Placas hexagonais de concreto pavimentam ruas do futuro

Crédito: IFSTTAR
Projetado por pesquisadores do IFSTTAR (Instituto Francês de Ciência e Tecnologia de Transporte, Planejamento e Redes), o CUD (do francês Les Chaussées Urbaines Démontables [Pavimentos Desmontáveis Urbanos]) se espalha pela Europa e chega ao Canadá. A ideia é oferecer soluções para as ruas, quando elas precisam passar por manutenção ou serem abertas para o uso de serviços como água e esgoto, energia elétrica ou gás. “Propusemos um piso modular que pode ser instalado e removido indefinidamente para permitir que a cidade se adapte continuamente às mudanças”, explica o engenheiro Thierry Sedran, vice-chefe do Laboratório de Materiais Inovadores para Infraestruturas de Transporte do IFSTTAR.

Crédito: IFSTTAR
O CUD é formado por blocos pré-fabricados de concreto em formato hexagonal, que podem ser retirados e recolocados sem grandes operações de retrabalho. O IFSTTAR justifica o desenho hexagonal das peças por elas terem ângulos abertos. Com isso, minimiza o risco de quebras no concreto. Os blocos possuem 1 metro de diâmetro por 20 centímetros de espessura. “Nem todas as geometrias permitem pavimentar um espaço. Os blocos em forma de triângulo e quadrado concentram tensões e correm o risco de quebrar. Daí a ideia do hexágono, que permite ângulos mais abertos, o que minimiza o risco de quebra do pavimento”, diz Thierry Sedran.
A primeira cidade francesa a receber o pavimento desmontável urbano foi Nantes, há 12 anos. Nesse período, o IFSTTAR monitorou as ruas onde o CUD foi instalado. Mesmo com montagem e remontagem das vias, o instituto francês atesta a boa qualidade das peças de concreto. “A vida útil de um bloco hexagonal é de 30 anos, ou seja, um pavimento bastante competitivo se uma cidade pensar no longo prazo”, avalia o engenheiro Thierry Sedran. Após perceber o bom desempenho das estruturas hexagonais em ruas urbanas de Nantes, a prefeitura de Paris também aderiu à ideia. Barcelona, na Espanha, as adotou recentemente. Agora chegou a vez de Toronto, no Canadá, usá-las na construção de um bairro inteligente.
Todas as vias do Quayside, em Toronto, vão usar invenção francesa

Crédito: Sidewalk Labs
A subsidiária do Google, a Sidewalk Labs, projeta desde 2017 a construção do Quayside, que sairá do papel em 2020. A ideia é que o bairro possa receber carros autônomos, calçadas rolantes, robôs que farão o gerenciamento dos resíduos sólidos e uma rede de sensores capaz de monitorar ruídos, tráfego e poluição. O projeto prevê coleta de dados em todo o bairro, para aprimorar sua gestão e mantê-lo dentro dos padrões de sustentabilidade. Por isso, as ruas terão alta tecnologia por baixo do pavimento, o que levou os idealizadores do Quayside a optar pela versatilidade do CUD.
O bairro - pequeno para os padrões urbanos atuais - terá 48,6 mil m2 (pouco mais de 4 hectares e meio) e o investimento para construí-lo será de 3,9 bilhões de dólares. Com vocação residencial, o Quayside terá 2.600 moradias e promete gerar 3.900 empregos diretos durante a fase de construção, além de 9.000 indiretos. A previsão é que a execução se dê ao longo de 5 anos.
Veja vídeo sobre como são montadas e desmontadas as placas nas ruas
Entrevistado
Engenheiro Thierry Sedran, vice-chefe do Laboratório de Materiais Inovadores para Infraestruturas de Transporte do IFSTTAR
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Nova geração de concreto celular resiste a 1.200 °C

Crédito: Youtube
Pesquisadores da King Abdulaziz City para Ciência e Tecnologia (KACST), na Arábia Saudita, desenvolveram em laboratório uma nova geração de concreto celular. Um dos objetivos da pesquisa é chegar a um material com melhor desempenho térmico, a fim de que as construções no país possam resistir às altas variações de temperatura (muito calor durante o dia e frio à noite), causadas pelo clima desértico. Os resultados dos testes foram apresentados em 2019. O estudo é liderado pelo professor-doutor da universidade árabe, Mohammed Binhussain.
A diferença entre o concreto celular convencional e o desenvolvido no KACST é que o novo material utiliza nanotubos de carbono - produto já testado com alta eficácia na produção de concreto armado. O agregado aumenta a resistência à ruptura e reduz a condutividade térmica do concreto celular. Paredes construídas em laboratório para verificar a eficácia dos blocos produzidos no KACST atestaram se tratar de um material que propaga pouquíssimo calor. Com base nas experiências, os blocos com espessura de 15 centímetros suportaram chamas por 4 horas, com o auge da temperatura atingindo 1.200 graus Celsius (°C).
O concreto celular desenvolvido pela KASCT usa areia com alto teor de sílica, que é moída até virar pó, além de Cimento Portland e alumínio em pó. A mistura recebe água e depois é moldada em fôrmas por um período de tempo suficiente para que o pó de alumínio possa interagir com o cimento e formar bolhas de ar na massa. Isso resulta em aumento de tamanho e diminuição de peso. Nesta fase, nanotubos de carbono são adicionados antes de a mistura secar. Em seguida, as fôrmas são inseridas em fornos a vapor sob alta pressão para obter o resultado final.
Material desenvolvido na Arábia Saudita atende projetos arquitetônicos mais ousados
A pesquisa chegou também a um produto que melhora o desempenho acústico das paredes. O material ainda se mostrou ambientalmente eficaz por não emitir substâncias tóxicas e gerar menos resíduos que os blocos convencionais durante os processos de construção ou reforma. Outra característica apregoada pelos pesquisadores do KACST é que o concreto celular atende projetos arquitetônicos mais ousados, pois pode ser configurado para atender ângulos oblíquos, ou seja, diferentes de 90°. Os blocos facilitam também a abertura de canais e dutos para fios elétricos, cabos telefônicos e orifícios para tubos com alta precisão, onde a tolerância não pode variar de 1 milímetro.
Os blocos produzidos com o concreto celular desenvolvido na universidade árabe mostraram as seguintes resistências no 1º, 7º e 28º dias de cura: 11,03 MPa, 17,59 MPa e 18,19 MPa. As pesquisas no KASCT envolvem os seguintes departamentos: Centro de Excelência para Sistemas Complexos de Engenharia (CCES), Centro de Excelência em Nanotecnologia Integrada (JCIN), Centro de Excelência em Materiais e Manufatura Avançados (CAMM), Centro de Excelência em Nanotecnologias Verdes (CEGN) e Centro de Excelência em Nanomaterial para Aplicações de Energia Limpa (CENCEA).
No Brasil, paredes estruturais que usam blocos de concreto celular ainda aguardam normalização.
Entrevistado
Universidade King Abdulaziz City para Ciência e Tecnologia (KACST) (via assessoria de imprensa)
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Prédio é o 1º do mundo a gerar toda a água que consome

Crédito: Petinelli
O edifício corporativo Eurobusiness, em Curitiba-PR, recebeu em 2019 a certificação LEED Zero Water e foi reconhecido pelo US Green Building Council (USGBC) como o 1º do mundo a se tornar autossuficiente na geração da água que consome. Para obter independência do abastecimento fornecido pela concessionária pública, o prédio utiliza várias fontes alternativas de água, que incluem aproveitamento de água da chuva, água proveniente da condensação do ar-condicionado, poço artesiano e tratamento de águas cinzas e negras.
Com 14 andares, o prédio trata 100% de suas águas residuais (cinzas e negras), através de um wetland (zona de raízes) localizado em seu telhado. As águas residuais tratadas são posteriormente reutilizadas para descarga nos vasos sanitários e o excedente é infiltrado no solo. Por isso, nenhum produto químico é usado no processo de tratamento. Já a água potável utilizada no edifício vem do poço artesiano instalado no local. Isso permite que a água proveniente da rede pública sirva apenas como fonte de reserva.
Construído em 2016, o Eurobusiness foi projetado para usar apenas 55% da água fornecida pela concessionária. Porém, o aprimoramento dos sistemas alternativos - uma exigência para que obtivesse o selo LEED Zero Water - fez com que a autonomia da edificação aumentasse ano a ano. Em 2017-2018, a rede pública forneceu apenas 18% da água consumida pela edificação; em 2018-2019, esse percentual caiu para 10%. A princípio, os gestores do prédio buscavam a certificação LEED Platinum, mas a tecnologia de reúso da água incorporada ao projeto permitiu que alcançasse a LEED Zero Water.
Tecnologia gera economia de 650 mil reais por ano ao condomínio do Eurobusiness
Além do aproveitamento da água, o edifício tem 38 painéis fotovoltaicos, que auxiliam na redução de consumo de energia da rede elétrica convencional. A tecnologia adotada na construção do Eurobusiness gera economia de 650 mil reais por ano ao condomínio, que conta com 62 unidades comerciais, de 110 a 350 m². O aparato não atende apenas edifícios corporativos, mas também está disponível para empreendimentos residenciais, que têm um consumo de água ainda mais elevado e geram mais águas cinzas, provenientes da lavagem de roupas e banhos.
Uma das inovações do Eurobusiness é o armazenamento de água da chuva no telhado. Segundo o código de construção de Curitiba, as águas reutilizadas precisam ser armazenadas em uma bacia hidrográfica para reduzir as taxas de escoamento. Em um design convencional, esses sistemas seriam alojados no subsolo, ocupando o espaço de cerca de duas vagas de estacionamento. Para liberar espaço na garagem, o telhado foi transformado em uma piscina com capacidade para receber lamina d´água com 11 centímetros de espessura.
Parte da lâmina d’água foi coberta com cascalho fino e recebeu macrófitas - plantas aquáticas que prosperam na água ou perto dela. A zona úmida construída faz parte do sistema de tratamento das águas residuais. “Isso foi fundamental para o sucesso do projeto”, ressalta Guido Petinelli, CEO da Petinelli (empresa de consultoria em sustentabilidade para edificações que buscam certificação LEED), e que atuou no Eurobusiness.
Entrevistado
US Green Building Council (USGBC) (via assessorial de imprensa)
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Se construção ocupar fatia de 12% do PIB, país cresce 3% ao ano

Crédito: Fiesp
Relatório divulgado na 13ª edição do Congresso Brasileiro da Construção (ConstruBusiness), realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), revela que, se a construção civil voltar a ocupar uma fatia de 12% do PIB anual, o país terá condições de crescer 3% de forma sustentada, a partir de 2020. Entre 2012 e 2014, o setor detinha a participação de 12% na composição do PIB nacional. Porém, esse percentual caiu para 7,9% em 2018, em razão da crise e da paralisação de diversas obras.
Para voltar a ampliar sua participação no PIB, a construção precisa de investimento na ordem de 981 bilhões de reais por ano, até 2030. São 518,7 bilhões de reais em desenvolvimento urbano (habitação, saneamento e mobilidade urbana), 264,7 bilhões de reais em infraestrutura econômica (logística e transportes, energia e telecomunicações) e R$ 197,6 bilhões de reais em outras obras e serviços auxiliares da construção. Esse valor tem como base a projeção da evolução demográfica e, consequentemente, a necessidade de investimento em desenvolvimento urbano e em infraestrutura.
De acordo com o estudo, se houver a injeção de quase R$ 1 trilhão na cadeia produtiva da construção civil ela poderá gerar 14,4 milhões de empregos diretos, indiretos e induzidos ao longo do decênio. O entendimento dos presentes no 13º ConstruBusiness é que a retomada da área de habitação já está em curso e que o segmento da infraestrutura deve ganhar velocidade em 2020 e 2021, em função da melhoria do ambiente de negócios, da agenda de concessões e parcerias público-privadas (PPPs), de novas licitações, dos juros baixos e da entrada de recursos privados.
Ainda segundo o relatório divulgado no Congresso Brasileiro da Construção, o Brasil precisa aumentar seu investimento per capita em construção civil. O levantamento mostra que o país registra valores bastante inferiores se comparado a outras nações. Enquanto a média dos países selecionados pelo estudo investe US$ 4.053,35 por habitante, o Brasil investe US$ 1.275,55, ou seja, quase um terço da média da amostra. Entre os países em desenvolvimento, o México registrou investimentos em construção de US$ 2.282,87 per capita e o Chile de US$ 3.082,18.
Documento prega retomada de obras paralisadas e reformas em programas de investimento
Para melhorar o cenário de negócios da construção civil, o documento apresentado no ConstruBusiness defende que o poder público retome as obras paralisadas (cerca de 14 mil, envolvendo recursos da ordem de R$ 144 bilhões) e ainda propõe reformas nos planos nacionais de habitação, saneamento e mobilidade, além de adequações em marcos regulatórios e o fomento ao uso de ferramentas de gestão e planejamento, como a Modelagem de Informação da Construção (BIM) e sistemas informatizados de licenciamento de obras.
Segundo o engenheiro civil José Carlos de Oliveira Lima, vice-presidente da Fiesp e presidente do Conselho Superior da Indústria da Construção (Consic-Fiesp), o setor está pronto para retomar o crescimento. “Mesmo com todas as questões advindas de políticas instáveis, a indústria da construção segue avançando em tecnologia, treinamentos, inteligência artificial, gerando empregos para os vários níveis de capacitação e, acima de tudo, continua acreditando no Brasil. Esperamos retomar imediatamente a confiança dos empresários do setor e caminhar de forma criativa, planejada e sustentável para a necessária retomada do desenvolvimento do Brasil”, conclui.
Veja o relatório completo divulgado no 13º ConstruBusiness
Assista os painéis realizados no 13º ConstruBusiness
Entrevistado
Reportagem com base no conteúdo apresentado durante o 13º ConstruBusiness, realizado em dezembro de 2019
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relacionamento@fiesp.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sarjeta permeável é alternativa para bocas de lobo

Crédito: ABCP
A ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) está desenvolvendo o projeto da sarjeta com concreto permeável. A solução é uma alternativa urbana para bocas de lobo, que costumam entupir e dificultar a vazão das águas pluviais - provenientes das chuvas -, contribuindo para as enchentes nos grandes centros urbanos do país. O trabalho é liderado pelos engenheiros Mariana Marchioni, Claudio Oliveira e Gianfranco Becciu. O trio instalou um protótipo na sede da ABCP, que mereceu destaque no 4th International Electronic Conference on Water Sciences (4ª Conferência Eletrônica Internacional em Ciências da Água (ECWS-4)).
O projeto propõe substituir a sarjeta tradicional por uma estrutura de concreto permeável e uma base que funciona como um dreno francês. O objetivo é evitar o acúmulo de água na sarjeta e os problemas com a manutenção das bocas de lobo. “A manutenção das bocas de lobo é um dos principais custos na gestão da drenagem urbana nos municípios”, explica Mariana Marchioni. A pesquisadora ainda ressalta que o sistema ajuda também a melhorar a qualidade da água que chega até a rede de drenagem. “Além de melhorar a vazão, o concreto permeável possibilita que a água que chega até a rede de drenagem passe por filtros”, diz.
O sistema instalado no estacionamento da ABCP possui uma calha de 15 metros de comprimento, com uma área de captação de 400 m². Seu desempenho foi comparado a calhas convencionais de dimensões semelhantes, e localizadas no mesmo estacionamento. A percepção dos pesquisadores, relatado no estudo enviado ao ECWS-4, é que a superfície porosa do concreto permeável, assentada em base de cascalho, ajuda a controlar o escoamento na rede de esgoto. Isso ocorre por causa do armazenamento temporário das águas pluviais dentro das camadas porosas da estrutura.
Protótipo segue ensaios recomendados pela ABNT NBR 16416:2015
Os primeiros resultados obtidos com a sarjeta permeável mostram um valor altíssimo de capacidade de infiltração do concreto permeável, na ordem de 10-3 m/s medidos com o ensaio mencionado na ABNT NBR 16416:2015 - Pavimentos permeáveis de concreto - Requisitos e procedimentos. Além de seguir a norma técnica, a engenheira faz outra ressalva. “Para que a construção do pavimento permeável garanta a infiltração da água, é preciso considerar toda a estrutura do pavimento e conhecer dados da região, como o tipo de solo, o nível do lençol freático e a frequência de chuvas”, destaca.
O estudo que resultou no protótipo da sarjeta permeável é mais um passo nas pesquisas que a ABCP desenvolve desde 2010 sobre pavimento permeável. Na cidade de São Paulo, a associação já montou outros protótipos em um trecho de calçada no bairro Jardins e outro no estacionamento da Universidade de São Paulo (USP). O empenho neste tipo de pesquisa se dá porque o custo de execução do pavimento permeável é menor quando comparado com outros sistemas utilizados no combate às enchentes, como os chamados “piscinões”, que, além do alto custo de implantação, também demandam custo de manutenção com limpezas periódicas.
Assista a palestra de Mariana Marchioni na ABCP, sobre pavimento permeável e ABNT NBR 16416
Entrevistado
Reportagem com base no projeto apresentado na 4ª Conferência Eletrônica Internacional em Ciências da Água (ECWS-4)
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Museu árabe é eleito o “estado da arte” do concreto

Crédito: Saudi Aramco
O Centro Rei Abdulaziz para a Cultura Mundial, localizado em Dhahran, na Arábia Saudita, recebeu a mais alta honraria do American Concrete Institute (ACI): o prêmio Excellence Awards 2019, concedido às obras que atingem o “estado da arte” do concreto. Para alcançar o reconhecimento, o museu - também chamado de Ithra (enriquecimento, em árabe) - precisou vencer etapas no Oriente Médio e na Ásia, que começaram em 2017. No ano passado, o ACI chancelou a premiação internacionalmente.
Com área construída de 85 mil m², a edificação une avançadas tecnologias construtivas da indústria do concreto. As características da estrutura incluem lajes pós-tensionadas com 15,9 metros de comprimento, paredes e rampas inclinadas de concreto, colunas de concreto armado torcido e inclinado e acabamento com concreto decorativo. O volume de concreto usado na obra se aproximou dos 130 mil m³.
O prédio principal da construção, batizado de Torre do Conhecimento, tem 112 metros de altura. Os pilares das fundações possuem 3 metros de diâmetro cada e a estabilidade da estrutura é reforçada por um núcleo de concreto armado que atua como um cantilever apoiado. As colunas que sustentam as lajes elevadas são inclinadas e resultam em forças de empuxo horizontais na cabeça e na base de cada elevação da coluna. As lajes pós-tensionadas atuam como diafragmas estruturais para transportar essas forças de volta ao núcleo.
A torre principal do Ithra tem 18 grandes pavimentos. Ela está conectada a prédios menores. Todos têm formas arredondadas e são revestidos com aço tubular inoxidável. A arquitetura lembra um aglomerado de pedras em um oásis. A revista internacional de design Wallpaper classificou a estrutura de “a peça mais progressiva da arquitetura contemporânea da Arábia Saudita”.
O revestimento de aço que envolve o complexo do museu é formado por 93.403 tubos de aço com 76,1 milímetros de diâmetro e 2 milímetros de espessura. Se perfilados, percorreriam uma extensão de 360 quilômetros. Os tubos foram colocados a 10 milímetros de distância um do outro. A precisão permite que a luz natural penetre nos prédios e os iluminem internamente. O aço é o Duplex 2205, projetado exclusivamente pela britânica BuroHappold para o Ithra. Uma das finalidades do revestimento é resistir à abrasão da areia soprada pelo vento.
Para engenheiro-chefe da obra, complexidade da construção superou a lógica
O Ithra teve sua construção financiada pela Saudi Aramco, a empresa de energia e produtos químicos da Arábia Saudita. A construção começou em 2010 e seu custo ultrapassou os 400 milhões de dólares - mais de 1,5 bilhão de reais. O projeto arquitetônico é do escritório norueguês Snøhetta. Diante da complexidade dos projetos e da quantidade de materiais exclusivos usados na obra, o engenheiro-chefe Belal Nasir definiu o que foi construir o Ithra: “Se estivéssemos com todos os sentidos, não teríamos começado isso. Subestimamos a complexidade, o que no final foi bom, pois se tivéssemos feito uma análise de risco provavelmente não teríamos construído. A obra incorporou muitos desafios, mas conseguimos superar”, resume.

Crédito: Saudi Aramco
A execução da edificação foi finalizada em outubro de 2017. Porém, a abertura para o público só ocorreu um ano depois. Atualmente, o Ithra recebe um fluxo de 700 mil visitantes por ano. Além do reconhecimento do ACI, como obra que alcançou o “estado da arte do concreto”, o museu também recebeu uma classificação especial do US Green Building Council, por suas preocupações com a sustentabilidade, desde a implantação do canteiro de obras. O museu também preservou métodos construtivos seculares dos árabes, como o uso de tijolo solo-cimento fabricado in loco nos muros que circundam os prédios.
Saiba mais sobre a construção do Ithra
Veja por que o ACI concedeu o prêmio Excellence Awards ao Ithra
Entrevistado
Reportagem com base no relatório da ACI (American Concrete Institute (ACI) sobre a construção do Ithra, com dados da Saudi Aramco
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Saiba quais obras federais serão leiloadas em 2020

Crédito: Sobratema
O secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Wesley Cardia, expôs recentemente, em evento da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), quais obras federais serão concedidas para a iniciativa privada em 2020. À frente do organismo que é ligado à Casa Civil e à Presidência da República, Cardia elencou uma série de leilões que acontecerão ao longo do ano. São rodovias, portos, ferrovias, usinas, linhas de transmissão, terminais portuários, aeroportos, direitos minerários e empresas estatais que o governo pretende repassar para a iniciativa privada.
Entre as obras, destacam-se as rodovias BR-101 (trecho entre Florianópolis-SC e Osório-RS) e BR-116 (Presidente Dutra, no trecho entre São Paulo-SP e Rio de Janeiro-RJ), as ferrovias FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) e Ferrogrão, além da usina nuclear Angra 3, terminais aéreos e a Casa da Moeda. Ao todo serão 24 instalações ligadas ao setor de energia, 23 portos, 22 aeroportos, 19 rodovias e 11 ferrovias. O volume de obras que o governo federal decidiu repassar à iniciativa privada em 2020 foi definido na 11ª reunião do conselho do PPI, que aconteceu no final de novembro de 2019.

Crédito: Cia. de Cimento Itambé
Segundo Cardia, o governo não tem mais recursos nem vocação para viabilizar e gerenciar projetos de infraestrutura. “As obras públicas precisam ser feitas pelas empresas privadas especializadas em cada setor. O Estado não tem mais que fazer isso”, diz. Para o secretário, a carteira de concessões para 2020 deve movimentar o segmento da construção civil. Desde a criação do PPI, em 2016, essa será a maior quantidade de concessões colocada em leilão. Em 3 anos, foram qualificados 287 projetos, com a realização de 160 concessões, e que resultaram em investimentos de 695 bilhões de reais e outorgas e bônus de 137,1 bilhões de reais.
Em 2019, aconteceram 35 leilões, com investimentos na ordem de 442 bilhões de reais
Em 2019, aconteceram 35 leilões, com investimentos na ordem de 442 bilhões de reais e outorgas e bônus de 90,7 bilhões de reais. Entre os segmentos contemplados estão portos (13), aeroportos (12), energia (2), ferrovias (1) e rodovias (1). De acordo com Cardia, tudo que puder ser repassado para a iniciativa privada, será. Inclusive as obras inacabadas. Ao final de 2018, o Brasil tinha mais de 14 mil obras paradas, envolvendo recursos da ordem de 144 bilhões de reais, segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU). Desse total, 4 mil eram do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com orçamento de 32 bilhões de reais.
Na visão de Cardia, há uma modelagem em desenvolvimento, mas 42% das obras paradas são consequência da insegurança jurídica, o que se reflete em duas mil creches paralisadas, além de unidades prisionais em todos os estados, unidades socioeducativas e projetos de iluminação pública e saneamento. Ele também cita que há 2.500 Unidades Básicas de Saúde (UBS) paradas - muitas delas, com 85% do total das obras concluídas. “O governo não tem dinheiro para terminá-las. Isto vai ser feito através de Parcerias Público-Privadas (PPPs), e muitas delas com empresas pequenas e médias. Há um mercado fabuloso nesta área para o setor da construção civil”, estima.
Ouça a palestra do secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Wesley Cardia
Entrevistado
Reportagem com base em palestra do secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Wesley Cardia, em evento da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração)
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sobratema@sobratema.org.br
@ppinvestimentos
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Minha Casa Minha Vida: governo vai cobrar obras inacabadas

Crédito: Diário do Nordeste
O governo federal estuda editar a Medida Provisória (MP) que determina prazo de dois anos e meio para que as construtoras contratadas pelo Minha Casa Minha Vida (MCMV), e que ainda não concluíram as obras, finalizem a execução. Caso contrário, terão que devolver os recursos que já receberam da União, somados a juros e correção monetária.
Levantamento do ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) aponta que o programa habitacional tem 44.426 moradias inacabadas, em 1.895 municípios de 25 estados. Boa parte dessas obras encontra-se em cidades de até 50 mil habitantes e são direcionadas a famílias com renda igual ou inferior a R$ 1,6 mil por mês, enquadradas nas faixas 1 e 1,5.
Os motivos que levam as obras a estarem paradas, segundo recente auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), envolvem fraudes, erros de projeto, desconexão com a infraestrutura urbana das cidades e falta de obras complementares. Isso inclui a ausência de creches, escolas e ligações com as redes de água, esgoto e energia elétrica. Também há casos de abandono da obra por parte das construtoras, devido a atrasos no repasse de recursos.
O Ministério de Desenvolvimento Regional, juntamente com parecer técnico da Controladoria-Geral da União (CGU), estima que a conclusão das obras inacabadas vai precisar de orçamento extra de 280 milhões de reais. Enquanto não resolver esse impasse, o governo decidiu, no final de 2019, cancelar a contratação de 8.482 novas unidades do Minha Casa Minha Vida.
Também com o aval da CGU, a alegação para anular os contratos foi que havia "irregularidades insanáveis nos processos". Isso também influenciou no veto da Presidência da República, em dezembro de 2019, ao projeto de lei que restabelecia regime especial de tributação para a incorporação de imóveis no âmbito do MCMV. De acordo com o Planalto, o projeto apresentava “inconstitucionalidades”.
Congresso Nacional derruba veto presidencial e promulga Lei 13.970
No entanto, no dia 17 de dezembro, o Congresso Nacional derrubou o veto presidencial e promulgou a Lei 13.970, de 2019, que recria o regime especial de tributação para obras do Minha Casa Minha Vida. Com a nova lei, a incorporação de unidades residenciais de até 100 mil reais deve recolher o equivalente a 1% da receita mensal recebida a título de pagamento unificado do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), do PIS Pasep e da Cofins.
A legislação aprovada permite à construtora pagar os tributos envolvidos com a alíquota de 1% até a quitação total do preço do imóvel. Essa tributação especial é retroativa e vale para as incorporações que, até 31 de dezembro de 2018, tenham sido registradas nos cartórios de registro de imóveis ou tiveram os contratos de construção assinados.
Para as obras novas, a partir de 1º de janeiro de 2020, a lei prevê a alíquota máxima de 4% para as construtoras que tenham sido contratadas dentro do Minha Casa Minha Vida e cujo valor de cada unidade não ultrapasse 124 mil reais. A alíquota incidirá sobre a receita mensal auferida pelas vendas e as respectivas variações monetárias decorrentes da operação.
A medida tomada pelo Congresso teve o apoio de organismos ligados à construção civil. “Esta decisão traz segurança jurídica para o setor e para o poder público, evitando medidas judiciais para revisão dos contratos em razão de despesas supervenientes não contabilizadas”, diz Erika Albuquerque Calheiros, assessora jurídica da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Entrevistado
Controladoria-Geral da União (CGU) (via assessoria de imprensa) e Agência Câmara
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Notre-Dame terá projeto de reconstrução sustentável
Também foi aberto um concurso público para ajudar na escolha do novo projeto, e que já recebeu mais de 200 ideias de designers e arquitetos de 56 países, incluindo dois do Brasil. Um deles é de Alexandre Fantozzi, do estúdio AJ6. Ele propõe que o pináculo e o telhado da catedral sejam reconstruídos com estruturas metálicas e recobertos por vitrais. Ideia semelhante tiveram os arquitetos Rodrigo Barino e André Laurino.
A catedral Notre-Dame teve sua construção iniciada há mais de 8 séculos, em 1163. Após o acidente, toda a estrutura foi escorada para evitar novos desabamentos, em função das fragilidades causadas pelo incêndio. As obras de reconstrução só devem começar em 2021 e, independentemente do projeto a ser escolhido, ficarão a cargo do arquiteto-chefe de Notre-Dame, Philippe Villeneuve.
Villeneuve é favorável a um retrofit ortodoxo, que preserve todas as linhas originais da catedral gótica. Já o governo francês, que vai financiar a construção da igreja, é adepto da adoção de conceitos modernistas ao projeto. Mesmo divergindo, o arquiteto-chefe da catedral e os organismos governamentais concordam que o projeto de reconstrução deve atender práticas sustentáveis, como captação de água da chuva, prioridade para a luz natural e telhado verde.
Para o governo francês, a maior preocupação é que a estrutura da catedral não suporte a reconstrução de um pináculo e de um telhado semelhantes aos originais. Só a torre tinha mais de 90 metros de altura e pesava 750 toneladas. Para os engenheiros de estruturas que estiveram na catedral após o incêndio, um diagnóstico mais preciso vai depender da retirada de todos os escombros e de parte do volume de andaimes que hoje escora a catedral.
Cinco projetos se destacam entre os que se inscreveram no concurso francês
Cinco projetos que comungam de conceitos sustentáveis se destacam entre os que se inscreveram no concurso. Entre eles, o do escritório canadense NAK, que propõe um telhado em aço inoxidável polido e um pináculo envidraçado com iluminação que se destaque na noite parisiense. Já o estúdio norte-americano RCDF faz uma proposta ousada. Sugere que o pináculo não seja reconstruído, mas substituído por uma holografia que ficaria visível à noite.
Outro projeto vem do Reino Unido. O escritório do casal de arquitetos Cuong Phu Nguyen e Thi Hang Nguyen propõe um chafariz de luzes sobre o telhado e o pináculo, com o aproveitamento da água da chuva. Já o também britânico N.ARCH.IK teve uma ideia que preserva as linhas originais do telhado e do pináculo, porém com mudanças nos vitrais para que o interior de Notre-Dame aproveite melhor a luz natural.
Por fim, o projeto japonês assinado por 8 arquitetos de Tóquio tem a proposta ousada de ocupar a estrutura afetada pelo incêndio com uma floresta flutuante e telhado de vidro. A concepção é de que o local deveria se transformar em uma área de visitação e de reflexão na cúpula da catedral. A expectativa é de que o projeto selecionado seja anunciado ainda no primeiro semestre de 2020.
Entrevistado
Departamento de comunicação da Notre-Dame de Paris
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Tecnologia qualifica diagnóstico de manifestações patológicas

Crédito: Banco de Imagens
O engenheiro civil Marcus Vinícius Fernandes Grossi, especializado em engenharia diagnóstica, explica que o profissional voltado para o segmento de patologias da construção dispõe atualmente de uma série de ferramentas que auxiliam na detecção de problemas que podem afetar uma obra ao longo de sua vida útil. São equipamentos que vão desde uma simples trena até drones e robôs. “É o que eu chamo de kit de inspeção”, diz, durante web seminário em que abordou o diagnóstico e o tratamento de manifestações patológicas em construções.
Segundo Marcus Grossi, a tecnologia permite que sejam feitas análises mais aprofundadas, que vão além de uma inspeção sensorial - aquela em que o engenheiro se vale de sentidos como visão, tato, audição e, até mesmo, o olfato para verificar uma construção. Para esse tipo de diagnóstico, o kit básico deve contar com lanterna, trena, nível bolha, prumo, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), câmera fotográfica e smartphones ou tablets, que facilitam anotar dados dos projetos originais das obras.
Para uma inspeção mais aprofundada, é necessário ter aparelhos que permitam realizar ensaios, os quais podem ser não-destrutivos, semidestrutivos ou destrutivos. Neste caso, é preciso contar com ferramentas como fissurômetro, paquímetro, nível laser, scanner 3D, microscópio, boroscópio (parecido com o endoscópio da medicina), drones, robôs e até emissores de luz ultravioleta. “Cada inspeção requer uma técnica, que pode ir de simples testes abrasivos a técnicas mais precisas de inspeção”, relata o engenheiro.
Essas técnicas podem ser mecânicas, químicas, termográficas, hidrodinâmicas, eletromagnéticas, ultrassônicas ou computacionais, através do uso de softwares. “O estudo conhecido como patologia das construções, que analisa as manifestações patológicas em obras, se vale muito de conceitos da medicina. Então, assim como os profissionais da saúde, o engenheiro que atua nessa área precisa fazer o diagnóstico, o prognóstico, a terapia e a profilaxia”, afirma Marcus Grossi.
Norma de Desempenho define limites para que uma obra seja declarada com manifestações patológicas
Em sua palestra, o engenheiro diagnóstico lembra que a Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575) define limites para que uma estrutura possa ser declarada com manifestação patológica ou não. “A Norma de Desempenho define que uma edificação deve garantir habitabilidade (estanqueidade, desempenho térmico, desempenho acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico), segurança (estrutura, sistema contra fogo e garantia de uso e operação) e sustentabilidade (durabilidade, manutenibilidade e impacto ambiental). Se não comprometer esses índices de desempenho, não pode ser enquadrada como manifestação patológica”, explica.
A ABNT NBR 6118 (Estruturas de concreto armado) também define limites para o que pode ser considerada uma manifestação patológica. Segundo Marcus Grossi, a boa execução do concreto e o correto cobrimento das armaduras são imprescindíveis para evitar problemas futuros. “Seguindo as referências normativas é possível fazer uma gestão de risco contra manifestações patológicas e evitar problemas futuros na obra”, finaliza o engenheiro.
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Entrevistado
Reportagem com base no web seminário “Análises patológicas e diagnóstico na construção civil”, concedido pelo engenheiro civil Marcus Vinícius Fernandes Grossi, com especialidade em engenharia diagnóstica pela USP (Universidade de São Paulo ) e pelo IPT (pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo)
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