Mais detalhista, mulher ganha espaço na engenharia civil
Mercado tem dado preferência às profissionais da área, que também são maioria na obtenção de títulos de mestre e doutor dentro das universidades brasileiras.
Mercado tem dado preferência às profissionais da área, que também são maioria na obtenção de títulos de mestre e doutor dentro das universidades brasileiras
Por: Altair Santos
Estudo realizado dentro da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) mostra que a engenharia civil está mudando seu perfil. Antes era um curso predominantemente masculino, hoje atrai cada vez mais mulheres. Em algumas universidades, o sexo feminino já ocupa quase 50% das vagas. Além disso, em mais de 80% dos casos, a família apoia a escolha. Outro dado que consta no levantamento realizado na Udesc é que atualmente 72% das estudantes que vão prestar vestibular para engenharia civil já escolhem a graduação como 1.ª opção.
O universo acadêmico também tem observado o aumento crescente de mulheres ocupando cadeiras no corpo docente das escolas de engenharia. “Uma pesquisa recente divulgada pelo MEC (Ministério da Educação) mostra que as mulheres já são maioria tanto na obtenção do título de mestre como na obtenção do título de doutor. Isto faz com que elas ingressem também na área acadêmica e, consequentemente, assumam papel relevante dentro dos cursos de engenharia”, revela Sandra Denise Krüger Alves, coordenadora do curso de engenharia civil da Udesc.
Dados do INEP/MEC, de 2011, mostram que o número de mulheres cursando engenharia cresceu 67,8% em 20 anos, enquanto o número de homens matriculados cresceu apenas 38,7%. Esse movimento feminino nos cursos de engenharia civil já se reflete no mercado de trabalho. Construtoras ligadas ao setor habitacional, por exemplo, têm privilegiado contratações de mulheres, sob a alegação de que elas obtêm resultados mais precisos. “Aqui em Florianópolis verificamos isso. A mulher engenheira tem se saído bem em funções como engenharia de segurança, projetos, organização do canteiro de obras e cumprimento de metas”, relata Sandra Denise Krüger Alves.
Uma área que ainda dificulta o mercado para as mulheres da engenharia civil é a de obras de infraestrutura, como construção de estradas e hidrelétricas. Mas a busca por especialização começa a reverter esse quadro. “As engenheiras buscam se afirmar na profissão. Elas querem se sentir seguras no que estão fazendo. Por isso, sentem a necessidade de se especializarem mais. Isto faz com que possam ter uma fundamentação melhor e maior poder de argumentação, sem contar o acesso que se tem às novas tecnologias de mercado”, avalia a coordenadora do curso de engenharia civil da Udesc.
A busca por capacitação mais apurada tem ajudado a reverter um dos obstáculos que as engenheiras civis enfrentam no mercado de trabalho: salários inferiores aos dos homens com o mesmo nível de especialização. Segundo o estudo na Udesc, uma profissional leva 10 anos para atingir uma faixa salarial acima do piso da categoria, enquanto um homem demora, em média, 7 anos. “Infelizmente, pesquisas recentes apontam que os salários dos homens ainda são um pouco maiores que os das mulheres, mas esta situação gradativamente está caminhando para um equilíbrio”, diz Sandra Denise Krüger Alves.
Entrevistada
Sandra Denise Kruger Alves, coordenadora do curso de graduação de engenharia civil da Universidade do Estado de Santa Catarina
Currículo
– Graduada em engenharia civil pela Faculdade de Engenharia de Joinville (UDESC) em 1985
– Possui mestrado na área de estruturas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ – 1989)
– Trabalhou na Nuclebrás/RJ (1987-1990) na obra da Usina Nuclear de Angra II e na Maurbertec (SP) de 1990 a 1992, em obras de infraestrutura (pontes, viadutos, metrô, etc)
– Ingressou no Departamento de Engenharia Civil da UDESC em 1992, como professora colaboradora, e em 1993 em processo de concurso público. Leciona disciplinas da área de estruturas, e atualmente responde pela chefia e coordenação do departamento.
Contato: sandra_kruger@joinville.udesc.br
Mulheres também ganham espaço no canteiro de obras
Em Curitiba, a Hestia Construções e Empreendimentos desenvolve um projeto-piloto para capacitar mulheres a atuar nos canteiros de obras. “Estamos com duas profissionais em treinamento. Após a contratação, elas passaram por uma fase de ambientação nos canteiros de obra para identificarmos as aptidões de cada profissional. Hoje, elas estão em treinamento para as funções de pedreira e azulejista. Assim que o processo construtivo avançar nas demais obras da Hestia, serão abertas novas vagas para as mulheres no canteiro de obras, principalmente para as funções de acabamento”, explica Gustavo Selig, presidente do grupo Hestia.
Para a recepção das funcionárias, foram realizadas adaptações no canteiro de obras. As profissionais têm um vestiário próprio, onde apenas elas têm acesso às chaves da porta. Além disso, a empresa promoveu encontro com a equipe que trabalha no empreendimento explicando sobre a mudança e dando orientações sobre as novas normas de convivência. A adaptação, segundo Selig, tem sido acima da expectativa. “Acreditamos que este sucesso é devido ao processo de seleção e de ambientação. Elas tiveram um tempo hábil para se acostumar com os canteiros de obras e com os demais profissionais que, até então, eram somente do sexo masculino. No momento de ambientação, foram identificados os seus interesses e aptidões para desenvolvermos um treinamento personalizado para cada profissional”, revela.
Entrevistado
Gustavo Selig, presidente do grupo Hestia
Currículo
– Presidente de Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR), gestão 2009-2010 e 2011-2012, e do grupo Hestia
– É engenheiro civil formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e Mestre em Administração de Empresas e Negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-PR)
– De 2005 a 2006, foi o representante do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc)
Contato: contato@memilia.com
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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