Mulheres lideram decisões de compra no mercado imobiliário e leva setor a repensar projetos e estratégias de venda

O Anuário DataZAP 2024 mostrou que 52% dos compradores que pesquisaram imóveis online no Brasil eram mulheres. A maioria delas pertence à geração X, entre 41 e 60 anos, com renda familiar média de R$ 7.512,64, casadas, com filhos e animais de estimação.

Para Maria Eugenia Fornea, diretora de Expansão da Ademi-PR e CEO da Weefor, os dados confirmam uma transformação estrutural. “O protagonismo feminino não é tendência, mas realidade consolidada. As mulheres são decisoras altamente preparadas, que pesquisam, analisam cenários e têm confiança em sua própria avaliação”.

A pesquisa indica que a tomada de decisão feminina vai além do imóvel em si. Ao pensar na compra para a família, elas analisam infraestrutura do entorno, acessibilidade, serviços próximos e flexibilidade da planta. “A confiança na própria intuição se soma aos dados técnicos para chegar a uma decisão segura e racional”, explica Maria Eugenia.

Público feminino busca dados sólidos, soluções inovadoras e segurança para suas famílias ou para seus investimentos
Crédito: Envato

Investimento com olhar estratégico

Quando o foco é investimento, o olhar torna-se ainda mais estratégico: liquidez, potencial de valorização, inovação arquitetônica e sustentabilidade são pontos decisivos. A reputação da incorporadora e a integração do projeto com a cidade também pesam.

O perfil da mulher decisora reflete experiência e múltiplos papéis sociais. Essa vivência, segundo Maria Eugenia, confere às consumidoras uma visão holística e atenta.

“Esse traço da intuição não é algo abstrato, mas deriva da experiência de vida marcada pelo exercício constante de múltiplos papéis. Isso aguça a capacidade de analisar o todo, tornando a mulher uma decisora especialmente atenta a detalhes, sem perder de vista o quadro maior”, assinala.

Esse estilo de decisão exige das incorporadoras mais consistência e transparência, já que o discurso de venda precisa ser sustentado por diferenciais reais. Na prática das construtoras, esse comportamento é visível. Charles Kan, diretor da Construtora CK, destaca que os diferenciais valorizados pelas mulheres já influenciam o desenvolvimento de empreendimentos. “As mulheres são protagonistas no processo de decisão e apresentam alto nível de informação e exigência na hora da compra. Mesmo quando a decisão é compartilhada, são elas que definem os critérios mais relevantes para a escolha do imóvel”, afirma.

Impacto no setor

A ascensão feminina como público decisor de compra também influencia dentro das empresas. Segundo Maria Eugenia, gestoras e consumidoras trazem questionamentos mais completos, conectam pontos muitas vezes despercebidos e exigem do setor melhores práticas.

“A presença feminina muda o padrão de decisão, seja na compra de imóveis, seja dentro das próprias empresas. Essa combinação de planejamento, análise e intuição confiante tem impacto direto na qualidade dos produtos que entregamos e no modo como nos relacionamos com o cliente”, aponta Maria Eugenia.

Kan observa que o público feminino alia emoção e racionalidade na compra. “As mulheres são bastante detalhistas e, além do lado emocional, priorizam acabamento de alto padrão, segurança, funcionalidade dos ambientes, bem-estar e áreas de lazer completas. Também valorizam localização estratégica, confiança na construtora, solidez do investimento e potencial de valorização patrimonial”, complementa.

Novos rumos para o mercado imobiliário

Com mais da metade das buscas e negociações conduzidas por mulheres, construtoras e incorporadoras começam a adaptar projetos, comunicação e atendimento. O desafio é compreender que as consumidoras não se deixam levar apenas por argumentos comerciais. Elas buscam dados sólidos, soluções inovadoras e segurança para suas famílias ou para seus investimentos.

Essa mudança já está no radar de construtoras e incorporadoras. Exemplo disso é o empreendimento Artefacto Towers by CK, primeiro empreendimento imobiliário com assinatura Artefacto no Brasil, que foi planejado para dialogar com o público feminino. “O projeto reúne atributos que conversam diretamente com o perfil de compra das mulheres: apartamentos amplos, interiores assinados e mais de 3 mil m² de lazer, incluindo wellness, pilates, cinema e áreas esportivas. Funcionalidade, design contemporâneo e conforto estão entre os pontos mais valorizados por elas”, ressalta Kan.

O protagonismo feminino, portanto, vai além da representatividade e consolida-se como força estratégica capaz de transformar a forma como o setor constrói, vende e se relaciona com o mercado.

Entrevistados

Maria Eugenia Fornea é economista formada pela UFPR, engenheira civil pela PUCPR, especialista em Planejamento e Desenho de Cidades pela PUCPR e em Cidades Responsivas pelo Responsive Cities Institute. Mestranda em Gestão Urbana pela PUCPR, atua há mais de 15 anos no mercado imobiliário. É fundadora e atual CEO da incorporadora curitibana Weefor e do Instituto WF, e diretora de expansão da ADEMI-PR.

Charles Kan é fundador e diretor da Construtora CK, referência no mercado imobiliário catarinense desde 2010 e atuação em Navegantes, Itajaí e Balneário Camboriú.

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Ana Carvalho
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Pesquisadores usam borra de café para substituir areia em concreto

Já pensou em utilizar café no lugar de areia para fazer concreto? A ideia veio de Pesquisadores do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (RMIT), que estão apostando nessa ideia para substituir parte da areia empregada para fazer concreto. 

Ao Massa Cinzenta, Rajeev Roychand, engenheiro estrutural e de materiais e responsável pela pesquisa, explicou que a técnica consiste na incorporação de resíduos de café pirolisado a 350 °C. “Este material apresenta uma combinação ideal de teor de carbono e estrutura porosa, permitindo que atue como reservatórios microscópicos de água dentro da mistura de concreto”, pontua. 

A arquitetura porosa do biochar de café funciona como um sistema integrado de gestão da água, liberando gradualmente a umidade armazenada para manter a cinética de hidratação à medida que a umidade relativa diminui, segundo Roychand. 

“Esse mecanismo controlado de liberação de água sustenta a hidratação das partículas de cimento além dos prazos convencionais, resultando em maior densidade microestrutural. As partículas de biochar formam ligações contínuas com a matriz cimentícia à medida que a pasta de cimento penetra em sua estrutura porosa, e essa hidratação aprimorada do cimento, combinada à formação de ligações contínuas, contribui para o aumento da resistência”, pontua Roychand.

Técnica consiste na incorporação de resíduos de café pirolisado a 350 °C.
Crédito: Envato

Desafios

De acordo com Roychand, os pesquisadores iniciaram os testes substituindo parte da areia do concreto por borra de café usada, sem nenhum tratamento. O resultado não foi animador: por conter muita matéria orgânica, o resíduo atrapalhou a hidratação do cimento e reduziu drasticamente a resistência do material. As substâncias presentes no café cru acabaram interferindo na química do concreto e comprometendo sua integridade.

Para resolver o problema, os cientistas recorreram à pirólise — processo de aquecimento sem oxigênio —, que elimina os compostos orgânicos indesejados e transforma a borra em biochar, um aditivo compatível com o cimento. Após vários testes, eles descobriram que a temperatura de 350 °C era a ideal: alta o suficiente para neutralizar a interferência orgânica, mas sem destruir a porosidade do material, fundamental para melhorar o desempenho do concreto. Além disso, o processo é mais eficiente em termos energéticos do que tratamentos em temperaturas mais elevadas, o que abre caminho para sua adoção em escala industrial.

Além do café

Roychand indica que a técnica de usar biochar de resíduos orgânicos no concreto pode ir muito além da borra de café. “Testes preliminares mostram que resíduos alimentares, subprodutos agrícolas e até resíduos orgânicos urbanos podem, após tratamento térmico adequado, melhorar significativamente a resistência e a durabilidade do concreto. Embora cada tipo de resíduo exija ajustes específicos de temperatura e processamento, os primeiros resultados sugerem que diversas fontes de biomassa podem gerar biochar com desempenho comparável ou até superior ao da borra de café”, relata o pesquisador. 

O grupo de pesquisa planeja publicar os dados completos em breve, abrindo caminho para aplicações mais amplas e sustentáveis na construção civil.

Escalonamento e adoção pelo mercado

Roychand aponta que, atualmente, a geração de resíduos de café na Austrália chega a aproximadamente 75 mil toneladas por ano, com a conversão via pirólise rendendo cerca de 22,5 mil toneladas de biochar produzido a 350 °C. “Nossos cálculos volumétricos demonstram que o aproveitamento integral desse resíduo poderia atender a 100% da demanda de substituição ideal por biochar, indicando uma disponibilidade de recursos favorável para a adoção em larga escala. A tecnologia já avançou além da validação em laboratório, por meio de extensas demonstrações em campo realizadas em parceria com empresas do setor e autoridades de infraestrutura. Esses testes em condições reais confirmaram o desempenho do concreto com biochar de café em aplicações construtivas, demonstrando ganhos consistentes de resistência e durabilidade”, afirma.

Atualmente, o RMIT está em fase final de um acordo exclusivo de comercialização com uma empresa de capital de risco. “Essa parceria estratégica estabelece a base necessária para a transição da pesquisa experimental para a aplicação no mercado, garantindo acesso a redes de produção e sistemas de distribuição já consolidados, indispensáveis para a implementação em larga escala”, comenta.

A expansão do uso do biochar de café no concreto depende da criação de uma cadeia estruturada, que inclui coleta organizada dos resíduos, produção padronizada do material por pirólise e integração às usinas de concreto, segundo Roychand. Os principais desafios estão na logística, no controle de qualidade e na instalação de unidades descentralizadas de produção. “O acordo de comercialização em andamento busca superar esses obstáculos, aproveitando redes industriais já existentes para acelerar a adoção em larga escala”, comenta o pesquisador.

Sustentabilidade

Um estudo comparou a pegada de carbono do biochar de café com a extração convencional de areia para o concreto e concluiu que a nova solução pode trazer ganhos ambientais expressivos. Ao passar pela pirólise a 350 °C, a borra de café não apenas evita a emissão de metano em aterros, como também reduz a necessidade de areia, cuja extração enfrenta limites ambientais cada vez maiores.

Além disso, o concreto com biochar apresentou até 30% mais resistência, permitindo diminuir a quantidade de cimento sem comprometer a performance. Roychand ressalta que, juntos, esses fatores criam uma dupla vantagem: menos resíduos, menor impacto ambiental e materiais de construção mais eficientes.

Entrevistado

Dr. Rajeev Roychand é um cientista de materiais e engenheiro estrutural nascido em Amritsar, na Índia, e atualmente atua como pesquisador na RMIT University, em Melbourne, Austrália. Ele lidera a equipe que desenvolveu o concreto de café, uma inovação que utiliza borra de café reciclada para melhorar a resistência do concreto e reduzir o impacto ambiental da construção civil. Esse trabalho lhe rendeu o prêmio nacional “Problem Solver 2024 – People’s Choice” no Parlamento australiano.

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China inicia construção da maior hidrelétrica do mundo

A China deu início à construção daquela que promete ser a maior hidrelétrica do mundo. Em julho, o primeiro-ministro Li Qiang participou da cerimônia que marcou o início das obras da Usina Hidrelétrica de Motuo, empreendimento avaliado em US$ 167 bilhões e projetado para gerar até três vezes mais energia do que a Usina das Três Gargantas, de 22,5 GW.

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, descreveu o projeto hidrelétrico como um “projeto do século”. A usina deverá produzir 300 bilhões de quilowatt-hora de eletricidade por ano, volume equivalente a todo o consumo energético do Reino Unido no ano passado. 

Hidrelétricas serão instaladas no trecho inferior do rio Yarlung Zangbo, onde o curso d’água apresenta uma queda de 2.000 metros em apenas 50 quilômetros.
Crédito: Envato

De acordo com o governo chinês, o complexo será formado por cinco usinas hidrelétricas em cascata, instaladas no trecho inferior do rio Yarlung Zangbo, onde o curso d’água apresenta uma queda de 2.000 metros em apenas 50 quilômetros — um dos pontos de maior potencial hidrelétrico do mundo. O projeto fornecerá eletricidade principalmente para consumo externo, ao mesmo tempo em que atende à demanda local em Xizang. 

A previsão é que a barragem entre em operação na década de 2030, possivelmente em um prazo menor do que o necessário para a construção da Usina de Três Gargantas, no rio Yangtzé.

O Governo da China também anunciou a criação de uma nova empresa, a China Yajiang Group, para supervisionar o desenvolvimento do projeto. Ele será financiado principalmente por recursos estatais e terá suas futuras receitas de energia como base para retorno.

Os preços das ações nos setores de construção de infraestrutura e hidrelétricas na China dispararam quando o pregão foi retomado na segunda-feira, após o anúncio. As ações da Power Construction Corporation of China, estatal envolvida no projeto, saltaram 10%, atingindo o limite diário tanto na segunda quanto na terça-feira. Empresas de equipamentos hidrelétricos, como a Dongfang Electric, e fabricantes de cimento, incluindo a Huaxin, também registraram ganhos expressivos.

Polêmicas na construção da hidrelétrica de Motuo

O Projeto Hidrelétrico de Motuo, no Tibete, é alvo de polêmicas por riscos ambientais, sociais e geopolíticos. O derretimento acelerado das geleiras aumenta a frequência de deslizamentos, já responsáveis por inundações e bloqueios no rio Yarlung Tsangpo, ameaçando a segurança da futura barragem. Além disso, o reservatório deve provocar alagamentos e o deslocamento de comunidades tibetanas, agravando tensões políticas e culturais na região — como já ocorreu em outros projetos, a exemplo da Barragem de Gangtuo.

O empreendimento também gera conflitos internacionais, por estar em uma bacia transfronteiriça que abastece Índia e Bangladesh, países que contestam a obra temendo impactos no fornecimento de água. A Índia chegou a cogitar erguer sua própria barragem em resposta.

Embora seja apresentado como alternativa ao carvão e alinhado à transição energética da China, especialistas alertam para a necessidade de equilibrar benefícios climáticos com os riscos de desastres naturais, deslocamentos populacionais e tensões diplomáticas.

Fonte

Governo da China

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english@mail.gov.cn 

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Simpósio Paranaense de Patologia das Construções reforça integração entre academia e setor produtivo

Pesquisadores, profissionais da indústria e especialistas da construção civil reuniram-se no 5º Simpósio Paranaense de Patologia das Construções, realizado pela Universidade Federal do Paraná entre os dias 20 e 22 de agosto. O objetivo do encontro, que se consolidou como fórum regional de referência, foi aprofundar a compreensão dos mecanismos de degradação do concreto e debater estratégias para aumentar a durabilidade e a segurança das edificações.

Professor Marcelo Medeiros, organizador do 5º Simpósio Paranaense de Patologia das Construções.
Crédito: Divulgação

Segundo o professor Marcelo Medeiros, diretor do Centro de Estudos em Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a relevância do simpósio está na capacidade de traduzir conhecimento acadêmico em práticas aplicáveis ao mercado. “Discutir patologia das construções é militar a favor da durabilidade das edificações, da eficiência das estruturas e da segurança dos usuários. É compreender os mecanismos de degradação de modo a evitar falhas que podem culminar em acidentes”, afirmou.

A grade técnica do evento contemplou palestras que abordaram investigações microestruturais e aplicação de tecnologias avançadas no estudo do concreto. Entre os destaques, diversos temas de interesse, tanto da academia quanto do mercado. Além disso, as discussões também se voltaram a manifestações patológicas resultantes de incêndios em edificações, custos ocultos de falhas estruturais e novas metodologias para inspeção de pontes e sistemas de revestimento.

Etringita tardia: um desafio para a durabilidade

Entre os conteúdos apresentados, ganhou destaque a palestra do engenheiro Guilherme Bessornia, coordenador de Assessoria Técnica da Cimento Itambé, que tratou da relação entre composição do clínquer e formação de etringita tardia (DEF – Delayed Ettringite Formation).

Guilherme Bessornia, coordenador de Assessoria Técnica da Cimento Itambé.
Crédito: Divulgação 

Na palestra intitulada “Controle do Teor de C3A e sua Influência na Formação de Etringita Tardia”, Bessornia detalhou como o teor de aluminato tricálcico (C3A) influencia a cinética da reação e as condições favoráveis ao surgimento da DEF. “Compreender a interação entre o teor de C3A e a formação da etringita é fundamental para mitigar riscos de expansão e fissuração em estruturas massivas, como barragens, pilares e fundações profundas”, destacou.

O especialista ressaltou ainda que medidas preventivas dependem de critérios rigorosos de especificação. “O controle da composição do cimento e a adoção de parâmetros técnicos internacionalmente reconhecidos permitem reduzir perdas econômicas e aumentar a vida útil das obras”, complementou.

Avanços e continuidade

Segundo Medeiros, a recorrência de falhas em marquises de concreto armado, registradas em diferentes capitais brasileiras nos últimos anos, evidencia a necessidade de uma agenda permanente de atualização técnica no setor. Para os organizadores, o simpósio reafirma o papel da universidade como ponte entre pesquisa aplicada e soluções práticas de engenharia.

Com os resultados positivos da edição de 2025, já está confirmada a realização da próxima edição em agosto de 2026, mantendo a patologia das construções como tema central de debate e avanço científico.

Organização do evento envolveu a colaboração da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Universidade de Pernambuco (UPE).
Crédito: Divulgação

Entrevistados

Guilherme Bessornia é bacharel em Engenharia Química (UNISO), especialista em Engenharia de Materiais (UMC) e mestrando em Ciência e Tecnologia de Materiais (UNESP), com experiência em pesquisa, desenvolvimento e assessoria técnica em materiais cimentícios e químicos aplicados à construção civil. Atualmente, é Coordenador de Assessoria Técnica na Cimento Itambé.
Marcelo Medeiros é professor da UFPR e diretor do CESEC (Centro de Estudos em Engenharia Civil).

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Ana Carvalho
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Rodovias lideram expectativas de investimentos em infraestrutura até 2028

Pela primeira vez desde que o setor de saneamento básico despontou nos leilões nacionais, as rodovias passaram a liderar a expectativa de aportes em infraestrutura. O dado é do Barômetro da Infraestrutura, divulgado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

Segundo Frederico Barreto, coordenador de Economia da Abdib, o setor vive um momento de forte expansão. “Só para 2025 estão previstos R$ 161 bilhões em 15 leilões do governo federal, alguns deles com realização em 2026. É um horizonte muito favorável a novos investimentos, inclusive com a entrada de novos players no setor”, afirmou. Entre os destaques estão os lotes 5 e 6 do Paraná, que somam investimentos da ordem de R$ 30 bilhões.

Infraestrutura rodoviária como motor econômico
Dados do Boletim de Infraestrutura de 2025, elaborado pelo FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) em parceria com o DNIT, reforçam a relevância do modal rodoviário para o país. Do total de R$ 259,3 bilhões investidos em 2024 em transportes, 76% vieram de concessões e PPPs.

Para a pesquisadora Isadora Osterno, da FGV, o impacto no mercado de trabalho é expressivo. “A construção de rodovias é um verdadeiro motor de geração de empregos. Só em 2024, o setor de infraestrutura empregava 2,858 milhões de trabalhadores, com mais de 110 mil novas vagas formais criadas, muitas delas ligadas a obras rodoviárias,” aponta. Além de engenheiros e operários, a cadeia mobiliza fornecedores de cimento, aço e serviços de transporte, ampliando o efeito multiplicador na economia.

Entre os investimentos em destaques, estão os lotes 5 e 6 do Paraná, que somam recursos da ordem de R$ 30 bilhões.
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Logística, competitividade e sustentabilidade
Atualmente, 69% das cargas do Brasil circulam pelas estradas. Apesar da dependência, a densidade da malha pavimentada nacional é de apenas 25 km por mil km², bem abaixo de países como China (447 km) e Estados Unidos (437 km).

Boas rodovias representam diminuição do custo logístico e aumento da competitividade do Brasil, especialmente em um cenário de incertezas comerciais”, explica Barreto. Exemplos recentes mostram esse efeito. Na recuperação da BR-235/BA, o custo de transporte caiu de R$ 100 para R$ 60, beneficiando diretamente cerca de 2 milhões de pessoas.

Segundo Isadora, os impactos vão além da economia. “Rodovias modernas reduzem acidentes, aumentam a segurança viária e contribuem para a sustentabilidade, ao diminuir emissões com trajetos mais eficientes”, observa.

Expectativas até 2028

A combinação entre leilões federais, expansão de concessões estaduais e entrada de capital privado deve consolidar as rodovias como o principal destino de investimentos em infraestrutura até 2028.

Ainda assim, especialistas defendem que o Brasil precisa equilibrar a matriz logística, ampliando a participação de modais ferroviário e aquaviário, além de manter o ritmo de investimentos públicos em trechos que não atraem concessões. “É imprescindível encontrar espaço no orçamento para ampliar e qualificar as rodovias públicas, ao mesmo tempo em que se fortalece o programa de concessões”, concluiu Barreto.

Entrevistados

Isadora Osterno é doutora e Mestre em Economia pelo Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste (CAEN/UFC). Graduada com distinção Magna Cum Laude em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Já ocupou cargos na Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado do Ceará, Professora Substituta em Métodos Quantitativos na UFC e pesquisadora em agências de fomento (Funcap, CAPES e CNPq). Atualmente leciona na Universidade de Fortaleza (Unifor). Atualmente, é pesquisadora do FGV Ibre.

Frederico Barreto é graduado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com MBA em Infraestrutura (EAESP - FGV) e curso de extensão em Project Finance (FGV-SP). Atualmente, é coordenador de Economia da Abdib.

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Ana Carvalho
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Vendas de cimento e materiais de construção iniciam semestre em alta

A indústria brasileira de cimento começou o segundo semestre com desempenho positivo. Em julho, foram vendidas 6,1 milhões de toneladas do produto, registrando um crescimento de 3,1% em relação ao mesmo mês de 2024, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC). No acumulado dos sete primeiros meses do ano, as vendas somaram 38,2 milhões de toneladas, representando uma alta de 3,7%.

O faturamento da indústria de materiais de construção subiu 1,9% em julho, comparado a junho, segundo a última edição do Índice ABRAMAT, uma pesquisa mensal feita pela ECCONIT. No entanto, houve uma queda de 2,7% em relação a julho do ano passado. Apesar disso, a projeção de crescimento para o setor em 2025 permanece otimista, com a expectativa de fechar o ano com um aumento de 2,8% no faturamento total.

Apesar do início do segundo semestre mais positivo, o PIB da construção civil registrou queda de 0,2% no segundo trimestre de 2025 (correspondente aos meses de abril, maio e junho) em relação ao trimestre anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Ieda Vasconcelos, economista-chefe da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o desempenho reflete os efeitos da taxa de juros, que estão no maior patamar em quase 20 anos e impactam diretamente um setor altamente dependente de crédito. Além disso, o resultado marca o segundo recuo consecutivo do setor, que já havia caído 0,6% nos três primeiros meses do ano. 

No acumulado dos sete primeiros meses do ano, as vendas de cimento somaram 38,2 milhões de toneladas.
Crédito: Envato

Razões para o avanço

De acordo com o SNIC, as principais razões para o avanço do consumo continuam sendo o setor imobiliário aquecido e o mercado de trabalho em expansão. “O primeiro impulsionado, principalmente pela ampliação do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), cujo as contratações continuam em ascensão, projetando superar a meta de 2 milhões de unidades estimadas para 2023-2026. O mercado de trabalho tem apresentado recordes no número de empregos formais e na massa salarial, além de queda na taxa de desemprego”, informou a entidade.

Na avaliação por segmentos, o Índice ABRAMAT apontou um desempenho equilibrado entre as duas categorias principais. Os materiais básicos registraram queda de 2,7% na comparação com julho do ano passado, enquanto os materiais de acabamento tiveram contração de 2,8% no mesmo período. Frente a junho de 2024, com ajuste sazonal, os básicos cresceram 1,7%, e os produtos de acabamento avançaram 2,0%.

“O resultado de julho reflete sinais positivos de recuperação no curto prazo, com o setor registrando expansão de 1,9% no mês. Embora enfrentemos volatilidade nas comparações anuais, nossa projeção de 2,8% para o ano permanece sólida e realista”, explicou Paulo Engler, presidente da ABRAMAT.

Confiança do mercado

O Termômetro da Indústria de Materiais de Construção da ABRAMAT de julho mostra confiança moderada nas vendas: 50% dos associados esperam vendas regulares, 32% boas e 18% ruins. Para agosto, 41% projetam um bom desempenho e 45% regular, enquanto 14% esperam resultados ruins. Quanto às ações do governo para o setor nos próximos 12 meses, 50% estão pessimistas, 45% indiferentes e 5% otimistas. Sobre investimentos, 59% das indústrias planejam aplicar recursos no próximo ano, alta de 7 pontos percentuais em relação a junho. 

“O Termômetro mostra um setor que, apesar das incertezas no ambiente político e econômico, segue com desempenho equilibrado e com sinais claros de retomada na confiança, como o aumento da intenção de investimento. A estabilidade nas vendas, combinada à resiliência do setor, reforça a importância de políticas públicas mais eficazes e de um ambiente regulatório mais previsível para impulsionar a indústria de materiais de construção”, comenta Paulo Engler, presidente da ABRAMAT.

Por outro lado, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) do FGV IBRE caiu 2,0 pontos em julho, para 94,8 pontos. Em médias móveis trimestrais, o índice recuou 1,1 ponto, para 96,8 pontos.

“A combinação entre a contração da política monetária e o aumento da incerteza, intensificada pelas novas taxações sobre produtos brasileiros, configura um cenário desafiador para o setor”, comenta Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Ainda em julho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE subiu 0,8 ponto, chegando a 86,7 pontos. Em médias móveis trimestrais, o índice subiu 0,6 ponto, atingindo 86,4 pontos.

“A alta modesta do ICC refletiu uma melhora moderada das avaliações sobre o presente e o futuro, e motivada, principalmente, pelos consumidores da faixa de renda mais baixa”, informou Anna Carolina Gouveia, economista do FGV IBRE.

Vendas de cimento na Região Sul

De acordo com o SNIC, a venda acumulada de cimento na região Sul, de janeiro a julho de 2025, foi de 6,49 milhões de toneladas. Esse volume representa o segundo maior crescimento no período, com alta de 5,2% em relação ao ano anterior, ficando atrás apenas do Nordeste, que teve uma expansão de 7,2%. 

Fontes

Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC).
Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT).
FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Contatos

SNIC – Assessoria de Imprensa - luisa.rubbin@fsb.com.br
ABRAMAT – Assessoria de Imprensa - brunarodrigues@a4eholofote.com.br
FGV IBRE - Assessoria de Imprensa - assessoria.fgv@insightnet.com.br

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Uso de concreto em piscina de ondas: como fazer?

A construção de uma piscina de ondas apresenta desafios muito maiores do que uma piscina convencional. Trata-se de uma estrutura complexa, com grande área de piso em contato direto com o solo, submetida a variações intensas de carga, movimentação da água e ciclos de impacto. Por isso, o projeto exige rigor no controle tecnológico, uso de aditivos específicos e execução cuidadosa em todas as etapas — da dosagem em laboratório à cura durante a concretagem. Durante o evento Concrete Show, Carlos Britez, sócio-diretor na Britez Consultoria, e Alexandre Britez, sócio-diretor técnico na GP&D Holding, apresentaram o case da piscina de ondas de Búzios (RJ).

Com o nome de BSC Aretê Búzios, o empreendimento trata-se de um clube para surfistas e suas famílias. Localizado em Búzios (RJ), além da piscina com ondas, terá também uma grande área de vivência com restaurante, coworking, bar, massagem e piscina indoor. 

BSC Aretê Búzios: Tecnologia Endless Surf

Durante a palestra no Concrete Show, Carlos Britez falou sobre a construção da BSC (Brasil Surfe Clube) Aretê Búzios. Nessa piscina de ondas, será utilizada a tecnologia Endless Surf. “Ela é a que tem a duração de ondas mais prolongada – em torno de 21 a 25 segundos. Além disso, ela oferece flexibilidade e precisão para ajustar a diferentes tipos de ondas. Ela personaliza cada sessão para atender às preferências e níveis de habilidade. No caso da BSC Aretê Búzios, ela deverá gerar entre 400 e 700 ondas por hora, podendo atingir até 2,1 metros de altura”, explica.

Construção

A área total do empreendimento é de 140.000 m² (com preservação), sendo que a área da piscina é de 12.000 m². Veja algumas outras especificações:

  • A espessura base da piscina varia entre 22 a 30 cm. 
  • O volume da piscina (base) é de 3.300 m³ a 4.000 m³.
  • O volume de pré-fabricados é de 1.500 m³ (elementos variados).
  • Fck ≥ 40 MPa/4,2 MPa de tração/24 GPa (concreto especial). 

O projeto conta com um bloco de fundação de grandes proporções. Haverá também uma parte de estrutura pré-fabricada, que é onde fica todo o maquinário para fazer as ondas. 

Piso de concreto

Piscina terá 12.000 m², com espessura base da piscina variando entre 22 a 30 cm.
Crédito: Brasil Surfe Clube
 

Ao receber os documentos do exterior, a equipe responsável percebeu que a parte da base, estava tratando de um concreto de piso. “Para eles, não necessariamente era uma laje apoiada no solo. Mas tinha todos os ingredientes para tratar de um concreto de piso – lá, a construção tem que ser primorosa, não pode ter problema por conta do fluxo de ondas. Nesse caso, começamos a tratar como um concreto de piso”, comenta Carlos Britez. 

Quando se trabalha com concreto apoiado diretamente sobre o solo, como no caso de pisos, é fundamental garantir uma pega controlada ao longo de toda a espessura. “Se isso não acontecer, pode ocorrer delaminação, descolamento ou falhas no tratamento superficial. Em situações críticas, como em uma piscina, as consequências seriam graves. Por isso, pensamos em utilizar um aditivo que proporcionasse hidratação uniforme em toda a espessura, evitando problemas de desplacamento e outros inconvenientes. Foi o que aplicamos, por exemplo, no piso do Shopping Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, uma obra realizada entre 2020 e 2021, com cerca de 30 mil m² de área”, afirma Carlos Britez.

Na piscina de ondas, a primeira etapa foi o estudo de dosagem e, posteriormente, uma carta de parâmetros. “Incorporamos cristalizante, compensador de retração, sílica e estabilizador, para reduzir ao máximo as chances de não conformidades. O traço utilizado, chamado de S100, variava entre 10 e 16 cm de abatimento. Ele apresentou teor de argamassa adequado para o acabamento e limite de brilho do piso fixado em 25%, fator importante para evitar desplacamento”, pontua Carlos Britez.

As medições de massa e ar mostraram cerca de 2% de ar aprisionado, um valor muito bom para pisos. “Especialmente considerando que no Rio de Janeiro normalmente os materiais resultam em 4 a 5%”, revela Carlos Britez. O fator água/cimento foi fixado em 0,45, garantindo segurança adicional, já que não se admite falha na estrutura da piscina.

“No laboratório, com esse traço, obtivemos quase 60 MPa aos 28 dias. Foram utilizados cerca de 200 L de água por m³ de concreto, valor compatível com as condições locais”, esclarece Carlos Britez.

Também foi aplicada uma camada de cal como material separador, reduzindo o atrito e prevenindo fissuras por retração. “Esse procedimento consumiu dezenas de sacos de cal, mas garantiu o desempenho desejado”, relata Carlos Britez.

O processo contou com acompanhamento rigoroso: dosagem em balança, aplicação de aditivos, uso de régua vibratória (em vez de vibrador de imersão, já que a espessura era de 20 cm) e cura primária imediata com VAP durante a concretagem, procedimento muitas vezes negligenciado, mas que evitou fissuração precoce.

A obra foi executada com plano de concretagem definido, incluindo juntas de retração — que, como ressaltado em palestra, deveriam ser chamadas de “juntas de separação”, pois separam, e não apenas unem.

Fontes
Carlos Britez é sócio-diretor na Britez Consultoria, que atua nas áreas de tecnologia, patologia, inspeções, retrofits, acompanhamento de obras, palestras, cursos e treinamentos com foco em estruturas de concreto armado e sistemas correlatos.
Alexandre Britez é sócio-diretor técnico na GP&D Holding. É mestre em engenharia civil e professor de pós-graduação na área de tecnologia e gestão na produção de edifícios. Atualmente é projetista e consultor de empresas que atuam em construção civil.

Contato:
alexandre@gped.eng.br

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Concrete Show discute o futuro do pavimento de concreto

Na Concrete Show 2025, realizada em São Paulo (SP), especialistas em pavimento de concreto chamaram atenção para erros que ainda comprometem a qualidade e a durabilidade da técnica no Brasil. Traço inadequado, falta de capacitação da mão de obra e uso incorreto de equipamentos estão entre as falhas mais comuns, mas que poderiam ser facilmente evitadas. Ao mesmo tempo, o evento trouxe novidades que apontam para o futuro do setor, como o avanço de tecnologias nacionais em maquinário e o uso de macrofibras estruturais, capazes de reduzir custos e aumentar a eficiência das obras.

Vantagens do pavimento de concreto

Ruben Caetano acredita que hoje o mercado já conta com equipamentos desenvolvidos no Brasil que atendem bem a pavimentação de concreto.
Crédito da imagem: Marina Pastore

Durante o evento, Ricardo H. Moschetti, gerente do Estado de São Paulo, da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), levantou algumas vantagens do pavimento de concreto:

  • Questão ambiental: a durabilidade do pavimento de concreto se torna ainda mais evidente. Com manutenção adequada ao longo do tempo, é possível proporcionar ao usuário — seja caminhão ou frota — uma redução significativa no consumo de combustível e de óleo, além de menor emissão de CO₂. Um dos fatores decisivos está no IRI (Índice de Irregularidade Internacional): pavimentos de concreto apresentam menor crescimento desse índice ao longo dos anos, garantindo um rolamento mais contínuo e, portanto, mais eficiente.
  • Comportamento: por sua natureza elastoplástica — e, em alguns casos, termoplástica devido à variação de temperatura —, o asfalto tende a sofrer deformações que aumentam a resistência ao rolamento. Já o concreto mantém a superfície mais estável, reduzindo o esforço extra do veículo e, consequentemente, o impacto ambiental. Intervenções como o “cepilhado”, um desbaste no pavimento, ainda permitem aperfeiçoar o IRI e prolongar a vida útil da via.
  • Financeiro: Do ponto de vista econômico, o pavimento de concreto também tem mostrado competitividade. Exemplos recentes no Brasil, como concessões rodoviárias e obras públicas, comprovam que, apesar de o investimento inicial ser, em alguns casos, superior ao do asfalto, o custo de manutenção ao longo de 20 a 30 anos é consideravelmente menor, resultando em melhor valor presente para investidores e gestores públicos. Não por acaso, estados como o Paraná vêm ampliando seus programas de pavimentação em concreto.

Falhas evitáveis na pavimentação em concreto

Na palestra “Pavimentação de Concreto: Inovações, Falhas Evitáveis e o que mundo está fazendo”, Ruben Caetano, diretor administrativo na IMB Brasil, trouxe algumas falhas comuns com relação ao pavimento rígido:

  • Traço de concreto

Desenvolvimento do traço de concreto ideal para suprir as necessidades do projeto e garantir a qualidade e durabilidade do pavimento.

  • Falta de capacitação técnica

Falta de conhecimento e capacitação da equipe impacta diretamente na qualidade, resultado e produtividade da obra.

  • Dimensionamento de equipamento

Garante produtividade, evita falhas de execução e eleva a durabilidade do pavimento. “A geometria tem que ser bem analisada quando desenvolve o pavimento, pois podem ocorrer problemas como a falha de direcionamento da máquina. Um erro que pode acontecer é quando a área de transição não é considerada e a junta de dilatação das placas fica exatamente embaixo da linha de rodagem. Com o uso ao longo do tempo e peso dos caminhões, isso vai trazer problemas, pois vai forçar a ponta da placa. Isso tem que ser avaliado no processo”, explica Caetano.

Futuro da pavimentação de concreto no Brasil

Durante sua palestra, Caetano discutiu alguns aspectos relacionados ao futuro da pavimentação de concreto no Brasil. “Hoje nós temos, a nível nacional, mais de 2.000 km de rodovias com pavimento de concreto liberados para serem executados”, pontua.

Com relação aos maquinários, Caetano acredita que hoje o mercado já conta com equipamentos desenvolvidos no Brasil que atendem a esta necessidade. “Antes, éramos obrigados a aceitar o que o mercado lá fora fazia. Só que muitas vezes estes equipamentos eram superdimensionados para as nossas necessidades e isso tornava os equipamentos caros que não viabilizavam o investimento. Agora, já temos máquinas que podem trabalhar desde um pequeno loteamento, fazer uma ciclovia em pavimento de concreto, a grandes rodovias”, afirma. Caetano cita o exemplo de uma máquina extrusora de concreto, que é 100% automatizada. “Esse equipamento aumentou a produtividade média das obras de 20% a 30% mais. Ele tirou a interferência do operador. Essas máquinas também trazem um concreto com um slump mais elevado, conseguimos ter uma trabalhabilidade melhor. Com os novos equipamentos, conseguimos fazer de 5 a 6 metros por minutos – antes esse índice era de 2 metros por minuto”, justifica.

Caetano também vê novos conceitos de projetos e desenvolvimento. “Antigamente, tínhamos espessuras muito altas de concreto, com 20 ou 30 cm, com malhas de ferro. Hoje há uma infinidade de empresas que utilizam macrofibras, que permite que o pavimento de concreto tenha uma espessura delgada, com 10 ou 15 cm. Isso reduz o custo de material, aumenta a produtividade e permite a viabilização de novos projetos com execução e aplicação destas tecnologias”, pondera.  

Fontes
Ruben Caetano é diretor administrativo na IMB Brasil.
Ricardo H. Moschetti, gerente do Estado de São Paulo, da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Contatos
Ruben Caetano - contato@imb-brasil.com.br
Assessoria de Imprensa ABCP: daniela.nogueira@fsb.com.br

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Controle de granulometria dos agregados influenciam durabilidade do concreto

A qualidade do concreto depende diretamente da granulometria, da forma e da classificação dos agregados — fatores que determinam sua trabalhabilidade, resistência e durabilidade. Em painel da Concrete Show 2025, Francisco Holanda, diretor técnico da Holanda Engenharia, e Benito Bottino, diretor técnico da Sobratema, destacaram como o controle da granulometria tem garantido maior uniformidade e qualidade ao material utilizado nas obras.

De acordo com Holanda e Bottino, praticamente todo o concreto utilizado em obras é bombeado — ninguém mais carrega baldes ou sacos no ombro. “Para que isso seja possível, a granulometria e a forma dos agregados se tornam fatores decisivos: quanto menores e mais arredondados, melhor o bombeamento e menor o desgaste dos equipamentos”, explicam. Segundo os palestrantes, também tem havido um crescimento da demanda por agregados miúdos, abaixo de 14mm. Este tipo de material é ideal para estruturas mais delgadas, pré-moldados, concreto bombeado, concreto autoadensável e microconcreto. 

Case: Aeroporto de Lima

Outro avanço que começa a se consolidar é a substituição das centrais dosadoras pelas misturadoras.
Crédito: Marina Pastore

Durante a apresentação, um exemplo emblemático apresentado foi o do Aeroporto de Lima, no Peru, que teve uma concretagem de grandes dimensões: foram 48 caminhões em fila, durante oito horas, preenchendo uma estrutura de 1,20 metro de espessura, 12 metros de altura e 32 metros de comprimento em uma única etapa. “O resultado só foi viável porque se utilizou um microconcreto desenvolvido especialmente para garantir fluidez, resistência e sustentabilidade”, afirmam Holanda e Bottino.

Esse tipo de tecnologia também está presente em concretos autoadensáveis, capazes de preencher estruturas densamente armadas sem a necessidade de vibração. “A solução é usada tanto em peças pré-moldadas e vigas protendidas quanto na recuperação de edificações antigas, que exigem materiais capazes de ocupar espaços confinados, com acabamento de alta qualidade e sem retrabalho”, destacam os especialistas.

Granulometria controlada

De acordo com Holanda e Bottino, a demanda por concretos mais sofisticados, no entanto, impõe novos desafios aos produtores de agregados e às concreteiras. “Para atender ao mercado, é necessário fornecer materiais com granulometria controlada, sem arestas e sem contaminação com pó de pedra e pedrisco. Nessa condição, o agregado naturalmente proporciona uma redução de 15% a 20% na água de amassamento. Esse fator é altamente sustentável e ainda acrescenta um parâmetro importante de durabilidade. Em outras palavras: há menos consumo de água e de cimento. Consequentemente, há menor emissão de CO₂”, alertam.

Nesse cenário, a areia artificial ganha espaço como alternativa sustentável. Segundo Holanda e Bottino, diferente do pó de pedra residual da britagem, que não possui controle de qualidade, a areia artificial é intencionalmente produzida, com maior qualidade, e já foi utilizada em obras de grande porte no Brasil e no exterior, muitas vezes substituindo totalmente a areia natural. “Além de oferecer durabilidade e uniformidade ao concreto. E tem o aspecto ambiental disso, porque se isso fica estocado, acaba se tornando um passivo ambiental”, pondera.

Fontes
Francisco Holanda é diretor técnico da Holanda Engenharia.
Benito Bottino é diretor técnico da Sobratema.

Contatos
contato@holandaengenharia.com.br
sobratema@sobratema.org.br

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Uso de fibras ganha destaque no Concrete Show

Para Carlos Bassamino, o uso de macrofibras traz ganho em resistência à tração e, principalmente, em resistência pós-fissuração.
Créditos: Marina Pastore

O uso de fibras no concreto foi um dos principais temas do Concrete Show 2025, evento que reuniu especialistas em construção civil e tecnologia de concretos. Durante diversas palestras, os profissionais destacaram como esses filamentos plásticos sintéticos, incorporados à mistura, aumentam a resistência à tração e a pós-fissuração, além de permitir redução de espessura das placas de pavimento e otimização de custos. 

Carlos Bassamino, diretor na R9Pro Engenharia e Consultoria, na palestra “Inovação e Projetos de Pavimentos Rígidos com Fibras”, explicou que se trata de milhares de filamentos plásticos dispersos no concreto, que, sob carga, promovem a distribuição interna dos esforços. O resultado é um ganho em resistência à tração e, principalmente, em resistência pós-fissuração – o mesmo efeito buscado no uso do aço.

“Essas fibras são filamentos plásticos sintéticos à base de polipropileno (PP). O material é escolhido por oferecer boa resistência mecânica e excelente desempenho frente à alcalinidade elevada do concreto. Outros plásticos tenderiam a se deteriorar, dissolvendo ou perdendo massa, enquanto o PP apresenta baixa perda de massa e já conta com respaldo normativo”, destaca Bassamino.

De acordo com Prof. Dr. Carlos Marmorato, livre-docente da Unicamp e presidente da ABIFIBRA, na construção civil, as fibras podem atuar de diferentes formas: como reforço contínuo ou descontínuo, reforço interno ou externo. “As macrofibras, em específico, enquadram-se como um reforço descontínuo interno, onde eu armo o concreto a partir das macrofibras”, explica.

Propriedades

As macrofibras são elementos de reforço estrutural do concreto, cuja eficiência depende principalmente do volume incorporado à mistura, e não apenas do tipo de fibra. Segundo Marmorato, “quando pensamos em fibras, o que realmente importa é a quantidade adicionada por metro cúbico de concreto, pois é isso que define seu desempenho estrutural”.

Com a publicação das novas normas em 2021, projetos de pavimentação rígida reforçada com fibras passaram a ser apoiados em ensaios de controle tecnológico, especialmente o Crack Mouth Opening Displacement (CMOD). Esse teste avalia o comportamento pós-fissuração do concreto, distinguindo entre hardening – quando a fibra aumenta a resistência após a fissuração – e softening, quando há perda gradual de resistência. “O comportamento softening é o mais comum em pavimentos e representa uma mudança importante no entendimento da engenharia de materiais”, explica Marmorato.

Carlos Marmorato destaca que as fibras precisam ser inertes ao ambiente alcalino do concreto para não sofrer degradação.
Créditos: Marina Pastore

Além do aspecto mecânico, o desempenho das fibras também envolve a durabilidade química. Segundo Marmorato, elas precisam ser inertes ao ambiente alcalino do concreto, caso contrário, sofrem degradação. “Uma macrofibra sintética estrutural de qualidade otimiza a transferência de tensões e mantém a resistência residual do concreto, mesmo após a fissuração”, afirma o especialista. De acordo com a NBR 16940:2021, fibras estruturais devem atingir pelo menos FR1 = 1,3 MPa e FR4 = 1,0 MPa, mas em projetos práticos os valores podem ser até duas vezes superiores, evidenciando diferenças significativas de desempenho mesmo com a mesma dosagem.

Macrofibras para pavimento de concreto

Em sua palestra, Bassamino pontua que no conceito tradicional, conhecido como sistema PCA, tem só concreto simples fazendo reforço estrutural, sem armaduras estruturais. “Mas estamos introduzindo as macrofibras estruturais. Isso traz um benefício significativo no que diz respeito à espessura – vamos ter espessuras menores e placas menores. No sistema PCA, as placas têm 3,60 m de largura por 5 a 6 metros de comprimento. Quando uma carga é aplicada, gera-se um momento fletor. Com uma placa maior, é preciso vencer um esforço maior. Ao trabalhar com placas menores, de 1,80 m por 2 m, o momento fletor acaba sendo menor. Consequentemente, é possível baixar a espessura. Isso representa uma melhoria com relação a custo e durabilidade. A macrofibra vai atuar na pós-fissuração do concreto. E eu posso aplicar em formas deslizantes ou em pavimentadoras de asfalto”, expõe Bassamino. 

Quando a fibra não é utilizada, o esforço se propaga e o concreto acaba rompendo, já que não há nenhum elemento estrutural responsável por transferir a carga entre as placas. “Com a fibra, a situação muda: ela atua como uma espécie de costura interna. Ao receber a carga, cada filamento plástico contribui para redistribuir a energia, permitindo a transferência de esforços entre uma placa e outra”, destaca Bassamino.

De acordo com Bassamino, a vantagem é significativa, sobretudo nas juntas serradas, onde o custo de instalar barras seria elevado. Já nas juntas de parada – pontos de interrupção da concretagem – ou em ligações longitudinais, o sistema tradicional ainda exige barras.

No CCRF aplicado em áreas vicinais, conseguimos eliminar até mesmo essas barras de transferência, garantindo maior agilidade construtiva e viabilidade técnica comprovada.

No pavimento flexível, a carga é muito pontual: quando a roda passa, gera-se um bulbo de tensão que se propaga intensamente para as camadas inferiores. “Já no pavimento rígido, esse bulbo é bem menor. O comportamento é semelhante ao de uma laje ou radiê: a carga se distribui uniformemente por uma área maior, o que permite reduzir espessuras de base e, consequentemente, obter economia no dimensionamento”, conclui Bassamino.

Uso de fibras no concreto projetado

Paulo Fernando aponta que as macrofibras sintéticas atuam na pós-fissuração.
Créditos: Marina Pastore

Na palestra “Tendências da Aplicação de Fibras em Concreto Projetado”, o professor e doutor Paulo Fernando Araújo da Silva, abordou o concreto projetado, muito usado em túneis e obras de grande porte. Segundo ele, este material apresenta retração maior que o concreto convencional, aumentando o risco de fissuras se não houver cuidados específicos. Segundo o professor, “enquanto o concreto bombeado convencional registra retrações de cerca de 500 µm/m, o projetado pode chegar a 700 µm/m na via seca e 850 µm/m na via úmida, exigindo atenção redobrada na cura e no controle da quantidade de água”.

Para minimizar esses efeitos, o especialista destaca o uso de fibras no concreto. “As microfibras de polipropileno ajudam a controlar fissuras por retração plástica e aumentam a resistência ao fogo, enquanto as macrofibras sintéticas atuam na pós-fissuração, mantendo as fissuras estreitas e protegendo a armadura da corrosão”, explica Araújo da Silva. Ele acrescenta que, apesar de eficazes, as fibras de aço podem aumentar o desgaste das máquinas de projeção, o que limita seu uso em alguns projetos.

O professor também reforça a importância de medir a tenacidade do concreto, que indica sua capacidade de continuar resistindo após a fissuração. “Ensaios avançados, como o da placa francesa, fornecem uma avaliação mais realista do desempenho do concreto com fibras. Além disso, o uso de microfibras ajuda a prevenir o spalling, o desprendimento de pedaços de concreto em situações de altas temperaturas”, afirma. Para Araújo da Silva, a combinação dessas técnicas garante revestimentos mais duráveis e seguros, sobretudo em túneis e obras críticas de infraestrutura.

Fontes

Carlos Bassamino é diretor na R9Pro Engenharia e Consultoria.
Carlos Marmorato é livre-docente da Unicamp e presidente da ABIFIBRA.
Paulo Fernando Araújo da Silva é mestre em Engenharia de Construção Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e Doutor em Infraestrutura pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). 

Contatos
Carlos Bassamino: contato@r9pro.com.br
Carlos Marmorato: cemgomes@unicamp.br 
Paulo Fernando: darciliapaulo@uol.com.br

Jornalista responsável: 
Marina Pastore – DRT 48378/SP 
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