Raro, trabalhador da construção custa mais caro
Setor não para de gerar vagas, mas tem dificuldades para contratar. Motivos: mão de obra encareceu e não consegue se renovar
Por: Altair Santos
O setor de construção civil gerou 222 mil postos de trabalho no país em 2011. O segmento fechou o ano passado tendo 2,7 milhões com carteira assinada - número 7,5% maior que o registrado no fim de 2010, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Outro dado importante refere-se aos ganhos em produtividade dos trabalhadores. Desde 2008, a hora-salário de um operário vem aumentando, em média, 1,38% ao ano. Comparativamente, no mesmo período a hora-salário do setor de serviços cresceu 0,38%. É o que revela a pesquisa "Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil", da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O estudo mostra ainda que o custo com a mão de obra, principalmente a que atua diretamente no canteiro de obras, tem encarecido significativamente. Há um motivo primordial para isso: a dificuldade em atrair os jovens para a construção civil. Apesar do impulso salarial no setor, trabalhadores entre 18 e 29 anos têm buscado mercados que ainda pagam mais. Nessa faixa etária, até 2009, havia 36,5% de trabalhadores na construção civil. Atualmente, o percentual caiu para 29,2%. "Os jovens brasileiros têm optado por começar a trabalhar mais tarde e escolhido ocupações menos braçais e mais qualificadas que as oferecidas tradicionalmente no setor da construção", explica o economista Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da FGV, e que coordenou o estudo.
Diante deste cenário, Neri avalia que a construção civil corre o risco de sofrer um apagão da mão de obra. A tese vem de encontro aos dados trazidos pelo mais recente relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) denominado "Sondagem da Indústria da Construção". No documento, divulgado em 2011, 68,1% dos grandes empresários do setor reclamam da dificuldade de encontrar trabalhadores capacitados. O levantamento revela também que 40,4% dos contratantes apontam o alto custo da mão de obra como um dos seus três maiores problemas da construção civil atualmente.
Para reverter esse quadro, o estudo "Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil" sugere que a construção civil reveja seus padrões produtivos. Primeiro, investindo em novas tecnologias; segundo, apostando cada vez mais na qualificação dos trabalhadores do setor. Neste quesito, apesar de todos os esforços, a construção civil ainda ocupa as últimas colocações no ranking de trabalhadores com cursos profissionalizantes. Na indústria automobilística, por exemplo, 45,71% dos contratados passaram pelos bancos escolares para aprender algum tipo de especialização. Na construção civil, esse percentual é de 17,80% - à frente apenas do setor agrícola.
Alta rotatividade

A pesquisa da FGV mostra que, entre os que buscam alguma qualificação, boa parte participa de cursos básicos de curta duração. Apenas 3,5% se matriculam no ensino médio técnico e 0,11% cursam graduação tecnológica. Isso remete a outro problema da construção civil: a alta rotatividade no canteiro de obras. De acordo com a pesquisa "Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil", de 100 trabalhadores ocupados no setor 8 saem depois de um mês de contrato. É uma taxa quase 30% maior que a registrada em outras áreas da economia, onde a fuga de mão de obra após um mês é de 5,3 para cada 100 contratados.
Trata-se de uma rotatividade que, segundo o relatório "Sondagem da Indústria da Construção", desestimula 56% das construtoras a investir em capacitação. Para se evitar um círculo vicioso que alimente a tese de apagão na mão de obra da construção civil, o trabalho da FGV conclui que o quadro só será revertido com o combate à terceirização, a oferta de planos de carreira nos canteiros de obras e o investimento maciço em qualificação.
Veja a pesquisa completa da FGV: Clique aqui
Entrevistado
Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas
Contato: cps@fgv.br
Créditos foto: Divulgação / FGV / Agência Fiep
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Gestão da produção empresta eficiência e qualidade às obras
Incorporar práticas de governança corporativa aos empreendimentos é um caminho sem volta, admitem construtores atentos à competitividade
Por: Altair Santos
No VI Encontro de Diretores e Gestores da Construção - evento promovido anualmente pelo Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) -, os empresários do setor fizeram uma "mea culpa": a de que a construção civil não estava preparada para o tamanho do crescimento registrado entre 2008 e 2011 no Brasil. Isso gerou gargalos que há dois anos têm sido fortemente combatidos, principalmente pelas empresas que buscam o crescimento sustentável e a sobrevivência em um mercado que tornou-se altamente competitivo. "Construtoras e incorporadoras passaram a enfrentar problemas graves de planejamento e gestão da produção. Investir nestes dois pontos é um caminho sem volta", define Roberto de Souza, diretor-presidente do CTE.

O especialista relaciona uma espécie de 10 mandamentos que as empresas do setor da construção que quiserem se manter sólidas no mercado precisarão seguir daqui para frente. Confira:
1) "Uma tendência que parece se confirmar é a de os lançamentos acontecerão de forma mais cadenciada. A “tudo que se lança, vende rápido” não deverá se repetir. A concepção do produto imobiliário, a pesquisa de mercado e a diferenciação dos empreendimentos provavelmente merecerão maior atenção por parte de incorporadores e arquitetos".
2) "Os conceitos e as práticas da sustentabilidade na construção, que hoje já ocupam espaço nos empreendimentos comerciais, deverão também movimentar os empreendimentos residenciais".
3) "A melhoria da qualidade dos projetos, integrados com o orçamento e o planejamento das obras, deve prosperar, aliada à paulatina inserção das ferramentas do BIM (Building Information Modeling)”.
4) "Os prazos, custos e qualidade de obras inevitavelmente ocuparão um espaço à parte de dentro das incorporadoras e construtoras, pois foram essas falhas de orçamento e gestão das obras que acarretaram em perdas de rentabilidade às empresas".
5) "O foco principal deve estar na gestão da produção, que trará eficiência operacional, produtividade e qualidade às obras".
6) "A introdução das práticas de governança corporativa nas obras também é importante, pois a empresa poderá implantar, de forma sistemática e contínua, mecanismos independentes de auditoria. Isso permitirá comparar resultados, identificar desvios e orientar a tomada de ações corretivas e preventivas, de forma a atender os objetivos de prazos, custos e qualidade".
7) "O exercício do planejamento estratégico, com base na metodologia do BPM ( Business Processes Management) devem também pautar o caminho futuro das empresas da cadeia produtiva da construção. As ferramentas de Project Management devem ter seu uso ampliado para a melhoria da gestão".
8 ) "Toda a construção deverá estar alicerçada por uma política de TI (Tecnologia da Informação) que propicie a geração de relatórios gerenciais confiáveis e on-line, para monitoramento dos negócios e rápida tomada de decisão".
9) "Um aspecto de fundamental importância, e a ser muito trabalhado pelas empresas, é o de gestão de pessoas e de seu capital intelectual. Esse é o desafio para que elas mantenham seu DNA e perpetuem seus negócios".
10) "Ainda pouco praticada pelas empresas, a gestão da inovação também é fundamental para que elas se mantenham competitivas. O foco principal está na tecnologia e na industrialização para, paulatinamente, conduzir os canteiros de obras a uma linha de montagem".
Roberto de Souza faz questão de frisar que as medidas relacionadas não são uma opinião pessoal, mas um consenso do que foi debatido no VI Encontro de Diretores e Gestores da Construção. O dirigente do CTE destaca ainda que não se trata de traçar um cenário de pessimismo, mas de evolução continuada do setor. "Tivemos bons avanços. Atualmente, há um número significativo de empresas certificadas ISO 9000 e PBQP-H. Além disso, muitos equipamentos entraram em nossos canteiros de obras, melhorando a logística de transporte interno de materiais. Outro aspecto é que a área de sustentabilidade vem ganhando espaço significativo. Tudo isso caracteriza um caminho sem volta no setor da construção", diz.
Atualmente, compara Roberto de Souza, a construção civil brasileira está em um patamar intermediário em relação aos Estados Unidos, Europa e Japão. "Já estivemos em patamares inferiores, mas nos últimos 15 anos tivemos muitas evoluções. Mas creio que as empresas da construção, para aumentar sua produtividade e sua competitividade, precisam evoluir muito em três grandes campos: inovação de produtos e desenvolvimento de sistemas construtivos industrializados; aperfeiçoamento de metodologias de planejamento e gestão da produção, e qualificação profissional em todos os níveis da produção", finaliza.
Confira os que foi debatido no VI Encontro de Diretores e Gestores da Construção: Clique aqui
Entrevistado
Roberto de Souza, do diretor-presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE)
Currículo
- Roberto de Souza é engenheiro civil, mestre e doutor em engenharia pela Escola Politécnica da USP.
- Atualmente é o diretor-presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), empresa associada ao Instituto Ethos, USGBC, GBC Brasil e CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável).
- No ano passado, ganhou o Prêmio Green Building Brasil 2011 como empresa sustentável de serviços.
Contato: roberto@cte.com.br / http://www.cte.com.br/
Créditos foto: Divulgação / CTE
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
PlanHab se propõe a combater moradias precárias
Estratégia é urbanizar terrenos, fornecer cesta de material de construção e dar assistência técnica às famílias, através de arquitetos e engenheiros
Por: Altair Santos
Lançado em 2008, o Plano Nacional de Habitação (PlanHab) surgiu com a função de fundamentar os programas Minha Casa, Minha Vida e PAC Urbanização de Favelas. O foco de suas diretrizes está na habitação de interesse social. No entanto, ao longo desses quatro anos, o PlanHab viu o Minha Casa, Minha Vida se sobrepor a ele. Os holofotes da indústria da construção civil e do mercado imobiliário voltaram-se para o MCMV, que transformou-se na porta de entrada para que a nova classe C obtivesse a casa própria. Isso obrigou a uma espécie de correção de rota do PlanHab. A partir do Comunicado 118, publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no final de 2011, o Plano Nacional de Habitação terá como meta o combate às moradias precárias.

Uma das metas do PlanHab é descentralizar os investimentos, repassando aos municípios recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social. Com isso, o plano ganha um tripé baseado na urbanização de favelas - no caso das grandes cidades -, no fornecimento de uma cesta básica de materiais de construção e no serviço de assistência técnica a ser prestado por arquitetos e engenheiros para famílias que quiserem construir ou reformar suas casas. "A prioridade seria as moradias rústicas, improvisadas, que abrigam às vezes mais de uma família e não têm infraestrutura de água, esgoto e rede elétrica. Então, o poder público entraria com a urbanização da área e a família receberia, na totalidade ou em parte, uma cesta de material de construção, além de assistência técnica para ela mesma erguer a nova moradia", explica Cleandro Krause, do Ipea.
Outra solução pensada pelo PlanHab seria investir em construções em grande escala, através de tecnologias como o pré-fabricado, por exemplo. Companhias de habitação como as de São Paulo e de Pernambuco recentemente colheram bons resultados com esse tipo de modelo ao recuperar áreas destruídas por enchentes. "Isso é possível, desde que sejam tecnologias certificadas. Além disso, é importante que as famílias que forem morar nestas casas possam se apropriar daquela tecnologia. Por quê? Porque é muito comum que, ao longo do ciclo de vida de uma casa, ela precise ser ampliada. Imagine uma família precisar fazer uma ampliação e não conseguir, pois a adaptação vai comprometer a segurança estrutural da casa?", ressalta o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.

Outro debate em torno do PlanHab está na possibilidade de ele poder se adaptar às diferenças regionais do país. O objetivo é que o plano não siga um modelo único de construção nem de projeto. "Nem sempre uma casa de dois dormitórios vai ser suficiente para uma família grande. É importante não confundir especificações mínimas com modelo único. O projeto tem que ser sempre adequado a situações regionais. Agora, existem alguns contextos no Brasil. Na região norte, por exemplo, falta desenvolver alguns modelos mais específicos para as ocupações ribeirinhas. A habitação rural também não deveria ser igual a uma habitação urbana", avalia Cleandro Krause, para quem, com alguns ajustes, o PlanHab pode cumprir a meta de ajudar a zerar o déficit habitacional brasileiro até 2023.
Confira a íntegra do Plano Nacional de Habitação: Clique aqui
Veja o Comunicado 118 do Ipea: Texto e Vídeo
Entrevistado
Cleandro Krause, técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur), do Ipea
Currículo
- Arquiteto graduado pela UFRGS (Universidade federal do Rio Grande do Sul) e mestre em planejamento urbano e regional (UFRGS)
- Ocupa o cargo de técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur), do Ipea
Contato: cleandro.krause@ipea.gov.br / ascom@ipea.gov.br
Crédito: Divulgação/Ipea/ Ministério das Cidades
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Saída para os portos brasileiros seria a privatização
Burocracia, profundidade dos calados, áreas para armazenagem e acesso terrestre estão entre os problemas que tiram competitividade dos terminais
Por: Altair Santos
O governo federal iniciou em fevereiro de 2012 o processo de privatização de aeroportos, começando pelos terminais de Guarulhos, Campinas e Brasília. As empresas vencedoras assumiram o compromisso de realizar investimento de aproximadamente R$ 16 bilhões em obras, para melhorar a qualidade dos serviços aéreos. Dado esse passo, o que se questiona agora é se o mesmo procedimento não deveria ocorrer com os portos brasileiros. Basta lembrar que no ranking portuário mundial, que engloba 142 países, o Brasil ocupa a 130ª posição.

Com base nas deficiências portuárias do país, o COPPEAD/UFRJ (Instituto de pós-graduação e pesquisa em administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro) mapeou os gargalos do setor e também os entraves que dificultam a privatização dos portos. O estudo foi realizado pelo Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) do COPPEAD. Segundo Paulo Fleury, diretor do ILOS, há pelo menos cinco problemas agudos: profundidade dos calados, área de armazenagem, burocracia, questões legais e falta de investimento.
Mesmo assim, o especialista vê como remota a possibilidade de o sistema portuário brasileiro vir a ser privatizado. "Há questões de segurança nacional envolvidas. Por isso, a privatização chega no máximo aos terminais de carga", explica. Assim, completa Paulo Fleury, como o governo é o proprietário do porto, ele se vê obrigado a investir em várias áreas, mas não tem recursos. "Não há dúvidas de que a iniciativa privada traria competitividade aos portos brasileiros", completa.
Para o diretor do ILOS, os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR) e Rio Grande (RS) são os que mais carecem de investimentos. "Santos, pela relevância que ele tem na economia e pela falta de capacidade; Rio Grande, por ser um porto que faz a ligação entre o Brasil e Cone Sul, e Paranaguá, que é um porto vital para a gestão do agronegócio", diz. No entanto, apesar das carências, os terminais portuários receberam entre 2007 e 2011, através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) apenas R$ 5,7 bilhões de recursos para obras, quando o ideal seria o triplo destes investimentos.

No estudo do COPPEAD/UFRJ, as indústrias usuárias de portos apontam os acessos terrestres (rodovias e ferrovias) como os principais problemas dos terminais. "Em geral, porto é um negócio que deveria ser atendido por ferrovias. Mas para isso tem que ter todo um sistema de logística integrado, com prioridade aos contêineres. Só que a experiência do Brasil com contêineres é muito baixa e os terminais não estão adequados a isso. Assim, continua-se a usar caminhões e os problemas persistem", destaca Paulo Fleury.
Carência de 265 obras
Segundo recente estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) denominado "Gargalos e Demandas de Infraestrutura Portuária e os Investimentos do PAC", os principais portos brasileiros necessitam atualmente de 265 obras para melhorar a operacionalidade e a competitividade. Destas, 133 são empreendimentos relacionados à construção, ampliação e recuperação de terminais. Outras 45 referem-se às melhorias no acesso terrestre. Tratam-se de investimentos diretamente relacionados com o setor da construção civil e que carecem de recursos na casa dos R$ 38 bilhões. O problema é que, através do PAC, foram investidos até agora somente R$ 8 bilhões entre 2007 e 2011. Cerca de 60% da demanda por obras concentram-se nos portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), Vitória (ES), Itaqui (MA), Pécem (CE), Suape (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Rio Grande (RS).
Veja a íntegra do estudo do Ipea: Clique aqui
Confira o trabalho do ILOS: Clique aqui
Entrevistado
Paulo Fleury, diretor do ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain) e professor de estratégia de operações do COPPEAD/UFRJ
Currículo
- Graduado em engenharia mecânica pela UFRJ
- Possui os títulos de M.Sc. em engenharia de produção pela COPPE/UFRJ e de Ph.D. em administração industrial pela Loughborough University of Technology (Inglaterra)
- Foi diretor e superintendente-geral da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro (ADRio)
- É membro do Council of Logistics Management e da European Operations Management Association
- Possui cerca de 100 trabalhos publicados em periódicos e livros nacionais e internacionais, e tem mais de 25 anos de experiência de ensino e consultoria nas áreas de Estratégia de Operações e Logística Empresarial
Contato: ilos@ilos.com.br
Créditos foto: Divulgação / Fabio Scremin/ AEN
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Obras dão pleno emprego à construção civil do Pará
Setor vai criar 160 mil vagas em cinco anos. Só a hidrelétrica de Belo Monte será responsável por absorver 18 mil trabalhadores
Por: Altair Santos
Até 2017, o Pará irá ganhar mais três fábricas de cimento. O interesse do setor no estado se justifica: as obras de infraestrutura programadas para o território paraense têm viabilizado uma série de negócios para a cadeia produtiva da construção civil. Segundo o gestor da Secretaria Especial de Infraestrutura e Logística para o Desenvolvimento Sustentável (Seinfra), Sérgio Leão, a expectativa de investimentos nos próximos cinco anos chega a R$ 129 bilhões. "Esses recursos irão gerar mais de 160 mil empregos. Somente a obra de Belo Monte vai criar 18 mil postos de trabalho. Temos uma situação de pleno emprego na construção civil do Pará", afirma.

Além da construção da hidrelétrica de Belo Monte, a lista de obras de infraestrutura no estado inclui a recuperação da rodovia Cuiabá-Santarém, a implantação do projeto Serra-Sul da Companhia Vale do Rio Doce - voltado para a exploração de minério de ferro - e o conjunto de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que somam R$ 1 bilhão em investimentos. Entre os empreendimentos, destacam-se a construção de 80 mil moradias, através do programa Minha Casa, Minha Vida, e obras intensas de saneamento básico. "Quase a totalidade dos projetos já se encontra em execução", revela o secretário Sérgio Leão.
O crescimento da construção civil no Pará já rivaliza com a indústria extrativa mineral no estado. Desde 2009, os dois setores têm crescido acima de 10% e destacam-se como os mais relevantes da economia paraense. "As obras de infraestrutura, principalmente, têm causado um impacto muito positivo em nosso desenvolvimento. Sobretudo nas áreas de venda de material de construção, de insumos, de geração de empregos e de geração de tributos", explica o secretário. "Observe que só a usina de Belo Monte está trazendo investimento de R$ 30 bilhões para o Pará", completa.
As oportunidades na construção civil paraense também têm atraído investidores estrangeiros ao estado. Alemanha, França e Rússia estão entre os países que buscam parceria com empresas do Pará. O que mais desperta o interesse externo é o programa Amazônia Legal, que engloba 151 projetos de melhoria logística para tornar a região norte competitiva. Entre eles, envolvem a economia paraense a melhoria da rodovia Belém-Brasília, a duplicação da estrada de ferro Carajás e a ampliação da ferrovia Ferronorte. Estima-se que esses empreendimentos atraiam pelo menos mais R$ 51,8 bilhões ao Pará até 2022.

Veja lista de obras e investimentos projetados para o Pará: Clique aqui
Entrevistado
Sérgio Leão, secretário especial de infraestrutura e logística para o desenvolvimento sustentável do Pará
Currículo
- Graduado em economia, com especialização em planejamento
- Já ocupou também os cargos de secretário de produção, secretário de gestão e planejamento do governo do Pará
Contato: www.pa.gov.br / gabinete@seinfra.pa.gov.br
Créditos foto: Divulgação/ Seinfra/ CCBM
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Exercício ilegal da engenharia mobiliza categoria
Projeto de lei tramita desde 2002 no Congresso e recentes desmoronamentos de edifícios reaquecem debates para atualizar a lei 5.194/66
Por: Altair Santos
Tramita há 10 anos na Câmara dos Deputados, em Brasília/DF, o Projeto de Lei 6699/2002, o qual criminaliza o exercício ilegal da profissão de engenheiro, agrônomo e arquiteto. A proposta pretende substituir o Decreto-lei nº 2.848, de 1940, e que apenas trata como contravenção - com prisão simples de 15 a 30 dias, podendo ser convertida em multa - o ato de praticar a engenharia irregularmente. Caso a lei já tivesse sido aprovada, desabamentos como os que ocorreram no começo de 2012, no Rio de Janeiro e em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, poderiam ter sido evitados.

Ainda em fase de conclusão, as investigações destes acidentes sinalizam que profissionais não credenciados promoveram intervenções erradas nos edifícios, causando o colapso das estruturas. Isso gerou uma mobilização dos conselhos regionais de engenharia, e outras entidades de classe da categoria, para que o Congresso finalmente aprove o Projeto de Lei que criminaliza o exercício ilegal da profissão. A expectativa é que, depois de tramitar pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) e de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), o PL 6699/2002 possa ir a plenário ainda no primeiro semestre de 2012.
O movimento, liderado pelo CONFEA/CREA e pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNA), ganha também a adesão do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. A intenção é aproveitar o momento para sensibilizar o Congresso a também revisar a lei 5.194/66, que regula o exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrônomo. "Entendemos que a lei precisa ser revigorada, até por conta da demanda muito grande por engenheiros e pela área tecnológica estar cada vez mais valorizada", explica Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros.
Sobre a lei 5.194/66, entre as reivindicações de mudança estão as que dão mais poder ao CONFEA/CREA para interditar e embargar atividades que não estejam em conformidade técnica, além de autorizar que o organismo seja previamente consultado e tenha capacidade de vetar a abertura de novos cursos na área tecnológica. "Temos o apoio do universo acadêmico e o desenvolvimento da construção civil no Brasil exige isso. A demanda tecnológica é alta e precisamos ter profissionais cada vez mais capacitados", avalia Murilo Celso de Campos Pinheiro.
No entender do presidente da Federação Nacional dos Engenheiros, o importante das mudanças legislativas propostas é dotar os conselhos federal e regionais de engenharia com mais dispositivos legais para que possam ter condições de fiscalizar o exercício da profissão. "O ganho é para a sociedade. Não podemos ter leigos exercitando a engenharia, e é preciso fiscalizar com rigor. Até porque, quem vai cobrá-los depois? Quem será o responsável técnico? Quem vai atestar que uma obra está boa ou foi construída de acordo com as normas?", questiona o dirigente, confiante que as reivindicações dos engenheiros serão atendidas no Congresso. "Há muitos deputados e senadores que são engenheiros e a mobilização é grande pelas mudanças", conclui.
O que diz a lei 5.194/66
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5194.htm
Acompanhe a tramitação da PL 6699/2002
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=50794
Entrevistado
Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros
Currículo
- Engenheiro eletricista formado em 1978, com cursos de especialização em sistemas de aterramento
- Iniciou sua vida profissional na Cesp (Companhia Energética de São Paulo) em 1980
- Atualmente é presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (gestões 2001-2005, 2006-2009, 2010-2013) e preside a Federação Nacional dos Engenheiros desde 2004.
Contato: rita.casaro@fne.org.br (assessoria de imprensa)
Créditos foto: Divulgação/FNE
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Nova ponte do Guaíba melhora competitividade do RS
Complexo viário é considerado o mais importante entre as obras de infraestrutura do estado, mas esbarra na falta de um projeto definitivo
Por: Altair Santos
O Rio Grande do Sul enfrenta um gargalo em sua economia, que se materializa na ponte móvel que cruza o rio Guaíba, em Porto Alegre. Construída há 53 anos, a obra não comporta mais o volume de veículos que trafega diariamente pela BR-116 - cerca de 47 mil. Por isso, faz crescer a mobilização por um novo complexo viário na capital gaúcha. O empreendimento é vital para que o estado consiga ter uma logística competitiva. Estima-se que, por ano, os congestionamentos causados na travessia do Guaíba causem prejuízo de aproximadamente R$ 200 milhões.

A construção de uma nova ponte sobre o rio Guaíba, interligada às duplicações de trechos das rodovias BR-116, BR-386 e BR-448, é considerada a principal obra de infraestrutura do Rio Grande do Sul. O problema é que ela esbarra na falta de um projeto definitivo que possa viabilizá-la. Há incertezas sobre a extensão da ponte, sobre quais pontos ela irá interligar, assim como o modelo construtivo mais adequado e a forma como o empreendimento será financiado. Para se ter ideia, desde que o projeto foi colocado em discussão, em 2006, o comprimento da ponte já variou de 1,9 quilômetro a quase 5 quilômetros.
Segundo Luiz Domingues, vice-presidente do Movimento Ponte do Guaíba, o modelo de construção também sofreu alterações. "A princípio seria estaiada, mas isso foi descartado. Se fosse estaiada, iria precisar de uma torre de 105 metros para sustentar o vão de 40 metros, para a passagem de navios de grande porte. Isso, porém, interferiria no tráfego aéreo do aeroporto Salgado Filho", explica. Sem ser estaiada, a ponte, que teria 1,9 quilômetro de extensão, deverá ter seu cumprimento ampliado para 2,5 quilômetros, segundo um novo projeto de viabilidade técnica em andamento.
Por enquanto, o que parece ser consenso é que o pavimento no entorno da ponte e na própria estrutura que irá atravessar o rio Guaíba será em concreto, por causa do grande tráfego de caminhões que se locomovem para o Porto de Rio Grande. Mas o que precisa ser solucionado é quem vai bancar a obra. O governo federal, através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) prometeu a liberação de R$ 900 milhões para o empreendimento, mas os recursos ainda não saíram. Os atrasos levam o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) a projetar que a obra não começa antes de 2015.

Por isso, surgiu um movimento no Rio Grande do Sul para viabilizar a ponte mais rapidamente. Recentemente, o secretário de Infraestrutura e Logística, Beto Albuquerque, levou o apelo ao Ministério dos Transportes. A alternativa é entregar a obra para a concessionária que já administra o trecho: a Concepa. Em troca da prorrogação do contrato de concessão, que acaba em 2017, a empresa teria se comprometido a fazer a nova ponte num prazo de 700 dias, utilizando tecnologia à base de pré-moldadas.
A proposta tem o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) mas depende da aprovação de Brasília, já que abrange trechos de rodovias federais. "A decisão está nas mãos da presidente Dilma, mas nós gaúchos não podemos ficar olhando o problema sem tomar uma iniciativa", conclui o secretário Beto Albuquerque. Enquanto isso, estima-se que o custo da ponte já esteja em torno de R$ 1,1 bilhão. Há seis anos, quando começaram os debates para sua construção, a ponte estava avaliada em R$ 385 milhões.
Entrevistado
Movimento Nova Ponte do Guaíba e Secretaria Estadual de Infraestrutura do Rio Grande do Sul
Contatos: http://www.novapontedoguaiba.blogspot.com/ novaponteguaiba@gmail.com / http://www.seinfra.rs.gov.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Marketing promocional embala venda de imóveis
Construtoras e incorporadoras investem em ações para se destacar da concorrência, fidelizar clientes e atrair futuros compradores
Por: Altair Santos
A nova realidade do mercado imobiliário no Brasil, com consumo em alta e forte concorrência setorial, mudou radicalmente o comportamento de construtoras e incorporadoras. Antes tímidas, essas empresas agora investem maciçamente em marketing promocional. A ação de distribuir folders publicitários de seus empreendimentos em cruzamentos das cidades tornou-se uma minúscula parte do movimento que é feito para atrair compradores e fidelizar clientes.

Hoje, o relacionamento com o futuro proprietário abrange de vistoria da obra à assembleia geral de instalação de condomínios. "As construtoras se viram no cenário de inovar sempre, para estar em evidência e conseguir o resultado das vendas no menor tempo possível. Seus stands tornaram-se verdadeiras butiques, com um trabalho intenso para que o produto conquiste o consumidor", explica a publicitária Tatyane Luncah, especialista em eventos corporativos e marketing promocional.
As ações começam antes mesmo do lançamento do empreendimento, com os corretores submetidos a um meeting que os prepara para as futuras vendas. "Neste caso, são contratados artistas como mestres de cerimônia e cantores famosos para animar a equipe de vendas. Tudo é feito para que os vendedores fiquem hipermotivados e consigam os resultados o mais rápido possível", cita Tatyane Luncah, lembrando que no meeting é apresentado o planejamento estratégico, baseado em pesquisas, para que o modelo de venda atinja corretamente o público desejado. "As construtoras voltadas para a classe A fazem trabalhos mais suntuosos. Já as que atendem a classe C buscam resultados mais objetivos", complementa.
Atingidas as vendas, o marketing promocional das construtoras não cessa. Após essa etapa, o cuidado se estende ao atendimento ao cliente. "Há construtoras que agendam visita às obras e promovem café da manhã para os futuros proprietários. Também ocorrem eventos marcantes para a entrega das chaves e nas assembleias de condomínios. O objetivo é sempre valorizar o sonho da casa própria, para conquistar o cliente e contar com ele para fazer o marketing boca a boca", evidencia a especialista.
Tatyane Luncah relaciona algumas ações promovidas pelas construtoras para fidelizar os clientes e atrair novos compradores. "Dependendo do empreendimento, há degustação de feijoadas, buffet de sorvetes, festival de fondues, customização de camisetas e chinelos e até test-drive de carros de luxo", afirma.
A publicitária também lembra que para valorizar o marketing boca a boca muitas construtoras têm adotado ações do tipo "indique seu vizinho". Neste caso, o cliente sugere um futuro comprador e pode ser contemplado com um presente. Segundo Tatyane Luncah, essa e outras ações de marketing promocional têm conseguido receptividade em torno de 90%. "Como o planejamento é feito para que ele seja muito assertivo, geralmente as ações se tornam muito populares e cumprem plenamente seu objetivo. Além disso, têm um custo menor que a publicidade convencional”, destaca.
Entrevistada
Tatyane Luncah, publicitária, sócia e fundadora do Grupo Projeto e especialista em marketing promocional
Currículo
- Graduada em gestão administrativa pela AESE (Escola de Direção e Negócios) em Lisboa (Portugal) e especialista em comunicação com foco em criatividade e inovação pela na ESERP Business School em Barcelona (Espanha)
- Atua no atendimento ao mercado de eventos corporativos e de marketing promocional há 15 anos, na gerência e coordenação de feiras e eventos
- É sócia e fundadora do Grupo Projeto, constituído por seis empresas que abraçam há dez anos o mercado BTL de eventos corporativos, marketing promocional, criação, gastronomia e solução em logística
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Vistorias periódicas impediriam desastres no RJ e em SP
Poucos municípios no Brasil têm leis que exigem inspeções em prédios. Além disso, seguir as normas é fundamental para a saúde das edificações
Por: Altair Santos
Os desabamentos ocorridos recentemente no Rio de Janeiro e em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, deixaram uma lição: a de que as vistorias periódicas dos edifícios não podem ser ignoradas. Quem faz a observação é o engenheiro civil José Eduardo Granato, membro do Comitê de Impermeabilização e Isolação Térmica da ABNT, e que há mais de 20 anos trabalha em soluções de patologia em prédios residenciais e comerciais.

Segundo o especialista, duas normas precisam ser religiosamente seguidas para que colapsos que aconteceram no começo de 2012 sejam evitados. São a ABNT NBR 6118:2007 (projetos de estruturas de concreto) e a NBR 5674:1999 (manutenção de edificações). É o que ele explica na entrevista a seguir:
Os desabamentos ocorridos recentemente nas cidades do Rio de Janeiro e São Bernardo do Campo, em São Paulo, remetem a seguinte pergunta: o que é preciso preservar nos principais sistemas de infraestrutura dos edifícios quando eles entram em manutenção ou reforma?
Tudo depende de como a obra foi concebida. Alguns edifícios, infelizmente, carregam problemas de qualidade de construção, principalmente em aspectos de estanqueidade e cobrimentos de armaduras não bem executados. Se for esse o caso, vai exigir um tipo de manutenção mais aprimorada. Mas se o prédio requer manutenção periódica, os moradores precisam contratar um profissional qualificado para a inspeção. O que ocorre é que muitas vezes os condôminos acham o serviço caro e acabam não fazendo o regime de manutenção preventiva e nem corretiva, provocando deterioração precoce das edificações, o que pode provocar a redução da vida útil do prédio.
Como se chega ao melhor modelo de reforma e de manutenção, de acordo com o tipo de infraestrutura, e como planejar os serviços em cada caso?
Para isso, é preciso estar atento ao que diz a NBR 6118. Trata-se da norma de cálculo estrutural de concreto armado, que é dividida conforme a agressividade ambiental que afeta o concreto. São quatro tipos. O tipo I é para uma estrutura de concreto protegida de umidade, cuja deterioração é insignificante. O tipo II refere-se à edificação sujeita a um ambiente mais agressivo, como a umidade. O tipo III trata de ambientes ainda mais agressivos, como uma área industrial ou a orla marítima, onde a ação do cloreto é agressiva à armadura do concreto. Já o tipo IV abrange obras que têm contato constante com água salgada, como um pier ou uma ponte. Baseada em cada uma delas é que é montado o modelo e o roteiro de periodicidade das manutenções periódicas.
Além da ABNT NBR 6118:2007, há outras normas que precisam ser observadas na manutenção e na reforma predial?
Tem a norma de manutenção predial (NBR 5674:1999 - Manutenção de edificações – Procedimento) que orienta o que deve ser verificado na inspeção, como preparar o relatório e como coordenar as equipes que farão a manutenção. Só que ela não é impositiva, não determina de quanto em quanto tempo tem que fazer isso ou aquilo na manutenção. Já a NBR 6118 abrange a questão da durabilidade, qualificando a agressividade a que o concreto será exposto.
O que é manutenção preventiva, preditiva ou corretiva?
Preventiva é aquela que, como o nome diz, previne riscos. Ela trata de uma vistoria regular na edificação. Comparando com a medicina, é como o check-up. A preditiva, ainda comparando, é como se o paciente tivesse algum sintoma que o faz perceber que precisa fazer uma visita ao médico. Neste caso, exige inspeções regulares para ver se o problema evolui ou não. Já a corretiva é aquela para consertar o problema. Assim, existem diferenças de custos entre elas. A corretiva é mais cara, porque ele envolve um problema que pode afetar outras partes do prédio. Imagine se eu tenho que promover uma pintura no prédio. Se for apenas pintar o edifício, estou realizando uma manutenção preditiva. Agora, se ao fazer a pintura eu detecto que degradou os revestimentos atrás da tinta, aí será preciso uma manutenção corretiva. Então, prevenção preventiva sempre a ideal, pois ela antecipa futuros problemas, tem custo menor e prolonga a vida da edificação.
Por que é tão importante manter em dia os documentos administrativos, técnicos e legais das edificações?
Primeiro, é uma questão legal. Segundo, porque se o prédio for organizado neste sentido facilita a manutenção. Muitas vezes, o edifício apresenta uma trinca numa viga, mas não tem a planta e outros documentos que permitam avaliar como é que foi calculada aquela estrutura. Se eu não tenho arquivado o cálculo estrutural, o calculista, para fazer o cálculo de reforço, terá de fazer uma prospecção na própria estrutura para ver como foi calculada. Além de retrabalho, pois vai precisar quebrar um pedaço do concreto para ver que armadura tem lá, o custo da manutenção aumenta. Então, toda a documentação - tanto a legal quanto a de serviços - precisa estar arquivada. É o prontuário do edifício.
Quando é melhor optar por uma equipe de manutenção residente e quando vale à pena contar com equipe volante?
Depende do porte da obra e do tamanho da manutenção. Se é um shopping ou uma indústria, é preferível uma equipe residente, porque ela terá intimidade com a edificação e sabe o histórico do empreendimento. Quando esse serviço é terceirizado, corre-se o risco de perder informações valiosas sobre o prédio. Agora, também precisa ser levado em conta a relação custo-benefício. Se a equipe residente fica muito tempo ociosa ou é insuficiente para atender a manutenção exigida, é melhor ter um meio termo: mantém-se uma equipe pequena para as manutenções preventivas e contrata-se outra para o caso de manutenções maiores.
De acordo com a idade do edifício, de quanto em quanto tempo deve ser feita uma vistoria técnica e as respectivas manutenções?
No Brasil, poucos municípios têm leis sobre inspeções periódicas em edificações. Onde existe, ela determina o seguinte: o prédio tem que ser vistoriado a cada dez anos até que ele tenha 20 anos de construção. Após 20 anos de idade, uma vistoria tem que ser feita a cada cinco anos. A partir de 30 anos, o edifício tem que passar por uma vistoria a cada três anos. Isto para edificações unifamiliares, ou seja, edifícios e prédios de apartamentos não comerciais. Para prédios comerciais, tem que fazer uma vistoria a cada cinco anos, para os com até 30 anos de construção, e a partir de 30 anos uma vistoria a cada três anos.
Em termos de tecnologia, o que existe hoje para assegurar que reformas e manutenções prediais ocorram sem comprometer as estruturas dos edifícios?
Tudo parte da construção. Se ela tem estruturas de qualidade, adotou revestimentos adequados e uma impermeabilização capaz de suportar as agressividades do meio ambiente, a manutenção vai exigir técnicas de menor custo. Mas o importante é submeter a construção às normas adequadas. Se é utilizado produto de alto desempenho, de boa qualidade, a manutenção sempre será mais fácil de fazer.
No caso das tragédias ocorridas no Rio e em São Paulo, que lição se pode tirar do que ocorreu?
Que é preciso submeter os edifícios a vistorias periódicas. Um prédio não cai à toa, da noite para o dia. Ele vai dando sinais ao longo do tempo, surgem as patologias e a estrutura perde a capacidade de resistência. Se as inspeções e a manutenção tivessem sido feitas corretamente, certamente esses acidentes teriam sido evitados.
Confira os tipos de patologias que podem afetar uma edificação: Clique aqui
Entrevistado
José Eduardo Granato, membro do Comitê de Impermeabilização e Isolação Térmica da ABNT e especialista em soluções de patologias em prédios residenciais e comerciais
Currículo
- Engenheiro civil graduado pela Universidade de São Francisco– SP (1978). Atua há 35 anos no gerenciamento comercial e técnico em indústrias de produtos químicos para a construção civil
- É consultor na área técnica e de projeto nas especialidades de sistemas de impermeabilização, patologia de estruturas e das edificações, tratamento de concreto, revestimentos, pinturas e isolação térmica
- Ministrou mais de 200 cursos e palestras de impermeabilização, tratamento de concreto, isolação térmica e patologia da construção, em diversas entidades de engenharia
- Apresentou mais de 20 trabalhos técnicos em congressos no Brasil e no exterior, nas atividades de impermeabilização e patologia
- Atualmente é gerente comercial na Viapol, por meio do qual é responsável pela implementação da área de negócio Química para Construção, que engloba os segmentos de pisos industriais, aditivos para concreto e recuperação e reforço estrutural
Contato: granato@viapol.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
FGTS para reforma da casa própria anima Abramat
Crédito beneficia 33 milhões de trabalhadores e, dependendo da demanda, pode acrescentar R$ 1 bilhão no setor de material de construção
Por: Altair Santos
Desde fevereiro de 2012, o Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço autorizou que recursos do FGTS sejam utilizados para a reforma da casa própria. A linha de crédito é de até R$ 20 mil por trabalhador e o dinheiro poderá ser usado também para a aquisição de equipamentos que melhorem a sustentabilidade da residência, como aquecedores solares, por exemplo, até projetos de acessibilidade para portadores de necessidades especiais.

A norma pode beneficiar diretamente 33 milhões de brasileiros que recolhem recursos ao FGTS. Obtida através da Caixa Econômica Federal, a linha de crédito atende imóveis com valor de mercado de até R$ 500 mil. Por isso, há a expectativa do setor da construção civil de que a medida traga um impacto positivo nas vendas. É o que avalia Walter Cover, presidente da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), na entrevista a seguir:
A Abramat vê de que forma a medida que permite utilizar recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a reforma da casa própria?
Achamos muito positivo, porque é um valor compatível, e que não compromete o fundo. Estamos falando de um programa que disponibiliza inicialmente 300 milhões de reais, e que pode evoluir para um bilhão se tiver demanda. Com os juros subsidiados, achamos que a medida vai impulsionar o setor de reformas, já que a captação destes recursos em bancos privados sairia muito mais cara.
Qual o impacto que a utilização de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a reforma da casa própria terá na venda de materiais de construção?
Veja, a indústria de materiais para a construção civil vendeu 110 bilhões de reais em 2011. Então, se formos analisar apenas os 300 milhões disponibilizados pelo programa, diria que o impacto não é muito grande. Mas não é assim que se deve pensar. O que se visualiza são os novos negócios, ou seja, serão incrementados mais 300 milhões de reais na venda global. Tratam-se de consumidores que não entrariam no mercado se não houvesse essa nova linha de crédito. Então, ela abre caminho para que no futuro a demanda chegue a um bilhão de reais, além de ser uma nova alternativa para o consumidor viabilizar a reforma de sua casa.
A tendência é estimular o comércio formiguinha? Aliás, qual a participação deste tipo de comércio no volume de vendas de material de construção no país?
O comércio formiguinha representa hoje 50% da venda da indústria e, com certeza, a medida vai estimular esse modelo de consumo. Só que mais interessante que isso é que a liberação de recursos do FGTS para reformas vai estimular também a venda legal de materiais de construção. O acordo prevê que somente poderão se beneficiar da linha de crédito produtos que estejam dentro das normas de qualidade do programa PBPQ-h, do Ministério das Cidades, e do Inmetro. Assim, a medida agrega qualidade e formalidade fiscal ao chamado comércio formiguinha, o que é muito positivo para a indústria e para o comércio de material de construção em geral.
Dentro da cadeia produtiva da construção civil, algum setor pode ser mais beneficiado por essa medida?
Acho que todos. Numa reforma ou numa ampliação, utilizam-se vários produtos. Desde materiais de base, como cimento e aço, até tubos e conexões, materiais de acabamento e elétricos. Todos os setores da indústria serão beneficiados.
A expectativa é que 2012 tenha vendas melhores que em 2011?
Em 2012, o setor espera um crescimento de 4,5% em faturamento real, ou seja, descontada a inflação, o que é melhor que 2011.
Além da medida governamental que libera o uso do FGTS, quais a Abramat avalia que deveriam ser tomadas para estimular o setor?
Primeiro, a expectativa é que o governo incremente os investimentos públicos no programa Minha Casa, Minha Vida. Além disso, temos que manter a disponibilidade do crédito. A previsão para este ano é que o crédito aumente 30%. Além disso, o setor espera que prossiga a política de redução de impostos. A Abramat está trabalhando intensamente para que isso ocorra.
Entrevistado
Walter Cover, presidente da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção)
Currículo
- Graduado em engenharia agronômica pela UNESP- MS e em economia agrícola pela University of California
- É PhD em economia agrícola pela Michigan State University e cursou gestão empresarial avançada no INSEAD, da França
- Foi CEO, diretor e conselheiro em empresas de grande e médio porte, como Vale, Bunge, Lilly/Elanco, Teba Têxtil e CTM Citrus
- Atuou na Casa Civil da Presidência da República, coordenando uma estrutura multiministerial que apoiou a viabilização de projetos de investimentos privados e de parcerias público-privadas (PPP)
- Como superintendente geral da FIESP, conduziu um extenso programa de reestruturação e modernização da gestão
- Atualmente, é presidente da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção)
Contato: presidencia@abramat.org.br
Créditos foto: Divulgação/Abramat