Fundos imobiliários atraem pequeno e médio investidor
Em 2012, aplicação foi a que teve maior rentabilidade (35%). Mas é preciso estar atento aos riscos e escolher com cuidado um dos 87 fundos existentes no Brasil
Por: Altair Santos
Os fundos imobiliários negociados na BM&F/Bovespa renderam em 2012, segundo o Ifix - índice que mede o desempenho desta modalidade de investimento, 35,02%. Foi, disparado, o tipo de aplicação que mais retorno trouxe no ano passado. A pujança tem explicação. Com a queda da taxa Selic, os fundos imobiliários passaram a atrair pequenos e médios investidores, que saíram em busca de ganhos maiores para seus recursos. O resultado é que o número de pessoas físicas que recorreram ao investimento quase triplicou em 12 meses. Saiu de 35,2 mil investidores para 96,2 mil.

Há a expectativa de que mais investidores acabem aderindo a esse modelo de aplicação em 2013. O motivo é simples: os fundos imobiliários tendem a se manter mais lucrativos que outros investimentos, mesmo que não rendam tanto quanto no ano passado. Além disso, os analistas econômicos avaliam que a popularização deste tipo de aplicação está apenas começando e que, por si só, a adesão de novos interessados será suficiente para mantê-la aquecida. Outra tendência é que o número de fundos aumente. No final de 2011, eram 66. Ao término de 2012, foram contabilizados 93 em operação no Brasil.
Atualmente, os fundos imobiliários que atuam no país acumulam patrimônio de R$ 37 bilhões. São recursos investidos em shopping centers, edifícios comerciais, empreendimentos industriais e nos setores hoteleiro e hospitalar. Instalados no Brasil há quase 20 anos (a lei que regulamenta essa modalidade é de junho de 1993) eles funcionam com uma estrutura semelhante aos dos fundos de capitais, só que exclusivamente focados em negócios imobiliários. Atualmente, os lotes mínimos giram em torno de R$ 1 mil a R$ 5 mil. Isso não impede, no entanto, que investidores com maior poder aquisitivo adquiram cotas maiores.

Outra vantagem dos fundos imobiliários é a isenção de Imposto de Renda para o investidor que tenha menos de 10% de participação no capital total do empreendimento, o que abrange quase a totalidade das pessoas físicas que buscam esse tipo de investimento. Além disso, a depreciação do imóvel é controlada pelo administrador, o que permite que ele possa vender o empreendimento e comprar ativos imobiliários de construções mais novas, e que mantenham a rentabilidade dos cotistas. Em 2012, a rentabilidade da aplicação girou de 0,65% a 0,70% ao mês, superando todos os investimentos de renda fixa.
O portfólio de imóveis ofertados no Brasil e a segurança da aplicação são outras virtudes dos fundos imobiliários. "O brasileiro tem como premissa a segurança no investimento em imóveis. Com relação aos fundos imobiliários que operam no país, eles são muito seguros, pois não é permitido que eles tomem recursos emprestados para a compra de um imóvel, utilizando somente recursos próprios. Além disso, contam com os mesmos órgãos de regulamentação e fiscalização do mercado de ações: CVM, Banco Central, ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e BM&F/Bovespa", explica o especialista Sérgio Belezza Filho.
Confira os fundos imobiliários que mais atraíram negócios em 2012: clique aqui
Entrevistado
Sérgio Belezza Filho, sócio e diretor da empresa Fundo Imobiliário - Consultoria de Investimentos Ltda
Currículo
- Sérgio Belezza Filho é sócio e diretor das empresas Fundo Imobiliário Ltda. e Ticker – Agente Autônomo de Investimentos Ltda
- É professor-convidado do FGV-PEC (Programa de Educação Continuada da Fundação Getúlio Vargas) no módulo de Investimentos Imobiliários, além de palestrante
- Criou o website Fundo Imobiliário - Investimento Concreto (www.fundoimobiliario.com.br)
- É membro da Comissão Consultiva de Produtos Financeiros Imobiliários do SECOVI-SP e consultor de Valores Mobiliários e Agente Autônomo de Investimentos, com registro na CVM
Contato: sergio@fundoimobiliario.com.br / www.fundoimobiliario.com.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Varandas de prédios precisam de cuidados especiais
Estruturas têm a tendência de serem vulneráveis a patologias, principalmente quando o morador decide promover intervenções sem avaliação técnica
Por: Altair Santos
Em 2008, o edifício Dom Gerônimo, na cidade de Maringá - localizada no noroeste paranaense - sofreu um colapso progressivo de varandas instaladas em 15 pavimentos do prédio. Houve uma combinação de falha de execução com falta de manutenção, que culminou com o desabamento das sacadas. As construções ficaram vulneráveis a infiltrações, permitindo a corrosão das ferragens.

Com isso, a marquise instalada sobre a varanda do 15º andar desabou, causando um efeito dominó sobre as demais estruturas, que foram construídas em sistema de balanço.
O acidente desencadeou uma série de inspeções prediais na cidade. Finalizado o trabalho, em 2009 constatou-se que aproximadamente 50% das marquises dos prédios em Maringá continham patologias que colocavam em risco a vida útil das estruturas e ameaçavam os usuários dos apartamentos e os pedestres. O problema levou à aprovação de uma lei municipal que passou a obrigar vistorias periódicas nas varandas, sacadas e marquises dos edifícios, além de impor limites às transformações que os moradores normalmente costumam fazer nessas estruturas - por vezes agregando-as às áreas úteis do apartamento.

A partir da NBR 15575 (norma de desempenho) prevista para entrar em vigor em março de 2013, a expectativa dos engenheiros-peritos é que esse tipo de "agressão" às estruturas de varandas e sacadas seja feita seguindo orientações técnicas. "A partir da norma de desempenho, as construtoras deverão entregar manuais aos moradores, especificando como usar, como operar e como intervir, se for o caso, na área comum e na área privativa do prédio. Esse manual será semelhante ao que acompanha os veículos novos, em que o comprador é orientado sobre as revisões e o que pode ou não fazer no carro", alerta o engenheiro civil Valmir Luiz Pelacani.
O especialista lembra que toda varanda é projetada para receber uma sobrecarga de segurança. Se a estrutura for do tipo em balanço, o cuidado deve ser redobrado quanto à mudança no seu uso. "Alterar o uso da sacada, agregando-a ao ambiente de uso interno do apartamento, como a sala, por exemplo, pode incorrer em risco à estrutura. Qualquer mudança de uso das varandas deve ser precedida de cálculo e análise de profissional devidamente habilitado", destaca o perito, que prestou assessoria técnica para a elaboração da lei municipal que existe em Maringá.

Valmir Luiz Pelacani cita que, dependendo da estrutura da sacada, até “spliters” de ares-condicionados podem sobrecarregá-la. No caso de instalações de vidros laminados do tipo “blindex” sobre os peitoris das varandas, trata-se de um procedimento que depende de estudo para ver se a estrutura suporta o peso do vidro temperado (geralmente acima de 10 mm de espessura).
Mas o que mais causa apreensão é quando um morador decide quebrar paredes para unir a sacada à sala. "É necessário avaliar se é possível efetuar a abertura no local desejado sem que ela abale os elementos estruturais de concreto. Saliento que as paredes em alvenaria autoportante (blocos de concreto celulares ou vazados) não devem sofrer aberturas sem participação antecipada do profissional responsável pelo cálculo estrutural. Via de regra, jamais deve ser aberto parede com este tipo de alvenaria autoportante", ressalta o engenheiro-perito.
Patologias mais comuns

- O problema mais comum encontrado em varandas, principalmente as com estruturas em balanço, concentra-se no acúmulo e infiltração de água.
- Se a varanda, sacada ou marquise acumula água em local não projetado (ralo e tubulação de drenagem de água pluvial) é sinal de risco à estrutura (corrosão e perda da resistência das ferragens pelo efeito químico conhecido como “pilha”).
- Outro risco está relacionado à falta de manutenção, o que pode causar a soltura de rejuntes dos pisos ou a trinca do cimentado, comprometendo o sistema de impermeabilização e levando à instabilidade da estrutura em concreto armado.
- Não raramente podem ocorrer também colapsos por falha de projeto, sobrecarga de utilização (peso em excesso) ou aumento de dimensões do ambiente sem a devida readequação do projeto estrutural (agregá-la à área interna).

Entrevistado
Valmir Luiz Pelacani, engenheiro-perito e membro titular do IBAPE (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia)
Currículo
- Valmir Luiz Pelacani é graduado em engenharia civil pela Universidade Estadual de Maringá (1985)
- É membro titular do IBAPE (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia)
- Foi professor da UEM (1990) e do CESUMAR (Centro Universitário de Maringá) (2010 e 2011)
- Atua como diretor da AEAM (Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Maringá)
- É autor dos livros "O Perito Judicial e o Assistente Técnico" e "Responsabilidade Civil na Construção"
Contato: pelacani@creapr.org.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Novo Maracanã tem amortecimento inédito no mundo
Estádio usa sistema contraforte para suportar a vibração das arquibancadas, as quais foram projetadas para receber quase 80 mil espectadores
Por: Altair Santos
Em vez de utilizar tecnologia convencional de amortecimento, que imita a aplicada nos veículos, os engenheiros responsáveis pelos cálculos estruturais do novo Maracanã executaram um sistema de contraforteusando resíduos de demolição do estádio antigo, além de material bota-fora e terra das escavações feitas no local da obra. A inovação consiste em uma enorme piscina de concreto preenchida com entulhos, que foi instalada na parte mais baixa das arquibancadas. O mecanismo compensa a carga vertical que virá a ser gerada quando o Maracanã estiver lotado, sejam em partidas de futebol, shows ou outros eventos.

Segundo o projetista João Luís Casagrande, da Casagrande Engenharia - responsável pelos cálculos estruturais da obra -, essa é a primeira vez no mundo que o sistema contraforte é usado na construção de um estádio. "A tecnologia que utiliza amortecedores semelhantes aos usados nos veículos, como o que foi aplicado no Mineirão, tem um problema que é o custo da manutenção. De tempos em tempos é preciso trocá-lo. Já com o contraforte, ele é definitivo. Além disso, permitiu assentar parte das arquibancadas pré-moldadas sobre estruturas de aço, ganhando prazo para que o Maracanã fique pronto para a Copa das Confederações (torneio que ocorre em junho de 2013)", diz.
João Luís Casagrande explica que o contraforte instalado na base das arquibancadas do Maracanã funciona como a borda de uma piscina, ou seja, as vibrações que virem a ser geradas pelos 78.639 torcedores que caberão no estádio serão contidas pela grande estrutura de concreto, preenchida com entulhos, que circunda a obra. Assim, o novo Maracanã vai suportar até 6 Hz (hertz) de frequência - normalmente, o máximo exigido para estádios é 3 Hz. Outra vantagem desse sistema de amortecimento é que ele permitiu que as estruturas metálicas que sustentarão as arquibancadas do anel intermediário fossem concebidas com uma massa mais leve. "Consequentemente, o custo da obra reduziu", avalia o engenheiro.

Previsto para ser inaugurado em março de 2013, o novo Maracanã apresenta números dignos de uma megaobra. A área construída envolve 203.462,60 m², enquanto o volume de concreto chega a 31.500 m³ - equivalente a 220.500 sacos de cimento. Já a estrutura de aço empregada para sustentar parte da arquibancada pesa 7.200 toneladas. "A grande vantagem deste novo estádio é que a manutenção dele será mais barata. Em qualquer arena, o custo da construção, em relação à vida útil da obra, representa 40%. O mais caro é a manutenção, e no Maracanã a economia, depois que ele ficar pronto, será significativa", afirma João Luís Casagrande.
Entrevistado
João Luís Casagrande, projetista do novo Maracanã e sócio da Casagrande Engenharia
Currículo
- João Luís Casagrande é graduado em engenharia estrutural pela Universidade Santa Úrsula-RJ, em 1997
- Possui mais de 400 projetos desenvolvidos no Brasil. Além do Maracanã, atua nas obras de arte do Arco Metropolitano, também no Rio de Janeiro
- Também projetou construções fora do país, como a Universidade de Abuja, na Nigéria, e a Usina Hidrelétrica de Inga II, na Republica Democrática do Congo

Contato: jlcasagrande@cagen.com.br / www.cagen.com.br
Créditos foto: Divulgação/Casagrande Engenharia
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construção civil consegue desonerar mão de obra
Para abrir mais vagas nos canteiros, governo federal lança pacote que reduz tributos sobre a folha de pagamento das construtoras
Por: Altair Santos
A partir de março de 2013, a construção civil será beneficiada pelo pacote lançado no final de 2012, e que, a exemplo do que já havia ocorrido com outras áreas produtivas da economia nacional, desonera a folha de pagamento do setor. A medida, baixada pelo Ministério da Fazenda, beneficia principalmente as construtoras e os prestadores de serviço vinculados ao setor habitacional. A proposta é que seja reduzida de 6% para 4% a alíquota do Regime Especial de Tributação (RET) Social e de 20% para 2% a contribuição sobre o faturamento bruto da empresa, recolhida ao INSS. "O setor é responsável por quase metade do investimento que nós fazemos no país. Portanto, estimular a indústria de construção é estimular o investimento no país”, justificou o ministro Guido Mantega, no dia do lançamento do pacote.

Para que as novas regras entrem em vigor, é preciso que a medida provisória enviada pelo governo ao Congresso Nacional seja votada até 4 de março na Câmara e no Senado. Para orientar as construtoras, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) distribuiu circular explicando o que muda com os novos procedimentos tributários, e que pretendem também destravar a construção de imóveis para a faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, cujo teto é de R$ 76 mil. Essa foi uma reclamação permanente do setor em 2012, para o qual tornou-se inviável investir mais no MCMV e, consequentemente, prejudicou um crescimento maior da construção civil. "Agora, volta a ser interessante investir na faixa 1", observou Paulo Safady Simão, presidente da CBIC.
Junto com o pacote, a Caixa Econômica Federal vai disponibilizar R$ 2 bilhões para financiar projetos de pequenas e médias construtoras, com faturamento anual até R$ 50 milhões. Para a CBIC, as medidas poderiam também incluir o aumento no limite do uso de FGTS para o financiamento de unidades habitacionais. Hoje, esse valor é de R$ 500 mil, mas o setor quer que ele passe a R$ 750 mil. Já a Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) para quem 2012 representou um crescimento de 2% - contrariando a projeção de 4,5% -, a expectativa é que em 2013 o seguinte cenário se consolide: mais desonerações, mais investimentos em projetos de infraestrutura, maior volume de créditos com juros baixos e intensificação das obras para a Copa do Mundo. "Era o que desejávamos para 2012, mas fica para 2013", disse o presidente da Abramat, Walter Cover.
Com as reduções nas alíquotas de RET e de INSS, a construção civil deixará de pagar R$ 2,8 bilhões de tributos que recaem sobre a mão de obra. Dentro da cadeia produtiva, a decisão governamental só desagradou as empresas incorporadoras - responsáveis pela venda dos imóveis - e o chamado setor pesado da construção civil, aquele voltado para obras de infraestrutura. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) Brasília perdeu a chance de baratear as grandes obras de que o país precisa. Além disso, desperdiçou a chance de obrigar muitas empresas que terceirizam mão de obra com outras subempreiteiras, que nem sempre recolhem os impostos corretamente, inclusive o FGTS dos trabalhadores, a passarem a pagar o que está na lei. "Desta forma, a concorrência entre as empresas ficaria mais equilibrada e competitiva, baixando o custo das obras", avalia o Sinicon.
Entrevistados
CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) e Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada) via assessoria de imprensa
Contatos: comunica@cbic.org.br / abramat@abramat.org.br / sinicon@sinicon.org.br /
Créditos foto: Wilson Dias/Abr
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Bactéria pode dar "imortalidade" ao concreto
Desenvolvido na Holanda, organismo promove a regeneração do material e pode ser a solução para a corrosão que ataca as tubulações da rede de esgoto
Por: Altair Santos
Na Universidade Técnica de Delft, na Holanda, pesquisadores desenvolveram um tipo de bactéria - proveniente da Bacillus Subtilis - que promove o processo de "autocura" do concreto. O organismo, criado para se desenvolver exclusivamente no concreto, produz calcário e entra em ação quando em contato com a água, evitando a corrosão do material.

Desenvolvido pelo microbiologista Henk Jonkers e pelo engenheiro especialista em materiais de construção, Eric Schlangen, a expectativa é que em três anos já possa ocorrer as primeiras incursões do produto no mercado.
Em laboratório, a bactéria consertou rachaduras de 0,5 milímetro de largura. Agora, o desafio dos pesquisadores é saber em quantos tipos de concreto o organismo reage positivamente. Outro objetivo é como agregar o agente no material sem que ele eleve demasiadamente o custo. Nos testes, o preço de fabricação ficou 50% mais caro que o normal. Uma das apostas dos cientistas holandeses é que esse alto valor se pague ao longo da vida útil da construção, já que a nova descoberta praticamente garante "imortalidade" ao concreto.Para o engenheiro civil José Marques Filho, vice-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) pelo que foi apresentado na Universidade Técnica de Delft as perspectivas são positivas quanto ao potencial de reparo das bactérias. Para ele, é possível que a melhor empregabilidade da novidade se dê na fabricação de tubos de concreto para o saneamento básico das cidades. "Pelos primeiros resultados, seriam úteis em tubulações com fissuração moderada", avalia.
Atualmente, uma tubulação de concreto para as redes de esgoto das cidades - se fabricada dentro das normas técnicas - é projetada para durar até 50 anos.

Isso depende também de manifestações patológicas externas, que podem ser geradas por recalques diferenciais ou aplicação de esforços superiores à capacidade de resistência dos artefatos. No entanto, hoje o maior inimigo das tubulações é uma outra bactéria: a Thiobacillus Concretivorus, ou “bastonete de enxofre”, que tem ação contrária à da Bacillus Subtilis. Ela corrói o concreto.
Segundo José Marques Filho, pelo que foi divulgado da pesquisa holandesa, os resultados não permitem afirmar se a nova bactéria teria capacidade de combater a Thiobacillus Concretivorus, que se desenvolve na rede de esgoto e reage com o concreto, elevando seu PH.
A consequência é a perda de resistência, da coesão dos agregados e da estabilidade do material. "Hoje os estudos mostram que quanto mais enxofre houver nos efluentes, mais danoso ele é para o concreto e mais propício o ambiente para a proliferação do bastonete de enxofre", afirma o vice-presidente do Ibracon.

Por isso, os estudos para minimizar esse problema são recorrentes - inclusive nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR) onde José Marques Filho atua dentro do departamento de hidráulica e saneamento do curso de engenharia civil, são constantes as pesquisas em torno do combate à corrosão e da durabilidade do concreto aplicado em artefatos usados na rede de esgoto. Para o engenheiro, a médio prazo o mercado terá soluções muito eficientes nesta área, seja através da autocura do concreto ou da utilização da nanocompósitos no material. "As pesquisas nos deixam muito animados", finaliza.
Entrevistado
José Marques Filho, vice-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto)
Currículo
- José Marques Filho é graduado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1980), com mestrado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1990) e doutorado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005)
- Atualmente é engenheiro civil consultor da Companhia Paranaense de Energia (Copel), vice-presidente do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon) e coordenador da comissão de concreto, do Comitê Brasileiro de Barragens
- É professor-adjunto da Universidade Federal do Paraná, com especialidade nos seguintes temas: concreto, barragens, CCR, laboratório de concreto e caracterização
Contato: jmarques@copel.com
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Assessoria técnica da Itambé bate recorde de visitas
Serviço prestado exclusivamente aos clientes da Companhia fortalece parcerias e melhora qualidade de produtos como concreto, pré-moldados e artefatos de cimento
Por: Altair Santos
Em 2012, as assessorias técnicas prestadas pela Cia. de Cimento Itambé estabeleceram um número recorde de atendimentos desde que a empresa criou o departamento, em 1995. Houve visitas a 50 clientes em toda a região sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) superando a marca de 2011, que havia sido de 40 assessorias. Na média de dez anos, a Itambé tem atendido 35 parceiros anualmente - boa parte deles atuando no mercado de concreteiras, pré-moldados e artefatos de cimento.

A vocação da Cia. de Cimento Itambé é voltada aos clientes industriais, para quem ela vende cimento na modalidade a granel. No entanto, recentemente, a assessoria técnica passou também a atender pequenas construtoras e clientes dos revendedores de Cimento Itambé, que são as microempresas de artefatos, e que, eventualmente, pedem auxílio para aprimorar seus processos de fabricação. Para esses parceiros também é disponibilizado o programa Timão, voltado para o aprimoramento da mão de obra dos profissionais que atuam na cadeia produtiva da construção civil.
A equipe da assessoria técnica é acionada quando o assessor comercial da empresa sente que o cliente está com dificuldades ou quando o próprio cliente, através do site da Itambé ou pelo telefone 0800419002, requer o serviço. “Tornar nosso cliente competitivo, fabricando produtos de qualidade e com custo controlado, fortalece nosso relacionamento e estabelece uma cumplicidade que é sentida principalmente nos momentos em que a Itambé tem que enfrentar seus concorrentes”, explica o engenheiro civil Lycio Vellozo, diretor comercial da Itambé.
O serviço de assessoria técnica é exclusivo para clientes Itambé. Os assessores comerciais detectam a necessidade dos parceiros e agendam, juntamente com os assessores técnicos, o período da realização dos trabalhos. Indo ao local, os especialistas acompanham o processo produtivo e detectam onde o cliente precisa melhorar para usar todo o potencial do Cimento Itambé e de outros materiais. De forma geral, cada etapa é realizada em três dias e o serviço é inteiramente gratuito.
Atualmente, a pedido dos próprios clientes, a assessoria técnica da Cia. de Cimento Itambé passou a orientá-los também sobre a disposição dos equipamentos de produção (layout), a ampliação do parque industrial e o uso de novos materiais e tecnologias. No entanto, a maior parte dos serviços está relacionada a dosagens de concreto para os produtos que os clientes fabricam, além de dosagens de argamassa, ensaios de cimento, controle tecnológico do concreto, ensaios de agregados, acompanhamento e avaliação do processo produtivo e apoio técnico em processos de certificação.
Entrevistado
Lycio Vellozo, diretor comercial da Itambé
Contato: www.cimentoitambe.com.br
Créditos foto: Divulgação/Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
No Paraná, governar é recuperar estradas
Em 2013, estado planeja investir R$ 2,5 bilhões em 10 mil quilômetros de rodovias, o que engloba a construção de 399 novas pontes
Por: Altair Santos
Com recursos próprios, ou através das concessionárias de rodovias pedagiadas, o governo do Paraná planeja investir 2,5 bilhões em estradas em 2013. Os projetos englobam desde a recuperação de 10 mil quilômetros até a duplicação de outros 400, passando pela implantação de novos trechos numa extensão de 200 quilômetros. Trata-se de um pacote que está contemplado no Programa de Modernização da Infraestrutura (Proinfra) lançado no final de 2012.

Outros investimentos rodoviários dentro do Paraná, mas que ainda não saíram do papel, estão vinculados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e dependem de recursos federais na ordem de R$ 3 bilhões. Os projetos incluem a implantação do Trem Pé Vermelho, para interligar Paiçandu a Ibiporã, entre norte e noroeste do estado, além da criação de um anel de integração, unindo as BRs 153, 163, 487 e 272 a rodovias estaduais. No mesmo pacote estaria incluída a construção do trecho paranaense da BR-101, que ligaria Garuva, em Santa Catarina, a Guaraqueçaba, no litoral norte do estado.
Segundo a secretaria de infraestrutura e logística do Paraná, nenhuma das rodovias que passarão por obras têm projetos contemplando o pavimento rígido. No entanto, não quer dizer que não haverá investimento forte em concreto. Até porque, faz parte do Proinfra construir 399 pontes em todo o estado, seja para substituir algumas de madeira que ainda existem no interior, seja para trocar estruturas já comprometidas ou para atender a demanda crescente de veículos em determinadas regiões.
Haverá também grande investimento em construções pré-fabricadas, para reformar e construir escolas no estado, erguer 76 novas delegacias e viabilizar os hospitais de Telêmaco Borba e Foz do Iguaçu, além do Jardim Botânico de Londrina e da ampliação de cinco campis da Universidade Estadual do Centro Oeste. São obras que juntas somam quase R$ 350 milhões. No Proinfra também foram incluídos R$ 950 milhões para o retrofit de 2.500 prédios públicos espalhados pelo Paraná.
Ainda está programado o investimento de R$ 34 milhões na recuperação de 32 aeroportos regionais, que incluem desde recuperação, ampliação e construção de novas pistas até a melhoria da infraestrutura para receber passageiros e cargas. Estão incluídos neste pacote os terminais de Pato Branco, Toledo, Umuarama, Siqueira Campos, Campo Mourão, Paranavaí, Palotina, Paranaguá, Guarapuava, Palmas, Goioerê e Sertanópolis.
A estimativa do governo do Paraná é que, para a construção civil, esse volume de obras gere dois mil postos de trabalho diretamente e 40 mil indiretamente.
Entrevistado
Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística do Paraná (via assessoria de imprensa)
Contato: http://www.infraestrutura.pr.gov.br
Créditos foto: Jorge Woll/SEIL/DER
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
CEPED tem forte vínculo com a construção sustentável
Foi no centro de pesquisa baiano que, em 1974, surgiram os primeiros estudos no Brasil do uso do tijolo solo cimento em larga escala na construção civil.
Por: Altair Santos
O primeiro centro de pesquisa do país a desenvolver projetos voltados para a construção sustentável foi o CEPED (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento) localizado em Camaçari, na região metropolitana de Salvador-BA. Vinculado à Universidade Estadual da Bahia (UNEB) foi lá que germinou o THABA - plano voltado para a construção de habitações de baixo custo, com base na produção de tijolos solo cimento. Em 1974, quando os pesquisadores Francisco Ferreira e Célia Neves escreveram a primeira cartilha de como produzir os artefatos misturando terra, cimento, cal e água, o objetivo era minimizar o déficit habitacional. Hoje, há uma indústria consolidada de tijolo solo cimento, que engloba não apenas a produção de peças, mas de equipamentos para o setor.

Atualmente, o CEPED segue envolvido com projetos voltados para o desenvolvimento de produtos da construção civil que agridam menos o meio ambiente. "Estamos trabalhando na pesquisa de componentes à base de cimento reforçado com fibras vegetais e, em parceria com o Lactec, pesquisamos a manufatura de cruzetas a partir de materiais compósitos, para postes de sustentação de rede elétrica", explica Roberto Jorge de Câmara Cardoso, pesquisador-sênior do CEPED, lembrando que a especialidade do centro de pesquisa, no que se refere a trabalhos vinculados à construção civil, está focada nos produtos cimentícios. "Temos também uma demanda grande para realizar ensaios físicos do concreto em seus estados fresco e endurecido", completa.
Boa parte dos projetos desenvolvidos no CEPED são financiados por empresas e instituições governamentais. O centro de pesquisa também é requisitado para atuar na formulação de normas técnicas e recentemente passou a abrigar uma incubadora de empresas – a INCUBATEC -, que desenvolve programas de apoio a empreendimentos de base tecnológica, disponibilizando estrutura física e a infraestrutura de seus diversos setores. "Somos um centro de pesquisa multidisciplinar e as empresas incubadas concentram atividades nas seguintes áreas do conhecimento: química, petroquímica, mineração e metalurgia, materiais de construção civil, cerâmicos, poliméricos, meio ambiente e tecnologia de alimentos", diz Roberto Jorge de Câmara Cardoso.

Outra função do CEPED é aperfeiçoar a mão de obra a ser absorvida pelo complexo petroquímico de Camaçari. Além disso, os trabalhos desenvolvidos no centro de pesquisa, e voltados ao meio ambiente, resultaram na criação de duas importantes instituições do setor na Bahia: o Centro de Recursos Ambientais (CRA) e a Central de Tratamento de Efluentes Líquidos (CETREL). Quanto ao programa THABA (Tecnologias Alternativas para Habitação de Baixo Custo) ele ajudou a desenvolver planos habitacionais nos seguintes municípios baianos: Rafael Jambeiro, Cícero Dantas, Formosa do Rio Preto, Teofilândia, Seabra, Morro do Chapéu, Coronel João Sá, Uauá, Palmas de Monte Alto, Iramaia, Camamu, Encruzilhada e Ibirapuã. Também levou a Caixa Econômica Federal, desde 2009, a aprovar o uso de tijolos solo cimento nos sistemas construtivos por ela reconhecidos e financiados.
Entrevistado
Roberto Jorge de Câmara Cardoso, pesquisador-sênior do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CEPED)
Currículo
- Roberto Jorge de Câmara Cardoso é graduado em engenharia química pela Universidade Federal do Ceará (1969). Tem mestrado em ciência dos materiais pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica -ITA (1973), pós-doutorado no IRC in materials for high performance applications - The University of Birmingham, Inglaterra (1994) e Ph.D (área de solidificação de metais) -The University of Sheffield (1984)
- É professor titular de materiais de construção do departamento de ciência e tecnologia dos materiais (DCTM) da UFBA. Desde 1997 também é professor permanente do mestrado em engenharia ambiental urbana (MEAU) da UFBA
- Desempenha a função de pesquisador-sênior no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CEPED) em Camaçari, na Bahia
Contato: roberto.rjc@gmail.com
Créditos fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construção civil cresce quatro vezes mais que o PIB
Setor avançou 4% em 2012, segundo dados do SindusCon-SP. As melhores taxas estão ligadas à geração de emprego formal, com desempenho de 5,8%
Por: Altair Santos
Enquanto a projeção é que o PIB brasileiro em 2012 fechará na casa do 1%, a construção civil encerra o ano com um crescimento de 4%. Apesar de ter avançado num ritmo menor do que o de 2011, que foi de 4,8%, o setor comemora a geração de empregos. A taxa teve uma melhora de 5,8% em relação ao ano passado, o que significa que há atualmente 3,415 milhões de trabalhadores atuando formalmente nas obras espalhadas pelo país.

Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) - o único que coleta dados nacionais do setor -, o desempenho de 2012 poderia ser melhor se não tivesse ocorrido a redução de investimentos por parte das empresas e do setor público, que mais uma vez negligenciou as obras de infraestrutura. Além disso, houve um baixo ritmo de contratações de moradias para a faixa 1 do Programa Minha Casa, Minha Vida.
De acordo com o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, o balanço de 2012 não pode ser considerado negativo, apesar de que as previsões eram de que o setor cresceria 5%. “A construção civil não teve o desempenho que esperávamos no começo do ano, mas a economia brasileira não teve o desempenho que todos esperavam. O número de 4% para o fechamento do ano não é um número ruim, apesar de também não ser tão bom. Este foi um ano de bastante trabalho e ajuste”, disse.
Para 2013, o SindusCon-SP avalia que a construção civil deve crescer entre 3,5% e 4%. “O Brasil precisa muito mais do que isso, precisa de infraestrutura, moradia, indústria e tudo o que a construção civil tem a oferecer. Se tivéssemos uma facilidade melhor para trabalhar seria muito bom, mas estamos inseridos na economia brasileira, que é de baixa produtividade”, avalia Zaidan.
Para reverter esse quadro, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) propôs recentemente ao governo federal a adoção de medidas que estão no programa Compete Brasil. Trata-se de um plano para impulsionar a construção civil nos próximos dez anos e que sugere a superação de gargalos da cadeia produtiva, através de mudanças na área de planejamento e gestão, segurança jurídica, fonte de recursos, mão de obra, tributação e eficiência produtiva. De acordo com o Compete Brasil, a construção civil representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e é o quarto setor que mais emprega no país.
Estima-se que a cada R$ 1 milhão gerados pela construção, 70 pessoas são empregadas. Como ainda existem obras contratadas de 2009 e 2010, e que devem entrar em ritmo acelerado em 2013, assim como os projetos dos megaeventos Copa do Mundo e Olimpíadas, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) avalia que o setor deverá gerar ainda mais postos de trabalho no ano que vem. “Como a expectativa é de crescimento maior para 2013, acreditamos que a construção deva aumentar o número de trabalhadores em 20% no próximo ano”, destaca o vice-presidente da CBIC, José Carlos Martins.
Entrevistado
Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do SindusCon-SP (via assessoria de imprensa)
Currículo
- Eduardo Zaidan é graduado em engenharia civil pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Tem pós-graduação em administração de empresas pela EASP FGV-SP e MBA executivo em construção civil pela Escola de Economia da FGV-SP
- Possui mais de 30 anos de experiência no mercado imobiliário e da construção e é diretor de economia do SindusCon-SP
Contato: sindusconsp@sindusconsp.com.br
Créditos foto: Marcelo Camargo/ABr
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
NBR 15575 amplia interesse pela luminotécnica
Norma que entrará em vigor em 2013 exige que tanto edifícios habitacionais quanto corporativos tenham desempenho lumínico
Por: Altair Santos
Dentro do conceito de projetos sustentáveis, a luminosidade passou a ter um valor inestimável. Hoje, é recomendável às construções que aproveitem todo o potencial da luz natural e que saibam usar a iluminação artificial com eficiência energética e conforto visual. No Brasil, a tendência é que essa recomendação transforme-se em obrigatoriedade a partir da entrada em vigor da NBR 15575, cuja exigibilidade deverá valer a partir do primeiro semestre de 2013.

Segundo a norma, os edifícios deverão ter desempenho lumínico, o que, para o engenheiro Luís Lancelle - professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em luminotécnica -, irá ampliar o interesse pela boa iluminação, principalmente sob o ponto de vista do usuário. Para ele, a partir da NBR 15575, conceitos de luminosidade não se limitarão à arquitetura e à decoração de ambientes, mas passarão a ser incorporados pela engenharia civil. É o que ele comenta na entrevista a seguir:
A importância dada à luminotécnica nos projetos arquitetônicos é um fenômeno novo?
Não é um fenômeno novo, mas cada dia mais abrangente. A luminotécnica começou no final do século 19, ou seja, na revolução industrial. Naquela época, ela orientava para iluminar as linhas de produção de tal maneira que se obtivesse melhor performance dos operários. Com o decorrer do tempo, tornou-se mais abrangente, até chegar à luminotécnica como a entendemos, e que nasceu como um subproduto da Segunda Guerra Mundial, onde se passou a valorizar o conceito de conforto ambiental a partir do conforto visual. Assim desenvolveu-se a luminotécnica, que é propiciar um ambiente devidamente iluminado, para que ele seja confortável por aquele que irá usufruí-lo.
Com a filosofia dos prédios verdes é que a luminotécnica ganhou mercado?
Sim, pois a partir deste momento é que foi possível compreender que a luminotécnica não é jamais o uso exclusivo da luz artificial. Luminotécnica decorre de preceitos de sustentabilidade, que estão fundamentados no uso concomitante de luz artificial com luz natural. Logicamente, a filosofia dos prédios verdes ajudou a fundamentar isso.
Um projeto que contempla bem a luminotécnica traz quais tipos de vantagem?
Em todas as áreas em que pode ser aplicada, a vantagem maior é a de criar um ambiente confortável para o individuo. Consequentemente, ela afeta outras áreas. Comprovadamente, em setores comerciais a boa iluminação incentiva as vendas. Em indústrias, favorece a produção, ou seja, a eficácia em todas as atividades que precisam de iluminação melhora quando a iluminação correta é aplicada.
A luminotécnica hoje tem sido empregada mais em ambientes corporativos ou em construções habitacionais?
Em todas as áreas. Por isso, destaco aqui uma frase de Oscar Niemeyer: “Uma boa iluminação levanta uma arquitetura medíocre, porém uma má iluminação acaba com o melhor projeto”. Ou seja, um projeto arquitetônico bem feito pode ser denegrido pelo mau uso da iluminação. No entanto, um projeto que não é extraordinário pode ser valorizado com uma boa iluminação.
Os prédios habitacionais que têm sido construídos demonstram preocupação com a luminotécnica?
Cada vez mais crescente. Até porque, a luminotécnica aplicada aos ambientes residenciais deixou de ser uma questão de poder aquisitivo. Hoje, todos que compram um imóvel, seja casa ou apartamento, têm essa preocupação. Tive o caso de um casal que me procurou para que eu deixasse o apartamento deles com uma iluminação semelhante à que aparecia em uma novela. Fiz um projeto com baixo custo e o resultado gerou uma boa iluminação.
A NBR 15575, para edifícios residenciais até cinco pavimentos, tende a contemplar a luminotécnica nestas construções?
Sem dúvida, a chamada norma de desempenho era o que faltava para a luminotécnica se consolidar. Ela exige desempenho lumínico das construções e, mais importante, ela dá poder ao usuário de decidir se o ambiente está bem ou mal iluminado. Isso significa que o consumidor deve ser consultado e a opinião dele deve ser a referência no espaço construído.
O que mais interfere na iluminação de ambientes?
A própria iluminação. Vou explicar: durante um longo tempo, a luminotécnica foi fundamentada na tese de que o objeto deveria ser bem iluminado. Hoje, o que interessa é como o ser humano vê este objeto. Quer dizer, o indivíduo necessita que sejam fornecidas informações precisas sobre o que ele está enxergando. Dentro deste conceito, o iluminamento de um ambiente deve ser preciso. Por isso, o que mais interfere na iluminação de um ambiente é um projeto malfeito, que exceda os níveis de iluminamento necessário e fira o observador através do fenômeno de ofuscamento.
Como as novas tecnologias têm sido aplicadas na luminotécnica?
No caso da iluminação artificial, todas as pontes que permitiram utilizar equipamentos que gerem performance lumínica com equipamentos ecoeficientes. Já em termos de iluminação natural, tudo aquilo que permite usar corretamente a parte lumínica da luz natural, mas sem gerar carga térmica. Para utilizar corretamente a luz do sol, temos que ter determinados tipos de elementos e formas de atuar para desprover ela da carga térmica que provocaria injetar mais energia no ambiente e comprometer seu condicionamento hidrotérmico. As novas tecnologias têm favorecido as fontes mais eficientes de luz artificial e o uso da luz natural com menor carga térmica.
Comparativamente a outros países, a luminotécnica no Brasil está bem difundida ou ainda seu foco de atuação é limitado?
Sobretudo nos países europeus há uma conscientização grande sobre sustentabilidade. Lá, eles vêm desenvolvendo projetos em que o impacto ambiental é cada vez menor. O Brasil vem perseguindo esse modelo. Hoje há várias pesquisas no ambiente acadêmico sobre esse tema. O desafio, agora, é fazer isso chegar ao usuário e fazer ele saber que pode dispor desses recursos para conviver em um ambiente melhor iluminado, seja em seu ambiente de trabalho ou na moradia.
Entrevistado
Luis Lancelle, especialista em luminotécnica e professor da USP
Currículo
- Luis Lancelle é engenheiro civil graduado pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e ela USP (Universidade de São Paulo)
- Tem mestrado em engenharia de sistemas (UBA)
- É docente, coordenador pedagógico e orientador de cursos de pós-graduação nas áreas de engenharia e arquitetura.
- Ocupa o cargo de coordenador da área de software de iluminação da Divisão 3 do CIE-Brasil (Comission Internacionale de l´Eclairage)
- Também é consultor, designer de iluminação e especialista em software de iluminação
Contato: luis@lancelle.com.ar
Créditos foto: Divulgação




