Pequeno construtor pode aderir ao PBQP-H. Saiba como
Mais de três mil empresas já participam do programa, que facilita acesso ao crédito habitacional e ajuda a qualificar e a cumprir o cronograma da obra
Por: Altair Santos
Criado em 1991, o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) tem seus fundamentos baseados nas normas ISO 9000. Dentro dele, existem sistemas de avaliação, como SiNAT (Sistema de Avaliação Técnica de Produtos Inovadores), SiMaC (Sistema de Qualificação de Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos) e SiAC (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras). Para a arquiteta Maria Salette de Carvalho Weber, que coordena o PBQP-H, o SiAC é um dos capítulos mais importantes do programa. "O SiAC, com abrangência nacional, estabeleceu níveis progressivos de certificação, com caráter evolutivo, que possibilita a implantação gradual do sistema de gestão da qualidade nas empresas de serviços e obras", diz.

Atualmente, o número de empresas certificadas no SiAC e, consequentemente, no PBQP-H, ultrapassa os três mil. A quantidade cresce, por que para se habilitar nos agentes financiadores públicos de habitação uma das exigências é que o construtor esteja dentro do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat. O que preocupa é que entre os cadastrados há poucos pequenos construtores. Não há uma explicação concreta para isso, mas suspeita-se que seja receio da burocracia ou desconhecimento das vantagens que a adesão ao PBQP-H dá às empresas, como explica Daniela Albuquerque, especialista em sistemas de gestão integrada, como ISO 9001:2008; ISO 14001:2004; OHSAS 18001:2008 e ISO 26000. Confira a entrevista:
Pequeno construtor pode aderir ao PBQP-H?
Construtoras de qualquer porte podem fazer a adesão ao PBQP-H. É imprescindível, porém, que ela tenha a atividade de construção civil em seu contrato social e que seja responsável por uma obra completa, ou seja, tenha a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) da obra emitida em seu nome.
A burocracia é empecilho para a adesão do pequeno construtor?
Não. Basta a construtora enviar uma carta ao ministério das Cidades. Essa adesão tem a validade de um ano e dentro desse período, a construtora que quiser manter-se no programa deve evoluir para o Nível B ou Nível A. Esses dois níveis são certificáveis, ou seja, a empresa, após a implementação de todos os requisitos, deve contratar uma certificadora que seja acreditada pelo Inmetro para esse fim e realizar a certificação da sua empresa. A norma SiAC, que deve ser implementada pelas empresas, é baseada na norma internacional de gestão de qualidade, a ISO 9001. Além dos requisitos dessa norma, existem alguns itens específicos voltados para a construção civil. A parte mais complexa na adequação da empresa ao nível B ou Nível A é a implementação dos requisitos voltados para a obra e para os requisitos legais obrigatórios. São procedimentos e sistemáticas que a empresa deve comprovar a utilização em suas obras para a obtenção do certificado. A norma a ser implementada está disponível para download no site do ministério das cidades: www.cidades.gov.br/pbqp-h.
Como funciona o programa?
O PBQP-H é um programa evolutivo, ou seja, após passar por uma etapa, precisa evoluir para a próxima. A primeira etapa é a adesão. Nesse momento, a empresa deve enviar uma carta demonstrando para o Ministério das Cidades a vontade de participar desse programa. Esse é o primeiro passo do programa e possui validade de 12 meses (sem a possibilidade de prorrogação). Dentro desse período, a empresa precisa evoluir para o Nível B ou o Nível A. Esses dois níveis são certificáveis e emitidos com base na implementação dos requisitos da norma SiAC 2012 - Execução de Obras de Edificação. Para ambos os níveis (A e B) a norma a ser implementada é a mesma, porém, enquanto no nível A a empresa precisa implementar 100% dos requisitos normativos, no nível B a empresa precisa implementar apenas 75% dos requisitos desejáveis. A empresa que certifica-se no Nível A deve passar por auditorias anuais a fim de validar o seu certificado e manter-se ativa no programa, enquanto quem optar pelo Nível B precisa evoluir para o Nível A em um período de três anos ou, então, perde a sua participação no programa.
O PBQP-H foi feito para a adesão do pequeno construtor ou seus requisitos são para construtoras mais encorpadas?
Qualquer norma de sistema de gestão, inclusive o PBQP-H, é elaborada para a implementação em qualquer porte de organização. Assim, uma empresa de pequeno porte com a orientação adequada consegue realizar essa implementação de forma muito simples. É, inclusive, mais fácil a adesão de um pequeno construtor que possui uma quantidade menor de obras para a adequação do que uma grande construtora que possui muitos funcionários e várias obras, tornando o processo mais longo e moroso.
Quais as principais vantagens para quem adere ao PBQP-H?
O PBQP-H é um programa imprescindível para quem quer fazer parte do programa Minha Casa, Minha Vida do governo federal. Além disso, outros bancos, além da Caixa Econômica Federal, indicam a necessidade do PBQP-H para liberação de algumas linhas de crédito para as construtoras. O controle dos materiais e a redução do desperdício são fatores em que a empresa ganha muito com esse programa, uma vez que o controle de materiais e serviços são requisitos obrigatórios. Construtoras que fazem parte do PBQP-H também ganham na eficiência da sua obra, ou seja, consegue manter o prazo inicial estipulado durante a incorporação e ainda utilizar uma quantidade menor de recursos para esse projeto. É muito comum às construtoras de pequeno porte que o custo final da obra seja maior do que o orçado inicialmente, pois elas não colocam o valor da perda de material e do retrabalho que acontecem na obra. Esse, acredito, é o problema mais crítico de uma construtora.
Sob o ponto de vista de se conseguir recursos financeiros, quais as vantagens de se aderir ao PBQP-H?
Além de ser obrigatória para algumas linhas de crédito de bancos públicos e privados, a certificação da empresa pode levá-la a obter taxa de juros diferenciada.
Hoje as fontes de financiamento liberam recursos para construir se a empresa não estiver no PBQP-H?
Depende da linha de crédito do banco. Para algumas linhas de crédito, a certificação no PBQP-H é obrigatória, principalmente naquelas voltadas para o Minha Casa, Minha Vida.
É preciso que a construtora já tenha um tempo de maturação para aderir ao PBQP-H ou uma empresa recentemente criada pode requisitar o programa?
Não existe nenhum empecilho nesse sentido, o único problema de uma empresa recém-criada é que ela precisa ter uma obra em andamento para participar da auditoria de certificação.
O ministério das Cidades, que coordena o PBQP-H, faz algum tipo de exigência para que a uma construtora possa aderir ao programa?
As exigências são:
- No contrato social da empresa precisa constar a atividade de construção Civil.
- A empresa precisa ter obra com ART emitida em seu nome no momento da certificação da empresa no Nível B ou no Nível A.
- A empresa precisa estar com todas as licenças e alvarás em dia.
- A empresa precisa implementar todos os requisitos da norma SiAC 2012 – Execução de Obras de Edificação.
- A empresa precisa ser certificada Nível B ou Nível A por um organismo de certificação acreditado.
Hoje, boa parte das construtoras brasileiras está dentro do PBQP-H?
Segundo o site do PBQP-H, já são mais de três mil empresas ativas. No setor privado, a adesão de construtoras ao Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil (SiAC/PBQP-H) está se consolidando como fator de diferenciação no mercado.
Criado há 23 anos, o que o PBQP-H mudou na construção habitacional do país?
Acredito que a universalização da moradia é o principal ganho. Com a implementação do PBQP-H e a adesão de construtoras em todo o país, a possibilidade de levar moradia de qualidade para todas as regiões tornou-se muito mais viável, deixando de ser uma realidade somente dos grandes centros. Há construtoras em várias cidades do interior das regiões Norte e Nordeste que sem esses benefícios não conseguiriam desempenhar suas atividades. Isso também possibilita o desenvolvimento da região, com melhores estruturas de moradias e geração de empregos. A qualidade das obras entregues também é uma outra questão, uma vez que são necessários vários registros do processo para a certificação da empresa e isso quer dizer que se o processo não for executado a contento a empresa perderá o certificado.
Dicas para implementar o PBQP-H
http://pbqp-h.templum.com.br/adesao-pbqp-h/
http://pbqp-h.templum.com.br/com-adesao-ao-pbqp-h-ja-consigo-financiamento-na-caixa/
http://pbqp-h.templum.com.br/certificado-pbqp-h/
Entrevistadas
- Daniela Albuquerque, especializada em sistemas de gestão integrada em ISO 9001:2008; ISO 14001:2004; OHSAS 18001:2008 e ISO 26000 e coordenadora técnica na Templum Consultoria Online
- Arquiteta Maria Salete de Carvalho Weber, coordenadora-geral do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades
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atendimento@templum.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Prédio em Mônaco tem apartamentos mais caros do mundo
Unidades variam de 1.200m² a 330 m², mas independentemente da escolha o metro quadrado custa 91 mil euros (R$ 280 mil)
Por: Altair Santos
O menor apartamento, com um quarto, mede 170 m²; o maior, na cobertura, 3.300 m². O prédio, recentemente construído, começará a ser entregue aos novos proprietários em setembro de 2014. Entre os compradores, estão alguns dos mais endinheirados do mundo. Afinal, o Odeon Tower é o prédio com as unidades mais caras do planeta. Localizado no principado de Mônaco, o metro quadrado custa 91 mil euros (R$ 280 mil) independentemente do tamanho do imóvel.

O edifício com 49 pavimentos começou a ser construído em novembro de 2009 e empregou o que há de melhor em termos de sistemas construtivos. O arquiteto que assina a obra é o monegasco (nascido em Mônaco) Alexandre Giraldi. O design do prédio é inspirado pelo movimento da "belle époque" francesa. Já o interior dos apartamentos será decorado pela não menos renomada agência europeia Alberto Pinto. Cada unidade terá uma personalidade própria, tirando proveito ao máximo de materiais nobres.
O desafio construtivo para empreender o Odeon Tower foi adaptá-lo ao terreno. Erguido em uma encosta, as fundações do edifício só foram instaladas depois da retirada de 160 mil m³ de terra e da construção de um muro de contenção. Todo o complexo da edificação consumiu 73 mil m³ de concreto, numa estrutura que também combina aço e vastas áreas cobertas por vidro. Como quase todas as obras deste porte, seu financiamento partiu dos milionários xeques árabes e custou aproximadamente 5 bilhões de euros.
LEED e Aqua
Para conseguir autorização do governo do principado de Mônaco, o edifício precisou cumprir uma série de requisitos ambientais e obter duas certificações de construção sustentável (LEED e Aqua). Houve o comprometimento dos investidores em dar uma contrapartida, construindo um novo aterro sanitário para a região. O próprio prédio é um modelo de reúso de água e possui uma estação própria para tratamento de dejetos e do lixo gerado pelas 70 unidades habitacionais.

Os moradores fixos do Odeon Tower irão ocupar do 20º ao 49º andares. Os pavimentos inferiores serão destinados a escritórios. Apesar da operação mista, o edifício tem entradas independentes para as áreas residencial e comercial. Outra novidade do prédio é que ele oferece um serviço terceirizado aos moradores, como banho turco, sauna, spa, fitness, serviço de concierge, serviço de limpeza, prensagem, limousine e motorista. Não é à toa que uma das coberturas foi negociada por 300 milhões de euros. Já a unidade mais barata custa 15,5 milhões de euros. A maioria dos apartamentos tem preços entre 105 milhões e 150 milhões de euros.
Veja time lapse da construção do Odeon Tower
http://www.odeon.mc/#/construction
Entrevistado
Assessoria de imprensa do Odeon Tower
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presss@odeon.mc
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Mercado de engenharia: onde anda a experiência?
Estudo do Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da USP constata que setor paga pelo gap dos anos 1980
Por: Altair Santos
O número de cursos de engenharia no Brasil deu um salto em uma década. De 150 que havia no início dos anos 1980, passaram a 650. Segundo o Observatório de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, formaram-se em 2012 mais de 54 mil engenheiros no país. Em 2011, haviam sido 45 mil - 152% mais que uma década antes (18 mil, em 2001). Porém, o que preocupa é que nada menos que 40% dos engenheiros se diplomam atualmente em cursos mal avaliados, com notas 1 e 2 no Enade.

O problema levou o Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da USP a questionar a qualidade das escolas de engenharia. Parte da conclusão foi publicada em um artigo no jornal Folha de S.Paulo, intitulado Escassez de engenheiros no Brasil? Uma proposta de sistematização do debate. Para aprofundar o assunto, o professor Mário Sérgio Salerno, que coordena o observatório, e participou do estudo sobre mercado de trabalho e nível do ensino de engenharia no Brasil, concedeu a entrevista a seguir. Confira:
O senhor e outros especialistas assinaram recentemente o artigo Escassez de engenheiros no Brasil? Uma proposta de sistematização do debate. O tema trata da qualificação dos engenheiros. A pergunta é: temos muitos engenheiros, mas poucos são qualificados?
No debate tem duas análises. A principal, que aparece no debate público via imprensa, é sobre a falta de engenheiros. Esta é a reclamação básica. Mas quando se vê os números não há uma falta de engenheiros como existe falta de médicos. A escassez de médicos, efetivamente, é um problema, mas engenheiros não. Isso faz com que sigamos estudando para descobrir o verdadeiro problema. Conversando com algumas empresas, principalmente com os gerentes de desenvolvimento de produtos, a reclamação é que faltam engenheiros experientes. O que é um engenheiro experiente? É um engenheiro com vários anos de carreira - dez, vinte anos. Localizamos um gap geracional, nos anos 1980, quando a formação de engenheiros caiu. Então estes engenheiros, que seriam os engenheiros experientes para liderar projetos, não estão no mercado. E não tem o que fazer. Mas vai passar. Esta situação é o tempo que vai resolver.
No caso específico da engenharia civil, o cenário é mais grave?
Não dá para abrir os dados por especialidade. Mas nada leva a crer que seja muito diferente. A engenharia civil enfrentou o problema de que, durante muitos anos, a construção de obras públicas e habitacionais ficou relativamente estagnada. Sem mercado, a procura por cursos de engenharia civil caiu muito. Recentemente, com o reaquecimento da construção civil, através de programas como Minha Casa Minha Vida e investimentos em infraestrutura, este cenário se alterou e a procura por cursos de engenharia civil também. A ponto de na USP, na Escola Politécnica, o curso de engenharia civil tornar-se a modalidade mais procurada. O que não acontecia há décadas. Agora, independentemente da demanda, faltam os engenheiros líderes. Seja na civil, na engenharia naval, na de produção, elétrica etc.
Por causa desse cenário que o senhor explanou, aumentaram os cursos de engenharia civil e o número de jovens matriculados. Mas como será quando esses jovens forem ao mercado do trabalho. A situação tende a melhorar ou piorar?
Com o passar do tempo tende a melhorar. Nós estamos falando de profissionais experientes, certo? Com o passar do tempo, esse engenheiros se tornarão experientes.
E quanto à qualificação dos engenheiros, qual o grau de responsabilidade das universidades?
A formação é uma coisa muito mais complicada. O Brasil tem problemas de formação de profissionais em geral. Os estudantes do país têm um desempenho fraco no fundamental 1, no fundamental 2 e no ensino médio e também em algumas faculdades.
Seria necessário reavaliar a grade curricular dos cursos de graduação?
O problema não é este. Hoje, os bons cursos de engenharia do país têm uma grade relativamente parecida. Eu conheço vários. Trabalho na USP e troco informações com a UFRJ, com a UFMG, com a UFRGS, UFPE, com as quais a gente se compara. A gente se compara também com o exterior. Não tem muita diferença. Os cursos são mais ou menos iguais.
O que é recomendável para que um estudante de engenharia forme-se um bom engenheiro?
Tem que estudar muito e não se deixar levar por teses de que existe diferença entre o ensino prático e o ensino teórico, pois a base conceitual que ele vai levar para a vida toda não volta mais. Se o estudante não souber calcular, jamais será um bom prático. Por isso, sugiro que deixe para fazer estágio no final do curso. É importante também ver os convênios que a universidade mantém. Na Poli, há um curso conjunto com Stanford, na Califórnia, que é considerado o melhor lugar para desenvolvimento de produtos - lá tem o Vale do Silício. Esse convênio propõe um conjunto com aulas aqui (Brasil) e lá (Estados Unidos) onde os alunos vão e voltam. Stanford é uma das universidades de engenharia mais eficientes que existe, pois tem curso com laboratório. Lá, os alunos põem a mão na massa. Só que, ao lado disto, o estudante precisa saber física e precisa saber matemática. Como disse, sem uma boa base conceitual não vai haver um bom engenheiro prático.
O problema de qualificação também não estaria relacionado às chamadas décadas perdidas de 1980 e 1990, quando muitos engenheiros migraram para outras áreas, sobretudo a financeira?
Isso também se fala e estamos iniciando um estudo para tentar verificar se é verdade. Porém, se um engenheiro migrou para o sistema financeiro não quer dizer que ele não continue engenheiro. Há muita atividade de engenharia em banco. Tem atividade de sistemas, tem projeto de produto, tem controle financeiro e, inclusive, em construção civil: reforma de agência, construção de agência, sem contar que vários bancos têm empresas de engenharia. Então, precisa tomar um pouco de cuidado com esta associação. Quem dita isso é o mercado de trabalho.
Qual o tempo de maturação para que se forme um bom engenheiro?
O curso de graduação dura cinco anos. Hoje há muitos indo fazer especialização no exterior por mais um ano, após a graduação, antes de ingressar no mercado de trabalho. Quando, entra em uma empresa, o jovem engenheiro vai precisar entender a companhia e os projetos antes de aplicar seus conceitos. Diria que a experiência prática leva uns dez anos para maturar.
Entrevistado
Mário Sérgio Salerno, professor titular do departamento de engenharia de produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde coordena o Laboratório de Gestão da Inovação. Também é coordenador do Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da USP
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Construir no interior já dá mais lucro que nos grandes centros
Escassez de terrenos, principalmente nas capitais, empurra incorporadoras para áreas mais afastadas dos estados e para as regiões metropolitanas
Por: Altair Santos
A escassez de terrenos nos grandes centros urbanos do Brasil, e a tendência de empreendimentos cada vez mais enxutos e com menos vagas de garagem, privilegiando o uso de transporte público, empurra as grandes incorporadoras para o interior dos estados e para as regiões metropolitanas. Nas cidades com até 500 mil habitantes, essas empresas estão encontrando, além de espaço para construir, um custo mais baixo para viabilizar as obras. Segundo Rogério Santos, especialista com mais de 25 anos de mercado imobiliário, e que gerencia as operações de outsourcing de vendas para importantes empresas do país, o atual cenário deu um novo viés ao mercado imobiliário. "A oportunidade tem permitido oferecer espaços maiores e com mais qualidade de vida", resume.

O fenômeno de canalizar investimentos imobiliários para o interior já é realidade em cidades como São Paulo, Rio Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Um exemplo está na empresa paulistana ACS Incorporadora. Com a oferta de bons terrenos em cidades fora de São Paulo, ela tem conseguido projetar lançamentos maiores e as operações no interior devem saltar de R$ 30 milhões para R$ 200 milhões em 2014. "No território paulista, essa tendência é facilmente percebida em cidades da região de Campinas, como Jundiaí, Limeira, Paulínea, Americana, Indaiatuba e Jaguariúna, além de toda a região metropolitana de São Paulo ou em localidades com fácil acesso por rodovias. "Todo esse panorama faz com que o mercado do interior fique mais aquecido", diz Rogério Santos.
Área útil maior

A descentralização da economia em grandes centros urbanos, com as cidades-satélites passando a ter uma maior relevância e se beneficiando do êxodo industrial - o que começou há pelo menos 15 anos no país -, é que permite que o interior tenha seu mercado imobiliário fortalecido. "Campinas e região é um exemplo clássico. As cidades do entorno fortaleceram seu potencial industrial. Todo esse panorama faz com que o mercado do interior fique mais aquecido", avalia o especialista, completando que, no caso da cidade de São Paulo, a aprovação do novo plano diretor acabou potencializando essa nova tendência. Pelo mesmo processo, de revisão de seus planos diretores, também passam cidades como Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.
A "fuga para o interior", promovida por construtoras e incorporadoras, também influenciou na área útil das unidades. Se nos grandes centros urbanos hoje os apartamentos têm, em média, 60 m², nas cidades alternativas essa metragem sobe para até 100 m². Outro detalhe é que há demanda pela aquisição, pois quem procura comprar esses imóveis geralmente busca a primeira residência. Diante desta migração do mercado imobiliário, Rogério Santos avalia que a tendência é de queda de venda nos imóveis e de aumento do valor do metro quadrado nas metrópoles brasileiras, em contrapartida ao aquecimento no interior. “É uma readequação do mercado, diante dos movimentos de oferta e procura", finaliza.
Entrevistado
Rogério Santos é graduado em marketing pela ESPM e pós-graduado pela FGV. Atua há 25 anos no mercado imobiliário e já trabalhou como diretor de marketing de empresas como Cyrela do Brazil Realty S/A e Abyara Brokers Intermed. É o fundador da RealtON, outlet de imóveis
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Há 10 anos, BIM começava a ser usado no Brasil
Registros históricos mostram que o Building Information Modeling teve primeira incursão no país em 2004. Hoje, se propaga pelas construtoras brasileiras
Por: Altair Santos
Há dez anos, o ato de projetar edificações no Brasil começou a interagir com uma ferramenta denominada BIM (Building Information Modeling). O software, inventado nos Estados Unidos, é um sistema que permite construir protótipos virtuais para avaliar características dos materiais empregados, técnicas construtivas, características termoacústicas e manutenção, entre outras informações relevantes, antes da instalação do canteiro de obras propriamente dito. Sua principal virtude é a capacidade de indicar o risco de erros ainda na fase do projeto. No país, os primeiros a usarem a metodologia foram a Gui Mattos Arquitetura e a MATEC Engenharia e Construções - ambas com sede em São Paulo.

De acordo com o especialista em automação, e professor da FEAMIG (Faculdade de Engenharia de Produção de Minas Gerais) e do Centro Universitário Newton Paiva, Eduardo Henrique Gonçalves, o "processo BIM", como é comumente chamado no meio técnico da construção civil, boa parte das médias e grandes construtoras do Brasil já utilizam o sistema. "Para as empresas, é interessante utilizá-lo nas etapas de pré-construção e construção para aprimorar o processo de gestão dos empreendimentos, além de reduzir o número de ordens de alteração e melhorar a qualidade do produto final. Isto exige que projetistas, construtores e clientes mudem seus processos de trabalho e atuem de maneira mais integrada", cita.
Exigência em licitações públicas
O uso do software propagou-se ainda mais no Brasil depois que organismos governamentais passaram a exigir o emprego do Building Information Modeling na apresentação de projetos que captam recursos federais. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), vinculado ao ministério das Cidades, e que controla as construtoras credenciadas a operar no programa Minha Casa Minha Vida, estão entre os que priorizam projetos apresentados dentro do processo BIM. "O Estado vai exigir cada vez mais essa tecnologia em seus editais e é importante que as empresas construtoras e profissionais estejam aptos e preparados para atuarem neste novo cenário", comenta Eduardo Henrique Gonçalves.

Além de organismos públicos no controle de licitações de obras, grandes contratantes de obras de infraestrutura também já exigem projetos na plataforma BIM. São os casos de Petrobras, Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cedurp), do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e do governo de Santa Catarina - único estado que aprovou lei que requer o uso de sistemas em projetos que concorrem em licitações públicas. "Essa preocupação com o uso do BIM é por que o processo permite o controle do ciclo de vida dos sistemas de infraestrutura", avalia o professor da FEAMIG, para quem, no entanto, apesar de o processo completar dez anos de uso no Brasil ainda é tímido o volume de projetos que utilizam a ferramenta, mas com tendência de crescimento.
Entrevistado
Engenheiro elétrico Eduardo Henrique Gonçalves, professor do curso de engenharia de produção na Faculdade de Engenharia de Produção de Minas Gerais (FEAMIG) e de engenharia da produção no Centro Universitário Newton Paiva, também em Minas Gerais
Contato
eduardo.goncalves@newtonpaiva.br
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Uso de celular fica proibido em canteiros de obras
Medida inédita foi tomada pelos sindicatos patronais e de trabalhadores da construção civil do Distrito Federal e tende a ser seguida em todo o Brasil
Por: Altair Santos
O uso de aparelhos celulares em canteiros de obras se transformou em uma preocupação para as construtoras. O problema está na falta de controle, o que acaba colocando em risco a segurança dos trabalhadores. Após vários debates, que resultaram na ausência de consenso, os sindicatos patronais e de trabalhadores da construção civil do Distrito Federal resolveram tomar uma atitude radical em relação aos equipamentos portáteis, como smartphones, tablets e dispositivos similares. A partir de setembro de 2014, os operários não poderão acessar a internet e as redes sociais nem responder mensagens instantâneas, como as de WhatsApp, nos canteiros de obras.

As ligações por celular serão permitidas, desde que autorizadas por um superior, e atendidas em um local delimitado pelo gestor. Nos intervalos, como o horário de almoço, o uso dos aparelhos fica liberado. Em caso de descumprimento da regra, os operários estarão sujeitos às mesmas sanções aplicadas a quem não usar o Equipamento de Proteção Individual (EPI) o que pode levar até a demissão por justa causa. O diretor de política e relações trabalhistas do SindusCon-DF, Izidio Santos Júnior, explica por que foi necessário tomar essa medida. "Ocorreram alguns acidentes causados pelo uso não só de aparelho de celular, mas de fone de ouvido também", diz.
A proibição será acompanhada de um programa educativo durante 90 dias, para mostrar aos trabalhadores a importância dos novos procedimentos. "Nossa expectativa é de que tenha adesão plena. A gente trata deste assunto como quem trata do uso de um equipamento de segurança, como um cinto ou capacete. O operário que está trabalhando no 10º andar necessita do cinto de segurança para proteger a sua vida. É uma causa de acidentes que está sendo combatida", comenta, assegurando que haverá locais determinados para quem precisa usar os aparelhos como instrumento de trabalho. "Se o profissional estiver em uma área onde existe risco, o uso está proibido", completa.

Propagação pelo país
A medida, ao mesmo tempo que é polêmica, desperta interesse de outros SindusCons. "Os sindicatos nos questionam para ver a eficiência da medida e o porquê dela. Eles estão estudando o assunto, para adotar soluções similares", afirma Izidio Santos Júnior, estimando que mais de dez sindicatos já procuraram o SindusCon-DF. No entanto, ele não acredita que isso possa se tornar lei municipal, por exemplo. No entender dele, ficará restrito a decisões setoriais, com o aval das convenções coletivas e das Delegacias Regionais do Trabalho. "A classificação do Ministério do Trabalho quanto à segurança vai de um a quatro. A construção civil é grau de risco três. É alto, mas estamos conseguindo diminuir consideravelmente. Esta é uma atitude setorial, independentemente de leis", assegura.
No entender do SindusCon-DF, poderá haver ganho de produtividade com a decisão. "Isso virá junto. Hoje, por exemplo, tornou-se um vício esta troca de mensagens por aparelhos celulares. Não apenas na construção civil, mas nas ruas. Isso expõe as pessoas a situações de risco. Estamos atacando a causa de acidentes", finaliza o diretor de política e relações trabalhistas do SindusCon-DF.
Entrevistado
Engenheiro civil Izidio Santos Júnior, diretor de política e relações trabalhistas do SindusCon-DF, vice-presidente do Seconci Brasil e vice-presidente do Clube de Engenharia de Brasília (CEnB)
Contato
sinduscondf@sinduscondf.org.br
Créditos Fotos: Agência Brasil/SindusCon-DF
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Produtividade passa pela engenharia de gestão
No Brasil, curso ainda é novo e só existe uma graduação no país. No entanto, especialidade é cada vez mais exigida na construção civil
Por: Altair Santos
Consolidada no exterior, a engenharia de gestão só agora começa a se propagar no Brasil. A Universidade Federal do ABC paulista (UFABC) é pioneira na oferta de um curso de graduação, enquanto o Instituto de Engenharia de Gestão (IEG) no Rio de Janeiro oferece a especialidade em formato de MBA e pós-graduação. De acordo com Rodrigo Lang, do IEG, tem crescido a demanda pelo curso, sobretudo por profissionais que empreendem na construção civil - com destaque para engenheiros civis. Ainda segundo o especialista, o que eles procuram é imprimir produtividade aos seus negócios. "A gente precisa propagar a produtividade para todas as engenharias e a gestão é fundamental para isso", diz Lang, que na entrevista a seguir explica os fundamentos que fazem a engenharia de gestão ser imprescindível nos sistemas produtivos do país.

Qual a aplicação da engenharia de gestão na construção civil?
O primeiro passo da engenharia de gestão é um conceito bastante horizontal. Ele passa por tudo o quanto é engenharia. É a engenharia de gestão que traz ferramentas de produtividade às outras engenharias. A grande fronteira do Brasil é realmente a produtividade. Vivemos batendo nesta tecla, de que para crescer sem pressões inflacionárias, crescer de forma sustentável, o país precisa ganhar produtividade. Nos últimos anos tivemos bastante investimento em consumo, pouquíssimo investimento em infraestrutura e nenhum investimento em produtividade. Se compararmos com outros países, o Brasil é um dos últimos colocados em produtividade mundial. Então, tanto na construção civil quanto na engenharia mecânica ou na engenharia naval, é preciso ganhar em produtividade. O modelo a ser seguido é o da agroindústria, que recebeu muito investimento em produtividade - produtividade humana e produtividade tecnológica. É o que precisa ocorrer com a construção civil, para que ela produza mais e reduza seus custos. E boa parte destes custos está relacionada à baixa produtividade. Aí é que entra a engenharia de gestão, que precisa ser aceita como um conceito. Um conceito que deveria nascer dentro das universidades, mas que não se disseminou pelas engenharias, exceto a engenharia de produção e a engenharia industrial. A gente precisa propagar a produtividade para todas as engenharias e a engenharia de gestão é fundamental para isso.
No Brasil, ao que parece, só existe um curso de graduação, que é na UFABC (Universidade Federal do ABC Paulista). Por que há tão poucos cursos de engenharia de gestão?
Infelizmente, nossas escolas de graduação estão muito desconectadas do mercado de trabalho. No Brasil, os cursos de engenharia se tornaram cursos teóricos. A engenharia civil, por exemplo, tem uma base curricular que vem desde 1700, dos tempos do Império. Houve apenas adaptações tecnológicas, mas a ementa curricular é a mesma. Todas as mudanças conceituais envolvendo a engenharia não foram incorporadas à graduação, mas empurradas para cursos de MBA, de pós-graduação, enfim, tornaram-se uma complementação do ensino. Por isso, eu vejo muitos alunos desesperados para cursar MBA, cursar pós-graduação, às vezes num momento errado. E aqui há uma parcela de culpa das universidades federais, que ao exigirem exclusividade de seus professores os desconectaram da realidade de mercado. Com o tempo, isso cria um gap muito grande entre o mercado de trabalho e a universidade. Resultado: os cursos de pós-graduação, hoje, tem cada vez mais demanda. Na média, 20% dos que os procuram são engenheiros civis.
O Instituto de Engenharia de Gestão trabalha de que forma para difundir essas mudanças?
Estamos atuando no mercado. Além de consultoria, temos uma escola de negócios que já existe há cinco anos e que prepara os profissionais graduados para ter o foco em gestão. Formamos engenheiros de gestão.
Entre os que procuram se especializar em gestão, quantos são engenheiros graduados?
A maioria. Os engenheiros que mais procuram são os com formação em civil e mecânica. Por quê? Por que o futuro do engenheiro é a gestão.
No caso de um curso de graduação em engenharia de gestão, ele tem duração de quantos anos?
Como as outras graduações em engenharia, cinco anos. Mas se for um curso complementar, como MBA ou pós-graduação, em um ano se consegue converter um profissional de outra engenharia em um profissional de gestão.
Em termos de produtividade, o quanto a boa gestão permite obter ganhos, sobretudo em projetos relacionados à construção civil?
Atualmente, existe um cálculo estimado de que a boa produtividade eleva os ganhos entre 30% a 40%, só melhorando os fundamentos de gestão. Isso vale para todas as engenharias, para todos os projetos. Grande parte das obras de infraestrutura lançadas no país, por exemplo, não tem gestão de projeto. Isso resulta em falha no preço, estouro no orçamento e prazos não cumpridos.
Fora do país, a engenharia de gestão já está bem disseminada?
Os engenheiros fora do país têm ciclos muito claros, ciclos extremamente profissionais. Nos primeiros três, quatro anos, a universidade se concentra nos fundamentos da profissão. Nos últimos anos, o foco é na gestão.
Como está o mercado de trabalho para quem se gradua em engenharia de gestão, e em quais áreas o profissional pode atuar?
A grande vantagem do profissional de engenharia de gestão é que ele pode atuar em todas as áreas, seja ela pública ou privada. Mas o setor público, em especial, tem um grande ganho relacionado a isto, pois no longo prazo ocorre a profissionalização. Futuramente, se o Brasil quiser mesmo ter um crescimento sustentável, deverá ter engenheiros de gestão em cargos estratégicos do governo.
No mercado, os empresários já preferem, normalmente, engenheiros para gerir as suas empresas. Por que isto ocorre?
A vantagem do engenheiro é que ele tem um raciocínio quantitativo e uma capacidade de análise muito forte. Então, ao casar a capacidade de análise de dados do engenheiro, o raciocínio quantitativo do engenheiro, com algumas disciplinas tipicamente de economia e de administração, surge o engenheiro de gestão. Geralmente, outras profissões têm dificuldade de análise de dados, uma dificuldade de raciocínio lógico e estruturado, onde um engenheiro tem muita facilidade. Por isso, a preferência por engenheiros.
Entrevistado
Engenheiro de produção Rodrigo Lang, sócio-diretor do Instituto de Engenharia de Gestão, com especialidade em empreendedorismo, vida corporativa e motivação empresarial. Autor de artigos e publicações nas áreas de Logística e Supply Chain.
Contatos
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Crédito Foto: Divulgação/IEG
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Tecnologia do concreto salva Estrada da Graciosa
Rodovia centenária ganhou uma ponte no lugar do trecho que desmoronou. Solução bem sucedida teve uso inédito pelo DER-PR
Por: Altair Santos
O Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) investiu na tecnologia do concreto para reconstruir o trecho da Estrada da Graciosa que desmoronou em função das chuvas, em março de 2014. Uma ponte substituiu parte da pista danificada. Segundo o engenheiro civil Márcio José Tozo, gerente de obras e serviços do DER-PR, e responsável pela recuperação da rodovia, a opção por uma estrutura de concreto se deu por causa do terreno onde ocorreu o acidente. "Foi uma solução conjunta do DER-PR, que mobilizou engenheiros civis e geólogos para chegar na melhor maneira de se fazer a recuperação. O escorregamento ocasionado não deixou plataforma para a construção de um muro de contenção, nem a execução de um aterro, pois a inclinação é superior a 45 graus", explica.

A Estrada da Graciosa, com seu trajeto original, recoberto por pavimento de paralelepípedo, foi construída em 1873. Atualmente, devido aos recentes danos, a rodovia segue em obras e só será integralmente reaberta em setembro. Por enquanto, ela opera em meia pista. A outra parte será entregue quando for finalizada a pavimentação, seguindo o padrão histórico - com paralelepípedos. Para Márcio José Tozo, o maior desafio nesta etapa de recuperação foi definir a obra a ser executada (tipo de estrutura, fundação e espaço para realizar os serviços) preservando o meio ambiente e as características da estrada, além de levar em conta as questões climáticas, prazos e o transporte de materiais, já que a rodovia centenária tem um limite de carga.
O DER-PR monitora constantemente a Estrada da Graciosa. Na maioria das vezes que a rodovia precisa de manutenção executa-se muros de contenção nos pontos críticos. Para esta obra, que usou uma tecnologia inovadora na estrada, foram utilizados 450 m³ de concreto. A estrutura envolveu 16 pilares, 36 vigas de 10 metros cada, lajotas para sustentar a nova travessia, guarda-corpos, sistemas de drenagens e muros de sustentação. "Quando totalmente liberada, a pista estará apta para receber o tráfego autorizado para a estrada: veículos leves (carros), além de pequenos caminhões e vans", garante o gerente de obras e serviços do DER-PR. Nos dias de semana, a Estrada da Graciosa recebe 50 veículos por hora. Nos finais de semana, este número dobra - 100 veículos por hora.

O tráfego em meia pista na Estrada da Graciosa foi liberado dia 9 de julho. Para organizar o fluxo neste período de transição da obra, foi instalado um semáforo, que permite a circulação e evita acidentes no local. “Foi autorizado o trânsito, antes mesmo da conclusão da ponte, para ajudar a população do litoral e promover o comércio local. Por isso, o motorista deve prestar atenção quando passar pela região”, alerta o superintendente do DER-PR, Gilberto Loyola. A Estrada da Graciosa também é conhecida como PR-410. Levou vinte anos para ser construída e durante quase 80 foi a principal ligação entre Curitiba e o litoral paranaense, tanto para transporte de cargas quanto de pessoas.
Entrevistado
Engenheiro civil Márcio José Tozo, gerente de obras e serviços do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR)
Contato
claragao@seil.pr.gov.br
Créditos Fotos: Arnaldo Alves/ANPr
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Japão projeta megaobra para conter tsunamis
Governo planeja construir 440 muralhas nas cidades mais ameaçadas pelo fenômeno sísmico, ao longo de 370 quilômetros e a um custo de US$ 10 bilhões
Por: Altair Santos
Entre 1972 e 1984, o prefeito Kotaku Wamura, da pequena cidade de Fudai, no norte do Japão, empreendeu suas energias em uma obra que ele considerava essencial para a população de três mil habitantes: construir uma muralha com 15,5 metros de altura e 205 metros de comprimento. Sobrevivente de um tsunami que destruiu o vilarejo em 1933, Wamura gastou cerca de US$ 30 milhões no empreendimento, que consumiu 61.500 m³ de concreto armado. Em 2011, a construção cumpriu sua função. No grande tsunami que atingiu várias cidades japonesas, o paredão conteve uma onda com 20 metros de altura e permitiu que Fudai saísse da tragédia com danos mínimos.

Incentivado pela ideia do ex-prefeito, que morreu em 1997, o governo japonês estuda construir 440 muros de concreto ao longo de 370 quilômetros de praia, protegendo as cidades mais propensas a tsunamis, entre as quais Fukushima, Miyagi e Iwate, destruídas pelo fenômeno sísmico do início desta década. O projeto causa polêmica e é repudiado por ambientalistas, que acusam que as megaobras irão acabar com o litoral japonês e prejudicar uma das principais atividades econômicas do país: a pesca. Mesmo assim, o investimento já está reservado e é estimado em US$ 10 bilhões. Cada muralha teria 20 metros de altura e o volume de concreto estimado para construí-las pode chegar a 8 milhões de m³.
O período de construção duraria cinco anos, avaliam os ministérios da Agricultura e de Terras, defensores das obras. Eles se apegam aos cálculos de que dos 35 mil quilômetros de costa que o Japão possui, 14 mil são vulneráveis a tsunamis. No entanto, Christian Dimmer,
professor-assistente no departamento de estudos urbanos na Universidade de Tóquio, afirma que a construção de muros de contenção não é garantia de que eles irão segurar tsunamis. "Paredões têm o potencial para salvar vidas onde quer que sejam construídas, desde que o tsunami não exceda a altura e não exerça pressão maior do que a que os muros podem suportar", diz.
O custo das construções também é reclamado pelos opositores. O governo japonês está disposto a conceder bônus para as empreiteiras do país, a fim de que elas invistam em pesquisa de sistemas construtivos e em tecnologia do concreto, para construir muralhas que resistam a tsunamis ainda mais intensos do que os que atingiram o país em 2011. Com isso, apontam os críticos, as populações das cidades "protegidas" pagariam impostos mais caros ao longo de 25 anos. "O custo é elevado sob todos os aspectos. Não gostaria que o mundo passasse a ver o Japão como um país cercado por uma muralha de concreto", critica o professor Masahito Abe, um dos opositores às megaobras.
Entrevistado
Universidade de Tóquio (via email e site institucional)
Contato
http://www.u-tokyo.ac.jp/public/contact_j.html
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Banco do BRICS abre mercado para transnacionais de obras
Análise da ANEINFRA considera que grandes empreiteiras brasileiras terão oportunidade de entrar na China, na Rússia, na Índia e na África do Sul
Por: Altair Santos
Fundado em 14 de julho de 2014, durante a VI Cúpula de Fortaleza-CE, o Banco do BRICS - bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - nasceu com um aporte de US$ 100 bilhões (quase R$ 250 bilhões). Um dos objetivos da nova instituição financeira é contribuir com crédito de longo prazo para investimentos em infraestrutura nos cinco países emergentes. Para o Brasil, essa vocação do banco pode representar a oportunidade para exportar os serviços das construtoras transnacionais do país. "O avanço na infraestrutura abre espaço também para o Brasil, que tem uma indústria competitiva em equipamentos, tem uma engenharia reconhecida internacionalmente e empresas de construção bastante competentes”, avalia Luciano Coutinho, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Compartilha da mesma opinião a presidente da Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (ANEINFRA) Martha Martorelli. “A ANEINFRA acredita que os recursos oriundos do Banco do BRICS, com seus respectivos critérios, poderão propiciar a ampliação da atuação das empresas transnacionais em outros países, bem como a oferta de empresas estrangeiras no mercado brasileiro", analisa a dirigente, fazendo uma ressalva: "O aporte neste novo banco representa aproximadamente metade do montante investido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo governo brasileiro. A execução do PAC no Brasil, ainda muito aquém da totalidade dos investimentos, já faz com que o setor de construção trabalhe no limite de sua capacidade de execução. Apesar de ser interessante agregar recurso dos BRICS, não será tão perceptível o incremento resultante às construtoras”.
Clientes em potencial
Para a presidente da ANEINFRA, Índia e China são os países com mais potencial para contratar os serviços das construtoras transnacionais brasileiras, mas a Rússia - futuro país-sede da Copa do Mundo de 2018 - tem potencial para estabelecer parcerias, por causa do know-how que o Brasil adquiriu em obras de estádios. "As construtoras brasileiras, sem dúvida, podem se constituir em uma alternativa a mais para a Rússia, mas o mais interessante seria conseguir entrar na China. O ritmo frenético dos investimentos em infraestrutura verificado naquele país, nos anos recentes, ilustra a dimensão do déficit que ele busca reduzir", cita Martha Martorelli, completando que o modelo de desenvolvimento chinês não pode servir de exemplo para o Brasil. "Infelizmente, falta intercâmbio técnico entre os países para considerá-lo como referência”.

A dirigente da ANEINFRA, no entanto, não tem convicção de que o Banco do BRICS ou até mesmo as reedições do PAC e do programa Minha Casa Minha Vida, que estão indo para a terceira geração, possam reaquecer a construção pesada. "A retomada dos investimentos em infraestrutura, a partir de 2008, num primeiro momento deparou-se com o sucateamento do setor, após 25 anos sem aportes relevantes. Por isso, o otimismo do setor dependerá de um plano de investimento governamental de médio e longo prazos, que encoraje o segmento a investir na própria capacidade técnica para atender a demanda planejada", analisa, concluindo que no momento não há como estimar o volume de recursos que o Brasil precisa para recuperar o terreno perdido na área de infraestrutura e nem quais são as obras prioritárias. "A decisão quanto ao investimento carece de planejamento", finaliza.
Entrevistada
Engenheira com especialização em gestão pública, Martha Martorelli, e presidente da Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (ANEINFRA)
Contatos
martha martorelli@hotmail.com
diretoria@aneinfra.org.br
Créditos Fotos: Divulgação/Agência Brasil