Barra (R$ 673 milhões).

Segundo o balanço de maio, apresentado pela Empresa Olímpica Rio 2016, 100% dos projetos de execução contratados para o Parque Olímpico da Barra da Tijuca já estão com os serviços iniciados. Neste complexo, que irá concentrar a maior parte das atividades esportivas, além da Vila dos Atletas, nenhuma obra está com atrasos significativos. A construção do velódromo e do Centro Olímpico de tênis são as mais lentas e demonstram que não ficarão prontas até o final do quarto trimestre de 2015, como prevê o cronograma. No entanto, tendem a ser entregues no começo de 2016. Já as mais adiantadas são a Arena do Futuro e a Arena Carioca – conjunto de três ginásios que irá concentrar desde jogos de basquete até duelos de esgrima.
Um milhão de m³ de concreto
O ponto crítico das obras para os jogos olímpicos está no complexo esportivo de Deodoro. O local abrigará 11 modalidades e nenhuma obra ficará pronta antes do primeiro trimestre de 2016. Outro empreendimento que só estará 100% concluído no ano que vem será a Vila dos Atletas. São 31 prédios residenciais divididos em sete condomínios, com 3.604 apartamentos de dois, três e quatro dormitórios. Há atrasos também na readequação do Riocentro para os jogos e nas melhorias do Estádio Olímpico, que será o mesmo usado no Pan de 2007.

Também há um impasse quanto ao Maracanã. O COI (Comitê Olímpico Internacional) pede adequações e a prefeitura do Rio de Janeiro afirma que não fará mais obras no local. O certo é que a pira olímpica irá acender no estádio no dia 5 de agosto de 2016. Até lá, somando todas as obras – incluindo as de infraestrutura e as de mobilidade urbana -, prefeitura e governo do Rio de Janeiro estimam que o volume de concreto a ser produzido para viabilizar os jogos deverá passar de 1 milhão de m³.
Para dar conta de tanto concreto, há centrais montadas nos locais das obras que trabalham ininterruptamente para processar, cada uma, 65 m³/h. Além dos complexos esportivos, elas fornecem material para as obras de mobilidade espalhadas pela cidade. A saber: linha 4 do metrô (120 mil m³), quatro linhas de BRT (Bus Rapid Transit) (70 mil m³), 28 quilômetros de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) (23 mil m³) e recuperação e construção de 60 obras de arte (viadutos e pontes), além da abertura de três túneis.
Entrevistados
Empresa Olímpica Rio 2016, Secretaria de Obras do Governo do Rio de Janeiro (SEOBRAS) e Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (via assessoria de imprensa)
Contatos
imprensa@empresaolimpica.rio.rj.gov.br
imprensa@obras.rj.gov.br
pressroom@rio2016.com
Créditos Fotos: André Motta/Ministério dos Esportes, Fernando Frazão/Agência Brasil e Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Cem anos de Vilanova Artigas, o arquiteto das cidades
Colocado no mesmo patamar de Oscar Niemeyer, ele se inspirava na valorização das estruturas e no concreto aparente para projetar suas obras
Por: Altair Santos
Nascido em Curitiba, em 23 de junho de 1915, o engenheiro-arquiteto João Batista Vilanova Artigas é colocado no mesmo patamar de Oscar Niemeyer. Os dois são considerados os grandes nomes da arquitetura do país. Se Niemeyer criou Brasília, Artigas propôs a transformação de cidades já construídas. É reconhecido por antever a arquitetura e o urbanismo como ferramentas indispensáveis para melhorar a realidade brasileira. Foi com base nesses conceitos que orientou a criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU), da qual foi um de seus fundadores.

Vilanova Artigas não apenas influenciou intelectualmente o surgimento da chamada Escola Paulista de Arquitetura, como projetou, junto com Carlos Cascaldi, o edifício que até hoje é sede da FAU-USP. O prédio tem uma das marcas registradas do arquiteto: a valorização das estruturas, dos pilares esbeltos e do concreto aparente. O material foi amplamente explorado por ele em fachadas, brises, paredes internas, escadas e mobiliário. Essa aproximação com o concreto aparente faz parte da chamada terceira fase de Artigas, também conhecida como arquitetura brutalista.
Foram os conceitos desta fase que o arquiteto empregou ao projetar o estádio do Morumbi. Mas Artigas, que em 2015 tem seu centenário celebrado em várias frentes culturais, gostava também de criar novas viabilidades para as habitações. É dele a frase que até hoje é um marco nas escolas de arquitetura e urbanismo. “As pessoas devem se sentir nas cidades como se sentem em casa, e se sentir em casa como se sentem nas cidades", dizia. Seguindo esse conceito, ele projetou obras como o edifício Louveira e as casas Bettega, em Curitiba, e Czapski, na capital paulista.
Celebração do centenário
Muitas obras projetadas e construídas por João Batista Vilanova Artigas - ele era graduado em engenharia civil - estão em processo de tombamento pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Entraram recentemente na fila o Cine Teatro Ouro Verde e a antiga rodoviária de Londrina, além do Museu de Artes – também na cidade do norte paranaense. Todas as edificações foram inauguradas em 1952, quando o arquiteto começava a entrar na fase em que o concreto aparente passou a ter papel relevante em seus projetos.
A celebração do centenário de Vilanova Artigas abre a oportunidade para que seu trabalho seja conhecido pelo público. Há quatro vertentes com o objetivo de mostrar quem foi o arquiteto. Entre elas, o documentário “Vilanova Artigas: as Cidades como as Casas, as Casas como as Cidades”. Também foi lançado um site oficial, que disponibiliza o acervo profissional e pessoal de Artigas, além de um livro com suas obras mais relevantes. Por fim, a exposição no espaço Itaú Cultural, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, propõe um mergulho no processo criativo do arquiteto. A mostra vai de 24 de junho a 9 de agosto e reúne projetos, desenhos e fotos pessoais do imortal arquiteto.
Navegue no site oficial e conheça mais sobre Vilanova Artigas: www.vilanovaartigas.com
Entrevistado
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)
Contato: centenarioartigas@gmail.com
Créditos Fotos: Divulgação/Vilanova Artigas
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Na carreira, não basta conhecimento. É preciso agir
Jaqueline Salles, especialista em business coach, ensina que tanto o profissional quanto a empresa são bem-sucedidos quando compartilham conhecimento
Por: Altair Santos
Para ter sucesso, além de especializar-se e dominar as técnicas de seu ramo de atividade, o profissional precisa saber entrar em ação. Por mais brilhante que seja, uma das variáveis é ter a percepção de quando colocar em prática as potencialidades. Enfrentar problemas, ter consistência no dia a dia e atuar com decisão perante as demandas são três vértices que acabam definindo os bem-sucedidos. A isso se define como habilidade de entrar em ação, segundo a business coach Jaqueline Salles. Confira a entrevista sobre carreira, desenvolvimento pessoal, resiliência e empreendedorismo.

Para alcançar o sucesso profissional, além de especializar-se e dominar as técnicas de seu ramo de atividade, o indivíduo precisa saber entrar em ação. Como transformar conhecimento em ação?
Existe o mito de que ação, tanto na vida pessoal quanto profissional, é sinônimo de sacrifício, de pesar e de dureza. Na verdade, estamos agindo o tempo todo. Até dormir é uma ação. Hoje vivemos na era da informação. Um indivíduo desse século recebe mais informações diariamente do que um indivíduo no século XVIII em todo aquele século. Somos bombardeados pelo conhecimento, mas nem todo conhecimento é válido para ser transformado em ação. Recebemos mais do que expomos, e isso gera estresse e irritabilidade. Para transformar conhecimento em ação é preciso prática. A teoria sem prática não serve para nada. Às vezes, instruir um colega de trabalho ou compartilhar uma descoberta nas redes sociais é transformar conhecimento em ação. Vivemos na era do compartilhamento. Somos o que compartilhamos. Compartilhar é colocar o conhecimento em ação.
Por mais brilhante que seja o profissional, se não souber colocar em prática suas potencialidades ele está fadado ao fracasso?
Sucesso e fracasso são palavras relativas. Existem pessoas que pensam ter alcançado o sucesso e são pegas de surpresa por uma demissão, por exemplo. Não observaram seus pontos cegos. Existem pessoas que fazem de seus fracassos belas histórias de superação e vendem muitos livros alcançando o sucesso. Nessa era do conhecimento não existe zona de conforto e estabilidade. Somos confrontados todos os dias e precisamos mostrar conhecimento através de nossas iniciativas e também através de nossa capacidade de terminar o que começamos. Ao mesmo tempo, precisamos estar em conexão com novas áreas. A questão não está só em praticar o que já sabemos, e sim descobrir o que não sabemos. Essa ação nos faz descobrir os pontos cegos e gerar novos insights.
Enfrentar problemas, ter consistência no dia a dia e atuar com decisão perante as demandas são três vértices que acabam definindo os bem-sucedidos?
Os problemas surgem o tempo todo. A questão é como vamos agir diante deles. A grande maioria não tem uma estratégia. Ao reagir, geram ações negativas ou irrelevantes e se envolvem ainda mais no problema, ao invés de resolvê-lo. Quando se tem consciência de onde se quer chegar e se tem estratégia de vida e de carreira, o indivíduo age em relação ao problema e não simplesmente reage. Ação e reação são dois verbos diferentes, assim como são visões que geram resultados de ações diferentes. O primeiro estágio da equação formada por enfrentar problemas, ter consistência no dia a dia e atuar com decisões é: ter uma estratégia de vida e de carreira bem planejada. Saber onde está e onde vai chegar, e estar sempre se perguntando: aonde eu quero que essa ação me leve?
O ambiente que o profissional encontra na empresa é fator decisivo para ele ser pró-ativo?
As empresas em geral estão ainda presas a modelos passados. Penso que isso é fruto também do modelo tradicional de ensino, que modela pessoas a seguirem determinados padrões que foram criados há séculos e já não representam o indivíduo na atualidade. Indico aos profissionais chegarem devagar e mostrarem suas capacidades com equilíbrio e resiliência. Depois que esse profissional gerar autoridade dentro da empresa, mostrando seus resultados mediante modelos de ação que já estão em andamento, aí sim indico uma maior pró-atividade. Os funcionários mais pró-ativos, que não encontram espaço dentro das empresas em que atuam, geralmente encontram no empreendedorismo uma saída criativa para suas inspirações.
No caso de um trainee, é recomendável que ele já chegue transformando seu conhecimento em ação?
O ideal é modelar os princípios da empresa. A ação pode ser também a observação e o estudo de ambiente. Observar e agir mediante ao que nos espera também é uma excelente estratégia. Ouvir mais do que falar, idem. Muitas pessoas desprezam o poder de escutar ativamente, e é na escuta que moram as oportunidades. Principalmente, para quem está começando. Escutar também é agir.
Transformar conhecimento em ação serve também como desenvolvimento pessoal, de que forma?
A vida profissional não se separa da vida profissional nem em limitações nem em resultados. É isso que as empresas precisam começar a perceber: o ser humano funciona como um todo.
Engenheiros são tidos como cartesianos. Quando a senhora atua como coach para essa categoria de profissionais, o que muda no treinamento?
Todos os que buscam coaching querem transformação, independentemente de seus cargos. Transformação é diferente de mudança. Quantos já quiseram mudar de emprego e encontraram um ambiente ainda mais hostil no novo emprego? Isso não tem nada a ver com o cargo que se ocupa, e sim com o ser humano. Engenheiros, assim como médicos, arquitetos e outros profissionais, são seres humanos. O que um coach faz é potencializar os sentimentos, usando-os como combustível para a realização de sonhos pessoais e metas profissionais.
Quando a senhora atende um público ligado à construção civil quais as maiores demandas deste público para atingir o desenvolvimento profissional?
O grande desafio dos profissionais da construção civil está relacionado com a comunicação. Muitos profissionais não conseguem falar a linguagem de todos os envolvidos num projeto: do engenheiro ao pedreiro, passando por quem encomendou a obra. É preciso ter disponibilidade para entrar no mundo do outro, ouvir o que o outro diz e o que ele não diz. Ouvir e decifrar a linguagem dos diversos seres humanos, com diversos níveis de escolaridade, é realmente um grande desafio dentro de um canteiro de obras.
Em relação ao empreendedorismo, o que muda quando o assunto é transformar conhecimento em ação?
Quando trabalhamos em uma empresa somos geridos por alguém. A empresa escolhe onde iremos trabalhar, qual horário, com quem, etc. A liberdade do empreendedor o obriga a se autogerir. Mandar em si, e ser obediente consigo, demanda muito poder pessoal e resiliência. Muitas vezes o empreendedor não consegue colocar em ação o próprio conhecimento porque procrastina e se envolve na sua autogestão de forma incompleta. Ele não obedece a si mesmo. E para compensar isso, se enche de cursos e mais cursos, sem colocar nada em prática. Não são todos que estão preparados para empreender. É preciso ter um senso de autoconhecimento antes de investir no sonho de ser seu próprio patrão. Todos os empreendedores de sucesso dizem que o autoconhecimento foi o grande diferencial na vida deles.
Entrevistada
Jaqueline Salles, business coach, especialista em mudança de hábito, escritora e palestrante
Contatos:
contato@jaquelinesalles.com.br
www.jaquelinesalles.com.br
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Pré-fabricado exige rigor no controle de qualidade
Todos os processos que envolvem a construção industrializada do concreto devem passar por intensa supervisão, alerta o especialista Carlos Franco
Por: Altair Santos
O engenheiro civil e de estruturas, Carlos Franco, defende que todos os processos que envolvem a pré-fabricação, desde a comercialização até a contratação, passando por projetos, produção e montagem, só conseguem ser bem-sucedidos se houver controle rígido da qualidade. Para isso, o especialista destaca que seguir a normalização é imprescindível. Se respeitados os parâmetros de qualidade, as vantagens de uso das estruturas pré-fabricadas e suas aplicações se tornam altamente competitivas e garantem obras muito mais sustentáveis do que os sistemas convencionais. Essa é a tese que ele propagou no curso “Pré-fabricados de Concreto: uma Abordagem Completa da Fábrica aos Canteiros de Obra”, ministrado dentro do M&T Expo Congresso, que aconteceu de 10 a 12 de junho na cidade de São Paulo. Confira a entrevista, que resume sua palestra:

Das etapas que envolvem a pré-fabricação do concreto o que deve ser priorizado na hora da comercialização e da contratação?
Ainda que sempre seja possível adaptar um projeto para a pré-fabricação, o ideal é que ele seja pensado na fase de concepção. Daí, a importância do conhecimento, por parte dos arquitetos, das características do sistema construtivo. Um dos objetivos da ABCIC – Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (www.abcic.org.br) - é exatamente a divulgação do sistema junto a esta categoria profissional. A participação de um pré-fabricador ou consultor da área durante o desenvolvimento do projeto pode ser extremamente positiva no sentido de trazer esta expertise ao projeto, agregando assim maior valor à obra. A tomada de decisão baseada em custo/benefício, e não só em termos de custos, é também muito importante.
Projetos que contemplem a construção industrializada de concreto devem priorizar quais requisitos?
Devem priorizar a racionalização da obra. Via de regra, o construtor que adota o sistema pré-fabricado acaba por adotar a industrialização em toda a obra, não apenas na estrutura, na cobertura e nas vedações. Existe uma enorme sinergia entre o pré-fabricado e os demais sistemas industrializados. A própria precisão geométrica do sistema é um enorme facilitador a estes objetivos.
Nas etapas de produção e montagem, a qualidade do concreto e a especialização da mão de obra são imprescindíveis?
Sim, com certeza. Por se tratar de um produto industrializado, o objetivo é empregar um volume muito pequeno de mão de obra, porém extremamente eficiente e eficaz, o que significa uma mão de obra preparada e especializada. É uma visão alinhada com qualquer indústria.
Nestas etapas de produção e montagem, é onde mais se deve ter cuidado com o controle de qualidade?
O controle de qualidade tem de ser sistêmico: da concepção à montagem, passando, entre outras etapas, pela produção e pela análise das matérias-primas recebidas. Dentro desta visão, a ABCIC instituiu um selo de qualidade em que as empresas são auditadas por um organismo independente, no caso o IFBQ (Instituto Falcão Bauer de Qualidade), para verificar se as plantas de produção estão atendendo aos parâmetros de qualidade estabelecidos pelos critérios da Associação. Um dos objetivos deste selo é exatamente garantir a qualidade do pré-fabricado ofertado ao mercado. Hoje, todas as empresas filiadas, ou ao se filiarem, devem aderir a este selo de qualidade.

Hoje, quais as normas técnicas mais relevantes para a construção industrializada de concreto?
O pré-fabricado deve aderir a toda a gama de normas ligadas à cadeia de projetos e produção de concreto, como a NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto — Procedimento, e a NBR 12655 - Concreto de cimento Portland - Preparo, controle, recebimento e aceitação – Procedimento. NBR 9062 - Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, NBR 14861 - Lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido — Requisitos e procedimentos e NBR 16258 - Estacas pré-fabricadas de concreto — Requisitos. Além destas, existem as normas específicas ao pré-fabricado, como:
NBR 9062 - Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, NBR 14861 - Lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido — Requisitos e procedimentos e NBR 16258 - Estacas pré-fabricadas de concreto — Requisitos. Tem ainda norma de painéis de paredes pré-moldadas, que foi colocada em consulta pública pela comissão de estudos, sob o número CE_18_600_19.
Hoje, quais as principais vantagens de uso da construção industrializada de concreto?
Inúmeras. Entre elas, podemos citar:
- Construções com menores prazos para entrega, unindo maior velocidade à redução dos custos fixos, proporcionando a garantia de retorno financeiro rápido
- Busca de maior qualidade, produtividade e redução de desperdícios
- Impulsiona para um modelo de desenvolvimento para a indústria da construção civil (sustentabilidade, qualificação de mão de obra e mudanças culturais)
- Resistência ao fogo inerente ao próprio sistema, o que não temos na estrutura metálica
- Flexibilidade e resiliência
As aplicações da construção industrializada de concreto hoje são diversas. No entanto, no segmento de construção habitacional ela ainda é tímida. Por quê?
Existe, primeiramente, certo desconhecimento do mercado em relação aos sistemas já homologados, inclusive junto aos organismos públicos. Existe também uma resistência, sobretudo dos construtores, em adotar sistemáticas novas, principalmente dentro de produtos com margens tão pequenas, como a da construção da habitação. Principalmente, aqueles dentro do programa Minha Casa Minha Vida. Há também um enorme entrave tributário. O sistema pré-fabricado industrializado está sujeito ao recolhimento de ICMS, o que não ocorre em sistemas totalmente executados no canteiro (inclusive o pré-moldado de canteiro) tirando assim muito da competitividade do sistema. É importante frisar que esta distorção não existe em outros países e é uma herança do Antigo BNH (Banco Nacional da Habitação), que lá nos anos 1970 via o mercado da construção como sorvedouro da então abundante mão de obra não especializada. Hoje o banco não existe mais, mas esta política ainda permaneceu nas entranhas de nossa política de construção e em particular no setor habitacional.
Comparativamente a uma construção convencional, quais as vantagens da construção industrializada de concreto sob o ponto de vista de sustentabilidade?
O pré-fabricado oferece enormes oportunidades para a sustentabilidade. Podemos citar:
- Poupar as jazidas e os recursos naturais
- Emprego de concretos com menor emprego de cimento e, portanto, menor pegada de carbono
- Eliminar a produção de resíduos
- Menor custo de manutenção e maior durabilidade
- Maior eficiência térmica
- Maior refletância luminosa
- Facilita a reciclagem de edifícios (retrofit)
- Racionaliza a construção
- Produz edifícios sustentáveis
- Preservar patrimônio
- Pode assegurar até 23 pontos em certificações de edifícios sustentáveis, como o LEED (Leadership in Energy&Environmetal Design)
Entrevistado
Engenheiro civil e engenheiro de estruturas Carlos Franco, sócio-proprietário da CAL-FAC Consultoria & Engenharia Ltda
Contato: carlos@calfac.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/MTExpo
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Prédios tortos de Santos: como eles estão hoje?
Erro conceitual sobre construção de fundações em terreno mole fez com que 65 prédios saíssem do prumo no litoral paulista. Todos foram recuperados
Por: Altair Santos
Edifícios construídos entre os anos 1950 e 1960 passaram a afundar na orla de Santos a partir dos anos 1970. Ao todo, 65 prédios ficaram com suas estruturas comprometidas, por causa de fundações rasas. Elas foram fincadas a menos de dez metros, para sustentar os empreendimentos em um terreno instável, onde os fragmentos mais sólidos de rocha estão a mais de 50 metros de profundidade. Resultado: com o passar do tempo, foram geradas inclinações de 50 cm a 1,80 m entre a base e o topo. Somente em 2004, com a participação do poder público, e com estudos técnicos de universidades como USP e Unisanta, pensou-se em soluções para os prédios, que continuaram habitados.

Os estudos levaram 8 anos, e em 2012 se deu um longo trabalho de recuperação que terminou em 2014. Os prédios, enfim, foram salvos. O engenheiro civil Carlos Maffei, professor-titular da USP, que atuou na recuperação de alguns edifícios - entre eles, os blocos A e B do Núncio Malzoni -, avaliou o problema como “um erro conceitual de fundação”. A cidade de Santos tem solo considerado de má qualidade para a construção de edifícios e, nesse aspecto, só perde para a Cidade do México, capital do México. Isso exige que os prédios tenham fundações profundas, ainda que o custo seja mais elevado. “Imagino que na época os construtores e incorporadores se convenceram que poderiam fazer fundações rasas. Eles sabiam que iam recalcar, mas imaginavam que ia recalcar uniformemente, o que não ocorreu”, diz Maffei.
Macacos hidráulicos
A solução para realinhar os edifícios foi usar macacos hidráulicos. No caso do conjunto Núncio Malzoni, cada prédio pesava em torno de 6.500 toneladas. Foram necessários catorze equipamentos hidráulicos para levantar as estruturas. A cada dia, elas subiam cinco milímetros. Os vãos eram preenchidos com chapas de aço, que serviram de suporte quando se alcançava o prumo e os macacos eram retirados. Em seguida, foram construídas estrutura de concreto que ligaram as vigas antigas às novas estacas – essas, apoiadas em uma camada de solo rochoso a 55 metros de profundidade. “O grande desafio era movê-los sem abalar a estrutura. Usamos também sete vigas de concreto abraçando os pilares, para que todo o bloco fosse deslocado, sem trincar”, explica Carlos Maffei.
A recuperação de cada prédio teve o custo de R$ 1,5 milhão. Antes de serem reaprumados, os edifícios se tornaram “atração turística” na orla de Santos. Alguns moradores pensaram em colocar à venda seus imóveis, mas eles chegaram a desvalorizar até 75%, o que inviabilizou a possibilidade de venda. Por serem edificações antigas, construídas há mais de 50 anos, e ocupadas em sua maioria por idosos, a melhor solução – sob o aspecto econômico e social – foi realinhá-los. “A operação foi relativamente simples, mas porque houve coordenação. Sem isso, poderia ter o superespecialista em estruturas, o superespecialista em macaqueamento e o superespecialista em solos que não iria dar certo”, estima o professor Carlos Maffei, que também já atuou em obras semelhantes em Novo Hamburgo-RS e Recife-PE.

Confira aqui como foi a operação para realinhar os prédios.

Entrevistado
Engenheiro civil Carlos Eduardo Moreira Maffei, professor-titular da USP (Universidade de São Paulo) e responsável técnico da Carlos E M Maffei Engenharia S C Ltda
Contatos
maffei@maffeiengenharia.com.br
www.maffeiengenharia.com.br
Créditos Fotos: Divulgação

















