Congresso do Ibracon estimula intercâmbio internacional
Evento que marcou os 40 anos do Instituto Brasileiro do Concreto promoveu troca de tecnologias entre brasileiros, portugueses e norte-americanos
Por: Altair Santos
O 54º Congresso do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) que foi realizado de 8 a 11 de outubro, em Maceió/AL, marcou os 40 anos do Instituto. Mais que isso, reforçou intercâmbios internacionais entre organismos de engenharia civil da Europa e dos Estados Unidos com instituições nacionais. "Essas parcerias internacionais reconhecem toda a importância do Ibracon como entidade de defesa da técnica e das inovações importantes que ocorrem nesta área no Brasil. Isso sem dúvida se reflete na qualidade da construção civil e na consolidação da capacidade técnica da engenharia brasileira no setor do concreto", avalia Túlio Nogueira Bittencourt, presidente do Ibracon.

Os intercâmbios selados em Maceió abrangem concreto autoadensável, construções de barragens, infraestrutura ferroviária, metroviária e rodoviária e pavimento de concreto. "No caso das barragens, o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) de Portugal possui uma tecnologia bastante avançada, principalmente na parte de acompanhamento de modelagem. Então, são parcerias com as quais firmamos acordos para, a cada dois anos ou três anos, repetir fora do Brasil com o apoio do Ibracon", destaca Túlio Nogueira Bittencourt. Esse evento já foi batizado de Dam World Conference - Conferência Mundial para discutir projetos, operação e manutenção de barragens.
Paralelamente ao 54º Ibracon ocorreu o 1º Simpósio Latino-Americano sobre Concreto Autoadensável. O material, cuja utilização no Brasil tornou-se mais frequente a partir de 2004, foi tema de debates sobre a sua evolução. "As questões abertas trataram da forma de lançamento, do preenchimento das armaduras e da utilização em pré-moldados. Tudo isso com a participação das universidades, como a Escola Politécnica da USP e a Escola de Engenharia de São Carlos, que levaram equipes de professores e alunos até Maceió", comenta o presidente do Ibracon, cujo congresso recebeu a apresentação de 424 trabalhos de pesquisa.
O 54º Congresso do Ibracon também sediou a 8ª Feira Brasileira de Produtos e Serviços da Construção (Feibracon). O evento, que aconteceu no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, aproveitou para fazer correlação com o bom momento que a construção civil vive no nordeste brasileiro. "O Ibracon valoriza e estimula o desenvolvimento do concreto no Brasil inteiro. Esta característica do congresso, de ser itinerante, é muito importante, pois estimula a correta aplicação do concreto em todo o território nacional. Além disso, a parte da indústria presente na feira teve a oportunidade de estabelecer parcerias interessantes com empresas nordestinas", diz Túlio Nogueira Bittencourt, já preparando o 55º Congresso do Ibracon, que será em Gramado/RS, de 29 de outubro a 1º de novembro de 2013.
Entrevistado
Túlio Nogueira Bittencourt, presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto)
Currículo
- Túlio Nogueira Bittencourt é graduado em engenharia civil pela Universidade de Brasília (1984)
- Tem mestrado engenharia civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1988) e doutorado em Engenharia de Estruturas, pela Cornell University (1993)
- Atualmente é professor associado da Universidade de São Paulo e diretor-presidente do Conselho do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon)
- Tem experiência na área de estruturas, com ênfase em estruturas de concreto, atuando principalmente nos seguintes temas: mecânica da fratura do concreto, modelagem computacional não linear via método dos elementos finitos, análise experimental e monitoração de estruturas
- É também membro do ACI (American Concrete Institute), do FIB (International Federation for Structural Concrete), TRB (Transportation Research Board), RILEM (International Union of Laboratories and Experts in Construction Materials, Systems and Structures) e IABMAS (International Association for Bridge Maintenance and Safety)
- Atua como palestrante convidado em eventos nacionais e internacionais
Contato: tulio.bittencourt@poli.usp.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construção civil da região sul ganha ITA no LACTEC
Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento está prestes a obter certificação para funcionar como uma Instituição Técnica Avaliadora
Por: Altair Santos
O Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (LACTEC) está em vias de se tornar a primeira Instituição Técnica Avaliadora (ITA) do Sul do Brasil. Reivindicada há tempos por organismos ligados à construção civil da região, a criação de uma ITA permitirá que materiais e processos construtivos cheguem ao mercado com um comprovado controle de qualidade.

Atualmente existem apenas sete instituições habilitadas no Brasil, nenhuma delas no Sul. O desejo do Ministério das Cidades, de expandir as ITAs, está relacionado à entrada em vigor, em março de 2013, da norma de desempenho NBR 15575, que vai passar a nortear e exigir mais demanda por serviços prestados pelas Instituições Técnicas Avaliadoras.
Na entrevista a seguir, o diretor de desenvolvimento tecnológico do LACTEC (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento) Ney Augusto Nascimento explica como está o processo de certificação e quais são as atribuições de uma Instituição Técnica Avaliadora dentro da cadeia produtiva da construção civil. Confira:
O Lactec pode se tornar a primeira Instituição Técnica Avaliadora (ITA) da construção civil na região Sul. O que isto significa para o Instituto?
O Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (LACTEC) sempre teve um viés inovador. Desde o seu módulo inicial, o CEHPAR (Centro de Hidráulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza), que desenvolve até hoje modelos hidráulicos reduzidos para grandes obras de engenharia, primou pelo pioneirismo, pela audácia e pela pesquisa. Assim, neste novo desafio que o governo, as instituições de classe ligadas à engenharia civil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a sociedade em geral apresentam, o LACTEC não poderia ficar alheio e decidiu como parte do seu planejamento estratégico, abraçar mais esta causa. Trata-se na realidade de uma complementação de atividades que o Instituto já realiza na área da construção civil, bastante ampliada para incluir os vários aspectos do desempenho de materiais e métodos construtivos. A formalização de uma ITA-LACTEC representa para a região Sul do Brasil um passo fundamental para que se certifiquem os produtos e o modo de aplicá-los em edificações, visando o melhor desempenho possível, especialmente nas habitações de interesse social.
O que uma ITA faz e quais setores ela abrange da construção civil?
A ITA tem por objetivo testar e certificar produtos e processos da construção civil sob os aspectos resistência mecânica, durabilidade, estanqueidade à água, térmico, acústico e de reação e resistência ao fogo. De todos esses itens, a questão da resistência é provavelmente a mais conhecida e realizada Brasil afora. As demais são de limitada realização, em especial em respeito ao fogo, que praticamente não se faz no Brasil. O escopo de uma ITA deve ser geral, podendo, porém, haver complementações entre diferentes instituições avaliadoras, em especial nesta fase de início de aplicação da norma brasileira de desempenho de edificações.

O LACTEC está aperfeiçoando seus laboratórios ou chegou a criar um laboratório exclusivo para reivindicar a condição de ITA?
O LACTEC está ampliando as suas atuais instalações voltadas à construção civil para se tornar uma ITA. No momento, o Instituto realiza grande parte dos ensaios de resistência mecânica e de durabilidade exigidos. Há, porém, necessidade de ampliação, tanto de espaços físicos, quanto de equipamentos, novos e complementares aos existentes, assim como da contratação e treinamento de pessoal. A questão do fogo é bastante específica, pois exige grandes investimentos e apoio de equipe especializada neste tema. O Lactec está em fase de planejamento de novos investimentos para tal e provavelmente um novo conjunto de laboratórios será criado para funcionar como ITA.
Quando deve sair a habilitação e quem autoriza o Lactec a se tornar uma ITA?
O pedido para que o LACTEC seja também uma ITA foi protocolado no Ministério das Cidades, no âmbito do Sistema Nacional de Avaliações Técnicas - SINAT. Mesmo sem ter o escopo completo de ITA, o Instituto pode funcionar como tal, limitando as suas ações enquanto cresce, e mesmo apoiando-se em atividades complementares que outras instituições executem, como por exemplo o SENAI-PR, parceiro de atuação. Há expectativa de que a ITA- LACTEC seja formalizada ainda em 2012, segundo informações do próprio Ministério das Cidades.
Na prática, o que uma certificação como essa vai influenciar nas construções do Sul do país?
Inicialmente, deve ser esclarecido que haverá uma instalação de ITA no LACTEC, após a devida aprovação. Posteriormente, avançaremos para o aspecto certificação, que envolve a participação do Inmetro nos diversos ensaios que a ITA realizará. Com os diversos procedimentos normalizados em curso na ITA, a qualidade de materiais e processos construtivos lá testados será validada. A partir de critérios de desempenho pré-estabelecidos, será possível dizer se tal material ou processo, sob condição de fogo, barulho, calor, intemperismo, carregamento e água apresenta comportamento que pode ser aceito nas edificações residenciais. Isto certamente melhorará a qualidade geral das construções, não somente no Sul, mas em todo o país. Saliente-se ainda que órgãos financiadores da construção habitacional, como a Caixa Econômica Federal, exigirão as certificações das empreiteiras a serem contratadas, via uma ITA.
Uma ITA atende mais construções habitacionais ou influencia também em obras de infraestrutura?
A norma brasileira que basicamente norteia as ações de uma ITA é a de desempenho de edifícios habitacionais até cinco pavimentos, NBR 15575-ABNT, prevista para entrar em vigência em março de 2013. Apesar de se referir a habitações de até cinco pavimentos, existe a expectativa do mercado de que a sua atuação se generalize a todas as edificações. A questão da qualidade na construção civil deverá se espalhar a qualquer tipo de obra num futuro breve, generalizando assim os conceitos ora restritos ao caso habitacional.
No caso das Companhias habitacionais, como a Cohapar, o LACTEC, a partir da habilitação ITA, pode dar que tipo de contribuição para que as construções habitacionais de interesse social melhorem?
Mediante os ensaios e posteriores certificações de materiais e processos construtivos, as empreiteiras da construção civil terão mais segurança na utilização desses materiais e processos nas suas obras, inclusive de conjuntos de habitações de interesse social. Sabe-se que há muitos casos em que a qualidade do produto final é muito aquém da desejada. Com a certificação via ITA haverá uma seleção de esquadrias, telhas, paredes, pisos, portas corta-fogo, revestimentos, juntas, forros e tantos outros itens de uma residência, por exemplo, oferecendo uma opção de produtos testados e certificados aos clientes, e como consequência um melhor desempenho da habitação.
Qual a influência da NBR 15575 (norma de desempenho) na certificação ITA para o LACTEC?
A norma de desempenho é a base para uma ITA. Há uma grande quantidade de normas adicionais, para as mais diversas atividades, materiais e funções, mas o desempenho de uma edificação representa a junção de muitos e diversos materiais, agregados através de um processo construtivo, e que devem ter um comportamento adequado. Isto significa qualidade de morar, qualidade de vida. O cumprimento desses requisitos normalizados, portanto, deverá garantir esta qualidade superior de desempenho da habitação para os seus moradores.
Os sistemas construtivos industrializados tendem a ganhar impulso no Sul do país, a partir dessa habilitação ITA?
Estima-se que sim. Uma das maneiras de se melhorar a qualidade de produtos e processos é através da industrialização. Acrescente-se também a questão de custo para o cliente final – o déficit habitacional no Brasil é da ordem de milhões de moradias, e se não se industrializar soluções, barateando-as, não haverá como diminuí-lo ou eventualmente zerá-lo. Sistemas de construção industrializada inovadores, rápidos, mais baratos e de boa qualidade, certificados via ITA, deverão ser a solução para este grande problema nacional. Levando-se em conta o fator escala, produzindo milhares de peças em lugar de centenas, ou mesmo milhões em lugar de milhares, haverá como resolvê-lo.
Com relação à qualificação da mão de obra na construção civil, o que uma habitação dessa deve mudar?
A resposta é a construção industrializada, que venha pronta da fábrica para ser montada no local da obra, certificada. Muda basicamente o conceito, ou seja, interrompe-se o artesanato na construção civil, com mão de obra pouco qualificada e sistemas pouco produtivos e implementa-se a produção em massa, com controle de qualidade, mão de obra especializada, certificação e preços mais baixos. E este artesanato morre? Provavelmente não, porém terá que ser revisto, melhorado e otimizado. E a certificação de produtos e processos não poderá mais ser deixada de lado.
Entrevistado
Ney Augusto Nascimento, diretor de desenvolvimento tecnológico do LACTEC (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento)
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (1972), com mestrado em Engenharia Civil Geotecnia - The University of New México, EUA (1975) e doutorado em Engenharia Civil - The University of New Mexico (1983)
- É professor titular aposentado da Universidade Federal do Paraná - departamento de construção civil do setor de tecnologia
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em fundações e escavações, atuando principalmente nos seguintes temas: taludes, fundações, reforço de solos, ensaios geotécnicos laboratoriais, ensino de engenharia
- Entrou no LACTEC como representante da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e atualmente ocupa o cargo de diretor de desenvolvimento tecnológico do LACTEC
Contato: ney.nascimento@lactec.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
MCMV precisa ser mais ágil para atingir a classe média
Principal programa habitacional do país perde competitividade ao avançar lentamente suas curvas de limite de renda e de valor de imóveis
Por: Altair Santos
Dia 4 de outubro de 2012, o governo federal anunciou mudanças no programa Minha Casa, Minha Vida que, de certa forma, frustraram o mercado imobiliário. Havia a expectativa de que os subsídios para a aquisição da casa própria, que são o diferencial do MCMV, fossem estendidos para famílias com renda superior a R$ 5 mil - atingindo o estrato social definido como classe B. No entanto, através do Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ocorreram apenas reajustes pontuais no programa, mantendo-o limitado a quem tem renda até oito salários mínimos.

Para Flávio Prando, vice-presidente de habitação econômica do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo) ampliar a curva de subsídios é um ajuste pelo qual o Minha Casa, Minha Vida teria de passar. "Precisaria haver uma alteração de limites, seja de renda e de valor dos imóveis, ampliando a curva de subsídios. Essa curva subiu muito pouco e, portanto, ela já não produz o mesmo efeito que produzia em abril de 2009, quando foi lançado o programa", analisa. "Com essas medidas, o MCMV se tornaria um programa de Estado e deixaria de ser um programa de governo", completa.
Ao contrário da análise do especialista, o Conselho Curador do FGTS optou por mudanças tímidas. O valor dos subsídios a fundo perdido para as famílias com renda mensal até R$ 1,6 mil - a faixa mais baixa do programa - foi reajustado de R$ 23 mil para R$ 25 mil. Houve pequenas correções também nas três faixas posteriores contempladas no MCMV. A segunda, que ia de R$ 1.600,01 a R$ 2,325 mil, passa para R$ 2,455; a terceira, de ganhos até R$ 3,1 mil, sobe para R$ 3,275 mil; e o teto da quarta faixa continua em R$ 5 mil. As taxas de juros ao ano permanecem as mesmas, de 5% a 6%, com ligeira redução na faixa mais alta, que cai de 8,16% para 7,16%.
Também houve mudanças nas cinco classificações de municípios e regiões metropolitanas por número de habitantes. O teto de R$ 170 mil, válido para o Distrito Federal e municípios das regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi corrigido para R$ 190 mil. Os municípios com mais de um milhão de habitantes, que tinham teto de financiamento de R$ 150 mil, passam agora para R$ 170 mil. Já os de 250 mil pessoas em diante, de R$ 30 mil para R$ 145 mil. Nos com população acima de 50 mil habitantes, o teto passa de R$ 100 mil para 115 mil. Nos demais municípios, o valor máximo aumenta de R$ 80 mil para R$ 90 mil."São medidas que para o mercado das construtoras não tem nenhum significado", avalia Flávio Prando.
Com os reajustes recentemente anunciados pelo governo federal, o investimento no MCMV vai aumentar em R$ 1,4 bilhão até o final de 2013. Para o mercado, as medidas no máximo irão contemplar a nova classe C, que segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, hoje engloba 104 milhões de brasileiros e tem renda familiar em torno de R$ 4,6 mil por mês. No entender da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) a decisão de não expandir os subsídios do Minha Casa, Minha Vida talvez esteja relacionado ao fato de que as metas estabelecidas para o programa já tenham sido atingidas, ou seja, a marca de dois milhões de unidades já contratadas e de um milhão de unidades entregues.
Confira a resolução 702 do Conselho Curador do FGTS : clique aqui
Entrevistado
Flávio Prando, vice-presidente de habitação econômica do Secovi-SP
Currículo
- Graduado em engenharia de produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1975-1979)
- Desde 1979 é sócio-diretor da Nova Investimentos Imobiliários Ltda., empresa inicialmente voltada para a incorporação e construção de imóveis residenciais e comerciais, tendo a partir de 1986, agregado a atividade de comercialização de imóveis
- Desde 2006 é presidente da Gol Soluções Imobiliárias Ltda., empresa pioneira em atuação segmentada, e focada na comercialização imobiliária de lançamentos residenciais para a classe média e popular
- Atualmente é vice-presidente de habitação econômica do Secovi-SP
Contato: aspress@secovi.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
CB-02 concentra esforços em inovação e normatização
Na gestão de Paulo Eduardo Fonseca de Campos, Comitê Brasileiro de Construção Civil prioriza sistemas industrializados e incentiva a difusão da NBR 15575
Por: Altair Santos
O CB-02 (Comitê Brasileiro de Construção Civil) como define seu novo superintendente, o engenheiro civil Paulo Eduardo Fonseca de Campos, é fruto das transformações do setor ao qual ele está vinculado. Por isso, suas metas devem acompanhar as demandas da indústria da construção civil. Atualmente, elas estão ligadas à geração de normas técnicas e ao incentivo às inovações tecnológicas.

Para o CB-02, a norma de desempenho (NBR 15575) passou a ser prioritária, assim como o incentivo à construção industrializada. Para o comitê, as técnicas inovadoras precisam prevalecer sobre os sistemas convencionais, caso o país queira cumprir metas tanto no plano habitacional quanto no de infraestrutura. É o que Paulo Eduardo Fonseca de Campos, que também é professor da USP (Universidade de São Paulo) revela na entrevista a seguir:
O senhor está há mais de seis meses à frente do CB-02. Nesse período, quais iniciativas o comitê já tomou para buscar cumprir as metas estabelecidas pela sua gestão, que vai até 2015?
A minha gestão está centrada nos seguintes pontos: a modificação do escopo do Comitê Brasileiro de Construção Civil, que passou a se dedicar exclusivamente a normas de projeto e execução. Com isso, estamos atuando sobre questões que são verdadeiramente prioritárias, como a inovação tecnológica. O foco agora está sobre áreas como construção pré-fabricada e construção industrializada. Por isso, reativamos a comissão de estudos de projeto e execução de concreto pré-moldado, além de estarmos concentrados na revisão da NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento, que está em andamento e tem foco na questão do concreto de alto desempenho.
As normas que regem a construção civil têm passado por um período intenso, seja de revisão ou de surgimento de novas, como a norma de desempenho (NBR 15575). O CB-02 espera que essa proatividade na busca da qualidade se intensifique ainda mais?
Na questão específica da qualidade eu posso falar que a NBR 15575 é prioritária para nós. A norma de desempenho de edificações traz um aporte absolutamente fundamental para este momento, pois ela vai representar um divisor de águas em termos daquilo que nós vamos buscar doravante, não só como atuação do CB-02, mas para o próprio mercado e os atores que atuam na indústria da construção civil. Ela traz para nós um conceito que já é vigente na Europa, que é o da normativa exigencial. Por isso, o CB-02, a partir do início do próximo ano, estará empenhado em desenvolver a difusão desta norma em todo o território nacional. Teremos telecentros para replicar o conhecimento sobre a norma de maneira presencial e também através de teleconferências por todo o país.
Parece ser interesse do CB-02 também colocar em discussão uma norma sobre reformas de edifícios?
Essa é uma questão circunstancial, sobre a qual o Comitê Brasileiro de Construção Civil tem que dar resposta. Por quê? Porque tivemos um desastre que ocorreu no Rio de Janeiro, em janeiro de 2012, e que promoveu uma movimentação muito grande por parte dos poderes legislativos, seja a nível municipal, estadual ou federal, no sentido da elaboração de leis vinculadas a reformas e inspeções periódicas. O problema é que essas leis nem sempre tem sido elaboradas dentro do melhor critério técnico, pois elas têm ficado restritas às assessorias parlamentares que orienta a elaboração de projetos de lei. O que queremos, com a criação de uma norma a curto prazo, é antecipar e inverter esse processo, ou seja, a norma técnica deve servir de subsídio para os projetos de lei. O objetivo é ter uma norma que passe a governar as intervenções feitas em edifícios, e que seja uma resposta da construção civil à sociedade frente a estes fatos lamentáveis que ocorreram no Rio de Janeiro.
Hoje há um debate intenso sobre a industrialização de sistemas construtivos. Como o CB-02 vê isso?
Isso vem de encontro à inovação. A industrialização voltou com força, por que efetivamente nós temos hoje um programa real e não mais um programa potencial. Há demanda gerada pelos megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, cujas obras têm que ser tocadas rapidamente e dentro de um padrão de qualidade, de custo e de prazo, que faz com que a alternativa da construção industrializada seja quase mandatária. Fora isso, temos um programa habitacional de três milhões de unidades e não é possível enxergar um desafio desta magnitude pensando em sistemas convencionais.
O governo tem o PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat) e o SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas) que validam produtos e sistemas inovadores na construção civil. O CB-02 espera ter uma coparticipação maior junto a esses organismos?
O CB-02, por força da portaria interministerial que criou CTECH (Conselho de Tecnologia para Habitação) que assessora a secretaria nacional de habitação, tem assento no CTECH, assim como tem assento na CNCA (Comissão Nacional de Sistemas de Avaliação de Conformidade) e na Comissão Nacional de Sistemas de Material de Construção. Em todas as comissões nacionais o CB-02 tem assento, com o objetivo de levar as posições do setor para o próprio governo, a Caixa Econômica Federal, o Inmetro, que está vinculado ao Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, e também a organizações empresariais como a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Então, o CB-02 participa de todas discussões, inclusive as que ocorrem dentro do PBQP-H.
O senhor atua também no ambiente acadêmico. É intenção colocar o CB-02 para servir como um intermediador entre o que se pesquisa nas universidades e o mercado?
O fato de eu, como professor docente e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) ter sido eleito pelo setor da construção civil, pelas entidades e pelos associados que estão ligados à ABNT, é uma sinalização neste sentido. O objetivo é que o meio acadêmico volte de fato a ter uma participação expressiva dentro da elaboração de normas técnicas, principalmente.
A construção civil brasileira hoje tem qualidade equiparada às melhores construções civis do mundo?
A gente caminha para isso. Hoje o gap, a diferença que existia no passado para que uma inovação fosse incorporada na nossa indústria, diminuiu muito. Atualmente, há acesso quase simultâneo aos centros mais avançados. Nós estamos numa fase de estruturação. Em função de um programa mais consistente na área de habitação, finalmente alcançamos um desenvolvimento sustentável no setor de construção industrializada. Mas é claro que ainda estamos correndo atrás do prejuízo, no sentido de desenvolver e incorporar inovações e entender que nem sempre as inovações que servem para o hemisfério norte podem ser transplantada para cá sem adaptações.
O senhor diria que o Brasil tem que evoluir mais no setor de construção habitacional, haja vista que na parte de infraestrutura o país detém um know-how interessante?
Eu não tenho dúvida. Aquilo que a gente hoje trata como sistema inovador, como sistema a base de painéis de concreto, por exemplo, foi uma solução desenvolvida no pós-guerra e que já foi introduzido no Brasil em 1975. Como é possível um sistema que já tem no Brasil há quase 40 anos ser considerado inovador? Falta um estímulo maior ao desenvolvimento de produtos voltados para a construção industrializada habitacional. Por isso temos que, na universidade, preparar estes profissionais.
Entrevistado
Paulo Eduardo Fonseca de Campos, superintendente do CB-02 (Comitê Brasileiro de Construção Civil)
Currículo
- Arquiteto urbanista graduado pela PUC de Campinas (1981)
- Mestre em Engenharia Civil pela EPUSP (1989)
- Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP (2002)
- Professor doutor da FAUUSP e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma instituição, onde coordena o Grupo de Pesquisa DIGI-FAB - Tecnologias digitais de fabricação aplicadas à produção do Design e Arquitetura Contemporâneos, o qual se dedica à pesquisa sobre Projeto de Produto, com destaque para temas vinculados à arquitetura e indústria e ao design
- Coordena atualmente o Curso de Design da FAUUSP
- É coordenador internacional do Projeto de Pesquisa "MicroCAD" do Programa Ibero-americano de Cooperação CYTED e membro correspondente do Grupo de Trabalho sobre Pré-fabricação da FIB-Fédération Internationale du Béton. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em sistemas construtivos pré-fabricados, atuando principalmente nos seguintes temas: pré-fabricados, habitação, concreto de alto desempenho, urbanização e saneamento
- Desde março de 2012 assumiu a superintendência do CB-02
Contato: pfonseca@usp.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construção civil descobre o alpinismo industrial
Obras que exigem trabalho em altitudes acima de 40 metros podem economizar tempo e dinheiro trocando os andaimes pelos escaladores
Por: Altair Santos
Segundo a NR 18, norma que trata da segurança de andaimes e plataformas de trabalho, a altura máxima para o uso de equipamentos fachadeiros não deve exceder 40 metros. O recomendável é que obras que requeiram instalações ou inspeções acima dessa altitude utilizem alternativas como o alpinismo industrial. No Brasil, a técnica de trabalho com uso de cordas tem conseguido expandir o mercado, ganhando espaço entre grandes obras, como usinas eólicas, hidrelétricas, prédios com altura acima de 50 metros e estádios de futebol.

Além de superar obstáculos que tornam-se mais difíceis para os andaimes, o alpinismo industrial tem a vantagem de ter um custo menor. No caso dos andaimes fachadeiros - os mais utilizados na construção civil -, o preço médio é de R$ 18,00 por instalação e desmontagem do metro quadrado e a diária, dependendo da região do país, pode variar de R$ 180,00 a R$ 350,00. Há ainda o valor do frete, que também varia de região para região e pode chegar a R$ 30,00 por peça.
No caso do alpinismo industrial, o pacote fechado (montagem do equipamento e custo do profissional) tem custo médio de R$ 150 por dia. "Para a obra, a diferença de custo é enorme. Além disso, tem toda a vantagem da logística”, explica o instrutor Alessandro Carvalho, da empresa Acesso Vertical, que ministra cursos para quem quer atuar neste setor. Para formar alpinistas, as empresas que atuam no setor precisam ter a certificação IRATA (sigla em inglês de Associação Comercial de Alpinismo Industrial. O trabalho industrial de acesso por corda foi desenvolvido nos últimos 20 anos pelo IRATA Internacional, única associação ligada ao trabalho em altura no mundo.
Com a industrialização da construção civil, e o uso crescente de estruturas pré-fabricadas, o alpinismo industrial passa a ser requisitado tanto para empreendimentos habitacionais quanto para obras de infraestrutura, como pontes e viadutos. "Há um mercado crescente também na área de inspeções e instalação de fachadas. Tanto é que engenheiros civis têm procurado o curso", diz o especialista, lembrando que as obras voltadas para a Copa do Mundo de 2014 abriram mais um espaço: a instalação de coberturas nos estádios.

Atualmente, 20 profissionais atuam no Mineirão, em Belo Horizonte/MG, com a incumbência de montar a membrana autolimpante sobre a estrutura metálica construída a partir da marquise de concreto armado do estádio. O material, feito de dióxido de titânio, permite passagem de luz natural e oferece resistência contra intempéries. Cada membrana tem 2,2 metros de largura por 6 metros de comprimento. No total, são 13 mil m² de material, com peso totalizando 17 mil quilos. Os alpinistas industriais manejam o material a partir das passarelas laterais montadas na cobertura metálica.
O grupo trabalha a uma altura de 40 metros. Entre os equipamentos de segurança estão capacete, cinto de segurança, cordas, talabartes, trava-quedas, freios, descensores, conjunto de ascensores (peitoral e punho) e mosquetões. O conjunto completo de segurança chega a pesar 12 quilos. No caso do Mineirão, todos os profissionais têm a qualificação máxima da IRATA, que vai de 1 a 3. Significa que possuem mais de mil horas de treinamento. "O escalador industrial não precisa ser um herói na corda, mas precisa dominar as técnicas e entender os conceitos de segurança", alerta Alessandro Carvalho.
Veja vídeo de alpinistas industriais atuando no Mineirão: clique aqui
Entrevistado
Alessandro Carvalho, treinador e instrutor de alpinismo industrial
Currículo
Graduado em educação física, tem certificação IRATA para ser instrutor e diversos cursos técnicos
Contato: carvalhon3@hotmail.com
Créditos fotos: Divulgação / Sylvio Coutinho/Agência Minas
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Brasil avança no combate à patologia das construções
Associação criada há sete anos tem papel relevante no aperfeiçoamento das obras, mas alerta que existe espaço para mais conquistas
Por: Altair Santos
No início de 2014, em Foz do Iguaçu/PR, a ALCONPAT Brasil realiza o 1° Congresso Brasileiro de Patologia. O evento será uma espécie de consagração da associação criada em 2005, e que nasceu para mapear as manifestações patológicas que ocorrem na construção civil nacional. Com 150 engenheiros civis filiados, o organismo tem como premissas os estudos que levem ao controle de qualidade das obras e ao avanço tecnológico de sistemas construtivos. "O papel mais importante que a ALCONPAT Brasil desempenha é disseminar conhecimentos na área de patologia das construções e ajudar a gerar construções melhores", explica Bernardo Fonseca Tutikian, que preside a associação.

Ligada à ALCONPAT Internacional, que está presente em 18 países, a Associação Brasileira de Patologia das Construções avalia que em sete anos as construções nacionais melhoraram sensívelmente, mas ainda há espaço para agregar mais qualidade. "Os usuários estão mais exigentes, a sociedade mais atenta, as empresas mais preocupadas em construir melhor e os profissionais mais interessados em realizar trabalhos com mais qualidade. Tudo isso aprimorou as construções, mas ainda há um grande espaço para crescer", avalia Tutikian, para quem as ações do país em revisar e criar novas normas que agreguem qualidade às obras têm contribuído para os avanços na construção civil nacional.
O presidente da ALCONPAT Brasil cita que a NBR 15575 (Norma de Desempenho) a NBR 5674 (Norma de Manutenção) e a NBR 14037 (Norma do Manual de Uso, Operação e Manutenção) são fundamentais para as conquistas já obtidas. "Estas três normas prescrevem que a edificação deve ser projetada e construída pensando em um desempenho razoável para o usuário, que deve realizar as manutenções previstas e contratar um profissional para elaborar e implantar um sistema de manutenção no prédio. Desta forma, os imóveis apresentarão menos problemas, os custos de operação serão menores e a vida útil do bem aumenta, o que será benéfico para toda a sociedade", cita.
Outra conquista citada pela ALCONPAT Brasil é que hoje a engenharia sabe quais são as manifestações patológicas mais comuns em cada região do país. Em cidades litorâneas, destaca-se a corrosão das barras de aço dentro do concreto armado. Em regiões secas e quentes, como o Centro-Oeste, observa-se uma grande incidência de fissuras por retração dos materiais cimentícios. Em cidades mais populosas e industriais, como São Paulo/SP, a carbonatação é o problema mais sério. "Ou seja, as características locais, bem como a cultura de manutenção das edificações, são determinantes para o surgimento de manifestações patológicas. Mas tudo depende da qualidade do projeto, da construção, do uso e da manutenção. Edificações que realizarem melhor essas etapas terão incidência menor de patologia", descreve Bernardo Fonseca Tutikian.
Quanto aos sistemas construtivos, a ALCONPAT Brasil detecta que há mais investimentos em industrialização de processos, seja para compensar a escassez de mão de obra, seja para reduzir desperdícios de materiais ou para ganhar tempo nas construções. "É a única forma de atender a demanda do mercado. Porém, trabalhar com pré-fabricados exige projetistas qualificados e especializados nesta área. O projeto é peça-chave para o sucesso do sistema. Mas com a demanda de bons profissionais nesta área, percebe-se que as indústrias de pré-fabricados ganharão cada vez mais mercado e estarão cada vez mais presentes nas obras", estima o presidente da AlCONPAT Brasil.
Entrevistado
Bernardo Fonseca Tutikian, presidente da Associação Brasileira de Patologia das Construções (ALCONPAT Brasil)
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2002, com mestrado e doutorado em engenharia, ambos os títulos obtidos na UFRGS, em 2004 e 2007, respectivamente
- Possui especialização em materiais de construção, especificamente em dosagem de concretos autoadensáveis (CAA), sendo autor do livro Concreto Autoadensável, publicado pela PINI em 2008
- Atualmente é coordenador do curso de engenharia civil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e professor de tecnologias construtivas, materiais de construção e patologia. Também coordena o curso de especialização em construção civil na Unisinos
- Coordena cursos de extensão, realiza serviços de consultoria técnica e ministra cursos relacionados com os temas desempenho, durabilidade, patologia, dosagem de concretos e análise de ciclo de vida de materiais e componentes
- Preside a Associação Brasileira de Patologia das Construções (ALCONPAT Brasil)
Contatos: bftutikian@unisinos.br / btutikian@terra.com.br / http://alconpat.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Pacote logístico abre portas para salto tecnológico
Concessões de rodovias e ferrovias são oportunidade para engenharia nacional qualificar mão de obra e inovar através de novos materiais e sistemas construtivos
Por: Altair Santos
Lançado em agosto de 2012, o Programa de Investimentos em Logística é uma nova tentativa do governo federal de dar qualidade às malhas rodoviárias e ferroviárias do país. Desta vez, 7,5 mil quilômetros de estradas e 10 mil quilômetros de linhas de ferro serão concedidas à iniciativa privada para que consigam agregar inovação e tecnologia. O investimento total está estimado em R$ 133 bilhões, com previsão de R$ 79,5 bilhões nos próximos cinco anos.

Serão 9 trechos de rodovias e 12 de ferrovias. No caso das estradas, 5,7 mil quilômetros terão de ser duplicados. No entender de organismos como ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) ABCIC (Associação Brasileira da Construção industrializada do Concreto) e ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) é a melhor oportunidade dada ao Brasil para que consiga uma infraestrutura rodoviária e ferroviária compatível com o que há de melhor nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo.
Para o engenheiro civil Júlio Timerman - coordenador do comitê técnico de pontes e grandes estruturas da ABECE - trata-se de uma oportunidade para a engenharia nacional também evoluir nos quesitos construção de estradas e ferrovias. "A engenharia nacional deve estar preparada para fazer frente a esta demanda, qualificando a mão de obra e estudando alternativas de materiais e soluções construtivas a serem aplicadas neste processo", avalia.
A aposta é que os sistemas pré-fabricados e pré-moldados in loco, principalmente para pontes e viadutos, assim como o pavimento em concreto ganhem espaço significativo dentro do Programa de Investimentos em Logística. "Certamente, será uma chance única de se aplicar novas tecnologias e inovações para viabilizar as obras previstas, sejam em função dos prazos exíguos assim como na destinação racional dos recursos disponíveis", cita Timerman.
No caso das rodovias, o especialista indica que o estado de São Paulo tem estradas construídas com alta tecnologia que podem servir de modelo ao projeto federal. A implantação do Rodoanel, a pista descendente da Imigrantes, além de outras concessões rodoviárias no estado, são exemplos de procedimentos construtivos avançados", diz, entendendo que o grande desafio para a engenharia nacional esteja nas ferrovias. "O Brasil tem uma matriz de transporte eminentemente rodoviária. Por isso, os investimentos e os projetos ferroviários serão muito mais desafiadores. Os sistemas de trens de alta velocidade deverão ser considerados como alternativas interessantes para este processo", completa.
Veja o que prevê o Programa de Investimentos em Logística: clique aqui.
Confira os trechos rodoviários e ferroviários que serão entregues à iniciativa privada:
Entrevistado
Ministérios dos Transportes (via assessoria de imprensa) e Júlio Timernan, coordenador do comitê técnico de pontes e grandes estruturas da ABECE
Currículo
- Júlio Timerman é engenheiro civil graduado pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo)
- Ocupa o cargo de delegado regional da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) em São Paulo e membro do conselho deliberativo.
- É coordenador do Comitê Técnico de Pontes e Grandes Estruturas constituído pela ABECE em 2009 para propor ações para melhoria da qualidade e competitividade dos projetos e serviços ligados à construção de pontes e grandes estruturas.
- Também é vice-presidente do IABSE (International Association for Bridge and Structural Engineering) e do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto).
- Consultor na área de Projetos de Reabilitação e Recuperação de Estruturas para diversas concessionárias de rodovias, com intervenções em mais de 100 mil metros quadrados de tabuleiros.
- Diretor da Engeti Consultoria e Engenharia.
Contato: abece@abece.com.br
Créditos foto: Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Revisão da NBR 6118 abrange concretos de alta resistência
Segundo a engenheira Suely Bueno, que coordena a comissão da ABNT responsável pela norma, reavaliação abre espaço para novas tecnologias em torno do material
Por: Altair Santos
Em processo de revisão, a norma NBR 6118 Projeto de estruturas de concreto - Procedimento vai permitir que concretos de alta resistência, de 50 MPa a 90 MPa, sejam usados com maior segurança nas obras dentro do país. A expectativa é que ela também propicie avanços tecnológicos ao material, segundo avalia a engenheira civil Suely Bacchereti Bueno, que coordena a comissão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) responsável pela revisão da NBR 6118. Na entrevista a seguir, ela detalha o que vai mudar em relação à edição de 2003 e quando a norma deverá entrar em vigor:

A edição 2003 da NBR 6118 fixava a resistência entre 20 MPa e 50 MPa como condição básica exigível para projetos de estruturas de concreto. Com a revisão em curso, serão abrangidos concretos de alta resistência?
A principal mudança na NBR 6118 é a introdução das classes de concreto com resistência acima de 50 MPa. Agora chegaremos até 90 MPa. Já estávamos utilizando em algumas obras concretos com resistências maiores que 50 MPa, seguindo as recomendações das normas internacionais, e com ótimos resultados. Acreditamos que chegou a hora de introduzir estas novas classes de concreto e assim ampliar a sua utilização.
Projetos de concreto para edificações e pontes serão os mais impactados pela norma revisada?
Não existem grandes impactos nesta revisão proposta. Diferentemente da revisão de 2003, quando nossa norma passou por uma grande reformulação, estamos fazendo apenas ajustes baseados no conhecimento que foi agregado ao longo destes anos. O conceito de revisão das normas é que está mudando. A ideia é que elas estejam em processo contínuo de evolução e que sejam publicadas revisões num intervalo máximo de cinco anos.
Após a etapa da conclusão da revisão, quando ela irá para consulta pública e por quanto tempo deverá ficar nesse estágio?
Ainda não definimos qual será o tempo que vamos indicar à ABNT para consulta pública. Acredito que o prazo não deva ser longo, pois as mudanças não foram grandes e toda a comunidade técnica tem acesso aos textos propostos de forma que nada será uma grande novidade.
A expectativa é que na consulta pública haja muitas mudanças ou a tendência é ela ser aprovada quase que com o texto original?
Nós gostaríamos que todos estivessem participando e tomando conhecimento do que está sendo proposto ao longo do processo. Estamos sempre fazendo ampla divulgação das reuniões e abertos para sugestões através do Livelink da ABNT. Qualquer pessoa pode se cadastrar no sistema, ter conhecimento ao texto que é atualizado a cada reunião da comissão e enviar sugestões utilizando o formulário que está disponível no site. Todas as sugestões serão analisadas pela comissão e receberão um retorno nosso quanto à sua aprovação, rejeição ou se esta sugestão será arquivada para a próxima revisão. Com este processo de trabalho, acredito que se as pessoas se manifestarem, dentro dos prazos, não teremos tantas questões durante o período de consulta pública. Com esta perspectiva de um processo de revisão constante tudo fica mais confortável.
Já há uma data de quando a norma passará a entrar em vigor?
Nossa norma foi aprovada pela ISO (International Organization for Standardization) em 2007, passando a ser uma norma reconhecida internacionalmente. Como signatários da ISO, temos o compromisso de atualizar ou confirmar nossos documentos a cada cinco anos. Desta forma, nosso objetivo é o fechamento do texto em 2012 e a entrega para a ABNT, estourando um pouquinho nosso prazo, mas já com um resultado para a próxima reunião da ISO que deve acontecer em junho de 2013.
Quantos especialistas estão envolvidos na revisão da norma?
Esta proposta de revisão começou com uma coleta de sugestões que foi lançada pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural). Recebemos inúmeras sugestões de todo o país. Foi então desenvolvido um trabalho de avaliação destas sugestões dentro do CT-301 do IBRACON em parceria com a ABECE. Tivemos a colaboração, não só dos membros do Comitê, mas também de inúmeros profissionais e pesquisadores que nos enviaram trabalhos, sugestões e que também avaliaram as propostas. Hoje temos um grupo de aproximadamente 20 especialistas que está participando mais ativamente das reuniões. Mas como eu disse antes, todos podem participar nesta revisão e nas próximas. Basta abrir mão de algumas horas, que na maioria dos casos, é tirada do nosso lazer.
Por que a NBR 6118/2003 é também chamada de norma-mãe (ou NB-01)?
Uma norma é chamada de norma-mãe quando ela define diretrizes e conceitos que serão utilizados por várias outras normas. Por exemplo, as normas de estruturas pré-moldadas, paredes de concreto, lajes alveolares não vão definir como se dimensiona uma seção de concreto armado ou protendido, pois isto está definido na NBR 6118. É que vai fornecer diretrizes específicas para os elementos que estão em foco nas outras normas. Quanto à numeração NB-1, acredito que seja porque foi a primeira norma a receber uma numeração pela ABNT. Esta história da criação da ABNT pode ser conferida num documento disponível na internet com o título de ABNT 65 anos. Ele traz todo o relato das primeiras reuniões que formaram a ABNT e a oficialização da NB-1, em 28 de setembro de 1940.
A revisão da NBR 6118/2003 abre espaço para avanços na tecnologia do concreto?
Sem sombra de dúvida. As resistências características do concreto vão crescer com certeza, incluindo um melhor detalhamento dos tipos de agregados relacionados com o Módulo de Deformação do Concreto, a influência das diversas características climáticas neste nosso país continental e uma melhor definição dos graus de agressividade, tudo isso com os devidos mapeamentos. Enfim, toda a evolução das pesquisas que estão sendo realizadas no Brasil e no mundo aplicadas ao dimensionamento das peças serão agregadas com a revisão da norma. Temos um enorme campo de desenvolvimento.
Entrevistada
Suely Bacchereti Bueno, coordenadora da comissão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) responsável pela revisão da NBR 6118
Currículo
- Suely Bacchereti Bueno é graduada em engenharia civil pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Iniciou seu desenvolvimento na área de estrutura, em 1973 , na empresa Roberto Rossi Zuccolo Engenharia Civil e Estrutural Ltda., atuando na área de edificações e obras de arte
- Em 1980, passou a integrar o quadro de engenheiros do Escritório Técnico Julio Kassoy e Mário Franco Engenheiros Civis Ltda. onde, a partir de 1986, passa a integrar esta sociedade, desenvolvendo inúmeros projetos de edifícios Altos e obras especiais
- É vice-presidente de relacionamento da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e coordenadora da CE 02:124.15 – Comissão de Estudo de Estruturas de Concreto – Projeto e Execução, constituída pela ABNT para revisar a NBR 6118 Projeto de estruturas de concreto – Procedimento
Contato: abece@abece.com.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Nova regra da poupança alavanca crédito imobiliário
Relação PIB/financiamento habitacional subiu de 1,72% em 2008 para 5,62% em 2012, segundo estudos revelados pela Abecip
Por: Altair Santos
Quando houve alteração no cálculo da poupança, o mercado ficou receoso de que o volume de depósitos despencasse e comprometesse o financiamento habitacional. Passados alguns meses, ocorre exatamente o contrário. A captação da poupança tem aumentado mês a mês. Em setembro de 2012, os depósitos superaram os saques em R$ 5,951 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). Os recursos levaram a um recorde histórico. No acumulado dos 12 meses, a captação foi de R$ 33,186 bilhões. Isso permitiu que outra marca fosse superada: a liberação de 8,25 bilhões para a aquisição e construção de imóveis em um só mês.

Por causa dessa injeção de dinheiro nos meses recentes, atualmente há a disponibilidade de R$ 80,2 bilhões para financiamentos imobiliários através do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). A generosidade de recursos possibilitou que, desde que houve mudança nas regras da caderneta de poupança, os financiamentos de imóveis no país crescessem 31%, de acordo com acompanhamento da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). "Só este ano foram contratados R$ 51,7 bilhões, superando ligeiramente o nível de contratações do mesmo período de 2011, que foi de R$ 51,5 bilhões", destaca o economista José Pereira Gonçalves, ex-superintendente da Abecip.
O especialista aponta que, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) o crédito imobiliário no Brasil vem apresentando crescimento sustentável desde 2008. "Há quatro anos, essa relação era de apenas 1,72% do PIB. No começo do segundo semestre de 2012, chegou a 5,62%, ou seja, em menos de cinco anos a participação do crédito imobiliário no PIB foi multiplicada por 3,26. Nesse período, 1,8 milhão de famílias tiveram condições de adquirir moradia própria. Apesar desse extraordinário desempenho, as expectativas continuam muito positivas, indicando que será possível atingir 10% do PIB por volta de 2015", estima José Pereira Gonçalves.
O bom momento do setor se revela também nas baixas taxas de inadimplência. Dados verificados pela Abecip mostram que o número de mutuários com mais de três prestações em atraso situa-se abaixo de 2%. Se considerados apenas os financiamentos concedidos após 1997, quando passou a ser utilizada a alienação fiduciária como mecanismo de garantia, esse percentual é inferior a 1,5%. "A inadimplência não é um aspecto preocupante. Isso, no entanto, não quer dizer que as instituições financeiras poderão afrouxar as regras de concessão de crédito. O crédito continuará sendo concedido observando-se o máximo de rigor possível. Esse aspecto, inclusive, aliado à estabilidade econômica, é um dos responsáveis pelos baixos níveis de inadimplência. Vale ainda destacar que baixa inadimplência representa maior volume de recursos que pode ser reemprestado", destaca o economista, convicto de que o sistema de financiamento imobiliário no Brasil só ganhou com as novas regras da caderneta de poupança.
Para conferir o recente boletim imobiliário da Abecip, clique aqui.
Entrevistado
José Pereira Gonçalves, economista e ex-superintendente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança)
Currículo
- Economista graduado pela Universidade Federal Fluminense, com especialização na Fundação Getúlio Vargas
- Já atuou como superintendente na Abecip e chefe de departamento na Larcky - Sociedade de Crédito Imobiliário
- Atualmente é diretor-presidente na Nova Sec (Nova Securitização S/A)
Contato: pereira@novasec.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Processos sucessórios requerem planejamento
Pequenas e médias empresas estão mais suscetíveis a procedimentos mal conduzidos, e que podem resultar até na falência da Companhia
Por: Altair Santos
A sucessão nas empresas é um fenômeno que requer paciência. Normalmente, quando o dono do negócio decide transferir o comando, o processo, se feito criteriosamente, pode durar até uma década. Sobretudo se a Companhia em questão for familiar. Por isso, planejamento é a palavra-chave. Caso contrário, a sucessão pode causar disputas judiciais e até comprometer a vida da empresa. "Em geral, processos planejados são mais tranquilos. Os mais complicados são quando a sucessão ocorre por morte", alerta a consultora Cláudia Tondo, autora dos livros Desenvolvendo a Empresa Familiar e a Família Empresária e Protocolos Familiares e Acordos de Acionistas: ferramentas para a continuidade da Empresa Familiar.

A especialista destaca que os processos sucessórios exigem mais cuidados quando as corporações são familiares e com perfil de pequena e média empresa. "Normalmente, nas empresas familiares há questões emocionais muito fortes envolvidas. No caso das pequenas e médias empresas, além deste ingrediente, pode ocorrer o caso de não haver sucessores diretos. Neste caso, o recomendável é que a companhia busque a fusão ou a venda, caso contrário ela pode vir a morrer ou não ter um processo sucessório adequado", ressalta, destacando que promover esse modelo de governança é sempre mais complicado para a primeira sucessão. "Por isso, independentemente do setor de atuação da empresa, o importante é que as famílias estejam atentas e preparadas para cuidar deste assunto", completa.
Empresas que cuidam dos processos sucessórios com antecedência e transparência conseguem ganhos de produtividade e lucratividade. É o que ficou claro em um dos estudos mais completos já realizados sobre o tema. No Canadá, as professoras Stéphanie Pontet, Carsten Wrosch, Marylene Gagne, todas ligadas às áreas de administração, negócios e recursos humanos, pesquisaram 100 empresas familiares canadenses e chegaram à conclusão que quanto mais desmistificada e planejada for a sucessão menos a empresa irá sentir o período transitório. Para isso, diz a pesquisa canadense, o processo precisa envolver mais pessoas que apenas o sucessor e o sucedido.
A participação dos stakeholders (demais gerentes, parentes, empregados, fornecedores e clientes) é importante, principalmente, para balizar o processo sucessório e impedir que a empresa passe por situações de dupla liderança e potenciais conflitos durante a troca de sucessores. O grau de aceitação dos stakeholders também é fundamental para confirmar se o procedimento está adequado às exigências da empresa. "A sucessão em uma empresa familiar raramente é um evento isolado. Pelo contrário, é um processo que se desenrola por muitos anos. Começa, normalmente, com o planejamento e estabelecimento de regras, avança com o fomento e desenvolvimento de potenciais sucessores, continua com a escolha do sucessor e é finalizada com a transição completa de poder e saída do sucedido", finaliza o estudo canadense.
Entrevistada
Cláudia Tondo, consultora especializada em processos sucessórios em empresas familiares
Currículo
- Possui graduação em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1989), mestrado em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1993) e doutorado em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1999) com doutorado sanduiche na HEC-Montreal (1998-1999)
- Atua como consultora em empresas familiares e em famílias empresárias desde 1993
- É associada ao Family Firm Institute (FFI) e Family Business Network (FBN) e ao Membro do conselho de consultores do FBN - Brasil
- Está vinculada ao Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e é membro do conselho de consultores do FBN - Brasil
- Associada e professora do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
- Organizadora e autora dos livros Desenvolvendo a Empresa Familiar e Família Empresária e Protocolos Familiares e Acordos de Acionistas: ferramentas para a continuidade da Empresa Familiar (2009)
- Sócia da Tondo Consultoria
Contato: claudia.tondo@tondoconsultoria.com.br
Créditos foto: Divulgação
