Smartphones e tablets transformam canteiros de obras
Aparelhos formam o novo "kit do engenheiro". Através de aplicativos, é possível gerenciar a obra e até saber o tipo de cimento certo para cada aplicação
Por: Altair Santos
A gestão de obras conta com um novo "kit" para os engenheiros civis. São os smartphones e os tablets, que com o auxílio de aplicativos tornaram o trabalho no canteiro uma ação em tempo real com as sedes das construtoras. "Quando se pode trocar informações on-line com todos os níveis da organização, fica fácil aplicar correções e prever desempenhos futuros, além de reprogramar atividades no canteiro de obras para evitar custos extras e atender o cronograma planejado", afirma Adriana Bombassaro Alexandre, diretora de produtos da Teclógica, uma das primeiras empresas brasileiras a lançar soluções móveis para o mercado de construção civil.

O Brasil ainda não atingiu o nível já alcançado por Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul e os principais países europeus, onde as inovações de TI (Tecnologia da Informação) para os canteiros de obras praticamente tornaram-se uma obsessão das construtoras para que elas consigam maior produtividade por menor custo. No entanto, os avanços têm sido significativos, principalmente entre as empresas que atuam no setor habitacional. "Houve um crescimento significativo da TI nos canteiros de obras, sobretudo após a instalação do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas percebe-se também que as obras de infraestrutura estão cada vez mais conectadas com essas soluções, uma vez que a mobilidade que elas oferecem facilita, e muito, o trabalho das equipes", resume Adriana Bombassaro Alexandre.
A especialista, no entanto, faz uma ressalva, lembrando que boa parte das construtoras ainda utiliza smartphones e tablets, mas para uso de aplicativos que não são específicos para a gestão de canteiros de obras. Segundo ela, as empresas têm um conceito equivocado de que esses dispositivos sejam caros e, por isso, se ressentem de usar a tecnologia. "Quando elas levam em conta o ROI (Retorno sobre Investimento) gerado com a utilização dessas novas tecnologias, percebem que a alavancagem dos métodos construtivos torna-se muito mais lucrativo", explica.
Outro ponto destacado por Adriana Bombassaro Alexandre é que os aplicativos voltados para os canteiros de obras primam pela interatividade. Com isso, segundo ela, smartphones e tablets não se tornam apenas "kits do engenheiro", mas de outros envolvidos nos canteiros de obras, como mestres de obras, encarregados e operários. "Como todo mundo hoje sabe manusear um celular, não precisa de nenhuma qualificação específica para operá-los. Claro que há dispositivos mais sofisticados, como os que atuam com arquivos CAD, que requerem mais conhecimento. Mas há aplicativos para vários setores das obras, uns mais simples e outros mais sofisticados", revela.

No caso do Mobuss Construção Civil, desenvolvido pela Teclógica, é possível fazer análises parciais entre o executado e o planejado durante o dia nas obras, ou mesmo nos escritórios das empresas, garantindo um maior gerenciamento de custos e riscos. O sistema permite controle de produtividade e dos materiais utilizados no empreendimento. Também gerencia equipamentos e perdas (quebras de equipamentos, chuva, ociosidade, etc) faz análise dos processos de recursos humanos (horas trabalhadas, folgas e faltas) e gerencia a área de segurança, sempre fornecendo subsídios para redução de custos e controle da sustentabilidade ambiental. “Para o desenvolvimento da solução, nossa equipe dedicou meses no entendimento do negócio construção civil e visitou obras em todo o país. Também contamos com a parceria de duas construtoras que conduziram os testes-piloto”, diz a diretora de produtos da empresa.
Combate aos custos
A racionalização do uso de materiais, componentes em obras e produtividade dos recursos tem sido motivo de estudos e pesquisas, além de permanente discussão do setor de construção civil. Um dos estudos mais recentes na área foi realizado pela Escola Politécnica da USP e pelo SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo). Ele envolveu 16 universidades brasileiras e 100 canteiros de obras. A conclusão foi que o desperdício chega a índices relevantes de até 28%.
Além do desperdício, a indústria da construção civil ainda tem que encarar os custos das obras, que estão em crescimento contínuo. Segundo cálculos do SindusCon-SP e da FGV (Fundação Getulio Vargas) que juntos analisam o CUB (Custo Unitário Básico) da construção civil do Estado de São Paulo, por mês, em média, o preço dos materiais de construção se elevam 0,14% e a mão de obra aumenta 0,06%. "Esses dados apontam para uma tendência das empresas brasileiras buscarem cada vez mais recursos tecnológicos para um maior controle e gerenciamento dos canteiros de obras", finaliza Adriana Bombassaro Alexandre.
Cimento Itambé - Agora em embalagem digital
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O aplicativo está disponível na App Store para iPhone e iPad e também no Google Play para os smartphones com sistema Android.
Baixe o aplicativo e saiba como usar em sua obra: App Store ou Google Play.
Entrevistada
Adriana Bombassaro Alexandre, diretora de produtos da Teclógica
Currículo
- Graduada em ciência da computação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB)
- Trabalha na Teclógica, empresa localizada em Blumenau-SC, que há 18 anos atua em gestão dos processos de TI (Tecnologia da Informação)
- Liderou a equipe que atuou no desenvolvimento do Mobuss Construção Civil, aplicativo voltado para a gestão de canteiros de obras
Contato: marketing@teclogica.com.br / www.teclogica.com.br
Créditos fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Centenária, engenharia civil da UFPR mira o futuro
Ao completar um século, curso calcula ter graduado mais de 20 mil engenheiros e ajudado a construir as principais obras da América do Sul
Por: Altair Santos
Fundada em 19 de dezembro de 1912, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) comemora um século. Trata-se da primeira escola de ensino superior do país a adotar o conceito de universalização para cursos de graduação. Antes, havia apenas faculdades, como as de medicina e de engenharia. Com a UFPR, o mesmo espaço acadêmico passou a ser dividido pelos cursos de ciências jurídicas e sociais (direito), medicina e cirurgia, comércio, odontologia, farmácia, bioquímica e engenharias. "O curso era de engenharias, por que quando a universidade foi fundada aprendia-se um pouco de cada especialidade, de civil a elétrica, passando por mecânica, química, etc", explica Marcos Antônio Marino, um dos mais experientes professores da graduação de engenharia civil da universidade.

Em seus primórdios, a UFPR chamava-se Universidade do Paraná. Viabilizada pelos paranaenses ilustres Victor Ferreira do Amaral e Nilo Cairo da Silva, em 1915 ela já tinha seu prédio próprio, erguido na praça atualmente conhecida como Santos Andrade, no centro de Curitiba. Até 1951, quando foi federalizada, o edifício histórico abrigou todos os cursos da escola. Depois, a universidade começou a expandir. Em 1961, surge o centro politécnico, que passa a abrigar as graduações de engenharia. Isso, segundo Marcos Antônio Marino, reforçou a vocação da engenharia civil de formar "grandes cabeças" para o Paraná. "Tivemos governadores e ministros saídos de nosso curso. Até hoje ele continua fornecendo massa cinzenta para o desenvolvimento do estado", diz.
A engenharia civil da UFPR também ajudou a formar personalidades em toda a América do Sul, como relata Marino: "Até 1970 havia cursos de engenharia civil em Curitiba e em Porto Alegre. O de Florianópolis (UFSC) estava começando. No resto do continente, tinha cursos em Montevidéu, Buenos Aires e Santiago. Eram poucas escolas. Paraguai e Bolívia, por exemplo, não tinham cursos de engenharia. Desta forma, muita gente da América do Sul vinha estudar em Curitiba", relembra, que num cálculo aproximado estima que em 100 anos a engenharia civil da UFPR ajudou a formar pelo menos 20 mil engenheiros. "Temos tradição, um curso consagrado, sacramentado, e que faz o menino que chega aqui ver o espelho do passado", ressalta Marcos Antônio Marino.
A fase mais difícil da engenharia civil da UFPR foi vivida nos anos 1980 e 1990. A crise que abateu a construção civil atingiu também o aprimoramento do curso. Houve pouco investimento na modernização de laboratórios, mas nos cinco anos recentes os recursos voltaram a ser liberados. O novo interesse dos jovens pela engenharia civil também revitaliza a graduação. "Em 2006, a disputa do vestibular da engenharia civil era de 4,4 candidatos para uma vaga. Em 2012, chegou a 13 por vaga", recorda Marino, definindo como será o engenheiro civil que a UFPR está preocupada em formar no futuro: "O papel da nova engenharia civil é preservar o meio ambiente. A Universidade Federal do Paraná, assim como sempre esteve, está preparada para esse desafio", finaliza.

Confira a linha do tempo da UFPR: clique aqui
Entrevistado
Marcos Antônio Marino, professor titular do curso de engenharia civil da UFPR
Currículo
- Marcos Antônio Marino é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (1969)
- Tem mestrado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1978) e doutorado em civil engeneering pela University of New Mexico (1981)
- Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em estruturas, atuando principalmente nos seguintes temas: reinforced concrete, colunms e biaxial bending
Contato: engcivil@ufpr.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
ABCP capacita fabricantes de blocos de concreto
Até 2013, Associação Brasileira de Cimento Portland espera ter qualificado profissionais de 50% das empresas do setor espalhadas pelo país
Por: Altair Santos
Dados mais recentes da Bloco Brasil (Associação Brasileira dos Fabricantes de Blocos de Concreto) mostram que o setor conta atualmente com 1.300 fabricantes em todo o país. Destes, no entanto, apenas 150 possuem o selo de qualidade da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). Para conseguir atingir mais produtores, há seis anos surgiu o Programa de Desenvolvimento Empresarial (PDE) promovido em parceria entre a ABCP e o Sebrae. O objetivo é levar capacitação da mão de obra e melhor gestão às empresas. "O programa é voltado a micros, pequenos e médios fabricantes de blocos de concreto, para melhorar a qualidade do produto, aumentando a produtividade e a competitividade", explica Eduardo D’Ávila, coordenador do PDE e gerente regional da ABCP no Rio de Janeiro.

Com a consolidação do programa, a meta agora é estendê-lo a todos os fabricantes do país. Para 2013, já há um plano ambicioso: atingir 50% das empresas. No entender da ABCP, a necessidade de capacitação aumentou com o crescimento da indústria da construção civil de 2008 para cá, quando as pequenas e médias empresas ampliaram suas oportunidades e passaram a atender a uma demanda maior. “Nesse cenário, a capacitação profissional passa a ser um diferencial, já que é preciso ter uma boa gestão de custos e garantir a qualidade que o mercado exige”, afirma Eduardo D’Ávila, explicando que o PDE permite realizar análises do processo de produção, identificar deficiências e elaborar soluções para o desenvolvimento das empresas, de acordo com a região em que estão instaladas.
A ABCP relata que, em alguns casos, fábricas que aderiram ao Programa de Desenvolvimento Empresarial praticamente dobraram a produtividade. Graças a esse avanço, em 2012, segundo dados da Bloco Brasil, o país se aproximou da produção mensal de 60 milhões de artefatos. Esse número, no entanto, leva em consideração apenas as empresas credenciadas e que contam com o selo de qualidade da ABCP. Para ampliar o espectro, os esforços concentram-se em atrair os fabricantes que não estão vinculados às associações. Atualmente, esse trabalho tem sido feito com mais relevância na região nordeste. Na Bahia, por exemplo, onde o PDE age desde 2010, a produtividade cresceu 60%, com investimento em novos equipamentos, qualificação da mão de obra e redução de perdas no processo de fabricação.
Além de levar conhecimento às várias regiões do país, a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) também promove cursos em seus laboratórios, em São Paulo. Os mais recentes ocorreram em novembro de 2012 e tiveram o objetivo de capacitar empresários que estão entrando no mercado da construção civil para produzir blocos de concreto. A orientação abrange escolha do local para instalação da indústria, cenário nacional de cada setor e investimentos necessários, além de fornecer ferramentas para que o processo de fabricação de blocos de concreto seja feito com material de qualidade e controle nos custos de produção. “Estamos no caminho certo. Nosso trabalho tem levado a um aumento da capacidade de produção no conjunto das empresas e a uma maior diversificação de produtos”, finaliza Eduardo D’Ávila.
Entrevistado
Eduardo D’Ávila, coordenador do PDE e gerente regional da ABCP no Rio de Janeiro (via assessoria de imprensa da ABCP)
Currículo
Eduardo D’Ávila é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (1992) e com pós-graduação em estruturas pela Ulbra, em Canoas-RS, em 1995
Ajudou a fundar a Blocosul - associação de fabricantes de blocos do Sul do país - e comandou o escritório da ABCP até 2002, quando assumiu a gerência regional da ABCP no Rio de Janeiro
Contato: eduardo.davila@abcp.org.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Da régua de cálculo ao BIM, o que mudou na engenharia?
Uma das maiores autoridades em engenharia do Brasil, Mario Franco criou um museu particular onde é possível viajar ao longo de 60 anos na história das estruturas. Mesclando equipamentos primordiais, como a régua de cálculo, com seu vasto conhecimento, Franco, atualmente com 83 anos, traça uma linha do tempo que mostra ferramentas, metodologias e a evolução dos projetos que nortearam principalmente as construções de edifícios no país - desde a década de 1950 até os dias atuais.

Nos anos 1950, fazendo da régua de cálculo uma companheira inseparável, os projetistas se baseavam no Método de Cross para criar vigas contínuas e pórticos indeslocáveis e deslocáveis, e que se resolviam apenas com as quatro operações fundamentais. Foi assim que surgiram verdadeiras obras de arte, como o teatro Castro Alves, em Salvador, e o edifício Itália, em São Paulo, o qual foi concebido com pilares de 12 centímetros de espessura e tornou-se o primeiro do país a contar com degraus balanceados nas escadas.
Ao final dos anos 1960 surgiram as primeiras máquinas eletrônicas, que trouxeram incorporadas teclas que permitiam calcular a raiz quadrada. Ao preço de um carro popular da época, esses equipamentos foram os precursores dos computadores e começaram a decretar a aposentadoria da régua de cálculo. Um símbolo daquela época foi a Olivetti Programma 101, que possibilitou evoluções significativas nos projetos de lajes. "Surgiram os primeiros programas matriciais, sem contar que nessa época éramos muitos bons de matemática", recorda Franco.
Toda essa "tecnologia" permitiu a criação de construções mais esbeltas. Em São Paulo, o escritório de Mario Franco - o JKMF - projetou um prédio-garagem de 90 metros de altura e 9 metros de largura. Também rendeu ao engenheiro estrutural um prêmio internacional, com a criação do edifício Peugeot, que seria construído em Buenos Aires, na Argentina, e se propunha a ser o maior do mundo em concreto armado. Infelizmente, o projeto não saiu do papel, mas abriu portas para novos avanços.
Com o surgimento de calculadoras eletrônicas, como a Contex, veio a oportunidade de projetar vigas contínuas e de se pensar na protensão de edifícios. Já entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, usando programas de análises matriciais que permitiam cálculos de meio elástico contínuo, surgiu a primeira construção industrial em pré-fabricado no Brasil. Foi a fábrica da Gessy Lever, em Indaiatuba-SP. "Ficou tão bom o projeto que os ingleses levaram a ideia para construir outras fábricas pelo mundo afora", recorda Mario Franco.
A grande "evolução", porém, ocorreu na década de 1980, quando a calculadora HP 9845, da Hewllet Packard, possibilitou projetar as primeiras vigas em Concreto de Alto Desempenho (CAD) e se pensar na estabilidade global dos edifícios usando o método P-Delta. O símbolo desta fase é o edifício do Citibank, com 93 metros de altura e 20 andares, considerado até hoje um dos marcos arquitetônicos da Avenida Paulista, em São Paulo. "Para projetar aquele edifício, também precisamos contar com a intuição", releva Mario Franco.
Com a chegada dos anos 1990 vieram os PCs, os quais mergulharam a engenharia estrutural no que os especialistas chamam de "época gloriosa". Pelo motivo de que os computadores permitiram a automatização dos projetos, acoplados a ensaios aerodinâmicos e análises de vibração. Conforme as máquinas foram evoluindo, vieram projetos de prédios mais complexos. "As ferramentas possibilitaram criar edifícios inteligentes, com integração interdisciplinar e focados na busca da qualidade total. Hoje, vivemos a era do BIM (Building Information Modeling) e da valorização da robustez. E o que é robustez? É a capacidade que uma estrutura tem de resistir ao imprevisível. É para isso que toda essa evolução nos trouxe", finaliza Mario Franco.
Entrevistado
Mário Franco, engenheiro especializado em cálculos estruturais
Currículo
- Nascido em Livorno, Itália, em 1929, Mario Franco é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP, em 1951, e tem doutorado pela mesma escola, em 1967
- Foi professor da FAU/USP entre 1971 e 1998
- É considerado uma das maiores autoridades em engenharia estrutural do país
- Desde 1952 comanda o escritório da KPMF, junto com seu sócio Julio Kassoy
Contato: jkmf@jkmf.com.br / http://www.jkmf.com.br
Créditos foto: Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
2013 será o ano da produtividade no Brasil
Economistas Evaldo Alves, da FGV, e Renato Garcia, da Fundação Vanzolini, apontam desafios a serem superados para que país retome crescimento sustentável
Por: Altair Santos
A aposta do país, feita no período de 2008 a 2012, de crescer à base do endividamento da classe média, é uma fórmula esgotada, segundo avaliam especialistas. A solução, a partir de 2013, será concentrar esforços para aumentar a produtividade e a competitividade da indústria nacional. É desta tese que compartilham Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas, e Renato de Castro Garcia, da Fundação Vanzolini. "A economia brasileira está encolhendo por conta desta baixa produtividade. Portanto, a questão da produtividade vai ser colocada naturalmente no centro das preocupações. Ela é a única ferramenta para a expansão sustentável do crescimento", avalia Evaldo Alves.

Para o professor Renato de Castro Garcia, para que o estímulo à produtividade encontre um ambiente favorável no Brasil será preciso que as empresas aproveitem as medidas governamentais para aumentar a eficiência. "O governo tem buscado incentivos através da desoneração da folha de pagamento, da redução de juros e do barateamento do custo da energia. São medidas que poderão trazer resultados significativos, desde que o setor industrial, principalmente, retome o nível de investimento. Por outro lado, não se pode ignorar que as decisões de consumo estão comprometidas pelo elevado endividamento das famílias", destaca.
Evaldo Alves reforça que é preciso saber dividir o protagonismo do setor privado e do setor público. Para ele, o governo precisa dar mais estímulo às Parcerias Público Privada (PPPs) para alavancar a infraestrutura do país nos setores de energia, comunicação e transporte. Já as empresas precisam melhorar a eficiência produtiva, gerando produtos com mais qualidade e preços mais competitivos. "A produtividade deve ser um desafio permanente, mas precisa ser acompanhada por iniciativas do governo, cuja função é melhorar a plataforma produtiva em termos de infraestrutura, energia, comunicação e transporte", ressalta o economista da Fundação Getúlio Vargas.

Especificamente para a construção civil, os economistas avaliam que o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) continuará como o principal propulsor para a produtividade do setor. Segundo eles, por uma razão simples: o MCMV tem recursos permanentes para sua implementação, oriundos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e da poupança. Bem diferente das previsões feitas pelos especialistas para os programas PAC e Brasil Maior. "É preciso melhorar a capacidade gerencial do governo para que esses programas decolem. Existem recursos, mas falta planejamento", diz Evaldo Alves. "Também preciso destacar que esses programas (PAC e Brasil Maior) são medidas paliativas que pouco influenciam na produtividade das empresas", completa Renato de Castro Garcia.
Na opinião dos especialistas, mais do que criar programas o governo deveria ser menos intervencionista para incentivar a produtividade. "Todo intervencionismo provoca uma retração dos investidores, que ficam com receio de serem obstaculizados e verem prejudicado a taxa de lucro, que é a base de todo o sistema econômico do mercado", avaliam. Ainda de acordo com os economistas, quanto mais amigável a plataforma econômica mais ela abrirá caminho para a produtividade. "A empresas buscam marcos regulatórios transparentes. Normalmente, num ambiente assim, a produtividade prolifera", explica Evaldo Alves.
Entrevistados
Professores de economia Evaldo Alves, da FGV, e Renato de Castro Garcia, da Fundação Vanzolini
Currículos
- Evaldo Alves tem graduação em administração - com habilitação em administração pública, pela Fundação Getulio Vargas (1972) - e mestrado em economia pela FGV (1982), além de doutorado pela Universidade de São Paulo (2002)
- Atualmente é diretor da FGV Projetos-SP e professor extracarreira da Fundação Getulio Vargas-SP. Tem experiência na área de economia, economia internacional, administração e educação
- Renato de Castro Garcia é graduado em economia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1991), mestre (1996) e doutor (2001) em economia pela Universidade Estadual de Campinas
- Atualmente é professor do departamento de engenharia de produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em regime de dedicação exclusiva (MS3; RDIDP)
- Seus trabalhos de pesquisa estão inseridos na área de economia, com ênfase em economia industrial e da tecnologia, atuando principalmente em temas como sistemas locais de produção e aglomerações de empresas, interações universidade-empresa, indústria brasileira, política industrial, estratégias empresariais e metodologia de análise regional
Contatos: imprensa@vanzolini.org.br / http://prof.evaldoalves.com/Prof._Evaldo_Alves/Entrevistas_.html / @profevaldoalves (twitter)
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Bairro planejado é solução para bom urbanismo
Brasil já tem bons exemplos, como o Pedra Branca, em Santa Catarina, e o Riviera, em São Paulo, que contrastam com falta de planejamento do MCMV
Por: Altair Santos
Enquanto a iniciativa privada investe em bairros planejados, onde residências ou apartamentos são construídos acoplados a complexos urbanísticos, no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) estão surgindo comunidades sem qualquer infraestrutura. No Paraná há dois exemplos emblemáticos. Em Londrina, no conjunto Bela Vista, foram construídas 2.700 habitações para alojar 12 mil pessoas. Esqueceu-se, no entanto, de suprir a comunidade de escolas, creches, centros comerciais, hospitais e postos médicos, que encontram-se a uma distância mínima de dois quilômetros de distância.

Em Curitiba, no bairro Ganchinho, até 2013 serão entregues 2.800 unidades do MCMV. A população da localidade dará um salto de 11 mil para 21 mil habitantes e quem já mora na região prevê um cenário caótico, haja vista que não haverá escolas, creches, postos de saúde e outros serviços para atender a demanda. Na opinião do especialista em estruturação de projetos imobiliários, Ricardo Valls, o desordenamento urbano tem sido uma das principais falhas do programa habitacional federal. Bem diferente do que ocorre com iniciativas que têm criado bairros planejados no país.
Eles ainda são poucos, mas o sucesso estimula o surgimento de novos empreendimentos, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Os melhores exemplos são os bairros Pedra Branca, em Santa Catarina, e o Riviera de São Lourenço, em São Paulo. Na entrevista a seguir, Ricardo Valls explica o que os diferencia dos bairros que têm surgido a partir de aglomerados urbanos gerados pelo Minha Casa, Minha Vida. Confira:
A construção de bairros planejados é uma tendência no Brasil ou ainda há apenas projetos-pilotos em andamento?
É uma tendência mundial, com maior ênfase nos Estados Unidos, mas com boa consistência no Brasil. Não só é uma discussão constante nas pautas das incorporadoras e desenvolvedores urbanos, mas também dos órgãos de governo em todas as esferas, visto que tem relação íntima com questões urbanas muito atuais, em especial a mobilidade urbana e a segurança pública. Naturalmente, o Brasil ainda precisará aprender a fazer o bom urbanismo, fruto da conjugação de esforços públicos e privados, com rigoroso planejamento de longo prazo. Precisaremos de uma mudança de mentalidade, que, acredito, já estar em curso. Mas já há bons exemplos nacionais de bairros planejados e grande quantidade de projetos-piloto.
Como o senhor define o conceito do Alphaville. Ele pode ser caracterizado como um bairro planejado ou os novos empreendimentos têm características diferenciadas?
Não considero o Alphaville um bom exemplo de bairro planejado. É um condomínio residencial unifamiliar bem feito, com alguma estrutura comercial de conveniência, mas que não atende aos principais preceitos do bom urbanismo, como a grande diversidade de usos, a presença de diferentes tipologias, a menor dependência de carros, a prevalência de espaços públicos bem distribuídos e planejados, uma boa conectividade e caminhabilidade acentuada, permitindo que as necessidades cotidianas do morador sejam atendidas com caminhadas de, no máximo, 5 minutos. Além disso, o bom urbanismo não segrega públicos, não é dirigido para esta ou aquela classe. A segregação favorece a formação de ilhas sociais, com grandes prejuízos para a cidade. Uma comunidade bem formada é diversa, possui jovens e velhos, ricos e pobres, trabalho e residência, escola e lazer. Acredito que os novos empreendimentos serão bem sucedidos se obedecerem estes preceitos – e atrairão todas as classes.

Quanto tempo leva para se maturar um projeto de bairro planejado?
Segundo a experiência já consumada no Brasil e fora do país, um projeto de bairro planejado leva cerca de 20 a 30 anos para ficar maduro, com plena integração e presença de todos os usos propostos inicialmente e com a densidade populacional que o justifica e valoriza. Naturalmente, diferentes estratégias dos incorporadores podem aumentar ou diminuir este prazo, com maior ou menor risco de insucesso.
E da concepção do projeto até a entrega das chaves, quanto tempo leva para que um bairro planejado comece a ser habitado?
Vai depender do tamanho e de qual entrega de chaves estamos falando – da primeira ou da última? Porque a última vai demorar uns 30 anos, como disse. Isso em um empreendimento grande. Mas a primeira chave, caso o empreendimento não sofra muitos problemas de licenciamento e tenha uma concepção adequada, além de planejamento integrado com o poder público, poderá ser entregue em 5 anos ou até menos. Cada caso guarda as suas peculiaridades, acredito que não há um padrão.
Qual região do país está apostando mais nesse conceito de bairro planejado?
De forma geral, a tendência é nacional. Mas há mais projetos consolidados nas regiões Sudeste e Sul. Os indutores do surgimento de novos projetos com estas características serão, principalmente, os governantes e legisladores municipais. Assim, poderemos assistir ao surgimento de bairros planejados em qualquer região, sem necessário condicionamento geográfico. É mais uma consequência de uma estratégia política de bom desenvolvimento urbano, com foco no crescimento econômico. Os governos que primeiro reconhecerem as vantagens econômicas do bom urbanismo o adotarão, acredito.
Os condomínios horizontais predominam ou já há projetos que procuram mesclar casas com apartamentos?
Predominam condomínios horizontais, com certeza, mas, reforço, isto não é bairro planejado. Um condomínio fechado não é um bairro planejado. É apenas um condomínio que tem cotistas e serviços somente para eles, conveniências apenas para eles, lazer apenas para eles. No bairro planejado, a mescla de casas, apartamentos, lojas, comércios, escritórios, prédios cívicos e áreas de convivência social ou lazer é muito bem-vinda. Um ótimo exemplo é a Pedra Branca, em Santa Catarina. Outro caso é o do Riviera de São Lourenço, em São Paulo.
Qual é a área ideal para se desenvolver um bairro planejado?
Qualquer escala pode ser admitida para o planejamento urbano bem feito. Eventualmente, podemos falar da revitalização de bairros já existentes, intervenções pontuais que revigoram uma área decadente e, com isto, contaminam positivamente o entorno, alcançando maior escala de forma espontânea – como Puerto Madero, na Argentina. Mas para ter viabilidade econômica para o empreendedor, áreas um pouco maiores, acima de 15 hectares, são mais adequadas ao bairro planejado que sai do zero. Em áreas muito grandes, o faseamento inteligente é determinante para a valorização de cada nova etapa e aumento da margem de lucro.
Como esses empreendimentos privados conversam com o poder público (prefeituras) para organizar a infraestrutura dos bairros planejados?
Este ainda é um diálogo bastante travado aqui no Brasil. O que observamos, geralmente, são os governantes tentando empurrar suas responsabilidades infraestruturantes para os empreendedores e estes tentando obter benesses descabidas em troca. Se cada um fizer seu papel, a viabilidade da expansão urbana organizada aumentará significativamente. Para isso, é necessário que tenhamos maior sensibilidade e respeito com o bem comum, com o compromisso de longo prazo, que deve transcender interesses políticos, partidários ou econômicos. O futuro da cidade, que é um patrimônio de todos os que nela vivem, precisa estar à frente de todo e qualquer outro interesse particular. Caso contrário, a infraestrutura acompanhará os melhores acordos e não necessariamente o melhor planejamento urbano.
O programa Minha Casa, Minha Vida tentou em algumas regiões erguer novos bairros, mas esqueceu de suprir as novas residências de infraestrutura. O que faltou neste caso?
Uma análise rápida pode demonstrar que o governo federal, ao incentivar o crédito de forma exacerbada, gerou uma demanda difícil de controlar – tanto de consumidores quanto de produtores. A própria Caixa Econômica Federal, órgão central do governo neste programa, tem sido protagonista dos maiores problemas relacionados ao programa. Assim, avalio que alguns municípios podem ter sido pegos de surpresa quando foram invadidos por empreendedores interessados. Não estavam preparados para recebê-los. Houve também muita mudança de regras ao longo da implantação – por exemplo, os acessos viários não eram obrigatoriamente por vias asfaltadas. Depois, passaram a ser. Não há empreendedor que aguente tanta surpresa: crédito em colapso, custos imprevistos. Tem que ser mágico para lucrar neste cenário.
Um empreendimento como um bairro planejado é construído por um pool de construtoras ou há construtoras que abraçam empreendimentos deste porte sozinhas?
Há vários modelos de negócios com sucesso e podem ser com vários ou um único construtor/incorporador. É comum, cada vez mais, a associação do incorporador com o mercado financeiro, que começa a ter produtos estruturados especificamente para o desenvolvimento urbano. Desta forma, o risco e as competências são divididas, o que traz enormes benefícios para o empreendimento.
Entrevistado
Ricardo Valls, especialista em estruturação de projetos imobiliários
Currículo
- Graduado e pós-graduado em administração de empresas pela PUC-RJ
- É sócio da Imobisul, empresa com atuação na estruturação de projetos imobiliários para a captação de investimentos financeiros
- Também é representante no sul do Brasil da empresa americana DPZ (www.dpz.com) um dos ícones do novo urbanismo e planejadora/desenhista de mais de 300 cidades ou bairros planejados em todo o mundo
Contato: ricardo@valls.com.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Com um ano, CAU ainda mapeia arquitetos do Brasil
Censo organizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo é fundamental para saber quem são e quais são as perspectivas dos profissionais que atuam no país
Por: Altair Santos
Não é à toa que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo escolheu o dia 15 de dezembro como data de fundação. O marco coincide com o aniversário de Oscar Niemeyer, que recebeu o registro número 1 do CAU. Em 2012, o conselho, que desvinculou arquitetos e urbanistas do Confea/CREA, completa um ano. Neste período, o maior desafio tem sido identificar os profissionais que atuam em todo o país.

Por isso, o CAU promove um censo para mapear a categoria. O trabalho tem sido feito paralelamente à emissão da carteira de identidade profissional de arquitetos e urbanistas. "Agora que temos um conselho exclusivo, pretendemos fazer uma pesquisa abrangente para conhecer quem são os profissionais de arquitetura e urbanismo do Brasil. O objetivo é estratificar o nosso conjunto para podermos nos aproximar e ter um CAU cada vez mais útil para todos”, explica o ouvidor geral do CAU, José Eduardo Tibiriçá.
Os dados mais recentes, divulgados Confea/CREA, revelam que em 2010 havia 79.093 arquitetos e urbanistas e engenheiros-arquitetos no Brasil. Destes, 57,22% concentravam-se na região Sudeste do país, 21,28% na região Sul, 11,73% na região Nordeste, 6,76% no Centro-Oeste e 3,01% no Norte. Ainda de acordo com a pesquisa, que contou com a participação da ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo), o Brasil forma anualmente 6.500 profissionais nos 200 cursos espalhados no território nacional.
Com o censo, que tende a atualizar esses números e aprofundar os dados, o Conselho espera definir uma política salarial para a categoria, identificar profissionais de outras áreas que estejam desenvolvendo atividades de atribuição exclusiva a arquitetos e urbanistas e definir a geografia dos profissionais no país, até para estimular a criação de novos cursos em instituições de ensino. Além disso, o CAU trabalha na consagração de um código de ética e na criação de um manual de fiscalização e exercício profissional.
Para o presidente nacional do CAU, Haroldo Pinheiro, além de organizar o Conselho é obrigação da atual diretoria conduzir debates sobre a atualização do ensino de arquitetura e urbanismo, assim como dar ênfase à responsabilidade técnica do setor. "Estamos determinados a lutar pela correta compreensão da importância da nossa profissão e pela universalização do acesso à arquitetura e urbanismo de qualidade", destaca.
A criação do CAU foi o último decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com data de 31 de dezembro de 2010. Amparado pela lei n.º 12.378, o Conselho dota de personalidade jurídica de direito público o exercício da profissão de arquitetura e urbanismo. De acordo com Haroldo Pinheiro, trata-se de uma "realidade irretornável". "O apagão que havia sido previsto para a arquitetura e urbanismo não ocorreu. Estamos concluindo as normas fundamentais para o funcionamento do nosso conselho e abrindo discussões públicas sobre os diversos assuntos de interesse da sociedade, no que se refere ao setor", conclui.
Entrevistado
Haroldo Pinheiro, presidente nacional do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR)
Currículo
- Haroldo Pinheiro é arquiteto e urbanista, formado pela Universidade de Brasília (1980). Entre seus principais trabalhos, é autor do projeto e membro da direção da obra de retrofit do Palácio do Congresso Nacional, em Brasília, com supervisão de Oscar Niemeyer
- Também é coautor do anteprojeto de arquitetura e urbanismo para alteração no centro urbano de Brasília – SHN/SDN, com Lúcio Costa
- Atuou em inúmeros projetos e obras com o arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), fundando, em sociedade, o Instituto Habitat
- Foi presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e membro do Conselho Superior da União Internacional dos Arquitetos (UIA)
- Atualmente é presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR)
Contato: comunicacao@caubr.gov.br / www.caubr.org.br
Créditos foto: Divulgação/CAU
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Bons e maus exemplos ajudam a evitar colapso progressivo
Caso Ronan Point, ocorrido em 1968, em Londres, foi significativo para a engenharia estrutural, assim como o atentado ao prédio do Pentágono, em 2001
Por: Altair Santos
Uma das sumidades nacionais em projetos estruturais, o engenheiro civil Antonio Carlos Reis Laranjeiras cita que o fenômeno conhecido como colapso progressivo é abordado pelas normas brasileiras de forma sumária e sem maiores aprofundamentos. Ele se refere à NBR 9062- estruturas pré-moldadas - e à NBR 6118 - projetos de estruturas de concreto -, que está em processo de revisão. Quando for republicada, em 2013, a nova NBR 6118 será mais abrangente para abordar os cuidados que devem se tomados para se evitar esse tipo de patologia. Porém, enquanto a norma ainda está em fase de elaboração de seu texto final, o que os engenheiros estruturais fazem é se apegar nos bons e maus exemplos para que seus projetos não passem nem perto do risco de sofrer colapso estrutural.

Recentes desabamentos ocorridos no Brasil realçaram a preocupação dos especialistas com o risco de as edificações virem a sofrer esse tipo de patologia. Por isso, atualmente, a segurança estrutural passou a ser tema de um bom número de seminários e palestras. Um dos mais recentes ocorreu no ENECE 2012 (Encontro Nacional de Engenharia Estrutural e Consultiva) onde o engenheiro Justino Vieira explicou que os riscos de colapso progressivo ocorrem, basicamente, em duas situações: na fase de execução da obra, quando o colapso pode se dar por baixa resistência do concreto, retirada prematura do escoramento ou aplicação de técnica inadequada, ou, quando o prédio já está concluído, por erros de projeto ou intervenções de terceiros na estrutura do edifício.
Justino Vieira cita um exemplo emblemático para a engenharia estrutural, que foi o caso Ronan Point. Trata-se de uma edificação construída na região oeste de Londres, que em 1968 teve parte de sua estrutura afetada por um colapso progressivo. Construído com painéis portantes pré-moldados, o prédio foi alvo de explosão de um botijão de gás localizado no 18º andar. Isso causou o desmoronamento em cadeia dos painéis portantes, trazendo abaixo uma parte do edifício. "Foi um acidente que não poderia ter atingido as proporções que atingiu, mas isso ocorreu por que os pilares e as vigas de transição falharam", explica o engenheiro, lembrando que o colapso progressivo está ligado à desproporção entre a causa e o dano final que ela causa a uma estrutura.

A partir do caso Ronan Point, as normas britânicas vieram sofrendo revisões constantes até culminar na BS 5950-2000, que hoje é tida como referência mundial para que construções se protejam do risco de colapso progressivo. Justino Vieira cita ainda que outro bom exemplo contra esse tipo de patologia ocorreu no atentado ao Pentágono, em 2001. O fato de o prédio ter resistido a um ataque aéreo demandou estudos sobre sua estrutura, e que passaram a nortear futuros projetos. "O Pentágono tem tudo de bom que se possa imaginar. Há pilares sistemáticos, harmoniosamente distribuídos, e a estrutura é fortemente porticada. Os pilares principais contêm concreto confinado e a sobrecarga projetada é muito maior do que necessitaria", elogia.
Outro bom exemplo, cita o especialista, está no Empire State Building, em Nova York. "É um prédio de uma robustez enorme. Por quê? Por que há redundância das estruturas. Isso se consegue projetando vigas e pilares pouco espaçados, pensando em vigas contínuas que resistam à torção, em pilares bem confinados e em lajes com armaduras anticolapso progressivo. É com uma boa conectividade horizontal e vertical que se garante a redundância das estruturas e se evita a construção de castelos de cartas", ensina, concluindo que hoje, além de normas mais rigorosas, os engenheiros estruturais têm a tecnologia a seu favor. "Antigamente prevalecia a sensibilidade e o desconfiômetro. Hoje há softwares que avaliam esforços numa amplitude muito maior. Basta saber usá-los bem", completa.
Entrevistado
Justino Vieira, professor na Universidade Federal Fluminense e na PUC-Rio
Currículo
- Justino Vieira é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com mestrado pela UFF
- É professor das cadeiras de sistemas isostáticos, estruturas de edifícios e complementos de concreto armado, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio e na UFF
- É associado da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) no Rio de Janeiro.
- Atua na área de projeto de edificações em concreto armado desde 1970 e é sócio da Justino Vieira Monica Aguiar Projetos Estruturais
Créditos foto: Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Novo forno da Itambé atrai mais visitas à fábrica
Companhia tem programa destinado a clientes, estudantes de engenharia civil e arquitetura, além de associações, sindicatos e institutos ligados à construção civil
Por: Altair Santos
A terceira linha de produção da Cia. de Cimento Itambé, instalada na fábrica de Balsa Nova, na região metropolitana de Curitiba, tem servido também para alavancar o programa de visitas da empresa. Desde a instalação dos novos equipamentos, em 2012, a unidade de produção e a mina receberam 239 pessoas, entre clientes, profissionais da construção e estudantes de engenharia civil e arquitetura. Associações, sindicatos e institutos ligados ao setor também se inscrevem para acompanhar todas as etapas do processo de fabricação de cimento.

O programa formal da Cia. de Cimento Itambé começou em 2005, embora a empresa desde a sua fundação, já levasse clientes e formadores de opinião à fábrica. A visita é agendada previamente, por questões de segurança, e para a preparação dos setores para receber os visitantes. Um assessor técnico faz o acompanhamento, e no início da visita faz uma palestra sobre o processo da fabricação. A Itambé fornece todos os equipamentos de proteção individual e o agendamento é feito através do preenchimento de formulário no site www.cimentoitambe.com.br.
Entre os visitantes que recentemente estiveram na fábrica da Cia. de Cimento Itambé estão os diretores da ASCON Vinhedos (Associação das Empresas de Construção Civil da região de Bento Gonçalves-RS) e da Bento Concretos. "Estivemos em uma comitiva de quinze pessoas e conhecer o novo parque fabril só reforçou para nós a qualidade da Itambé", disse Alan Scomazzon, diretor da Bento Concretos, que usa Cimento Itambé para produzir concreto para pré-moldados, tubos, calhas e galerias.
Para Diogo Parisotto, presidente da ASCON Vinhedos, a visita à Cia. de Cimento Itambé permitiu fortalecer a marca da empresa junto à associação. "Pudemos esclarecer todas as nossas dúvidas e verificar todo o processo de fabricação. Nos foi proporcionado uma troca fantástica de conhecimento. Desta forma, a imagem da Itambé ficou ainda mais fortalecida perante nosso público, pois percebemos a seriedade com que a empresa trata de seus processos, materiais e funcionários", afirmou.
Parisotto afirma que o setor da construção civil na região da serra gaúcha passa por uma fase de crescimento constante. "O mercado na serra gaúcha é um mercado muito eletivo e forte, onde a região se destaca pelas características de imóveis com um padrão de construção muito qualificado. Por isso, a Cia. de Cimento Itambé é uma parceira importante nessa nossa preocupação de crescer com sustentabilidade", comenta o presidente da ASCON Vinhedos, que foi fundada em 1996 e reúne construtoras e incorporadoras, prestadores de serviço, lojas de materiais de construção e indústrias cimentícias.
Entrevistados
- Diogo Parisotto, presidente da ASCON Vinhedos
- Alan Scomazzon, diretor da Bento Concretos
Currículos
- Diogo Parisotto é graduado em administração de empresas pela UCS (Universidade de Caxias do Sul) e pós-graduado na FGV em MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e da Construção Civil
- Atua há 17 anos no ramo da construção civil e ocupa o cargo de sócio-diretor da Parisotto Construções
- É presidente da ASCON Vinhedos e diretor do setor da construção civil do CIC (Centro da Indústria e Comércio) de Bento Gonçalves-RS
- Alan Scomazzon é graduado em administração de empresas e há três anos é diretor da Bento Concretos
Contatos: comercial@parisottoconstrucoes.com.br / comercial@bentoconcretos.com.br
Créditos foto: Divulgação/Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Benefícios do coprocessamento são irrefutáveis
Para o setor de cimento, queima de resíduos não representa apenas a substituição de combustíveis fósseis, mas uma ferramenta de gestão de passivos ambientais
Por: Altair Santos
No Brasil, o coprocessamento de resíduos em fornos da indústria de cimento tende a atingir em 2013 a marca de 1,5 milhão de toneladas. A taxa de crescimento, em relação a 2012, será de 10%, como prevê o geólogo Yushiro Kihara, gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). "Ao longo dos últimos anos, notamos o crescimento da utilização de resíduos em fornos de cimento, como combustível alternativo ou substituto de matéria prima. Mantendo-se a taxa histórica, estima-se para 2013 uma evolução do coprocessamento próxima a 10%", diz.

Desde a década de 1980 a indústria nacional de cimento atua com coprocessamento de resíduos. Hoje, o setor é referência internacional, por seu excelente desempenho em termos de emissão específica de CO₂ - equiparável a países como Estados Unidos, União Europeia e Japão. "Essa posição é fruto de um grande esforço das indústrias que realizam, há anos, ações pela redução das emissões, dentre as quais o coprocessamento é a principal ferramenta", destaca Yushiro Kihara.
Isso se deve ao fato de o coprocessamento ter agregado competitividade às cimenteiras. "Ele gera economia de recursos naturais não renováveis, tais como combustíveis convencionais e matérias primas, causando redução significativa dos custos de produção e, como consequência, tornando a empresa mais competitiva", explica o engenheiro Ronaldo Ferrari, gerente de coprocessamento da Cia. de Cimento Itambé, que tornou-se parceira da ABCP num projeto que se propõe a explicar as vantagens ambientais do coprocessamento.
Segundo Yushiro Kihara, entre as alternativas de destinação de resíduos e passivos ambientais, o coprocessamento é o que reúne os melhores benefícios econômicos e ambientais, pois elimina definitivamente os resíduos, preservando jazidas e reduzindo a pegada ambiental das atividades extrativas. Um exemplo emblemático é o que a indústria de cimento faz com os pneus inservíveis - hoje o principal resíduo coprocessado no Brasil. Somente no ano de 2011 registrou-se a recuperação térmica de mais de 45 milhões de pneus utilizados como combustível alternativo para a produção de cimento. "Com isso, presta-se um serviço de saúde pública ao país, ajudando no combate à dengue", alerta.
Atualmente, a indústria brasileira de cimento é composta por 15 grupos, que, juntos, reúnem 81 unidades de produção espalhadas pelo país. Destas fábricas, 52 são dotadas de fornos que possuem tecnologia para coprocessar resíduos e 36 estão licenciadas para operar o coprocessamento. Há a tendência deste número aumentar, haja vista que o setor vem se modernizando e adquirindo fornos dotados de equipamentos específicos, como pré-aquecedores e pré-calcinadores - essenciais para que possam utilizar diferentes tipos de resíduos sem afetar a qualidade do cimento produzido. "Uma das premissas básicas do coprocessamento é não influenciar na qualidade do cimento produzido, além de não causar impactos ambientais significativos, não afetar as condições de saúde e segurança e não causar danos aos equipamentos utilizados na fabricação", frisa Ronaldo Ferrari.
Parceira ambiental

A partir da lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos - aprovada em 2010 e que prevê a extinção dos lixões até 2014 -, a indústria cimenteira tende a se tornar uma grande parceira ambiental do país, como ressalta Yushiro Kihara. "O coprocessamento nos fornos de cimento é uma das alternativas mais eficazes para a destinação ambientalmente correta e segura de grandes volumes de resíduos. A contribuição da indústria tende a se tornar mais significativa após 2014, pois o que se verifica atualmente é que no Brasil se descartam, por dia, 200 mil toneladas de resíduos urbanos e menos de 2% desse volume é reciclado. E mais agravante: quase 40% são lançados no ambiente", cita.
De acordo com Ronaldo Ferrari, a indústria de cimento está preparada para absorver os resíduos passíveis através da tecnologia de coprocessamento. "Trata-se de uma destinação definitiva e mais nobre do que aterros ou lixões", destaca. Já Yushiro Kihara complementa que coprocessar o lixo urbano será o novo estágio do coprocessamento. "Segundo o artigo 1.º da Resolução 264 do CONAMA, é proibido o coprocessamento de resíduos domiciliares brutos, ou seja, não classificados. Mas o coprocessamento de resíduos domiciliares tratados poderá constituir, após a extinção dos lixões, numa excelente opção para amenizar o problema da saturação de aterros municipais. No que depender da indústria cimenteira, ela está pronta para cumprir essa função", finaliza.
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Entrevistados
Yushiro Kihara, gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e Ronaldo Ferrari, gerente de coprocessamento da Cia. de Cimento Itambé
Currículos
- Yushiro Kihara é geólogo graduado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP (1969), mestre em mineralogia pelo Instituto de Geociências da USP (1973) e doutor em mineralogia e petrologia pelo Instituto de Geociências da USP (1982).
- Atualmente é professor doutor do Instituto de Geociências da USP e gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
- Autor e coautor de 100 trabalhos técnico-científicos publicados em revistas e anais de congressos nacionais e internacionais.
- Ronaldo Ferrari é engenheiro químico, com especialização em gestão em engenharia ambiental
- Ocupa o cargo de gerente de coprocessamento da Cia. de Cimento Itambé.
Contatos: yushiro.kihara@abcp.org.br / ronaldo@cimentoitambe.com.br
Créditos foto: Divulgação/Itambé








