China promete prédio mais alto do mundo em tempo recorde
Sky City One será entregue em abril de 2014 e obras começaram em 20 de julho de 2013. Edificação em aço e concreto terá 838 metros de altura
Por: Altair Santos
No dia 20 de julho de 2013, na cidade de Changsha, no centro-sul da China, começou a construção daquele que será o novo prédio mais alto do mundo. A edificação, cujo projeto prevê altura de 838 metros, irá superar em 10 metros o Burj Khalifa, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e está a cargo do grupo Broad Group.

Batizado de Sky City One, o prédio terá um conceito de cidade vertical para 30 mil pessoas - englobando escolas, hospitais, escritórios, setor habitacional e shopping centers - e promete ser construído em tempo recorde. O consórcio, que conta com a participação de chineses e ingleses, estima que as fundações da obra estarão prontas em dezembro de 2013. A partir daí, os 220 andares serão erguidos até abril de 2014, a um custo de 1,46 bilhão de euros - aproximadamente R$ 5 bilhões.
O arranha-céu usará estrutura mista de aço, paredes pré-moldadas de concreto e blocos modulares para agilizar a construção, como explica o engenheiro civil André Gertsenchtein, diretor-superintendente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE). "Trata-se de uma edificação executada com estrutura metálica especialmente projetada e industrializada para fins prediais, pouco utilizada no Brasil. Além disso, usará elementos construtivos pré-moldados e modulares. É quase como uma montagem de Lego, bastante otimizada", compara.

Serão empregadas 270 mil toneladas de aço e estimados 93 mil m³ de concreto - cerca de 60 mil m³ só para as fundações. André Gertsenchtein destaca por que o volume de concreto empregado é relativamente pequeno para uma obra desta envergadura. "Grandes estruturas de concreto exigem tempo de cura (secagem) das lajes, o que tornaria inatingíveis os prazos definidos no projeto", diz.
Para o especialista, opinar sobre a confiabilidade de uma construção deste tamanho depende de uma análise intrínseca do projeto. "A engenharia atual é capaz de projetar com segurança edifícios bastante altos, ainda que estes tenham peculiaridades que devam ser levadas em conta nos projetos, como o esforço devido ao vento. Por isso, não é possível expressar opinião sobre a confiabilidade da obra sem que se tenha acesso ao projeto. O método construtivo adotado é determinante na análise de confiabilidade versus prazo de execução. Como já disse, uma estrutura de concreto jamais poderia ser executada neste tempo", afirma.
André Gertsenchtein reconhece, porém, que há tecnologia suficiente para dar conta deste desafio proposto pela China. "A engenharia hoje é globalizada e a China aproveita esta tecnologia e viabiliza sua aplicação", avalia. Os motivos que levam aquele país a ter acesso a essa engenharia de vanguarda é que lá existem leis que favorecem a produção, sem as amarras brasileiras, como a legislação ambiental. "Se por um lado isto faz da China um país bastante criticado por sua poluição, por outro torna possível executar projetos inovadores em ritmo que, no Brasil, não seria possível", completa.

O Sky City One empregará 20 mil operários em sua construção. Sete mil deles estarão fora do canteiro de obras, atuando nas etapas industriais. Estará a cargo deles a fabricação das peças pré-moldadas, dos módulos e das estruturas de aço. Por isso, o sucesso do empreendimento está na forma como será feita a gestão da obra. "É muito importante, neste caso, a aplicação de conceitos estudados na engenharia de produção, pois pequenos atrasos na execução desta ou daquela operação podem, em função da escala, resultar em atrasos expressivos quando se considera a obra como um todo", explica o diretor-superintendente da FDTE.
Nos quesitos gestão de obra e industrialização, a China tornou-se referência mundial. A ponto de outros quatro edifícios com mais de 500 metros de altura estarem em construção naquele país e de outros onze estarem em fase de projeto. Os empreendimentos que já têm canteiros instalados são:
• Shanghai Tower, em Shanghai (632 metros) com conclusão até o 2º semestre de 2014.
• Goldin Finance 117, em Tianjin (597 metros) com conclusão até 2015.
• Ping An Finance Center, em Shenzhen (660 metros) com conclusão até 2016.
• Greenland Center, em Wuhan (636 metros) com conclusão até 2017.
Veja vídeo sobre o Sky City One
Entrevistado
André Stagall Gertsenchtein, diretor-superintendente da FDTE
Currículo
- André Stagall Gertsenchtein é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP (1989)
- Atua como consultor e é presidente do conselho consultivo do Instituto de Engenharia
- Também é presidente do Instituto Brasileiro Veicular
- É diretor-superintendente da FDTE (Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia ) organismo de apoio à Escola Politécnica da USP
- Foi ex-vice-presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo
- Foi diretor responsável pela área comercial de construtora na área de infraestrutura e concessões (estradas, portos, aeroportos) por 15 anos.
Contato: asg@fdte.org.br
Créditos fotos: Divulgação/ Broad Group
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sistemas construtivos inovadores chegam ao Minha Casa, Minha Vida
Construções que permitem reduzir o custo das unidades e elevar a produtividade, sem prejudicar a qualidade, tendem a dar impulso ao Programa
Por: Altair Santos
É consenso entre os players da construção civil que o programa Minha Casa, Minha Vida precisa aderir aos sistemas construtivos inovadores para ganhar produtividade, reduzir custos e conseguir combater o déficit habitacional brasileiro, hoje estimado em 5,461 milhões - segundo dados divulgados em julho de 2013 pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (SindusCon-SP) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Para que os sistemas inovadores ganhem espaço no MCMV, hoje eles contam com um facilitador que é o SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas) como explica Júlio César Sabadini de Souza, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). "Ele é um indutor da inovação tecnológica na construção civil. Em razão de não haver norma nacional a respeito de projeto, execução e especificação de materiais, só podem ser empregados os sistemas construtivos inovadores avaliados no âmbito do SINAT e que possuem DATec (Documento de Avaliação Técnica)", diz.
Entre os sistemas avaliados, os que têm encontrado menor resistência são os que utilizam painéis de concreto, paredes de perfis de PVC preenchidos com concreto e os sistemas de estrutura leve metálica (light steel frame). Mas nenhum supera o de parede de concreto moldada “in loco”. Esse, definitivamente, já está integrado aos processos construtivos em uso no MCMV.
O motivo é que desde 2012 ele está normatizado pela ABNT NBR 16055 - Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos. "Essa tecnologia tem sido utilizada em obras do MCMV e, que eu saiba, não enfrenta resistências", afirma Júlio César Sabadini de Souza, para quem o uso frequente do sistema foi estimulado pela existência de uma nova norma, a qual especifica procedimentos de execução, projeto e requisitos mínimos.

Outra vantagem desta tecnologia é que, por ser recente, a normalização já veio adequada às exigências da norma de desempenho (ABNT NBR 15575) em seus requisitos de isolamento térmico e acústico. Além disso, ela garante produtividade. "No caso do sistema de paredes de concreto, pode-se obter paredes estruturais já com as instalações embutidas, e que permitem a aplicação dos acabamentos diretamente sobre as paredes, sem necessidade de revestimento. Então está se reduzindo etapas de execução e obtendo-se ganhos de produtividade no processo", explica o pesquisador do IPT.
Segundo dados da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) a expectativa é que até 2024 pelo menos 30% das construções habitacionais utilizem sistemas industrializados como o de paredes de concreto. "Hoje já existe um bom número de construtoras viabilizando unidades habitacionais através deste sistema. É desta maneira que ele se consolida: com um volume suficiente de unidades para se diluir o custo da fôrma. Assim, é natural que a tecnologia seja empregada em grandes conjuntos habitacionais", estima Júlio César Sabadini de Souza, lembrando outra vantagem da entrada de sistemas inovadores no MCMV. "Como geram menos resíduos, levam vantagem sob o ponto de vista ambiental", conclui.
Entrevistado
Júlio César Sabadini de Souza, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)
Currículo
- Júlio César Sabadini de Souza é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de São Carlos (1993), com mestrado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (2003)
- Atualmente é pesquisador II do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) atuando principalmente na avaliação de desempenho de sistemas construtivos
Contato: sabadini@ipt.br
Créditos fotos: Divulgação / Doria
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Para o mercado, conforto térmico faz a diferença
Habitações que conseguem ser eficientes em relação à zona climática em que foram construídas economizam energia e estão valorizadas após a NBR 15575
Por: Altair Santos
Desde 2008, quando a norma de desempenho (ABNT NBR 15575 - parte 1 a parte 6) entrou em debate público, o tema eficiência térmica foi um dos que mais causou impacto no mercado. Hoje, com a norma já em vigor, isso se confirma. As construtoras brasileiras, sobretudo as voltadas para o setor habitacional, estão cada vez mais atentas à necessidade de oferecer conforto compatível com as regiões climáticas em que seus empreendimentos são construídos. Quem consegue cumprir essa exigência da NBR 15575 começa a fazer a diferença perante o consumidor. "As pessoas estão valorizando cada vez mais o conforto térmico, porque perceberam que as edificações que apresentam essas soluções gastam menos energia", afirma a arquiteta Patrizia Chippari.

No entanto, conforto térmico não se obtém depois que a obra estiver concluída. É importante prever essa solução no projeto da edificação, até por uma questão de custo. "Quando a preocupação com o conforto térmico da edificação existe desde a fase do desenvolvimento do projeto, os custos são reduzidos. O que muda é que o projetista já passa a considerar esse aspecto no seu planejamento. Podem ser necessários alguns gastos extras em aquisição de materiais, mas a economia posterior muitas vezes compensa o investimento inicial. Perfis de portas e janelas em PVC, por exemplo, costumam ser mais caros, mas garantem melhor isolamento para o ambiente e ajudam a garantir tanto o conforto térmico quanto o acústico", explica Patrizia Chippari.
No projeto, além da escolha de materiais, é importante também levar em consideração outros fatores que influenciam no desempenho térmico da edificação. Entre eles, a localização do terreno e a posição do imóvel no terreno, a questão dos ventos e o posicionamento de portas e janelas. Também é fundamental valorizar itens como insolação, presença de prédios ou outras edificações na vizinhança e a zona climática onde a obra será construída. Se for em regiões quentes, é importante valorizar o sol da manhã; se em regiões frias, a insolação da tarde é mais relevante. Tratam-se de fatores que, segundo a arquiteta Patrizia Chippari, influenciam na produtividade e na qualidade de vida dos que irão habitar a edificação. "A valorização do conforto térmico é um fator de produtividade", ressalta.

Cálculos estimam que uma habitação que tenha bom desempenho térmico consegue poupar até 10% de energia por mês. No caso de a edificação estar localizada em zona climática quente, a eficiência se obtém trocando o uso de ar-condicionado por soluções como brise soleil - estruturas metálicas, de madeira ou de alvenaria que são projetadas levando em consideração a posição do imóvel em relação à insolação. O aparato garante sombra no interior das edificações a partir de determinados horários. Outras opções estruturais são os tetos verdes e as fachadas com placas especiais, instaladas à frente da parede - a sete centímetros de distância - que formam um "colchão" de ar no local e diminuem a transmissão de calor do ambiente externo para o interno.
Se a obra estiver em uma região fria, é fundamental estar atento às especificações dos caixilhos, da vedação das janelas, da qualidade dos tijolos (cerâmicos ou de concreto) e do revestimento do piso e das paredes. Por causa da norma de desempenho, o mercado de materiais já oferece uma série de produtos que, quando usados na fase de construção, garante eficiência térmica ao empreendimento. Entre eles, mantas para serem instaladas entre o piso e o contrapiso, lajes pré-fabricadas com elementos como o isopor, papéis de parede, janelas com vidro duplo e até portas com componentes isolantes. É importante, porém, levar em consideração a inércia térmica da edificação (capacidade de contrariar as variações de temperatura no seu interior, em relação ao ambiente externo) fazendo-a resistir à zona climática em que foi construída. Em regiões de clima seco e frio, o ideal é buscar uma alta inércia térmica. Já em regiões litorâneas, onde predomina o clima úmido e quente, se deve trabalhar com baixa inércia térmica.
Entrevistada
Patrizia Chippari, arquiteta, especialistas em projetos habitacionais e sócia-diretora da Espaço Livre Arquitetura
Currículo
- Patrizia Chippari é graduada em arquitetura e urbanismo pela Universidade Mackenzie (SP)
- Em 2004, idealizou a Espaço Livre Arquitetura, que já desenvolveu mais de 45 projetos de arquitetura, corporativos e residenciais
- Em 2012, organizou um curso in company em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre gestão de projetos, justamente para garantir a eficiência dos processos internos e garantir o cumprimento de prazos
Contato: contato@espacolivre.arq.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Corretor imobiliário vence queda de braço contra engenharia
Decisão judicial polêmica contraria norma técnica, código do consumidor e lei federal, que reservam avaliações aos engenheiros e aos arquitetos
Por: Altair Santos
Recentemente, uma disputa judicial que se arrastava por quase sete anos foi finalizada com vitória para os corretores de imóveis. A categoria obteve sentença favorável no Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF) contra uma ação declaratória movida pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape) e pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea-Crea). Nela, questionava-se a resolução do Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis) que autoriza o corretor de imóveis a elaborar parecer técnico de avaliação mercadológica. No entender do Ibape e do sistema Confea, a ABNT NBR14653 - Avaliação de bens, o Código de Defesa do Consumidor e a lei federal nº 5.194/66 definem que somente profissionais cadastrados no Crea podem emitir avaliações.

De acordo com o presidente do Cofeci, João Teodoro da Silva, a decisão judicial foi amparada pela nova realidade dos corretores de imóveis, onde, segundo ele, 70% dos profissionais inscritos no sistema já têm curso superior. Aliás, a decisão judicial favorável à categoria deixa claro que a avaliação do corretor só será reconhecida se ele tiver "diploma de curso superior em gestão imobiliária ou equivalente". "O reconhecimento da profissão pela sociedade e pelos poderes de nossa República são fatores muito significativos, que decorrem de sucessivas ações realizadas pelo Cofeci e pelos Crecis, como, por exemplo, a luta permanente pela melhoria dos conhecimentos gerais e profissionais dos corretores de imóveis", disse. No Brasil, a regulamentação da profissão de corretor de imóveis existe desde a lei 4.116, de 27 de agosto de 1962, e que foi substituída pela lei 6.530, de 12 de maio de 1978.
Foi no artigo 3º desta lei de 1978 que a Justiça se amparou para dar parecer favorável à categoria. Ele diz que "compete ao corretor de imóveis exercer a intermediação na compra, venda, permuta e locação de imóveis, podendo, ainda, opinar quanto à comercialização imobiliária". "Quem opina profere avaliações imobiliárias, uma vez que se trata de emitir um juízo acerca do preço de um bem", afirma trecho da sentença. Para a representante do Ibape, a decisão precisa ser interpretada. "O corretor tem a prática, o corretor tem o dia a dia do imóvel. Só que quando entra cálculo, referência estatística e conhecimento de engenharia, quem tem de fazer a avaliação é o engenheiro ou o arquiteto. Porque o corretor tem a opinião do mercado e o engenheiro e o arquiteto tem a técnica", afirma Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, vice-presidente do Ibape nacional e presidente do Ibape-PR.

Nem o Ibape nem o sistema Confea pretendem recorrer da decisão judicial, mas destacam que o métier do corretor de imóveis é emitir a opinião do mercado. "O corretor vai fazer vistoria no imóvel para avaliá-lo. Ele não tem condições, caso a edificação tenha alguma patologia, de dizer se a trinca é séria ou só é um problema de argamassa. Ele não tem conhecimento técnico para isso", diz Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, completando: "O corretor tem a opinião de mercado e o engenheiro e o arquiteto tem a fundamentação. Este é o diferencial." A representante do Ibape lembrou ainda que a sentença a favor dos corretores poderia, ao menos, regulamentar a comissão da categoria. "Eles brigaram por um nicho de mercado que pode lhes render 6% do valor do imóvel", criticou. O artigo 724 do Código Civil define a remuneração da corretagem da seguinte forma: “A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem ajustada entre as partes, será arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais."
Entrevistados
- João Teodoro da Silva, presidente do Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis)
- Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, vice-presidente do Ibape (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia)
Currículos
- João Teodoro da Silva é graduado em direito pela UniCuritiba. Também tem graduação em física e matemática, pela PUC-PR, e em gestão imobiliária pela Ulbra
- É presidente do sistema Cofeci-Creci
- Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj é graduada em arquitetura e urbanismo pela USP e em engenharia de segurança do trabalho pelo CEFET-PR
- É vice-presidente do Ibape nacional e presidente do Ibape-PR
- É perita judicial e extrajudicial nas comarcas de São Paulo e Curitiba
Contatos: cofeci@cofeci.gov.br / proojekt@gmail.com
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Salário inicial de engenheiro quase duplica em 10 anos
Entre 2000 e 2010, demanda por profissionais foi maior que a oferta e inflacionou remunerações. Desde 2011, mercado tem se adequado à realidade
Por: Altair Santos
O salário médio de alguns profissionais com nível superior no Brasil declinou de R$ 4.317 para R$ 4.060, entre 2000 e 2010, segundo estudo do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). O levantamento baseou-se em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e constatou também que algumas graduações fizeram caminho inverso, ou seja, registraram aumento significativo nos salários durante o período pesquisado. Entre elas, estão as engenharias e a arquitetura, além de medicina, economia e ciências sociais. "Tratam-se de profissões onde a demanda aumentou mais rapidamente do que a oferta, porque a sociedade está precisando mais destes profissionais", cita Naercio Aquino Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do INSPER.

No caso da engenharia civil, foi explícito o impacto que a demanda causou nos salários. No final da década passada, entre 2008 e 2010, no auge de programas como PAC e Minha Casa, Minha Vida, além da descoberta do pré-sal, chegou-se a ofertar 755 vagas por semana - numa média nacional - aos engenheiros civis brasileiros. Para os profissionais recém-formados, que costumavam entrar no mercado de trabalho ganhando R$ 2.700,00 (em média) o salário inicial saltou para R$ 4.210,20. Mas o grande avanço se deu no segmento de profissionais com entre dez e quinze anos de experiência. Para eles, o salário médio chegou a R$ 7.588,16. Em algumas cidades, esse valor quase dobrou. Como no Distrito Federal, onde o salário médio do engenheiro civil com dez a quinze anos de experiência chegou a R$ 13,3 mil.
No entanto, a pesquisa do Insper detecta que desde 2011 há uma tendência de acomodação nos salários e de retração para os que foram recentemente contratados. "Pode ser por que começa a ter mais oferta de mão de obra", avalia Naercio Aquino Menezes Filho. Um dado explica essa tendência. Entre 2000 e 2010, a porcentagem de matrículas nos cursos de graduação aumentou mais de 80%. No caso das engenharias, por exemplo - segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) - 1,2 milhão de estudantes se matricularam em cursos de graduação na década passada. Porém, a taxa de evasão chegou a 55,59%. O mesmo levantamento revelou que do 1,2 milhão somente 328 mil novos engenheiros chegaram ao mercado de trabalho.

Tanto o estudo do Insper quanto o da CNI constataram que menos de 0,5% dos que concluíram graduações em engenharia na década passada buscaram mestrado e doutorado. Para esses, os salários se mantêm elevados. "As especialidades e a diferença de qualidade entre as instituições de ensino geram desigualdades salariais", detecta a análise coordenada pelo professor Naercio Aquino Menezes Filho. Na média nacional, um engenheiro que tenha aprimorado seus conhecimentos recebe acima de 30% a mais do que aquele que se limitou à graduação. Durante a década passada, os setores que mais valorizaram as especializações - dentro das engenharias - foram os seguintes: petróleo e gás, financeiro, governo, aeronáutica, automobilístico, consultorias e construção civil.
Entrevistado
Naercio Aquino Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa)
Currículo
- Naercio Aquino Menezes Filho é graduado em economia pela Universidade de São Paulo (1986), com mestrado em economia pela Universidade de São Paulo (1992) e doutorado em economia pela University College London (1997)
- Atualmente é professor titular (Cátedra IFB) e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) além de professor associado da Universidade de São Paulo e consultor da Fundação Itaú Social
- Tem experiência na área de economia, com ênfase em capital humano e organização industrial, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, mercado de trabalho, distribuição de renda, produtividade, tecnologia e desemprego
Contatos: naerciof@usp.br / naercioamf@insper.edu.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Para CBIC, construção civil precisa driblar fadiga
Com base em dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) organismo sugere mais produtividade e menos burocracia para o setor
Por: Altair Santos
A mais recente Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) - estudo produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - mostra que o período de 2007 a 2011 pode ser interpretado como a "fase de ouro" da construção civil no país. Impulsionado por crédito intenso, programas governamentais e isenções fiscais, o setor acostumou-se a crescer acima do PIB nacional. Para que esse cenário se perenize, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) avalia que novos movimentos precisam ser dados. Entre eles, focar na inovação e na industrialização, para elevar a produtividade e reduzir custos, e combater a burocracia. São ações que evitarão que o crescimento da construção civil entre em um processo de fadiga, como avalia o vice-presidente da CBIC, José Carlos Rodrigues Martins, na entrevista a seguir:

A mais recente edição da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) mostra que o setor teve crescimento pujante de 2007 a 2011. As perspectivas seguem otimistas para o próximo período de 4 anos?
Até 2004, o setor da construção viveu um longo período de baixo crescimento e poucos investimentos, o que produziu um significativo déficit nas áreas habitacional e de infraestrutura. Essa situação foi resultado de um ambiente macroeconômico de instabilidade e dificuldade de planejar em prazos mais longos. Com a estabilidade macroeconômica alcançada a partir do Plano Real e com a melhora do ambiente regulatório, a partir da Lei do Patrimônio de Afetação (lei 10.931, de 2004) a indústria da construção encontrou as condições necessárias para avançar, associado à percepção do governo federal da importância estratégica para estimular os investimentos, a geração de empregos e renda. São exemplos de ações concretas o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) marcos do retorno do setor público como planejador e indutor dos investimentos. Entretanto, este ciclo de crescimento mais pujante começa a demonstrar fadiga e exige novas ações, com foco na inovação e industrialização de produtos e processos que permitam elevar a produtividade, reduzir custos e tornar os negócios (a decisão de investir) mais rápida e segura (redução de burocracias e procedimentos do “antigo modelo”) para todos os agentes econômicos envolvidos. Assim, a construção ainda deverá ser um dos vetores do crescimento brasileiro, pois a sua importância não foi reduzida, ao contrário, a necessidade de elevar os investimentos e manter os avanços sociais leva a concluir que o setor permanecerá se desenvolvendo, entretanto em ritmo mais lento até que se instalem as bases do novo modelo, que deverá elevar novamente a atividade e firmar um patamar mais elevado para o setor.
O período 2007-2011 tende a entrar para a história como a fase de ouro da construção civil brasileira?
Certamente foi um período importante, pois recolocou a construção como protagonista do desenvolvimento econômico. O Brasil voltou a investir e a planejar, sem perder o foco na inclusão social produtiva, que caracteriza a formalização.
Ampla oferta de financiamento para habitação, liberação de recursos pelo BNDES e desoneração do IPI de insumos da construção são apontados como as principais alavancas para os bons resultados mostrados na PAIC. Esses pilares devem continuar sustentáveis?
Sim, o financiamento habitacional permanece registrando sucessivos recordes, os saldos de poupança crescentes e a aprovação de projetos de construção continuam ocorrendo. Em se tratando das desonerações, são importantes, pois representam recursos que permanecem no setor produtivo e contribuem para manter a atividade econômica. Entretanto, é importante destacar que cada vez mais estas desonerações precisam ser realizadas com cautela, pois o espaço fiscal do governo se mostra cada vez mais limitado. Desta forma, as desonerações sobre o produto final tendem a ser mais efetivas, pois são integralmente repassadas ao consumidor. Um exemplo claro foi a recente redução do RET (Regime Especial de Tributação) de 6% para 4%, na faixa 2 do MCMV, e de 4% para 1% na primeira faixa do programa.
A PAIC revelou também que aumentou a concentração de obras em torno de um grupo de construtoras, tanto as que atuam no setor habitacional quanto as que atuam em infraestrutura. Isso é bom ou ruim para o setor?
É necessário esclarecer bem essa questão, para não gerar dúvidas. Em nenhum momento a PAIC demonstra que a construção é um setor concentrado. Ao contrário. Os índices de concentração da construção são bem menores do que outros segmentos da indústria. O que a PAIC revelou é que, em virtude de crescimento de obras de infraestrutura, o índice de concentração dessas obras passou de 0,26 em 2007 para 0,29 em 2011. O de obras habitacionais, por sua vez, passou de 0,09 para 0,12. Esses aumentos aconteceram em virtude dos programas de incentivos a esses segmentos (PAC e PMCMV). Mas, mesmo assim, são índices baixos, demonstrando que a construção não é um setor que possui concentração industrial. Ela está muito distante disso. Deve-se lembrar que o grau máximo de concentração é 1. Particularmente, em relação à divisão de obras de infraestrutura, que apresentou a maior concentração em todos os índices, isso acontece porque as empresas deste setor geralmente fazem obras de grande porte, necessitando de maiores volumes de investimentos em máquinas e equipamentos, sendo assim, mais intensivas em capital. Outro importante dado que mostra a desconcentração do setor é a indicação feita pela Caixa Econômica Federal de que 13% das obras do Minha Casa, Minha Vida foram feitas pelas grandes construtoras. A maioria dos empreendimentos (87%) foi tocada por pequenas e médias empresas.
Por outro lado, a PAIC revelou que entre 2007 e 2011 o número de empresas ativas do setor quase duplicou. Isso pode mostrar que também aumentou a terceirização no setor?
O que aconteceu neste período, na verdade, foi um significativo aumento da formalização de empresas, empregados e empreendimentos que se tornaram visíveis não apenas pela melhoria das condições de operação, mas também para ter acesso às novas oportunidades que surgiram neste período (crédito, políticas de inovação, compras públicas entre outros).
A pesquisa detectou também um crescimento relevante na construção de edifícios. A verticalização das edificações será uma tendência a partir de agora?
Sem dúvida. A escassez de terras urbanizadas nas regiões metropolitanas tem, naturalmente, impulsionado um movimento de verticalização das cidades. Esse fenômeno não é novo, mas tem sido intensificado nas últimas décadas. Essa é uma saída para oferecer serviços públicos, emprego, moradia a populações cada vez maiores, otimizando a infraestrutura já disponível nas nossas cidades.
Em termos de regiões do país, o sudeste ainda lidera o volume de obras, mas o nordeste teve crescimento acentuado. Essa tendência pode se perenizar?
Muitos economistas avaliam que o Nordeste deve continuar crescendo em um ritmo superior ao do PIB brasileiro. As expectativas de investimento na região comprovam isso. Além disso, as carências de infraestrutura e o déficit habitacional, que ainda é expressivo na região, fazem crer que o setor da construção deve continuar experimentando um ritmo de crescimento significativo nos próximos anos para fazer frente a esses gargalos.
A alta do dólar, que o Brasil experimenta, pode influenciar de que forma o desempenho da construção civil?
O aumento do dólar deve ser avaliado no contexto da conjuntura econômica como um todo, pois essa conjuntura influencia diretamente o desempenho dos setores produtivos. Neste contexto, uma das preocupações com essa alta passa pelo impacto que ela pode proporcionar na taxa de inflação. É justamente a inflação um dos fatores que têm gerado maior preocupação no cenário nacional. A estabilidade dos preços é essencial para o cenário macroeconômico nacional, que tem demonstrado dificuldades de acelerar o seu ritmo de crescimento. É bom lembrar que a estabilidade monetária é indispensável para a confiança empresarial que, por sua vez, reflete positivamente nos investimentos que necessariamente passam pelo setor de construção.
Qual análise geral que a CBIC faz dos dados trazidos pela PAIC?
A Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) revela, de forma mais desagregada, como foi o desempenho do setor da construção civil. A última pesquisa realizada, que traz os resultados do ano 2011, demonstra que, naquele ano, o setor sofreu influência positiva de fatores como a maior oferta de crédito imobiliário, o aumento dos desembolsos para obras de infraestrutura do BNDES, do aumento do emprego e da renda, além, é claro, do incremento do consumo das famílias. Também influenciou o desempenho setorial a desoneração do IPI de vários insumos da construção, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa, Minha Vida. É bom lembrar que naquele ano o setor registrou expansão de 3,6% superior ao desempenho do país, que foi 2,7%. A PAIC, sem dúvidas, é mais um instrumento que evidencia a importância da construção para o desenvolvimento da economia nacional.
Confira a íntegra da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC)
Entrevistado
José Carlos Rodrigues Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Currículo
- José Carlos Rodrigues Martins é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1977
- Foi presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR) no período de 1998 a 2001 e vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (SindusCon-PR) de 2001 a 2004
- Entre 2010 e 2012 exerceu a presidência do Comitê Nacional de Desenvolvimento Tecnológico da Habitação (CTECH) do Ministério das Cidades
- É vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção desde 2001
Contatos: www.cbic.org.br / comunica@cbic.org.br
Créditos foto: Erivelton Viana / CBIC
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Cinza de cana-de-açúcar no CAA se limita à pesquisa
Estudo realizado na Universidade Estadual de Maringá ganha prêmio acadêmico, mas precisa de mais desenvolvimento para chegar ao mercado
Por: Altair Santos
Não é de hoje que as escolas de engenharia e os centros de pesquisa têm buscado alternativas para melhorar a eficiência ambiental do concreto e também reduzir seu custo de produção. A mais recente iniciativa ocorreu na Universidade Estadual de Maringá, no interior do Paraná, onde um grupo conseguiu desenvolver concreto autoadensável (CAA) incorporando cinza do bagaço da cana-de-açúcar em substituição parcial à areia. Após oito meses de estudo, e 280 experimentos, a pesquisa apontou para um produto que conseguiu atender aos requisitos da ABNT NBR 15823 - Concreto autoadensável -, mas que ainda terá de percorrer um longo caminho até que possa chegar ao mercado.

De acordo com o professor-mestre Rafael Germano Dal Molin Filho, que coordenou o projeto junto ao programa de pós-graduação em engenharia urbana da UEM, como a cinza de bagaço de cana-de-açucar é um resíduo e não um subproduto, significa que ela ainda não tem as condições técnicas, como queima controlada, para que seja reproduzida em características comerciais e industriais. "O próximo passo da pesquisa é desenvolver todo o controle tecnológico para que se possa garantir o desenvolvimento de um material confiável ao mercado", diz. O professor da UEM afirma que essa etapa será conseguida através de parcerias com concreteiras de Maringá, que também ajudarão a desenvolver o novo CAA.
A pesquisa realizada na UEM apontou que o concreto autoadensável que utiliza cinza de bagaço de cana-de-açúcar preenche de maneira bem adequada a fôrma, sem precisar de energia adicional. O material também apresentou mais facilidades no transporte. "Isso é um aspecto muito significativo quanto à quantificação de pessoas no canteiro de obra. Envolve diminuição de ruídos, envolve o lançamento mais rápido e uma projeção mais otimizada dos recursos disponíveis para a realização da obra", afirma Rafael Germano Dal Molin Filho, para quem o produto apresentou um custo competitivo, haja vista que a cinza de cana-de-açúcar na região de Maringá tem alta oferta.

Quanto à resistência, o produto desenvolvido na UEM apresentou características iguais ao CAA convencional. "A melhor comparação está nos traços que realizamos com cinzas e sem cinzas. Os resultados foram os mesmos. Então é possível desenvolver aspectos de resistência estrutural conciliada à perspectiva do uso desta tecnologia", garante Rafael Germano Dal Molin Filho, que na pesquisa utilizou o Cimento Portland CP II-F-32 - um dos recomendados para a produção de concreto autoadensável. O professor também assegurou que o CAA alternativo pode ser aplicado em qualquer obra que necessite do material, ressaltando que os requisitos da ABNT NBR 15823 foram atendidos.

Em relação às restrições que outras normas impõem ao uso de agregados alternativos no concreto, Rafael Germano Dal Molin Filho disse que acompanha com atenção a revisão da ABNT NBR 12655 - Concreto - Preparo, Controle e Recebimento. Com seu texto atual, essa norma impede o uso de cinzas de qualquer natureza como aglomerante do concreto, apesar de elas terem atividade pozolânica e serem usadas na fabricação do cimento. "Dependendo do que sair da revisão, ela vai estimular novas pesquisas, podendo dar projeção de novos agregados para a construção civil. Eu vejo isso como uma boa solução, pois tudo o que tem uma recomendação técnica nos ajuda, inclusive, a prospectar como será a utilização do resultado destas pesquisas", analisa. O estudo feito na UEM rendeu à universidade o 1º lugar na 5ª edição do Prêmio Caixa de Projetos Inovadores com Aplicabilidade na Indústria Metalúrgica, Mecânica, Eletrônica, Materiais Elétricos e Construção Civil.
Saiba mais sobre a pesquisa de CAA com cinza de bagaço de cana-de-açúcar

Entrevistado
Rafael Germano Dal Molin Filho, professor-colaborador do departamento de engenharia de produção da Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Currículo
- Rafael Germano Dal Molin Filho é graduado em engenharia de produção pela UEM (2005)
- Tem especialização em marketing (Instituto Paranaense de Ensino (2007) e MBA em gestão estratégica de empresas pela UEM (2010)
- É mestre em Engenharia Urbana pela UEM (2012)
- Desde fevereiro de 2012 atua como professor-colaborador no departamento de engenharia de produção da UEM, onde ministra as seguintes disciplinas: eletrotécnica e automação industrial (graduação), engenharia da qualidade I (graduação), planejamento e controle da produção I e II (graduação) e orientações na graduação e pós-graduação
Contatos: rgdmfilho2@uem.br / rafagermano@hotmail.com
Créditos fotos: Divulgação/UEM
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Venda de cimento vai romper 70 milhões de toneladas
SNIC projeta que marca será ultrapassada em 2013, por conta de obras contratadas em anos anteriores. Porém, atual conjuntura econômica deixa setor em alerta
Por: Altair Santos
No acumulado de 12 meses (agosto de 2012 a julho de 2013) a venda de cimento para o mercado nacional atingiu a marca de 69,184 milhões de toneladas. Os dados divulgados pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) são recordes históricos para o setor, o que alimenta a expectativa de que até dezembro a marca de 70 milhões de toneladas seja rompida. "As projeções nos fazem estimar que fecharemos 2013 com algo em torno de 71 milhões de toneladas vendidas", calcula o presidente do SNIC, José Otávio Carneiro de Carvalho.

Há uma ressalva, no entanto, nestes números otimistas. O próprio SNIC considera que o atual volume de produção de cimento está muito vinculado às obras contratadas em anos anteriores e que, durante 2013, começaram a sair do papel. Por isso, o sindicato não se atreve a fazer análises sobre como estará o setor em 2014. No máximo, estima que a indústria cimenteira fechará o ciclo de 2013 com crescimento de 4%, mas em viés de baixa. "No momento estamos revendo as projeções, mas a expectativa é de crescer 4%", afirma José Otávio Carneiro de Carvalho.
Para o presidente do SNIC, alguns entraves insistem em impedir a expansão do setor. Entre eles, os gargalos que atrapalham o avanço de programas de infraestrutura e habitacionais. "Se a conjuntura fosse favorável, nossa capacidade instalada já permitiria ultrapassar cem milhões de toneladas por ano", cita.
Por causa do cenário econômico, José Otávio Carneiro de Carvalho revela que algumas novas plantas, que haviam sido anunciadas, tiveram seus projetos revistos. No entanto, elas podem sair do papel caso o governo federal consiga viabilizar as concessões de rodovias e ferrovias. "Esses planos diminuiriam os gargalos de infraestrutura, ao mesmo tempo em que passariam a demandar mais cimento", explica o presidente do SNIC, para quem a entrada de investimentos privados em estradas e linhas de trem é mais significativa do que o evento Copa do Mundo. "Para a indústria de cimento, as construções de estádios e as alegadas obras de mobilidade tiveram um impacto relativamente pequeno na venda total de nosso produto", garante.
Independentemente de projetos não viabilizados, a indústria de cimento do Brasil se mantém na quarta colocação dentro do ranking mundial, levando em conta a produção e o consumo. Segundo estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o SNIC, cerca de 25% do cimento fabricado no país vai para obras de infraestrutura e 75% para edificações. Para José Otávio Carneiro de Carvalho, o importante é que a indústria tem conseguido atender a demanda nacional produzindo um produto cada vez mais ecoeficiente. "Hoje, 10% da energia consumida para produzir cimento no Brasil é oriunda do coprocessamento de resíduos industriais. Porém, ainda há mais espaço para crescimento", diz.
O presidente do SNIC finaliza que os desafios a médio e longo prazo para a indústria cimenteira nacional, além de perseguir os 100 milhões de tonelada/ano, são manter a competitividade, a eficiência e a baixa emissão de CO₂ na produção de cimento. "Além, é claro, de ajudar a construir a infraestrutura que o país precisa", finaliza.
Veja o desempenho da indústria de cimento
Entrevistado
José Otávio Carneiro de Carvalho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).
Currículo
- José Otávio Carneiro de Carvalho é graduado em engenharia de produção pela PUC-RJ (1965)
- Em 1969, concluiu pós-graduação em engenharia econômica, na UFRJ
- Nos três primeiros anos de sua carreira, participou da montagem de uma fábrica de cimento no estado do Rio de Janeiro. No início da década de 70, trabalhou, como assessor da diretoria no BNDES
- Entre 1975 e 1978, integrou a equipe de assessoria econômica do então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen
- Passou a trabalhar como consultor de empresas e, desde 1982, atua no setor de cimento, onde prestou consultoria em diversos projetos
- Em 2001, foi convidado para o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) onde assumiu a função de secretário-executivo e depois tornou-se vice-presidente executivo da entidade
- No início de 2011, assumiu o cargo de presidente do SNIC
Contatos: www.snic.org.br / snic@snic.org.br / secretaria@snic.org.br
Créditos foto: Divulgação / SNIC
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Poder analítico abre "neocarreiras" aos engenheiros
Há uma série de novas profissões que competem com o mercado da construção civil por profissionais especializados em engenharia, porém exige-se qualificação extra
Por: Altair Santos
Gestor de reestruturação, gerente de projetos, gestor de contratos, gerente de operações, desenvolvedor de novos negócios, gerente de planejamento, gestor de infraestrutura,... Quem já não ouviu falar nestas novas nomenclaturas dentro do organograma de uma empresa? Pois em todas elas, o engenheiro se encaixa. Pela capacidade de liderar, de fazer mais com menos, de focar em resultados e de executar tarefas, os profissionais de engenharia, em especial a da civil, não limitam mais o seu campo de atuação ao canteiro de obras.

Segundo levantamento da consultoria de recursos humanos Michael Page, isso mostra porque a demanda por engenheiros continuará alta no Brasil, independentemente do ritmo das obras. Só que o estudo também faz um alerta: essas novas carreiras exigem novas especializações dos profissionais de engenharia, como pós-graduação, MBA e fluência em outros idiomas. "Os engenheiros que assumem posições em outras áreas precisam buscar outras capacitações, como finanças. Além disso, o conhecimento de, no mínimo, um segundo idioma, é essencial para cargos executivos", afirma Leandro Muniz, headhunter da Michael Page.
O especialista avalia que as "neocarreiras" se oferecem aos engenheiros porque esses profissionais conseguem raciocinar sobre um problema e muitas vezes antecipar soluções. "Os engenheiros são demandados pela capacidade analítica que possuem. Em posições que exigem reestruturação, projetos e avaliação de contratos esta virtude é fundamental, assim como a experiência prévia", diz Leandro Muniz, completando que a capacidade de o engenheiro produzir mais com menos também é bastante valorizada: "Este é um dos requisitos mais importantes para um executivo que quer exercer essas novas profissões em uma corporação."
Entre as empresas que mais geram "neocarreiras" estão as de logística, consultoria e telecomunicações. Por isso, em função dessa demanda por engenheiros, que extrapola o canteiro de obras ou o chão da fábrica, o mercado para esses profissionais tende a seguir aquecido, avalia o headhunter da Michael Page. "O mercado para bons profissionais, independentemente da formação ou segmento, permanece muito aquecido. Especialmente para aqueles que conseguem melhorar a eficiência das empresas. Neste quesito, os engenheiros estão mais valorizados. Nós mesmos, da Michael Page, recebemos várias consultas de Companhias que carecem de engenheiros para cargos de gestão", afirma Leandro Muniz.
De acordo com levantamento da Michael Page, 37% das empresas brasileiras buscam engenheiros para cargos de gestão contra 25% das que preferem graduados em administração e em outras profissões. O inglês é requisito para 51% delas. As Companhias também exigem que 43% tenham conhecimento de gestão de pessoas, 31% de relações interpessoais, 19% de liderança, 12% de foco em resultados e 9% de capacidade de execução.
Entrevistado
Leandro Muniz, headhunter da Michael Page
Currículo
- Leandro Muniz é graduado em engenharia civil, com MBA em finanças pela Ibmec Business School
- Trabalhou como consultor financeiro e coordenador de projetos na Votorantim Industrial e Votorantim Cimentos por quase 10 anos
- É headhunter da Michael Page desde 2010
Contatos: www.michaelpage.com.br / micheaelpage@michaelpage.com.br
Créditos foto: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Tecnologia agrega qualidade aos tubos de concreto
Equipamentos, ensaios e normalização levam produtos melhores ao mercado, mas ainda há muito espaço para que o setor evolua no Brasil
Por: Altair Santos
A crise europeia, deflagrada em 2008, causou um impulso tecnológico na indústria brasileira de tubos de concreto. Como os mercados na Alemanha, na Espanha e na Itália minguaram, os fabricantes de equipamentos destes países voltaram-se para prospectar clientes na América do Sul. O Brasil foi o alvo preferido, sobretudo por que a época coincidiu com o lançamento de programas como PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e Minha Casa, Minha Vida. O financiamento facilitado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) também ajudou os fabricantes nacionais a modernizarem suas linhas de produtos. "Aquele momento desencadeou parcerias entre fabricantes nacionais e estrangeiros e fez maquinários de qualidade chegarem ao país", revela Jean Royer, ex-diretor de marketing da Associação Brasileira de Tubos de Concreto (ABTC) e diretor da Concrepar-Marco Tubos.

A entrada de novas tecnologias no Brasil coincidiu com a revisão da ABNT NBR 8890 - Tubo de Concreto, de seção circular, para águas pluviais e esgotos sanitários -, que exigiu evolução nas peças, sobretudo das armaduras de aço. A norma também tornou o mercado mais seletivo e, consequentemente, mais competitivo. "Tubo de concreto tem várias formas de ser feito. Do modo antigo, como há 50 anos, ou de um modo mais moderno. Com a evolução das normas, elas passaram a exigir cada vez mais a padronização dos produtos em itens como resistência, compressão diametral, recobrimento da ferragem e absorção de água. Enfim, o produto pode ser fabricado de vários modos, mas tem de suportar o que exigem as normas. Quando eu adquiro um equipamento, ele me dá a garantia de que eu vou fabricar com uniformidade, de que uma peça será igual a outra, sem deformidades", explica Jean Royer.
O poder público, como principal cliente, também tem ajudado a melhorar a qualidade dos tubos de concreto. Uma evolução visível está relacionada à forma de encaixe das peças. Hoje, no Brasil, são usados o macho-fêmea e o ponta e bolsa. Alguns estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, consomem bastante os tubos com encaixe em ponta e bolsa. Outros, como o Paraná, utilizam o macho-fêmea. Há um debate sobre a padronização. Para isso, é necessário investir em pesquisa para comprovar qual o melhor encaixe. Porém, são poucas as empresas que fazem isso. "Estima-se que no Brasil haja entre cinco mil e seis mil fabricantes de tubos de concreto, mas nem trinta têm laboratórios. No caso do nosso laboratório, ele é aferido pela Tecpar e pelo Inmetro. Tudo isso, para fabricar e saber o que está sendo fabricado", diz o diretor da Concrepar.

Um problema é que boa parte das companhias de saneamento requer ensaios laboratoriais, mas somente para tubos aplicados em esgoto sanitário. O correto seria seguir o exemplo de países desenvolvidos, onde os ensaios para peças usadas em água pluvial também são exigidas. "Na Europa e nos Estados Unidos percebe-se que o produto é melhor. Por quê? Porque existe investimento em equipamento, pesquisa, normalização e tecnologia. Lá, todos os tubos de esgoto são em ponta e bolsa com anel de borracha. É a preocupação com a questão ambiental. Aqui, essa preocupação existe em algumas empresas de saneamento, cito a Sanepar, e em alguns setores privados", avalia Jean Royer, para quem ainda há um bom espaço para a evolução dos tubos de concreto no Brasil. "Ainda estamos aquém do ideal. Tem espaço para crescer e qualificar cada vez mais os produtos", finaliza.
Veja vídeo de novos equipamentos para a construção de tubos de concreto:
http://youtu.be/nudY_HoVKyA

Entrevistado
Jean Royer, diretor da Concrepar-Marco Tubos Ltda
Currículo
- Jean Royer é engenheiro industrial, diretor da Concrepar-Marco Tubos Ltda. e ex-diretor de marketing da Associação Brasileira de Tubos de Concreto (ABTC).
Contato: www.concrepar.com.br / jean@concrepar.com.br
Créditos fotos: Cia. de Cimento Itambé