Censo mostra por que faltam engenheiros no Brasil

IBGE revela que, apesar da demanda e da boa oferta salarial, há menos estudantes do ensino médio optando por cursos de engenharia

Por: Altair Santos

Resultado parcial do censo demográfico de 2010, divulgado no final de 2012 pelo IBGE, comprova que o despertar para a engenharia é um fenômeno recente entre os jovens. Até meados da década passada, o interesse pelas engenharias, incluindo a civil, havia caído 20% em relação aos números mostrados no censo de 2000. Isso explica por que faltam engenheiros atualmente no país.

Daniela Ribeiro, da Robert Half: cursos de engenharia precisam ser mais divulgados.

A formação hoje responde por 7,9% das pessoas matriculadas no nível superior. Há vinte anos, era 9,6%. Para educadores, o quadro só será revertido se o governo estimular a profissão já no ensino médio, principalmente tornando a matemática mais palatável. Atualmente, o déficit no Brasil é de 150 mil engenheiros. Com a demanda aquecida, em cinco anos esse déficit pode duplicar.

Para estancá-lo, seria preciso que pelo menos 15% das pessoas matriculadas nas universidades estivessem estudando engenharia. Mas, além disso, há um outro complicador. No caso específico da engenharia civil, muitos dos que se formam não se dirigem à área técnica e preferem ir para o mercado financeiro. "Esse é um dos principais fatores que causam essa sensação de escassez de mão de obra técnica", aponta Daniela Ribeiro, da consultoria Robert Half, especializada em recrutamento de engenheiros.

De acordo com a headhunter, o perfil analítico de um engenheiro, aliado a especializações como mestrado e doutorado, o torna muito valorizado para outros mercados que não seja, especificamente, a construção civil. O resultado é que construtoras e empresas ligadas ao setor de óleo e gás - as que mais recrutam engenheiros atualmente - buscam compensar esse déficit fora do país. "Profissionais portugueses, cujos diplomas são reconhecidos no Brasil, têm encontrado um mercado bastante promissor aqui", explica Daniela Ribeiro.

A especialista avalia que a profissão de engenharia deveria ser mais divulgada, principalmente no ensino médio. "Mostrar a grande quantidade de opções de trabalho para engenheiros é uma alternativa para aumentar o interesse pela profissão. Além disso, mesclar um pouco as disciplinas do curso com aulas mais dinâmicas e atualizadas também ajudaria a conter a evasão", analisa. Outro ponto destacado é a base matemática dos alunos que optam por engenharia. "Nem todas as escolas, sejam públicas ou privadas, despertam esse interesse nos estudantes, que não tendo uma boa base matemática acabam fugindo de cursos de engenharia", completa.

Estudantes de engenharia civil: os que se formam, são assediados pelo setor financeiro.

Salário inflacionado

Em 2012, o piso salarial do engenheiro civil fechou em R$ 5.573,00 por 6 horas de trabalho, segundo a lei 4.950-A. No entanto, boa parte das empresas que contratam estão pagando mais. "A escassez de engenheiros mais técnicos inflaciona os salários e as empresas têm tentando driblar esses altos salários oferecendo benefícios e outros fatores motivacionais, com a intenção de atrair e reter esses profissionais. Mas é bom que se frise que a maioria dos engenheiros entrevistados pela Robert Half, apesar de salário ser um fator fundamental, relatam que oportunidade de crescimento, bom ambiente de trabalho e autonomia no ambiente de trabalho são tão importantes quanto salário", diz Daniela Ribeiro.

Por conta destas oportunidades, e do aquecimento do mercado de construção em todo o país, os engenheiros estão descobrindo novos nichos profissionais, que não estejam necessariamente na região sudeste - a que ainda mais emprega. No sul, a região metropolitana de Curitiba, Joinville, as cidades no entorno de Porto Alegre e Caxias do Sul chegam a ter vagas excedentes. No nordeste, o polo petroquímico de Camaçari-BA e a região de Recife também clamam por engenheiros. A situação é igual na Zona Franca de Manaus. "Avaliamos que trata-se de uma profissão que se manterá aquecida por muito tempo no Brasil", declara a headhunter da Robert Half. As vagas estão aí, quem se habilita?

Entrevistada
Daniela Ribeiro, senior division manager das divisões de engenharia, marketing e vendas da Robert Half
Currículo

- Daniela Ribeiro é graduada em engenharia mecânica pela Escola de Engenharia Mauá
- Iniciou a carreira na Visteon Sistemas Automotivos, onde trabalhou durante 5 anos, inicialmente na área de cotações de novos negócios. Passou por compras e posteriormente atuou como engenheira de qualidade de fornecedores
- Durante 3 anos e meio atuou como Engenheira de Produtos na General Motors do Brasil, com foco em projetos de exportação e importação
- Em 2008, iniciou a carreira de headhunter atuando na área de engenharia da Robert Half
- Atualmente exerce o cargo de senior division manager das divisões de engenharia e marketing & vendas para São Paulo
Contato: daniela.ribeiro@roberthalf.com.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Brasil entra na era BIM para obra de infraestrutura

Dnit passará a exigir projetos em 2D para futuras licitações de rodovias. Se der certo, procedimento será estendido a outros empreendimentos públicos

Por: Altair Santos

Em 2007, quando o colapso de uma ponte em Minneapolis matou 13 pessoas, o governo dos Estados Unidos determinou um pente-fino em todas as obras de arte nas rodovias federais do país e descobriu que 150 mil estavam estruturalmente deficientes. A partir daquele relatório, a Sociedade Americana de Engenheiros Civis propôs, em 2009, que todos os projetos de estradas que viessem a ser construídas nos EUA fossem elaborados na plataforma BIM (Building Information Modeling).

Rodovia projetada na plataforma BIM: precisão e chance de corrigir erros antes de ir para o canteiro de obras.

A recomendação veio acompanhada das vantagens que o software agregaria à construção de rodovias. "Tudo pode ser melhor dimensionado. Do fluxo da água da chuva, e seu impacto na pista, até as elevações e declives do terreno e que tipo de exigências isso trará à estrada. Enfim, todas as operações ficam mais seguras com a visualização dos projetos através do BIM", sugeriu a ASCE (sigla em inglês para American Society of Civil Engineers). Resultado: há quase quatro anos nenhuma nova rodovia dos EUA é construída sem estar de acordo com a modelagem BIM.

Agora, é o Brasil que quer entrar nessa era. O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) pretende ainda este ano exigir em seus editais de licitação que os projetos sejam entregues numa plataforma bidimensional e, futuramente, tridimensional. A intenção era que isso ocorresse já nos leilões das rodovias federais 040 e 116, que estavam marcados para o final de janeiro de 2013. No entanto, foram adiados. As empresas interessadas pediram a prorrogação, a fim de se adaptar às novas exigências e obter linha de crédito através do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), com o objetivo de adequarem suas equipes ao BIM.

Com os projetos em BIM, tempo da obra pode ganhar economia de até 30%.

O próprio Dnit também carece de capacitação de seu corpo técnico para conseguir implementar o sistema. “Os projetos do Dnit ainda não são elaborados conforme a metodologia BIM, pois a equipe técnica responsável pela análise de projetos está na fase de capacitação. A implantação dessa metodologia seguirá etapas que permitam que o mercado se adapte. Como atualmente o Dnit recebe seus projetos em papel, inicialmente estamos concluindo um modelo de edital padronizando procedimentos para entrega eletrônica de projetos em 2D, independentemente da ferramenta informatizada que as empresas possuam. Em seguida, passaremos a prever no edital procedimentos para a entrega de projetos em 3D, sem obrigatoriedade, porém pontuando tecnicamente as propostas. Quando o mercado se ajustar à nova metodologia, passaremos a tornar obrigatória a entrega em 3D", explica André Kuhn, coordenador-geral de desenvolvimento e projetos do Dnit.

Ainda segundo Khun, a nova formatação permitirá ao Dnit acelerar processos licitatórios, além de obter uma melhor compreensão dos projetos. Estima-se que a economia de tempo, ao longo da trajetória da obra, seja de 30%. "A metodologia BIM, por tratar o projeto de forma integrada, permite verificar de forma mais eficiente as incompatibilidades das diversas disciplinas que compõem o projeto rodoviário. São de dez a doze disciplinas (geometria, terraplanagem, pavimentação, sinalização, obras de arte especiais e outros) sendo analisadas por, no mínimo, seis engenheiros especialistas em diversas áreas. Atualmente, a equipe de análise de projetos empenha grande esforço e tempo na verificação das quantidades de serviços, o que mudará para uma forma quase automática com esse tipo de tecnologia, permitindo assim que os engenheiros concentrem esforços na análise da concepção do projeto", destaca.

No programa BIM, é possível simular desde o pavimento ideal até por onde passarão as tubulações de saneamento, rede elétrica e gás na rodovia.

A expectativa é que, mesmo adiados, os leilões das BRs 040 e 116 sejam os primeiros a serem contemplados com projetos em BIM. O trecho da BR-040 a ser concedido vai de Brasília, no entroncamento com a BR-251, e se estende até Juiz de Fora-MG. A extensão total dessa rodovia no lote é de 936,8 quilômetros. Já o trecho da BR-116 vai da divisa entre Bahia e Minas Gerais até a divisa de Minas com o Rio de Janeiro. A extensão total é de 816,7 quilômetros. Se bem sucedida essa etapa, ela passará a ser estendida a outras concessões do Dnit. O governo também estuda levar a exigência da plataforma BIM para licitações de outras obras de infraestrutura, como hidrelétricas por exemplo. Atualmente, dentro da esfera federal, apenas a Petrobras já requisita projetos na plataforma BIM.

 

 

Entrevistado
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) via assessoria de imprensa
Contato: imprensa@dnit.gov.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Indústria de alimentos engorda construção civil

Desde 2010, maiores fabricantes do país vêm projetando e construindo plantas, criando um nicho valorizado pelas empresas especializadas em construção industrial

Por: Altair Santos

Em 2012, a Pepsico - gigante mundial na fabricação de alimentos - destinou para o Brasil um aporte de US$ 100 milhões para a expansão de suas fábricas no país, que hoje são 19. Para enfrentar a concorrente, a Kraft Foods adotou a mesma estratégia. Investiu R$ 100 milhões em uma nova fábrica em Vitória de Santo Antão-PE e injetou recursos para expandir as unidades de Curitiba-PR e Bauru-SP. São exemplos, assim como os projetos da Unilever e da Procter & Gamble, de como a indústria de alimentos instalada em território nacional anda competitiva e atraindo cada vez mais o interesse da construção civil. Desde 2010, as plantas industriais para o mercado alimentício tornaram-se um dos nichos mais atrativos para as construtoras.

Construções industriais: fábricas de alimento devem concluir 105 plantas até 2015.

Dados mais recentes da ABIA (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) revelam que até 2015 haverá 105 novas fábricas instaladas no país. Muitas já estão contratadas e alimentando o setor de obras industriais. No entanto, construí-las requer mais complexidade do que, por exemplo, erguer um supermercado. Atualmente, uma instalação varejista ou atacadista leva no máximo quatro meses para ser concluído. Já um complexo industrial para fabricar alimentos não fica pronto antes de um ano. "Tratam-se de construções mais sofisticadas, que precisam, por exemplo, de acabamento interno em aço inoxidável e que atendam as normas da vigilância sanitária relacionadas à higienização", explica o engenheiro civil Walter Bastos Cortes Filho, da MGM Construtora.

Para ganhar tempo, as empresas especializadas neste tipo de obra têm optado pela construção mista, que agrega pré-moldado e estrutura metálica. De acordo com Walter Bastos Cortes Filho, a escolha do sistema construtivo depende muito do local em que a fábrica será instalada. "Há regiões em que construir só com pré-fabricado não é viável, por causa do custo-benefício. Por isso, o projeto arquitetônico tem que ser muito bem pensado e desenvolvido entre a empresa que irá construir, o fornecedor das peças estruturais e o cliente", diz o engenheiro civil.

Outro ponto fundamental é definir todo o projeto antes de ir para o canteiro de obras. "Nesse tipo de construção não pode haver alterações no decorrer da obra", alerta o especialista, complementando que um dos atuais desafios da construção industrializada é a contratação de mão de obra especializada. "Como o mercado está aquecido, dificulta encontrar ociosidade neste quesito", completa.

Walter Bastos Cortes Filho: construções mistas, com pré-fabricados e estruturas metálicas, são as preferidas das construtoras especializadas.

Requisitos básicos para a construção de uma fábrica de alimentos

Local
Terreno deve estar livre de fontes de contaminação

Planta e construção do prédio
Projeto deve impedir a entrada e o alojamento de insetos, roedores e pragas, assim como contaminantes do meio, como fumaça e pó. Também precisa permitir que o fluxo de operações (chegada da matéria-prima, processo de produção e distribuição do produto final) não sofra contaminação cruzada, ou seja, as áreas de recepção e lavagem de matérias-primas in natura (animais ou vegetais) devem ser isoladas. Além disso, sanitários e vestiários não devem ter comunicação direta com as áreas do processamento.

Pisos
Material empregado deve ser resistente ao trânsito, impermeável, lavável e antiderrapante. É importante também que o nivelamento permita o escoamento da água para os ralos (do tipo sifão ou similar) impedindo a formação de poças.

Paredes
Devem ser revestidas com material impermeável e lavável, e de cores claras. Não devem conter frestas e os ângulos entre elas e o piso, e entre elas e o teto, devem ser abaulados e herméticos para facilitar a limpeza. Paredes e tetos devem ser construídos de modo a impedir acúmulo de poeira, minimizar a condensação e o desenvolvimento de mofo.

Ventilação
Deve impedir fenômenos de condensação e conter sistemas informatizados de controle de umidade. O ar insuflado ou comprimido para as áreas de processamento deve ser seco, filtrado e limpo.

Materiais mais empregados
Aço inoxidável, metal brando, cobre, bronze, alumínio, latão, titânio, concreto, ligas de cobre e de bronze.

Entrevistado
Walter Bastos Cortes Filho, diretor comercial na MGM Construtora
Currículo
Walter Bastos Cortes Filho é graduado em engenharia civil pela Unicamp (1991) e atua na MGM Construtora
Contatos: www.construtoramgm.com.br / comercial@construtoramgm.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Tecnologia do concreto corre contra o tempo

Prazo cada vez mais escasso para finalizar obras, principalmente às relacionadas à Copa do Mundo, serve de estímulo para que inovações sejam agregadas à construção civil

Por: Altair Santos

A Copa das Confederações - evento-teste que a Fifa realiza um ano antes da Copa do Mundo - acontece em junho de 2013 em seis cidades do país. Até lá, o planejamento da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) é que as reformas em boa parte dos aeroportos brasileiros estejam concluídas. Em alguns desses terminais, as obras vão além das áreas de embarque e desembarque e chegam às pistas. Tratam-se de intervenções críticas, que exigem das construtoras contratadas o emprego de alta tecnologia para cumprir um cronograma quase exíguo de tempo.

Mauro Bianco: aeroporto Afonso Pena exigiu concretagem especial na pista de pouso e decolagem.

Um exemplo desta corrida contra o relógio ocorreu no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, onde a Bianco Tecnologia do Concreto atuou numa ação especial para revitalizar a principal pista do terminal. O serviço contratado previa o envelopamento da cabagem transversal e a fixação dos sinalizadores em toda a extensão da pista. No entanto, havia a imposição de se obter resistência suficiente para suportar em poucas horas a carga do rolamento dos aviões. Para se ter ideia, as concretagens eram feitas na madrugada e o tráfego aéreo liberado às 6 horas.

Segundo o engenheiro civil Mauro Bianco, a Infraero exigia resistência mínima à compressão de 15 MPa, que foi conseguida com emprego de cimento CP V-ARI, aditivação especial para baixar a relação a/c (água / cimento) e acelerar a pega. Todavia, após avaliações internas, a engenharia da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária optou pelo uso de cimento sulfoaluminoso, fabricado pela GCC, do México (não é fabricado no Brasil e não é um cimento Portland). "A escolha se deu pelo maior tempo de trabalhabilidade e maior ganho de resistência do concreto nas primeiras horas", explica o especialista, revelando que no aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, será empregada a mesma tecnologia.

Mauro Bianco relata que o cimento sulfoaluminoso difere do Portland quanto ao produto da hidratação, que não é CSH (silicato de cálcio hidratado) nem CH (portlandita), mas etringita (C6 ASH32) que na ausência da cal não é expansiva e responsável pelo rápido endurecimento e desenvolvimento da resistência. "O cimento sulfoaluminoso não apresenta retração plástica, porque combina quimicamente praticamente com toda a água empregada no amassamento, dentro de parâmetros adequados de relação a/c (água-cimento)", revela, sobre a tecnologia empregada no aeroporto Afonso Pena.

Aeroporto Afonso Pena: pista recebia concreto de madrugada, mas precisava estar aberta para voos pela manhã.

Legado

O engenheiro civil Mauro Bianco avalia que, para a tecnologia do concreto, o principal legado trazido pelos grandes eventos que o Brasil irá sediar entre 2013 e 2016 é que eles ampliaram o leque de opções para projetos mais exigentes, agregando materiais e técnicas que até então eram inéditas ou limitadas no país. "Tem-se lançado mão da pré-fabricação, do concreto autoadensável e de soluções que permitiram apressar o desenvolvimento da resistência do concreto", cita, lembrando, porém, que o compartilhamento de inovações só é válido se forem seguidas as prescrições normativas. "Isso é imperioso para a durabilidade do concreto", finaliza.

Entrevistado
Mauro Bianco, sócio e diretor técnico da Bianco Tecnologia do Concreto
Currículo
Mauro Teixeira de Freitas Bianco é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (1975) com especialidade em tecnologia do concreto, química do cimento, tecnologia de aditivos, impermeabilização de estruturas, recuperação de estruturas, pavimentação rígida, tecnologia de revestimentos e patologias de revestimentos.
Contato: bianco@biancoconcreto.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Cresce combate à informalidade na construção civil

SindusCon do Paraná foi pioneiro na iniciativa, que hoje se propaga por outros estados. No entanto, ainda há muito trabalho pela frente

Por: Altair Santos

Com a participação de 20 instituições, entre elas Crea, Ministério do Trabalho, Ministério Público, sindicatos de trabalhadores e SindusCon, o Comitê de Incentivo à Formalização na Construção Civil já opera há quase 12 anos no Paraná. Pioneiro no país, ele tem estimulado o surgimento de práticas semelhantes em outros estados. O objetivo é comum: levar o cumprimento da legislação trabalhista aos canteiros de obras.

Euclésio Finatti: norte e nordeste do país são as regiões mais preocupantes.

Segundo o vice-presidente administrativo do SindusCon-PR, Euclésio Manoel Finatti, nenhum setor vinculado à construção civil está 100% formalizado. No entanto, é na área de reformas e de pequenas construções onde a informalidade encontra o ambiente propício para proliferar. A ponto de dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revelar que de cada trabalhador formal no canteiro de obras, 1,7 atua sem carteira assinada.

Finatti avalia que, em alguns setores, esse número é até maior. Como superar esse desafio é o que ele debate na entrevista a seguir:

O SindusCon-PR é pioneiro na iniciativa de criar um comitê para ajudar a formalizar o trabalho nos canteiros de obras. Como está isso em outros estados?
O SindusCon-PR foi quem, no início de 2001, teve a iniciativa de desenvolver uma atitude proativa no sentido de buscar uma maior formalização na construção civil. De lá para cá, a gente tem intensificado várias formas de trabalho e muitas entidades entraram como parceiras. Hoje, estamos divulgando esse trabalho Brasil afora. O modelo tem sido seguido não exatamente com o escopo que o SindusCon-PR elaborou, mas tem servido de exemplo para melhorar a formalização nos canteiros de obras. Entre os estados que já aderiram, estão Espírito Santo, Ceará, Rio Grande Sul, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de cada trabalhador formal no canteiro de obras, 1,7 atua na informalidade. Esse número pode ser considerado alarmante?
Não é que seja alarmante, mas não deveria existir. O número é muito grande quando comparado às outras profissões. O Brasil historicamente não desenvolveu atitudes à nível de governo, incentivando a formalização na construção civil. Nós passamos um período muito longo, onde pouco se preocupou com a formalização, principalmente na década de 1980. Por quê? Porque, sem mercado, os profissionais foram para a informalidade. Hoje, gradativamente, as empresas estão entendendo a necessidade de se formalizar. Além disso, o trabalhador atualmente já tem uma consciência maior de que ele perde muito se não estiver legalizado. Porém, ainda é alto o número da informalidade.

Das regiões brasileiras, qual enfrenta mais problemas com a informalidade no canteiro de obras?
No norte e nordeste do país, a informalidade ainda é muito alta. No sul, os números são mais favoráveis. Para se ter uma ideia, nas cidades do interior da região nordeste é praticamente tudo informal. Este 1,7 que o PNAD cita, é 1,7 porque engloba toda a cadeia produtiva. Mas praticamente é um para dois quando você pensa em canteiro de obra, ou seja, temos hoje perto de três milhões e cem mil trabalhadores com carteira assinada e talvez o dobro sem carteira assinada, e fazendo obras. Isso é ruim.

Então é fato que dentro da cadeia produtiva da construção civil, a informalidade concentra-se mais nos canteiros de obras mesmo?
Nas capitais, cerca de 80% da informalidade acontece nas obras formiguinhas. É o cidadão que aumenta um quarto da sua casa ou que tem um apartamento e resolve fazer uma reforma no banheiro. Nas cidades do interior, ela está relacionada com a construção de pequenas habitações, entre 30 e 40 metros quadrados. Essa economia informal se espalha de maneira bastante retilínea neste segmento da autoconstrução. Por outro, há cadastradas no país cerca de 150 mil construtoras que atuam na formalidade. Elas operam buscando financiamento para seus projetos e, por isso, precisam ter funcionários registrados, caso contrário os bancos recusam recursos para suas construções e elas nem conseguem averbar suas obras. Mas mesmo dentro desse setor formal, existe a sublocação, a qual o comitê de incentivo à formalização tem combatido com força.

Autoconstrução é ambiente propício para a informalidade e requer mais fiscalização

Com relação às pequenas fábricas que produzem pré-fabricados, há informalidade nesse setor?
informalidade em todos os setores. Não existem setores que sejam 100% formais. Tem setores que são próximos a 100% de formalidade. Existe uma menor informalidade ou uma quase 100% formalidade onde há condições de execução em canteiro fechado ou numa fábrica. O pré-moldado é um segmento muito importante, porque ele se obriga a trabalhar na fábrica e tem uma formalização muito maior do que o normal. O índice de formalização no pré-moldado é muito, mas muito maior do que em outras áreas.

Como age o comitê quando encontra a informalidade. Há uma ação apenas punitiva ou se realiza uma ação didática para conscientizar o contratante de que é mais vantajoso para ele seguir o que rezam as leis trabalhistas?
O comitê não tem poder de polícia. Somos um comitê de incentivo à formalização. O que nós fazemos são visitas diárias aos canteiros de obra, onde um técnico do SindusCon avalia todas as questões de segurança e saúde do trabalho. Um representante do sindicato dos trabalhadores também analisa toda a questão da formalização dos trabalhadores, ou seja, se ele está com a carteira assinada e tem todas as condições normais. Além disso, um representante do Crea verifica as questões da documentação do projeto. Encontrada alguma não conformidade, e dependendo do grau desta não conformidade, ela pode ser resolvida na hora ou é dada uma orientação para que seja solucionada. Agora, se encontramos um alto grau de informalidade, e se nenhuma atitude for tomada pelo engenheiro, pelo dono da obra ou pelo responsável técnico da obra, o comitê encaminha para essa obra a delegacia regional do trabalho, que, daí sim, tomará uma atitude punitiva.

Outros organismos atuam em parceria com o comitê. Quais organismos são esses?
Os principais são SindusCon, delegacia regional do trabalho, Ministério do Trabalho, Crea, sindicato dos trabalhadores e entidades que têm ligação direta com o setor, como federações das indústrias.

A reforma trabalhista, para desonerar o setor na hora da contratação, é a solução para combater a informalidade?
Ela é um componente importante para que possamos contratar em melhores condições, mas está longe de ser a solução. O problema é que o governo dita as normas positivas para os outros setores, como indústria automobilística, indústria de linha branca, mas para a construção civil isso não acontece. Nós somos a mola propulsora do país. Se a construção civil for bem, o país cresce. Pode olhar todos os índices econômicos. Verifique que quando a construção civil está em alta, ela puxa o PIB e o desenvolvimento do país. Então, voltando ao núcleo da pergunta, a atenção do governo à construção civil é mais importante que a reforma trabalhista.

Numa obra, qual é o peso do custo da mão de obra no total de gastos que ela engloba?
Há vários tipos de obras. Se você pegar pelos índices oficiais do CUB (Custo Unitário Básico) é meio a meio, ou seja, numa obra o custo do material é de 50% e o custo da mão de obra com encargos e tudo é de 50%. Agora, tem obras onde a mão de obra chega a 60% e em outra a 40%. Uma obra mais mecanizada tem um custo de mão de obra menor. Uma obra industrial tende a ter um custo de mão de obra menor, mas depende da produtividade do trabalhador, depende das condições de trabalho e de onde a obra está sendo feita. Uma obra onde tudo é linear, tudo plano e tem boa acessibilidade, tem um custo de produção menor e o custo do trabalhador fica menor. Uma obra que pode colocar mais equipamentos, dilui o custo da mão de obra. Esta é sempre uma procura do empresário, pois os custos de mão de obra aumentaram absurdamente nos anos recentes, superando a inflação.

Entrevistado
Euclésio Manoel Finatti, vice-presidente administrativo do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Paraná (SindusCon-PR)
Currículo

- Euclésio Manoel Finatti é graduado em engenharia civil pela PUC–PR e pós-graduado em engenharia de produção pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
- Também é graduado em Ciências Econômicas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná
- É diretor e responsável técnico há mais de 26 anos da Braengel - Construções e Empreendimentos Imobiliários Ltda
- Participa há 18 anos da diretoria do SindusCon-PR, do conselho deliberativo do IEP (Instituto de Engenharia do Paraná) e da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP)
- Representa a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) no grupo de trabalho PAC-
Trabalhadores da Construção Civil do ministério do Trabalho
Contatos: www.braengel.com.br  / euclesio@braengel.com.br / braengel@braengel.com.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Itep aprimora expertise em construção habitacional

Instituto de Tecnologia de Pernambuco é um dos mais tradicionais do país no desenvolvimento de pesquisas voltadas ao desempenho termoacústico de residências

Por: Altair Santos

Fundado há 70 anos, desde 1975 o Itep (Instituto de Tecnologia de Pernambuco) tem se concentrado à pesquisa da construção habitacional. Dentro do tradicional centro de excelência funciona a Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) cuja expertise a credenciou a ser uma das ITAs (Instituição Técnica Avaliadora) do SiNAT (Sistema Nacional de Avaliação Técnica). Atualmente, o laboratório voltado às inovações na construção civil tem priorizado ensaios de desempenho estrutural, como recomenda a ABNT NBR 15575 - norma de desempenho para edifícios até cinco pavimentos, prevista para entrar em vigor em março de 2013. Neste aspecto, o Itep tem subsidiado o corpo técnico da Caixa Econômica Federal (CEF) no sentido de aprovar sistemas construtivos de vedações internas de prédios, que contemplem a qualidade termoacústica das edificações.

Carlos Welligton de Azevedo Pires Sobrinho: NBR 15575 baliza novos estudos do Itep.

Segundo o engenheiro civil Carlos Wellington de Azevedo Pires Sobrinho, que chefia a Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) do Itep, no momento estão em processo de avaliação no centro de pesquisa cinco sistemas construtivos, que passam por ensaios de desempenho de conforto acústico, segurança ao fogo e durabilidade. "Há pesquisas nas seguintes áreas: gesso, no apoio às empresas produtoras de blocos e placas para forro; cerâmica, para melhorar o processo de produção e incorporação de resíduos, e cimento, destacando-se o desenvolvimento de componentes à base de solo-cimento e artefatos de cimento. Também trabalhamos na avaliação e reforço de edificações em alvenaria resistente (alvenaria estrutural)", explica.

Para desenvolver pesquisas voltadas à construção civil, o Itep conta com dois laboratórios. Um de 640 m², capacitado com prensas automatizadas para 150 e 200 toneladas, kit para ensaios completos em cimento, gesso, agregados, argamassa e concretos, duas câmaras úmidas e estufas. Já na Unidade de Tecnologia Habitacional, que ocupa uma área de 420 m², há duas prensas com controle de deslocamentos (de 150 e 10 toneladas), kit para ensaios de estanqueidade de água, kit de ensaios para avaliação de desempenho sobre segurança estrutural e câmaras que medem a acústica, a resistência ao fogo e durabilidade. O centro de pesquisa também conta com laboratório de materiais, equipamentos e kit para avaliação de produtos cerâmicos.

No Itep, há três doutores, seis mestres, cinco especialistas e oito graduados, além de dez tecnólogos e oito laboratoristas dedicados exclusivamente às pesquisas voltadas para a construção civil. "Conseguimos manter essa estrutura, por que temos uma sinergia bastante intensa com a iniciativa privada, principalmente no desenvolvimento de produtos e sistemas construtivos inovadores", frisa Carlos Wellington de Azevedo Pires Sobrinho. Além disso, o instituto sedia atualmente a comissão de estudos para normalização do gesso na construção civil da ABNT. O Itep também trabalha em novos designs para tijolos de solo-cimento e artefatos de concreto, como telhas, vasos, pias e aduelas para saneamento. "Gostaríamos que houvesse mais centros tecnológicos como o nosso, mas infelizmente ainda são poucos no país", alerta o chefe da UTH do Itep.

Saiba mais sobre o Itep: clique aqui.

Entrevistado
Carlos Wellington de Azevedo Pires Sobrinho, que chefia a Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) do Itep.
Currículo

- Carlos Welligton de Azevedo Pires Sobrinho é graduado e com mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985). Atualmente é professor assistente da Universidade de Pernambuco, coordenador de curso de pós-graduação da Escola Politécnica de Pernambuco e pesquisador nível superior do Instituto de Tecnologia de Pernambuco.
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em materiais e componentes de construção, atuando principalmente nos seguintes temas: habitação, processo construtivo, patologia das construções, avaliação de desempenho de sistemas construtivos.
- Ocupa o cargo de chefe da Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) do Itep.
Contato: carlos@itep.br / itep@itep.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Varejo de vizinhança cresce e indústria se adapta

Mudanças no perfil do consumidor valorizam pequenos estabelecimentos. Venda de material de construção está diretamente ligada a esse mercado

Por: Altair Santos

A pesquisa “Mercado de Vizinhança – Um desafio para a indústria", coordenada pela GfK Brasil, revela que de 2010 para cá os pequenos estabelecimentos registram anualmente crescimento médio de 5% nas vendas, contra 2% das grandes redes. Fazem parte deste grupo, as lojas de material de construção. Segundo a consultoria, que é especializada em estudos mercadológicos, o fortalecimento da classe C e o aumento de renda da classe D têm sido decisivos para essa mudança no perfil do consumidor em relação ao varejo.

Marco Aurélio Lima, da GfK: comércio de vizinhança é amigo do cliente.

A GfK avalia que esse público se identifica com o comércio de vizinhança, às vezes mais por questões de afetividade que de mercado. Trata-se do dono do mercadinho, ou da loja de material de construção, cuja família reside no bairro e mantém uma relação social e de proximidade com os clientes em potencial. Desta forma, a gestão do dia a dia que ele faz de seu mercado consumidor é muito mais precisa do que das grandes redes. "Normalmente, esse empreendedor não cresce exponencialmente, mas consegue manter um controle firme dos clientes de seu estabelecimento", avalia Marco Aurélio Lima, diretor da divisão de auditoria de varejo da GfK.

Outro fator favorável ao varejo de vizinhança no setor de material de construção está relacionado com a busca do cliente pela economia de tempo. "Hoje, o consumidor prefere comprar perto de sua casa ou do trabalho, para não gastar tempo em longos deslocamentos", completa Marco Aurélio Lima. Há ainda o aspecto de que a melhoria do poder aquisitivo das famílias impulsionou as pequenas reformas residenciais. "Se eu quero construir uma casa, até procuro um grande home center. Mas se quero erguer uma peça a mais na casa, ou pintar um cômodo, o varejo de vizinhança é mais conveniente", analisa o especialista.

Por conta desse fortalecimento dos pequenos estabelecimentos, a indústria procura se readaptar ao novo modelo. "Vejo a indústria num momento de conhecimento deste canal. No que se refere a bens de consumo de massa, são poucas as que conhecem com propriedade esse mercado. Por isso, há desafios a serem vencidos. O primeiro deles é a logística, principalmente para atender o varejo de vizinhança no interior do país. Além disso, o investimento em relacionamento é fundamental. O pequeno varejo não gosta de ser abandonado ao longo do tempo, o que requer uma estrutura de venda bem planejada. Outra prioridade é investir em pesquisa para entender melhor esse mercado", diz o diretor da GfK.

O especialista prevê ainda que esse novo modelo irá mexer também com o conceito de grandes redes. "As que quiserem sobreviver nesta guerra terão que praticar preços muito competitivos e oferecer um serviço diferenciado, seja na entrega, na especialidade do vendedor, no atendimento por telefone ou na venda online. Mas avalio que a tendência é ocorrer uma revisão neste formato de hiperlojas, com a criação de pontos menores e geograficamente melhor localizados", conclui.

Entrevistado
Marco Aurélio Lima, diretor da divisão de auditoria de varejo da GfK.
Currículo

- Marco Aurélio Lima é graduado em administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e possui cursos complementares, entre eles gestão de marketing no varejo (FGV PEC) e negociação e relacionamento comercial (Business School SP).
- Atua há 18 anos em empresas de pesquisa de mercado. Desde 1999 trabalha na GfK Indicator, onde ocupa atualmente o cargo de diretor da divisão de auditoria de varejo.
- No tema de responsabilidade social, é consultor familiar pelo Instituto Europeu de Estudos da Educação e diretor-executivo do Instituto Brasileiro da Família (associado à International Federation for Family Development – órgão consultivo da ONU).
Contato: contato@gfk.com
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Norma aprimora vistoria em pontes e viadutos

Relatório dramático do Tribunal de Contas da União, sobre situação das obras de arte nas rodovias federais, levou ABNT a priorizar a revisão da NBR 9452

Por: Altair Santos

O ano de 2012 foi diferente para a área de normalização da construção civil no Brasil. O meio técnico voltou-se mais para a revisão do que para o desenvolvimento de novos documentos. Desta forma, uma das áreas da ABNT que mais trabalhou foi a Comissão de Estudo Especial de Inspeções de Estrutura de Concreto (ABNT/CEE-169). Ela debruçou-se, por exemplo, nas revisões da ABNT NBR 9607 (ensaio de prova de carga em estruturas de concreto) e da ABNT NBR 9452 (vistorias de pontes e viadutos de concreto - procedimento).

Inês Battagin: ano de revisões de normas técnicas priorizou a ABNT NBR 9452.

Segundo Inês Battagin, superintendente do ABNT/CB18 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados) era importante que se desse prioridade às revisões. "Havia a necessidade de atualização do acervo de normas brasileiras estabelecido pela ABNT, até para que ele ficasse em conformidade com as diretrizes internacionais de normalização", justifica. Foi o que se fez com a NBR 9452, cuja revisão tornou-se prioridade após o desabamento de um pedaço da Ponte dos Remédios, ocorrido no final de 2011, em São Paulo.

O problema com a estrutura do viaduto na capital paulista foi apenas a ponta do iceberg. Meses depois do acidente, o Tribunal de Contas da União revelou que 6.612 viadutos e pontes localizados nas estradas federais brasileiras apresentavam algum tipo de patologia. O TCU acusou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de não promover vistorias com regularidade nas construções. Pior: detectou que o Sistema de Gerenciamento Informatizado de Obras de Arte Especiais (SGO) tinha um banco de dados que não era atualizado desde 2004.

Diante do comprometimento de um patrimônio avaliado em R$ 13 bilhões, a Comissão de Estudo de Inspeções de Estrutura de Concreto (ABNT/CEE-169) mobilizou todo o seu corpo técnico para atualizar a NBR 9452, a qual, a partir de agora, encontra-se em um processo de revisão permanente. "A comissão avaliou o texto em vigor e decidiu, inicialmente, por sua confirmação. Mas os trabalhos de revisão devem continuar em 2013, à luz das novas exigências e tecnologias", destaca Inês Battagin.

Recuperação de ponte na rodovia Régis Bittencourt: poucas são vistoriadas e consertadas nas rodovias federais do Brasil.

Fazem parte da CEE-169, projetistas, inspetores de estruturas, representantes de concessionárias de rodovias, entidades de pesquisa, entidades responsáveis por treinamento de pessoas para atividades na construção civil, entidades responsáveis pela certificação de pessoas para controle tecnológico do concreto e inspeção de estruturas, universidades e consultores. "Todos se debruçaram sobre o escopo principal da NBR 9452, que se aplica às pontes e viadutos de concreto, antigos ou novos, construídos no território nacional", explica a superintendente do ABNT/CB18.

Entrevistado
Inês Battagin, superintendente do ABNT/CB18 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados)
Currículo

- Inês Laranjeira da Silva Battagin é graduada em engenharia civil.
- É superintendente do ABNT/CB18 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados) da Associação Brasileira de Normas Técnicas.
- Também é membro dos conselhos técnico e deliberativo da ABNT, além de consultora da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland).
- Ocupa cargo na diretora técnica do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto), na comissão de credenciamento do Selo de Qualidade ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) e na comissão de certificação do Selo de Qualidade da ABCP.
- É sócia-diretora da Master Engenharia e Consultoria S/S Ltda.
- É responsável pelos trabalhos de representação do Brasil nos Comitês Técnicos da ISO de Cimento (TC74), Concreto (TC71) e Produtos à Base de Cimento Reforçados com Fibras (TC77).
- Também é autora de trabalhos e artigos técnicos diversos sobre normalização de cimento, concreto, produtos à base de cimento e durabilidade das estruturas de concreto.
Contato: ines.consult@abcp.org.br inesbattagin@terra.com.br
Créditos fotos: Divulgação/OHL

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Falta de engenharia pública gera desperdício

Governos pouco investiram em profissionais e agora sentem dificuldade para planejar, licitar e fiscalizar obras, seja na esfera federal, estadual ou municipal

Por: Altair Santos

Em 27 de agosto de 2012, o jornal Folha de S. Paulo publicou o artigo intitulado "Onde estão nossos engenheiros?". Nele, o ex-ministro, e hoje professor emérito da Fundação Getúlio Vargas, Luiz Carlos Bresser Pereira ataca o problema de frente. "Faltam engenheiros no Estado brasileiro. Há advogados e economistas de sobra, mas faltam dramaticamente engenheiros. Enquanto mais de 80% da alta burocracia chinesa é formada por engenheiros, no Brasil não devem somar nem mesmo 10%. Ora, se há uma profissão que é fundamental para o desenvolvimento, tanto no setor privado quanto no governo, é a engenharia", analisa.

Engenheiros civis: no passado, primordiais ao poder público; agora, trocados por economistas.

Para o presidente do Confea/Crea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) José Tadeu da Silva, não é de hoje que essa carência se estabeleceu no poder público. "Vários fatores nos levaram a isso. Entre eles, a falta de investimentos, principalmente em infraestrutura, e os baixos índices de crescimento econômico e desenvolvimento social que caracterizaram o Brasil nas décadas de 1980 a 1990. Nesse período, as equipes técnicas dos governos federal, estadual e municipal foram desmontadas, com os profissionais deslocados para outros setores, mudando de função, e criou-se um vazio técnico. É diante dele que estamos agora", afirma.

Em seu artigo, Luiz Carlos Bresser Pereira destaca que há quatro setores que formam um governo: jurídico, econômico, social e de engenharia. "Ninguém tem força para desmontar os dois primeiros; seria possível desmontar o setor social, mas, com a transição democrática e a Constituição de 1988, ele passara a ser prioritário. Restava o setor de engenharia - foi esse o setor que se desmontou", escreveu. José Tadeu da Silva avalia que esse desmonte levará mais alguns anos para ser refeito. "Hoje não temos profissionais preparados em quantidade e qualidade. São necessários anos para formar um bom profissional", destaca.

O presidente do Confea/Crea credita parte do desperdício que se vê com o dinheiro público a essa escassez de engenheiros em departamentos estratégicos dos governos, seja na esfera federal, estadual ou municipal. "Em geral, a demora na execução das obras públicas se deve à falta de um planejamento bem elaborado e à falta de projetos executivos detalhados que  proporcionem a preparação de um orçamento adequado. No Brasil, ao contrário do resto do mundo, dedica-se pouco tempo ao planejamento, o que, entre outras coisas, implica na demora da execução e na readequação dos custos", alerta.

José Tadeu da Silva: governos desmontaram as equipes técnicas nos anos 1980 e 1990.

A pedido do governo federal, o Confea/Crea elaborou um plano de remontagem das equipes técnicas e sugeriu que seja dada prioridade à realização de concursos públicos para áreas estratégicas como Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) e ministérios das Cidades, das Minas e Energia e do Planejamento, além da Petrobras. Outra proposta é que passe a ser colocada em prática a lei 11.888/2008, conhecida como lei da Engenharia Pública, no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida. Com isso, as famílias com renda de até três salários mínimos ganhariam assistência gratuita de engenheiros para reformar ou construir casas com até 60 m². "Isso evitaria desperdício de material, menos gastos, e um melhor aproveitamento do terreno", finaliza José Tadeu da Silva.

Salário baixo

Pesquisa de 2009, encomendada pelos principais sindicatos de engenheiros do país ao Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos So­­cioeconômicos) revela que o salário baixo é outro empecilho para que os engenheiros civis atuem no serviço público. Segundo o levantamento, 84,4% dos profissionais que estavam no mercado formal há quatro anos ocupavam cargos em empresas privadas e apenas 15,6% estavam empregados em organismos de governo. Outro detalhe relevante é que, em 2009, 60% dos que desempenhavam a função de engenheiro no poder público, fosse nas esferas federal, estadual ou municipal, ganhavam menos do que os que estavam no setor privado.

Veja o que diz a lei 11.888/2008: clique aqui.

Leia íntegra do artigo de Luiz Carlos Bresser Pereira: clique aqui.

Entrevistado
José Tadeu da Silva, presidente do sistema Confea/Crea.
Currículo

- José Tadeu da Silva é engenheiro civil graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas-SP, em 1976. Também tem graduação em direito, pela Fundação Otávio Bastos, em 1992.
- Já presidiu a Federação das Associações de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (FAEASP), o Crea-SP e atualmente preside a Federação Brasileira de Associações de Engenheiros (FEBRAE).
- É membro da União Panamericana das Associações de Engenheiros (UPADI), da Federação Mundial das Organizações de Engenharia (WFEO/FMOI) e do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape).
- Em 2011, foi eleito para o exercício da presidência do Confea, com mandato de 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2014.
Contato: presidente@confea.org.br
Créditos fotos: Divulgação/Confea

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Legado de Niemeyer aquece turismo arquitetônico

Para quem cultua obras do arquiteto, Brasília é parada obrigatória. Estima-se que, até 2018, mais de 300 mil estrangeiros visitem a capital federal por ano

Por: Altair Santos

Nos próximos cinco anos, Brasília espera se equiparar ao que hoje Barcelona representa para o turismo arquitetônico mundial. Na cidade espanhola, são as obras do arquiteto Gaudi que atraem milhares de visitantes anualmente. Na capital federal, a expectativa é que o legado de Oscar Niemeyer estimule a vinda de mais estrangeiros ao país. De certa forma, isso já ocorre. Entre 2008 e 2012, Brasília teve um aumento de 359% no fluxo de turistas, segundo dados da Fundação Barcelona Media - recentemente contratada pelo Sebrae Centro Oeste para desenvolver o plano de desenvolvimento turístico do Brasil Central.

Catedral Metropolitana de Brasília: monumento mais visitado no Distrito Federal.

A meta é que os atuais 105 mil visitantes que desembarcam em Brasília anualmente para realizar turismo arquitetônico saltem para 300 mil até 2018. Para que isso aconteça, está ocorrendo uma união de esforços para valorizar as obras de Niemeyer na cidade.

Decidiu-se recentemente, através da Secretaria de Turismo do Distrito Federal, que, em conjunto com a Universidade de Brasília e o Brasília Convention & Visitors Bureau, será implantado um observatório com capacidade de diagnosticar falhas e propor melhorias para o roteiro arquitetônico da capital.

Isso vai desde mapear os turistas que viajam a Brasília, com a prioridade de visitar as obras de Niemeyer, até elaborar um projeto de preservação e de incentivo à construção de projetos que o arquiteto deixou engavetado.

Entre eles, o Memorial João Goulart. "Há ainda muitos projetos desenhados que podem vir a se concretizar, mas como são obras públicas, dependemos do interesse do governo local", afirma Delfim da Costa Almeida, secretário executivo do Brasília Convention & Visitors Bureau.

Delfim da Costa Almeida: roteiro arquitetônico gera 50 mil empregos diretos e indiretos em Brasília.

Segundo o especialista, o turismo arquitetônico gera 50 mil empregos diretos e indiretos na capital federal. Dados do Brasília Convention & Visitors Bureau mostram também que a Catedral Metropolitana é a obra mais procurada pelos turistas que querem visitar o legado de Niemeyer.

Ainda segundo o organismo, franceses e alemães são os estrangeiros que mais se deslocam à capital federal em busca desta modalidade de turismo. Estima-se que o arquiteto, que morreu em 5 de dezembro de 2012, aos 104 anos, tenha projetado cerca de 100 obras para Brasília. No entanto, apenas metade delas se transformou em marco para a construção civil mundial.

Confira guia com as principais obras de Niemeyer em Brasília: clique aqui

 

Entrevistado
Delfim da Costa Almeida, secretário executivo do Brasília Convention & Visitors Bureau
Currículo
- Delfim da Costa Almeida é graduado em economia, com pós-graduação em turismo pela Universidade de Brasília. Está no setor de turismo desde 1972.
- Já presidiu o Brasília Convention & Visitors Bureau, entre 2005 e 2006. Foi também presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo no Centro Oeste (Adetur) e secretário de turismo do Distrito Federal, em 2010.
- Atualmente é membro do Condetur (Conselho de Desenvolvimento do Turismo no DF).
Contato: delfim@brasiliaconvention.com.br

Créditos foto: Divulgação /Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330