PBQP-H faz construção civil entender diferença entre investimento e custo
Programa nasceu para estimular a cadeia produtiva na busca de modernização tecnológica, além de balizar a industrialização de produtos em conformidade com as normas técnicas
Por: Altair Santos
Pode-se dizer que a construção civil, no que tange principalmente ao enfoque habitacional, tem um antes e um depois do surgimento do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Em mais de 10 anos, o PBQP-H vem estabelecendo parcerias entre o setor público e o setor privado, no sentido de buscar soluções para a condição do habitat urbano nas cidades brasileiras.

Através do programa, o Estado passou a atuar como agente indutor da cadeia produtiva, enfrentando desequilíbrios nos padrões de qualidade, práticas da não conformidade e baixo nível de inovação tecnológica - fatores que contribuíam para um habitat urbano de baixa durabilidade.
Na coordenação deste QG que norteia a produção de habitações no país está a arquiteta Maria Salette de Carvalho Weber, que na entrevista a seguir mostra como funciona o PBQP-H junto à construção civil. Confira:
O PBQP-H já existe há mais de 10 anos. Neste período, que legado ele deixou?
Os resultados alcançados neste período de implementação do programa são diversos. Depoimentos de representantes dos prestadores de serviço revelam que, se antes os empresários encaravam a implementação de um sistema de qualidade em suas empresas como custo, hoje eles a veem como um investimento e sabem que o retorno é certeiro e rápido. O menor desperdício e a menor necessidade de manutenção de um produto da construção civil, apesar de não aferidos, justificam o esforço realizado. Outro aspecto relevante é a ampliação de abrangência do programa, com a inclusão dos setores de saneamento e infraestrutura urbana, oriunda da mudança de enfoque para habitat, introduzindo-se os conceitos de sustentabilidade. Isso faz com que o programa seja atualmente chamado a debater em outros fóruns, passando a ser um programa do Ministério das Cidades que contempla hoje a questão da sustentabilidade. Isso amplia naturalmente mais ainda o seu leque de parcerias, como, por exemplo, a parceria com o MME (Ministério das Minas e Energia) na questão da eficiência energética em edifício.
O que motivou a criação do PBQP-H?
Um dos maiores desafios do Estado e do setor da construção civil é encontrar soluções para a melhoria das condições do habitat urbano. A baixa qualidade das habitações e da infraestrutura urbana prejudica fundamentalmente os segmentos de baixa renda da população. Em 1998, um esforço conjunto em busca da qualidade e produtividade do setor ganhou corpo com a criação do PBQP-H, no qual o Estado passou a atuar como agente indutor e mobilizador da cadeia produtiva da construção civil para mudar a realidade do setor, que era marcada por desigualdade nos padrões de qualidade, prática da não conformidade intencional e baixo nível de inovação tecnológica - fatores estes que contribuíam para um habitat urbano de baixa qualidade.
Desde a origem do PBQP-H, o programa sofreu muitas transformações ao longo do seu percurso?
Desde a origem do PBQP-H houve uma maior participação do setor privado, que passou a ter um maior comprometimento com a qualidade na execução das obras e na fabricação de materiais em conformidade com as normas técnicas. O programa ganhou projeção nacional, como era o desejo do setor e do governo federal, que passou a apoiar o esforço de reestruturação do setor produtivo em torno de duas questões fundamentais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva. Ao longo do percurso, o PBQP-H ampliou suas responsabilidades na garantia de que os investimentos do governo em habitação e saneamento tenham qualidade e custo adequados, tornando o programa um aliado importante da política do ministério das Cidades voltada para a redução do déficit habitacional e melhoria da infraestrutura urbana, principalmente por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida.
Como funciona a estrutura do PBQP-H e quanto ele tem de participação do setor público e do setor privado?
O PBQP-H está sob o abrigo do ministério das Cidades, mais especificamente na Secretaria Nacional de Habitação. O programa funciona em gestão compartilhada entre o setor público e o setor privado, fundamentado em parcerias, onde o setor público exerce o papel de indução, mobilização e sensibilização da cadeia produtiva. Essa parceria se dá de forma transparente, baseada fundamentalmente em discussões técnicas, respeitando a capacidade de resposta do setor e as diferentes realidades regionais. Buscam-se, com esse processo, metas e ações consensuais por todas as partes envolvidas, com base em um diagnóstico conjunto feito pelo governo e setor privado. Sua estrutura está organizada na forma matricial de seus sistemas. Para possibilitar a gestão e articulação com a sociedade e o setor privado, foram criadas uma coordenação geral, um comitê consultivo (CTECH), um grupo de assessoramento técnico (GAT) e os sistemas implementados (SiAC, SiMaC e SiNAT). Cada sistema conta com uma comissão nacional, podendo subdividir em outros colegiados, tais como comitês, fóruns e grupos de trabalho.
Como era a construção civil antes do PBQP-H e depois. Mudou muito o setor, desde que o programa passou a balizá-lo?
O cenário do setor de fabricantes de materiais e componentes para a construção civil, antes da implantação do PBQP-H, apresentava baixos índices de conformidade. De 1998 a 2002, foi definida a Meta Mobilizadora da Habitação, que previa a elevação para 90% o percentual médio de conformidade com as normas técnicas dos produtos que compõem a cesta básica de materiais de construção. Na atualidade, já existem materiais que ultrapassaram a meta de 90% de conformidade, promovendo um cenário de crescente isonomia competitiva no setor da construção civil.
Como funciona o SiMaC (Sistema de Qualificação de Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos)?
A implantação do SiMaC, viabilizada pelos Programas Setoriais da Qualidade (PSQs), que hoje são trinta, envolve as atividades de normalização técnica, desenvolvimento de programas de avaliação da conformidade, realização de auditorias e de ensaios laboratoriais, acompanhamento dos indicadores da conformidade técnica do setor e outras atividades de TIB (Tecnologia Industrial Básica). Nos PSQs, o número de marcas acompanhadas é em torno de 1.100 e de produtos avaliados é aproximadamente 4.500. Destaca-se que o indicador de conformidade com as normas da ABNT nos PSQs acompanhados é, em média, de 81%. Antes da implantação do SiMaC, este indicador era entorno de 40%.
E o SiAC (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras)?
No que tange ao sistema de gestão da qualidade, antes do PBQP-H, poucas empresas de serviços e obras estavam aptas para certificarem o sistema de gestão baseados na série de normas ISO 9000. O SiAC, com abrangência nacional, estabeleceu níveis progressivos de certificação, com caráter evolutivo, que possibilita a implantação gradual do sistema de gestão da qualidade nas empresas de serviços e obras. Atualmente, o número de empresas certificadas no SiAC alcançou o número de 2.670, o que representam mais de 70% das empresas habilitadas nos agentes financiadores públicos de habitação.
E a função do SiNAT (Sistema Nacional de Avaliação Técnica de Produtos Inovadores), qual é?
Outro sistema é o SiNAT, que possibilita a harmonização de critérios para a avaliação com base no desempenho de componentes e sistemas construtivos inovadores, reduzindo as práticas heterogêneas de avaliação no país, trazendo maior segurança ao usuário e ao agente financiador. Com menor risco dos intervenientes, estimula-se o desenvolvimento e o emprego de inovação tecnológica na cadeia produtiva da construção civil, resultando no aumento da competitividade do setor. Atualmente, contamos com cinco diretrizes publicadas, que estabelecem os critérios e as metodologias para a avaliação técnica de sistemas construtivos em paredes de concreto, integrados por painéis estruturais pré-moldados, tipo steel frame e wood frame. Desde o início da operação do SiNAT, em 2009, foram aprovados seis sistemas construtivos inovadores, e encontra-se em avaliação nas Instituições Técnicas mais de setenta produtos inovadores.
O caráter do PBQP-H é de ser indutor de inovações ou de corretor de rota do que precisa ser melhorado?
Principalmente de indutor, por meio de regulamentação e o uso do poder de compra para a implantação de mecanismos de modernização tecnológica e gerencial, contribuindo para ampliar o acesso à moradia, em especial para a população de menor renda.
Especificamente na área de cimento e concreto, que tipo de acompanhamento desenvolve o PBQP-H?
O cimento e o concreto são acompanhados em todos os sistemas do PBQP-H. No SiAC, o cimento está entre os materiais controlados e o concreto está presente nos serviços de execução controlados conforme o nível de certificação da empresa. No SiMaC, o cimento portland conta com um Programa Setorial de Qualidade (PSQ) e o concreto está presente em dois PSQs: o de lajes pré-fabricadas e o de blocos de concreto e peças de concreto para pavimentação. A finalidade dos PSQs é de promover a isonomia competitiva, induzindo o setor para produção de materiais em conformidade com as normas técnicas. O concreto também é avaliado com base no desempenho no âmbito do SiNAT, em dois sistemas construtivos inovadores: paredes de concreto armado moldadas no local e painéis estruturais pré-moldados - de acordo com os requisitos e as metodologias definidas em Diretrizes SiNAT.
Como se posiciona hoje a construção civil brasileira em comparação a outros países?
A cadeia produtiva da indústria brasileira é bastante heterogênea. A inovação tecnológica é a alternativa para o aumento da produtividade e competitividade do setor no plano nacional e internacional. As políticas do governo, principalmente o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), impulsionaram o crescimento e vêm estimulando a modernização do setor da construção civil.
Entre os programas federais, o PBQP-H se envolve mais com o Minha Casa, Minha Vida ou com o PAC?
O PBQP-H está mais focado no Programa Minha Casa, Minha Vida, sendo este um dos seis eixos de atuação do PAC, e também mais voltado para as políticas sociais.
O que define que uma empresa seja qualificada como nível A, B, C ou D do PBQP-H?
O nível D é a etapa inicial para a implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ). Os demais níveis são alcançados por meio de certificação, que são efetuadas por organismos acreditados pelo Inmetro. Os níveis de avaliação da conformidade são diferenciados pelos requisitos do SGQ que são atendidos, assim como o percentual dos materiais e dos serviços de execução que são controlados pela empresa.
CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Caixa Econômica Federal e Ministério das Cidades firmaram recentemente um acordo setorial nacional para garantir a qualidade das contratações de obras e serviços incluídos no MCMV e no PAC. Que tipo de atuação terá o PBQP-H nesta tarefa?
O objetivo deste acordo é estabelecer os critérios da contratação de unidades habitacionais e definir os prazos de adequação das empresas aos níveis de avaliação da conformidade do SiAC do PBQP-H para a contratação de empreendimentos dos programas habitacionais geridos pelo Ministério das Cidades e operados pela Caixa. Dentre as atividades previstas, o PBQP-H é um dos responsáveis pela mobilização do setor da construção civil, promoção do acordo e articulação com as entidades do setor.
Entrevistada
Maria Salette de Carvalho Weber, Coordenadora Geral do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades
Currículo
- Arquiteta formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL-RS) em 1983
- Tem pós-graduação em Arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB) 1985
- Conta com especialização em Gestão pela Qualidade no Setor Público (ENAP/PR) 1992, além de curso de mestrado em Planejamento Urbano pela Universidade de Brasília (UnB) 1996
- É funcionária de carreira do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, desde 1985
- De 1985 a 1988, assessorou o Programa Especial Cidades de Porte Médio e Regiões Metropolitanas
- De 1989 a 1990 fez acompanhamento técnico aos Projetos de Lei em Tramitação no Congresso Nacional, relacionados com a questão Urbana e Habitacional da Secretaria de Desenvolvimento Habitacional do MINTER (Ministério da Terra)
- De 1990 a 1992 chefiou a divisão de Normas e Procedimentos da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério da Ação Social (SNH/MAS)
- De 1992 a 1996 chefiou a Divisão de Desenvolvimento Tecnológico e Coordenadora do Programa Nacional de Tecnologia da Habitação (PRONATH) da Secretaria de Habitação do Ministério do Bem-Estar Social (SH/MBES)
- De 1996 a 1999 chefiou a Divisão da Coordenação Geral de Fundos da Secretaria de Política Urbana (SEPURB/MPO)
- De 1999 a 2002 tornou-se coordenadora técnica do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade da Habitação (PBQP-H)
- A partir de 2003 assumiu a coordenação geral do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) da Secretaria Nacional de Habitação do ministério das Cidades
Contato: salette.weber@cidades.gov.br
Créditos Fotos: Divulgação/Ministério das Cidades
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Prédios sustentáveis devem começar pelo canteiro de obra
Especialista alerta que terceirização na construção civil exige cuidados e que a base para um bom desenvolvimento da edificação está no cumprimento da NR 18
Por: Altair Santos
Desde a década de 1980, a construção civil brasileira adota a terceirização para os canteiros de obras. Hoje, reavaliando os problemas que surgiram em decorrência deste modelo, as construtoras estão dando aos seus departamentos de recursos humanos instrumentos para que possam fiscalizar e auditar as empreiteiras que lhe prestam serviço. Essa mudança de comportamento vai além de questões organizacionais e trabalhistas. Tornou-se importante também para que uma edificação siga os preceitos de sustentabilidade e esteja de acordo com a NR 18 (Norma Regulamentadora número 18).

Criada em 1995, e aperfeiçoada por uma série de portarias, a norma surgiu para estabelecer diretrizes nos canteiros de obras, definindo ordem administrativa, planejamento e organização, medidas de controle, sistemas preventivos de segurança e processos de proteção ao meio ambiente. “A base para todo o trabalho que será desenvolvido tem início na organização do canteiro de obras. Conhecer a NR 18 e aplicá-la é primordial para uma construção que se pretende sustentável”, explica a consultora Neide Gomes Barros, autora do livro Desafios na Arte da Construção - Novas Perspectivas na Gestão de Pessoas.
Neide Gomes alerta para os cuidados que devem ser tomados no momento em que se decide pela terceirização no canteiro de obras. “É importante observar os aspectos legais da contratação, assim como sua operacionalização, em função do afastamento da relação empregatícia, ou seja, o poder de mando inserido sobre os empregados perde importante ferramenta de controle”, diz, ressaltando que a fiscalização no cumprimento da legislação tem como objetivo a redução do risco trabalhista e a garantia da segurança e saúde do trabalho. “Estas responsabilidades devem ser realizadas de forma integrada entre setores, como gestão de contrato, Recursos Humanos e Segurança e Medicina do Trabalho”, completa.
RH especializado
A especialista ressalta, no entanto, que a terceirização é uma boa solução, principalmente para os canteiros de obras, desde que a empresa contratada apresente qualificação e responsabilidade trabalhista e previdenciária com seus colaboradores, além de se adequar às exigências da empresa que a contrata. “Os elevados índices de causas trabalhistas, resultantes da terceirização, têm levado as construtoras a maiores exigências no processo de contratação das prestadoras de serviços, como também maior rigor no controle e acompanhamento das exigências trabalhistas e previdenciárias”, reforça.
Para aprimorar as relações nos canteiros de obras, as empresas da construção civil passaram a especializar cada vez mais seus departamentos de recursos humanos. Capacitados, eles dispõem de mais instrumentos para desenvolver programas e ações direcionados às melhorias de questões como baixa qualificação profissional e turnover, gerando melhores condições no ambiente de trabalho. “As empresas estão desenvolvendo estratégias para atrair e reter seus talentos. Para isso, têm realizado parcerias com instituições como Sesi, Senai, Sebrae e universidades”, destaca Neide Gomes Barros.
Saiba mais sobre a NR 18: http://www.fundacentro.gov.br/dominios/PROESIC/anexos/NR18Atualizada.pdf
Sobre o livro Desafios na Arte da Construção - Novas Perspectivas na Gestão de Pessoas
A obra, de 150 páginas, editada pela Nossa Livraria, faz uma apresentação da atuação estratégica da área de Recursos Humanos em empresas da construção civil. De acordo com a autora, mesmo diante de um ambiente em constante mutação, é possível desenvolver um trabalho voltado para a qualidade e a produtividade.
Desafios na Arte da Construção - Novas Perspectivas na Gestão de Pessoas é destinado, principalmente, a profissionais da área de recursos humanos, empresários e gestores em geral, instituições de ensino, acadêmicos, além de profissionais da área da construção civil.
Entrevistada
Neide Gomes Barros, sócia-diretora da CAB (Consultores Associados do Brasil) – empresa de consultoria, assessoria, terceirização de gestão empresarial, recursos humanos, auditoria trabalhista e previdenciária
Currículo
- Graduada em serviço social pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas)
- Tem mestrado em gestão empresarial pela Universidade Autônoma de Lisboa (UAL)
- É consultora para implantação de sistemas de gestão de qualidade, com base na NBR ISO 9001:2000, pelo Serviço nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)
Contato: neide@cabconsultores.com.br / monica@cabconsultores.com.br (assessoria de imprensa)
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Crise internacional não impede que PIB da construção cresça mais que o do país
Dados apontam que setor vai fechar 2011 e 2012 experimentando taxas maiores de avanço econômico do que outras áreas, apesar dos gargalos ainda existentes no Brasil
Por: Altair Santos
No 83º Enic (Encontro Nacional da Indústria da Construção) que aconteceu em agosto de 2011, em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff afirmou aos empresários do setor que o Brasil tem alicerces bem fundamentados para se proteger de uma segunda onda da crise internacional. Um deles é a cadeia produtiva da construção civil. Dados confirmam essa expectativa. Projeções do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) com base em estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam que neste ano e em 2012 o PIB (Produto Interno Bruto) do setor será maior do que o do país.

O cenário vai repetir 2010, mas com menor intensidade. No ano passado, a construção civil cresceu 11,6% diante de um PIB de 7,5% do país. Neste ano, segundo Eduardo Zaidan, diretor de economia e presidente do conselho consultivo do SindusCon-SP, o setor vai crescer seguramente 5% diante de projeções do governo federal de que o Produto Interno Bruto do Brasil chegue a 4,5%, apesar de analistas de mercado, com base em projeções do departamento econômico do Citibank Brasil, avaliarem que esse número pode chegar no máximo a 3,7%. “Quando a economia cresce, a construção civil experimenta taxas maiores que a média dos setores”, confirma Zaidan.
O diretor de economia do SindusCon explica por que a construção civil tem conseguido estabelecer taxas de crescimento acima do país. “Como a construção civil é uma indústria de produção com prazos longos, pode-se dizer que o PIB de 2011 e boa parte do de 2012 já está contratado. Somente haverá tendência de diminuição nos índices de crescimento do setor se ao fim desses contratos não houver reposição de obras. Mas só poderemos verificar esta tendência observando o ritmo de crescimento da economia daqui a dois ou três trimestres futuros”, diz.
Zaidan também explica que o crescimento constante verificado nos anos recentes tem feito o setor resolver as distorções de produtividade, mas que o Brasil precisa fazer a sua parte solucionando os gargalos institucionais, micro e macroeconômicos. Entre eles estão os sempre apontados por todos os setores da economia nacional: carga tributária elevada, juros altos, complexidade tributária, insegurança jurídica, baixa qualificação profissional, burocracia, lentidão e complexidade nos procedimentos de obtenção de licenças e permissões municipais, estaduais e ambientais. “A lista é longa”, cita.
Um exemplo dado pelo diretor do SindusCon-SP está no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que não avança na velocidade que deveria, e cujas demandas vão passando de um ano para outro. Zaidan avalia que neste aspecto o Minha Casa, Minha Vida está trazendo resultados mais efetivos. “O MCMV contratou a construção de um milhão de novas moradias em 2009 e em 2010 e agora começou a fase dois do programa, com a promessa da contratação de mais dois milhões até 2014. Está indo bem, enquanto o PAC anda mais devagar”, analisa.
Por conta desses entraves é que ainda não é possível cravar que a construção civil entrou num período de crescimento sustentável, apesar de ter mudado de patamar de 2005 para cá. “Em face das vulnerabilidades latentes na economia brasileira, ainda não podemos falar em crescimento sustentável. Vale lembrar que na crise internacional de três anos atrás (2008) o setor cresceu apenas 1%. Mas o momento é positivo. É só observar o consumo de cimento e de concreto, que são umas das balizas do setor. As vendas estão em um bom patamar. Trata-se de produtos cativos da construção e não estocáveis. Com a maior formalização da construção, que aconteceu a partir de 2006 e 2007, fato saudável para o país, é impossível dissociar o crescimento de um e de outro, e eles são positivos.”
Três milhões de empregos
Atualmente, a cadeia produtiva da construção civil emprega formalmente três milhões de trabalhadores. A marca foi atingida no primeiro semestre de 2011. Dos 3.026.011 contratados com carteira assinada, 1.556.361 estavam no Sudeste, 634.247 no Nordeste, 421.833 no Sul, 237.357 no Centro-Oeste e 176.213 no Norte. Por isso, o setor é um dos alicerces do país contra a crise internacional.
Entrevistado
Eduardo Zaidan, diretor de economia e presidente do conselho consultivo do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo)
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)
- Pós-graduado em Administração de Empresas pela EASP FGV-SP
- MBA Executivo Construção Civil pela Escola de Economia da FGV-SP
- Possui mais de 30 anos de experiência no mercado imobiliário e da construção
- Diretor executivo da RFM Construtora Ltda
- Diretor de Economia e presidente do Conselho Consultivo do Sinduscon-SP
Contato: zaidan@rfm.com.br / rmarko@sindusconsp.com.br (assessoria de imprensa)
Créditos Fotos: Divulgação/SindusCon-SP
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Tendência é que crédito imobiliário continue com larga oferta no Brasil
Alienação fiduciária do imóvel reduziu risco de calote e setor financeiro se sente estimulado a manter aquecido o financiamento para o setor habitacional
Por: Altair Santos
A oferta de crédito imobiliário seguirá com viés de alta, e tende a fechar o segundo semestre de 2011 com números ainda mais positivos que os apresentados entre janeiro e junho. O sinal vem da pesquisa “Indicadores de condições de crédito”, divulgada trimestralmente pelo Banco Central. Segundo o levantamento, entre abril e junho, as instituições financeiras registraram aumento de 0,75 ponto na demanda pelo segmento do crédito habitacional. Já para o período julho, agosto e setembro, a tendência é que a mesma demanda suba para 0,88 ponto.

A pesquisa do Banco Central é feita diretamente com os bancos, que respondem perguntas qualitativas sobre a expectativa para o trimestre que está por vir. As respostas são divididas por: grandes corporações, pequenas e médias empresas, pessoas físicas e financiamento imobiliário. As instituições financeiras respondem as questões com números que vão de -2, o cenário mais restritivo, até +2, cenário considerado mais flexível. Dentro dessa margem, o -1 demonstra cenário moderadamente mais restritivo e o +1, moderadamente mais flexível. Já o zero indica um cenário neutro para o trimestre em consulta.
Para o diretor do Creci-PR (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná), Luiz Celso Castegnaro, os dados levantados pelo Banco Central coincidem com o que o organismo sente do mercado. “Pelas informações trazidas por nossos credenciados, a tendência é realmente de crescimento”, diz. O dirigente estima que isso se deve à demanda reprimida do mercado imobiliário. “O déficit habitacional ainda é muito grande e as políticas facilitadoras para a tomada de financiamento no setor estão estimulando cada vez mais o crédito imobiliário. É como uma corrente: um puxa o outro”, explica.
Luiz Celso Castegnaro aponta que, entre os itens fundamentais que alavancaram a oferta de crédito imobiliário no Brasil, está a posição do Banco Central em relação à política que determina a aplicação dos recursos da caderneta de poupança no setor habitacional. Diz a lei que as instituições financeiras, sejam públicas ou privadas, devem direcionar para a área de habitação 65% do captado através de aplicações em poupança. “Isso, antes, não era muito cobrado ou fiscalizado pelo Banco Central. Agora, está bem firme a cobrança, com os bancos, inclusive, sendo multados se não aplicarem este montante para a área da habitação”, revela.
Outro fator de estímulo ao crédito imobiliário foi, segundo o diretor do Creci-PR, a adoção da alienação fiduciária na venda de imóveis. “No sistema hipotecário, o comprador ficava cinco, seis, até oito anos brigando com o banco, discutindo prestações, discutindo contratos e seguia morando sem pagar o financiamento. Agora, com a alienação fiduciária, após três meses de atraso o banco pode requerer o imóvel. Para o sistema financeiro isso trouxe confiança para ampliar a oferta de crédito imobiliário”, comenta Luiz Celso Castegnaro, para quem, por causa desta regra, o Brasil dificilmente viverá uma bolha imobiliária. “No país os bancos seguem critérios muito rigorosos para emprestar dinheiro”, completa.
Como funciona
A alienação fiduciária permite ao agente financeiro retomar em prazo curto o imóvel, caso o comprador não honre o financiamento. Se houver atraso de 30 dias, o banco comunica o mutuário, via oficial de justiça, dando o prazo para ele fazer o pagamento. Persistindo o atraso, não há mais necessidade do despacho de um juiz para que o imóvel seja retomado pelo banco. O próprio cartório de registro de imóveis onde foi lavrado o contrato autoriza a retomada do imóvel. Todo esse processo, atualmente, leva cerca de três meses.
Perspectivas
- O Creci-PR trabalha com a projeção de que, pelo menos nos próximos dez anos, o mercado imobiliário seguirá crescendo de forma sustentável no Paraná.
- Estima-se que 80% dos contratos firmados para a compra de habitação no Paraná sejam através de financiamento que variam de 15 a 30 anos.

Entrevistado
Luiz Celso Castegnaro, diretor do Creci-PR (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná)
Currículo
- Graduado no curso tecnólogo em gestão de negócios imobiliários pela ULBRA
- Tem pós-graduação em direito imobiliário pela FACINTER e é pós-graduando em ensino à distância pela UNICID
- Atua como gestor imobiliário há 23 anos
- É coordenador dos cursos de avaliação e perícia do Creci-PR e palestrante do sistema Creci-Cofeci, além de conselheiro do Creci-PR, presidente da CEFISP (Comissão de Ética e Fiscalização Profissional) do CRECI-PR, coordenador da COAPIM (Comissão de Análise de Inscrição Propositor) e coordenador do CRECICON (Comissão de Atendimento ao consumidor no mercado Imobiliário) no estado do Paraná
Contato: castegnaroimoveis@hotmail.com
Créditos Fotos: Divulgação/Elza Fiuza/ABr
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Negócios globais fazem pequenas e médias empresas aderirem à gestão de compliance
Não seguir normas e regulamentações custa tempo e recursos, pois gera gastos indiretos, prejudica a reputação e o desenvolvimento das corporações
Por: Altair Santos
A gestão de compliance pode ser entendida como o conjunto de esforços para a atuação das companhias em conformidade com leis e regulamentações inerentes às suas atividades. Atualmente, no Brasil, as instituições financeiras e as multinacionais já adotam compliance há um bom tempo. Esse modelo de gestão começa a proliferar entre as pequenas e médias empresas, por conta de seus negócios globais.

Muitas empresas legalmente constituídas já desempenham a gestão de compliance, ainda que intuitivamente. O que a especialista em governança corporativa, Mercedes Marina Stinco, recomenda é que as companhias avancem neste processo, para que o gerenciamento de risco possa ser “auditável” e “rastreável”. Coordenadora da comissão de gerenciamento de riscos corporativos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) ela também dá dicas de como implantar compliance nas empresas. Confira:
Como explicar o que é compliance para um leigo no assunto?
Como a própria palavra diz, trata-se de avaliar se a empresa “cumpre” com requerimentos ou procedimentos internos e externos, incluindo legislações aplicáveis. Exemplos: cumprir com leis aplicáveis em geral ao negócio (trabalhista, societária, tributária). O “compliance” é um processo estabelecido para identificar as situações nas quais este “cumprimento” não ocorre.
As grandes corporações já praticam compliance há um bom tempo, mas agora parece ter chegado a vez das pequenas e médias empresas despertarem para o assunto. Isso se deve aos negócios que elas têm conseguido fechar no exterior?
Em parte sim. O mercado tem valorizado cada vez mais as empresas que implantam mecanismos de “compliance”, mesmo não sendo obrigatório.
Quais os primeiros passos que uma empresa não familiarizada com compliance tem que dar ao aderir a esse modelo de gestão?
Pesquisas e visitas às empresas com diversos segmentos de negócio são sempre uma excelente forma de iniciar. Adicione-se a isto o entendimento mais aprofundado da gestão, através da contratação de empresas especializadas no tema, e que vão traçar um panorama interno das áreas, departamentos ou processos já existentes na empresa. Esse raio-x vai dizer se há princípios de compliance no jurídico e na controladoria da empresa, por exemplo.
É caro implantar um processo de gestão de compliance numa empresa?
Os custos das implementações devem ser avaliadas em cada organização, pois dependem, inclusive, do tamanho da empresa e da quantidade de requisitos (externos e internos) que se aplicam ao negócio. Estudos de caso mostram que os custos podem ser reduzidos quando a metodologia é entendida pelo conselho ou pelo comitê executivo como forma de prevenção de riscos.
Dentro da corporação, o departamento jurídico seria o mais adequado para gerenciar a gestão de compliance ou é necessário criar um setor específico para isso?
Não há um modelo único. De forma geral, o departamento jurídico tende a ser o responsável, devido às características e competências existentes, ou, muitas vezes, inicia o processo e depois transfere a responsabilidade quando o processo se encontra em fase madura para departamentos específicos, como controles internos ou gestão de riscos.
Pode-se dizer que uma empresa que segue todos os processos legais, mesmo sem adotar explicitamente a gestão de compliance, pratica compliance empiricamente?
Sim, de certa forma seguir com todos os processos legais é o início. Entretanto, compliance trata da possibilidade de garantir que este “seguir” seja auditável e rastreável.
Quais os benefícios diretos gerados pela gestão de compliance?
É uma ferramenta preventiva para identificar riscos e, portanto, reduzir perdas financeiras e exposição de imagem, além de servir para se vencer as barreiras da burocracia.
Dos setores da economia brasileira, qual hoje é o que mais adota gestão de compliance?
O setor financeiro é um bom exemplo de gestão de compliance, devido aos inúmeros requerimentos exigidos pelo Banco Central.
No setor da construção civil já há muitos cases de gestão de compliance?
Entendo que a maioria das empresas de construção civil que tenham seu capital aberto possui estruturas de compliance ou algo similar. Para esse setor é uma forma, principalmente, de se prevenir riscos de ordem trabalhista e fiscal.

Entrevistada
Mercedes Stinco, coordenadora da comissão de gerenciamento de riscos corporativos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
Currículo
- Bacharel em ciências contábeis pela Universidade Mackenzie.
- Atualmente é gerente de gestão de riscos e auditoria da Natura Cosméticos, função que exerce desde 2004, sendo responsável pelo gerenciamento do processo interno de audioria, coordenando as atividades do Comitê de Auditoria e de Gestão de Riscos e Finanças
- Também atuou na Ford Motor Company do Brasil, de 1999 até 2004, sendo responsável pelo gerenciamento da estrutura de Governança Corporativa, incluindo a coordenação e implantação do processo de Certificação da SOX e responsável pelo desenvolvimento do Comitê de Auditoria Interna
- Também foi Gerente de Auditoria na Coopers & Lybrand, Biedermann Bordasch Auditores Independentes
- Ocupa o cargo de coordenadora da comissão de gerenciamento de riscos corporativos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
Contato: ibgc@ibgc.org.br / natalia@planin.com (assessoria de imprensa)
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Investimento em pesquisa eleva conceito da graduação da UFSC
Alunos do curso de engenharia civil interagem com estudos que são desenvolvidos na pós-graduação e no doutorado da universidade
Por: Altair Santos
A graduação em engenharia civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está entre as cinco melhores do país, segundo ranking do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) com base no desempenho do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Esse salto de qualidade se deu quando as pesquisas desenvolvidas na pós-graduação do curso passaram a ser compartilhadas pelos estudantes do 1.º ao 5.º ano. “Eles passaram a ter exemplos de como se desenvolvem pesquisas e também ficaram mais engajados com o curso”, avalia o professor Glicério Triches, coordenador da graduação da UFSC no biênio 2011 e 2012.

Fundado há 42 anos, o curso de engenharia civil da UFSC vem aprimorando cada vez mais seu colegiado docente. Atualmente, todos os professores têm dedicação exclusiva e 85% possuem doutorado e conciliam aulas para a graduação e a pós-graduação. A universidade também apura o conhecimento recebendo investimentos de agências de fomento como FINEP, CNPq, CAPES. “Desenvolvemos a capacidade de captar recursos para pesquisas, o que também tem atraído a parceria de empresas estatais do setor elétrico e a Petrobras”, revela Glicério Triches. “São projetos que envolvem de R$ 40 mil a R$ 5 milhões por ano, que nos chegam sob a forma de bolsa de estudos, equipamentos e insumos para nossos laboratórios”, completa.
A construção civil tem espaço relevante dentro da graduação e da pós-graduação da UFSC. Há linhas de pesquisa concentradas especificamente na aplicação da nanotecnologia no concreto e no cimento. “Temos um grupo de cinco professores que trabalham nesta área especificamente, no desenvolvimento de produtos à base do cimento Portland”, professor Glicério Triches. A UFSC também compartilha seus laboratórios com a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) e os abre para ensaios de materiais de empresas privadas. “A Toniolo e a Blocaus têm parceria para o aprimoramento de seus sistemas produtivos”, destaca.
Entre as áreas da construção civil pesquisadas pela UFSC estão:
- Gerenciamento da construção
- Conforto ambiental
- Alvenaria estrutural
- Novos materiais
- Concreto
- Resíduos na construção
O curso de engenharia civil da UFSC atualmente conta com 640 alunos matriculados na graduação e outros 300 divididos entre mestrando e doutorando. Segundo a coordenação da universidade, apesar de a demanda por engenheiros ser alta, o objetivo é não antecipar etapas. “Não estamos direcionados a acelerar processos para abastecer o mercado. O importante é a boa formação de nossos alunos”, diz o professor Glicério Triches, admitindo, porém, que de dois anos para cá todos os formandos já saem empregados. “Esta mão de obra está sendo absorvida predominantemente na construção civil”, afirma o coordenador do curso de engenharia civil da Universidade Federal de Santa Catarina.

Entrevistado
Professor Glicério Triches, coordenador do curso de graduação em engenharia civil da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 1981
- Tem mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 1985 e doutorado em infraestrutura aeroportuária pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) 1993
- É professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 1984
- Foi coordenador do programa de pós-graduação em engenharia civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) entre 2005 e 2009)
- No biênio 2011 e 2012 assumiu a coordenação da graduação em engenharia civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em rodovias, projeto e construção, atuando principalmente nos seguintes temas: dimensionamento de pavimentos, controle tecnológico de execução, avaliação de pavimentos, desempenho de pavimentos, comportamento dos materiais empregados na pavimentação, engenharia rodoviária e mecânica dos solos
- Atualmente tem se dedicado a pesquisar temas relacionados com a sustentabilidade dos empreendimentos rodoviários. Coordena do Grupo de Pesquisa Rodovias Verdes e é responsável pelo site www.rodoviasverdes.ufsc.br
- Pesquisador CNPq, nível 2 a partir de março de 2010
Contato: ecv1gtri@ecv.ufsc.br /coord.ecv@ecv.ufsc.br
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Empresa vai gerenciar pesquisa e inovação industrial no Brasil
Embrapii terá gestão compartilhada pelos setores público e privado, para permitir a conexão da comunidade científico-tecnológica com as companhias nacionais
Por: Altair Santos
Tomando como exemplo o que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) representa para a agricultura e a pecuária brasileiras, produzindo conhecimento científico e desenvolvendo inovações para os dois setores, a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) surge para atender as demandas da indústria nacional. O projeto se inspira na experiência alemã do Instituto Fraunhofer - fundação composta por 58 centros tecnológicos - e a expectativa é de que em 2012 esteja em funcionamento.

A Embrapii já tem um grupo de trabalho planejando sua instalação. Seus integrantes são membros da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e da Inovação (Setec/MCTI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Serviço Nacional de Indústria (Senai), do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). A nova empresa não será uma estatal, mas sim uma companhia com gestão compartilhada entre os setores público e privado.
O primeiro passo do grupo de trabalho foi instituir, em agosto de 2011, um processo-piloto para definir com mais propriedade a figura jurídica da Embrapii. A meta é que a empresa seja uma espécie de organismo certificador para que as instituições mantenham a competência e possam aproximar-se da iniciativa privada. O processo-piloto deverá durar aproximadamente seis meses e nesse período será definida a área de atuação de cada instituto envolvido no projeto. Após a conclusão dessa etapa, será criada oficialmente a Embrapii, que já tem orçamento reservado. Durante a fase piloto serão R$ 30 milhões. A partir de 2012, R$ 60 milhões.
O modelo de captação de recursos para a Embrapii também se inspira no Instituto Fraunhofer. Os governos federal e estaduais entrarão com um terço do financiamento e os outros dois terços são adquiridos por meio de contratos de trabalho. É o que fez do Instituto Fraunhofer, na Alemanha, uma organização que atualmente conta com 58 centros de pesquisa e que emprega mais de 12.500 pessoas, principalmente cientistas e engenheiros. O orçamento anual do organismo é de cerca de € 1,8 bilhão (R$ 4,5 bilhões).
Construção civil
O projeto da Embrapii prevê que até 2014 pelo menos 30 centros tecnológicos ligados à empresa estejam em funcionamento no Brasil. Destes, estima-se que pelo menos cinco terão dedicação exclusiva à pesquisa na construção civil. Uma das metas pretendidas pelos idealizadores da empresa é que eles estimulem os processos de industrialização do setor. “Algumas empresas estão com necessidade de construção de plantas piloto neste setor e a Embrapii vai permitir aportar investimentos nestas plantas", prevê Domingos Manfredi Naveiro, diretor do Instituto Nacional de Tecnologia. “Há vários gargalos tecnológicos em áreas que têm se expandido, como a construção civil”, completa.
A Embrapii também pretende concentrar o maior número de professores-doutores nos laboratórios dos centros tecnológicos. O objetivo da empresa é permitir que a indústria nacional dê um salto em inovação e competitividade no mercado global. "A indústria nacional já avançou no quesito qualidade e agora enxerga que a grande fronteira é a inovação", avalia Domingos Manfredi Naveiro.

Entrevistado
Domingos Manfredi Naveiro, diretor do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI)
Currículo
- Engenheiro Mecânico formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
- Tem mestrado e doutorado em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
- Desde 2007 é diretor do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI), onde chefiou por 17 anos a área de desenho industrial
- Também é professor do curso de desenho industrial da PUC-RJ desde 2004
- Atua ainda como conselheiro na Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Associação Estratégica dos Institutos Tecnológicos do Mercosul (ASITM), Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro (Redetec), Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN) e Centro de Tecnologia em Dutos (CTDut)
Contato: direcao@int.gov.br / tais.salazar@int.gov.br (assessoria de imprensa)
Créditos Fotos: Divulgação/Justo D'Ávila/INT
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Construção civil é um dos setores mais afetados pela burocracia
Excesso de encargos atrapalha desde a contratação de mão de obra até a participação de empresas em obras de infraestrutura e programas como PAC e Minha Casa, Minha Vida
Por: Altair Santos
Excessivas regulações e a burocracia estão entre os principais fatores que têm limitado a capacidade de expansão de negócios das empresas brasileiras em 2011. De acordo com o International Business Report (IBR), realizado pela consultoria britânica Grant Thornton, 50% das corporações do Brasil, independentemente do campo de atuação, se sentem vítimas desses inibidores de desenvolvimento. Em segundo lugar na lista de restrições está a falta de mão de obra qualificada, o que aflige 49% entre as corporações consultadas.

O International Business Report da Grant Thornton (IBR) é uma pesquisa realizada há 19 anos, que tem como objetivo fornecer informações sobre as opiniões e expectativas de mais de 11 mil empresas das 39 economias mais relevantes no mundo. Em cada país, são entrevistados CEOs, diretores, presidentes e outros executivos seniores. No Brasil, a preocupação da burocracia só não é maior do que na Grécia (57%) e na Polônia (52%). “O Brasil ainda é um dos países com maior número de trâmites e para crescer precisa mitigar esse excesso de processos”, resume Javier Martinez, responsável pelo IBR na América Latina.
Há coincidências entre os dados apresentados pelo International Business Report e o Relatório Global de Competitividade 2011-2012, recentemente divulgado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC). Neste documento, o Brasil ocupa o 53.º lugar em um ranking que engloba 142 países. Em relação à edição 2009-2010, a economia brasileira subiu cinco posições, mas a burocracia, a falta de mão de obra especializada e os problemas de infraestrutura, também citados no relatório, ainda impedem o país de alcançar uma boa posição entre os países mais competitivos do mundo.
Construção civil
Um setor diretamente atingido pela burocratização é a construção civil. Segundo o presidente do Instituto Helio Beltrão, João Geraldo Piquet Carneiro, isso ocorre principalmente quando envolve obras públicas. “Quem contrata com o setor público, e aí falando de obras públicas especificamente, padece muito, porque o processo licitatório é excessivamente burocratizado e tem uma parte documental muito pesada. É uma burocracia pautada pelo princípio da desconfiança, que quando o Estado se relaciona com o particular acha que o particular vai ser desonesto”, diz o dirigente.

De acordo com João Geraldo Piquet Carneiro, esses excessos geram distorções como a legislação temporária recentemente criada para tentar desburocratizar as obras que envolvem Copa do Mundo e Olimpíadas 2016 – o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). O problema é que a lei de exceção já foi questionada pela Procuradoria Geral da República, sob a alegação de que é inconstitucional. Outra anomalia levantada pelo presidente do Instituto Helio Beltrão é que no Brasil a internet não ajudou a desburocratizar o país, pelo contrário. “Nos transformamos num país modernamente burocratizado. A presença virtual do Estado aumentou as exigências”, diz.
Um exemplo é o que ocorre no comércio exterior brasileiro, que padece enormemente de burocracias várias. “Os produtos que entram e saem do Brasil às vezes passam por oito organismos fiscalizadores, o que dificulta as negociações”, avalia o presidente do Instituto Hélio Beltrão. “Com os avanços tecnológicos e o mundo cada vez mais digital e ágil é preciso diminuir o tempo investido nas regulações e aplicá-lo mais no desenvolvimento dos negócios. Além disso, a burocracia é um grande entrave para o investimento estrangeiro no Brasil.”, completa Javier Martinez, da IBR América Latina.
Medidas que poderiam ajudar a desburocratizar o Brasil
Separar atos comerciais de controles fiscais, eliminando os chamados interesses cruzados, que exigem que se comprove o pagamento de impostos para a União, o Estado e o Município.
Modificar a maneira de como o governo se relaciona com a empresa e com o cidadão, e passar a agir com base no princípio da confiança.
Acabar com o reconhecimento de firma. Por que pedir firma reconhecida de uma pessoa que assina um contrato diante de alguém, quando se vê assinar?
Dez melhores países no Relatório Global de Competitividade 2011-2012
1º) Suíça
2º) Cingapura
3º) Suécia
4º) Finlândia
5º) Estados Unidos
6º) Alemanha
7º) Noruega
8º) Dinamarca
9º) Japão
10º) Reino Unido
Entre o BRICS
26º) China
50º) África do Sul
53º) Brasil
56º) Índia
66º) Rússia
Entrevistados
- Javier Martinez, responsável pelo International Business Report (IBR) na América Latina
- João Geraldo Piquet Carneiro, presidente do Instituto Helio Beltrão
Currículos
- João Geraldo Piquet Carneiro é bacharel em Direito (1963), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
- Tem mestrado pela New York University (1965)
- Foi consultor Jurídico do Programa Nacional de Desburocratização (1979-1982)
- Ocupou o cargo de Presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, encarregada da implementação do Código de Conduta da Alta Administração Federal (1999-2004)
- É presidente do Instituto Helio Beltrão – entidade sem fins lucrativos voltada para a reforma da Administração Pública
- Atua principalmente em Direito Administrativo, Direito Antitruste e contencioso. Possui larga experiência em atuação junto aos órgãos administrativos, incluindo agências reguladoras e órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, bem como tribunais de contas
- É coordenador Regional de Antitruste do escritório Veirano Advogados
- Javier Martinez é diretor de marketing e Comunicação da Grant Thornton, e responsável pela divulgação do relatório International Business Report (IBR) na América Latina
- A Grant Thornton International Ltd é uma das principais organizações mundiais de contabilidade e consultoria com propriedade e administração independentes. Suas firmas prestam serviços de auditoria, tributos e assessoria especializada a empresas privadas e entidades de interesse público.
Contatos: piquet.carneiro@veirano.com.br / grantthornton@br.gt.com
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Artefatos de cimento ajudam a revitalizar trens regionais
Dormentes de concreto e estações construídas em pré-moldado integram projetos de ferrovias que vão revitalizar o transporte público entre cidades de médio porte
Por: Altair Santos
O Brasil tem atualmente uma malha ferroviária de 28.831 quilômetros, mas apenas 10.930 são explorados. Parte dos trechos desativados liga cidades de porte médio ou grandes metrópoles a municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes. São regiões que sofrem com os gargalos do transporte público, o que levou o governo federal a promover um estudo de viabilidade para reativar 14 linhas de trens regionais, capazes de atender 70 milhões de passageiros por ano.

Os projetos encontram-se no ministério dos Transportes e a região sul deverá ser a primeira contemplada. “Esses estudos estão em fase final de execução e foram desenvolvidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com o apoio da empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb). No momento, estamos aguardando as respostas aos comentários e às observações que fizemos, para que o plano tenha prosseguimento”, explica Afonso Carneiro Filho, diretor do departamento de relações institucionais do Ministério dos Transportes.
Os trechos com as melhores viabilidades para dar início ao projeto são Caxias do Sul-Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e Londrina-Maringá, no Paraná, por contarem com a contrapartida dos governos estaduais e municipais. O custo para a implantação destas linhas e das outras 12 em estudo está estimado em R$ 5 bilhões. Haverá um misto de construção de ferrovias novas com o reaproveitamento de antigas. Neste caso, a tecnologia do concreto pré-moldado será relevante para a reativação dessas ferrovias.
Segundo Afonso Carneiro Filho, não se pode imaginar atualmente uma ferrovia sem a parceria com o concreto. “Os artefatos de cimento estão presentes desde o dormente até a montagem de novas estações. Hoje, todas as estações de trem, VLT (veículo leve sobre trilhos) e de metrô são em pré-fabricado”, explica, completando que a tecnologia do concreto também é condizente com as características dos trens que serão utilizados nas ferrovias regionais. “São trens novos, tipo metrô, que não têm locomotiva, mas vagões autopropulsados e que desenvolvem velocidade média de 80 km/h.”
As ferrovias regionais em estudo têm entre 60 quilômetros e 200 quilômetros de um ponto a outro. Além da Caxias-Bento Gonçalves e Londrina-Maringá, os outros 12 trechos são:
Pelotas-Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Itajaí-Rio do Sul, em Santa Catarina
São Paulo-Itapetininga, em São Paulo
Campinas-Araraquara, em São Paulo
Santa Cruz-Itaguaí- Mangaratiba, no Rio de Janeiro
Macaé-Campos, no Rio de Janeiro
Belo Horizonte-Conselheiro Lafayette - Ouro Preto, em Minas Gerais
Bocaiúva- Montes Claros- Janaúba, em Minas Gerais
Conceição da Feira-Salvador-Alagoinha, na Bahia
São Cristovão-Aracajú-Laranjeiras, em Sergipe
Recife-Caruaru, em Pernambuco
Teresina (Piauí)-Codó (Maranhão)
Parceria
No caso dos trechos Caxias-Bento Gonçalves e Londrina-Maringá, as novas linhas tendem a ser construídas em parceria entre a Trensurb e a Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste) - única operadora de ferrovia pública para o transporte de carga do país. As duas empresas já constituíram um grupo técnico, englobando também as universidades estaduais de Londrina e Maringá, para a formulação de uma matriz origem-destino. A intenção, no caso do trem regional ligando o norte e o noroeste do Paraná, é que a distância tenha 125 quilômetros e percorra 13 municípios da região.
Link relacionado
http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/ferrovias-no-brasil-e-hora-de-concretizar-essa-ideia/


Entrevistado
Afonso Carneiro Filho, diretor do departamento de relações institucionais do ministério dos Transportes
Currículo
- Graduado em engenharia elétrica pela Universidade Católica de Petrópolis (1978)
- Na recente reforma administrativa ocorrida no ministério dos Transportes, assumiu a direção do departamento de relações institucionais da secretaria de política nacional de transportes, ficando responsável pelas articulações setoriais e intermodais do setor
Contato: afonso.carneiro@transportes.gov.br
Créditos Fotos: J.Freitas/Ministério dos Transportes/ Divulgação/Trensurb-RS/ Google Earth
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Ciclo de vida das edificações ganha impulso no Brasil
País agora é que começa a criar uma base de dados sobre o desempenho de componentes, a fim de que ambientes construídos causem menos impacto ambiental
Por: Altair Santos
Planejar o ciclo de vida de uma edificação era uma preocupação que, até bem pouco tempo, não se priorizava ao projetar um empreendimento. Trata-se de uma avaliação relativamente recente. Ganhou corpo a partir da definição da Agenda 21, que apesar de ter sido lançada na Eco-92 veio consolidar-se apenas em 2002, na Cúpula de Johannesburgo, quando foi assinada por 179 países. A partir do documento, se impôs um novo paradigma à sociedade industrial. Neste cenário, questões como sustentabilidade e impacto ambiental passaram a ter influência relevante na cadeia produtiva da construção civil.

No Brasil, ainda inexiste uma base de dados abrangente e capaz de caracterizar o desempenho típico de componentes do ambiente construído, seja na etapa de projeto, construção ou uso e operação. Mas o cenário está mudando. “Há um trabalho intenso para se recuperar o tempo perdido. Já existem diversas iniciativas no país, procurando desenvolver informações para que possam ser feitas avaliações do ciclo de vida”, explica Cássia Maria Lie Ugaya, que é membro do Conselho Internacional do Ciclo de Vida, consultora da ONU (Organização das Nações Unidas) e diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida.
Na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) o local onde será erguida uma obra tem peso relevante, em função do terreno, das condições climáticas a que estará exposta e do impacto que irá causar no entorno. Via de regra, o empreendimento deve ser projetado para ter longo tempo de uso - mais de 50 anos -, mas, ao término de sua vida útil, permitir que boa parte de seu material seja reciclado ou reutilizado. Por isso, o projeto, o bom emprego dos materiais e a manutenção da edificação também são relevantes para uma boa ACV. “Até o transporte dos materiais pode influenciar no ciclo de vida”, explica Cássia Maria Lie Ugaya.
Os inventários de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) das edificações seguem as normas ISO 14000 (14040, 14041, 14042 e 14043). Também há, atualmente, softwares que ajudam a definir com mais precisão o ciclo de vida de um empreendimento. Como o Bees 1.0 (Building for Environmental and Economic Sustainability). Ele permite implantar uma metodologia sistemática para selecionar produtos de construção que apresentem boa relação entre performance ambiental e econômica. Nem sempre, porém, a aplicação de tecnologia é garantia de que uma construção irá causar mais ou menos impacto ambiental.
Um exemplo é um estudo comparativo entre os materiais empregados na construção do estádio Allianz Arena, em Munique (Alemanha), e o João Havelange, no Rio de Janeiro, que foram erguidos na mesma época. A megaobra para a Copa de 2006 foi inovadora, ao apostar em uma cobertura à base de polímeros (tetrafluoretileno), enquanto o estádio brasileiro, construído para o Pan de 2007, investiu na construção convencional, com consumo de 80 mil m³ de concreto. Levando em consideração o ambiente das construções, o estudo concluiu que a edificação erguida na Alemanha é mais danosa para o meio ambiente em termos de emissão de CO2.
Numa Avaliação do Ciclo de Vida, se leva em consideração três tipos de análise:
Inventário
Nesta etapa, são coletados os dados a cerca das entradas e saídas de cada um dos processos, como de materiais, consumo de energia, emissões de poluentes no ar, na água e no solo e geração de resíduos.
Avaliação social
Tem como objetivo identificar os pontos positivos e negativos ao longo do ciclo de vida do produto, no que se refere às questões da mão de obra envolvida no empreendimento e na contribuição, negativa ou positiva, que ele trará para a comunidade local, à sociedade civil e aos trabalhadores.
Avaliação do impacto
Nesta etapa ocorre a conversão dos dados de consumo de materiais, de energia e das emissões em categorias de impacto, levando-se em conta as mudanças climáticas, a sedificação, a entropização, a toxicidade humana e a perda de biodiversidade.
Segundo a especialista Cássia Maria Lie Ugaya, a Avaliação do Ciclo de Vida serve para qualquer produto. De embalagem a automóvel; de alimentos à construção civil. “Ela é uma técnica que pode ser utilizada para qualquer coisa, para qualquer produto, inclusive serviços”, diz. A diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida ressalta ainda que a ONU, através do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) tem sido parceira para disseminar a importância deste tipo de avaliação em vários países, inclusive o Brasil. “Eles estão trabalhando bastante, tanto em capacitação quanto em desenvolvimento de workshop, para que as empresas comecem a inserir isso cada vez mais no seu dia a dia.
O objetivo é aplicar a ACV no tripé da sustentabilidade: o ambiental, o social e o econômico”, resume.

Entrevistada
Cássia Maria Lie Ugaya, membro do Conselho Internacional do Ciclo de Vida, da Iniciativa do Ciclo de Vida do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e Diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida
Currículo
- Doutora em Engenharia Mecânica (2001), mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos (1996) e graduada em Engenharia Mecânica (1991) pela Universidade Estadual de Campinas
- Atualmente é professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
- Desde o doutorado realiza pesquisa em Avaliação do Ciclo de Vida, mais especificamente em: análise de inventário do ciclo de vida, avaliação social do ciclo de vida, avaliação do impacto do ciclo de vida e projeto para o ciclo de vida.
- É membro do Conselho Internacional do Ciclo de Vida, da Iniciativa do Ciclo de Vida do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e da SETAC, membro do Conselho Internacional e Conselho Editorial do ecoinvent, co-chair da Rede Latino Americana de Ciclo de Vida e Diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida.
Contato: cassiaugaya@utfpr.edu.br
Créditos Fotos: Divulgação