Senado atende apelo do setor construtivo e barra RDC

Regime Diferenciado de Contratação está limitado à construção de presídios. Próximo passo é conseguir modernizar e qualificar a Lei das Licitações

Por: Altair Santos

Criado na forma de medida provisória, o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) surgiu em 2011 para dar celeridade às obras para a Copa do Mundo. Numa tentativa de estender o RDC para todas as obras públicas de âmbito federal, estadual e municipal, o Palácio do Planalto enviou no começo de 2014 uma outra medida provisória - a MP 630 - e gerou desconforto ao setor da construção civil. Organismos como SindusCons, Confea, Sinaenco e CAU-BR se posicionaram contra o RDC por ele dar margem a empreendimentos sem qualidade.

Kátia Abreu: senadora é a relatora do projeto que muda a Lei 8.666.

Para o vice-presidente do Sinaenco, João Alberto Viol, ao simplificar as regras de licitação, o RDC cria problemas nas etapas seguintes das obras. “O governo ganha tempo na concorrência, mas não sabe direito o que contratou. Se o projeto contratado pelo menor preço for malfeito, a obra certamente vai atrasar. No fim, o poder público vai pagar mais, porque os trabalhos, tanto o projeto quanto a própria execução da obra, terão de ser refeitos”, critica.

Assessor para assuntos institucionais do CAU-BR, o arquiteto Gilson Paranhos diz que o RDC trouxe outro agravante. Segundo ele, o regime emergencial abre brechas para superfaturamentos ao permitir que, no caso de obras licitadas apenas com base nos anteprojetos (esboço de projetos) as próprias construtoras encarreguem-se da conclusão dos projetos. “Isso traz um conflito de interesse, porque as construtoras têm preocupações distintas de quem contratou a obra”, adverte.

Sensível aos alertas dados pelo setor da construção civil, o Senado Federal rejeitou, no final de maio de 2014, a MP 630 e manteve o Regime Diferenciado de Contratações apenas para obras e serviços de engenharia relacionados à construção, ampliação ou reforma de presídios e unidades de internação de adolescentes infratores. Mas a discussão não para por aí. Foi transferida para os debates em torno da reforma da Lei Federal 8.666, mais conhecida como Lei das Licitações. A reivindicação dos organismos de engenharia e arquitetura é que prevaleça a contratação pelo projeto executivo da obra.

Critério técnico
Designada como relatora do texto que reforma a Lei 8.666, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) mostra-se favorável à qualificação das obras e reconhece que equívocos devem ser corrigidos. "O Fiscobras de 2012, relatório de fiscalização de obras elaborado pelo TCU, indicou que 45% das obras investigadas apontaram projetos deficientes ou desatualizados e em 41,5% houve apontamento de sobrepreço ou superfaturamento. Portanto, tratar corretamente a conduta para a confecção de projetos é tratar os procedimentos com melhor planejamento e buscar a aquisição do projeto tecnicamente mais bem elaborado. Deve contribuir nesse sentido a simples mudança do conceito de projeto básico para projeto completo”, cita em seu relatório.

Kátia Abreu avalia que as mudanças propostas na reforma da Lei das Licitações, através de seu relatório, tendem a mudar o viés da contratação de obras públicas, priorizando o critério técnico. "Foi importante resgatar a qualidade dos projetos, pois a grande reclamação dos órgãos de controle refere-se à ineficiência destes projetos. Este foi um resgate fundamental. Optar pela qualidade dos projetos tira aquela coisa de política, de que tudo tem que ser feito pelo menor preço. Às vezes, o mais barato não é o mais econômico para a administração pública", diz.

Clique aqui e confira a íntegra do relatório que altera a Lei Federal 8.666.

Entrevistados
- Senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) relatora da reforma da lei federal 8.666 (Lei das Licitações)
- Engenheiro civil João Alberto Viol, vice-presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco)
- Arquiteto Gilson Paranhos, assessor para assuntos institucionais do Conselho de Arquitetura e Urbanisno (CAU-BR)

Contato
katia.abreu@senadora.gov.br
sinaenco@sinaenco.com.br
comunicacao@caubr.org.br

Crédito Foto: Wenderson Araújo/Senado Federal

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Construção civil também precisa de uma "Embrapa"

Presidente da CBIC cobra investimento federal em desenvolvimento tecnológico do setor, como já ocorre há quatro décadas com a agropecuária

Por: Altair Santos

Para o novo presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) José Carlos Martins, a construção civil brasileira precisa de um programa para desenvolver tecnologias e tornar-se mais competitiva. Ele cita como exemplo o salto dado pela agricultura e pela pecuária, quando o governo federal criou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em 1973. "Por que ficamos para trás no aspecto tecnológico? Existem dois pontos básicos para esta resposta: dinheiro barato e continuidade de programas. Ninguém vai investir para amanhã desmobilizar sua equipe ou devolver a máquina que comprou. Por isso, a construção civil precisa de um grande programa nacional para a construção civil, nos moldes do que foi feito em cima da agricultura. A construção precisa de um organismo similar à Embrapa. O governo federal precisa entender que é importante investir no nosso setor", destacou.

José Carlos Martins: em defesa de mais investimento tecnológico e recursos para pequenos construtores.

Vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Embrapa foi criada para desenvolver um modelo nacional para o setor. A partir dela, a agropecuária brasileira tornou-se uma das mais eficientes e sustentáveis do planeta. Incorporou uma larga área de terras degradadas dos cerrados aos sistemas produtivos e fez da região Centro-Oeste a responsável por quase 50% da produção de grãos do país. A Embrapa também possibilitou quadruplicar a oferta de carne bovina e suína e ampliou em 22 vezes a oferta de frango. Essas são algumas das conquistas que tiraram o país da condição de importador de alimentos básicos para a condição de um dos maiores produtores e exportadores mundiais.

José Carlos Martins, que a partir de 1º de julho de 2014 substitui Paulo Safady Simão na presidência da CBIC, usou a Embrapa como exemplo em recente palestra no Encontro Nacional para Inovação na Construção Civil (ENINC), que aconteceu em Curitiba. Ele também comentou, em tom crítico, o fato de o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) não criar linhas de crédito para pequenos construtores. "As linhas de crédito do BNDES começam a partir de R$ 10 milhões. Mas há pequenas construtoras que não conseguem captar esse dinheiro. Precisaria de linhas de crédito mais baratas. Mesmo assim, a construção civil cresceu muito em dez anos. Saltamos de um milhão para 3,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Saímos de um PIB do setor de R$ 2,3 bilhões para R$ 120 bilhões. Mas queremos continuar crescendo mais, e isso exige um reposicionamento e uma visibilidade maior", destaca.

Estímulo à inovação
Com mandato até 2017, José Carlos Martins assegurou que irá estimular a inovação na construção civil nacional. "Nós da CBIC, do Sinaenco, da Abramat e da Anamaco, que representamos boa parcela do setor, temos que nos perguntar constantemente: o que queremos como construção civil?", questiona. Para mostrar a filosofia que irá seguir, Martins assegurou estímulo a projetos que já funcionam na CBIC, com o Programa de Inovação Tecnológica (PIT), coordenado por Raquel Naves Blumenschein. O PIT procura atender ao Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) e às exigências e critérios de certificações ambientais e de construção sustentável, em conformidade com determinações do ministério do Meio Ambiente. Uma de suas metas é proporcionar obras com menor consumo de água, de energia e de geração de resíduos sólidos.

Entrevistado
Engenheiro civil José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
Contato
coordenacao@cbic.org.br

Crédito Foto: Divulgação/Fiep

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

BRT é futuro, metrô é passado, afirma Jaime Lerner

Arquiteto e urbanista, que há 40 anos implantou o Bus Rapid Transit em Curitiba, avalia que política nacional de mobilidade urbana está equivocada

Por: Altair Santos

Arquiteto, ex-prefeito de Curitiba por três vezes e governador do Paraná por duas vezes, além de criador do sistema que ficou mundialmente conhecido como BRT (Bus Rapid Transit), Jaime Lerner avalia que a mobilidade urbana no Brasil encontrará sua eficácia no sistema de ônibus que percorre canaletas exclusivas, e não no metrô. Em recente palestra na OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil) Lerner disse não ter nada "contra o metrô", mas defende que o programa do governo federal, o qual pretende investir R$ 50 bilhões no modal subterrâneo, canalize seus recursos para o BRT. "Construções subterrâneas estão cada vez mais caras. Com esse dinheiro, dará para fazer no máximo três linhas de metrô, enquanto que, com os mesmos recursos, é possível implantar BRTs em cem cidades brasileiras de duzentos mil a cinco milhões de habitantes", diz.

Jaime Lerner: obras subterrâneas em ambiente urbano estão cada vez mais caras.

Jaime Lerner apresentou números. Mostrou que com R$ 50 bilhões seria possível implantar BRTs em 70 cidades entre 200 mil e 500 mil habitantes, assim como em 17 municípios entre 500 mil e 1 milhão de habitantes e em 11 cidades entre 1 milhão e 5 milhões de habitantes, além de atender duas metrópoles com mais de 5 milhões de habitantes. "É possível atingir essas cidades com BRT, e solucionar os problemas de mobilidade urbana delas sem recorrer ao metrô", assegura. Ele lembrou ainda que hoje é inviável criar uma rede de transporte público baseada no metrô, como as que existem em cidade como Londres, na Inglaterra, e Paris, na França. "Construir redes completas de metrô não é mais possível. Londres e Paris fizeram isso quando era barato trabalhar no subterrâneo", completa o urbanista, para quem o metrô atualmente é viável apenas para interligar cidades de regiões metropolitanas.

Metrô em Curitiba

Lerner fez uma abordagem específica sobre a transformação que se pretende implantar em Curitiba, substituindo o sistema de BRT pelo metrô, e foi veemente. "É um embuste, que vai quebrar uma rede consolidada e trocá-la por meia linha de metrô, a qual vai custar até R$ 6 bilhões", critica, lembrando que há 40 anos, quando foi implantado na capital paranaense, o Bus Rapid Transit transportava 50 mil passageiros/dia e hoje é usado por 2.700.000 passageiros/dia.  "A cidade não precisa da troca do sistema, mas de manutenção do sistema, acompanhada de inovações. Quando surgiram as canaletas exclusivas, os ônibus biarticulados e as estações-tubo, o conjunto 'metronizou' o ônibus. O problema é que hoje o sistema está se deteriorando. A rede perdeu o sincronismo", alerta.

BRT Curitiba: para Lerner, canaletas, biarticulados e estações-tubo "metronizaram" o sistema.

O arquiteto e urbanista citou que o sucesso do BRT está no número de metrópoles que hoje o utilizam. "Há 126 cidades usando o Bus Rapid Transit em todo o mundo. Desde Bogotá, na Colômbia, até várias metrópoles chinesas, europeias, nos Estados Unidos e no Canadá. Mas é preciso frisar que essas 126 cidades, de fato, implantaram os conceitos do sistema. Só pintar uma faixa no asfalto e torná-la exclusiva para ônibus não funciona. O que funciona é a rede, é integrar o BRT à cidade. Hoje, no Brasil, só o Rio de Janeiro está fazendo isso. Lá o BRT realmente está conseguindo melhorar o sistema, interligando-se ao metrô já existente e às novas linhas em construção", afirma Lerner, resumindo que o transporte coletivo precisa atender três problemas das cidades atuais: mobilidade, sustentabilidade e convivência entre as pessoas.

Saiba mais sobre o BRT.

Entrevistado
Jaimer Lerner, arquiteto e urbanista, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná.
Contato
contato@jaimelerner.com

Créditos Fotos: Divulgação/OAB-PR/Prefeitura de Curitiba

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

No Brasil, manta de concreto tem mil e uma utilidades

Material inventado na Inglaterra pode ser usado em canais de irrigação, para revestir diques, envelopar dutos e proteger encostas de deslizamentos

Por: Altair Santos

Imagine uma manta envolta em uma argamassa especial, cuja fórmula é mantida em segredo pelos seus inventores, e que, por causa de componentes aceleradores transforma-se em uma fina camada de concreto ao entrar em contato com a água. É esse material que tem sido usado em um diversificado número de obras em 45 países, e mais recentemente no Brasil. Na Inglaterra e na Espanha, o produto é aplicado principalmente nos setores ferroviários e rodoviários. Na África do Sul, a indústria de cana de açúcar usa a manta para irrigação. Outra aplicação é vista no Chile, no Canadá e no Oriente Médio, onde o material é utilizado para envelopar dutos de óleo e gás.

Manta de concreto: fórmula do cimento usado no produto é segredo do fabricante

A praticidade da manta de concreto, o que a transforma em um elemento com "mil e uma utilidades" na construção civil, permite economia de tempo até dez vezes maior do que uma obra convencional. "Uma vala de 50 metros em uma refinaria, em vez de demorar dois dias e meio, foi construída em duas hora e meia. A economia mínima é de 20% de mão de obra direta e indireta, no custo de material e no custo de equipamentos utilizados, se comparado, por exemplo, ao concreto projetado", explica Ian Pacey, diretor da Concrete Canvas Brasil, que trouxe a invenção inglesa para o mercado nacional.

No país, a manta de concreto é vendida em rolos portáteis de 1,10 m de largura, até 10 m², ou a granel, com 1,10 m de largura até 200 m, e vem em três espessuras : 1) CC5 – 5 mm de espessura; 2) CC8 – 8 mm de espessura, e 3) CC13 – 13 mm de espessura. A SPI - Engenharia e Representações, que detém os direitos do produto no Brasil, oferece o serviço de treinamento teórico e prático aos clientes. O setor agropecuário brasileiro tem sido o que mais consome o material. "O que é especial nesta manta é que, ao contrário dos sistemas de concretagem, que normalmente levam até 28 dias para cura, esta tecnologia, em 24 horas, atinge 80% da resistência/cura (fck = 30 MPa) e, em apenas 48 horas atinge 100% potência/cura (fck = 40 MPa)", diz Ian Pacey.

Procedimentos para instalação da manta de concreto

Manta pode ser usada para revestir valas de irrigação

1) Para valas, utilizar a manta de 5 mm. Para canais e camadas de contenção e impermeabilização, utilizar a de 8 mm.

2) Importante retirar qualquer protuberância, como pedras, raízes ou galhos.

3) Material deve ser fixado diretamente no solo, com estacas de 40 cm ou 60 cm, a cada 2 metros.

4) Levar a manta para aplicação ainda em sua embalagem, especialmente em tempo chuvoso, para o produto não iniciar processo de hidratação.

5) Abrir a embalagem no local, desenrolar a manta, iniciando pelo final da vala, deixando o tecido para cima, a fim de receber a hidratação, e o lado impermeável da manta direto no solo.

Manta ajuda a proteger encostas sob risco de deslizamento

6) Fixar estacas nos cantos de sobreposição de um rolo para o próximo.

7) Sempre fixar estacas antes de processo de hidratação.

8) Após os rolos estarem bem posicionados, e devidamente fixados, é que inicia-se o processo de hidratação.

9) A hidratação deve ser feita com água sem pressão, regando o produto em excesso (encharcando) com 1 volume de água para 2 de Concrete Canvas. Faz-se uma aplicação inicial de água e após uma hora desta primeira hidratação checar o posicionamento do produto para ajustes e iniciar a segunda hidratação, igual a anterior. Não há perigo de hidratação em excesso, mas sim perigo de sub-hidratação. É importante aplicar água até que o produto esteja encharcado.

10) Durante as primeiras duas horas de hidratação, o produto ainda pode ser moldado e trabalhado.

Manta permite criar canais para escoar a chuva

11) Após a segunda hidratação, não permitir movimentação sobre o produto. Em 48 horas, o produto atinge 100% da cura/potência (fck = 40 MPa).

12) O tempo de vida útil do produto é de dois anos a partir da fabricação, com o produto ainda na embalagem sem a violação, e armazenado em local seco.

Entrevistado
Ian Pacey, diretor da Concrete Canvas Brasil e da SPI  Engenharia &  Representações

Contatos
pacey-spi@uol.com.br
www.concretecanvas.com.br

Créditos Fotos: Concrete Canvas/Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Lean Construction mexe com paradigmas do setor

Filosofia transforma cultura da construtora, para que resultados não sejam obtidos em apenas uma obra, mas em todos os processos da empresa

Por: Altair Santos

Em agosto, o Brasil sedia pela primeira vez um encontro internacional sobre Lean Construction. O evento acontecerá em São Paulo e o objetivo é atingir engenheiros, gerentes, superintendentes e diretores de construtoras que atuam em obras rodoviárias, metroviárias, ferroviárias, portuárias, usinas hidroelétricas, termoelétricas e nucleares, plataformas off shore, instalações petrolíferas e petroquímicas, além de pontes, viadutos, aeroportos, oleodutos, gasodutos, linhas de transmissão, obras de saneamento, edifícios residenciais, comerciais, condomínios, edificações para fábricas, shopping centers e hotéis.

Jevandro Barros: em agosto, Brasil vai sediar o primeiro evento sobre novo modelo de gestão

Para Jevandro Barros, diretor-geral do Institute for Operational Excellence Brasil - promotor do 1º Summit Internacional IOpEx - essa é a chance de a filosofia Lean ganhar corpo no país. "As empresas necessitam buscar diferenciais competitivos que as levem a outros patamares de resultados. As margens de lucro dos projetos estão cada vez menores, a produtividade do colaborador brasileiro ainda é muito baixa se comparada a outros países, os desperdícios em nossos processos ainda são muito elevados e nossa expectativa é de que a construção consiga se adaptar à filosofia Lean", avalia.

O Lean é uma filosofia de gestão e a Lean Construction é a adaptação para o mercado de construção. O modelo engloba conceitos como TQM (Total Quality Management ou Gestão da Qualidade Total), Just in Time (programa que reduz o desperdício), assim como o Just in Sequence (automação do Just in Time), o BSC (sistema de gestão de desempenho) e a Teoria das Restrições, voltada para o aumento do desempenho, entre outros desenvolvedores. "Procuramos juntar o que há de melhor em relação a modelos de gestão e metodologias de aumento de performance, adaptando-os às particularidades da construção civil", explica Jevandro Barros.

O objetivo da Lean Construction é mexer com paradigmas do setor, entre eles:
- Entregar a obra no prazo.
- Manter a satisfação e o envolvimento de seus colaboradores do início ao fim da obra, atentando para aspectos voltados à Segurança, Meio Ambiente, Ergonomia e Motivação.
- Produzir com qualidade.
- Reduzir os desperdícios dos processos produtivos e administrativos.
- Reduzir custos e, com isso, aumentar a margem operacional.
- Satisfazer seu cliente desde o início até a entrega do empreendimento.
- Alcançar resultados estratégicos de seus respectivos negócios de forma orientada, padronizada e com sustentabilidade.

Arena Amazônia

Arena Amazônia: Lean Construction foi aplicada na construção do estádio

De acordo com Jevandro Barros, a Lean Construction tem um mercado praticamente inexplorado no Brasil. "Algumas empresas brasileiras, principalmente da área civil predial, vêm desenvolvendo iniciativas de caráter experimental, ou seja, através de pequenos e rápidos projetos-piloto. No país, o primeiro grande projeto de Lean Construction ocorreu na construção da Arena da Amazônia. O estádio é o nosso principal case para disseminar o sistema na construção civil", cita, relacionando as conquistas obtidas na obra erguida em Manaus para a Copa do Mundo:

- Aumento médio da produtividade dos colaboradores da produção de 35%.
- Aumento médio da produtividade dos colaboradores administrativos de 25%.
- Aumento do índice de satisfação dos colaboradores.
- Redução média do número de desperdícios nos processos (produtivos e administrativos) de aproximadamente 60%.
- Redução média dos custos dos projetos de 20% a 40% em relação ao orçamento (mão de obra, materiais, equipamentos, ferramentas, projetos).
- Redução média dos prazos intermediário e final entre 15% e 35% em relação ao planejado.

Como a Lean Construction é também um modelo de gestão, a construtora interessada em implantar o processo não pode ter ansiedade para obter resultados. "Para que a empresa possa colher resultados realmente sustentáveis, pode levar de três a cinco anos. Este é um excelente período para que as mudanças sejam feitas e para que as pessoas possam assimilar todo o processo de melhoria contínua como um todo. Dentro de todo o processo há planejamentos de curto, médio e longo prazos", alerta o especialista.

Entrevistado
Engenheiro mecânico Jevandro Barros, diretor-geral do Institute for Operational Excellence Brasil, com MBA em Gestão e Sistemas de Produção para Indústria Automotiva pela UFRJ, Lean Expert pela Lean Coaching da Alemanha, Lean Construction Specialist pelo Institut fuer Innovation und Management GmbH – Alemanha e Lean Construction Expert pelo The Associated General Contractors of America - USA
Contato: www.instituteopexbrasil.org/site/home/contato

Créditos Fotos: Divulgação/Chico Batata/Agecom-AM

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Nova versão da ISO 9001 aborda gestão de risco

Atualização entrará em vigor em 2015 e vai abolir termo “ação preventiva” para que empresas priorizem o comportamento humano e suas consequências

Por: Altair Santos

No ano que vem, a ISO das ISOs será republicada com atualizações. A expectativa é de que as mudanças tenham reflexo em todas as normas existentes. A ISO 9001 é a norma mais popular mundialmente, e a comissão técnica responsável por ela já está trabalhando sobre a nova estrutura. A ISO pretende, com essa revisão, proporcionar condições idênticas de estrutura, texto e de termos e definições comuns para as normas de sistemas de gestão. Mas entre as modificações, uma será relevante: a versão 2015 da ISO 9001 vai estabelecer um raciocínio com base na gestão de risco para todas as etapas críticas do processo. O objetivo é que essa ferramenta permita que o sistema se apoie mais no comportamento humano do que apenas em um conjunto de procedimentos e registros. Essas e outras alterações, o especialista Igor Grativol Furniel explica na entrevista a seguir:

Igor Grativol Furniel: ISO 9001 é base para outras normas e mudanças na versão 2015 se refletirão nas demais normas


A ISO 9001 vai mudar em 2015. O que vai mudar?

A ISO 9001 está passando por mais um processo de mudanças e melhorias, dentre elas vale destacar:

1. Adoção do Anexo SL
O Anexo SL é uma ótima notícia para qualquer pessoa envolvida com normas de gestão ISO. A partir de seu uso, cerca de 30% dos textos das normas passa a ser idêntico. A utilização da mesma estrutura, bem como os termos e definições comumente utilizados, tornará muito mais fácil e menos demorado e, consequentemente, mais barato de implementar, integrar e manter os sistemas de gestão.


2. Os 8 princípios da qualidade serão 7

a. Foco no Cliente
b. Liderança
c. Competência e Engajamento das Pessoas, antigo “Envolvimento das pessoas”. Agora mais amplo e preocupado em verificar a real entrega, comprometimento dos colaboradores em cada processo.
d. Abordagem de processos, agrupando os antigos: “Abordagem de processos” e “Abordagem do Sistema para gerenciamento”.
e. Melhoria, antigo “Melhoria continua”. A partir da versão 2015 toda melhoria é considerada e nem sempre há uma característica de continuidade.
f. Decisão baseada em informação, simplificando o antigo “Abordagem com base em dados para a tomada de decisão”.
g. Gestão de relacionamento, substituindo o antigo “Relações de fornecimento mutuamente benéficas”, reforçando que o relacionamento acontece em todos os níveis e não só entre cliente e fornecedor.

3. Adoção do “pensamento com base no risco”
As empresas que implementarem a versão 2015 da ISO 9001 deverão estabelecer um raciocínio com base em gestão de risco para todas as etapas críticas do processo. Será que tal decisão trará prejuízos financeiros? Como nossos clientes podem reagir a esta mudança? E assim por diante. Diferente do que muitos pensam, o objetivo da ISO é fazer com que as empresas pensem nas oportunidades e não só em riscos. Esta deve ser a maior ferramenta para pensar e agir preventivamente, uma vez que o termo “ação preventiva” será abolido. Assim, o sistema passa a se apoiar mais em comportamento humano do que apenas em um conjunto de procedimentos e registros.

4. Adoção do termo “Bens e serviços” em vez de “produto”

5. Eliminação do termo “ação preventiva”
O conceito agora está embutido na norma inteira (“risco”).

6. Adoção do termo “Aquisição de bens e serviços” em vez de “compras” - inclui processos terceirizados

7. Eliminação dos requisitos específicos para Manual da Qualidade e Representante da Direção

8. Requisitos mais genéricos para “Projeto e Desenvolvimento” e “Calibração”

Quais os objetivos desta mudança?
- Modernizar a norma ISO 9001, mantendo o seu reconhecimento e o seu prestígio internacional;
- Estabelecer a estrutura básica de requisitos de Sistemas de Gestão da Qualidade pelos próximos 10 anos ou mais;
- Simplificar a linguagem para evitar dúvidas e garantir a compreensão e a interpretação consistente dos requisitos;
- Ser suficientemente genérica e ao mesmo tempo relevante para organizações de todos os tipos e tamanhos, de todos os setores;
- Manter o tradicional foco na gestão eficiente de processos como meio para obter os resultados desejados;
- Considerar as mudanças nas práticas e na tecnologia de Gestão da Qualidade desde a última grande revisão da norma, que ocorreu no ano 2000;
- Incluir práticas de Gerenciamento de Riscos e Oportunidades;
- Refletir o aumento na complexidade e na dinâmica do ambiente onde as organizações operam;
- Aplicar estrutura uniforme para garantir a compatibilidade com outros sistemas de gestão ISO.

As mudanças na ISO, quando implementadas, já valem para todos os países ou o implemento será por etapas?
Uma vez que a Norma for publicada, todos os países que a utilizam deverão traduzi-la e em seguida as empresas certificadas deverão adaptar seus sistemas para atender às mudanças, que serão verificadas no próximo ciclo de certificação. No Brasil, a ABNT é responsável pela tradução e comercialização da Norma.

O que as mudanças na ISO 9001 interferem em outras ISOs?
A ISO 9001 é base para outras normas ISO e muitas outras normas no mundo. Desta forma posso afirmar que as mudanças na versão 2015 serão refletidas nas demais normas ao longo dos anos.

A certificação ISO 9001 ainda é bastante procurada pelas empresas?
A ISO 9001 é a norma mais difundida e certificada em todo o mundo. Isso acontece, pois a sua implementação eleva o nível de gestão, qualidade, produtividade e rentabilidade das empresas.

Na prática, que tipo de transformações a ISO 9001 promove nas empresas?
Basicamente, fica estabelecido um sistema organizado, com processos e procedimentos bem definidos. A empresa passa a funcionar com base no foco do cliente e seus desejos e “requisitos”. As pessoas são treinadas e preparadas para antever o erro e agir de forma sistêmica quando eles aparecem. Outra característica marcante das empresas certificadas é a capacidade de ouvir o cliente e agir de forma pró-ativa sempre que uma não conformidade é evidenciada. O simples fato de calibrar equipamentos de medição e monitoramento passam a ser encarados como procedimentos obrigatórios para aquelas empresas que dependem dos mesmos para entregar produtos ou serviços com qualidade. Estas e todas as outras transformações pelas quais a organização passa não seriam relevantes se as pessoas não se transformassem. Esta sim é a grande transformação: do mais simples operário ao presidente da empresa, todos passam a trabalhar sob uma política e objetivos claros, respeitando o sistema implementado e contribuindo para sua melhoria, dia após dia.

Empresas da construção civil ainda são arredias à ISO 9001 ou já aderem com frequência à norma?
Para o bem de nosso país e de todos os consumidores dos produtos imobiliários é cada vez mais frequente a adesão à ISO 9001 pelas empresas de construção civil, fato que tem sido muito acelerado pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) que tem como base a ISO 9001.

Para a construção civil, no que a ISO 9001 ajuda a melhorar a qualidade das obras?
Podemos iniciar citando o estabelecimento de procedimentos operacionais e instruções de trabalho para as principais atividades em cada etapa da obra. Eles serão previamente difundidos através de manuais e treinamentos, o que garante que todos os colaboradores trabalharão de forma padronizada, diminuindo erros, retrabalhos e prejuízos financeiros, além de aumentar significativamente a qualidade do produto final. Vale destacar os grandes ganhos no desenvolvimento de projetos, acompanhamento da execução de obra e cronograma, bem como a realização de auditorias como ferramentas que melhoram a qualidade das obras. A organização do estoque, melhor gestão da cadeia de fornecimento, melhor controle da compra e qualidade dos insumos utilizados são outras contribuições da ISO 9001 em empresas de construção civil.

Hoje há uma estatística de quantas empresas usam a ISO 9001 no Brasil, independentemente do setor de atividade?
A própria ISO divulga anualmente uma pesquisa com dados quantitativos e qualitativos das certificações ISO ao redor do globo. Hoje são mais de 25.000 empresas certificadas na ISO 9001 no Brasil e mais de 1.000.000 de empresas em todo o mundo.

Para implantar a ISO 9001, como empresas pequenas e de médio porte devem proceder?
Em geral, a implementação da ISO 9001 acontece com o apoio de uma consultoria especializada que conhece a norma, suas exigências e assim facilita o processo. As etapas da implementação podem ser divididas assim:
1. Planejamento do sistema de gestão: nesta etapa é criada a estrutura básica para iniciar a implementação do sistema de gestão;
2. Escopo da certificação: definição de qual é a abrangência do sistema de gestão;
3. Controle de documentos e registros: a partir desse momento é elaborado um padrão aos documentos do SGQ. Nesse procedimento defini-se o padrão do layout dos documentos que serão utilizados;
4. Definição da política da qualidade e os objetivos da qualidade: esses documentos irão nortear os indicadores que serão monitorados e os resultados esperados nesse projeto.
5. Estabelecimento das regras para a comunicação interna.

Confira o avanço da ISO 9001 no Brasil

Fonte: ISO Survey (http://www.iso.org/iso/home/standards/certification/iso-survey.htm)

Entrevistado
Igor Grativol Furniel, graduado em administração, com MBA em pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e presidente da Templum Consultoria Online, especializada em sistemas de gestão, como ISO 9001, ISO 14001, ISO 22000
Contatos
www.templum.com.br
igor@templum.com.br  

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

ENIC coloca Minha Casa Minha Vida na pauta das eleições

O 86° Encontro Nacional da Indústria da Construção, que ocorreu em Goiânia, levou reivindicações do setor a candidatos à presidência da República

Por: Altair Santos

Alocação insuficiente de recursos, atrasos nos repasses para as construtoras e dificuldade de articular ações com as concessionárias de água, energia, esgoto e telefonia. Estes são os gargalos que têm feito o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) perder a corrida para o déficit habitacional, principalmente no que diz respeito à construção de habitações de interesse social. Para dar respaldo ao MCMV, a Comissão da Indústria Imobiliária da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CII/CBIC) promoveu no 86° Encontro Nacional da Indústria da Construção (ENIC) um debate entre presidenciáveis, com foco exclusivo no programa habitacional.

ENIC 2014: evento aconteceu no final de maio e arrancou comprometimento dos presidenciáveis

Recheado de propostas e questionamentos, o debate, que ocorreu em Goiânia-GO, foi dividido em três momentos e acompanhado por representantes dos três principais candidatos à presidência da República. O secretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana de Minas Gerais, Alencar Santos Viana Filho, representou Aécio Neves (PSDB). A presidente Dilma Rousseff (PT) esteve no evento e o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), foi representado pelo assessor de campanha Maurício Rands.

A principal reivindicação do setor da construção civil para os presidenciáveis é que o Minha Casa Minha Vida passe a ser tratado como programa de Estado e não como política de partido. Uma das preocupações é que o MCMV sofra com perda de credibilidade e desperdice as conquistas obtidas até o final do ano passado. Entre 2009 e 2013, o plano habitacional foi o responsável pela criação direta de 1,2 milhão de empregos formais, o que corresponde a 17% de tudo que foi gerado na economia nacional. “A economia como um todo cresceu, e cresceu formalizando. O grande mérito do programa foi esse: aliar interesse de retomada do crescimento econômico com uma política social e ainda formalizando a atividade”, expôs a economista e coordenadora de Projetos da Construção da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo.

Compromissos
Um documento com as principais reivindicações do setor e os pontos mais debatidos no 86º ENIC foi encaminhado aos presidenciáveis que disputam a eleição de outubro. "É a nossa contribuição para os respectivos programas de governo", destaca o presidente da CBIC, Paulo Safady Simão. Dilma e o representante de Eduardo Campos defenderam a manutenção da política de subsídios aos moradores de renda mais baixa. “O Minha Casa Minha Vida depende de vontade política para existir. Sem subsídios, ele não existe. A equação valor do imóvel e salário das famílias das classes mais baixas não batem. Por isso, o governo aporta recursos no programa para fechar essa equação. É o programa federal no qual gastamos os maiores valores com subsídios”, afirmou a presidente.

Da parte de Eduardo Campos, foi assumido o compromisso de entregar, em quatro anos, quatro milhões de residências por meio do MCMV. “Nós vamos fazer constar no nosso Plano Plurianual esta meta. Isso é possível porque o Brasil foi aprendendo. Agora é hora de ousar e passar para os quatro milhões, garantir o subsídio. Esse é um programa que veio para ficar e deve ser um programa de Estado”, defende Maurício Rands.

O presidenciável Aécio Neves, através de seu representante, Alencar Santos Viana Filho, não quis estabelecer compromissos. Apenas reconheceu a importância do programa para o Brasil. O Minha Casa Minha Vida, lançado em 2009, subsidia até 95% do valor do imóvel na faixa de renda de quem recebe de 1 a 3 salários mínimos (faixa 1). O déficit habitacional nessa faixa de renda é de 3,85 milhões de residências, de acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Entrevistado
Com informações da assessoria de imprensa do 86º Encontro Nacional da Indústria da Construção (ENIC), realizado de 21 a 23 de maio de 2014 em Goiânia-GO
Contato: www.enic.org.br/contato

Crédito Foto: Sílvio Simões/ENIC

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

O impacto do gol, das "olas" e das torcidas nos estádios

Estruturas precisam levar em consideração número significativo de esforços para suportar movimentação das torcidas ao longo dos 90 minutos

Por: Altair Santos

Os doze estádios que sediam jogos da Copa do Mundo foram construídos para dar total segurança ao público que os frequenta. Uma parte desta segurança é visível; outra, está nas estruturas das obras. Porém, são tão relevantes quanto o conforto oferecido pelas arenas. Neste quesito, os projetos adotaram o que há de mais moderno em termos de análise de carga dinâmica e de análise de carga estática. Por isso, para quem está nas arquibancadas, a sensação é de que os estádios não balançam. Neste caso, o padrão Fifa localiza-se nos sistemas de amortecimento adotados durante a construção dos complexos esportivos.

Westfalenstadion, na Alemanha: movimento da torcida do Borussia Dortmund, considerada a mais empolgante do mundo, fez com que capacidade reduzisse de 80.100 para 65.718 lugares

Uma das mais inovadoras tecnologias é a que foi instalada no Mineirão, em Belo Horizonte-MG. No estádio, foram colocados 166 amortecedores à base de TMD (Tuned Mass Dampers ou amortecedores de massa sintonizada). Esse tipo de equipamento funciona de forma semelhante a um amortecedor de veículo automotor, absorvendo a carga dinâmica causada pela movimentação da torcida. “Implantamos o que há de mais moderno em tecnologia de controle de vibrações. A arquibancada passa a ter mais conforto”, explica Ricardo Barra, diretor-presidente do consórcio Minas Arena.

Já no Mané Garrincha, em Brasília-DF, a solução para que o estádio suporte os gritos de gol e as tradicionais "olas" está no posicionamento dos pilares de sustentação. A análise dinâmica definiu onde cada um seria colocado para garantir o amortecimento e evitar a vibração da estrutura de concreto. "Nas décadas de 1960 e 1970, as torcidas tinham comportamentos diferentes. Pulavam juntas, e isso excitava as estruturas de concreto, que também balançavam. Mas a dosagem de concreto evoluiu ao longo do tempo. Hoje, a torcida pode vibrar sem causar sensação desagradável", assinala Eduardo Castro Mello, o arquiteto que projetou o estádio da capital federal.

A solução usada no Mané Garrincha predomina em boa parte dos estádios da Copa. Porém, o Maracanã usou uma engenharia diferente. Segundo o projetista João Luís Casagrande, da Casagrande Engenharia - responsável pelos cálculos estruturais da obra -, essa é a primeira vez no mundo que o sistema contraforte é utilizado na construção de um estádio. “A tecnologia que utiliza amortecedores semelhantes aos usados nos veículos, como o que foi aplicado no Mineirão, tem um problema que é o custo da manutenção. De tempos em tempos é preciso trocá-lo. Já o contraforte é definitivo", diz.

Sistema de amortecimento usado no Mineirão: equipamento semelhante ao utilizado em veículos automotores

O sistema de contraforte foi instalado na base das arquibancadas do Maracanã e funciona como a borda de uma piscina, ou seja, as vibrações que virem a ser geradas pelos 78.639 torcedores que caberão no estádio serão contidas pela grande estrutura de concreto, preenchida com entulhos, que circunda a obra. Assim, o novo Maracanã suporta até 6 Hz (hertz) de frequência - normalmente, o máximo exigido para estádios é 3 Hz. Outra vantagem desse sistema de amortecimento é que ele permite que as estruturas metálicas que sustentam as arquibancadas do anel intermediário fossem concebidas com uma massa mais leve. “Consequentemente, o custo da obra reduziu”, avalia o engenheiro.

Estádios antigos
Muitos estádios brasileiros, construídos principalmente entre os anos 1960 e 1970, foram projetados para suportar uma torcida menos vibrante. As estruturas acabaram concebidas com carga estática de 5 kN/m2. Com a chegada dos torcedores organizados, e o uso dos estádios para shows de música, as estruturas passaram a sofrer maior impacto de cargas dinâmicas. Com isso, as construções começaram a apresentar problemas de vibrações excessivas, exigindo adaptações. A solução para a maioria foi instalar assentos e reduzir a capacidade dos complexos esportivos.

Isso ocorreu não só no Brasil como em outros países. É o caso, por exemplo, do Westfalenstadion, na Alemanha. A arena, que pertence ao Borussia Dortmund - clube que tem a torcida mais empolgada do mundo, segundo pesquisas - precisou ter sua capacidade reduzida de 80.100 para 65.718 lugares. Houve também estádios que recorreram a novas tecnologias de amortecimento, como o Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi). Engenheiros contratados para fazer análise de carga da edificação decidiram aplicar as normas inglesas para estádios, adotadas em 1996. Foram a partir delas que as arenas pararam de tremer durante os gritos de gol ou na execução das olas.

Entrevistados
Engenheiro civil João Luís Casagrande, que coordenou a implantação do sistema de contraforte no Maracanã
Arquiteto Eduardo Castro Mello, responsável pelo projeto do Mané Garrincha
Engenheiro civil Ricardo Barra, ex-diretor-presidente do consórcio Minas Arena
Contatos
jlcasagrande@cagen.com.br
castromello@castromello.com.br
www.minasarena.com.br/contato

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Inspeção predial vai ganhar norma ainda em 2014

Comitê Brasileiro da Construção Civil (CB-02) da ABNT prepara nova NBR, que fechará trilogia de medidas contra intervenções de risco em edificações

Por: Altair Santos

Depois da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575:2013) e da Norma das Reformas (ABNT NBR 16280:2014) a Associação Brasileira de Normas Técnicas se mobiliza para completar a trilogia de normas que promete fechar o cerco contra intervenções de risco em edificações. Com base em textos normativos elaborados pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícia de Engenharia de São Paulo (IBAPE) e pelo Instituto de Engenharia (IE) o CB-02 da ABNT trabalha na elaboração da Norma de Inspeção Predial - Procedimentos e Terminologia. "Esta nova norma vem complementar as normas relacionadas à manutenção predial, pois o desempenho da edificação depende da boa manutenção e esta deve ser avaliada através de inspeção predial", cita o engenheiro civil Tito Lívio Ferreira Gomide, coordenador da divisão técnica de patologias da construção do Instituto de Engenharia.

Tito Lívio Ferreira Gomide: norma busca aprimoramento das condições construtivas, de manutenção e de uso predial

Reconhecida legalmente em 1999, a Inspeção Predial terá sua força de lei reforçada a partir da norma em desenvolvimento desde outubro de 2013. A expectativa é de que ela venha a ser publicada até o final de 2014. Atualmente encontra-se em fase de discussão. Os fundamentos da norma vão reforçar a função da inspeção predial como uma ferramenta diagnóstica primordial no enfoque da qualidade das edificações. Entre suas atribuições, estão:
- Distinguir as anomalias, falhas de manutenção e irregularidades de uso.
- Classificar os sistemas das edificações e fornecer subsídios fundamentais para permitir ao inspetor predial ou representante legal da edificação o gerenciamento das ações de manutenção e de reformas.
- Fazer cumprir o plano de manutenção predial associado ao programa de intervenções primárias.

Poder aos síndicos
Na opinião de Tito Lívio Ferreira Gomide, a função prática da Norma de Inspeção Predial será semelhante à da Norma das Reformas: "Espera-se que a nova norma incentive os síndicos a diagnosticar e reparar as patologias prediais através de profissionais habilitados, tornando nossas edificações mais seguras, confortáveis e que atendam ao desempenho e durabilidade projetados." Por isso, no entender do especialista, a futura norma (ainda sem uma numeração definida) e a ABNT NBR 16280:2014 são complementares. "Elas buscam o aprimoramento das condições construtivas, de manutenção e de uso predial", explica. Coincidentemente, as duas normas surgiram pelo mesmo motivo: evitar tragédias como a que ocorreu com o desabamento do Edifício Liberdade, de 20 andares, e de mais dois prédios, no centro do Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 2012. O acidente foi provocado por reformas irregulares e causou a morte de 22 pessoas.

Tanto a futura Norma de Inspeção quanto as outras correlatas tendem a ganhar um reforço legal, após a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara Federal ter aprovado o projeto de lei nº 3370/2012, que trata da obrigatoriedade de vistorias periciais e manutenções periódicas nas edificações, sejam elas públicas ou privadas. A iniciativa pretende minimizar os danos causados à segurança e à estabilidade de edificações. O projeto baseia-se no direito assegurado pela Constituição Federal (caput do art. 5º) do cidadão transitar em vias públicas e permanecer em locais seguros, sem riscos de desabamentos. O texto, atualmente, encontra-se para aprovação no Senado Federal. Se passar no Congresso, irá para a sanção da presidência da República.

Detecte as patologias recorrentes em construções
http://www.cimentoitambe.com.br/itambe-lanca-aplicativo-sobre-patologias-do-concreto/

Entrevistado
Engenheiro civil e advogado Tito Lívio Ferreira Gomide, professor de Engenharia Diagnóstica e coordenador da divisão técnica e patologias das construções do Instituto de Engenharia
Contato: comunicacao@iengenharia.org.br

Crédito Foto: Divulgação/Instituto de Engenharia

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Apagão de mão de obra compromete um trilhão de reais

Construção pesada precisaria de 300 mil operadores de equipamentos se os 7 mil projetos do Programa de Aceleração do Crescimento estivessem em andamento

Por: Altair Santos

Dados do Instituto Opus revelam que 70 mil novas máquinas devem ser compradas pelas empresas da construção pesada em 2014. Metade destes equipamentos é da chamada "linha amarela" - escavadeiras, carregadeiras, retroescavadeiras, gruas e guindastes. A outra metade de componentes é ainda mais sofisticada, formada por tuneladoras, robôs industriais e megabritadeiras. Estima-se que para operar esse maquinário que vai entrar no mercado nacional seja necessário pelo menos 300 mil especialistas. "Para se ter uma ideia, uma simples retroescavadeira precisa de uma equipe mínima de cinco pessoas: o operador, o assistente de operação, o mecânico, o lubrificador e o responsável pela logística. Significa que será necessário treiná-los", explica Wilson de Mello Júnior, diretor do Instituto Opus.

Wilson de Mello Júnior: Brasil deveria ter 600 mil operadores de máquinas para construção pesada

Aí reside um dos grandes gargalos da construção civil brasileira - principalmente nos setores ligados a obras de infraestrutura: há pouca mão de obra qualificada. "Basta olhar a imprensa e ver o número de acidentes com máquinas pesadas que acontecem. Pelo menos a cada dois dias a gente tem um acidente envolvendo uma máquina de grande porte. Isso é um retrato da falta de qualificação adequada dos nossos profissionais", ressalta Wilson de Mello Júnior. O levantamento do Instituto Opus enumera que o país deveria ter pelo menos 600 mil profissionais altamente qualificados para operar esse maquinário, mas esses especialistas não chegam a 10%. Faltou planejamento. A curto prazo não se consegue resolver o problema", destaca o dirigente.

Iniciativa do Senai
Uma das análises para o pouco investimento em qualificação recai sobre a lentidão do governo em efetivamente implementar as obras de infraestrutura. Em doze anos, o governo federal anunciou mais de sete mil empreendimentos dentro do Programa de Aceleração do Crescimento. No entanto, apenas 20% destes projetos saíram do papel. "Com isso, as empresas ficaram em dúvida para implementar um programa de capacitação. Além disso, sem o apoio do governo fica difícil para a iniciativa privada assumir a responsabilidade de capacitar todo esse pessoal", alerta o diretor do Instituto Opus. "Hoje, mesmo que o governo invista fortemente num programa de qualificação, levaria alguns anos para termos uma mão de obra capaz de suprir a demanda da indústria da construção pesada", completa.

Por iniciativa de grandes construtoras e fornecedoras de equipamentos, há programas pontuais em alguns estados. A coordenação é do Senai (Serviço Nacional da Indústria) que adquiriu simuladores para treinar profissionais contratados para operar equipamentos nos canteiros de obras. "O simulador agiliza o treinamento e minimiza o risco de acidentes. Duas cidades estão avançadas neste programa: Curitiba-PR, com o apoio da Volvo, e Salvador-BA, com a ajuda da Odebrecht. Agora, outras unidades do Senai estão replicando esses treinamentos e conseguindo a adesão de mais empresas, principalmente as fabricantes de máquinas. Estamos conseguindo organizar uma estrutura para atender 7.740 obras projetadas e que envolvem um trilhão de reais", finaliza Wilson De Mello Júnior.

Entrevistado
Administrador de empresas Wilson de Mello Júnior, especialista em construção pesada e diretor do Instituto Opus
Contato: meccanica@meccanica.com.br

Crédito Foto: Divulgação/Sobratema

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330