Brasil acompanha expansão global do wellness real estate

O mercado de imóveis voltados ao bem-estar tem sido, de longe, o que mais cresce entre os 11 setores que compõem a economia global de bem-estar — avaliada em cerca de US$ 6,3 trilhões. O segmento mais que dobrou de tamanho, passando de US$ 225 bilhões em 2019 para US$ 548 bilhões em 2024. Para efeito de comparação, o crescimento anual médio da construção global no mesmo período foi de apenas 5,5%, enquanto o de wellness real estate atingiu 19,5% ao ano. Os dados foram divulgados no relatório Build Well To Live Well: The Future, uma revisão completa e aprofundada do estudo original publicado em 2018 sobre o mercado de wellness real estate, feito pela Global Wellness Institute (GWI).

No wellness real state, áreas comuns bem projetadas e tipologias que promovam bem-estar são valorizadas
Crédito: AG7/Divulgação

As regiões com o crescimento anual mais acelerado entre 2019 e 2024 foram: América Latina e Caribe (24%), Oriente Médio e Norte da África (22,6%) e Europa (22,4%). O GWI projeta uma expansão anual de 15,2% nos próximos cinco anos, o que levaria o mercado a alcançar US$ 1,1 trilhão até 2029.

O que é considerado wellness real state?

O Global Wellness Institute (GWI) define wellness real estate como: ambientes construídos projetados, edificados e operados de forma proativa para apoiar a saúde holística dos ocupantes, visitantes e da comunidade.

O GWI apresenta seis princípios para orientar o desenvolvimento de empreendimentos imobiliários voltados ao bem-estar. Eles defendem uma abordagem holística e integrada, que vai desde o planejamento até a operação dos espaços.

Em resumo, o wellness real estate deve:

  1. Ser aplicável a qualquer escala ou tipo de projeto;
  2. Incorporar o bem-estar desde o início, de forma multidimensional;
  3. Ir além de evitar danos, buscando otimizar a saúde dos usuários;
  4. Estimular hábitos ativos e saudáveis;
  5. Integrar o bem-estar à infraestrutura e à gestão contínua;
  6. Promover não apenas o bem-estar individual, mas também o coletivo e comunitário.

Wellness real state no Brasil

De acordo com o relatório do Global Wellness Institute (GWI), em 2024 o Brasil contava com 72 projetos certificados pelos sistemas WELL Building Standard (WELL) e Fitwel — os dois principais selos internacionais voltados especificamente à saúde e ao bem-estar dos ocupantes de edificações.

No cenário global, já são mais de 4.550 projetos certificados por essas plataformas, sendo que 53% das certificações estão concentradas nos Estados Unidos.

Segundo Guilherme Werner, sócio da Brain Inteligência Estratégica, a tendência do wellness se consolidou no pós-pandemia no Brasil. “Durante o período de isolamento, um dos principais motivadores de compra — especialmente entre o público de médio, médio-alto e alto padrão — foi a busca por uma melhora significativa na qualidade de vida. Esse comportamento acabou se enraizando no processo de decisão dessas famílias”, afirma.

Werner destaca ainda que “o desejo por áreas comuns bem projetadas e tipologias que promovam bem-estar, com mais iluminação natural, elementos de biofilia e conforto ambiental, tem se tornado cada vez mais presente no mercado de luxo brasileiro, influenciando fortemente os atuais processos de compra”.

Para Anderson Becker, CEO da ABecker, incorporadora de projetos de loteamentos, condomínios residenciais e industriais, há uma mudança significativa no comportamento do consumidor. “A busca por moradias horizontais principalmente no interior e próximas a destinos de alta valorização está diretamente ligada ao desejo por mais espaço, maior conexão com a natureza e, claro, maior flexibilidade no projeto dos imóveis. Esse movimento reflete um novo padrão de qualidade de vida, especialmente em um cenário pós-pandemia, onde pessoas estão migrando dos centros urbanos. Além disso, a privacidade e o contato com áreas verdes se tornaram ainda mais valorizados. As vendas aceleradas que observamos nos nossos projetos é um reflexo, assim como a valorização. Acreditamos que esse modelo se consolidará como uma das principais tendências do mercado imobiliário nos próximos anos”, afirma. 

Em Curitiba, um lançamento recente baseado neste conceito de wellness real estate tem chamado atenção – o Ícaro Casa-Térrea. “Não há empreendimento urbano no Brasil com essa proporção de bem-estar, amplitude de espaço, qualidade de vida e conforto. É um novo conceito de moradia, uma verdadeira blue zone. Quando falamos de Ícaro, estamos falando de tempo de vida, não em metros quadrados”, destaca Alfredo Gulin Neto, CEO da AG7, responsável pela incorporação. Entre as características principais das unidades, estão a presença de três a cinco suítes em cada uma delas e varandas particulares de até 300 m². O projeto prevê um bosque privativo de 9 mil m², um lago ornamental, piscinas coberta e externa, área de SPA, sauna seca e úmida, haloterapia, brinquedoteca, quadra de beach tênis, academia e sala de pilates, pista de caminhada em volta de todo empreendimento, espaço gourmet, lounge, sala de jogos, espaço de games, coworking, biblioteca e sala de leitura.

Fontes
Guilherme Werner é sócio da Brain Inteligência Estratégica.
Anderson Becker é CEO da ABecker.
Alfredo Gulin Neto é CEO da AG7.

Contatos
Brain Inteligência Estratégica: murilo.sacardi@viracomunicacao.com.br   
ABecker: redacao1@rotascomunicacao.com.br
AG7: erica@azziandco.com

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Limitação do saque-aniversário fortalece o FGTS e impulsiona a construção civil

A partir de 1º de novembro, entram em vigor novas regras para o saque-aniversário do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que deve causar impacto a cerca de 21,5 milhões de trabalhadores que aderiram ao saque-aniversário. Uma delas diz respeito à carência. O trabalhador só poderá contratar antecipações nas instituições financeiras 90 dias após a adesão ao saque-aniversário. Até agora, não havia restrições quanto à carência, e 26% dos trabalhadores antecipavam o saque-aniversário nos bancos no mesmo dia da adesão à modalidade.

Novas regras do saque-aniversário marcam o início de uma nova fase de estabilidade para a construção civil
Crédito: Envato

Além disso, o empréstimo passa a ser limitado entre R$ 100 e R$ 500 por parcela, com máximo de cinco parcelas nos próximos 12 meses, totalizando R$ 2,5 mil. Já a partir de novembro de 2026, o limite será reduzido para três parcelas de R$ 100 a R$ 500 a cada saque-aniversário. Até então, não havia um teto de valor. Outra mudança é que o trabalhador poderá contratar apenas uma operação de antecipação por ano. Pela regra anterior, era possível fazer várias operações de crédito anualmente, as chamadas “operações simultâneas”.

As novas regras do saque-aniversário do FGTS, anunciadas pelo governo federal, reacenderam o otimismo no setor da construção civil. A limitação das antecipações e a retomada da função social do Fundo são vistas como medidas fundamentais para garantir a sustentabilidade do sistema e reequilibrar as fontes de financiamento da habitação e da infraestrutura urbana.

Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, a mudança é um passo importante para corrigir distorções criadas nos últimos anos. “A CBIC sempre defendeu que o FGTS fosse utilizado para suas funções originais, como salvaguardar o trabalhador em caso de demissão ou doença e financiar habitação, saneamento e mobilidade. Qualquer outro uso fora desses parâmetros acaba descobrindo um santo para cobrir outro”, afirma.

Correia lembra que o saque-aniversário, ao permitir retiradas e antecipações amplas, reduzia a capacidade de investimento do fundo. “Cerca de 75% do dinheiro antecipado ficava com os bancos, e apenas 25% chegavam ao trabalhador. Era uma ilusão achar que isso resolvia o problema do endividamento. Na prática, o FGTS deixava de cumprir seu papel social”, complementa.


Mais previsibilidade e recursos para o setor

Segundo Gustavo Selig, CEO do Grupo Hestia, as mudanças trazem um alívio importante para o setor, que há anos convive com o desafio de manter o fluxo de recursos. “O FGTS é uma das principais fontes de funding da construção civil. Quando parte desse dinheiro é desviada para consumo, o sistema perde força. Com a limitação das antecipações, o Fundo volta a cumprir plenamente seu papel: financiar a casa própria e investir em infraestrutura essencial”, avalia.

De acordo com ele, a medida restabelece o equilíbrio do sistema, favorecendo a previsibilidade e a confiança. “Estamos falando de bilhões de reais que deixam de sair do sistema financeiro e retornam ao propósito original, que é o de fortalecer o financiamento habitacional e urbano. Isso significa mais estabilidade, mais segurança para o investidor e mais condições de planejar empreendimentos de longo prazo”.


Retomada dos lançamentos e geração de empregos

Com o novo cenário, a expectativa é de que as construtoras e incorporadoras retomem o ritmo de lançamentos, especialmente voltados à habitação popular, segmento mais afetado pela escassez de recursos nos últimos anos. “Quando o funding se fortalece, o setor reage de forma imediata. Com um FGTS mais robusto, as empresas ganham fôlego para investir, gerar empregos e impulsionar a economia”, afirma Selig.

O presidente da CBIC compartilha da mesma visão. Para ele, o fortalecimento do FGTS deve repercutir positivamente em toda a cadeia produtiva. “O déficit habitacional no Brasil ainda é expressivo. Direcionar os recursos do Fundo para habitação é uma resposta concreta à necessidade das famílias e um motor para o desenvolvimento econômico e social”, destaca Correia.

Fontes complementares e desafios de funding

Embora o FGTS seja a principal engrenagem do financiamento habitacional, o setor conta hoje com outras alternativas de funding. “Além do FGTS, temos a poupança (SBPE), que é uma das maiores fontes de crédito imobiliário do país; o crédito bancário tradicional, com linhas específicas para construção; e o mercado de capitais, que vem crescendo com os CRIs, LCIs e fundos imobiliários”, explica Selig.

Ele ressalta, porém, que ainda há desafios a serem superados. “O setor precisa de estabilidade regulatória e políticas de longo prazo para planejar com segurança. Também é essencial reduzir a burocracia, ampliar o acesso ao crédito e criar incentivos fiscais para atrair investimentos privados, especialmente em habitação social e saneamento”, alerta.

Para os especialistas, as novas regras do saque-aniversário marcam o início de uma nova fase de estabilidade para a construção civil. A expectativa é que o direcionamento correto dos recursos do FGTS contribua para reaquecer a economia e gerar um ciclo positivo de investimentos. Com mais previsibilidade e recursos assegurados, a construção civil volta a enxergar no Fundo de Garantia o que ele sempre foi: uma ferramenta de proteção ao trabalhador e um instrumento de desenvolvimento para o país.

Fonte
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)

Entrevistado
Gustavo Selig é graduado em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), mestre em Administração de Empresas e Negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Cofundador e presidente do Grupo Hestia, atua há mais de 30 anos no mercado imobiliário paranaense, liderando projetos que unem tradição, inovação e propósito. Foi representante do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) no Ippuc e presidiu a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR) por três gestões consecutivas. É CEO do Grupo Hestia.

Contatos
gustavo.selig@grupohestia.com.br
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Santa Catarina se firma como polo logístico nacional

Santa Catarina tem ganhado relevância no setor de logística. No segundo trimestre de 2025, o Estado apresentou uma taxa de vacância de 5,5% para condomínios logísticos e industriais - enquanto a média nacional foi de 7,7%. Com relação ao preço pedido, o estado está em R$ 27,16 /m² (quarto maior valor, atrás apenas da Bahia, Paraná e São Paulo) - muito próximo da média nacional de R$ 27,70/m². Os dados são do relatório Binswanger Brazil - Preview 2T2025 - Industrial Brasil.

Ainda de acordo com o mesmo relatório, com relação à absorção líquida dos condomínios logísticos e industriais do Brasil, no segundo trimestre de 2025, duas cidades catarinenses despontam no ranking nacional: Itajaí ocupou a 11ª posição com 41.000 m³, enquanto Governador Celso Ramos ficou na 15ª posição com 20.000 m³. 

Incentivos

O Governo de Santa Catarina tem investido em infraestrutura como incentivo às operações logísticas na região. Em outubro de 2025, foi iniciada a dragagem da Baía da Babitonga. De acordo com o Governo do Estado de Santa Catarina, a obra de R$ 333 milhões prevê o aprofundamento de 14 metros para 16 metros do canal de acesso aos portos de Itapoá e São Francisco do Sul, possibilitando a entrada de navios maiores. Com isso, poderão entrar embarcações com até 366 metros de comprimento. A obra foi viabilizada por meio de uma parceria inédita entre os portos de São Francisco do Sul e Itapoá. 

Em julho, foi inaugurado o novo Complexo Viário de Badenfurt, em Blumenau, obra que deve destravar um importante corredor logístico para Santa Catarina. O empreendimento faz parte da duplicação da BR-470/SC, dividida em quatro lotes, que já atingiu 84% de execução. Com investimento total de R$ 1,58 bilhão, a conclusão completa do projeto está prevista para 2026.

Incentivos econômicos e de infraestrutura têm impulsionado a construção de galpões empresariais em Santa Catarina.
Crédito: Navepark/Embralot

A BR-470 é uma das principais rodovias catarinenses, conectando o oeste e o meio-oeste do estado ao litoral norte, onde se localizam os portos de Itajaí e Navegantes — pontos estratégicos para o escoamento da produção regional. A rodovia é uma das principais vias para o escoamento de cargas destinadas à exportação e importação, com ênfase em grãos, carnes, madeira, móveis e insumos industriais.

“Essa é uma obra importantíssima para o porto de Itajaí, que ficou fechado durante os últimos dois anos do governo anterior e que só nesse semestre já faturou mais do que todo o exercício do ano passado. Essa entrega permite que o porto continue crescendo, pujante, gerando emprego e renda para o nosso povo”, comentou João Paulo Tavares, superintendente do Porto de Itajaí.

Em setembro, foi anunciada uma parceria entre os governos do Paraná e Santa Catarina que prevê a duplicação de 5,3 quilômetros da SC-417, entre a divisa interestadual e o entroncamento com a SC-416, no acesso a Itapoá, onde também está prevista a construção de um viaduto. Esse segmento será executado em pavimento flexível asfáltico, favorecendo o escoamento da produção pelo Porto de Itapoá. Como contrapartida, o governo catarinense ficará responsável por duplicar em concreto a SC-416, ligando o acesso a Itapoá diretamente ao porto.

Galpões logísticos

Os incentivos econômicos e de infraestrutura têm impulsionado a construção de galpões empresariais em Santa Catarina. Um dos destaques da região é o Navepark, novo complexo multissetorial em Navegantes (SC).

Segundo André Reis, diretor comercial do empreendimento, o estado vive um momento de forte expansão. “No primeiro trimestre de 2025, a atividade econômica de Santa Catarina cresceu 7,6%, mais que o dobro da média nacional, de 3,2%. No mercado imobiliário, o estado responde por 65% do VGV vendido de toda a região Sul. Entre março de 2024 e março de 2025, foram lançados R$ 55 bilhões em produtos imobiliários, consolidando Santa Catarina como o segundo maior mercado do país”, destacou.

A localização estratégica é um dos diferenciais apontados pela construtora Embralot. Situada entre os portos de Itajaí e Navegantes e próxima ao Aeroporto Internacional Ministro Victor Konder, a cidade oferece alta eficiência logística e custos operacionais reduzidos, o que garante contratos mais competitivos e alta taxa de ocupação. “Navegantes é o ponto de conexão ideal entre os principais portos, aeroportos e centros urbanos do Brasil, tornando-se um polo estratégico para investimentos inteligentes”, afirma a empresa.

O Navepark conta com galpões padrão AAA, monitoramento 24 horas com escolta armada, áreas de lazer e contemplação, além de infraestrutura flexível para instalação de empreendimentos industriais e logísticos de diversos portes.

De acordo com Cristian Popeng, diretor de operações do Navepark, o complexo foi projetado para atender diferentes perfis de operação. “São 12 tipologias, com galpões que variam de 1.400 m² a 14.000 m². O projeto inclui pé-direito alto, piso de alta resistência com capacidade ajustável, e um design que favorece a ventilação cruzada, gerando economia de energia e mais sustentabilidade”, explica.

Outras empresas também anunciaram investimento na região. O grupo FLG Brazil, de São Paulo, especializado no desenvolvimento de galpões de alto padrão para operações logísticas e industriais, anunciou investimentos de R$ 500 milhões em Garuva (SC). A LOG CP, uma das principais construtoras e gestoras de galpões logísticos do país, está executando um novo projeto em Joinville (SC), com investimento total de R$ 124 milhões.

Fontes
André Reis é diretor comercial do Navepark.
Cristian Popeng é diretor de operações do Navepark.

Contato
marketing@abcempreendimentos.com.br

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Engenharia que salva vidas: obras hospitalares exigem precisão técnica e atendimento a normas rigorosas

Mais do que levantar paredes, a construção de hospitais exige precisão técnica, sinergia entre normas rigorosas e um propósito claro: garantir a segurança e o bem-estar de quem cuida e de quem é cuidado. Projetar e construir um hospital é um desafio que vai muito além do concreto. Cada metro quadrado planejado pode impactar diretamente na vida de alguém.

Ao contrário de edificações comerciais ou industriais, os empreendimentos da área da saúde exigem um nível de controle técnico e normativo sem paralelo, unindo engenharia, arquitetura e tecnologia com foco na segurança e na funcionalidade. “Em uma sala de tomografia, por exemplo, há emissão de radiação ionizante, prejudicial ao ser humano em grandes quantidades. Por isso, é fundamental a contratação de um projeto de blindagem radiológica adequado e sua execução sem simplificações, garantindo que, ao final, a sala atenda aos testes necessários para emissão de laudos que comprovem a segurança”, explica Ricardo Paulin, engenheiro civil e coordenador de Engenharia do Hospital INC (Instituto de Neurologia de Curitiba).

Enquanto a tomografia exige blindagem contra radiação, a ressonância magnética impõe o desafio oposto: o bloqueio de interferências externas. “Na ressonância, utilizamos uma ‘Gaiola de Faraday’, com placas de aço silício nas paredes e no piso, que impedem a entrada de ondas externas e protegem portadores de marca-passo e outros aparelhos eletrônicos próximos”, detalha Paulin.

Normas que orientam projetos na área da saúde

O rigor técnico nas obras hospitalares é guiado por um conjunto extenso de normas e resoluções. Além das normas básicas da ABNT, como a NBR 6118 (estruturas de concreto), NBR 5410 (instalações elétricas de baixa tensão) e NBR 9050 (acessibilidade), o setor precisa seguir legislações específicas de saúde.

Concreto das bases das máquinas de imagem foi especificado em 30 MPa, garantindo alta resistência e durabilidade
Crédito: Celso Pilati

A principal delas é a RDC nº 50/2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece diretrizes para o planejamento físico de estabelecimentos assistenciais de saúde, abrangendo desde fluxos limpos e sujos até requisitos sanitários e de segurança. Somam-se ainda a NBR 7256 (instalações de gases medicinais), a NBR 15848 (climatização hospitalar), as normas de segurança contra incêndio e pânico e a NR-32, que trata da segurança dos trabalhadores da saúde.

“O hospital é um organismo vivo. Cada ambiente precisa ser projetado para garantir condições seguras e controladas, desde o ar que circula nas salas até o revestimento dos pisos, que precisam facilitar a limpeza e reduzir riscos de contaminação”, afirma o engenheiro.

Tecnologia, precisão e logística

O uso de concreto e outros materiais em obras hospitalares apresenta exigências especiais. No caso do Hospital INC, o concreto das bases das máquinas de imagem foi especificado em 30 MPa. Embora seja um concreto comum atualmente, a aplicação nesse caso, exigiu um estudo logístico detalhado para posicionamento e execução, garantindo assim a alta resistência, estabilidade e durabilidade que a obra necessita.

Equipamento de ressonância magnética exige uso de materiais específicos para bloquear interferências externas
Crédito: Celso Pilati

nas salas de tomografia e raio-X, foi utilizada argamassa baritada, que possui em sua composição sulfato de bário, mineral de alta densidade que reduz a porosidade do revestimento, impedindo a fuga de radiação ionizante das salas de exame. “Foram utilizados cerca de 35 m³ de concreto, transportados internamente por caçambas içadas por guindaste. O acesso exigiu abertura na laje de cobertura, o que demandou planejamento logístico e segurança redobrada”, relata Paulin.

Por estar instalada dentro do Park Shopping Barigüi, somando cerca de 1.000 m², entre recepção, áreas de exame, setores técnicos e administrativos, a obra exigiu detalhes mais específicos de construção. O projeto contou com soluções de engenharia de alta complexidade, como o reforço da laje existente — necessário para suportar equipamentos de ressonância de até 4,5 toneladas — e a criação de uma sala acústica com estrutura em madeira, minimizando ruídos que poderiam interferir nas lojas vizinhas do shopping.

Cada etapa dessas obras representa o encontro entre engenharia e cuidado humano. “Mais do que um empreendimento técnico, a construção hospitalar é um trabalho que exige empatia e visão. Cada detalhe, do piso ao teto, precisa estar a serviço da vida”, conclui Ricardo Paulin.

Entrevistado
Ricardo Paulin é graduado em Engenharia Civil pela UniCuritiba, Engenharia de Segurança no Trabalho pela Faculdade Anhangüera, pós-graduado em Perícias e Avaliações pelo IDD e coordenador de Engenharia do Hospital INC (Instituto de Neurologia de Curitiba).

Contato
ricardo.paulin@hospitalinc.com.br

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Concreto impulsiona avanço da energia eólica offshore

Com ventos constantes e águas rasas na faixa litorânea, o Brasil desponta como um dos países com maior potencial para o desenvolvimento da energia eólica offshore. A combinação entre recursos naturais favoráveis e inovação tecnológica tem colocado o país em posição estratégica para avançar nesse segmento — e o concreto ocupa papel de protagonista nesse movimento.

Segundo Sérgio Azevedo, CEO da Dois A Engenharia, o país reúne condições únicas para a instalação de turbinas em alto-mar.

“A exemplo do que acontece no setor onshore, as jazidas de vento no litoral brasileiro são de excelente qualidade. Não há tanta turbulência, e a constância dos ventos é muito melhor. O Brasil tende a ser um excelente país para a energia offshore, mesmo ela sendo mais cara que a onshore. São coisas distintas, mas temos que encarar como alternativas complementares para a geração de energia — e nos preparar o quanto antes”, afirma.

 A tecnologia Elisa utiliza torres telescópicas de concreto e permite construir grande parte da estrutura em dique seco, reduzindo custos logísticos.
Crédito: Elisa Project | Esteyco

Azevedo destaca que, principalmente no Rio Grande do Norte e no Ceará, as condições geográficas favorecem a implantação de parques eólicos próximos à costa.

“O que encontramos no Brasil são águas rasas, entre três e cinco quilômetros da costa, com profundidade média de 13 a 20 metros. Isso permite que a instalação de uma turbina eólica offshore aqui seja cerca de 40% mais barata do que em qualquer outro lugar do mundo. É um diferencial competitivo que pode fazer com que o custo de geração de energia offshore no país esteja entre os menores do planeta”, sugere.

Tecnologia Elisa e o uso do concreto

A Dois A Engenharia, em parceria com o Senai, vem desenvolvendo protótipos com tecnologia Elisa, sistema que utiliza torres telescópicas de concreto e permite construir grande parte da estrutura em dique seco, no continente — reduzindo a necessidade de operações complexas no mar.

“O grande diferencial do sistema Elisa é que toda a fundação é produzida na terra. Produzimos, concretamos e montamos a torre diretamente na base, ainda em ambiente controlado. Depois, a estrutura flutua até o ponto de instalação e é submersa no local definitivo. Tudo é preparado no continente, dispensando o uso de grandes rebocadores e navios de alto custo”, explica Azevedo.

Esse processo, além de reduzir riscos e custos logísticos, aumenta o conteúdo local, já que depende menos de equipamentos importados, segundo Azevedo.

“O uso do concreto e a execução em dique seco permitem um projeto com muito conteúdo local. Fizemos esse acordo com o Senai justamente para viabilizar um modelo inovador, com dois protótipos sendo construídos próximo ao Porto Ilha, no Rio Grande do Norte.”

A torre telescópica também contribui para a estabilidade e facilita a instalação. Durante o transporte e a montagem, o centro de gravidade é mantido baixo, o que reduz o balanço da estrutura. O sistema pode ser monitorado remotamente, garantindo segurança e precisão em todas as etapas.

“Essa tecnologia dispensa navios de içamento pesado, o que elimina restrições ligadas à disponibilidade e às regras de uso de embarcações estrangeiras. É um avanço essencial para a escalabilidade da próxima geração de turbinas eólicas de grande porte”, acrescenta o executivo.

Perspectivas e desafios

Apesar do potencial, o setor de energias renováveis no Brasil enfrenta desafios conjunturais. Segundo o CEO da Dois A Engenharia, o sistema nacional sofre hoje com superoferta de energia, principalmente pela expansão da geração solar distribuída, e limitações de transmissão entre o Nordeste e as regiões Sul e Sudeste.

“Temos um problema de escoamento. O Brasil desenvolvido, industrializado, está no Sul e no Sudeste, e não conseguimos mandar toda a energia produzida no Nordeste para essas regiões. Isso tem gerado um desequilíbrio enorme no sistema interligado nacional”, pontua Azevedo.

Para ele, a solução passa por incentivar a industrialização no Nordeste e criar alternativas locais de consumo de energia, como data centers, sistemas de armazenamento e projetos híbridos que combinem diferentes fontes de geração.

“O Brasil desenvolveu uma tecnologia de concreto, fundação e execução de parques eólicos que é referência e até copiada em outros países. As fundações de concreto brasileiras são cada vez mais otimizadas, e acreditamos que essa solução é superior às metálicas, especialmente porque permite alcançar alturas maiores, entre 120 e 150 metros, onde estão os ventos de melhor qualidade.”

Na avaliação de Azevedo, a tecnologia 100% em concreto também se adapta melhor às condições locais.

“Para o ambiente salino brasileiro e para as águas rasas do nosso litoral, o concreto é a solução mais adequada. Além disso, os ventos offshore do país têm um fator de capacidade altíssimo, possivelmente entre os melhores do mundo. Isso nos dá confiança de que estamos no caminho certo”, conclui.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=y1HaokUSulw

Fonte
Sérgio Azevedo, CEO da Dois A Engenharia.

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doisaengenhariasociais@gmail.com

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Ultrassom acelera resistência e reduz emissões de CO₂ no concreto

A busca por concretos mais sustentáveis e aumento de produtividade tem levado pesquisadores a explorar novas fronteiras tecnológicas — e uma das mais promissoras vem das ondas sonoras. A aplicação da tecnologia ultrassônica na produção do concreto vem mostrando resultados surpreendentes ao acelerar o ganho de resistência e reduzir a emissão de CO2. É o que mostra o estudo conduzido por Ricardo Couceiro Bento, professor da PUC Minas, que acaba de concluir seu doutorado sobre o tema em parceria com uma startup alemã especializada, a Sonocrete.

Pesquisadores alemães fazem teste de abatimento com concreto ultrassônico. 
Crédito: Sonocrete

“O ultrassom é utilizado para gerar cavitação — a formação e o colapso de microbolhas em uma suspensão líquida. Quando essas bolhas implodem, elas liberam energia suficiente para alterar a microestrutura do cimento”, explica o professor. “Isso cria novas superfícies ativas, favorecendo a hidratação e, consequentemente, o ganho de resistência nas primeiras horas do concreto”, completa Bento.

Pesquisa na Alemanha

A pesquisa começou de forma curiosa. “Vi uma publicação alemã sobre o tema, fui ler e me encantei. Entrei em contato com uma pesquisadora de lá, comecei a estudar por conta própria e, algum tempo depois, fui convidado para participar das pesquisas presenciais”, conta Bento. O projeto envolveu enviar amostras de cimento CP V produzido no Brasil para a Alemanha, onde foram realizados ensaios comparativos entre concretos convencionais, tratados termicamente e tratados com ultrassom.

Como funciona a tecnologia?

O princípio físico é simples, mas os efeitos são intensos. O ultrassom, ao ser aplicado em uma suspensão de cimento e água, provoca microimplosões que geram altas temperaturas e pressões localizadas, produzindo ondas de choque e jatos líquidos. Esse processo fragmenta partículas, ativa superfícies reativas e aumenta os pontos de nucleação, onde se formam os produtos de hidratação responsáveis pela resistência do concreto — principalmente o silicato de cálcio hidratado (CSH).

“O que observamos é que o ultrassom adianta a reação química, sem alterar seu curso. O pico de calor de hidratação acontece mais cedo, e a resistência inicial cresce rapidamente. Isso é essencial para a indústria de pré-fabricados, que depende da desforma rápida das peças”, explica o pesquisador.

 A formação de C-S-H após a mistura com o sistema Sonocrete pode ser claramente observada em comparação a uma amostra não tratada — aqui, duas horas após o início do processo de hidratação.
Crédito: Sonocrete

Resultados: 75% mais resistência em 8 horas

Nos ensaios realizados na Alemanha, o concreto tratado com ultrassom apresentou resistência à compressão 75% maior nas primeiras oito horas, em comparação ao convencional. Após dez horas, o ganho ainda era de 27%. “Isso significa poder desformar mais rápido ou, alternativamente, reduzir o consumo de cimento mantendo o mesmo tempo de produção”, diz Bento.

Aos 28 dias, a resistência final caiu levemente — cerca de 6% inferior à do concreto de referência. “A hipótese é que a hidratação acelerada recobre mais rapidamente as partículas de cimento, o que pode limitar reações posteriores. Mas isso não compromete o desempenho final, considerando que o objetivo é o ganho rápido nas idades iniciais”, explica.

Aplicação industrial e ganhos ambientais

A tecnologia pode ser integrada às plantas de pré-fabricação sem grandes alterações. “É um sistema bypass: parte da água e do cimento é separada e tratada com ultrassom, depois reintegrada à mistura. O equipamento ocupa cerca de 6 m² e tem 5 metros de altura”, detalha o professor. O processo consome de 1,5 a 2 kWh por metro cúbico de concreto — um custo considerado baixo.

Na Alemanha, onde 70% da produção de concreto é pré-fabricada, os resultados já são expressivos. Segundo dados da Sonocrete, é possível alcançar redução de até 30% no consumo de cimento e, consequentemente, nas emissões de CO₂ incorporadas ao produto final. “Em uma planta que produz 35 mil m³ de concreto por ano, isso representa até 3,2 mil toneladas a menos de clínquer consumido”, destaca Bento.

Perspectivas para o Brasil

Embora o custo inicial da tecnologia ainda seja elevado — cerca de duas vezes o valor de uma planta convencional —, o professor acredita que a tendência é de redução conforme o avanço da adoção. “Como toda inovação, começa cara. Mas o potencial de economia de cimento, aumento de produtividade e ganhos ambientais justificam o investimento”, afirma.

O pesquisador também ressalta que a adoção no Brasil deve começar pelo setor de pré-fabricados, mais sensível a ganhos de produtividade. “É perfeitamente viável aqui. A tecnologia está madura e o país tem um potencial enorme de aplicação”, conclui Bento.

Fonte
Ricardo Couceiro Bento é engenheiro civil, projetista de estruturas de concreto armado e fundações, pós-doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, Mestrado Profissional em Habitação: Planejamento e Tecnologia pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e professor da PUC Minas.

Contato
rcbentoengenheiro@gmail.com

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Industrialização do concreto conquista espaço como ferramenta que alia estética, tecnologia e desempenho

Os pré-fabricados de concreto deixaram de ser vistos apenas como elementos estruturais padronizados. Hoje, representam versatilidade, precisão e design. A industrialização desse material abriu caminho para projetos mais ousados, com geometrias complexas, fachadas personalizadas e soluções que unem estética e desempenho.

 Industrialização permite criar fachadas sofisticadas, com acabamentos vindos de fábrica.
Crédito:
Divulgação/Sidonio Porto

Segundo Íria Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic), o setor vive um salto tecnológico. “O uso de concretos de alto desempenho e autoadensáveis, aliado à protensão e à automação das fábricas, trouxe liberdade criativa e sustentabilidade. Reduzir o peso dos elementos e avançar para edifícios mais altos tem sido fundamental para o crescimento do setor”, afirma.

Essa industrialização permite um nível de detalhamento antes inviável em obras convencionais, já que o processo fabril garante precisão milimétrica e acabamento de qualidade. Além disso, o uso de tecnologias como BIM integrado à produção e rastreabilidade por QR Code reforça o controle de cada etapa — da compra de insumos à montagem final no canteiro.

Estética aliada à técnica

Para o arquiteto Márcio Porto, do escritório Sidonio Porto Arquitetos Associados, os pré-fabricados se tornaram também uma ferramenta estética poderosa. “Nos projetos da Petrobras, em Macaé e Vitória, exploramos ao máximo o potencial plástico do concreto. Os painéis de fachada foram desenhados peça a peça, com variações de forma, textura e função, sem limitações impostas pelo sistema construtivo”, explica.

Construção industrializada permite arquitetura flexível e reduz desperdícios.
Crédito: Divulgação/Sidonio Porto

A liberdade criativa vem acompanhada de precisão e funcionalidade. “A industrialização permite criar fachadas sofisticadas, com acabamentos já saindo da fábrica, sem comprometer o prazo nem o orçamento. É o casamento perfeito entre beleza e racionalidade construtiva”, afirma o arquiteto.

Projetos como o Centro de Treinamento do Comperj e o Instituto Bola Pra Frente, ambos no Rio de Janeiro, ilustram bem esse conceito. No primeiro, todas as peças — pilares, vigas, lajes e fechamentos — foram pré-fabricadas, otimizando tempo e eliminando desperdícios. Já no segundo, a combinação entre concreto e estrutura metálica resultou em um edifício social de rápida execução e forte expressão arquitetônica.

Eficiência, sustentabilidade e novos usos

No Centro de Treinamento do Comperj, no Rio de Janeiro, pilares, vigas, lajes e fechamentos foram pré-fabricados.
Crédito:
Divulgação/Sidonio Porto

Além da estética, a industrialização do concreto oferece ganhos reais e significativos em produtividade, previsibilidade e sustentabilidade. “Há obras em que a redução de resíduos chega a 80% em relação ao sistema convencional”, destaca Íria Doniak. “A precisão dimensional elimina retrabalhos e garante qualidade superior, o que também impacta positivamente nos custos e no desempenho ambiental das construções”, complementa.

A presidente da Abcic lembra que o setor também se beneficia da redução do prazo de obra — já que a produção das peças ocorre em paralelo à execução das fundações — e de um canteiro mais limpo e seguro, com menos operários e menos entulho.

De acordo com dados da entidade, os pré-fabricados estão ganhando espaço em segmentos variados: edifícios comerciais e residenciais, galpões logísticos, centros de dados e obras de infraestrutura. Essa expansão é resultado da crescente busca por produtividade e da necessidade de diminuir o impacto ambiental e o consumo de recursos naturais.

Caminho aberto para a descarbonização e a inovação

Com a adoção crescente dos pré-fabricados, a arquitetura contemporânea ganha um novo aliado na criação de obras autorais e sustentáveis. “A construção industrializada permite uma arquitetura flexível, que pode ser desmontada e adaptada no futuro. Isso é pensar em estética e função com responsabilidade”, resume Márcio Porto.

Para Íria Doniak, o avanço da industrialização é também um caminho para a descarbonização e a inovação contínua. “O concreto pré-fabricado de hoje é tecnológico, leve, rastreável e cada vez mais sustentável. É a prova de que eficiência e beleza podem e devem caminhar juntas”, conclui.

Entrevistados
Íria Doniak é presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto).
Marcio Porto é graduado em Arquitetura pela Universidade Mackenzie, mestre e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP, professor da Universidade Mackenzie e sócio-diretor do escritório Sidonio Porto Arquitetos Associados.

Contatos
sylvia@meccanica.com.br (Assessoria de Imprensa)
marcio.porto@sidonioporto.com.br

Jornalista responsável
Ana Carvalho
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Sustentabilidade torna-se o padrão do público investidor e redefine empreendimentos no Brasil

O conceito de sustentabilidade na construção civil ultrapassou o discurso e passou a ser uma prática fundamental para quem projeta, constrói e habita. De acordo com Nilson Sarti, presidente da Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o movimento é reflexo direto da mudança de mentalidade do consumidor e da própria evolução técnica do setor.

Empreendimento Bossa possui três certificações ambientais.
Crédito:
Wagner Melo

“Sustentabilidade é um caminho sem volta. Hoje, quem compra um imóvel quer bem-estar, conforto térmico, ventilação e economia de energia e água”, afirma.

A pandemia acelerou essa conscientização. “Quem morava em edifícios sem tecnologias sustentáveis percebeu o quanto isso pesa no bolso e no conforto. Hoje o público quer viver em paz dentro de casa, e isso passa por projetos mais inteligentes e eficientes”, acrescenta.

Além disso, a percepção dos compradores também mudou. “O cliente entende que investir em um imóvel sustentável é investir em qualidade de vida e economia no longo prazo. E isso influencia não só a venda, mas também a revenda, uma vez que imóveis verdes têm maior valorização e menor vacância”, observa.

Segundo ele, os empreendimentos mais sustentáveis são mais baratos de operar e valorizam mais na revenda. “Em cidades como Salvador, já existem incentivos de IPTU e outorga verde para quem adota práticas sustentáveis”, cita.

Certificações ambientais em ascensão

A busca por selos verdes, como o GBC Condomínio, GBC Life e GBC Biodiversidade, tornou-se uma das principais ferramentas de valorização imobiliária. Segundo Sarti, a certificação é a “prova concreta” de que o empreendimento entrega mais eficiência e qualidade de vida.

Sustentabilidade é fator determinante para muitos moradores e investidores
Crédito:
Wagner Melo

“Assim como os eletrodomésticos têm selo de eficiência energética, os imóveis também precisam mostrar que consomem menos e impactam menos o meio ambiente. Isso é algo que o comprador entende e valoriza”, explica.

Esses selos não se restringem mais apenas ao alto padrão. A CBIC observa a democratização da sustentabilidade, com empreendimentos populares já adotando painéis fotovoltaicos e sistemas de reuso de água. “O programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, já incorpora energia solar até nas faixas de menor renda. Isso mostra que o mercado está se ajustando à nova realidade”, complementa Sarti.

Sustentabilidade aplicada

Um dos exemplos dessa nova geração de empreendimentos é o Bossa, em Curitiba, projeto entregue pela Construtora TM3 em dezembro de 2023. Com apenas 14 unidades e três certificações ambientais (GBC Condomínio, GBC Life e GBC Biodiversidade), o edifício foi planejado para integrar eficiência, saúde e regeneração ambiental.

Nilson Sarti, presidente da Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CBIC.
Crédito: Divulgação/CBIC

Segundo Lais Ito, engenheira civil da Construtora TM3, o empreendimento mostra que sustentabilidade e sofisticação podem caminhar juntas. “O Bossa gera mais de 91% da energia das áreas comuns com placas fotovoltaicas, reutiliza água da chuva, reciclou 99,9% dos resíduos da obra e usa materiais que reduzem em mais de 82% as emissões de compostos orgânicos voláteis”, explica.

O conforto ambiental foi projetado em conformidade com a NBR 15575, garantindo desempenho térmico e lumínico acima da média. “Cada apartamento conta com sensor de qualidade do ar, persianas que bloqueiam 95% da luz externa e metais eficientes que reduzem o consumo de água”, acrescenta Iago de Oliveira, consultor de sustentabilidade do projeto.

Outro diferencial está na biodiversidade urbana: 100% das espécies usadas no paisagismo são nativas, e todas as árvores são frutíferas. “Mais de 41% da área verde é composta por plantas polinizáveis, o que atrai aves e insetos e ajuda a regenerar o ecossistema local”, completa Oliveira.

Consumidor mais consciente e marcas mais fortes

Sustentabilidade deixou de ser um discurso de marketing e virou estratégia de negócio.
Crédito:
Wagner Melo

Para a CBIC, o avanço dos empreendimentos sustentáveis está transformando o mercado imobiliário brasileiro. “A sustentabilidade deixou de ser um discurso de marketing e virou estratégia de negócio”. Ela reduz custos operacionais, melhora o desempenho das edificações e cria um diferencial competitivo poderoso”, aponta Sarti.

No caso do Bossa, o retorno foi evidente. “Depois da entrega, recebemos diversos feedbacks positivos. Muitos moradores disseram que a sustentabilidade foi determinante na compra”, conta Lais Ito. “Essas certificações fortalecem a credibilidade da marca e agregam valor aos próximos lançamentos.”

Um futuro mais verde para o setor

O Brasil ainda enfrenta desafios, como ampliar a cultura de manutenção e incentivar financeiramente a construção verde, mas os avanços são visíveis. A CBIC aposta em iniciativas como o Prêmio CBIC de Sustentabilidade, que valoriza boas práticas ambientais em obras de todo o país. “Temos visto um número crescente de incorporadoras que colocam o tema no centro da estratégia. Não é apenas sobre reduzir impacto, mas sobre construir cidades mais humanas, eficientes e resilientes”, conclui.

Entrevistados
Nilson Sarti é graduado em Engenharia Civil pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Diretor da Akasa Incorporadora, atual Conselheiro e ex-presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (ADEMI-BA), vice-presidente de área da CBIC e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Laís Ito é graduada em Engenheira Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com pós-graduação em Administração e Negócios e em Gerenciamento de Obra pela mesma instituição. Possui certificação Lean Six Sigma Green Belt, com experiência em gestão estratégica e melhoria contínua de processos e foco em inovação.
Iago de Oliveira é graduado em Engenharia Civil, Consultor de Sustentabilidade e Sócio da Bloco Base, escritório de projetos e consultoria para sustentabilidade, conforto e eficiência na construção civil, que atende clientes como AG7, Weefor, GT Building, Bidese, ATR, IDEE, Altma, HIEX, Hype, Neolar e Treéle.

Contatos
ascom@cbic.org.br (Assessoria de Imprensa)
mariana@triangulocomunicacao.com (Assessoria de Imprensa)

Jornalista responsável
Ana Carvalho
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A torre impressa em 3D mais alta do mundo fica na Suíça

Em maio de 2025, a vila alpina de Mulegns, na Suíça, recebeu a Tor Alva, ou Torre Branca, o edifício impresso em 3D mais alto do mundo. Concebida como um espaço imersivo para apresentações, a torre tem 30 metros de altura (incluindo uma base existente) e abriga um teatro em forma de cúpula que se ergue acima dos telhados da vila, tornando-se um novo marco arquitetônico e cultural à região.

A Tor Alva abriga um teatro em forma de cúpula que se ergue acima dos telhados da vila.
Crédito: Digital Building Technologies

O projeto foi realizado graças a um trabalho colaborativo e interdisciplinar, reunindo especialistas em arquitetura, engenharia estrutural, ciência dos materiais e robótica, cada um contribuindo com inovações específicas de sua área. O grupo responsável foi chamado de Digital Building Technologies (DBT) e faz parte do Institute of Technology in Architecture, da ETH Zurich. A torre foi construída em parceria com a Nova Fundaziun Origen, as construtoras Uffer Group e Zindel United, e a empresa de engenharia Conzett Bronzini Partner AG.

“A construção representa um avanço revolucionário em design computacional, fabricação digital, engenharia estrutural e ciência dos materiais, com foco na sustentabilidade. Entre suas contribuições pioneiras estão soluções inovadoras para o reforço do concreto impresso em 3D — um dos maiores desafios do setor até hoje. A Tor Alva utiliza concreto estrutural com paredes finas e de alta eficiência material, além de um sistema modular que permite a reutilização futura dos componentes”, informa o Digital Building Technologies (DBT).

O elemento central do design da torre é composto por 32 colunas únicas de concreto impresso em 3D, que sustentam os diferentes níveis do edifício e definem sua fachada, de acordo com o DBT. Essas colunas variam em forma, desde colunas largas e robustas, com 3,4 metros de altura nos andares inferiores, até colunas esbeltas e entrelaçadas no último andar atingindo 6 metros de altura.

Concreto impresso em 3D reforçado

Segundo o DBT, o concreto impresso em 3D era usado principalmente para elementos não estruturais ou com baixa demanda estrutural. “A limitação se devia à falta de normas e modelos mecânicos que considerassem as propriedades anisotrópicas do material, além da ausência de conceitos testados para integração de armaduras”, esclarece o grupo de estudo.

Pesquisas intensivas levaram ao desenvolvimento de modelos estruturais e ensaios experimentais, incluindo colunas em escala reduzida e real, além de tirantes reforçados, e o novo Ensaio de Cisalhamento Inclinado Modificado (“Modified Slant Shear Test”), que quantifica a influência das interfaces entre camadas do concreto impresso. “Esses avanços permitiram que o concreto da Tor Alva fosse reforçado com aço e protensão, garantindo comportamento mecânico semelhante ao do concreto convencional e tornando a torre o primeiro edifício de múltiplos pavimentos do mundo com concreto 3D totalmente estrutural e reforçado”, destaca o DBT.

Ao todo, a torre conta com 2.500 camadas de concreto extrudado, sendo que cada uma delas tem 10 mm de altura e 15–20 mm de largura. O tempo estimado de impressão foi de 900 horas.

Robôs em sincronia

Outro destaque é a integração automática das armaduras durante a impressão. “Dois robôs trabalham em conjunto: um extrude o concreto camada por camada, enquanto o outro posiciona o reforço entre as camadas. Após a impressão de elementos ocos de paredes finas, as armaduras longitudinais são inseridas em canais verticais e preenchidas com graute. Essa tecnologia torna a estrutura totalmente capaz de suportar cargas, com redução significativa no consumo de material em comparação às técnicas tradicionais”, esclarece o DBT.

Impressão 3D sem fôrmas e eficiente

Na impressão 3D, um braço robótico aplica finas camadas de concreto maleável de 8 mm de altura por 25 mm de largura, formando trajetórias contínuas de aproximadamente 5.000 metros por coluna. Cada coluna é composta por três filamentos: o externo com textura ornamental, o intermediário contendo o revestimento das armaduras, e o interno formando canais ocos para a armadura longitudinal principal. O método sem fôrmas e o uso preciso de material resultaram em 40% de redução no consumo de concreto.

Sustentabilidade e captura de carbono

Apesar de a pegada de CO₂ do concreto impresso em 3D ser geralmente maior que a do concreto convencional, o design da torre permite reduzir a quantidade de material usado e capturar carbono ao longo da vida útil do concreto. “Elementos mais finos absorvem CO₂ mais rapidamente, e amostras dos elementos da torre são monitoradas para acompanhar a recaptura de carbono. Para evitar problemas de durabilidade, a torre utiliza aço inoxidável, estabelecendo um novo paradigma de design sustentável com impressão 3D”, aponta DBT.

Design computacional e tecnologia digital

O projeto é totalmente gerado por código, sem desenhos manuais. “Cada detalhe é parametrizado, permitindo ajustes, visualização imersiva, simulação da fabricação e conformidade com as restrições da impressora 3D robótica. Todos os dados estão em um gêmeo digital, que coordena, simula, avalia e executa a torre sem a necessidade de planos convencionais, integrando inclusive sistemas elétricos e de iluminação”, destaca o DBT.

Circularidade e reutilização

Pensada para a economia circular, a Tor Alva possui conexões destacáveis, podendo ser desmontada após cinco anos de uso em Mulegns e remontada em outro local. 

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=nhylOL5SM3U&t=1s

Fonte
Digital Building Technologies - Institute of Technology in Architecture, ETH Zurich

Contato:
guala@arch.ethz.ch

Jornalista responsável:

Marina Pastore – DRT 48378/SP
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Falhas estruturais: impactos ocultos dos desabamentos e a contribuição da engenharia preventiva

Quando uma construção desaba, um teto cede ou uma ponte entra em colapso, o foco recai sobre os impactos humanos e os prejuízos financeiros imediatos. No entanto, existe uma dimensão menos visível, frequentemente mais complexa e duradoura. São os custos invisíveis ou indiretos, constituídos por perdas ambientais, danos ao patrimônio cultural, riscos à segurança de moradores, transeuntes e trabalhadores, além da perda da confiança pública na engenharia e nas instituições responsáveis pela fiscalização e garantia da integridade estrutural das construções. 

Segundo o engenheiro civil Gilberto Luiz, especialista em patologia das obras civis e diretor técnico da Ad Fiducia Avaliações e Perícias de Engenharia, escondido atrás dessa primeira impressão, pode existir um custo silencioso, que às vezes é muito maior e passa despercebido. “Cada metro cúbico de concreto ou quilo de aço perdido carrega a energia gasta na extração, transporte, fabricação e descarte. O impacto ambiental é enorme e raramente é considerado”, afirma.

Esses efeitos se multiplicam quando o acidente envolve edificações históricas. “Quando a tragédia atinge um patrimônio histórico, somam-se perdas culturais irreparáveis e danos à memória coletiva”, completa o engenheiro.

Prejuízos que vão além do visível

Casos emblemáticos ajudam a dimensionar o problema. Luiz cita, por exemplo, o colapso de um galpão industrial de 5 mil m², em 2010, que interrompeu a produção de 18 centros de usinagem e causou perdas acima de US$ 30 milhões. “Esse valor ainda não inclui o impacto ambiental, as perdas culturais nem a perda de confiança pública na engenharia”, diz.

Segundo o especialista, um desabamento, mesmo de pequena escala, afeta a economia local, pode interromper o comércio e abala a segurança da população. “Desabamentos de casas e edifícios resultam no comprometimento de investimentos de vidas inteiras, além de danos psicológicos e sociais difíceis de mensurar”, explica.

Lições de tragédias que mudaram leis

Os grandes acidentes, no Brasil e no mundo, frequentemente se tornam marcos regulatórios. “Foi assim em Nova Iorque, em 1979, quando a morte de uma jovem atingida por fragmentos de fachada levou à criação do primeiro programa de inspeções periódicas de fachadas”, relembra Luiz. Mais recentemente, em 2021, o desabamento de um edifício em Miami impulsionou regras mais rígidas para prédios na Flórida.

Já no Brasil, a queda da marquise de uma loja em Porto Alegre, em 1988, motivou a criação da primeira lei de inspeção obrigatória de marquises. Já o colapso do teto da Igreja do Ouro, em Salvador, no início de 2025, reacendeu o debate sobre a preservação de templos históricos. “Cada episódio cobrou um preço alto e mostrou que a prevenção é menos custosa do que a reconstrução após a tragédia”, reforça o engenheiro.

Diagnóstico e manutenção: pilares da segurança

Ultrassonografia, georadar, termografia, análises químicas e microscopia são tecnologias de diagnóstico avançado.
Crédito: Envato

Para Gilberto Luiz, evitar falhas e desabamentos não depende apenas da execução robusta de uma obra. “Tudo começa antes mesmo do concreto ser lançado nas fundações. É preciso projeto bem concebido, dimensionamento correto, materiais de qualidade e controle tecnológico rigoroso durante a execução”, enumera.

Mas o ciclo de segurança não termina na entrega. A manutenção planejada e as inspeções periódicas são indispensáveis para acompanhar a degradação natural dos materiais e impedir que pequenas fissuras evoluam para colapsos. “Conversar com as estruturas é uma atividade indispensável. Essas conversas acontecem nas inspeções, nas revisões de projeto e nas perícias, que ajudam a entender o que as edificações estão tentando nos dizer”, orienta.

Ameaças e sinais

As ameaças, muitas vezes, se escondem dentro das estruturas. “Corrosão silenciosa das armaduras, fissuras internas, recalques diferenciais ou falhas de pilares podem comprometer a segurança sem qualquer sinal visível aos usuários”, explica.

Nesses casos, entram em cena tecnologias de diagnóstico avançado, como ultrassonografia, georadar, termografia, vídeoscopia, análises químicas e microscopia. Esses recursos permitem identificar problemas ocultos, estimar a vida útil residual da estrutura e realizar intervenções antes que as falhas se transformem em tragédias.

A mensagem central, segundo o engenheiro, é simples: a prevenção não é custo, é investimento essencial. “O planejamento correto nas fases de projeto, a execução controlada, o diagnóstico e a manutenção preventiva não são despesas que podem ser descartadas”, destaca. São investimentos em segurança, durabilidade e sustentabilidade.

Essas práticas reduzem riscos, preservam o meio ambiente e protegem vidas. “A engenharia e a arquitetura precisam deixar de reagir apenas às emergências. Devem assumir o papel de proteção à vida e à preservação do patrimônio construído e natural”, conclui.

Entrevistado
Gilberto Luiz é graduado em Engenharia Civil pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), especialista em Patologia nas Obras Civis e Engenharia de Estruturas, diretor técnico da empresa Ad Fiducia Avaliações e Perícias de Engenharia, professor de cursos de pós-graduação e extensão na área de ensaios tecnológicos, inspeção de estruturas e perícias de engenharia, membro do Instituto Catarinense de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape/SC).

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contato@adfiducia.com.br 

Jornalista responsável

Ana Carvalho
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