Novos edifícios terão normas para reduzir a sensação térmica
A construção civil brasileira passará por uma transformação gradual, porém estrutural, a partir de 2027. Uma nova resolução federal estabelece Índices Mínimos de Eficiência Energética para edificações, tornando obrigatória a adoção de critérios que reduzam o consumo de energia sem comprometer conforto, segurança e qualidade dos ambientes. As mudanças estão previstas na Resolução CGIEE nº 4, de 26 de setembro de 2025.
A medida atinge novos projetos de edificações públicas, comerciais e residenciais, com cronograma escalonado até 2040, permitindo adaptação de profissionais, empresas e gestores públicos. A proposta é alinhar o Brasil a padrões internacionais de eficiência, ao mesmo tempo em que promove economia de energia, conforto térmico e resiliência climática.
Atualmente, a construção civil conta com um sistema voluntário de classificação de eficiência energética, semelhante ao adotado para eletrodomésticos. Com esta nova resolução, essa classificação passará a ser obrigatória para novas edificações.
O que são os índices mínimos?
Os índices funcionam como padrões obrigatórios de desempenho energético, semelhantes aos já existentes para equipamentos como geladeiras e aparelhos de ar-condicionado. No caso das edificações, o objetivo é garantir que os projetos utilizem menos energia para oferecer o mesmo nível de conforto e funcionalidade.
Na prática, isso envolve desde soluções de projeto — como ventilação cruzada, iluminação natural e sombreamento — até a especificação de materiais e sistemas mais eficientes.

Crédito: Divulgação GT Building
Quem será obrigado a cumprir as regras
A obrigatoriedade entra em vigor em 2027, com novas construções de edifícios públicos federais, que deverão atingir desempenho equivalente ao nível A da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), o mais eficiente da escala que varia de A a E. Para o Rio Grande do Sul, contudo, a implementação dessa exigência foi postergada para 2028, em virtude da situação de calamidade pública enfrentada recentemente pelo estado.
A partir de 2030, a exigência se estende a edifícios comerciais, residenciais e de habitação de interesse social (HIS) em cidades com mais de 100 mil habitantes. O cronograma segue até 2040, quando todas as novas edificações públicas, comerciais e residenciais em municípios com mais de 50 mil habitantes deverão atender aos índices mínimos.
Edificações privadas deverão alcançar, no mínimo, o nível C da ENCE, que, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), corresponde basicamente ao cumprimento de normas técnicas já vigentes. Projetos que atingirem nível A poderão receber o Selo Procel Edificações.
Habitação social também entra no radar
Um dos pontos centrais da regulamentação é a inclusão progressiva das Habitações de Interesse Social (HIS). A partir de 2030, moradias financiadas ou executadas com recursos públicos deverão incorporar critérios mínimos de eficiência energética, o que pode resultar em contas de luz mais baixas, melhor ventilação e maior conforto térmico, especialmente em regiões quentes e com infraestrutura precária.
Obras em andamento não serão afetadas
A regulamentação não terá efeito retroativo. Projetos já aprovados ou obras em andamento não precisarão se adequar às novas regras. As exigências valem apenas para novos projetos protocolados após a entrada em vigor da norma, garantindo uma transição planejada e sem impacto imediato sobre empreendimentos em execução.
Eficiência não exige grandes obras
Segundo o documento, não são necessárias intervenções complexas ou de alto custo para alcançar eficiência energética. Estratégias simples de projeto, como o correto posicionamento de janelas, o aproveitamento da iluminação natural, a ventilação cruzada e o sombreamento adequado de fachadas, são capazes de reduzir significativamente a necessidade de climatização artificial.
Em novos projetos, soluções estruturais — como materiais com maior resistência térmica, vidros eficientes e estratégias bioclimáticas adequadas à região — podem ser incorporadas de forma gradual.
Impacto econômico e ambiental
Além da redução do consumo energético, a regulamentação deve impulsionar a modernização da cadeia produtiva da construção civil, estimulando tecnologias inovadoras, sistemas construtivos mais eficientes e atualização de normas técnicas.
Estudos do MME indicam que, até 2030, atividades ligadas à eficiência energética podem gerar mais de 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos, além de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa, valorização imobiliária e atração de investimentos.
Exemplos de eficiência energética
No âmbito da administração pública, Alexandra Maciel, coordenadora do Grupo Técnico para Eficientização de Energia em Edificações do Ministério de Minas e Energia, compartilhou o exemplo do edifício do Ministério da Saúde – Bloco O da Esplanada.
“Este edifício é uma referência para toda a Esplanada, por ter passado pelo processo de etiquetagem e recebido a classificação A — o nível máximo de eficiência energética para edificações. Esse prédio reúne uma série de soluções adaptadas ao clima de Brasília, como estratégias de proteção contra a insolação, uso de películas de baixa emissividade e intervenções na reforma interna que ampliaram o aproveitamento da iluminação natural. Soma-se a isso um sistema de ar-condicionado eficiente, plantas livres que permitem ventilação cruzada quando o ar não está em uso e um sistema de iluminação elétrica de alto desempenho”, afirma Alexandra.
Em Curitiba (PR), o OÁS, empreendimento que está sendo executado com concreto da Concrebras, deve utilizar algumas estratégias de eficiência energética e já conquistou algumas certificações, incluindo GBC Condomínio, LEED, PBE Edifica e Fitwel. Uma destas estratégias é a fachada ventilada. De acordo com a construtora GT Building, ela é formada por camadas independentes. Uma estrutura de sustentação é ancorada à parede impermeabilizada da edificação, criando um espaço de ar entre o revestimento externo e a parede. Esse espaço permite uma ventilação natural contínua, conhecida como ‘efeito chaminé’, que reduz a absorção e a transferência de calor para o interior do edifício. A ventilação constante impede o acúmulo de calor e umidade entre as camadas, prolongando a vida útil dos materiais e evitando problemas comuns nas fachadas convencionais.
“Estudos realizados para o Oás comprovaram uma redução de até 5 °C nas temperaturas internas em comparação às fachadas convencionais — resultado alcançado de forma totalmente passiva, sem o uso de sistemas de climatização. Essa eficiência térmica pode representar economia de cerca de 30% no consumo de energia elétrica com ar-condicionado, especialmente nos períodos de mais calor”, destaca o diretor de operações da GT Building, Maurício Fassina.
Fontes
Maurício Fassina é diretor de operações da GT Building.
Alexandra Maciel, coordenadora do Grupo Técnico para Eficientização de Energia em Edificações do Ministério de Minas e Energia.
Contatos
GT Building - centralpress@centralpress.com.br
Ministério de Minas e Energia - imprensa@mme.gov.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
Vogg Experience
Construção civil deve encerrar o ano com alta de 1,8% no PIB
Após um desempenho robusto em 2024, a construção civil apresentou perda de ritmo em 2025, embora tenha mantido crescimento. De acordo com estimativas do FGV Ibre com base em dados do IBGE, o PIB da construção deve encerrar o ano com alta de 1,8%, abaixo do avanço de 4,4% registrado no ano anterior, refletindo um ambiente mais desafiador, marcado por juros elevados, desaceleração do consumo das famílias e custos pressionados.
Segundo a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o cenário já era esperado. “Em dezembro de 2024, nossa avaliação era de que 2025 seria um ano mais difícil, especialmente por conta do patamar elevado da taxa de juros, apesar de o setor ainda carregar os efeitos de um ciclo recente relativamente forte”, afirma.
Indicadores de atividade mostram resiliência
Mesmo com a desaceleração, alguns indicadores apontam resiliência da atividade. O consumo de cimento, considerado um dos principais termômetros do setor, cresceu 3,6% no acumulado do ano, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Em 12 meses, a alta foi de 3,2%, indicando continuidade das obras, especialmente na infraestrutura e no mercado habitacional popular.
Já a indústria e o comércio de materiais de construção apresentaram desempenho mais fraco. No acumulado do ano, a indústria registrou estabilidade, enquanto o comércio registrou leve retração, refletindo a redução das despesas das famílias com obras e reformas. Do total produzido pela indústria de materiais, 47% têm como destino direto o consumo das famílias, o que reforça o impacto da desaceleração desse segmento sobre a cadeia produtiva.
Emprego desacelera, mas segue acima da média da economia
No mercado de trabalho, o ritmo de contratações perdeu fôlego, mas permaneceu positivo. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, nos últimos 12 meses até outubro, o emprego formal no setor cresceu 2,84%.

Crédito: Envato
A escassez de mão de obra qualificada e a demanda insuficiente continuaram entre os principais entraves apontados pelas empresas. Até outubro, a construção civil empregava mais de 3 milhões de trabalhadores no Brasil, sendocerca de 365 mil no estado de São Paulo.
“A construção continua contratando mais do que demitindo, mesmo com a desaceleração observada ao longo do ano”, destaca Ana Maria Castelo.
Mercado imobiliário segue aquecido, com forte assimetria
O mercado imobiliário manteve crescimento em 2025, ainda que de forma desigual entre os segmentos. No acumulado de janeiro a outubro, dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) indicam alta de 8,4% nos lançamentos e de 5% nas vendas no mercado nacional.
Em São Paulo, o desempenho foi ainda mais expressivo. Segundo o Sindicato da Habitação, Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis do Estado de São Paulo (Secovi-SP), os lançamentos cresceram 41%, enquanto as vendas avançaram 10% na comparação anual, movimento impulsionado principalmente pelo programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
“O crescimento está concentrado nas duas pontas do mercado: o Minha Casa, Minha Vida e os imóveis de maior valor. O segmento intermediário segue mais pressionado pelas condições de crédito”, explica a economista.
Crédito recua fora do MCMV
O crédito imobiliário com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) apresentou retração significativa em 2025. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), as contratações para financiamento à construção caíram 48,9%, enquanto os financiamentos para aquisição recuaram 7,4%, resultando em uma redução total de 21,4% no ano.
Infraestrutura sustenta parte do crescimento
Na infraestrutura, por outro lado, as expectativas positivas se confirmaram. O Brasil deve encerrar 2025 com cerca de R$ 277 bilhões em investimentos, em valores nominais, o que representa um crescimento de 3,9%. O desempenho é sustentado pelo protagonismo do setor privado, impulsionado por concessões e leilões realizados nos últimos anos.
Custos seguem pressionados
A pressão de custos continuou elevada ao longo do ano, principalmente por conta da mão de obra. O INCC-M, calculado pela FGV Ibre, acumulou alta de 6,41% em 12 meses até novembro. Entre as capitais, São Paulo apresentou a maior variação, refletindo um mercado de trabalho mais aquecido e maior escassez de trabalhadores qualificados.
Confiança empresarial recua
Esse ambiente mais desafiador também se refletiu na confiança das empresas. A Sondagem da Construção do FGV Ibre aponta aumento das restrições relacionadas à mão de obra e aos custos, ao mesmo tempo em que o índice de confiança recuou ao longo de 2025. “As empresas encerram o ano mais cautelosas, embora os últimos dados indiquem uma leve melhora na margem”, conclui Ana Maria Castelo.
Fonte
Ana Maria Castelo é coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Contato
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
Vogg Experience
Tratamento de partículas finas de concreto com CO₂: a rota de mineralização que viabiliza o uso de materiais cimentícios de baixo carbono
A descarbonização da cadeia produtiva do cimento e do concreto configura-se como um dos maiores desafios da construção civil. Nesse cenário, pesquisas associam eficiência técnica, circularidade e captura permanente de carbono, vêm ganhando destaque. Entre elas, destaca-se o estudo desenvolvido por Kathleen Dall Bello de Souza Risson, engenheira e pesquisadora no Instituto Federal do Paraná (IFPR) campus Foz do Iguaçu, que investigou o tratamento de partículas finas de concreto com dióxido de carbono (CO₂), por meio de uma rota conhecida como mineralização ou carbonatação acelerada.
“Busquei entender como partículas muito finas, menores que 0,15 mm, provenientes da reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição (RCD), poderiam capturar CO2 e, ao mesmo tempo, gerar materiais aptos a substituir parte do cimento”, explica Kathleen.
O trabalho analisou pós obtidos por moagem de corpos de prova de concreto e de RCD misto (resíduos cerâmicos e cimentícios), observando comportamento, desempenho e capacidade de fixação de CO2 em cada tipo de material.

Crédito: Acervo Pessoal
Como funciona a mineralização com CO2
O processo de carbonatação mineral consiste em um mecanismo físico-químico que transforma CO2 em carbonatos estáveis, a partir de sua reação com minerais contendo cálcio e magnésio.
Na pesquisa, essa técnica foi aplicada em uma câmara de carbonatação do tipo gás–sólido, no qual pós previamente umidificados foram submetidos a condições controladas de temperatura, concentração de CO2 e umidade. “Em condições otimizadas, o pó de concreto conseguiu capturar entre 10 e 13 kg de CO2 por tonelada em apenas 30 minutos, chegando a quase 30 kg por tonelada após 24 horas”, relata a pesquisadora.
Após o tratamento, os materiais foram secos e utilizados como materiais cimentícios suplementares (MCS). Os resultados mostraram-se expressivos: o pó mineralizado apresentou potencial para substituir até 25% do cimento convencional, mantendo níveis de resistência mecânica equivalentes aos de um cimento classe C32 aos 28 dias.
Sustentabilidade comprovada por indicadores ambientais
A rota estudada por Kathleen não apenas melhora a qualidade das partículas finas, como também reduz a pegada de carbono da construção civil. Para mensurar esse ganho ambiental, foi utilizado o Índice de Carbono (CI), obtido pela divisão entre o total das emissões de CO2, em (kg.CO2) gerado pela produção e transporte de todos os materiais usados na produção de 1 m³ de argamassa, e a resistência à compressão da argamassa obtida aos 28 dias. Ou seja: (IC kg.CO2/m³/MPa).

Crédito: Acervo Pessoal
Segundo a pesquisadora, “os pós carbonatados apresentaram um CI de 10,59 kg.CO2/m³/MPa, uma redução de 7% em relação ao pó não tratado e valor inferior ao observado para o cimento comercial CP II-F 32”. Esse resultado evidencia uma solução tecnicamente viável e ambientalmente competitiva, capaz de assegurar desempenho mecânico equivalente, reduzir a intensidade das emissões de carbono e promover o reaproveitamento de resíduos anteriormente tratados como passivos ambientais.
Impactos diretos e indiretos para a construção civil
A aplicação dessa tecnologia está alinhada aos principais roadmaps de descarbonização do setor, os quais convergem para estratégias integradas que combinam captura de carbono, redução do fator clínquer e substituição de matérias-primas convencionais. “Transformar resíduos em recursos, fixar CO2 de forma permanente e gerar um material com potencial real de mercado é um salto tecnológico significativo”, afirma Kathleen.
Além de aprimorar o desempenho ambiental das empresas, a mineralização cria oportunidades para o desenvolvimento de modelos de negócios baseados na economia circular, ao mesmo tempo em que pode contribuir para políticas públicas voltadas à circularidade e à inserção do setor da construção no mercado de carbono no Brasil.
No âmbito das aplicações práticas, o pó mineralizado apresenta potencial de utilização em produtos cimentícios sem função estrutural, tais como pavimento intertravado de concreto, revestimentos, bancos, guias e mobiliário urbano. “Para viabilizar a expansão industrial, será necessário integrar recicladoras, concreteiras e fabricantes de artefatos em novos arranjos produtivos”, destaca a pesquisadora.
Uma rota promissora para o futuro

Crédito: Acervo Pessoal
O estudo desenvolvido no Instituto Federal do Paraná (IFPR) e na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) demonstra que amineralização de CO2 em partículas finas de concreto é tecnicamente viável, ambientalmente vantajosa e estrategicamente alinhada às necessidades de um setor que busca soluções eficazes e de rápida implementação para mitigar emissões. “Já avançamos também em pesquisas com outros resíduos e agregados. Ampliar essa tecnologia é fundamental para fortalecer soluções sustentáveis dentro da cadeia do concreto”, afirma Kathleen.
Cada avanço nessa área contribui para aproximar o setor da construção civil de um modelo produtivo de menor intensidade de emissão, mais circular e tecnicamente mais eficiente, consolidando um percurso no qual inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental se integram de forma indissociável.
Entrevistada
Kathleen Dall Bello de Souza Risson é graduada em Engenharia Civil pela Faculdade Dinâmica das Cataratas (UDC), especialista em Gerenciamento e Execução de Obras (UDC) e em Docência da Educação Profissional e Tecnológica (IFPR), mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e doutora em Energia e Sustentabilidade pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Atua como docente EBTT e pesquisadora no Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Foz do Iguaçu. Desenvolve pesquisas nas áreas de obtenção, processamento, caracterização e tratamento de resíduos para uso como material cimentício suplementar; mineralização de CO2 em resíduos sólidos como tecnologia para mitigação das emissões de carbono; e dosagem e performance de pavimentos em concreto permeável.
Contato
kathleen.souza@ifpr.edu.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience
Pavimentos permeáveis de concreto avançam no país como solução técnica para drenagem, sustentabilidade e mitigação climática
A adoção de pavimentos permeáveis de concreto vem ganhando relevância no setor da construção civil, especialmente em projetos voltados à drenagem urbana sustentável. Diferentemente dos revestimentos convencionais, esse sistema permite a infiltração da água por meio de uma matriz porosa cuidadosamente projetada, contribuindo para a redução de alagamentos, a diminuição do escoamento superficial e aproximação das cidades do conceito de “cidade esponja”.
Pesquisas conduzidas no Brasil têm aprofundado a compreensão dos mecanismos físicos e químicos que caracterizam esse tipo de pavimento. A engenheira e pesquisadora Kathleen Dall Bello de Souza Risson, do Instituto Federal do Paraná (IFPR), dedica-se ao tema desde 2017. Ao longo de sua investigação, avaliou desde procedimentos de moldagem em laboratório até o desempenho de pistas experimentais construídas em campo. “Minha pesquisa buscou relacionar as propriedades avaliadas em laboratório com aquelas obtidas a partir da extração de testemunhos dos pavimentos”, explica.
Estrutura, composição e parâmetros técnicos essenciais
O pavimento permeável é constituído por concreto de elevada porosidade, com vazios interconectados que normalmente variam entre 15% e 30%. Esses macroporos formam canais contínuos que permitem o escoamento de água, conferindo ao sistema elevada capacidade drenante. As dosagens são definidas em função do uso final do pavimento e podem envolver consumos de cimento entre 180 e 555 kg/m³, agregado graúdo entre 964 e 2000 kg/m³ e teores reduzidos ou até mesmo nulos de agregado miúdo. Relações água/cimento na faixa de 0,22 e 0,43 são comuns, assim como a utilização de aditivos plastificantes ou superplastificantes para a redução do teor de água usada, embora a pesquisa desenvolvida no IFPR tenha optado por não os utilizar.

Crédito: Redação Concrete Show Digital
O procedimento de moldagem também é determinante. No estudo conduzido por Kathleen, a mistura dos materiais foi padronizada em 5 minutos, e a moldagem dos corpos de prova foi realizada com 50 golpes do Martelo de Proctor de 2,5 kg, padronizando a energia de compactação, garantindo assim a equivalência e reprodutibilidade entre amostras. Os corpos de prova foram avaliados quanto à massa específica, porcentagem de vazios, permeabilidade e resistência à compressão. Em paralelo, foram realizados testes de carbonatação para mensurar a difusão de CO2 e sua conversão em carbonatos, um tema ainda incipiente, mas com grande potencial para o setor.
Permeabilidade e captura de CO2
Um dos diferenciais da pesquisa de Risson, é quantificar o CO2 fixado com a incorporação de agregados reciclados de Resíduos da Construção e Demolição (RCD) na produção do concreto permeável. O estudo avaliou substituições de 15%, 30% e 45% da brita basáltica por agregado reciclado do tipo misto, (aquele que pode conter fragmentos cerâmicos, de concreto e argamassa endurecidos, pedras naturais e pequenas frações de outros materiais minerais aderidos, como por exemplo os revestimentos), com dimensão máxima de 19 mm. Os resultados apontam ganhos importantes: “O uso de agregados reciclados favoreceu a difusibilidade de CO2 e intensificou a carbonatação do concreto permeável”, afirma Kathleen.
A incorporação de RCD resultou em melhora do desempenho hidráulico e manteve o atendimento aos requisitos mínimos da NBR 16416:2015, embora tenha provocado redução da resistência à compressão em cerca de 32% aos 28 dias. A pesquisa identificou taxas de área carbonatada que alcançaram 56,45% nas amostras com 45% de substituição, evidenciando maior penetração de CO2 e maior potencial de fixação. A caracterização foi feita com auxílio de indicador fenolftaleína, associada à análise digital por meio do software ImageJ.
Comparações com pavimentos tradicionais e desafios futuros
A principal distinção entre pavimentos permeáveis e convencionais é funcional. Enquanto o concreto tradicional impede a infiltração da água e direciona o escoamento para sistemas de drenagem, o pavimento permeável permite infiltração total ou parcial. Essa característica reduz a pressão sobre galerias pluviais e minimiza a ocorrência de enchentes. “A elevada porosidade implica resistências menores, sendo, portanto, mais indicado para áreas de tráfego leve e moderado, como estacionamentos, calçadas, ciclovias e praças”, observa a pesquisadora.
Além de favorecer a drenagem, os pavimentos permeáveis contribuem para modelos urbanos mais sustentáveis, auxiliando no controle de ilhas de calor e promovendo a economia circular ao reaproveitar resíduos como insumo. Apesar dos avanços significativos, a pesquisadora ressalta que ainda há carência de métricas padronizadas capazes de quantificar a captura de carbono por unidade. “Esse requisito é indispensável para subsidiar sistemas de créditos de carbono que exigem valores mensuráveis e verificáveis. Nesse contexto, o uso combinado de agregados reciclados e pavimentos de concreto permeável merece atenção do poder público, dado o potencial de integrar gestão de resíduos, drenagem urbana e mitigação climática em uma única solução”, pontua.
Tecnologia madura e caminho aberto para cidades resilientes
Os pavimentos permeáveis de concreto evoluíram de experimentos laboratoriais para aplicações reais, apoiados por pesquisas robustas e por normas técnicas específicas. Sua adoção amplia a capacidade de gestão da água, integra resíduos ao ciclo produtivo e oferece potencial adicional de mitigação climática, reunindo um conjunto raro de benefícios em um único sistema construtivo.
Com investimentos adequados em manutenção, regulamentação e mensuração de carbono, a tecnologia tende a se tornar um componente estratégico na infraestrutura das cidades brasileiras. Trata-se de uma solução capaz de unir engenharia, sustentabilidade e resiliência urbana frente aos novos desafios climáticos.
Entrevistada
Kathleen Dall Bello de Souza Risson é graduada em Engenharia Civil pela Faculdade Dinâmica das Cataratas (UDC), especialista em Gerenciamento e Execução de Obras (UDC) e em Docência da Educação Profissional e Tecnológica (IFPR), mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e doutora em Energia e Sustentabilidade pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Atua como docente EBTT e pesquisadora no Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Foz do Iguaçu. Desenvolve pesquisas nas áreas de obtenção, processamento, caracterização e tratamento de resíduos para uso como material cimentício suplementar; mineralização de CO2 em resíduos sólidos como tecnologia para mitigação das emissões de carbono; e dosagem e performance de pavimentos em concreto permeável.
Contato
kathleen.souza@ifpr.edu.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience
Rodovia da Uva terá novo trecho duplicado em concreto
Em outubro, o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR), vinculado à Secretaria de Infraestrutura e Logística (SEIL), divulgou o edital para a obra de duplicação em pavimento de concreto da PR-417, no trecho entre Curitiba e Colombo, abrangendo 4,52 quilômetros.
A via atual passará por restauração e receberá uma nova camada de pavimento rígido em concreto, método conhecido como whitetopping. A nova pista prevista no projeto também será construída em concreto.
O objetivo é completar a duplicação da Rodovia da Uva, principal ligação de Colombo com Curitiba e municípios da Região Metropolitana, trazendo mais segurança e desenvolvimento para os moradores e o setor produtivo, segundo o secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná, Sandro Alex.
“O primeiro trecho entregamos há alguns anos, com seis faixas de tráfego e um novo viaduto dentro de Colombo, e agora estamos prontos para esta nova etapa, trazendo mais um grande investimento para a Grande Curitiba”, lembra Alex.
De acordo com Janice Kazmierczak Soares, diretora técnica do DER/PR, neste primeiro trecho realizado, já foram observados resultados relevantes, como a otimização do fluxo viário, a redução do tempo de deslocamento e a diminuição dos acidentes.
Ainda segundo Janice, os principais indicadores que motivaram a duplicação deste novo trecho com pavimento de concreto foram a contagem de tráfego, a velocidade média no trecho e o número de acidentes.

Crédito: DER-PR
Trecho a ser duplicado na Rodovia da Uva
De acordo com o DER/PR, o segmento tem início no cruzamento com a Rua Theodoro Makiolka, em Curitiba, onde será construída uma passagem inferior no lugar do entroncamento atual. Ao longo do traçado, estão previstos mais três viadutos: uma passagem superior próxima à Rua Lauro Dromlewicz, uma passagem inferior que substituirá a rotatória com a Rua Odonis Bighi e outra estrutura nas proximidades da Rua Francisco Manika.
O projeto inclui também a implantação de uma passarela para pedestres nas proximidades da Rua Mathias Valesco, a ampliação da ponte sobre o Rio Atuba e a construção de uma nova rotatória ao final do trecho, no ponto de ligação com o Contorno Norte de Curitiba (PR-418).
A obra ainda contempla a implantação de nova sinalização horizontal e vertical, além de dispositivos de segurança viária, como barreiras de concreto tipo New Jersey e defensas metálicas. A iluminação da rodovia ao longo de todo o trecho também está prevista, incluindo vias marginais, rotatórias e retornos.
Estão incluídas ainda a adequação e ampliação do sistema de drenagem, intervenções no leito do Rio Atuba, o plantio de vegetação nas áreas laterais da pista e nos cruzamentos, a construção de passeios para pedestres, soluções de acessibilidade, pontos de parada de ônibus, entre outros serviços complementares.
Desafios
Quando se trata de obras no perímetro urbano, uma das grandes questões é lidar com o fluxo de veículos. “Principalmente com o volume de faixas de rolamento e vias marginais que estamos prevendo”, explica o diretor-presidente do DER/PR, Fernando Furiatti. Para evitar problemas, o projeto prevê aproveitar ao máximo a faixa de domínio da rodovia e contará com soluções para sistemas de contenção, em cerca de 33 locais diferentes no trecho.
“Na elaboração do projeto básico para a duplicação da Rodovia da Uva, considerando a falta de espaço para comportar os taludes resultantes dos cortes e aterros a serem realizados durante a construção da obra, foram projetadas contenções visando o suporte a esses desníveis sem a necessidade de grandes taludes, e por conseguinte, redução das desapropriações. As contenções desempenham um papel essencial na viabilidade das rodovias, permitindo que a estrada seja construída em terrenos irregulares, conectando diferentes níveis do relevo em espaços apertados. Essa escolha decorre de um cuidadoso estudo para garantir a segurança, a durabilidade e a preservação ambiental. Com as soluções adequadas, é possível minimizar os riscos e manter a integridade da rodovia e dos terrenos lindeiros”, afirma Janice.
De acordo com a diretora técnica do DER/PR, os principais fatores que contribuem para a complexidade técnica da obra são:
• Interferência com infraestruturas de serviços públicos: A presença de redes de serviços públicos como água, esgoto, gás, energia elétrica, telefonia e dados, exige um mapeamento detalhado e a coordenação de projetos para evitar conflitos e danos durante a obra;
• Gestão do tráfego local: Por tratar-se de local com alta densidade populacional e tráfego intenso, será necessário gerenciar continuamente o fluxo de veículos e pedestres com uma sinalização clara principalmente nos desvios, garantindo a segurança e minimizando interrupções;
• Condições geográficas e ambientais: As características geográficas da região, incluindo solo suscetível à erosão e relevo bastante ondulado, são fatores que afetam o planejamento e a execução das interseções em desnível;
• Logística de materiais e equipamentos: O espaço limitado em áreas urbanas dificulta a estocagem de materiais e a movimentação de equipamentos de grande porte, exigindo um planejamento logístico eficiente;
• Integração com elementos urbanos: A obra deve considerar a integração com a infraestrutura urbana existente bem como seus projetos de expansão.
“Obras rodoviárias em ambientes urbanos precisam promover a integração com a infraestrutura existente, envolvendo múltiplas disciplinas e a necessidade de minimizar os impactos para a população afetada, conciliando as demandas dos usuários da rodovia com as restrições físicas e operacionais do ambiente urbano”, informa Janice.

Crédito: DER-PR
Contratação sem-integrada
De acordo com o DER, o edital adotará a modalidade de Contratação Semi-integrada, na qual a empresa vencedora será responsável tanto pela elaboração do projeto executivo de engenharia quanto pela execução das obras.
“A contratação semi-integrada é utilizada quando a administração tem os projetos básicos. Ela permite pequenos ajustes para melhor adequação técnica às características locais, nas especificidades não identificadas na fase de projeto básico”, afirma Janice.
Prazo e orçamento das obras
O edital prevê que as obras durem 630 dias (21 meses). Destes, 90 dias serão utilizados ao desenvolvimento do projeto e 540 dias à realização da duplicação.
O orçamento da obra não foi divulgado. De acordo com o DER, o intuito é incentivar as empresas interessadas a analisarem detalhadamente o edital e seus anexos na formulação de suas propostas.
Fonte
Janice Kazmierczak Soares é diretora técnica do DER/PR.
Contato
Assessoria de imprensa - comunicacao@der.pr.gov.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
Vogg Experience
Caixa e USP lançam plataforma para medir e reduzir CO₂ em habitações de interesse social
A Caixa Econômica Federal, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), lançou o BIPC (Benchmark Iterativo para Projetos de Baixo Carbono), uma plataforma que promete mudar a forma como o mercado imobiliário analisa e reduz a pegada de carbono de empreendimentos habitacionais. A iniciativa tem foco inicial nos projetos financiados pelo programa Minha Casa, Minha Vida e se alinha ao compromisso do banco de incentivar práticas mais verdes no setor da construção civil.
O BIPC funciona como uma calculadora comparativa. A ferramenta permite que projetistas, incorporadoras e construtoras avaliem a quantidade de CO₂ emitida em diferentes soluções construtivas e identifiquem quais materiais e tipologias têm maior impacto ambiental.
A análise apresenta resultados instantâneos, permitindo que equipes técnicas simulem alternativas e escolham caminhos que reduzam emissões, consumo de insumos e custos de produção.
A plataforma será aberta ao público e, segundo seus criadores, terá uso básico gratuito. O objetivo é democratizar o acesso a dados técnicos de sustentabilidade e estimular uma mudança de cultura no setor. Além de apoiar o mercado, o BIPC servirá como subsídio para políticas habitacionais da Caixa, que pretende utilizar os resultados como referência para programas de financiamento de baixo carbono.

Crédito: Envato
Comparação automática e incentivo à inovação
Vanderley John, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do projeto, explica que um dos principais diferenciais do BIPC está na capacidade de realizar análises automatizadas, sem exigir cálculos complexos dos usuários. “A plataforma permite comparar o projeto com outros similares, tanto no consumo de materiais quanto no CO2 embutido. Tudo isto de forma automática, sem ter que fazer contas ou gastar tempo”, afirma o pesquisador.
A comparação funciona como uma espécie de espelho do mercado. Ao confrontar o desempenho de um empreendimento com base em centenas de projetos similares, os profissionais conseguem visualizar excessos de materiais, ineficiências e oportunidades de economia. Para John, essa transparência deve estimular melhorias contínuas. “Se a comparação mostrar que usam mais materiais por metro quadrado que prédios similares, elevando o custo, acredito que os profissionais poderão se sentir motivados a melhorar até atingir metas”, explica.
Ao reduzir materiais, o BIPC ajuda não apenas na descarbonização, mas também na produtividade. Outro benefício destacado por John é a possibilidade de obtenção de juros mais baixos em linhas de crédito associadas ao uso racional de insumos e à diminuição das emissões. A plataforma, portanto, fomenta um ciclo virtuoso: obras mais eficientes, menores custos e retorno econômico ampliado.
Sustentabilidade como eixo das políticas habitacionais
A inserção do BIPC no ecossistema habitacional brasileiro tem um propósito claro. A Caixa pretende utilizar a ferramenta para qualificar decisões e construir políticas públicas mais alinhadas a metas ambientais. Assim, o banco financiará empreendimentos considerando indicadores de sustentabilidade, priorizando projetos que apresentem menor pegada de carbono. Dessa forma, a plataforma se torna não apenas um apoio técnico, mas um instrumento de governança para orientar investimentos.
O impacto é especialmente relevante para o Minha Casa, Minha Vida, que concentra parte significativa da produção habitacional nacional. Com o BIPC, empreendimentos destinados à habitação social poderão adotar soluções construtivas mais inteligentes, eficientes e sustentáveis. A ferramenta também contribui para fortalecer a inovação tecnológica no setor, ampliando o uso de técnicas de baixo carbono e incentivando novos produtos e sistemas construtivos. “Esperamos que a ferramenta entre em uso experimental no primeiro trimestre de 2026. E, a partir do segundo semestre, a Caixa já comece a utilizá-la como ferramenta de financiamento. Estamos confiantes de que os parceiros de software nos permitirão cumprir o objetivo de fazer do inventário de carbono, uma coisa rotineira e descomplicada para o benefício de todos”, assinala John.
Ao oferecer dados confiáveis e comparações diretas, o BIPC aproxima o Brasil das melhores práticas internacionais e reforça o papel da engenharia como agente fundamental da transição para uma economia mais sustentável. A iniciativa também sinaliza um movimento importante no mercado: a sustentabilidade deixou de ser tendência e se tornou critério decisivo em projetos, financiamentos e políticas públicas.
Entrevistado
Vanderley Moacyr John é graduado em Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-doutorado no Royal Institute of Technology da Suécia. Professor da Escola Politécnica, coordenador da EMBRAPII CICS USP e do hubIC.
Contato
vmjohn@usp.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience
Reforma Tributária: o que muda para 2026 e como a construção civil deve se preparar
A reforma tributária inicia em 2026 sua fase mais sensível para a construção civil. Embora a carga de impostos não mude imediatamente, o ano marca o começo da convivência entre dois sistemas, o atual e o futuro modelo de IVA dual (IBS + CBS). Isso vai exigir atenção redobrada, capacidade de adaptação e uma estratégia tributária personalizada por empreendimento.
Para o advogado Samuel Rangel de Miranda, fundador do Instituto Nacional de Direito e Empreendedorismo (INDE), a transformação não será simples. Segundo ele, a previsão é que a alíquota efetiva do IVA dual para incorporações seja de aproximadamente 14%. “Isso representa um salto relevante frente ao patamar atual de 4% do RET. O aumento da carga torna inevitável atualizar contratos e rever modelos de precificação, especialmente para projetos com horizonte de entrega mais longo”, prevê.
2026: o ano da preparação técnica e do duplo sistema
O próximo ano funcionará como uma espécie de ano-piloto. A partir de janeiro, as empresas deverão emitir notas fiscais com alíquotas-teste de 0,9% (CBS) e 0,1% (IBS), ainda sem recolhimento efetivo.
De acordo com Cesiro Aparecido da Cunha Junior, professor assistente no Curso de Ciências Contábeis da FAE Centro Universitário, 2026 é um ano de adequação operacional, com a coexistência de duas lógicas tributárias. Ele explica que as empresas terão de atualizar ERPs, treinar equipes contábil-fiscais e garantir que cada operação seja corretamente segregada entre o regime antigo e o novo.

Crédito: Envato
A complexidade aumenta com a necessidade de registrar, desde já, informações que permitirão o aproveitamento de créditos no futuro. “A nota fiscal passa a desempenhar um papel ainda mais estratégico na apuração dos tributos, e inconsistências podem gerar perdas financeiras a partir de 2027”, observa.
Leia mais: https://www.cimentoitambe.com.br/setor-imobiliario-ganha-guia-pratico-sobre-a-reforma-tributaria/
Janela de oportunidade para incorporadoras
A reforma cria, ao mesmo tempo, incentivos e cautelas. Projetos iniciados até 31 de dezembro de 2026 poderão aproveitar benefícios como o redutor de ajuste, mecanismo que permitirá deduzir, no futuro, o valor de aquisição do terreno da base tributável. Cunha avalia que isso pode gerar uma corrida por lançamentos no segundo semestre de 2026, já que “empreendimentos iniciados até essa data-limite travam condições fiscais mais favoráveis por vários anos”.
Paralelamente, há incorporadoras adotando postura mais conservadora. A incerteza sobre as alíquotas definitivas, a lógica de créditos e o impacto do split payment pode levar empresas a adiar projetos. “O setor vive duas forças opostas: a pressa em aproveitar benefícios e o receio de errar na precificação”, resume.
Split payment: o risco sobre o fluxo de caixa
A partir de 2027, o split payment mudará radicalmente o fluxo de recebimentos das construtoras. O imposto será automaticamente segregado e repassado ao governo no ato do pagamento. Isso vai eliminar o chamado float, aquele intervalo entre o recebimento do cliente e o recolhimento do tributo, que hoje funciona na prática como capital de giro.
Cunha alerta sobre esse processo. “Isso pode causar estrangulamento de caixa para construtoras com margens apertadas”. Ele recomenda que 2026 seja usado para recalibrar tesouraria, renegociar financiamentos e simular cenários de recebimento com e sem a retenção automática.
RET segue até 2028, mas perde vantagens
Com a reforma, o RET deixa de englobar todos os tributos e passa a abranger apenas IRPJ e CSLL, numa alíquota combinada de 1,92%. Já o IBS e a CBS incidirão separadamente, com carga estimada de 14% sobre o preço de venda dos imóveis.
Miranda explica que, durante a transição, empreendimentos iniciados até 2028 seguirão com condições similares ao RET atual, enquanto novos projetos, a partir de 2029, já entram integralmente no IVA. “A carga total estimada é de aproximadamente 15,92%, sem considerar ITBI, INSS e outros tributos”, assinala. Por isso, a recomendação técnica predominante é evitar a migração precoce ao novo modelo.
O desafio da precificação
Como lançar um imóvel em 2026 sem saber exatamente qual será a carga tributária aplicável no momento da entrega? Essa é uma das questões mais sensíveis para o setor.
Cunha destaca que projeções inconsistentes podem gerar perda de margem ou, no extremo oposto, preços altos demais para o mercado. “Departamentos de incorporação, comercial e financeiro precisarão trabalhar juntos para recalibrar premissas de custo e preço”, afirma. Além disso, recomenda-se inserir cláusulas contratuais de revisão tributária nos compromissos de compra e venda, evitando conflitos futuros.
Um setor sob teste
Com o ano de 2026 simbolizando o primeiro passo efetivo da transição, o setor da construção civil terá pouco espaço para improvisos. Testes de sistemas, auditorias internas, revisões contratuais e estudos detalhados de viabilidade passam a ser rotina obrigatória.
A mensagem dos especialistas converge: quem se organizar agora, enfrentará com mais segurança os anos de implementação plena. “O aumento da carga será inevitável; o que define competitividade é o planejamento”, define Miranda. A reforma tributária promete simplificar o sistema no longo prazo, mas, até lá, caberá às empresas navegar por uma década de transição complexa, em que antecipação estratégica e precisão técnica farão toda a diferença.
Entrevistados
Samuel Rangel de Miranda é advogado empresarial, bacharel em Direito pela Universidade Positivo, pós-graduado em Direito Processual Civil, especialista em Direito Empresarial e Imobiliário, com MasterMBA em Gestão Empresarial, e pós-graduando em Direito e Processo Tributário pela PUC-RS. É CEO da Rangel de Miranda Advocacia de Negócios e fundador do Instituto Nacional de Direito e Empreendedorismo (INDE).
Cesiro Aparecido da Cunha Junior é graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Paraná FPR com especialização, mas áreas de Controladoria, Gerencia Contábil e Gestão tributária, mestre e doutorando em Contabilidade pela mesma universidade. Atua como diretor da C&J Contabilidade e Consultoria, perito judicial e professor assistente no Curso de Ciências Contábeis da FAE Centro Universitário, atuando com as disciplinas de Inteligência Tributária e Contabilidade Gerencial.
Contatos
samuel@rangeldemiranda.com.br
cesiro.jr@fae.edu
Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience
Conexão CBIC debate principais desafios do setor da construção
No dia 02 de dezembro, foi realizado o Conexão CBIC, evento realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Na ocasião, empresários, representantes do poder público e especialistas se reuniram para discutir temas estratégicos como sustentabilidade, habitação de interesse social, modelos de financiamento e o contexto político às vésperas das eleições do próximo ano.
Funding da Construção
Um dos painéis do evento Conexão CBIC foi “Funding da Construção – Oportunidades e estratégias financeiras”. Durante o evento, o presidente da CBIC, Renato Correia, destacou que o modelo de financiamento imobiliário estabelece um ambiente mais propício ao crescimento do setor, mas ponderou que ainda existem entraves que limitam o ritmo de implementação dos projetos.
“Se tivermos recursos, mas permanecermos com dificuldades nas aprovações, não avançaremos no ritmo necessário. É preciso harmonizar critérios e permitir soluções que aumentem a produtividade”, afirmou.
Entre os temas discutidos, destacou-se o novo modelo de crédito imobiliário, voltado à ampliação da oferta e ao acesso ao crédito habitacional. A alteração favorece sobretudo as operações enquadradas nas normas do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), direcionadas à classe média, com potencial para ampliar os investimentos na construção civil e impulsionar a geração de empregos.

Crédito: CBIC
O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, destacou que o mercado já apresenta sinais positivos e que a atuação conjunta entre governo, instituições financeiras e a construção civil contribui para o fortalecimento da confiança. Segundo ele, a maturidade dessa parceria evidencia a solidez do setor e assegura maior estabilidade na oferta de crédito.
Ao final do painel, o vice-presidente da Área Imobiliária da CBIC, Ely Wertheim, ressaltou a relevância da revisão do SBPE, mas alertou para obstáculos que continuam limitando os investimentos. Para ele, é fundamental que as prefeituras avancem em modernização, já que a insegurança jurídica e a burocracia nos processos de aprovação retardam projetos e podem até comprometer a viabilidade dos empreendimentos.
Visão empresarial
Outro painel relevante no evento foi “O Poder da Visão Empresarial – Cases e estratégias de sucesso que transformam empresas no setor”. Nesta conversa, lideranças empresariais de diferentes segmentos discutiram como a estratégia, combinada à inovação e à capacidade de adaptação, vem transformando as maneiras de construir e de gerir negócios no Brasil.
O presidente da CBIC, que também participou deste painel, destacou a coincidência sem precedentes de desafios estruturais que atingem a construção civil, observando que a escassez de mão de obra qualificada extrapola o setor e se reflete em toda a economia. Ele também enfatizou as novas demandas ambientais e o aumento da responsabilidade das empresas na mitigação de impactos. Na sua avaliação, entender como os líderes empresariais vêm lidando com esse cenário de múltiplas pressões é essencial para direcionar os rumos futuros do setor.
Roberto Justus, CEO da SteelCorp, apresentou a experiência recente da sua empresa e a escolha estratégica de investir de forma consistente na construção industrializada. Ele apontou que, enquanto esse modelo já é adotado há décadas em países desenvolvidos, o Brasil ainda apresenta um baixo grau de industrialização. Para ele, industrializar significa incorporar eficiência, agilidade e tecnologia, uma mudança complexa, porém essencial para o futuro da construção.
Vinicius Benevides, sócio da Dimensional Engenharia, defendeu que inovação vai além da adoção de tecnologias e envolve uma postura ética, com compromisso ambiental e social, lembrando a revisão estratégica da Dimensional Engenharia como base para uma transformação consistente. O tema da qualificação também ganhou destaque com Gustavo Siqueira, vice-presidente de Public Affairs da Saint-Gobain, que alertou que a inovação só chega ao canteiro com formação profissional adequada e processos integrados, ressaltando a educação e a mudança cultural como pilares para a sustentabilidade.
Ao encerrar o encontro, Renato Correia destacou o protagonismo da sociedade civil organizada como motor de uma transformação institucional duradoura. Apesar das vantagens estratégicas do país, ele avaliou que o Brasil ainda entrega resultados abaixo de seu potencial e defendeu maior vigilância da sociedade sobre decisões e lideranças políticas, além da necessidade de avançar primeiro em áreas básicas — como educação, saúde, segurança, infraestrutura e eficiência do Estado — antes de buscar maior competitividade global.
Fontes
Renato Correia é presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Carlos Vieira é presidente da Caixa Econômica Federal.
Ely Wertheim é vice-presidente da Área Imobiliária da CBIC.
Roberto Justus é CEO da SteelCorp.
Vinicius Benevides é sócio da Dimensional Engenharia.
Gustavo Siqueira é vice-presidente de Public Affairs da Saint-Gobain.
Contato
Assessoria de imprensa CBIC - imprensa@cbic.org.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
Vogg Experience
Setor de máquinas deve ter cenário estável para o próximo ano
O Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos, apresentado durante o 20ºevento Tendências no Mercado da Construção, mostrou que para 61% das construtoras, locadoras, empresas de serviços e dealers, o setor deve crescer em 2026. Esse percentual é um pouco maior para 2027 (63%).
Para 2026, o Estudo de Mercado da Sobratema projeta estabilidade: crescimento de 1% nas vendas de máquinas da linha amarela e leve queda de 1% no setor geral de equipamentos.
Resultados de 2025
Durante o evento, Mário Miranda, coordenador do Estudo de Mercado, apresentou dados que mostram uma queda na confiança das empresas compradoras — construtoras, locadoras e prestadoras de serviços — em relação ao desempenho até outubro de 2025. Segundo o levantamento, 68% afirmaram que 2025 deve ser igual ou melhor que 2024, percentual significativamente menor que os 90% registrados no ano anterior, uma retração de 22 pontos percentuais.
No que diz respeito ao desempenho real das empresas compradoras, 57% disseram ter alcançado o planejado ou superado expectativas, diante dos 71% observados em 2024.
Entre os dealers, 72% acreditam que o setor está estável ou em melhora, número levemente inferior ao índice de 76% registrado no ano passado. As expectativas para o final de 2025 também recuaram: 44% projetam um cenário igual ao de 2024 ou de crescimento menor, ante 65% no levantamento anterior.
“O que observamos foi uma pequena queda nas expectativas. Dealers e fabricantes esperavam um cenário um pouco mais favorável em relação às vendas”, afirmou Eurimilson Daniel, vice-presidente da Sobratema, que foi o moderador do Tendência no Mercado da Construção.
Apesar desse ajuste de expectativas, algumas empresas do setor têm registrado desempenho positivo. Para Lucas Novaes, diretor de Obras da Jofege Pavimentação e Construção, 2025 foi um ano produtivo para boa parte das empresas do estado de São Paulo: “Conseguimos comprar bastante equipamento e trabalhamos com muita locação. Foi um ano muito bom, e a tendência é que isso se mantenha no próximo ano.”
O ambiente financeiro segue como fator crítico. Com a Selic em 15%, uma das maiores da história recente, o acesso ao crédito permanece restrito. De acordo com Rafael Murrer, economista sênior do Banco Bradesco, “com juros tão altos, as instituições financeiras naturalmente ficam mais cautelosas. Além do encarecimento do crédito, há aumento do risco de inadimplência e de prazos. Isso reduz o ritmo das operações.”

Crédito: Caio Gomes
No mercado de seminovos, a percepção é de um ano positivo, mas abaixo do excepcional. Jonathan Pedro Butzke, head de Operações do Maquinalista, destacou que a procura se manteve aquecida, especialmente por retroescavadeiras: “Se a máquina tiver o preço adequado — independentemente do estado — ela vende. O mercado performou bem, embora não de forma extraordinária.”
Desafios e oportunidades
O cenário de 2025 apresenta três grandes desafios e três importantes oportunidades, segundo Miranda.
O primeiro desafio é o ambiente financeiro, marcado por juros elevados, crédito restrito, SELIC a 15% ao ano, inflação persistente e aumento do IOF — um conjunto de fatores que limitam a capacidade de investimento. O segundo envolve as incertezas econômicas e políticas, como baixa projeção de crescimento do PIB, mudanças no arcabouço fiscal e tributário e elevado gasto público. Já o terceiro desafio diz respeito aos riscos de mercado que afetam construção, mineração e setores correlatos: aumento de custos e insumos, riscos geopolíticos e climáticos, escassez de capital e falta de programas de incentivo.
Do lado das oportunidades, destaca-se primeiro o avanço do mercado de rental, impulsionado pela crescente demanda por máquinas e equipamentos, maior mecanização e investimentos privados em construção leve e pesada, agronegócio, mineração e óleo e gás. A segunda oportunidade é o aumento do volume de investimentos no país, com mais concessões de infraestrutura, ampliação das PPPs e adoção crescente de tecnologias e automação. A terceira é a ampliação dos programas governamentais, que tende a estimular o setor com financiamentos para construção, mineração e agregados, além da continuidade de obras e investimentos em urbanização, saneamento e abastecimento de água.
Tendências para 2026
Para o vice-presidente da Sobratema, o estudo indica um cenário estável para o próximo ano. “Lembrando que temos uma média de 34,7 mil máquinas comercializadas nos últimos cinco anos. Mas, no Brasil, sempre há espaço para surpresas, principalmente com o ritmo acelerado das obras de infraestrutura”, afirmou.
Na linha amarela, as categorias de maior volume — retroescavadeiras, escavadeiras hidráulicas e pás-carregadeiras — devem manter estabilidade em 2026. Juntas, representam cerca de 70% do mercado.
Segundo Denis Caetano, responsável pela estratégia comercial de tecnologias da Caterpillar para a América Latina, as retroescavadeiras continuam com demanda forte, mesmo com o avanço dos mini equipamentos. Para 2025, o estudo prevê que os mini equipamentos devem repetir os bons resultados do ano anterior, com destaque para as minicarregadeiras, cuja projeção indica alta de 21% nas vendas.
Miranda acrescenta que, desde 2021, o mercado de equipamentos vem apresentando crescimento sustentável, com média anual de 56 mil máquinas vendidas. “O setor ocupa um patamar muito bom, com espaço para crescer em infraestrutura, mineração, agronegócio, florestal e obras governamentais”, afirma.
Nesse contexto, Thomas Spana, gerente de Marketing da divisão de Construção da John Deere para a América Latina, lembrou que 2022 registrou um pico de vendas impulsionado pelo agronegócio aquecido, o que motivou forte renovação de frota. Segundo ele, algo semelhante pode ocorrer novamente, dependendo do ritmo dos investimentos públicos e privados:
“Existe sazonalidade, e precisamos considerá-la. Se houver novos investimentos do governo, o mercado pode acelerar.”
Fontes
Mário Miranda, coordenador do Estudo de Mercado da Sobratema.
Erimilson Daniel, vice-presidente da Sobratema.
Lucas Novaes, diretor de Obras da Jofege Pavimentação e Construção.
Rafael Murrer, economista sênior do Banco Bradesco.
Jonathan Pedro Butzke, head de Operações do Maquinalista.
Denis Caetano é responsável pela estratégia comercial de tecnologias da Caterpillar para a América Latina.
Thomas Spana, gerente de Marketing da divisão de Construção da John Deere para a América Latina.
Contato
Assessoria de imprensa - sylvia@meccanica.com.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
Vogg Experience
Abcic revela ganhadores do 14º Prêmio Obra do Ano em Pré-Fabricados
A Associação Brasileira da Construção (Abcic) divulgou os ganhadores da 14ª edição do Prêmio Obra do Ano em Pré-Fabricados de Concreto.
“O Prêmio Obra do Ano em Pré-fabricados de Concreto, promovido pela Abcic, é o retrato fidedigno do atual estágio do setor de pré-fabricados de concreto no país, pois há uma evolução contínua nos projetos inscritos, mostrando a evolução tecnológica e técnica empregada pelas indústrias para atender projetos estruturais complexos e o apelo estético arquitetônico, ao mesmo tempo, cumprindo cronogramas ousados, tendo previsibilidade de custos e contribuindo para que os empreendimentos obtenham certificações verdes, ou seja, levando um menor impacto ambiental da obra. O Comitê do Júri, responsável pela avaliação das obras inscritas, avaliou, de forma unânime, que o nível de excelência desta edição se destaca até mesmo em relação às demais edições”, comentou Íria Doniak, presidente executiva da Abcic.
Conheça os vencedores
Destaque do Júri do Prêmio Obra do Ano
A modernização do Estádio do Pacaembu recebeu o Destaque do Júri, reconhecendo a obra por sua complexidade e escala. Tombado e inaugurado em 1940, o estádio foi revitalizado em 2023 para atualizar suas instalações e ampliar seus usos, mantendo a geometria e a identidade original.
Destaque do Júri – Sustentabilidade
O Leben House Primeira Linha (Criciúma/SC) foi selecionado por evidenciar o potencial estético, técnico e comercial dos pré-fabricados de concreto em habitações populares e de médio padrão. O uso do sistema reduziu em mais de 70% o desperdício, a necessidade de madeira e a geração de entulho.
Categoria Edificações
O vencedor foi o Henkel Latam Inspiration Center (Jundiaí/SP), projetado com foco em sustentabilidade. A combinação de estrutura pré-fabricada em concreto e madeira engenheirada — feita com madeira certificada — deve capturar cerca de 500 toneladas de CO₂.

Crédito: Divulgação Abcic

Crédito: Divulgação Abcic

Crédito: Divulgação Abcic
Categoria Fachadas Pré-Fabricadas de Concreto
O Hotel Terroà (Americana/SP) venceu na categoria Fachadas Pré-Fabricadas de Concreto. Com 15.429 m², 52 m de altura e 13 pavimentos, o empreendimento utilizou 310 painéis arquitetônicos, que totalizam 4.781,8 m² de fachada e chegam a 9,69 m × 4 m, todos com 12 cm de espessura.
Prêmio Obra do Ano: Infraestrutura
O vencedor nesta categoria foi o Viaduto de Acesso à Rodovia Hélio Smidt, no km 219+900 da Dutra (Guarulhos/SP). A obra se destaca pelo uso de estruturas mistas, unindo pré-fabricados de concreto — que aceleraram a execução — ao sistema de balanço sucessivo, minimizando intervenções na rodovia.
Categoria Pequenas Obras
A MasterBlaster – Surreal, maior montanha-russa aquática do mundo e inaugurada em março de 2024 no Beach Park, venceu a categoria e também a Votação Popular. Com 28 m de altura e 340 m de percurso, alcança até 42 km/h em 77 segundos, movida pela tecnologia Master Blaster Fusion.

Crédito: Divulgação Abcic

Crédito: Divulgação Abcic

Crédito: Divulgação Abcic
Avanços tecnológicos dos premiados
Para Íria, o 14º Prêmio Obra do Ano em Pré-Fabricados de Concreto evidenciou as possibilidades de aplicação do pré-fabricado de concreto no país. “O Leben House Primeira Linha, por exemplo, é uma solução que pode, futuramente, ser replicada em todo o país. O Henkel Latam Inspiration Center e Dynamic Pinheiros demonstraram como o pré-fabricado de concreto pode ser utilizado em conjunto com outros sistemas industrializados, no caso, a madeira engenheirada e o sistema convencional moldado in loco. Há ainda a possibilidade do empreendimento ser totalmente pré-fabricado, como o edifício COI PPP11 e o Hotel Terroà. Os dois projetos e o Almirante Green Residences, evidenciam ainda o avanço da tecnologia em fachadas de painéis arquitetônicos. Tanto a implantação do Viaduto de Acesso à Rodovia Hélio Smidt quanto a do Viaduto Ramo 2000 apresentaram inovações para o setor de infraestrutura rodoviária. O MasterBlaster – Surreal, montanha-russa aquática no Beach Park, é um projeto singular para o setor. Para utilizar o pré-fabricado de concreto, a T&A precisou modelar em 3D todo o brinquedo, para visualizar e posicionar de forma precisa todos os elementos estruturais. Já a modernização do Pacaembu teve como grande destaque a criação de uma solução para produzir uma diversidade de vigas jacaré distintas”, afirma Íria.
Personalização de estruturas pré-fabricadas
Na opinião da presidente executiva da Abcic, o avanço tecnológico da indústria de pré-fabricados de concreto tem permitido a criação de soluções únicas para cada tipo de obra. “No caso da modernização do Pacaembu, a Cassol Pré-Fabricados precisou fabricar mais de uma centena de vigas jacaré completamente diferentes, para atender às características arquitetônicas do estádio, que foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), em 1998, devido ao seu estilo arquitetônico Art Déco. A solução adotada pela Cassol — com variação de altura ao longo da viga, mas com a identificação de um ponto fixo comum — permitiu a criação de uma forma metálica única, reutilizável e precisa, que proporcionou agilidade, economia e repetibilidade, sem comprometer o desempenho estrutural”, lembra Íria.
Pré-fabricados e sustentabilidade

Crédito: Divulgação Abcic
De acordo com Íria, a pré-fabricação está alinhada à sustentabilidade, por se tratar de um processo construtivo industrializado, oferece maior controle do desempenho ambiental. Entre os benefícios estão a redução do consumo de água, energia e materiais não renováveis, tanto na construção quanto na montagem em canteiro de obra, além da diminuição das emissões de CO2, do desperdício e da geração de resíduos e entulhos.
“Ou seja, é construir de uma maneira mais econômica, produtiva, durável, eficiente e que afete minimamente o ambiente, que não ofereça riscos aos operários e que resulte em uma quantidade mínima de resíduos”, afirma.
Em relação ao desperdício, a presidente executiva da Abcic aponta que o setor tem ampliado suas iniciativas nas áreas de gestão de resíduos sólidos e de reaproveitamento de materiais. “As indústrias a partir do projeto em 3D já usam scanner na produção e confrontam diretamente os elementos produzidos com o projeto, obtendo desvio zero, apesar de tolerâncias em milímetros serem permitidas por norma”, destaca.
Além disso, os avanços na tecnologia dos materiais, em especial dos concretos de alto desempenho e, em alguns casos, do UHPC já adotado pela indústria em situações específicas – apesar de seu custo mais elevado – permitem a utilização de volumes menores de concreto, o que impacta também em redução de emissões na etapa logística, pela diminuição do peso dos elementos tanto no transporte quanto na montagem, segundo Íria.
A digitalização é outro tema relevante para o setor. “O uso do BIM, integrado aos sistemas de ERPM e a softwares que possibilitam a identificação e rastreabilidade do produto, é outro fator fundamental que elimina o retrabalho e atua em consonância com os princípios de qualidade”, informa Íria.
Pré-fabricados e a sustentabilidade
Esta edição do prêmio concedeu ao Leben House Primeira Linha, situado em Criciúma/SC, o Destaque Sustentabilidade. “O edifício, composto por quatro pavimentos, conta com paredes de concreto pré-fabricadas autoportantes e lajes alveolares prolongadas. A adoção do sistema pré-fabricado reduziu o desperdício de materiais, o uso de madeira e de escoramentos, e a geração de entulho em mais de 70%. O controle fabril garantiu a rastreabilidade dos insumos e reduziu o impacto ambiental”, revela Íria.
Em relação ao impacto ambiental, o Henkel Latam Inspiration Center, vencedor na categoria Edificações, foi concebido com base em princípios sólidos de sustentabilidade. “O uso misto de estrutura industrializada em concreto pré-fabricado e madeira engenheirada, composta por camadas de madeira certificada de manejo responsável, tem a expectativa de capturar cerca de 500 toneladas de CO₂ da atmosfera. Também foram instalados mais de 400 painéis solares, garantindo energia 100% limpa no complexo, além de práticas de reutilização de água. O empreendimento foi projetado para obter as certificações LEED Gold e WELL Silver”, conclui Íria.
Fonte
Íria Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic).
Contato
Assessoria de imprensa - sylvia@meccanica.com.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
Vogg Experience









