Na pandemia, imóveis diferenciados mantêm mercado

Com a adoção do home office permanente, escritórios tendem a encolher na pós-pandemia. Crédito: Cushman & Wakefield/Divulgação
Com a adoção do home office permanente, escritórios tendem a encolher na pós-pandemia.
Crédito: Cushman & Wakefield/Divulgação

O distanciamento social por causa do Coronavírus trouxe uma nova realidade para o mercado imobiliário. Segundo a Buildings, especializada em pesquisa imobiliária corporativa, 80% das empresas brasileiras estimam ter escritórios menores na pós-pandemia. O motivo está relacionado ao fato de que boa parte de seus colaboradores passará a trabalhar em home office, efetivamente. Por outro lado, esses profissionais que serão deslocados para atuar em casa se movimentam para dar um upgrade em suas residências, ou seja, buscam unidades maiores, mais confortáveis e que sejam diferenciadas. 

Entre as características que se destacam, estão espaço para home office e garden. “Veremos a busca por escritórios menores e casas maiores”, diz Fernando Didziakas, sócio da Buildings. A análise é confirmada por Marcos Kahtalian, sócio da BRAIN e vice-presidente de banco de dados do SindusCon-PR. Segundo ele, imóveis diferenciados que oferecem qualidade de vida estão mantendo o mercado, mesmo na crise. O especialista aponta ainda que casas e sobrados tendem a ter maior demanda que apartamentos, por causa do distanciamento social. Porém, ressalta que apartamentos de alto padrão seguem em alta, seja para morar ou investir.

Velho depósito nos fundos de uma casa inspirou a construção de um home office. Crédito: MW Architects
Velho depósito nos fundos de uma casa inspirou a construção de um home office.
Crédito: MW Architects

Quem destaca o investimento em imóveis é Fernando Razuk, vice-presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO). “Em um momento de taxas de juros baixa, é comum os investidores buscarem investimentos de maior risco, em busca de mais rentabilidade. Porém, ações de empresas listadas na Bolsa de Valores, fundos multimercados e títulos públicos, entre outros, costumam sofrer grandes oscilações em momentos de crise, podendo gerar perdas aos investidores. O mesmo não ocorre com o valor dos imóveis, que têm oscilações de valores muito menores que ativos financeiros”, diz. 

Pesquisa mostra números do mercado imobiliário, após impacto da COVID-19

No entanto, os analistas de mercado compartilham da tese de que o “novo normal” vai exigir espaços diferenciados nos imóveis, a fim de que eles se diferenciem. Segundo opiniões, os conceitos de antes da pandemia vão mudar. “Vínhamos de uma tendência muito forte dos apartamentos compactos, grandes escritórios e espaços de trabalho compartilhado. A pandemia fez refletir sobre esse modelo imposto e nos levou a focar na qualidade de vida. Agora, a prioridade é por soluções direcionadas à melhoria da nossa moradia”, afirma Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems.

Home office passou a ser peça diferenciada para quem projeta, compra ou investe em imóveis. Crédito: MW Architects
Home office passou a ser peça diferenciada para quem projeta, compra ou investe em imóveis.
Crédito: MW Architects

A fim de entender o impacto da COVID-19 no mercado imobiliário, a Brain Inteligência Estratégica realizou duas pesquisas (com empresários do setor da construção civil e consumidores) e obteve os seguintes números: 78% dos empresários vão manter os lançamentos, mas atrasá-los, enquanto 13% pretendem lançar sem atrasos e apenas 2% vão cancelar o lançamento. Quanto aos clientes, 55% mantiveram a intenção de comprar após a pandemia, mas apenas 16% efetivaram o negócio. Entre os que ainda vão comprar, 42% prorrogarão por tempo indefinido o prazo para decidir a aquisição. A pesquisa intitula-se “Coronavírus: impactos e desafios no mercado imobiliário”.

Veja a pesquisa completa

Assista ao vídeo “Coronavírus: impactos e desafios no mercado imobiliário” - parte 1

Assista ao vídeo “Coronavírus: impactos e desafios no mercado imobiliário” - parte 2

Acompanhe a vídeo-aula “Vendas imobiliárias no momento atual”

Entrevistado
Buildings Pesquisas Imobiliárias (via assessoria de imprensa)
Marcos Kahtalian, sócio da BRAIN e vice-presidente de banco de dados do SindusCon-PR

Contato
contato@buildings.com.br
e-brain@brain.srv.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Indústria do cimento perto da alforria do coque de petróleo

Caroço de açaí tem sido utilizado na região norte como combustível alternativo no coprocessamento da indústria de cimento. Crédito: ASCOM SEDEME
Caroço de açaí tem sido utilizado na região norte como combustível alternativo no coprocessamento da indústria de cimento.
Crédito: ASCOM SEDEME

Ao participar de webinar promovido pela Concrete Show, o presidente da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) e do SNIC (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento), Paulo Camillo Penna, anunciou que o setor está cada vez mais próximo de se libertar da dependência do coque do petróleo como principal combustível para os fornos das cimenteiras. Segundo Penna, a pandemia de Coronavírus tende a acelerar a “alforria”, através de investimento maior no coprocessamento de combustíveis alternativos e resíduos industriais. 

“O coque é dolarizado e isso encarece o processo industrial. Com maior investimento no coprocessamento, reduzimos o custo e criamos alternativas para enfrentar a crise, como sempre fizemos. Somos um setor irrequieto e inovador e estamos próximos de substituir mais de 50% do coque por resíduos. Esse percentual tende a aumentar, conforme parcerias com as prefeituras permitam que utilizemos também resíduos sólidos urbanos”, destaca o dirigente, frisando que a indústria de cimento no Brasil é a mais sustentável do mundo.

Paulo Camillo Penna cita que a indústria de cimento brasileira alcançou esse estágio de sustentabilidade alicerçada em 4 pilares: adições, combustíveis alternativos, eficiência energética e tecnologia de captura e estocagem de carbono, o que explica os baixos percentuais de emissão de CO2 do setor. “No mundo, a indústria de cimento é uma das que mais emite CO2, responsável por cerca de 7% do total de emissões. Mas no Brasil, o setor emite menos da metade disso, ou seja, um percentual inferior a 3,5%”, explica.  

Para sustentar o compromisso com o coprocessamento de resíduos, a indústria de cimento não para de se reinventar. Ela mapeia cada vez mais os combustíveis alternativos nas várias regiões do país. “Hoje, usamos casca de babaçu e caroço de açaí nas indústrias localizadas na região norte; no sul, palha de arroz; no centro-oeste, cavaco de madeira, e em Minas Gerais, moinha de carvão. Ao agregar esses resíduos na produção de cimento, o que estamos fazendo é gestão de risco”, afirma Camillo Penna. 

Ele compara o movimento constante da indústria de cimento, na busca de soluções que mitiguem os impactos por ela causados, ao que a pós-pandemia de Coronavírus vai impor ao planeta. “A pandemia vai exigir uma nova indústria, um novo país e um novo mundo. Ao se adaptar constantemente às mudanças que a economia e a sociedade impõem, a indústria cimenteira está habilitada aos desafios desse momento”, completa o presidente da ABCP e do SNIC.

Pavimento de concreto e coprocessamento ajudam a reduzir impacto do Custo Brasil  

Indústria de cimento integra o Movimento Brasil Competitivo, cujas propostas foram apresentadas recentemente ao governo federal. Crédito: Marcos Corrêa/PR
Indústria de cimento integra o Movimento Brasil Competitivo, cujas propostas foram apresentadas recentemente ao governo federal.
Crédito: Marcos Corrêa/PR

Com a visão estratégica peculiar do setor, a indústria de cimento se aliou ao estudo coordenado pelo Movimento Brasil Competitivo e pelo Boston Consulting Group, o qual busca avaliar a performance do país em 12 itens que são inerentes à atividade industrial. Entre eles, tributo, mão de obra, infraestrutura, crédito etc. Os números levantados foram comparados à média das nações que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O resultado é que o chamado Custo Brasil drena anualmente 1,5 trilhão de reais - equivalente a 22% do PIB nacional -, o que demonstra o quanto o país perde em competitividade na comparação com o grupo da OCDE - organismo do qual o Brasil pleiteia ser país-membro.

Para melhorar a performance nacional, a indústria de cimento apresentou dois projetos relacionados com a infraestrutura: investimento em pavimento rígido e em coprocessamento. “O custo de uma rodovia em concreto é mais vantajoso que o asfalto em qualquer circunstância. Isso vale também para o pavimento urbano. Quando ao coprocessamento, ele também ataca diretamente o Custo Brasil, já que mitiga impactos ambientais e enfrenta o consumo do coque do petróleo, reduzindo nosso custo de produção”, finaliza Paulo Camillo Penna. 

Assista ao vídeo completo do webinar “Como o setor cimenteiro está se preparando para a retomada pós-crise”

Conheça os programas de Responsabilidade Socioambiental da Itambé 

Entrevistado
Reportagem com base no webinar “Como o setor cimenteiro está se preparando para a retomada pós-crise”, promovido pela Concrete Show, e que entrevistou Paulo Camillo Penna, presidente da ABCP e do SNIC

Contato
dcc@abcp.org.br
snic@snic.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Áustria cria tecnologia que acelera construção de pontes

Equipamento tem movimento inspirado no abre-fecha dos guarda-chuvas e dispensa fôrmas. Crédito: TU Wien
Equipamento tem movimento inspirado no abre-fecha dos guarda-chuvas e dispensa fôrmas.
Crédito: TU Wien

O departamento de engenharia da Universidade de Tecnologia de Viena (TU Wien), na Áustria, desenvolveu uma fôrma hidráulica que permite acelerar a construção de pontes e viadutos de concreto moldados in loco. O equipamento foi inspirado no mecanismo de abre-fecha dos guarda-chuvas. De que maneira? Uma estrutura vertical oca recebe as armaduras de aço e se move até alcançar a posição horizontal em que a viga será construída. Quando o processo de alinhamento termina, as fôrmas são preenchidas com concreto para conceber a superestrutura da ponte. 

O equipamento, que dispensa guindastes, foi testado pela primeira vez no trecho da nova rodovia que liga a Áustria à Hungria. Os engenheiros envolvidos com a tecnologia asseguram que ela garante mais agilidade na construção de pontes e viadutos com até 120 metros de comprimento. “A maneira tradicional de construir uma ponte pré-moldada acontece com a montagem de peça por peça. Neste caso, é necessário utilizar andaimes e pilares para sustentar as vigas. Com o novo sistema, construir pontes é muito mais simples, mais rápido, mais barato e gera menos impacto ambiental”, diz Johann Kollegger, do Instituto de Engenharia Estrutural da TU Wien.

Armaduras das vigas são montadas dentro do mecanismo, que após se alinhar horizontalmente pode receber concreto. Crédito: TU Wien
Armaduras das vigas são montadas dentro do mecanismo, que após se alinhar horizontalmente pode receber concreto.
Crédito: TU Wien

O engenheiro civil explica como a nova tecnologia pode tornar mais ágil a construção de pontes e viadutos. “O processo de montagem do equipamento leva cerca de três horas e os elementos podem ser configurados entre dois a três dias, ao contrário das pontes convencionais, que levam meses para serem montadas”, destaca. Os primeiros testes foram realizados em 2010 e a tecnologia - garantem os pesquisadores da TU Wien - está totalmente desenvolvida e já foi usada na construção de duas pontes na Áustria, ambas na autopista conhecida como S7. A primeira em outubro de 2019, sobre o rio Lahnbach, com 100 metros de comprimento; a segunda em fevereiro de 2020, cruzando o rio Lafnitz, com 116 metros.

Sistema permite construir obras de arte de médio porte com vãos de até 72 metros

Cada viga construída com a tecnologia pesa cerca de 50 toneladas e permite vão de até 72 metros entre os pilares de sustentação. “Está provado que a tecnologia funciona perfeitamente. Esperamos sua consolidação na construção de pontes em todo o mundo", prevê Johann Kollegger. Outra vantagem da estrutura é que o custo da manutenção é baixo. “A construção em si é extremamente sustentável e a manutenção dessas pontes também é menos complexa", explica Andreas Fromm, diretor-administrativo da concessionária que administra a S7.

Construção ocorre rapidamente e a estrutura de uma ponte ou viaduto pode ficar pronta em semanas. Crédito: TU Wien
Construção ocorre rapidamente e a estrutura de uma ponte ou viaduto pode ficar pronta em semanas.
Crédito: TU Wien

A construção das duas pontes custou 17,3 milhões de euros (cerca de 105 milhões de reais). Já o trecho de toda a rodovia está estimado em 700 milhões de euros (aproximadamente 4,2 bilhões de reais). As obras eram para ser concluídas em 2021, mas a pandemia de Coronavírus que também atingiu a Áustria adiou o cronograma para 2023. Outro desafio da obra de infraestrutura é a construção de dois túneis para vencer uma cadeia montanhosa na região, ambos com 3 quilômetros de comprimento. A S7 foi projetada para suportar tráfego de 29 mil veículos por dia, a fim de atender principalmente o turismo na região.  

Assista vídeo que mostra a montagem de vigas para pontes

Entrevistado
Johann Kollegger, engenheiro civil e professor do departamento de estruturas da Universidade de Tecnologia de Viena

Contato
johann.kollegger@tuwien.ac.at

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Impressão 3D em concreto viabiliza eólicas com 170 m

O braço robótico e impressora 3D já estão em teste na Universidade da Califórnia. Atualmente, a startup, em parceria com outra universidade - a Universidade de Purdue, na Indiana-EUA - trabalha na pesquisa do concreto especial que será usado para erguer as torres eólicas. O estudo envolve tipos de cimento, de areia, de outros agregados e de aditivos químicos. O desafio é controlar a estabilidade do concreto quando ele ainda estiver em estado fresco, haja vista que a impressão dispensa o uso de fôrmas.

Em seguida, serão construídas duas torres como protótipos, com 140 metros e 170 metros de altura. A metade inferior das estruturas será em concreto e a metade superior em aço com formato de cone. Já as fundações das torres serão construídas através do método convencional, que utiliza concreto armado. O local em que serão erguidas as torres ainda não está oficialmente definido, mas a Califórnia é o mais cotado.

O projeto de construção das eólicas com o uso de impressoras 3D surgiu em 2017 e a previsão é que os envolvidos no desenvolvimento da tecnologia estejam prontos para executá-lo em 2022. A expectativa é que as torres permitam gerar energia a um custo 60% mais barato que as usinas eólicas convencionais. Uma das razões é que a logística de transporte das peças pré-moldadas de concreto até o local de instalação das usinas encarece a produção de energia eólica.

Se tecnologia for bem sucedida, plano envolve construir usinas em alto-mar 

Se o resultado de construir com impressora 3D for promissor, os desenvolvedores da tecnologia já têm um novo desafio: viabilizar torres offshore, ou seja, para usinas que venham a ser instaladas em alto-mar. Jason Cotrell, fundador e CEO da RCAM Technologies, estima ser possível erguer torres 100% de concreto ao custo de 100 dólares por tonelada, enquanto no método tradicional, utilizando apenas aço, esse valor pode chegar a 6 mil dólares por tonelada.

As torres projetadas para o alto-mar teriam, em média, 50 metros de altura, o que ajudaria a reduzir o custo. As pesquisas contam com o apoio da Associação Americana de Energia Eólica (American Wind Energy Association [AWEA]), com o objetivo de dar competitividade a essa fonte de energia alternativa, frente à energia solar e energia de gás natural, bastante utilizadas nos Estados Unidos. 

Em 2019, a energia eólica, segundo a AWEA, superou a produção de 100 GW nos EUA, gerou investimento de US$ 14 bilhões em novos projetos e forneceu US$ 1,6 bilhão em pagamentos de royalties a proprietários de terras.  No Brasil, os dados mais recentes da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) apontam que 619 usinas estão em funcionamento no país, com capacidade instalada de 15,4 GW. O volume pode crescer mais 2 GW, após a entrada em operação de novos parques eólicos que estão em construção. 

Entrevistado
Jason Cotrell, fundador e CEO da RCAM Technologies (via assessoria de imprensa)
Associação Americana de Energia Eólica (American Wind Energy Association [AWEA]) (via assessoria de imprensa)
ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) (via assessoria de imprensa)

Contato
Contact@RCAMTechnologies.com
press@awea.org
abeeolica@abeeolica.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Para especialistas, cidades e jeito de construir vão mudar

Salas de aula a céu aberto na era pós-pandemia: arquitetos imaginam mudanças na forma de construir. Crédito: Curl la Tourelle Head
Salas de aula a céu aberto na era pós-pandemia: arquitetos imaginam mudanças na forma de construir.
Crédito: Curl la Tourelle Head

Engenheiros civis e arquitetos foram convocados a opinar sobre mudanças que devem ocorrer no urbanismo e na mobilidade urbana quando o período da pós-pandemia de Coronavírus chegar. Para eles, as cidades irão mudar. A tendência é que as metrópoles passem a ter múltiplos centros. A prioridade será evitar grandes deslocamentos, aglomerações e o uso intenso do transporte público. 

Outra alteração a caminho está relacionada à valorização dos espaços públicos a céu aberto, às adaptações nas estruturas habitacionais e às construções feitas para grandes concentrações de pessoas, como estádios e shopping centers. Isso, no entender dos especialistas, irá alterar também o jeito de construir. “É perceptível que estamos sentindo falta do espaço público e do ambiente aberto. Isso vai trazer uma valorização desse tipo de local”, diz o arquiteto Marcelo Nudel.

Restaurante com cúpula envidraçada e arejada: COVID-19 deve impor novas concepções arquitetônicas. Crédito: Dezeen
Restaurante com cúpula envidraçada e arejada: COVID-19 deve impor novas concepções arquitetônicas.
Crédito: Dezeen

O engenheiro civil Ulysses Mourão entende que a forma de usar os espaços públicos pela população será diferente pela mudança de hábito que tem sido provocada pela COVID-19. No entanto, ele avalia que as transformações não serão repentinas. “Podem ocorrer mudanças na forma de construir novos ambientes coletivos, mas isso levará um pouco mais de tempo, já que envolve investimentos, projetos e a construção propriamente dita”, analisa.

Já o arquiteto e urbanista Daniel Corsi, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, ressalta que o distanciamento social pode levar à descentralização de polos urbanos. “Isso é positivo, porque não é mais possível resolver tudo a partir de um único centro. A cidade precisa ser policêntrica, ou seja, ter uma estrutura mais diluída em que a pessoa consegue ter todos os serviços básicos e fundamentais perto de sua residência”, cita.

Novas estruturas comerciais podem nascer no lugar de áreas industriais desativadas

Escritórios menores, individualizados e permeados por áreas verdes: cidades e edificações terão que se adaptar ao “novo normal”. Crédito: Dezeen
Escritórios menores, individualizados e permeados por áreas verdes: cidades e edificações terão que se adaptar ao “novo normal”.
Crédito: Dezeen

Nesse sentido, o uso de brownfields (áreas industriais desativadas) para a construção de ativos imobiliários - parques, centros comerciais e edifícios residências - pode ajudar nessa descentralização. “Com a crise, as brownfields estão ficando mais baratas e podem ser uma oportunidade para o desenvolvimento desse tipo de produto. Esses locais podem ganhar um novo uso, se adequando à realidade que virá na pós-pandemia”, completa Ulysses Mourão.

Outra tendência colocada no debate por Hewerton Bartoli, presidente da Abrecon (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição), é que a forma de consumir também será revista. “Mais da metade do resíduo da construção é inerte (concreto e alvenaria). Isso significa que entre 50% e 70% é passível de beneficiamento. Precisaremos repensar a forma de consumo, porque os materiais são finitos, como a areia e a rocha, nesse caso. Podemos priorizar a aplicação dos materiais reciclados ao invés dos materiais naturais em diferentes áreas no setor”, analisa. 

Teatros ao ar livre e shopping centers com grandes vãos livres para a circulação das pessoas: distanciamento social vai exigir novos projetos. Crédito: Dezeen
Teatros ao ar livre e shopping centers com grandes vãos livres para a circulação das pessoas: distanciamento social vai exigir novos projetos.
Crédito: Dezeen

O grupo que participou do webinar “Impactos ambientais da Covid-19 no setor da construção” também avalia que as construções com certificações vão passar a dominar o mercado no pós-pandemia. “As certificações que levam em conta o ciclo de vida de materiais estarão em alta. Junto com elas, crescerá também a construção industrializada, pois tem o benefício de poder mapear melhor o ciclo de vida, já que a produção ocorre no ambiente fabril”, finaliza Nuldel.

Assista ao webinar “Impactos ambientais da Covid-19 no setor da construção”

Entrevistado
Reportagem com base nos debates mostrados no webinar  “Impactos ambientais da Covid-19 no setor da construção”, promovido pela Sobratema

Contato
sobratema@sobratema.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Só com ações conjuntas construção civil volta a crescer

Conseguir manter os canteiros de obras em atividade durante a pandemia foi uma das vitórias do setor da construção civil. Crédito: Agência Brasil
Conseguir manter os canteiros de obras em atividade durante a pandemia foi uma das vitórias do setor da construção civil.
Crédito: Agência Brasil

Dados apresentados em conjunto por CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção ) e AFEAL (Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio) mostram que 77% das empresas ligadas a essas associações de classe estão operando normalmente. 

O mesmo estudo revela que 55% estão preparadas para a retomada e 42% farão investimentos ainda este ano, mesmo com a crise desencadeada pela pandemia de Coronavírus. Para o presidente da CBIC, José Carlos Martins, trata-se de uma reação a uma crise em cima de outra crise.  “Estamos vivendo uma crise em cima da crise. Está difícil para todos, mas temos de olhar pelo lado da oportunidade. O Brasil só pode sair do buraco tendo a construção como locomotiva”, afirma.

Luiz Antônio França, presidente da Abrainc, concorda que estímulos à construção civil é que poderão puxar o PIB do Brasil. “Somos nós que temos condições de impulsionar a retomada”, diz. A mesma tese é compartilhada por Rodrigo Navarro, presidente da Abramat. “Precisamos agora planejar a retomada da retomada. A pandemia não estava nos planos. Estamos buscando novas formas de superar os desafios, e temos que ser protagonistas. Isso é um trabalho de todos”, ressalta.

Para o presidente da Anamaco, Waldir Abreu, o varejo da construção civil está se reinventando. “Nossa grande vantagem é que em nenhum momento as lojas pararam, porque o setor foi visto como uma atividade essencial. Estão todas ou abertas ou operacionais para dar conta dos atendimentos emergenciais”, relata. Todos os dirigentes participaram do webinar “Virando o jogo: a retomada da construção civil pós-COVID-19”.

Venda de material de construção cresceu em abril, na comparação com março

Por isso, juntas, as associações de classe apresentaram um plano estratégico com três linhas de ação: seleção e envio de informações qualificadas aos associados e membros; interação constante com os governos federal, estaduais e municipais e compartilhamento interno de melhores práticas entre associados, membros e outras entidades. 

Já o plano tático inclui reunião semanal do comitê de crise, disponibilização de dados em área específica nos sites das entidades e participação em grupos de trabalho e comitês, sejam eles governamentais ou não. "Com isso, apresentamos vários pleitos aos governos e fomos bem sucedidos, como, por exemplo, com os decretos que estabeleceram que o setor de material de construção e a construção civil são atividades essenciais", comenta Navarro.

São reações como essas que fizeram com que as vendas da indústria de material de construção crescessem 3,6% em abril, na comparação com março, quando eclodiu a pandemia no Brasil. Por outro lado, se levados em conta os números de abril de 2019, as vendas do mês anterior caíram 4,7%. Diante do quadro ainda incerto, a Abramat já revê as projeções lançadas no começo de 2020, quando estimava que o crescimento anual do setor seria de 4%. “Diante das incertezas sobre os rumos do país, ainda não conseguimos refazer as projeções para 2020, mas a expectativa de uma retração tornou-se um cenário mais provável”, finaliza Rodrigo Navarro.

Assista ao vídeo do webinar “Virando o jogo: a retomada da construção civil pós-COVID-19”

Entrevistado
Reportagem com base no webinar “Virando o jogo: a retomada da construção civil pós-COVID-19”, com os presidentes da CBIC, Abrainc, Abramat, Anamaco e AFEAL

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abramat@abramat.org.br
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ascom@cbic.org.br
abrainc@abrainc.org.br
afeal@afeal.com.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Hora de qualificar a mão de obra da construção é agora

Dentro dessa perspectiva, os engenheiros civis acreditam que o operário que empilha blocos para erguer paredes, e que recebe baixa remuneração, será substituído por trabalhadores com qualificação para atuar em sistemas construtivos mais tecnológicos e de execução mais rápida. “Treinar esse novo operário será também um desafio para as empresas, e esse é um bom momento de prepará-lo para a demanda que virá”, diz Luiz Henrique Ferreira, CEO da startup Inovatech Engenharia.

Ferreira ressalta ainda que o momento é de falar em eficiência e construção sustentável. Ele compara os processos de modernização da construção civil com aqueles pela qual a indústria automobilística passou no final do século passado, sinalizando que nem por isso houve desemprego em massa no setor. “A indústria automobilística passou por uma robotização incrível de suas plantas. Porém, os metalúrgicos não ficaram sem postos de trabalho, apenas tiveram que ser requalificados”, cita.

É necessário levar opções tecnológicas ao usuário, além da alvenaria convencional

Ainda sobre a industrialização da construção civil, o engenheiro civil vê um cenário semelhante ao que ocorreu com o setor automobilístico. “Se pegar todo o contingente de trabalhadores alocado em canteiro de obras, elevar a demanda de projetos e aumentar a produtividade, certamente não vai faltar vaga para os que se qualificarem. E essa é uma boa hora de investir em qualificação”, destaca o engenheiro civil, em sua participação no webinar “Gestão da obra em tempos de Covid-19 - a otimização de recursos para uma nova realidade”, promovido pela FEiCON BATiMAT.

Apesar de defenderem a construção industrializada, os palestrantes deixam claro que não têm nada contra o sistema de alvenaria convencional. “Não existe sistema construtivo ideal. Em algumas situações específicas, a alvenaria é a melhor solução. Mas o que estamos frisando é que é necessário levar opções tecnológicas ao usuário, para que ele rompa o preconceito que possui contra outros sistemas construtivos. Se a construtora vai executar um projeto customizado, obviamente a alvenaria é a melhor solução. Porém, se estamos falando em construir 150 unidades, em produção de larga escala, a industrialização é a melhor opção”, afirmam.

Principalmente - realça Luiz Henrique Ferreira - porque agora a construção civil vive a era do BIM (Building Information Modeling [Modelação da Informação da Construção]). No entanto, ele deixa claro que a ferramenta é muito mais que apenas um software e que, se usado de maneira incorreta, pode mais prejudicar o andamento da obra do que ajudar. “BIM é gestão da informação e exige que todos os envolvidos na obra tenham acesso aos dados. Além disso, necessita que a equipe responsável pela execução esteja bem treinada. Por isso, a importância de aproveitar a atual fase para qualificar os colaboradores”, finaliza.

Assista ao vídeo do webinar “Gestão da obra em tempos de Covid-19 - a otimização de recursos para uma nova realidade”



Entrevistados
Engenheiros civis Danilo Lorenceto, diretor da Lorenceto Engenharia, e Luiz Henrique Ferreira, CEO da startup Inovatech Engenharia, que participaram de webinar promovido pela FEiCON BATiMAT

Contato
feicon@reedexhibitionsbrasil.com.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Tecido com cimento e poliéster protege contra COVID-19

Segundo o designer indiano Somesh Singh, a eficácia de proteção dos uniformes está entre 95% e 99%. Crédito: Craft Village
Segundo o designer indiano Somesh Singh, a eficácia de proteção dos uniformes está entre 95% e 99%.
Crédito: Craft Village

O designer indiano Somesh Singh desenvolveu tecido testado em laboratório que se mostrou eficaz para proteger profissionais da saúde e policiais da COVID-19 - infecção causada pelo Coronavírus. O material tem uma fina camada intermediária de nata de cimento, que funciona como filtro. As demais partes do tecido contam com poliéster, lã sintética e nanodetergentes.

Batizado de CoValor-21, o material começa a ser testado na confecção de uniformes para quem atua no pelotão de frente de combate à pandemia. Segundo Somesh Singh, a eficácia de proteção está entre 95% e 99%. “O uniforme é hermético e bloqueia partículas maiores que 0,05 mícrons. Como o Coronavírus tem entre 0,06 mícrons e 0,14 mícrons, o tecido tem alto percentual de desempenho”, diz.

Outra característica do material é que ele é impermeável, o que permite que as roupas passem por um processo de lavagem quando profissionais da saúde e policiais tiverem contato com infectados. “Elas precisam ser desinfetadas com essas roupas, e o material é à prova d'água, assim como suporta outros processos de descontaminação, como luz infravermelha e ultravioleta”, explica o cientista.

Sobre o uso de nata de cimento misturada com poliéster, o pesquisador explica que as pesquisas mostraram que a combinação funciona como um filtro. Além disso, afirma Somesh Singh, os aditivos acrescentados à nata de cimento dão a ela uma característica emborrachada, o que ajuda na flexibilidade do uniforme. O tecido foi desenvolvido por duas startups indianas: a Craft Village, da qual Somesh é o CEO, e a Craft Beton.

Superfícies de concreto estão entre os materiais onde o Coronavírus menos resiste

O pesquisador estima que o uniforme, quando estiver em produção, terá custo unitário equivalente a 400 reais. De acordo com Somesh Singh, o estudo começou quando ele teve acesso a outro experimento, realizado em conjunto pelas universidades de Princeton e UCLA, e pelo National Institutes of Health (Instituto Nacional de Saúde), o qual mostrou que superfícies lisas de concreto estão entre os materiais onde o Coronavírus menos resiste, juntamente com o cobre.

 Por outro lado, plástico, vidro e aço entre os que mais fazem o vírus prolongar sua sobrevivência. Embora preliminar, a pesquisa enfatiza a importância de higienizar constantemente telefones celulares, superfícies plásticas e metálicas para evitar a disseminação da COVID-19. Vale ressaltar que o estudo ainda não foi homologado cientificamente, mas oferece novas pistas importantes sobre o potencial do Coronavírus.

O microorganismo pode sobreviver em metal, vidro e plástico por até 9 dias. No cobre - material menos receptivo ao vírus -, resiste no máximo 4 horas. Os pesquisadores também avaliam que as superfícies de concreto liso, desde que estejam secas e não sejam alvos de patologias, conseguem repelir o Coronavírus, assim como o papelão. “Por serem elementos porosos, eles desidratam o vírus mais rapidamente”, comenta o virologista Vincent Munster, chefe do Rocky Mountain Laboratories e membro do National Institutes of Health.

Veja detalhes dos uniformes desenvolvidas pela Craft Village

Entrevistado
Designer Somesh Singh, especializado em tecnologia dos tecidos e CEO da Craft Village, com base em entrevista à britânica BBC

Contato
info@craftvillage.org.in

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


No Brasil, obras públicas e imobiliárias não paralisaram

Duplicação da BR-116, no Rio Grande do Sul-RS: trecho de 27 quilômetros acaba de ser inaugurado. Crédito: DNIT
Duplicação da BR-116, no Rio Grande do Sul-RS: trecho de 27 quilômetros acaba de ser inaugurado.
Crédito: DNIT

No dia 7 de maio de 2020, através de decreto do governo federal, a construção civil passou a ser considerada atividade essencial em todo o país. Na prática, significa que o setor tem permissão de continuar operando durante a pandemia de Coronavírus. A decisão formalizada em Brasília-DF apenas confirma o que na prática já vinha ocorrendo. Com base em dados do mês de abril, CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) mostram que as obras públicas e imobiliárias que já estavam em execução antes da chegada da COVID-19 ao Brasil seguem com seus canteiros ativos

Pavimentação da Transamazônica acontece em trechos de 7 estados: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Crédito: DNIT
Pavimentação da Transamazônica acontece em trechos de 7 estados: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas.
Crédito: DNIT

De acordo com os números da ABRAINC, 94% das obras do setor imobiliário estão em andamento no país. Quanto às obras públicas, a CBIC informa que as que já possuíam orçamentos e licenças aprovados também não sofreram interrupções. Algumas, inclusive, foram recentemente inauguradas. Como o trecho de 27 quilômetros da duplicação da BR-116 no Rio Grande do Sul. As obras na rodovia continuam e o objetivo é finalizar até 2021 a duplicação de 211,2 quilômetros entre Guaíba e Pelotas. A estrada é a principal via de acesso ao Sul do estado e ao porto de Rio Grande. Também é um importante corredor de ligação com o Mercosul.

Segunda ponte ligando Brasil e Paraguai: lado brasileiro segue em ritmo acelerado e concretando blocos de fundação. Crédito: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional
Segunda ponte ligando Brasil e Paraguai: lado brasileiro segue em ritmo acelerado e concretando blocos de fundação.
Crédito: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

Outra obra rodoviária de grande envergadura está em andamento entre as regiões norte e nordeste do país. Trata-se da pavimentação da rodovia Transamazônica, que corta os estados da Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. A estrada possui cerca de 4 mil quilômetros de extensão e encontra-se em fase de execução em vários segmentos. A obra está a cargo do 1º batalhão de engenharia de construção do exército. 

No Paraná, com recursos da Itaipu Binacional, a construção da segunda ponte ligando Brasil e Paraguai também não sofre interrupção. Foi finalizada a concretagem dos blocos de fundação dos pilares principais e a obra encontra-se na etapa de armação da torre-mastro do lado brasileiro. O concreto é fornecido pela empresa Minero Mix, de Foz do Iguaçu-PR, que utiliza Cimento Itambé. Os recursos para a ponte somam 463 milhões de reais, considerando estrutura, desapropriações e o projeto de uma perimetral no lado brasileiro. A previsão de conclusão é para o final de 2022.

Apesar do volume de obras em andamento, nível de atividade do setor diminuiu

Obra de revitalização do Vale do Anhangabaú, em São Paulo-SP, vai receber placas cimentícias em área de 53 mil m². Crédito: Roberto Parizotti/Fotos Públicas
Obra de revitalização do Vale do Anhangabaú, em São Paulo-SP, vai receber placas cimentícias em área de 53 mil m².
Crédito: Roberto Parizotti/Fotos Públicas

Nas capitais também existem obras de mobilidade urbana em andamento, como a revitalização do Vale do Anhangabaú, em São Paulo-SP, e o complexo de viadutos e trincheiras no trecho norte da Linha Verde, em Curitiba-PR. No projeto paulistano, o pavimento de pedras portuguesas será trocado por placas cimentícias permeáveis, em uma área de 53 mil m². Na obra curitibana, o lugar do antigo trevo do Atuba está recebendo 926 estacas em concreto pré-moldado para sustentar as novas estruturas viárias da Linha Verde. A trincheira e os viadutos vão dispensar a necessidade de semáforos para organizar o tráfego na região.

Linha Verde, em Curitiba-PR: lugar do antigo trevo do Atuba está recebendo 926 estacas em concreto pré-moldado para sustentar as novas estruturas viárias. Crédito: Daniel Castellano/SMCS
Linha Verde, em Curitiba-PR: lugar do antigo trevo do Atuba está recebendo 926 estacas em concreto pré-moldado para sustentar as novas estruturas viárias.
Crédito: Daniel Castellano/SMCS

Apesar do volume de obras em andamento, os organismos de classe que monitoram as construções no país admitem que, desde o início da pandemia, o nível de atividade do setor diminuiu. A parte mais afetada é a que envolve os projetos que estavam em fase de maturação e prestes a serem lançados. No caso do setor imobiliário, as regras de distanciamento social têm atingido principalmente o segmento de médio e alto padrão, onde os clientes fazem questão de visitar “in loco” a unidade decorada antes de encaminhar a negociação. Quanto aos novos projetos de infraestrutura, pesa a limitação no orçamento da União, de estados e dos municípios, já que a saúde passou a priorizar a liberação de recursos.

 

Entrevistado
Reportagem com base em dados recentes apresentados pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e pela ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), junto com DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)

Contato
comunicacao@abrainc.org.br
ascom@cbic.org.br
imprensa@dnit.gov.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Impacto global da COVID-19 na construção é menor que o esperado

Medidas sanitárias nos canteiros de obras preservam a atividade dos trabalhadores da construção civil. Crédito: Banco de Imagens
Medidas sanitárias nos canteiros de obras preservam a atividade dos trabalhadores da construção civil.
Crédito: Banco de Imagens

O impacto da pandemia de Coronavírus na indústria global da construção civil causou recuo que varia entre 15% e 35%, no que se refere à atividade do setor. Em uma lista de 48 países, o menos afetado é a Irlanda, cuja produtividade regrediu 15%. Já a Grécia é a que mais acusa o golpe, com recuo beirando 35%. O Brasil está em uma posição intermediária, com queda de 25,5% na atividade da indústria da construção. Os dados foram passados pelo diretor-executivo da Federación Iberoamericana de Hormigón Premezclado (FIHP), Manuel Antonio Lascarro Mercado, em recente webinar. 

O dirigente destacou que, apesar das perdas, o setor sofreu um impacto menor que o esperado em todo o mundo. “No começo, imaginava-se que os governos iriam decretar lockdown para todas as obras, mas isso, felizmente, não aconteceu. As medidas sanitárias nos canteiros preservam a atividade e diria que o impacto atual é médio”, avalia. O diretor-executivo da FIHP mostrou um gráfico em que a construção civil foi o segundo menos afetado pelas medidas emergenciais tomadas para combater a COVID-19 em todo o mundo.

Tomando como base os dados do G7 - as 7 maiores economias liberais do mundo, que são Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Japão, Itália e Canadá -, os serviços relacionados com turismo, entretenimento, gastronomia, viagens e hotelaria foram os mais impactados. Em seguida, vêm atacado e varejo, serviços, profissões liberais, serviços imobiliários, construção civil e transporte. Essa depressão global, segundo mostra Manuel Antonio Lascarro Mercado, pode causar o fechamento de 195 milhões de postos de trabalho em todo o mundo, com abrangência em todos os setores econômicos. Só nos Estados Unidos, o desemprego já atinge 20 milhões.

Estímulo à construção civil movimenta cadeia produtiva e compensa perdas em outros setores

Diante desse cenário, diretor-executivo da FIHP destaca a importância de os governos estimularem a construção civil, para que a cadeia produtiva que ela movimenta possa compensar as perdas geradas em outros segmentos. Manuel Antonio Lascarro Mercado elenca medidas que alguns países já estão adotando. A República Checa, por exemplo, reajustou os contratos das obras públicas em até 10% para fortalecer as empresas e estendeu os prazos em até 25%. A Alemanha simplificou os trâmites para pagar as obras em execução. Também estão surgindo fundos emergenciais para estimular e financiar obras de infraestrutura.

No Brasil, o governo federal estuda lançar o programa Pró-Brasil para estimular a construção civil, porém ainda não está consolidado. De qualquer forma, medidas são aguardadas pelo setor, haja vista que o nível de atividade atingiu o menor patamar da série histórica iniciada em 2010, como destaca a economista do Banco de Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos. “O levantamento demonstra que as condições financeiras das empresas pioraram, revertendo a evolução positiva dos três trimestres anteriores. Diante da atual conjuntura, os empresários revelam queda acentuada de confiança e têm expectativas de baixo crescimento para os próximos meses”, conclui.

Assista ao webinar “Panorama del Sector Construcción frente a la crisis sanitaria del COVID-19” (cadastre-se para acessar)

Contato
mlascarro@asocreto.org.co 

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330