Estrangeiros qualificam construção civil do Brasil
Engenheiros e arquitetos, principalmente de países como Portugal, Espanha, Itália e França, suprem gargalos de mão de obra do país
Por: Altair Santos
O desempenho da construção civil brasileira contrasta com o de países como Portugal, Espanha, Itália e França. Por isso, engenheiros civis e arquitetos destas nacionalidades têm buscado intensamente o mercado de trabalho do outro lado do Atlântico. Mas não são só eles. Profissionais dos Estados Unidos também vislumbram oportunidades no Brasil. A prova é que dados do Ministério da Justiça mostram que, entre 2010 e 2011, o pedido de vistos permanentes para trabalho no país cresceu 37% - neste período, foram concedidos 2.692 autorizações. Calcula-se que 25% destes vistos tenham sido concedidos a engenheiros e arquitetos.

Os números crescem exponencialmente quando contabilizados os vistos temporários de trabalho, entre 2010 e 2011. Nestas condições, 1,460 milhão de pessoas entraram no país em busca de oportunidades. A estimativa é que 30% desse pessoal tenha vindo atuar na construção civil brasileira, independentemente da qualificação. Entre as nacionalidades que mais buscam vaga no Brasil estão, disparado, portugueses e espanhóis. "Da Espanha, temos recebido atualmente cem currículos por mês, com um percentual de 70% deles ligados a profissionais altamente qualificados, como engenheiros e arquitetos", explica Maria Luisa Castelo Marin, diretora-executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio.
Sob o aspecto de excelência profissional, a construção civil brasileira tem lucrado com essa entrada de estrangeiros no país. "Estive conversando recentemente com dirigentes do CREA-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agricultura de São Paulo) e com headhunters de São Paulo, e a opinião deles é que os engenheiros europeus estão melhor preparados. A explicação é que o Brasil ficou três décadas sem movimentar sua engenharia, enquanto na Europa só agora é que a construção civil se ressente de investimentos. Então, os engenheiros europeus têm uma maior expertise, principalmente para áreas que o Brasil vai precisar, como exploração do pré-sal e construção de portos, aeroportos e estradas", diz Maria Luisa Castelo Marin.
O levantamento mais recente, realizado pelo sistema Confea/CREA, aponta que há 820 mil profissionais de engenharia e arquitetura registrados nos conselhos regionais. Até 2020, segundo dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) o Brasil vai precisar ter 1,5 milhão de engenheiros em ação. Como as universidades do país têm capacidade de colocar no mercado apenas 48 mil por ano, estima-se que nesta década (2010-2020) possam ser importados pelo menos 300 mil profissionais da área. "É bom ressaltar que na Europa e nos Estados Unidos, os engenheiros civis estão mais ligados à construção pesada. A construção de imóveis é dominada por arquitetos. Por isso, os arquitetos europeus também têm encontrado bom mercado aqui", lembra a diretora-executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio.
Validação do diploma
Engenheiros e arquitetos oriundos de outros países precisam validar seus diplomas para exercer a profissão no Brasil. A homologação é feita através de uma instituição de ensino superior credenciada pelo Ministério da Educação. Somente as universidades federais têm essa prerrogativa. Normalmente, esse processo dura seis meses, pois precisa passar pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Obtida a validação, o profissional pode filiar-se ao conselho regional de sua região (CREA para engenheiros e CAU para arquitetos) e trabalhar sem empecilhos, podendo registrar ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), gerenciar obras e assinar projetos.
Entrevistada
Maria Luisa Castelo Marin, diretora executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio
Currículo
- Graduada em Direito e assumiu a diretoria-executiva da organização em fevereiro
- Possui experiência em direção e liderança de grandes equipes, bem como em processos de ativação de empresas estrangeiras no Brasil
- A executiva já atuou como consultora da EPISE Talento y Resultados (Brasil), tendo participado de todo o processo de start up da empresa no país
- Também atuou anteriormente na Zurich Financial Services e Caudal Seguros na Espanha
Contato: comercial@camaraespanhola.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Combustível, transporte e energia lideram obras
Das mais de 12 mil construções de grande porte que serão erguidas no Brasil até 2016, 81% advêm destes três setores da economia
Por: Altair Santos
Dez setores da economia irão gerar 12.265 construções de grande porte no Brasil até 2016. São obras cujo montante de investimento se aproxima de R$ 1,5 trilhão, entre os quais as áreas de combustível, transporte e energia serão as mais contempladas. É o que revela estudo encomendado pela Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção). "São empreendimentos que vão influenciar no PIB do país, a partir de 2013. Hoje, a Sobratema trabalha com as seguintes premissas de crescimento: 3,5% em 2012, 6,5% em 2013 e 2014 em 6,5%", diz o vice-presidente da associação, Mário Humberto Marques.

De acordo com o levantamento da Sobratema, as construções voltadas para os setores que receberão o maior número de obras representam 81% do total das 12.265 construções a serem encaminhadas até 2016. "Os maiores investimentos serão realizados, respectivamente, em combustível, com 46% do total; seguido por transporte, com 23%, e energia, com 12%", revela Mário Humberto Marques. Além destas áreas, também serão contempladas saneamento básico, habitação, indústria, hotelaria, turismo, shopping center e infraestrutura esportiva (Copa do Mundo e Olimpíadas).
A região Sudeste receberá o maior volume de investimentos (R$ 835 bilhões, em 3,2 mil obras) com destaque para os estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, principalmente pelos projetos relacionados à exploração de petróleo offshore na camada pré-sal. "No entanto, merece destaque a participação da região Nordeste, que receberá até 2016 aproximadamente 23% do total a ser investido, com um montante de R$ 345 bilhões", alerta o o vice-presidente da Sobratema. A região Sul aparece em terceiro, com captação de recursos para obras chegando a R$ 100,4 bilhões.
Na opinião de Mário Humberto Marques, esse volume de obras e recursos dá à construção civil brasileira a oportunidade de atingir o nível de crescimento sustentável. "A construção é uma parte importante da atividade econômica brasileira. Com esse grau de investimentos, o país atingirá o crescimento é sustentável, mas cabe ao governo executar esses investimentos que lhe competem, e também estimular adequadamente a iniciativa privada a investir", lembra. Com esse avanço, a Sobratema projeta também o crescimento do setor de equipamentos para a construção civil. "Em outra pesquisa que realizamos identificamos as seguintes projeções para o avanço das vendas de equipamentos no Brasil: 2012 (5,1%), 2013 (8,1%), 2014 (10,7%), 2015 (9,7%) e 2016 (8,3%)", conclui.
Confira o estudo completo: Clique aqui
Entrevistado
Mário Humberto Marques, vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema)
Currículo
- Engenheiro mecânico graduado em 1976, pela Universidade Federal de Uberlândia
- Cursou MBA em finanças no IBMEC, concluído em 1997, e pós-graduação lato senso pela FIA (USP) em gestão de negócios, concluído em 1999
- Em 2006 concluiu o curso de atualização em gerenciamento de projetos pela Fundação Getúlio Vargas
- É vice-presidente da Sobratema e diretor de Equipamentos e Suprimentos da Construtora Andrade Gutierrez S.A.
- Desenvolveu o programa de Supply Chain da Construtora Andrade Gutierrez S.A. e aprimorou os processos de suprimentos em plataforma WEB e orientou o desenvolvimento de e-procurement próprio
Contato: sobratema@sobratema.org.br / www.sobratema.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construir em São Paulo vira desafio às construtoras
Rigorosas leis de compensação ambiental exigem que incorporadoras se adaptem para que a cidade continue produzindo novos imóveis
Por: Altair Santos
Entre os envolvidos com a construção civil de São Paulo/SP costuma-se dizer que a incorporadora bem-sucedida não é aquela que tem o maior volume de recursos para viabilizar empreendimentos, mas a que possui o maior estoque de terrenos. Encontrar áreas para construir na capital paulista tornou-se o maior desafio para as empresas do setor. O motivo são as rigorosas leis de compensação ambiental, consideradas as mais rígidas do país, e que, dependendo do projeto, podem encarecer demais o custo da obra.

Hoje, antes de empreender em São Paulo, qualquer construtora precisa realizar um estudo de viabilidade ambiental. Significa verificar se vale ou não a pena construir em determinada área. Caso haja no terreno espécies nativas da Mata Atlântica ou ameaçadas de extinção, há duas saídas: abandonar o projeto ou adaptá-lo, a fim de que a área verde seja preservada. Derrubar árvores é que não pode. Primeiro, porque o embargo da obra é certo; segundo, por causa das pesadas multas aplicadas pela Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente.
O organismo público é hoje o mais temido pela construção civil que investe em território paulistano. Criada em 2005, ele ganhou autonomia para defender o crescimento sustentável da cidade, custe o que custar. Amparada por leis e, sobretudo, por uma fiscalização eficiente, a secretaria levou o setor a se adaptar. Em São Paulo, hoje, não se trabalha sem planejamento sustentável. Um empreendimento, antes de ser posto em pé, absorve pelo menos dois anos de estudos.
Segundo Enéas José Arruda Campos, presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos Municipais de São Paulo (SEAM), verticalizar cada vez mais os edifícios tem sido a solução encontrada pelas incorporadoras para equacionar questões como pouco estoque de terrenos e lei ambiental. "Com o encarecimento dos terrenos, os empreendimentos, para serem viáveis economicamente, precisam sempre ter o maior número de unidades que a lei permita, inclusive utilizando os instrumentos como a Outorga Onerosa e os CEPACs (certificados de potencial construtivo)", explica.
Adotando essa estratégia, o mercado imobiliário paulistano, de acordo com dados do Secovi-SP (Sindicato de Habitação de São Paulo) cresceu a um ritmo de economia chinesa entre 2000 e 2011. Os lançamentos de apartamentos saltou de 29 mil para 37 mil por ano. "Isso se deve à qualidade dos projetos. Atualmente São Paulo concentra os melhores projetistas do país e todos eles estão atualizados sobre as matérias do meio ambiente", avalia Enéas José Arruda Campos.
O consumidor, no entanto, sente o custo deste esforço para se continuar construindo em São Paulo. O metro quadrado na cidade, dependendo da região, varia de R$ 5,5 mil a R$ 7 mil. Além disso, o desembolso de encargos tributários ao se adquirir um imóvel também cresceu. A carga da compensação ambiental no VGV (Valor Geral de Venda) de um empreendimento pode chegar a 1,5% da obra. Já o imposto conhecido como ITBI, que é recolhido à prefeitura na averbação do imóvel, teve elevação de até 50% em alguns casos. "Para que houvesse um equilíbrio nestes custos, São Paulo precisaria parar de crescer", alerta o presidente da SEAM.
Entrevistados
Enéas José Arruda Campos, presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos Municipais de São Paulo (SEAM) e Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente
Currículo
Enéas José Arruda Campos é engenheiro civil aposentado da prefeitura de São Paulo e atua como perito judicial
Contato: seam@seam.org.br / svma_imprensa@prefeitura.sp.gov.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Eficiência térmica é a maior virtude do CCA
Concreto celular autoclavado foi submetido a testes pelo Cefet-MG e mostrou desempenho acima da média comparado a outros materiais
Por: Altair Santos
Estudo realizado pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) revelou que o concreto celular autoclavado (CCA) apresentou o melhor desempenho térmico em comparação a outros materiais com características semelhantes. O teste usou blocos com a medida de 60 cm x 30 cm x 20 cm e painéis de 3 metros de comprimento, 0,55 metro de altura e 20 cm de espessura.

Na medição, a diferença para o ambiente externo foi de 8 graus Celsius. Além disso, o material mostrou-se uma das soluções da construção civil que apresenta melhor resistência ao fogo, podendo suportar altas temperaturas por até seis horas. Em contrapartida, o CCA equivale a 1/5 do peso do concreto armado e é, segundo a pesquisa, 30% mais leve do que a alvenaria em bloco cerâmico.
A pesquisa teve entre seus coordenadores o engenheiro civil Conrado de Souza Rodrigues, do departamento de engenharia civil do Cefet-MG. Na entrevista a seguir, ele explica os resultados do estudo e quais as vantagens do concreto celular autoclavado, principalmente quando aplicado em construções habitacionais e empreendimentos como shopping centers. Confira:
Estudo do Cefet-MG revelou que o concreto celular autoclavado (CCA) apresentou o melhor desempenho termoacústico entre outros materiais com características semelhantes. Por que isso ocorre?
Na verdade, nossa pesquisa priorizou o desempenho térmico do CCA. Entretanto, é muito vinculado o termo conforto termoacústico porque as características que influenciam num e noutro são as mesmas. Neste caso, verificamos que o CCA tem um desempenho térmico mais adequado do que outros materiais de construção, como blocos de concreto e blocos cerâmicos. Isso ocorre por que o CCA possui um volume muito grande de poros. Em alguns casos, essa porosidade chega a 80%. Isso oferece maior dificuldade na produção de calor, o que permite construir ambientes que demandam menos energia pelo condicionamento térmico. Tanto em regiões frias, para calefação, quanto em regiões quentes, no caso do ar-condicionado.
Na pesquisa do Cefet-MG, o concreto autoclavado foi comparado com quais outros materiais?
No ponto de vista de conforto térmico, fizemos ensaios comparando CCA com blocos de concreto e elementos de alvenaria de cerâmica vermelha, conhecido como bloco cerâmico.
Para a produção de um concreto autoclavado, se exige alguma modalidade especial de cimento?
O CCA tem uma química bem diferente de um concreto convencional e do cimento convencional. Então, no processo de produção do CCA, utilizamos como uma das matérias primas o cimento, mas ele não é o único aglomerante. Usamos também cal e gesso como parte dos aglomerantes.
Em termos de resistência, o concreto autoclavado também é um material eficiente?
A resistência do CCA está vinculada à função que ele vai cumprir. É possível produzir CCA tanto para alvenaria de vedação quanto para alvenaria estrutural. A variável principal envolvida nesta escolha da classe de resistência está relacionada à quantidade de bolhas será criada no interior do material. O material estrutural, que precisa ter uma resistência mecânica mais elevada, é produzido com um teor menor de bolhas. Consequentemente, ele terá uma densidade maior e terá reduzido eu desempenho térmico. E isso é regra: quando se busca ganho de resistência mecânica, se perde no aspecto de conforto térmico.
O concreto autoclavado é mais recomendável para áreas de vedação ou pode também ser usado em lajes?
No Brasil, ele é usado basicamente em vedação. Em outros países, ele tem múltiplas funções. É usado para vedação horizontal, pisos, e até em sistemas de cobertura. Então, grosseiramente falando, ele pode ser utilizado em vários sistemas dentro da construção civil, e não só alvenaria de vedação estrutural.
Quanto ao uso do concreto autoclavado, ele é bem difundido na construção civil brasileira?
Ainda não. Aqui em Belo Horizonte/MG há uma produção em alta escala de CCA. Por isso, o uso do produto é facilitado. Não é raro construções prediais, shopping centers e construções industriais usarem o material. Só que em outras cidades brasileiras a frequência do CCA em obras não é tão intensa.
Mas o concreto autoclavado pode ser usado em qualquer tipo de construção?
Como disse, construções prediais, industriais e shopping centers são empreendimentos que recebem bem o CCA.
O uso de concreto autoclavado encarece uma obra?
Se formos comparar bloco de CCA com o bloco cerâmico, ele é mais caro. Trata-se de um material com um desenvolvimento tecnológico maior e que tem um processo de produção diferenciado, notadamente quanto à cura. A cura do material, ou seja, o ganho de resistência do material é feito em autoclave, ou seja, uma panela de pressão industrial onde o material é submetido a temperaturas e pressão elevadas. Isso aumenta o custo inicial do material. Mas ao longo do tempo, esse custo se dilui. Por quê? Porque, no caso de uma construção habitacional, ela vai manter sua funcionalidade térmica por décadas, reduzindo o custo com consumo energético. Neste aspecto, o CCA é imbatível quando comparado com outros materiais.
Onde foi criado o concreto autoclavado, quando e qual a popularidade do material fora do país?
É uma história extremamente interessante e que tem um paralelo muito grande com a nossa realidade da construção civil. O CCA foi desenvolvido na Suécia na década de 1920, em uma crise energética tremenda. Então, o governo sueco da época estabeleceu que os materiais de construção civil tinham de ser termicamente eficientes. Foi neste ambiente que o CCA foi desenvolvido. Ele foi patenteado na década de 1920 e se difundiu primeiro pela Europa. É interessante ressaltar que os processos de fabricação utilizados em países como França, Alemanha, Canadá, EUA, Brasil, Austrália e África do Sul seguem basicamente a mesma receita. São matérias primas com as mesmas características, processos de produção muito semelhantes e o material tem um desempenho muito parecido em diferentes regiões. Ele tem uma difusão muito grande, principalmente na Europa, onde existe a preocupação com a sustentabilidade na construção. Por isso, ele tende a se popularizar mais daqui para frente.
Pelo potencial termoacústico do concreto autoclavado, ele é o material ideal para edifícios residenciais e comerciais?
Principalmente para os edifícios residenciais, e no caso dos edifícios comerciais onde haja demanda de um condicionamento térmico. A aplicabilidade dele também é interessante nas construções de shopping centers, onde o condicionamento térmico é importantíssimo.
Entrevistado
Conrado de Souza Rodrigues, pesquisador e professor adjunto III do departamento de engenharia civil do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Currículo
- Conrado de Souza Rodrigues é graduado em engenheiro civil pela Universidade Federal de Ouro Preto (1997)
- É mestre e doutor em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1999 e 2004)
- Foi pesquisador visitante no Departamento de Engenharia Civil e Geociências da Universidade de Tecnologia de Delft, Holanda (doutorado sanduíche, 2002) e no Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (pós-doutorado, 2004-2005)
- Atualmente é pesquisador e professor adjunto III do departamento de engenharia civil do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, onde atua nos cursos de engenharia de produção civil e mestrado em engenharia civil
- É líder do grupo de pesquisa "Materiais para Construção Sustentável", cujas atividades enfocam, principalmente: 1) Fibrocimentos sem amianto; 2) Concreto celular autoclavado; 3) Resíduos agroindustriais como adições minerais em cimentos e concretos e; 4) Bambu como componente estrutural
- É membro da ABMTENC (Associação Brasileira de Materiais e Tecnologias Não-Convencionais) e compõe o comitê técnico-científico internacional dos congressos da série NOCMAT (Non-Conventional Materials and Technologies)
Contato: crodrigues@civil.cefetmg.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Mercado quer uso do FGTS em imóveis de até R$ 750 mil
Proposta é estimulada pelo encarecimento do metro quadrado, mas governo teme que medida inviabilize habitações de interesse social
Por: Altair Santos
Há um movimento em curso, acionado pelo mercado imobiliário, que propõe a revisão do teto para financiamento habitacional com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). A reivindicação é que o limite seja estendido para R$ 750 mil. Em 2009, já houve um aumento. Antes, o trabalhador só podia usar o FGTS no financiamento de um imóvel se ele custasse no máximo R$ 350 mil. Hoje, o teto é de R$ 500 mil. Para que aconteça uma nova mudança neste valor, é preciso que haja autorização do Banco Central, onde o pedido encontra-se em análise técnica.

O mercado imobiliário alega que o custo do metro quadrado, principalmente nas grandes metrópoles do país, começa a inviabilizar a construção de alguns modelos de imóveis com o teto até R$ 500 mil. Em 2011, a valorização do metro quadrado foi de 26%, segundo o índice FipeZap, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Por outro lado, o Conselho Curador do FGTS, que é contra a elevação do teto, alega que essa medida pode inflacionar o setor imobiliário e inviabilizar programas habitacionais voltados ao interesse social, como o Minha Casa, Minha Vida.
No meio deste fogo cruzado está o consumidor, que na opinião da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH) pode se beneficiar de um novo limite desde que haja recursos suficientes no FGTS. "A principal preocupação do Conselho Curador é ver se realmente os recursos do FGTS conseguem atender a estas demandas de imóveis de 500 mil a 750 mil, sem afetar o investimento na baixa renda, pois o principal objetivo dos financiamentos com recursos do FGTS é dar prioridade a esse setor. Então, se houver dinheiro sobrando no FGTS, elevar o teto pode ajudar a manter aquecido o mercado", analisa Leandro Pacifico Souza Oliveira, presidente da ABMH.
O que está no centro deste debate é a preservação do interesse social dos programas habitacionais que recebem recursos do FGTS. A meta é evitar que o Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, incorra no erro que resultou no fim do BNH - banco que nasceu para fomentar habitações populares e terminou financiando construções mais caras. "O Minha Casa, Minha Vida, hoje já não cumpre seu papel na faixa de zero a três salários mínimos. Ele está muito bem na de três a dez salários mínimos, que atende a nova classe C", alerta Leandro Pacifico Souza Oliveira.
Independentemente do valor do imóvel a ser financiado, dados da Caixa Econômica Federal revelam que, de 2008 a 2011, os saques de recursos do FGTS para a compra da casa própria cresceram 57,2%. "O rendimento do fundo, por ano, gira em torno de 3% a 4%, no máximo. Já os juros do financiamento habitacional, com os mesmos recursos do FGTS, chegam a 8% ou mais por ano. Então, quem tem conta do FGTS, precisa utilizar esse dinheiro para a compra da casa própria", recomenda o presidente da ABMH.
Em 2011, os financiamentos imobiliários, através da Caixa Econômica Federal, somaram R$ 67,8 bilhões, com crescimento de 15,7% em comparação a 2010. Do total de operações, as que usaram recursos da poupança somaram R$ 36,4 bilhões, enquanto as que usaram recursos do FGTS chegaram a R$ 31,4 bilhões. Para realizar o sonho da casa própria, o fundo pode ser usado nas seguintes situações: compra à vista de um imóvel, sinal na compra, lance em consórcio imobiliário, pagamento de prestações em atraso, amortização extraordinária de saldo devedor, liquidação antecipada de saldo devedor e pagamento de parte das parcelas mensais do financiamento.
Entrevistado
Leandro Pacifico Souza Oliveira, presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação
Currículo
Leandro Pacifico Souza Oliveira é advogado
Contato: noticias@abmh.com.br (assessoria de imprensa) / abmh@abmh.org.br / @abmhnoticias / www.abmh.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Crescem desafios à indústria de tubos de concreto
Por: Altair Santos
Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tubos de Concreto (ABTC) revelam que, após o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o investimento público em saneamento básico fez com que o setor experimentasse crescimento de até 30% no volume de produção. "Houve um impulso grande até o ano passado (2011) e em 2012 experimentamos uma estabilidade no mercado", cita Jean Royer, diretor de marketing da ABTC.

O Brasil tem atualmente cinco mil fábricas de tubos de concreto catalogadas pela ABTC, onde a maioria é de pequeno e médio porte. Por isso, o setor enfrenta restrições quanto ao aporte de tecnologia e de inovações, além de problemas com a qualificação da mão de obra. "É preciso reconhecer que poucas estão bem industrializadas. Diria que umas 20 podem ser consideradas de grande porte em todo o país. A maioria ainda utiliza equipamentos obsoletos e encontra dificuldades com a mão de obra", explica Jean Royer.
Para aprimorar o setor de tubos de concreto, a ABNT debruça-se para lançar novas normas e atualizar outras. Em 2007, foi revisada a NBR 8890, com versão corrigida em 2008 (Tubo de concreto de seção circular para águas pluviais e esgotos sanitários - Requisitos e métodos de ensaios). Ainda em 2008, ocorreu o lançamento da NBR 15645 (Execução de obras de esgoto sanitário e drenagem de águas pluviais utilizando-se tubos e aduelas de concreto). "São normas que procuram padronizar a fabricação dos tubos e também a instalação, para que depois de a obra feita o asfalto e a calçada não cedam", afirma o diretor de marketing da ABTC.
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Tubos de Concreto se mobiliza agora para que haja a normatização do poço de visita, algo que em outros países há décadas já existe. "Aqui no Brasil cada estado usa um modelo de poço de visita. É preciso padronizar, pois isso ajudará a agregar tecnologia ao setor. Fora do país, como na Alemanha e na Espanha, já há máquinas que mecanizam todo esse processo. Mas é preciso normatizar", explica Jean Royer.
Déficit grande

Segundo dados do Ministério das Cidades, ainda que tenha crescido o investimento público em saneamento básico, o Brasil injeta menos da metade dos recursos que deveria para zerar o déficit em 20 anos. Hoje são R$ 7 bilhões por ano, quando o valor já deveria estar em R$ 15 bilhões. Para estimular o setor, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) lançou em 2011 o projeto Sanear É Viver. Porém, os fabricantes de tubos de concreto defendem que o saneamento básico seja desmembrado do PAC, como foi o Minha Casa, Minha Vida. "Seria preciso um PAC do saneamento básico. Não há uma cidade no país que não tenha problema nesta área. Os governos precisam entender que o dinheiro gasto em saneamento básico é na prática um investimento em saúde futura", avalia Fabian Silveira de Moraes, da Premocon, uma das maiores do setor na região sul do país.
Saiba mais sobre saneamento básico no Brasil: Clique aqui
Entrevistados
Jean Royer, diretor de marketing da ABTC, e Fabian Silveira de Moraes, presidente da Premocon
Currículos
- Jean Royer é diretor de marketing da ABTC, diretor-presidente da Marco Tubos e engenheiro industrial.
- Fabian Silveira de Moraes é engenheiro civil e presidente da empresa Premocon Artefatos de Concreto Ltda.
Contatos: jean@marcotubos.com.br / tubos@marcotubos.com.br / premocon@promocon.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Brasil desperta para a fiscalização de obras
Com a assistência do sistema Confea/CREA, proliferam leis municipais para combater irregularidades e o exercício ilegal da profissão
Por: Altair Santos
Os desastres ocorridos recentemente nas cidades do Rio de Janeiro/RJ e em São Bernardo do Campo/SP fizeram os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia despertarem para a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa dos empreendimentos ao longo de suas vidas úteis. Pelo menos nas principais capitais brasileiras têm surgido propostas de leis para que as vistorias técnicas sejam regulamentadas. A maioria dos CREAs reivindica que o poder público os habilite a fiscalizar e lhes permita aplicar multas – hoje uma atribuição exclusiva das prefeituras.

A primeira cidade do Brasil a adotar esse modelo foi Balneário Camboriú, em Santa Catarina, com a lei nº 2805/2008. O município, que tem o maior número de arranha-céus por quilômetro quadrado do país, tornou obrigatória as vistorias periódicas, fazendo com que a fiscalização seja cada vez mais rigorosa conforme os edifícios forem envelhecendo. A medida inspirou o estado de Santa Catarina a elaborar um projeto de lei com características semelhantes, e que engloba também os prédios públicos, além de servir de base para uma proposta que tramita no Senado Federal (PL 491/2011) o que pode dar amplitude nacional a ela.
No Paraná, a primeira cidade a ter uma legislação que obrigue vistorias técnicas nas edificações deve ser Curitiba. O CREA-PR atuou como parceiro na elaboração do projeto de lei nº 005.00012/2012, que desde 30 de janeiro de 2012 tramita na Câmara Municipal. "Esse projeto dispõe sobre a realização de vistorias técnicas periódicas e manutenção preventiva das edificações. Somos parceiros nesta ação por entender a necessidade da manutenção periódica das edificações", explica o presidente do Conselho, Joel Krüger, que recentemente lançou o programa de excelência do CREA-PR, voltado para a manutenção predial.
O texto do projeto de lei curitibano determina que a primeira vistoria técnica deverá ocorrer contando o prazo de cinco ano, a partir da data de expedição do certificado de vistoria de conclusão de obras ou da ocupação do imóvel, e uma nova vistoria técnica e novo laudo técnico deverão ser realizados a cada cinco anos. As edificações existentes há mais de cinco anos terão o prazo de 15 meses a contar da data de sanção da lei para a realização da primeira vistoria técnica.
O projeto também prevê que os responsáveis pelas edificações deverão providenciar, no prazo definido no relatório ou laudo técnico, a recuperação, manutenção, reforma ou restauro necessário. A multa ao estabelecimento ou ao profissional responsável que não cumprir algum item, conforme o documento, será no valor de R$ 5 mil, dobrando a cada reincidência. A meta é tentar diminuir drasticamente o número de obras irregulares, principalmente as que não contam com profissionais habilitados para conduzi-las, além de dar ao município poder de polícia administrativa para que ele possa embargar construções e punir irregularidades.
Em 2011, no Paraná, o CREA promoveu perto de 50 mil fiscalizações em edificações e em serviços vinculados à construção civil, priorizando o exercício ilegal da profissão. Os dados revelaram que 67% das obras no Estado tinham algum tipo de irregularidade. "O conselho vem tratando com rigor esta questão da qualificação dos profissionais e levamos nossa preocupação ao legislativo municipal para contribuir de forma participativa com o projeto de lei”, finalizou Joel Krüger.
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Entrevistado
Joel Krüger, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-PR)
Currículo
- Possui graduação em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (1984) e mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1995)
- Tem dois cursos de especialização: didática no ensino superior e gestão técnica do meio urbano, promovidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e pela Universite de Technologie de Compiegne, na França
- Atualmente é professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, aonde ocupa o cargo de Coordenador do Curso de Engenharia Civil
- Ocupou o cargo de Diretor no Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (Senge-PR)
- Tem experiência profissional na área de Engenharia de Transportes, com ênfase em Planejamento e Organização do Sistema de Transporte, atuando principalmente nas áreas de mobilidade urbana, acessibilidade e logística
- Tem experiência de mais de 12 anos como diretor tesoureiro e presidente da Comissão de Acessibilidade do CREA-PR
- É presidente do CREA-PR na gestão 2012-2014
Contato: comunicaçao@crea-pr.org.br (assessoria de imprensa)
Créditos foto: Divulgação/CREA-PR
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Norma populariza parede de concreto moldada “in loco"
Com a publicação da ABNT NBR 16055, expectativa é que em 2012 sejam executadas 200 mil unidades com esse modelo construtivo
Por: Altair Santos
Em vigor desde maio de 2012, a NBR 16055:2012 (Parede de concreto moldada "in loco" para a construção de edificações - Requisitos e Procedimentos) surge para popularizar a tecnologia. Antes da norma, empresas que empregavam esse método construtivo precisavam se submeter às diretrizes do Sistema Nacional de Aprovações Técnicas (Sinat) para obter o Documento de Avaliação Técnica (DATec). A partir de agora, isso tornou-se dispensável e o modelo de construção passa a ser igual a outros já convencionais. "Antes da norma, já existia uma força produtiva intensa. A partir da NBR 16055, a expectativa é que o mercado de construtoras absorva ainda mais a tecnologia e ela ganhe mercado", analisa o engenheiro civil Arnoldo Wendler, que foi o coordenador da nova norma.

Livre das limitações burocráticas que cercam tecnologias inovadoras, o sistema de paredes de concreto moldadas "in loco", através de fôrmas removíveis, pode ser utilizado por qualquer construtora que tenha mão de obra qualificada. Segundo Arnoldo Wendler, que é consultor da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), o treinamento básico é simples. "Pode ser feito, inclusive, com pessoas que não têm experiência anterior na construção civil. Para formar o que a gente chama de montador leva 15 dias. Neste sistema, não existe a figura de pedreiro ou servente. Todos são montadores de fôrmas e para uma turma nova entrar no ciclo de produção (desformar, formar e concretar) leva cerca de um mês", garante.
Pela facilidade da execução do sistema, comparativamente à alvenaria convencional, a expectativa do setor é que o programa Minha Casa, Minha Vida se beneficie amplamente da tecnologia, sobretudo em sua etapa 2 - voltada para habitações de interesse social. "O sistema traz significativa agilidade a uma construção muito comum no Minha Casa, Minha Vida, que são prédios de quatro pavimentos. Se no concreto armado, a estrutura e o fechamento é feito em até seis meses, e se na alvenaria estrutural faz-se em dois meses, em paredes de concreto você demora dez dias. Com isso, custos diretos e indiretos da obra diminuem brutalmente", diz o coordenador da norma NBR 16055, que levou um ano para ser elaborada e publicada e envolveu o trabalho de 50 especialistas.
Desde que a nova norma de fato impulsione o sistema de paredes de concreto moldadas "in loco", através de fôrmas removíveis, Abece e ABCP estimam que a produção de unidades habitacionais construídas através da tecnologia pode quadruplicar em 2012. Hoje, produz-se no país 50 mil. A expectativa é que feche o ano em 200 mil. Além disso, a projeção é também multiplicar por três o número de empresas especializadas neste modelo construtivo. Neste caso, as atuais 20 passariam para 60 em todo o Brasil.
Resumo da NBR 16055
A norma se aplica às paredes concretadas com todos os elementos que farão parte da construção final, tais como detalhes de fachada (frisos, rebaixos), armaduras distribuídas e localizadas, instalações (elétricas e hidráulicas) quando embutidas, além de considerar as lajes incorporadas ao sistema por solidarização com as paredes, tornando o sistema monolítico (funcionamento de placa e membrana).
A normalização leva em consideração um edifício construído em paredes de concreto de até cinco pavimentos, com lajes de vão livre máximo de 4 m e sobrecarga máxima de 300 kgf/m², que não sejam pré-moldadas. Além disso, o piso máximo da construção deve ser de até 3 m e as dimensões em planta de no mínimo 8 m.
De acordo com o documento, as paredes de cada ciclo construtivo de uma edificação são moldadas em uma única etapa de concretagem, permitindo que, após a desforma, as paredes já contenham, em seu interior, vãos para portas e janelas, tubulações ou eletrodutos de pequeno porte, além de elementos de fixação para coberturas.
Entrevistado
Arnoldo Wendler, engenheiro civil, coordenador da NBR 16055 e consultor da Abece e da ABCP
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1977)
- Possui pós-graduação em engenharia de estruturas pela mesma universidade
É engenheiro titular da Wendler Projetos, desde 1980
Contato: franca@wendlerprojetos.com.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Suíça projeta laboratório para test-drive de habitações
Por: Altair Santos

O projeto suíço foi batizado de "Ninho". Concebido pelo chefe do departamento de engenharia civil e mecânica do EMPA, Peter Richner, ele consiste em um edifício-esqueleto de concreto armado, com cinco pisos abertos para a inserção das pesquisas. "O “Ninho” é a espinha dorsal, onde suas fachadas são intercambiáveis para permitir investigações de conceitos, gestão de energia e testes de materiais", diz Richner, completando que esse modelo permitirá romper a resistência da construção a inovações. "O setor é conservador, porque quem compra imóveis é conservador. Ninguém que é proprietário quer que sua propriedade seja cobaia de engenheiros", completa, em entrevista à publicação alemã Autocad&Inventor Magazin.
No "Ninho", explica Peter Richner, as experiências estarão livres de processos e indenizações. "Teremos um ambiente seguro, sem expor a risco os moradores das habitações que iremos testar", diz o engenheiro, que planeja que seu projeto possa sair do papel até o final de 2012. "Buscamos recursos e parceiros europeus da construção civil", diz. Caso consiga se autofinanciar, o "Ninho" será construído na cidade suíça de Dübendorf e abrigará 6.000 m² para pesquisas e testes. Atualmente, a ideia já conta com os apoios científicos de organismos como Eawag, ETH Zurique e Lausanne EPF, além do próprio EMPA. "Com esse projeto, chegaremos ao Darwinismo na construção civil", analisa Peter Richner.
Boa recepção
No Brasil, pesquisadores apoiam e torcem pra que o projeto "Ninho" prospere na Suíça. Entre eles está o coordenador adjunto do curso de engenharia civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Ricardo José Bertin. Para ele, iniciativas assim são um avanço no campo da pesquisa dentro da construção civil e estimulam outros países, como o Brasil, a fazer o mesmo. Confira a entrevista:
O senhor avalia que a engenharia civil carece de pesquisas mais inovadoras?
Talvez em algumas áreas, sim. No caso do Brasil, o país hoje ocupa o 13º lugar no ranking mundial em publicações sobre pesquisas na construção civil. Então, eu não diria que haja falta de pesquisas, mas sim de uma maior integração entre a indústria da construção civil - o setor empresarial - com as universidades, para que houvesse a aplicação da pesquisa.
No Brasil, o campo da pesquisa focado na engenharia civil tem registrado avanços ou carece melhorar?
Temos registrado muitos avanços. A linha de pesquisa na engenharia civil, na área de pesquisas sustentáveis e na área de construções mais limpas tem avanços enormes. É claro que em termos de pesquisas sempre há espaços para melhorar, sempre há espaços para investir, sempre há espaços para você focar mais em algum ponto. O Governo Federal está bastante preocupado com isso. Tanto é que foi divulgado recentemente um documento chamado de "livro azul", em que ele define as áreas que têm futuro na pesquisa. Uma destas áreas é a sustentabilidade de construções, economia de energia, construções com menos desperdício.
Há laboratórios no país capacitados para fazer pesquisas encorpadas como a que se propõe o EMPA?
Eu não conheço todos os laboratórios de pesquisa no Brasil e não conheço a capacidade que se teria para fazer uma pesquisa como esta do EMPA, que é testar casas inteiras, construções inteiras. Mas o IPT (Instituto Pesquisa Tecnológica) em São Paulo/SP é um dos mais bens equipados, capacitados do Brasil e, quiçá, do mundo. Outro que tem uma série de laboratórios bem capacitados é a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em termos de inovação na área da construção civil, qual o senhor qualifica como a mais impactante que tenha surgido recentemente?
Todas as pesquisas na área de construções sustentáveis. Recentemente foi inaugurado aqui na PUC-PR um centro de pesquisas em parceria com a Siemens, que é um dos seis que a empresa tem no mundo, para trabalhar com redes de energia elétrica inteligentes. A ideia é que as edificações sejam autossustentáveis, inclusive energeticamente. Este é um conceito que tem vindo com bastante força da Alemanha, dos Estados Unidos e no Brasil já está começando a se pensar com mais intensidade.
Além desta pesquisa dentro PUC-PR, há outras em desenvolvimento na universidade voltadas ao setor da construção civil?
Nós temos pesquisas na área térmica em paredes, que envolvem refrigeração e sustentabilidade. Temos também um grupo de pesquisa que se chama Eco Habitare, que trata de construções ecologicamente corretas e sustentáveis. Uma das pesquisas é a que reaproveita o pó de mármore para a fabricação de tijolos.
No universo acadêmico, como estão as pesquisas voltadas à construção civil?
Tem uma série de universidades pesquisando sobre a construção civil. A crítica que eu faria é que muitas vezes não há investimento da indústria, não há investimento do setor empresarial e não há um direcionamento. Nós não somos demandados. O setor empresarial não vem aqui e diz: olha, nós gostaríamos que vocês fizessem uma pesquisa nesta área. Está faltando isso.
A entrada da iniciativa privada como patrocinadora de pesquisas seria a solução para que o setor acadêmico buscasse mais inovações na área da construção civil?
Sem dúvida. Quando a gente pensa em inovação, a gente tem que pensar que isso tem que solucionar um problema de qualidade de vida do ser humano. A pesquisa, no meu modo de ver, tem de estar voltada para o ser humano, senão ela fica uma pesquisa muito pura. No geral, a pesquisa deve ter alguma influência sobre o ser humano para melhorar a qualidade de vida. Aí, a iniciativa privada seria importante para ajudar a focar em estudos que tenham utilização mais imediata para a sociedade.
Entrevistado
Ricardo José Bertin, coordenador adjunto do curso de engenharia civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)
Currículo
- Possui graduação em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (1982), mestrado em Transport Engineering and Operation - University Of Newcastle Upon Tyne (1992) e doutorando em engenharia mecânica pela PUC-PR
- Atualmente é coordenador do Centro de Formação de Tecnólogos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (campus Curitiba)
- É professor adjunto III do curso de Engenharia Civil
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em ferrovias, projetos, superestruturas, logística, pavimento de concreto e análise por elementos finitos
Contato: ricardo.bertin@pucpr.br
Créditos foto: Divulgação/EMPA
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Segurança na construção civil une esforços por melhorias
Empresas, organismos setoriais e representantes trabalhistas buscam soluções para reduzir acidentes e ganham apoio de programa governamental
Por: Altair Santos
Segundo o mais recente anuário estatístico da Previdência Social, entre 2010 e 2011 a construção civil teve 42.978 acidentes de trabalho com registro do CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). Reduzir essa estatística é o desafio do setor. Por isso, no final de abril de 2012, vários segmentos reuniram-se na 5ª Jornada de Segurança na Construção Civil, realizada em São Paulo/SP. Os debates foram centralizados em três questões:
- Falta de mão de obra especializada.
- Falta de conscientização quanto à necessidade de utilizar equipamentos de proteção individual e coletiva.
- Falta de informação quanto às normas e condições de meio ambiente na indústria da construção civil.

Uma das conclusões do evento, que reuniu empresas, organismos setoriais e representantes trabalhistas, é que a construção civil brasileira deve estimular a industrialização no canteiro de obras e fiscalizar melhor a mão de obra terceirizada. "A industrialização é uma solução, pois permite fazer mais rápido, com mais economia e com menos pessoas envolvidas. Partindo deste princípio, ela pode ajudar na diminuição de acidentes. Aliado a isso, é preciso que a terceirização seja melhor preparada, treinada e capacitada. Para isso, ela precisa deixar de ser informal, até para sabermos quais são as reais estatísticas que a envolvem em acidentes de trabalho", analisou Expedito Eloel Arena, um dos promotores da 5ª Jornada de Segurança na Construção Civil.
Hoje, os acidentes mais comuns na construção civil são os relacionados às quedas - estima-se que 60%. A maioria ocorre por falta de uso ou falha dos EPCs (Equipamentos de Proteção Coletiva) ou dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). "Muitas vezes, os equipamentos estão lá, mas o trabalhador não usa. Então, isso abrange informação, formação e capacitação das pessoas, para que elas saibam a importância de se seguir as normas de segurança.", alerta Expedito Eloel Arena.
Por isso, a 5ª Jornada de Segurança na Construção Civil procurou dissecar três normas que referendam a segurança do trabalho na construção civil: a NR18 – Condições e Meio Ambiente na Indústria da Construção Civil; a N12 – Máquinas e Equipamentos, e a NR35 – Trabalho em altura. Esta foi recentemente publicada em março de 2012 e trata das condições para se realizar um trabalho a uma altura superir a 2 metros. A norma estabelece que o empregador deverá promover um programa de capacitação dos trabalhadores para a realização de atividades em altura, com treinamento - teórico e prático - onde a carga horária mínima deve ser de oito horas. As obrigações gerais da NR35 entram em vigor em setembro de 2012 e a obrigatoriedade de treinamento e capacitação passa a valer daqui a 12 meses.
Veja o que diz a NR 12: Clique aqui
Veja o que diz a NR 18: Clique aqui
Veja o que diz a NR 35: Clique aqui
A 5ª Jornada de Segurança na Construção Civil, de certa forma também antecipou o programa lançado dia 27 de abril de 2012 pelo Governo Federal, batizado de Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho. Nele, está estabelecido que a educação continuada é uma das diretrizes a serem seguidas, com a inclusão de conhecimentos básicos sobre saúde, segurança no trabalho e prevenção de acidentes no currículo dos ensinos fundamental e médio das redes pública e privada. O plano também buscará revisar as referências curriculares para a formação de profissionais em saúde e segurança no trabalho, de nível técnico, superior e pós-graduação.
Segundo dados oficiais, o Brasil é o quarto colocado mundial em número de acidentes fatais do trabalho. De acordo com o Governo, é registrada no país cerca de uma morte a cada 3,5 horas de jornada diária e são gastos mais de R$ 14 bilhões por ano com acidentes de trabalho. “Tivemos praticamente 18 milhões de pessoas a mais inseridas no mercado de trabalho nos últimos nove anos. Por isso, é importante o empenho crescente para reduzir cada vez mais a quantidade de acidentes de trabalho. O maior ativo das empresas são os recursos humanos e temos de cuidar dele cada vez mais”, diz o ministro do Trabalho, Paulo Roberto Pinto.
Entrevistados
Engenheiro civil Expedito Eloel Arena, sócio da rede de lojas Casa do Construtor e promotor da 5ª Jornada de Segurança na Construção Civil
- Assessorias de imprensa dos Ministérios do Trabalho e Emprego e da Previdência Social
Contatos: assessoria@empautacomunicacao.com.br / ascom@mte.gov.br / ascom@mpas.gov.br
Créditos foto: Divulgação