CB-02 concentra esforços em inovação e normatização
Na gestão de Paulo Eduardo Fonseca de Campos, Comitê Brasileiro de Construção Civil prioriza sistemas industrializados e incentiva a difusão da NBR 15575.
Na gestão de Paulo Eduardo Fonseca de Campos, Comitê Brasileiro de Construção Civil prioriza sistemas industrializados e incentiva a difusão da NBR 15575
Por: Altair Santos
O CB-02 (Comitê Brasileiro de Construção Civil) como define seu novo superintendente, o engenheiro civil Paulo Eduardo Fonseca de Campos, é fruto das transformações do setor ao qual ele está vinculado. Por isso, suas metas devem acompanhar as demandas da indústria da construção civil. Atualmente, elas estão ligadas à geração de normas técnicas e ao incentivo às inovações tecnológicas.
Para o CB-02, a norma de desempenho (NBR 15575) passou a ser prioritária, assim como o incentivo à construção industrializada. Para o comitê, as técnicas inovadoras precisam prevalecer sobre os sistemas convencionais, caso o país queira cumprir metas tanto no plano habitacional quanto no de infraestrutura. É o que Paulo Eduardo Fonseca de Campos, que também é professor da USP (Universidade de São Paulo) revela na entrevista a seguir:
O senhor está há mais de seis meses à frente do CB-02. Nesse período, quais iniciativas o comitê já tomou para buscar cumprir as metas estabelecidas pela sua gestão, que vai até 2015?
A minha gestão está centrada nos seguintes pontos: a modificação do escopo do Comitê Brasileiro de Construção Civil, que passou a se dedicar exclusivamente a normas de projeto e execução. Com isso, estamos atuando sobre questões que são verdadeiramente prioritárias, como a inovação tecnológica. O foco agora está sobre áreas como construção pré-fabricada e construção industrializada. Por isso, reativamos a comissão de estudos de projeto e execução de concreto pré-moldado, além de estarmos concentrados na revisão da NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento, que está em andamento e tem foco na questão do concreto de alto desempenho.
As normas que regem a construção civil têm passado por um período intenso, seja de revisão ou de surgimento de novas, como a norma de desempenho (NBR 15575). O CB-02 espera que essa proatividade na busca da qualidade se intensifique ainda mais?
Na questão específica da qualidade eu posso falar que a NBR 15575 é prioritária para nós. A norma de desempenho de edificações traz um aporte absolutamente fundamental para este momento, pois ela vai representar um divisor de águas em termos daquilo que nós vamos buscar doravante, não só como atuação do CB-02, mas para o próprio mercado e os atores que atuam na indústria da construção civil. Ela traz para nós um conceito que já é vigente na Europa, que é o da normativa exigencial. Por isso, o CB-02, a partir do início do próximo ano, estará empenhado em desenvolver a difusão desta norma em todo o território nacional. Teremos telecentros para replicar o conhecimento sobre a norma de maneira presencial e também através de teleconferências por todo o país.
Parece ser interesse do CB-02 também colocar em discussão uma norma sobre reformas de edifícios?
Essa é uma questão circunstancial, sobre a qual o Comitê Brasileiro de Construção Civil tem que dar resposta. Por quê? Porque tivemos um desastre que ocorreu no Rio de Janeiro, em janeiro de 2012, e que promoveu uma movimentação muito grande por parte dos poderes legislativos, seja a nível municipal, estadual ou federal, no sentido da elaboração de leis vinculadas a reformas e inspeções periódicas. O problema é que essas leis nem sempre tem sido elaboradas dentro do melhor critério técnico, pois elas têm ficado restritas às assessorias parlamentares que orienta a elaboração de projetos de lei. O que queremos, com a criação de uma norma a curto prazo, é antecipar e inverter esse processo, ou seja, a norma técnica deve servir de subsídio para os projetos de lei. O objetivo é ter uma norma que passe a governar as intervenções feitas em edifícios, e que seja uma resposta da construção civil à sociedade frente a estes fatos lamentáveis que ocorreram no Rio de Janeiro.
Hoje há um debate intenso sobre a industrialização de sistemas construtivos. Como o CB-02 vê isso?
Isso vem de encontro à inovação. A industrialização voltou com força, por que efetivamente nós temos hoje um programa real e não mais um programa potencial. Há demanda gerada pelos megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, cujas obras têm que ser tocadas rapidamente e dentro de um padrão de qualidade, de custo e de prazo, que faz com que a alternativa da construção industrializada seja quase mandatária. Fora isso, temos um programa habitacional de três milhões de unidades e não é possível enxergar um desafio desta magnitude pensando em sistemas convencionais.
O governo tem o PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat) e o SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas) que validam produtos e sistemas inovadores na construção civil. O CB-02 espera ter uma coparticipação maior junto a esses organismos?
O CB-02, por força da portaria interministerial que criou CTECH (Conselho de Tecnologia para Habitação) que assessora a secretaria nacional de habitação, tem assento no CTECH, assim como tem assento na CNCA (Comissão Nacional de Sistemas de Avaliação de Conformidade) e na Comissão Nacional de Sistemas de Material de Construção. Em todas as comissões nacionais o CB-02 tem assento, com o objetivo de levar as posições do setor para o próprio governo, a Caixa Econômica Federal, o Inmetro, que está vinculado ao Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, e também a organizações empresariais como a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Então, o CB-02 participa de todas discussões, inclusive as que ocorrem dentro do PBQP-H.
O senhor atua também no ambiente acadêmico. É intenção colocar o CB-02 para servir como um intermediador entre o que se pesquisa nas universidades e o mercado?
O fato de eu, como professor docente e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) ter sido eleito pelo setor da construção civil, pelas entidades e pelos associados que estão ligados à ABNT, é uma sinalização neste sentido. O objetivo é que o meio acadêmico volte de fato a ter uma participação expressiva dentro da elaboração de normas técnicas, principalmente.
A construção civil brasileira hoje tem qualidade equiparada às melhores construções civis do mundo?
A gente caminha para isso. Hoje o gap, a diferença que existia no passado para que uma inovação fosse incorporada na nossa indústria, diminuiu muito. Atualmente, há acesso quase simultâneo aos centros mais avançados. Nós estamos numa fase de estruturação. Em função de um programa mais consistente na área de habitação, finalmente alcançamos um desenvolvimento sustentável no setor de construção industrializada. Mas é claro que ainda estamos correndo atrás do prejuízo, no sentido de desenvolver e incorporar inovações e entender que nem sempre as inovações que servem para o hemisfério norte podem ser transplantada para cá sem adaptações.
O senhor diria que o Brasil tem que evoluir mais no setor de construção habitacional, haja vista que na parte de infraestrutura o país detém um know-how interessante?
Eu não tenho dúvida. Aquilo que a gente hoje trata como sistema inovador, como sistema a base de painéis de concreto, por exemplo, foi uma solução desenvolvida no pós-guerra e que já foi introduzido no Brasil em 1975. Como é possível um sistema que já tem no Brasil há quase 40 anos ser considerado inovador? Falta um estímulo maior ao desenvolvimento de produtos voltados para a construção industrializada habitacional. Por isso temos que, na universidade, preparar estes profissionais.
Entrevistado
Paulo Eduardo Fonseca de Campos, superintendente do CB-02 (Comitê Brasileiro de Construção Civil)
Currículo
– Arquiteto urbanista graduado pela PUC de Campinas (1981)
– Mestre em Engenharia Civil pela EPUSP (1989)
– Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP (2002)
– Professor doutor da FAUUSP e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma instituição, onde coordena o Grupo de Pesquisa DIGI-FAB – Tecnologias digitais de fabricação aplicadas à produção do Design e Arquitetura Contemporâneos, o qual se dedica à pesquisa sobre Projeto de Produto, com destaque para temas vinculados à arquitetura e indústria e ao design
– Coordena atualmente o Curso de Design da FAUUSP
– É coordenador internacional do Projeto de Pesquisa “MicroCAD” do Programa Ibero-americano de Cooperação CYTED e membro correspondente do Grupo de Trabalho sobre Pré-fabricação da FIB-Fédération Internationale du Béton. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em sistemas construtivos pré-fabricados, atuando principalmente nos seguintes temas: pré-fabricados, habitação, concreto de alto desempenho, urbanização e saneamento
– Desde março de 2012 assumiu a superintendência do CB-02
Contato: pfonseca@usp.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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