Compósito com ligante à base de MgO captura CO₂ e usa fibras vegetais como reforço

Rumo à neutralidade de carbono até 2050, a área de materiais para construção vem intensificando a busca por tecnologias capazes de reduzir significativamente seu impacto ambiental. Um exemplo promissor parte da Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisadores desenvolveram um novo tipo de ligante à base de óxido de magnésio (MgO) e fibras vegetais. A proposta é substituir compostos calcários pelo MgO, minimizando as emissões associadas ao processo tradicional de produção.
“O óxido de magnésio (MgO) oferece uma alternativa mais sustentável e versátil. Dependendo da sua origem e reatividade, ele permite a formulação de ligantes que, além de terem menor pegada de carbono, possuem pH mais ameno e são capazes de reagir com CO₂ do ambiente, promovendo a carbonatação e formando compostos estáveis”, explica o doutor Adriano Azevedo, pesquisador do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP).
Ainda segundo Azevedo, este compósito utiliza fibras lignocelulósicas provenientes de resíduos agroindustriais ou de plantações sustentáveis, como fibras de eucalipto e pinus. “Essas fibras são renováveis, biodegradáveis e possuem baixa energia incorporada em comparação com fibras sintéticas ou metálicas. O grande diferencial ambiental do nosso compósito cimentício está na combinação de dois componentes com baixa emissão de carbono: o MgO reativo e as fibras vegetais. Além disso, o material é capaz de capturar CO₂ durante sua cura, o que contribui ainda mais para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa”, afirma.

Como funciona?
O ligante à base de MgO é capaz de capturar CO₂ de forma permanente, por meio da carbonatação mineral, transformando o gás em carbonatos de magnésio hidratados. Essa reação pode ocorrer com o CO₂ presente no ar ou com fluxos concentrados, como os gerados durante a fermentação nas usinas de etanol.
“Na prática, isso significa que o CO₂ proveniente de processos industriais — como o da produção de etanol, que gera um fluxo de alta pureza — pode ser utilizado para curar o compósito em câmaras controladas, promovendo a formação de fases minerais estáveis que retêm esse carbono de forma permanente. Além da carbonatação mineral, outra estratégia promissora de captura de CO₂ é o uso de resíduos agroindustriais, como bagaço de cana, fibras de bambu e outras biomassas lignocelulósicas, como reforços vegetais nos compósitos. Ao incorporar esses resíduos na matriz cimentícia, evita-se sua queima e, consequentemente, a liberação do carbono neles contido, promovendo uma forma de encapsulamento biogênico de CO₂ (revestimento com substâncias de origem biológica, que tem como objetivo proteger o material central, melhorar suas propriedades e torná-lo mais compatível com sistemas biológicos). Quando combinados com ligantes inorgânicos mais estáveis e menos agressivos, esses compósitos proporcionam um ambiente protetor para a biomassa, aumentando sua durabilidade e funcionalidade estrutural. Essa abordagem representa uma via eficiente de captura e armazenamento de carbono (CCS) integrada ao setor da construção civil, contribuindo ativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa”, explica o pesquisador.
Aplicações do compósito
Atualmente, os pesquisadores estão focando em aplicações não estruturais, como painéis de vedação, placas cimentícias e produtos pré-moldados. “Ainda estamos avaliando a viabilidade do uso em componentes estruturais, o que exigirá estudos mais aprofundados sobre o comportamento a longo prazo, aderência a armaduras e desempenho sob carga. A grande vantagem é que mesmo em aplicações não estruturais, esse tipo de compósito já oferece ganhos ambientais e funcionais muito relevantes”, pontua Azevedo.

Desafios na produção
De acordo com Azevedo, os desafios vão além do controle químico da matriz. “É essencial padronizar a produção do MgO — especialmente no que se refere à pureza do material e às condições de calcinação. Mesmo sendo calcinado a temperaturas mais baixas que o clínquer do cimento Portland, o processo deve ser cuidadosamente controlado para garantir uma reatividade adequada, capaz de formar um ligante eficiente e estável. Essa padronização é crucial para garantir desempenho uniforme e confiável do ligante em diferentes aplicações. Além disso, o uso de fibras vegetais exige cuidados específicos com o pH e com a dispersão dessas fibras para evitar degradação precoce e garantir bom desempenho mecânico por períodos mais longos”, explica o pesquisador da USP.
Continuidade da pesquisa do ligante à base de MgO
Os pesquisadores estão avançando em duas frentes principais, de acordo com Azevedo. A primeira envolve a avaliação técnico-econômica do uso do CO₂ proveniente da indústria de etanol, que é um setor em franca expansão no interior de São Paulo. O objetivo é estudar formas práticas e viáveis de capturar esse CO₂ de alta pureza e aplicá-lo diretamente na cura por carbonatação dos materiais que estão desenvolvendo.
A segunda frente envolve a otimização das reações químicas e dos parâmetros de cura, para garantir que o material final apresente alta durabilidade, bom desempenho mecânico e uma contribuição significativa para a descarbonização tanto da construção civil quanto da própria cadeia de produção de etanol. Isso cria um elo forte com os princípios da economia circular, conectando setores que tradicionalmente operam de forma isolada.
Entrevistado

Adriano Galvão de Souza Azevedo é pesquisador na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP), no Departamento de Engenharia de Biossistemas. Atua nas áreas de cimentos alternativos, compósitos reforçados com fibras lignocelulósicas, durabilidade de materiais cimentícios e carbonatação acelerada. Possui experiência na produção e caracterização de materiais cerâmicos, cimentos livres de clínquer e sistemas à base de MgO e MgSO4. Parte de sua pesquisa foi desenvolvida na FCT-NOVA (Portugal) e no CERIS (Civil Engineering Research and Innovation for Sustainability), com estudos sobre envelhecimento acelerado de fibrocimentos magnesianos. Atuou como pesquisador visitante no grupo Manchester CREATES da Universidade de Manchester (Reino Unido), com foco em cinética de carbonatação e mudanças microestruturais em ligantes inorgânicos. Integra a RINCIMCI Rede Ibero-Americana para Neutralidade Carbônica da Indústria dos Materiais Cimentícios e o BioSMat Núcleo de Pesquisa em Materiais para Biossistemas, em colaboração com o Departamento de Engenharia Mecânica, Aeroespacial e Civil da Universidade de Manchester.
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Taxa Selic em alta pressiona o setor da construção civil e desafia incorporadoras e fornecedores
A elevação da taxa básica de juros, a Selic, a 15% ao ano tem provocado impactos significativos no setor da construção civil no Brasil. Este é o maior patamar desde 2006, trazendo reflexos diretos sobre o custo do crédito e o ritmo dos empreendimentos e está sendo encarada com cautela por empresas e entidades representativas do setor. A dificuldade de acesso a financiamentos e o encarecimento dos materiais são alguns dos efeitos mais sentidos.

Crédito: Envato
Para a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), a decisão do Comitê de Política Monetária tem consequências imediatas e negativas. “A elevação da Selic impacta significativamente o mercado imobiliário, tanto na ponta do consumidor quanto na cadeia produtiva. O crédito fica mais caro e o acesso à moradia é dificultado”, avalia o presidente da ABRAINC, Luiz França.
Além disso, o aumento dos juros compromete a retomada do setor e ameaça os programas de habitação social, como o Minha Casa Minha Vida, que dependem de condições de financiamento acessíveis para as famílias e de previsibilidade para as incorporadoras. “O crescimento sustentável do setor requer estabilidade econômica. A Selic em dois dígitos encarece os financiamentos e afasta investidores, além de pressionar os custos das empresas”, aponta.
Na área das incorporadoras, os desafios são complexos. Maria Eugenia Fornea, CEO da Weefor e diretora de Expansão da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (ADEMI-PR), destaca que a Selic elevada é hoje um dos maiores entraves à atividade no setor. “Além de reduzir a capacidade de compra do consumidor, ela dificulta a viabilização dos empreendimentos”, afirma.
Empresas recorrem a mercado de capitais
Com a forte queda na oferta de crédito via poupança, as incorporadoras têm recorrido ao mercado de capitais, onde as taxas efetivas chegam a ultrapassar 20% ao ano. “Isso encurta as margens e exige maior vigilância sobre o caixa, o cronograma e a estrutura de funding das obras”, alerta Maria Eugenia. Segundo ela, muitos projetos iniciados no ciclo de juros baixos estão sendo finalizados agora, com custos mais altos e ritmo de vendas mais lento, gerando pressão sobre os resultados.
O cenário também traz à tona o risco de descasamento entre custo e receita. “Esse risco está mais presente e deve seguir exigindo atenção dos agentes financiadores”, reforça a diretora da ADEMI-PR. Em meio a esse ambiente desafiador, a necessidade de planejamento estratégico e análise criteriosa de viabilidade torna-se fundamental para a sustentabilidade dos negócios.
Reflexos em toda cadeia produtiva
Para Márcio Korzeniewski, diretor da unidade MatCon da Soprano, empresa de material de construção, os reflexos da Selic alta são sentidos em toda a cadeia produtiva. “O crédito fica mais caro, tanto para empresas quanto para consumidores finais, o que pode desacelerar investimentos, reduzir o ritmo de obras e afetar negativamente a demanda por materiais”, afirma.
Diante desse cenário, ele explica que a empresa tem reforçado a eficiência na gestão de custos, priorizando soluções tecnológicas com melhor custo-benefício para atender a um mercado mais exigente.
A busca por inovação e diversificação de portfólio tem sido o caminho adotado por fornecedores que, assim como a Soprano, seguem atentos às flutuações do mercado e ao comportamento do consumidor. “A expectativa é de que os consumidores continuem priorizando soluções tecnológicas de qualidade, com bom custo-benefício e confiabilidade”, aponta Korzeniewski.
Para a ABRAINC, o momento exige atenção redobrada por parte do governo e diálogo com os setores produtivos. “É fundamental que as decisões de política monetária estejam alinhadas com as metas de crescimento, geração de emprego e acesso à moradia. Precisamos de estabilidade e previsibilidade para planejar e investir”, reforça França. De acordo com ele, o setor da construção é um grande indutor de desenvolvimento e gera efeitos em cascata em outras áreas da economia. Por isso, a política monetária precisa considerar esses reflexos para evitar uma desaceleração mais severa.
Apesar das incertezas, o setor mantém o otimismo para o segundo semestre. “Mantemos uma visão otimista para o setor imobiliário. Embora o crédito mais caro e restrito afete a demanda por financiamentos no curto prazo, a decisão de adquirir um imóvel vai além da taxa de juros do momento, já que envolve planejamento, capacidade de pagamento e, muitas vezes, a realização de um sonho de consumo”, observa França.
Segundo o presidente da ABRAINC, do ponto de vista estrutural, o setor segue apoiado em bases sólidas: incorporadoras capitalizadas, um déficit habitacional superior a 7 milhões de moradias e uma demanda superior a 11 milhões de novas unidades nos próximos dez anos, o que reforça o potencial de crescimento do setor.
Enquanto isso, empresas e profissionais do setor seguem se reinventando, com foco em inovação, gestão eficiente e solidez nas decisões. A construção civil, mais uma vez, mostra sua resiliência diante dos ciclos econômicos.
Entrevistados
Márcio Korzeniewski é engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, é diretor da unidade MatCon da Soprano.
Maria Eugenia Fornea é economista formada pela UFPR, engenheira civil pela PUCPR, especialista em Planejamento e Desenho de Cidades pela PUCPR e em Cidades Responsivas pelo Responsive Cities Institute. Mestranda em Gestão Urbana pela PUCPR, atua há mais de 15 anos no mercado imobiliário. É fundadora e atual CEO da incorporadora curitibana Weefor e do Instituto WF, e diretora de expansão da ADEMI-PR.
Luiz França é engenheiro civil, presidente da ABRAINC, vice-presidente do Conselho Superior da Indústria da Construção (CONSIC) da FIESP, além de liderar a França Participações e integrar diversos conselhos, como o do Banco Inter, Cury Construtora, RENAC e Conselho Consultivo da Associação Comercial de SP (ACSP).
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Qual é o impacto da Lei Geral do Licenciamento Ambiental?
Nesta quinta-feira (17), a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 2.159/2021, que estabelece a nova Lei Geral de Licenciamento Ambiental. A medida segue agora para sanção do presidente.
Entre as novidades estão a Licença por Adesão e Compromisso, uma simples declaração a ser usada para atividades de baixo ou médio risco, a exemplo de obras de pavimentação. Como foi alterado pelos senadores, o projeto volta para uma nova votação na Câmara dos Deputados.
O assunto foi tema de debate promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). De acordo com Nilson Sarti, vice-presidente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CBIC e presidente da CMA/CBIC, essa norma vem sendo debatida desde 2004. “Trata-se da primeira norma geral federal para regulamentar o licenciamento ambiental no país. O principal objetivo é unificar os procedimentos, hoje dispersos entre Estados e municípios, evitando os conflitos gerados por diferentes interpretações sobre um mesmo tema. A proposta busca criar um regramento uniforme, que garanta agilidade nos processos sem comprometer a qualidade da proteção ambiental. O problema hoje está na complexidade excessiva e na sobreposição de normas, que muitas vezes empurram os empreendimentos para a informalidade — justamente onde ocorrem os maiores danos ambientais. O objetivo da nova norma é corrigir esse cenário, promovendo clareza, eficiência e proteção efetiva ao meio ambiente”, explica Sarti.

Crédito: Envato
O advogado Marcos Saes, consultor jurídico da CBIC, pontua que no Brasil, há milhares de normas relacionadas à área ambiental. No entanto, em meio a esse emaranhado legislativo, ainda não há uma lei geral que trate especificamente do licenciamento ambiental.
“No âmbito federal, o que rege o tema atualmente são apenas duas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama): a nº 01, de 1986, e a nº 237, de 1997. Essas resoluções, além de defasadas — foram elaboradas em um contexto socioeconômico completamente diferente do atual —, não foram concebidas para exercer o papel de marco legal estruturante do licenciamento ambiental. E quando falamos em sustentabilidade, é fundamental considerar seus três pilares: o social, o ambiental e o econômico. O novo marco legal representa um avanço justamente por promover a uniformização das regras. Não é razoável que o processo de licenciamento varie radicalmente conforme o Estado ou município. As fronteiras foram criadas pelo homem — o meio ambiente é um só e precisa ser tratado com coerência em todo o território nacional”, opina Saes.
O que muda?
O projeto aprovado estabelece seis modalidades de licenciamento ambiental: Licença Prévia, Licença de Instalação, Licença de Operação, Licença Ambiental Única, Licença de Operação Corretiva e a Licença por Adesão e Compromisso (LAC). Esta última, voltada para atividades classificadas como de baixo ou médio impacto ambiental — como obras de pavimentação, ampliações de estruturas já existentes e dragagens de manutenção — poderá ser concedida com base apenas em uma autodeclaração do empreendedor.
A LAC elimina a exigência de estudos técnicos complexos na fase inicial do processo, o que torna o licenciamento mais ágil para empreendimentos de menor porte e risco.
Sarti lembra que a LAC já é aplicada há anos na Bahia, com bons resultados. “Ela representa um avanço na direção da modernização e simplificação do licenciamento, especialmente frente a regras antigas e defasadas que precisam ser atualizadas. Além disso, a norma oferece maior segurança jurídica ao empreendedor, ao permitir previsibilidade sobre como o licenciamento será conduzido. Muito se fala em flexibilização, mas não se trata disso. As leis ambientais em vigor — como a da Mata Atlântica, da restinga, o Código Florestal, entre outras — continuam plenamente válidas”, comenta.
Vantagens
Segundo Saes, são necessárias regras claras e uniformes, independentemente de o processo estar sob responsabilidade do Ibama ou de órgãos locais. A criação de uma lei geral eliminaria essas distorções, ao estabelecer critérios padronizados para todos.
Ele acrescenta que, além de evitar retrabalho, o compartilhamento dessas informações por meio de plataformas digitais pode beneficiar também o meio acadêmico e os órgãos de controle. “Existe um enorme valor nesse tipo de transparência. Mas, para que funcione, isso precisa virar regra. Uniformização e modernização caminham juntas, e são fundamentais para dar mais eficiência e credibilidade ao licenciamento ambiental”, comenta.
O último ponto destacado por Saes diz respeito à necessidade de simplificação dos processos. “O modelo trifásico de licenciamento ambiental — com as etapas de Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação — é uma característica quase exclusiva do Brasil. Se esse formato ainda garantisse uma qualidade superior ao processo, tudo bem. Mas não é o que acontece na prática”, afirma.
Segundo ele, a burocracia excessiva sobrecarrega os órgãos públicos com análises repetitivas e impõe ao empreendedor e às equipes técnicas a obrigação de refazer estudos várias vezes, sem ganhos reais, conferindo pouca eficiência ao processo.
Para Saes, a proposta de modernizar, unificar e simplificar os procedimentos representa um avanço decisivo. “Ao tornar o processo mais claro e objetivo, fortalecemos a segurança jurídica e criamos um ambiente mais estável para os investimentos, sem abrir mão da proteção ambiental”, conclui.
Fontes
Nilson Sarti é vice-presidente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CBIC e presidente da CMA/CBIC.
Marcos Saes é advogado e consultor jurídico da CBIC.
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Mercado imobiliário de Curitiba fecha primeiro trimestre em alta de preços e perspectiva de cautela para segundo semestre
O mercado imobiliário de Curitiba apresentou sinais claros de transição nos três primeiros meses do ano. Segundo dados divulgados pela Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR), o primeiro trimestre de 2025 foi marcado por um paradoxo: enquanto o preço médio privativo dos imóveis teve alta de 15,8% nos últimos 12 meses, houve uma retração de 41% no número de lançamentos e de 14% nas vendas em unidades, na comparação com o mesmo período de 2024.
Para a Ademi-PR, esse comportamento reflete uma nova fase do ciclo imobiliário da capital. “Depois de anos de valorização intensa, o preço dos imóveis alcançou um teto. Esse movimento é resultado de uma combinação de fatores, como o aumento acumulado dos custos da construção, a inflação no setor e a alta prolongada dos juros”, explica Maria Eugenia Fornea, diretora de expansão da entidade.
A retração nas vendas e nos lançamentos não surpreendeu o setor. “Esse cenário já era esperado, especialmente diante da continuidade de juros elevados e da dificuldade crescente de acesso ao crédito para produção”, afirma Maria Eugenia.
Ela observa que o mercado está se ajustando com cautela ao cenário macroeconômico adverso. “Não se trata de uma crise, mas sim de um momento que exige prudência e foco em eficiência”, orienta.
Desafios e limitações
A valorização no preço médio, embora positiva do ponto de vista dos ativos, também impõe desafios, podendo limitar a velocidade de absorção, sobretudo em segmentos voltados à renda média. Segundo ela, a combinação de preços altos e juros elevados comprime a capacidade de financiamento do comprador e eleva o tempo de decisão. “Em muitos casos, o consumidor opta por aguardar”, assinala.

Crédito: Envato
Ainda assim, imóveis com localização privilegiada e diferenciais bem definidos continuam com liquidez. “Bairros com oferta restrita e escassez de novos produtos tendem a sustentar a valorização em nichos específicos”, completa Maria Eugenia. Essa seletividade é uma das principais tendências projetadas para os próximos meses.
Resiliência é a palavra-chave para o segundo semestre
A expectativa da Ademi-PR para o segundo semestre é de continuidade no ritmo mais contido de lançamentos e vendas, mas com foco redobrado na qualidade dos projetos. “O setor deve entrar em um período de reequilíbrio, com mais seletividade nos produtos ofertados e maior atenção à performance de vendas. Os bons projetos continuam com saída, mas o apetite do mercado está mais contido”, aponta a dirigente.
O financiamento à produção segue como um dos principais entraves, mesmo com o surgimento de modelos menos burocráticos. “O custo do dinheiro permanece alto e, diante da instabilidade macroeconômica, muitos empreendedores têm optado por aguardar melhores condições”, afirma.
Apesar dos desafios, há pontos de otimismo no horizonte. “A expectativa é de que a inflação se estabilize e, com isso, haja espaço para uma inflexão na política monetária”, diz Maria Eugenia. “A retomada pode vir, mas será gradual. Até lá, a palavra de ordem será resiliência, com foco em bons produtos, gestão rigorosa e decisões bem fundamentadas.”
Com esse novo cenário, o mercado imobiliário de Curitiba entra em uma fase de maior maturidade, em que a performance dependerá menos da quantidade e mais da qualidade das ofertas.
Entrevistada
Maria Eugenia Fornea é economista formada pela UFPR, engenheira civil pela PUCPR, especialista em Planejamento e Desenho de Cidades pela PUCPR e em Cidades Responsivas pelo Responsive Cities Institute. Mestranda em Gestão Urbana pela PUCPR, atua há mais de 15 anos no mercado imobiliário. É fundadora e atual CEO da incorporadora curitibana Weefor e do Instituto WF, e diretora de expansão da ADEMI-PR.
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Itambé marca presença no 9° Congresso Brasileiro do Cimento
Entre os dias 30 de junho e 02 de julho, foi realizado o 9° Congresso Brasileiro do Cimento, em São Paulo (SP). O evento reuniu autoridades, lideranças, especialistas e pesquisadores do Brasil e do exterior para debater políticas públicas, inovação tecnológica, legislação e questões ambientais ligadas à construção civil e ao uso do cimento.
Para Marcio Lobo, diretor comercial da Cia. de Cimento Itambé, o 9º Congresso Brasileiro do Cimento é um evento de grande relevância para o setor, pois aborda dois temas que estão no centro das discussões atuais: a questão ambiental e a inovação.

Crédito: 9° Congresso Brasileiro do Cimento
“No aspecto ambiental, o foco está na descarbonização e na redução das emissões de CO₂ — um desafio crucial para a indústria cimenteira. Temos um compromisso global com o Roadmap da neutralidade de carbono até 2050, e todas as fábricas de cimento no mundo estão mobilizadas para atingir essa meta. Para isso, a inovação é fundamental. Somente com novas soluções, tecnologias e equipamentos será possível transformar os processos produtivos e reduzir significativamente as emissões. Estamos diante de um momento decisivo, em que sustentabilidade e inovação caminham juntas para garantir o futuro da indústria”, afirma Lobo.
Palestra: Inovação com Propósito
Durante a programação do 9º Congresso Brasileiro do Cimento, a Cia. de Cimento Itambé apresentou a palestra “Inovação com Propósito”. Na ocasião, Arilson Batista Lauxen, coordenador de Planejamento e Controle de Manutenção, e Claudio Cesar Pereira, especialista técnico em Engenharia de Manutenção e Confiabilidade, compartilharam estratégias para otimizar processos e elevar a performance da fábrica por meio do uso de Business Intelligence (BI) e Inteligência Artificial (IA). Sobretudo, a palestra abordou como utilizar ferramentas de monitoramento para ter uma condição mais preditiva das operações da fábrica.
Um dos exemplos dados na palestra foi o uso do MAS 8, uma plataforma única e integrada para a gestão de ativos.
“Essa ferramenta não representou apenas uma nova interface, mas uma mudança na forma de pensar a gestão de ativos na Itambé”, afirmou Pereira. “Com o sistema MAS 8, conseguimos integrar dados operacionais de Controladores Lógicos Programáveis (CLPs), com IoT de dispositivos e sensores, permitindo o monitoramento dos ativos em tempo real.”
O sistema também conta com um módulo específico para acompanhar a saúde dos ativos, utilizando o histórico de manutenções, a expectativa de vida útil e investimentos de cada equipamento. “Com essa base de dados estruturada, conseguimos fazer predições de falhas, tanto com os nossos próprios registros quanto com os dados da IBM, utilizando inteligência artificial e machine learning para gerar análises preditivas de forma contínua”, explicou.

Crédito: 9° Congresso Brasileiro do Cimento
Pereira destacou ainda a versão mobile da ferramenta, que fornece aos técnicos acesso rápido e fácil aos dados dos ativos — inclusive offline. “O técnico pode carregar os dados na oficina e, no campo, registrar execuções, tirar fotos, fazer vídeos e apontamentos com georreferenciamento. Ao retornar à base, tudo é sincronizado automaticamente. Isso reduziu o uso de papel e melhorou significativamente o fluxo de trabalho”, completou.
Quando se trata da manutenção seletiva — voltada aos componentes e equipamentos mais críticos para o processo e para a companhia — Lauxen destaca, por exemplo, os avanços significativos nas medições e no monitoramento dos fornos e moinhos. “Evoluímos tanto na forma de medir quanto de controlar esses ativos”, afirma.
Segundo ele, o controle rigoroso desses itens é essencial, pois embora representem apenas 15% do estoque de componentes, respondem por 85% do custo anual com materiais de manutenção. “Por isso, todos esses itens foram alocados em um local lógico dentro do nosso ERP Protheus, sem ponto de ressuprimento com as requisições de compras controladas pela Engenharia. Todos são readquiridos com base na condição, tendencia, histórico de vida útil e prazo de entrega. Daí a necessidade de um controle tão preciso.”
Essa estratégia, explica Lauxen, permite aplicação da engenharia de manutenção, desenvolvimento de novas tecnologias, inovação, maior previsibilidade no planejamento de compras e no orçamento. “Conseguimos antecipar o quanto será necessário investir em itens seletivos nos próximos anos, o que facilita não só a gestão da manutenção, mas também o planejamento estratégico da Companhia”, conclui.
Conversa com CEOs
O 9º Congresso Brasileiro do Cimento foi encerrado com um bate-papo com os presidentes da indústria do cimento, mediado por Paulo Camillo Penna, presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Alexander Capela Andras, diretor superintendente da Cimento Itambé, participou da conversa e trouxe alguns insights sobre o mercado – em especial sobre a região Sul do país, área de atuação da empresa.

Crédito: 9° Congresso Brasileiro do Cimento
“Sobre o mercado atual, temos observado crescimentos mais modestos, muito em função das condições econômicas e estruturais do entorno. No entanto, a demanda do país é significativamente maior. Não existe, na história da humanidade, nenhum caso de país que tenha se desenvolvido sem que a indústria do cimento tivesse um papel essencial. O consumo de cimento está diretamente ligado ao progresso e à melhoria da qualidade de vida de uma nação. Temos, portanto, uma grande expectativa em relação ao que vem pela frente. Hoje, observamos no Sul do Brasil uma dinâmica muito forte impulsionada pelo setor privado que vem investindo em ampliação de capacidade e aumento de produtividade gerando emprego e renda.
Por isso, acreditamos fortemente no crescimento da demanda. Inclusive, acabamos de colocar em operação nosso forno mais recente — uma unidade moderna, já preparada para absorver esse novo ciclo de expansão”, comentou Andras.
Sobre as emissões do setor, Andras ressaltou a importância de envolver toda a cadeia produtiva no compromisso de buscar redução de emissões de CO₂. “Esse esforço precisa ir muito além do cimento em si. Durante o congresso discutimos bastante a necessidade de olhar para toda a cadeia produtiva: concreteiras, construtoras, projetistas e demais agentes precisam estar alinhados nesse propósito. As construções devem ser duráveis e pensadas com responsabilidade desde o projeto até a execução. Muito se fala, por exemplo, em sistemas de construção seca ou alternativas industrializadas, mas é preciso refletir também sobre o desempenho térmico, o conforto e vida útil dessas soluções. Tudo isso impacta diretamente na pegada de carbono. Quando comparamos, por exemplo, o modelo construtivo americano com o europeu, percebemos o quanto a durabilidade e a eficiência dos sistemas construtivos afetam as emissões durante a vida útil das edificações e infraestruturas. Precisamos, portanto, ampliar o olhar — pensar além do nosso segmento específico e atuar de forma integrada para transformar verdadeiramente o setor”, conclui.
Fontes
Marcio Lobo, diretor comercial da Cia. de Cimento Itambé.
Arilson Batista Lauxen, coordenador de Planejamento e Controle de Manutenção da Cia. de Cimento Itambé.
Claudio Cesar Pereira, especialista técnico em Engenharia de Manutenção e Confiabilidade da Cia. de Cimento Itambé.
Alexander Capela Andras, diretor superintendente da Cia. de Cimento Itambé.
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Revogação do aumento do IOF traz alívio ao setor e pode impulsionar novos investimentos
A derrubada do decreto que aumentava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi recebida com entusiasmo pelo mercado imobiliário e da construção civil. O decreto, editado em maio pelo governo federal, previa elevação nas alíquotas aplicadas a operações de crédito, câmbio e seguro, o que traria impacto direto no custo final dos financiamentos. Com a decisão do Congresso Nacional, as alíquotas retornam aos patamares anteriores, de 0,38% fixo mais 0,0041% ao dia.
Para o setor, essa revogação significa mais do que um alívio fiscal imediato. Representa uma retomada de fôlego. “A decisão de revogar o decreto que aumentava a alíquota do IOF é extremamente positiva para o setor. Com financiamentos mais baratos, as empresas do setor ganham fôlego para investir mais, e os consumidores finais tendem a ser beneficiados com juros menores”, afirma Marcos Bigucci, diretor da construtora MBigucci.

Crédito: Envato
Ambiente de negócios favorável
O IOF incide diretamente sobre operações de crédito utilizadas por incorporadoras, loteadoras, construtoras e consumidores finais. “Na prática, o IOF encarece o custo total dos empréstimos, dificultando o acesso ao crédito pelas empresas e pelos consumidores”, afirma Bigucci. Por isso, o retorno às alíquotas anteriores pode ser um vetor de estímulo ao crescimento. “Isso pode acelerar a aquisição de terrenos, o início de novas obras e tornar o setor mais atrativo a investimentos estrangeiros”.
A advogada Roberta de Amorim Dutra, consultora jurídica da Abagge Advogados, destaca que a redução da carga tributária pode gerar reflexos positivos até mesmo nos preços de imóveis. “A revogação do decreto pode ajudar as empresas incorporadoras, loteadoras e da construção civil, pois terão a redução de seus custos operacionais e financeiros. Com isso, pode haver uma melhora no preço dos imóveis, principalmente naqueles apresentados na planta”, explica.
Alívio momentâneo, mas incertezas persistem
Apesar do cenário favorável, especialistas são cautelosos quanto ao futuro do imposto. O IOF permanecerá existindo mesmo após a Reforma Tributária, pois esta foi apenas feita para os impostos sobre o consumo. “Não temos como prever como se dará essa cobrança no futuro, pois se trata de um imposto com finalidade extrafiscal. O uso abusivo de sua cobrança pode gerar reação política, judicial e econômica”, aponta Roberta.
Bigucci também alerta para os riscos de novas elevações. “Quando o governo precisa de dinheiro, começam a surgir propostas como essa. Mas os efeitos são catastróficos para o setor produtivo. A solução não é aumentar impostos, e sim estimular a economia”, opina.
Segundo ele, a revogação recente mostra que existe espaço político para avançar na pauta de desoneração, mas é preciso firmeza do Executivo para manter um planejamento fiscal equilibrado.
Desafios de financiamento no setor da construção civil
Tanto Roberta quanto Bigucci concordam que um dos maiores entraves ao desenvolvimento do setor está no alto custo do crédito. “O setor depende muito do capital de terceiros, e alterações recentes elevaram demais o custo de financiamento bancário, inclusive para antecipação de recebíveis e capital de giro”, afirma Roberta. Empresas de menor porte enfrentam desafios ainda maiores, diante da dificuldade de acesso a linhas de crédito, securitização e mercado de capitais.
“Já existem muitas incertezas no setor, sejam jurídicas, regulatórias ou econômicas. Qualquer medida que reduza os obstáculos, como a revogação do aumento do IOF, é importante para destravar o setor e impulsionar a geração de empregos e renda”, conclui Bigucci.
Portanto, a derrubada do decreto do IOF foi um passo importante na tentativa de aliviar a carga tributária que recai sobre o setor produtivo. No caso da construção civil, os reflexos são imediatos: crédito mais barato, menos custo financeiro e incentivo à retomada de investimentos. Contudo, permanece a necessidade de vigilância e articulação política para que medidas futuras não comprometam novamente a saúde de um setor primordial para o desenvolvimento econômico e social do país.
Entrevistados
Roberta de Amorim Dutra é Mestre em direito constitucional tributário pela PUC-SP. Especialista em direito tributário pela USP. Membro da Comissão de Direito Tributário da OAB-SP, da CENAPRET e da CCMT. Atualmente, é consultora jurídica da Abagge Advogados.
Marcos Bigucci é Mestre em Administração de Empresas pela Devry University (EUA), MBA pela FGV/Brasil e Certificado pela Harvard University (EUA) em Tecnologia e Empreendedorismo. Atualmente, é diretor da Construtora MBigucci.
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Projetos mostram como fazer mitigação de CO₂ na Prática
O ano de 2024 foi considerado o mais quente da história com cerca de 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). A onda de calor intensa enfrentada por diversas cidades brasileiras tem desafiado os administradores públicos diante das consequências das mudanças climáticas. Durante o 9º Congresso Brasileiro de Cimento, alguns painéis discutiram soluções para reduzir impactos no ambiente urbano.

Crédito: 9º Congresso Brasileiro de Cimento
Conheça iniciativas discutidas:
Rede More: mensuração da pegada de CO2 em construções autogeridas
Um dos painéis do Congresso Brasileiro do Cimento destacou a Rede MORE, projeto que busca mensurar a pegada de carbono em construções autogeridas e propor caminhos para a descarbonização da habitação popular no Brasil.
“O cimento ensacado ainda predomina no mercado nacional, o que revela uma realidade muitas vezes ignorada: obras de pequeno porte, em diferentes níveis de autogestão — sobretudo informais — respondem por cerca de 60% do setor. Ou seja, não é possível falar em descarbonização sem incluir esses territórios e agentes”, afirmou Mayara Munaro, professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Ela destaca que, para desenvolver estratégias de mitigação eficazes, é preciso antes entender como construímos, onde e quanto emitimos. “A missão da Rede MORE é justamente essa: criar métodos e indicadores que nos permitam estimar e acompanhar o uso de materiais e as emissões de CO₂ em construções informais, respeitando suas especificidades e buscando soluções alinhadas às necessidades locais”, completou.
Com apoio do hubIC e da Caixa Econômica Federal, e parcerias com instituições como a USP e a ABCP, o projeto realizou um estudo de caso na comunidade de São Remo (SP), aplicando tecnologias como sensoriamento remoto LiDAR (Light Detection and Ranging), que usa lasers para medir distâncias e gerar nuvens de pontos 3D) e modelagem BIM para estimar a pegada de carbono das moradias.
Foram analisadas 39 casas, identificando os principais emissores de CO₂ — alvenaria, estrutura e revestimentos — com destaque para cimento, aço e cerâmica. Os resultados mostraram que 50% das moradias apresentaram emissão em torno de 200 kg de CO₂ por metro quadrado, e 92% estavam abaixo de 350 kg/m², valores compatíveis com a construção formal.

Crédito: 9º Congresso Brasileiro de Cimento
A partir disso, a Rede MORE pretende expandir a metodologia para outras regiões do Brasil e propor rotas de mitigação adaptadas às realidades locais, contribuindo para uma construção mais sustentável e inclusiva.
Impressão 3D e Sustentabilidade
A impressão 3D na construção, embora não seja nova, está evoluindo rapidamente e tem se mostrado uma solução sustentável. Isso foi o que mostrou o painel “Impressão 3D – hubIC”, Rafael Pillegi, professor titular do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
“A verdadeira conexão entre a impressão 3D e a sustentabilidade está em um conceito simples: usar apenas o material certo, no lugar certo. Isso é, por definição, sustentável — porque elimina o desperdício, dispensa o uso de formas e torna o processo mais rápido, já que não é necessário aplicar material onde depois será retirado. É uma mudança de paradigma: não se trata mais de encher uma forma, mas de construir com precisão. Imagine, por exemplo, que um mesmo bloco pode ser impresso em diferentes rotas. A depender do caminho adotado, o desempenho do bloco muda — seja térmico, acústico ou estrutural. Isso nos obriga a repensar o design dos elementos construtivos e aprender continuamente com o processo”, pontua Pillegi.
Do ponto de vista ambiental, o professor acredita que a impressão 3D não pode ser julgada apenas pelo teor de cimento em si, mas pelo conjunto da obra. “Há quem critique a impressão 3D por consumir muito cimento. No entanto, quando analisamos as estruturas produzidas com geometrias otimizadas e baixo consumo de material, vemos que é possível desmaterializar sem perder desempenho. E isso já é realidade. No início, nossos protótipos utilizavam até 1000 kg de cimento por metro cúbico. Hoje, já se imprime com 400 kg — e, no Brasil, desenvolvemos composições com apenas 300 kg/m³. É uma evolução acelerada”, pondera Pillegi.
Esse é um dos caminhos trilhados no Laboratório de Construção Digital, dentro do hubIC, onde busca-se aplicar a impressão 3D com foco em eficiência material, redução de impacto ambiental e inovação construtiva.
Fontes
Mayara Munaro é professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Rafael Pillegi, professor titular do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Contato:
hubic@hubic.org.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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SIBRACIC reúne pesquisadores para discutir o futuro do concreto que se regenera e novidades sobre autocicatrização
Uma pequena fissura no concreto pode parecer inofensiva, em primeiro momento. Mas, ao longo do tempo, essas pequenas aberturas facilitam a passagem de água e outros agentes agressivos, comprometendo a durabilidade das estruturas. Pensando neste tipo de manifestação patológica, a engenharia já desenvolve soluções capazes de tornar o concreto “inteligente”, ou seja, capaz de se regenerar.
Foi justamente para debater esses avanços que nasceu o I Simpósio Brasileiro de Autocicatrização do Concreto (SIBRACIC), realizado em Porto Alegre (RS) nos dias 22 e 23 de maio, reunindo pesquisadores, profissionais da construção e representantes de empresas. “O Brasil faz pesquisa de ponta. Não estamos atrás de outros países, mas é importante unir esforços para avançar mais rápido e criar normas técnicas que possibilitem a transferência tecnológica para o mercado”, afirmou Denise Dal Molin, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e uma das organizadoras do evento.
De acordo com a professora Edna Possan, professora da UNILA e que também participou como palestrante do simpósio, a autocicatrização do concreto acontece quando microfissuras são fechadas por mecanismos naturais do próprio material ou por meio da adição de agentes externos. “Com esse processo, é possível melhorar a estanqueidade e estender a vida útil das estruturas sem a necessidade de intervenções externas”, explica.
As técnicas incluem desde o uso de adições minerais já conhecidas ao concreto, como cinza volante e escória de alto-forno, até a utilização de aditivos cristalizantes e soluções biotecnológicas. Um dos destaques do simpósio foi justamente a autocicatrização por bactérias. “Ela tem mostrado ser a mais eficaz entre todas as tecnologias existentes hoje”, reforça Edna.

Crédito: Envato
Pesquisa nacional conectada ao que há de mais avançado no mundo
O evento trouxe ao Brasil nomes internacionais, como o professor Paulo Monteiro (Berkeley/EUA), que estuda a autocicatrização baseada em técnicas inspiradas no concreto romano, e o professor italiano Liberato Ferrara, integrante de um consórcio europeu sobre o tema.
A presença desses especialistas serviu para reforçar que o Brasil está no mesmo patamar das pesquisas globais. “Trouxemos quem está liderando grupos de pesquisa em várias instituições, e isso valorizou o evento. Convidamos palestrantes que tivessem uma visão mais ampla e integrada sobre os avanços em suas universidades”, detalha Denise.
Integração entre ciência e mercado
Um dos diferenciais do SIBRACIC foi promover o diálogo entre academia e setor produtivo. Cerca de 40% dos congressistas eram profissionais de empresas, muitas delas fornecedoras de aditivos cristalizantes. Para Edna Possan, essa interação foi estratégica. “Cada vez mais, essa interlocução entre ciência e mercado se faz necessária e é bastante promissora”.
A programação também incluiu a apresentação de mais de 40 artigos técnicos, todos em sessões orais, promovendo um ambiente de debate e troca de experiências. Houve ainda premiações para os melhores trabalhos.
Próximos passos para um concreto mais sustentável
Os pesquisadores destacaram que as tecnologias de autocicatrização representam um avanço significativo para a sustentabilidade na construção civil, reduzindo a necessidade de manutenção e o consumo de recursos.
No entanto, para que algumas dessas soluções, como as bactérias cicatrizantes, cheguem ao mercado, ainda são necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento. “É uma área interessante e que deixa muitas pessoas entusiasmadas quando se conhecem os resultados. Acreditamos que o SIBRACIC cumpriu seu papel de difundir esse conhecimento e mostrar o potencial da autocicatrização como um novo paradigma na construção civil”, conclui Denise.
Entrevistadas
Edna Possan é engenheira civil formada pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e doutora em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e coordenadora do Laboratório de Desempenho, Estruturas e Materiais (Ladema). Atualmente é membro de diversos comitês de estudos de normas relacionadas a construção civil e presidente da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (Antac). Atua na área de patologia das construções, materiais de construção e meio ambiente.
Denise Dal Molin é engenheira civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Engenharia Civil pela UFRGS e doutora em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é Professora Titular e pesquisadora (docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura) da UFRGS. Foi membro fundador da Associação Brasileira de Patologia das Construções (ALCONPAT Brasil). Atualmente é membro do núcleo docente estruturante do curso de engenharia civil e líder do Grupo de Pesquisa LAMTAC (Laboratório de Materiais e Tecnologia do Ambiente Construído) da UFRGS.
Contatos
epossan@gmail.com
dmolin@ufrgs.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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Esferas de concreto no oceano são testadas para armazenar energia
Como armazenar a energia excedente gerada por painéis solares ou turbinas eólicas? A resposta pode estar no fundo do mar. Pesquisadores alemães desenvolveram um projeto inovador chamado Stored Energy at Sea (StEnSea), que utiliza esferas de concreto submersas para armazenar e gerar energia de forma eficiente.
A ideia foi concebida em 2011 pelos professores Horst Schmidt-Böcking e Gerhard Luther. O sistema é conectado à rede elétrica por meio de um cabo submarino, que pode se ligar tanto a uma subestação em terra quanto a uma estação transformadora flutuante de um parque eólico offshore. Para armazenar energia, a motobomba retira a água de dentro da esfera, bombeando-a contra a pressão da coluna d’água ao redor. Com isso, o reservatório fica pronto para um novo ciclo de geração.

Crédito: © Hochtief
Em um teste de campo realizado com uma esfera de três metros no Lago de Constança, pesquisadores do Fraunhofer Institute for Energy Economics and Energy System Technology (Instituto Fraunhofer de Economia de Energia e Tecnologia de Sistemas de Energia), em parceria com outras instituições, comprovaram que o conceito é tecnicamente viável e funciona de forma eficiente.
“Usinas hidrelétricas reversíveis são especialmente eficazes para o armazenamento de eletricidade por períodos que variam de algumas horas a alguns dias. No entanto, seu potencial de expansão é bastante limitado em escala global. Por essa razão, estamos adaptando seu princípio de funcionamento para o ambiente submarino — onde as restrições ambientais e ecológicas são consideravelmente menores. Além disso, a aceitação pública tende a ser muito mais favorável”, explica o Bernhard Ernst, gerente sênior de projetos do Instituto Fraunhofer.
Princípio de funcionamento
Segundo o Instituto Fraunhofer, o projeto utiliza esferas de concreto com 9 metros de diâmetro e aproximadamente 400 toneladas cada. Essas esferas são colocadas entre 600 e 800 metros de profundidade, onde a pressão da água é tão intensa que consegue girar turbinas com altíssima eficiência.
Essas unidades são dispostas em sequência e interligadas eletricamente em um sistema projetado para operar de forma semelhante ao armazenamento por bombeamento, que aproveita a força da água para gerar eletricidade, porém adaptado para o ambiente submarino.

Crédito: © Fraunhofer IEE
O sistema StEnSea é composto por dois componentes principais: uma esfera oca de concreto, que funciona como reservatório de armazenamento, e uma unidade técnica cilíndrica, que abriga a bomba-turbina, uma válvula controlável e os componentes do sistema de Supervisão, Controle e Aquisição de Dados (SCADA). Essa unidade técnica é removível, podendo ser destacada separadamente, o que facilita a manutenção e os reparos.
Quando a esfera está vazia, a unidade de armazenamento é considerada totalmente carregada. Ao abrir a válvula controlável, a água do entorno flui pela unidade técnica para o interior da esfera. Esse movimento aciona a turbina e o gerador, que produzem energia elétrica para ser injetada na rede — caracterizando a fase de descarga do sistema. A recarga ocorre com o bombeamento da água para fora da esfera, contra a pressão do ambiente, utilizando energia da própria rede elétrica.
Resultados
Segundo pesquisadores do Fraunhofer, o potencial global de armazenamento dessa tecnologia chega a 817.000 gigawatts-hora. Em alguns locais da Europa, o potencial ainda alcança 166.000 gigawatts-hora. Para fins de comparação, a capacidade total das usinas hidrelétricas reversíveis em operação em terra na Alemanha é de menos de 40 gigawatts-hora.

Crédito: © Fraunhofer IEE
As estimativas do Instituto Fraunhofer apontam um custo de armazenamento em torno de 4,6 centavos de euro por quilowatt-hora. Já o investimento necessário é de aproximadamente 1.354 euros por quilowatt de potência instalada e 158 euros por quilowatt-hora de capacidade. A vida útil das esferas de concreto varia entre 50 e 60 anos, enquanto bombas-turbinas e geradores devem ser substituídos a cada 20 anos.
Próximos passos
Após o teste no Lago de Constança, o Departamento de Energia dos Estados Unidos investiu US$ 4 milhões no StEnSea. O Instituto Fraunhofer planeja implantar em 2026 um protótipo em escala real, impresso em 3D, na costa de Long Beach, Califórnia.
Os especialistas agora pretendem testar a aplicação da tecnologia em águas profundas, sob condições offshore, por meio de um novo projeto. O objetivo é investigar e avaliar todas as etapas envolvidas na fabricação, instalação, operação e manutenção em relação ao tamanho previsto da esfera — com 30 metros de diâmetro. A intenção é verificar se, e de que forma, as soluções desenvolvidas neste projeto podem ser aplicadas a uma esfera dessa dimensão.
“Com o armazenamento esférico StEnSea, desenvolvemos uma tecnologia de baixo custo, especialmente adequada para armazenamento de curto e médio prazo. Com o teste na costa dos Estados Unidos, estamos dando um grande passo rumo à escalabilidade e comercialização desse conceito de armazenamento”, conclui Ernst.
Fonte
Bernhard Ernst, gerente sênior de projetos do Fraunhofer Institute for Energy Economics and Energy System Technology.
Contato
web@iee.fraunhofer.de
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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Verificação Independente traz controle sobre obras públicas e gera economia, transparência e eficiência
Com atuação técnica e imparcial, o verificador independente é um agente externo que acompanha continuamente contratos públicos, com foco em validar dados operacionais, calcular custos reais, apurar receitas e medir indicadores de performance. Em outras palavras, ele funciona como uma segunda camada de controle, embora não substitua a fiscalização tradicional, mas complementa com precisão técnica e autonomia.
Segundo Willian Keller, diretor técnico do Instituto Brasileiro de Estudos Técnicos Avançados (IBETA), o modelo contribui de forma decisiva para a governança pública. “Promove transparência, qualifica a tomada de decisão e protege o gestor público. Ainda é uma ferramenta subutilizada, mas seu fortalecimento depende da institucionalização nos contratos e do reconhecimento do seu valor técnico como instrumento permanente de controle e gestão”, afirma.
Case MG-050: pioneirismo e economia comprovada
A Rodovia MG-050, em Minas Gerais, foi o primeiro contrato de PPP rodoviária do Brasil a contar com um verificador independente. O modelo foi adotado pela concessionária Nascentes das Gerais em parceria com o governo mineiro. “Essa atuação foi central para validar periodicamente a performance da concessionária, por meio de indicadores objetivos definidos no contrato”, detalha Keller.

Crédito: Envato
O resultado foi concreto: uma economia de 45% no valor da contraprestação pública paga à concessionária ao longo de quatro anos. A análise rigorosa das medições, cruzamento de dados técnicos com inspeções em campo e a verificação das entregas reais impediram pagamentos indevidos e reequilíbrios sem fundamento técnico. “É a prova prática de que monitorar com critério técnico reduz desperdícios e dá segurança jurídica às partes envolvidas”, pontua o diretor do IBETA.
Indicadores sustentam decisões técnicas
Os indicadores utilizados variam conforme o tipo de contrato. Em obras públicas, destacam-se a validação das medições, o cumprimento de marcos contratuais, os desvios de custo e prazo e a conformidade técnica. Já em contratos de serviços, como transporte público, são acompanhados itens como quilometragem, consumo, receita e necessidade de subsídio.
O verificador atua analisando os dados reportados pelas concessionárias e validando sua consistência com documentos, evidências em campo e outras fontes técnicas. Com isso, fornece subsídios confiáveis ao poder concedente para decisões como pagamentos, reequilíbrios e auditorias.
Além da economia, a principal vantagem do método é elevar o nível de governança nos contratos. Com atuação técnica estruturada, o verificador confere rastreabilidade às informações, clareza nos critérios e base técnica às decisões públicas.
“Essa figura é fundamental para assegurar que os contratos reflitam a realidade técnica, financeira e operacional, proporcionando mais segurança para o poder público e confiança para os investidores”, afirma Keller. Ele defende a ampliação do uso do método para todos os contratos públicos, especialmente em áreas sensíveis como saúde, educação, mobilidade e saneamento.
Desafios para ampliar o uso no país
Apesar dos resultados, a verificação independente ainda é pouco utilizada no Brasil. “Falta institucionalização e clareza sobre como contratar e integrar esse serviço aos contratos. Muitos gestores ainda enxergam como custo, quando na verdade se trata de um investimento em controle e eficiência”, afirma o diretor do IBETA.
Para ampliar seu uso, o Instituto defende ações como a exigência em editais de concessão e PPPs, criação de marcos regulatórios, disseminação de boas práticas e capacitação de gestores públicos. “O que é monitorado tende a ser melhor executado. Ter um olhar técnico e imparcial constante é um investimento em governança pública”, finaliza Keller.
Entrevistado
Willian Keller é graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão de Projetos, com ampla experiência em análise de viabilidade econômico-financeira, modelagem econômica de projetos de alta complexidade, gestão de projetos de inovação e especialização nos Estados Unidos pela Baldwin Wallace University de Cleveland (OH). Atualmente, é diretor técnico do Instituto Brasileiro de Estudos Técnicos Avançados (IBETA)
Contato: w.keller@ibeta.tec.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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