Paulo Mendes da Rocha construiu seu legado com concreto armado

Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), em São Paulo-SP: o concreto armado como marca registrada de Paulo Mendes da Rocha Crédito: Paulisson Miura/Wikimedia Commons
Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), em São Paulo-SP: o concreto armado como marca registrada de Paulo Mendes da Rocha
Crédito: Paulisson Miura/Wikimedia Commons

O legado deixado pela obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha foi construído literalmente com concreto armado. O material, em sua forma aparente, está presente em todos os seus projetos, passando por casas, museus, ginásios, estádios e capelas. Pertencente à chamada Escola Paulista, cujo mentor é Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha a seguiu à risca. O principal conceito da filosofia arquitetônica é: “A arquitetura deve ser crua, limpa, clara e socialmente responsável”. 

Um dos principais expoentes da arquitetura brasileira, ao lado do próprio Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer e Ruy Ohtake, Mendes da Rocha morreu dia 23 de maio, aos 92 anos, mas o brutalismo de suas construções terá vida longa. Foi o que o fez ser reconhecido internacionalmente, e que em 2006 lhe rendeu o Prêmio Pritzker – considerado o “Nobel da Arquitetura” -, em 2016 o Leão de Ouro da Bienal de Veneza e em 2017 a condecoração RIBA Gold, concedida pelo Royal Institute of British Architects. Poucos dias antes de morrer, foi homenageado também com a medalha de ouro da União Internacional de Arquitetos. 

Paulo Mendes da Rocha tem uma obra variada, mas os projetos de museus e de casas foram os que mais se destacaram. São dele o Museu da Língua Portuguesa e o Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE) – ambos localizados na cidade de São Paulo -, além do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa-Portugal. Entre as casas, destaque para a que o arquiteto construiu nos anos 1960 para morar. Chamada Casa Butantã, por estar no bairro paulistano de mesmo nome, é considerada inovadora, pois foi a primeira no Brasil a utilizar elementos pré-moldados de concreto. 

Também é de autoria de Paulo Mendes da Rocha o projeto do estádio Serra Dourada, em Goiânia-GO. Em 2020, o arquiteto doou seu acervo para a Casa da Arquitectura de Lisboa. São 6.300 desenhos feitos à mão, slides, 3 mil fotografias, 300 publicações e maquetes de 320 projetos. Questionado do porquê de ter levado o legado de sua obra para fora do Brasil, ele justificou dizendo que as construções sempre vão continuar no país. “Os prédios que eu construí sempre estarão aqui. Cuidem deles, pois sempre serei um arquiteto brasileiro”, disse. 

Como professor da USP, arquiteto também ajudou a formar profissionais 

Paulo Mendes da Rocha doou seu acervo para a Casa da Arquitectura de Lisboa, mas a maior parte de suas obras podem ser vistas na cidade de São Paulo Crédito: IABSP/YouTube
Paulo Mendes da Rocha doou seu acervo para a Casa da Arquitectura de Lisboa, mas a maior parte de suas obras podem ser vistas na cidade de São Paulo
Crédito: IABSP/YouTube

Além de projetar obras, Paulo Mendes da Rocha também atuou como professor na Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da USP, entre 1961 e 1969 e depois de 1980 até 1998. Foi também um dos líderes do movimento que resultou na criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), em 2010. A atual presidente nacional do CAU, Nadia Somekh, definiu em nota a importância do arquiteto. “Paulo Mendes da Rocha deixa um legado de obras-primas, resultado de uma prática profissional marcada pela ousadia e apuro tecnológico. Além disso, foi um educador generoso, não apenas como professor, mas também na convivência diária com os colegas com quem trabalhou em projetos e em obras”, diz. 

Nascido em Vitória, no Espírito Santo, Paulo Mendes da Rocha começou a exercer a profissão de arquiteto em 1955. Em 1958, ganhou o concurso para projetar o ginásio do Clube Athletico Paulistano, um dos mais tradicionais da capital paulista. A obra foi premiada na Bienal Paulista de 1961 e fez deslanchar a carreira profissional. “A partir daquele projeto me tornei um arquiteto”, declarou, em uma das várias entrevistas concedidas ao longo de sua vida. 

Entrevistado
Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Instituto de Arquitetura do Brasil – departamento São Paulo (IABSP) e Casa da Arquitectura de Lisboa 

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Altair Santos MTB 2330


Cidades precisam pensar em infraestrutura de alta performance

Avenida em Fortaleza-CE: cidade vem reurbanizando as rotas turísticas com pavimento intertravado de concreto Crédito: Governo do Ceará
Avenida em Fortaleza-CE: cidade vem reurbanizando as rotas turísticas com pavimento intertravado de concreto
Crédito: Governo do Ceará

Guia Global de Desenho de Ruas, elaborado pela National Association of City Transportation Officials (NACTO) – organismo que reúne 86 prefeituras e gestores de trânsito da América do Norte – define que as ruas atuam como catalisadores para a transformação urbana. Com base nessa premissa, o gerente da regional sul da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), o engenheiro civil Alexsander Maschio, explica que a rua deixou de ser simplesmente pavimento e, por isso, é necessário pensá-la como infraestrutura de alta performance.

No webinar “Infraestrutura de alta performance”, onde participou juntamente com o engenheiro civil Dejalma Frasson Jr., também da regional sul da ABCP, e a engenheira civil Glécia Vieira, da ABCP Nordeste, Alexsander Maschio mostra por que as ruas deixaram de ser apenas pavimento. “Hoje a rua não é apenas o espaço do pavimento onde trafegam os veículos. Ela passou a englobar calçadas, drenagens, mobiliário, arborização, iluminação, sinalização, conexões e ciclovias”, diz.

Em sua apresentação, o gerente da regional sul da ABCP também demonstra como a rua influencia no desenvolvimento econômico e na qualidade de vida de quem irá usufruir de sua infraestrutura. Porém, para cumprir tais funções, a via precisa ter durabilidade, baixa incidência de manutenção, reduzir o impacto ambiental e contribuir para o urbanismo sustentável. Sob essa ótica, diz o palestrante, projetos urbanísticos do século 21 só conseguem ser transformadores de ambientes urbanos se forem viabilizados com materiais cimentícios.

Além de oferecerem mais alternativas urbanísticas, os elementos à base de cimento ajudam a reduzir as ilhas de calor. Na cidade de Ribeirão Preto, a ABCP fez uma medição de temperatura em duas ruas a 100 metros de distância uma da outra. Em uma tarde ensolarada, e com medições simultâneas, a que tinha pavimento intertravado de concreto alcançou temperatura de 51 °C, às 14h30, enquanto a pavimentada com asfalto apontou 68 °C – diferença de 17 °C. “Ruas que emitem menos calor influenciam em todo o ecossistema no seu entorno”, comenta Alexsander Maschio.

Normalização e qualidade industrial dão credibilidade ao uso de materiais cimentícios

Além de minimizar o “efeito estufa”, o uso de materiais cimentícios na urbanização de ruas contribui para que as cidades combatam a impermeabilidade do solo, uma das principais razões de enchentes nos grandes centros urbanos. Por isso, o pavimento e as calçadas com elementos permeáveis entram na definição de infraestrutura de alta performance. No Brasil, essa tecnologia tem o suporte da ABNT NBR 16416 (Pavimentos permeáveis de concreto – Requisitos e procedimentos). A norma técnica define 5 tipos de elementos permeáveis para pavimentos e calçadas: o intertravado com juntas alargadas, o intertravado com áreas vazadas, o intertravado com peças permeáveis, as placas permeáveis e o concreto poroso moldado in loco.

Glécia Vieira lembra que, além de normas técnicas específicas, o pavimento intertravado produzido no Brasil tem qualidade industrial, apelo arquitetônico, resistência e facilidade de execução, haja vista que é crescente o treinamento de mão de obra para atuar em obras com essas características. Por isso, lembra a engenheira civil que representa a ABCP na região nordeste do país, as cidades têm usado com frequência a tecnologia em projetos de reurbanização. Um exemplo é Fortaleza. Há 3 anos, a capital do Ceará adotou o pavimento intertravado em algumas de suas rotas turísticas e mostra que a infraestrutura de alta performance é eficaz, desde que atenda os principais requisitos, que são: qualidade das peças, bom projeto e construção adequada.

Assista ao vídeo do webinar “Infraestrutura Viária de Alta Performance – Soluções Construtivas em Concreto”

Entrevistado
Reportagem com base no webinar “Infraestrutura Viária de Alta Performance – Soluções Construtivas em Concreto”, promovido pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)

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alexsander.maschio@abcp.org.br
dejalma.frasson@abcp.org.br
glecia.vieira@abcp.org.br

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ABECE assume comissões que coordenam normas técnicas de pontes

Normas técnicas relacionadas a pontes, viadutos, passarelas, túneis e trincheiras ganharão mais agilidade com a parceria entre ABNT e ABECE Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Normas técnicas relacionadas a pontes, viadutos, passarelas, túneis e trincheiras ganharão mais agilidade com a parceria entre ABNT e ABECE
Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Acordo entre ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) passa a dar mais agilidade à revisão das normas técnicas relacionadas a pontes, viadutos, passarelas, túneis e trincheiras (passagens inferiores). Desde maio de 2021, a ABECE incorpora as comissões ABNT/CE-002:125.005 (Comissão de Estudos de Projeto de Pontes de Aço e Mistas), ABNT/CEE-231 (Comissão de Estudo Especial de Pontes de Concreto Simples, Armado e Protendido) e ABNT/CE-002:126:10 (Comissão de Estudo de Estruturas de Madeiras). Essas comissões são responsáveis por manter atualizada a normalização relacionada com estruturas de pontes.

Segundo o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade da ABECE, o engenheiro civil Túlio N. Bittencourt, a parceria com a ABNT atende a um dos propósitos da associação de engenheiros de estruturas, que é “a vocação e a responsabilidade de atuar fortemente nas normas de projetos de estruturas em geral”. “Dessa forma, é importante que haja um instrumento rápido para contínuo aprimoramento dessas normas. As pontes se enquadram no contexto geral”, completa. Com a abrangência das comissões, a ABECE pode revisar e definir novas normas tanto para estruturas de concreto simples, armado e protendido quanto para construções em madeira, metálicas ou mistas.

O escopo compreende normas técnicas relacionadas com ações e cargas, projetos, execuções e inspeções, no que concerne à terminologia, requisitos e procedimentos de julgamento, métodos de ensaio de laboratório e campo, critérios de formação, certificação de pessoal e sustentabilidade. Por isso, explica Túlio N. Bittencourt, a ABECE atuará de forma integrada com a CEE-169 (Comissão de Estudo Especial de Serviços de Inspeções de Estruturas de Concretos) e as demais comissões da ABNT correlacionadas com estruturas de pontes. “Esta nova atividade reforça o constante trabalho no fortalecimento da normalização e no desenvolvimento e crescimento das boas condutas na engenharia estrutural brasileira”, reforça a diretoria da ABECE.

Veja as primeiras normas técnicas a serem revisadas dentro do novo formato

De acordo com Túlio N. Bittencourt, as normas de projeto de estruturas deverão ser incorporadas pouco a pouco pela ABECE. As que serão objeto imediato da associação são as seguintes:

 ABNT NBR 7187 (Projeto de pontes de concreto armado e de concreto protendido – Procedimento), que está em consulta pública até 9 de junho.
– ABNT NBR 7188 (Carga móvel rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas).
– ABNT NBR 16694 (Projeto de pontes rodoviárias de aço e mistas de aço e concreto).
– ABNT NBR 7189 (Cargas móveis para projeto estrutural de obras ferroviárias), que foi recentemente cancelada.

ABECE informa ainda que trabalhará em parceria com a comissão CEE-169 na revisão, e possível ampliação de escopo, da ABNT NBR 9452 (Inspeção de pontes, viadutos e passarelas de concreto – Procedimento), e com o CB-099 (Comitê Brasileiro de Qualificação e Certificação de Pessoas) para a criação de uma norma de certificação e qualificação de pessoal. Essa deverá ser similar à NBR 16230 (Inspeção de estruturas de concreto – Qualificação e certificação de pessoal – Requisitos) mas vai atender a inspeção de estruturas metálicas, de madeira, de concreto simples e mistas (concreto armado, protendido e com reforço de materiais não convencionais).

Entrevistado
ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) (via assessoria de imprensa)

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abece@abece.com.br

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EUA elegem obras que usam cimento com escórias de alto-forno

Estação de tratamento de água de Akron, em Ohio: concreto com resistência de 68 MPa Crédito: Slag Cement Association
Estação de tratamento de água de Akron, em Ohio: concreto com resistência de 68 MPa
Crédito: Slag Cement Association

As melhores obras construídas com concretos que utilizam Cimento Portland misturado a escórias de alto-forno foram eleitas recentemente nos Estados Unidos. A escolha partiu da Slag Cement Association (Associação de Cimentos com Escórias) que colocou em votação 5 categorias: durabilidade, alto desempenho, design verde, arquitetura e inovação.

Os projetos mais relevantes foram a estação de tratamento de água de Akron, em Ohio, que venceu na categoria durabilidade. No quesito alto desempenho, ganhou a pista de pavimento em concreto para decolagens e pousos de caças, construída na base da Força Aérea dos EUA, em Avon Park, na Flórida. Na categoria design verde ganhou um edifício residencial de 13 pavimentos, construído em Cincinnati-Ohio.

Ponte do lago Tillery: construída em 1927, obra foi recuperada para resistir a reações álcali-sílicas (RAS) Crédito: Slag Cement Association
Ponte do lago Tillery: construída em 1927, obra foi recuperada para resistir a reações álcali-sílica (RAS)
Crédito: Slag Cement Association

Já o edifício-garagem do hotel Chesapeake Beach Resort and Spa, construído na Flórida, ganhou o prêmio de melhor arquitetura. Por fim, a recuperação da ponte do lago Tillery, na Carolina do Norte, venceu no quesito inovação. Outros 11 projetos finalistas ganharam menção-honrosa dentro das 5 categorias. Entraram na votação somente obras concluídas em 2020, construídas nos Estados Unidos por empresas norte-americanas e que utilizaram Cimento Portland produzido no país.

Conheça as características das premiadas em cada categoria

Base da Força Aérea em Avon Park, na Flórida: consumo de 13.762 m³ de concreto e uso de Cimento Portland com 28% de escória de alto-forno na composição Crédito: Slag Cement Association
Base da Força Aérea em Avon Park, na Flórida: consumo de 13.762 m³ de concreto e uso de Cimento Portland com 28% de escória de alto-forno na composição
Crédito: Slag Cement Association

Eleita pela durabilidade, a estação de tratamento de água de Akron, em Ohio, usou cimento com até 35% de escórias em sua composição. A opção pelo material ocorreu depois que testes de laboratório indicaram que ele resultaria em um concreto com até 68 MPa, apto a atender aos requisitos de contração, permeabilidade e controle de temperatura exigidos pelo projeto. A obra consumiu 7.645 m³ de concreto.

Vencedora no quesito alto desempenho, a pista da base da Força Aérea em Avon Park, na Flórida, consumiu 13.762 m³ de concreto. Houve mistura de 28% de escória de alto-forno no cimento usado para produzir as placas que compõem o pavimento. Pelo projeto, era importante que elas atingissem resistência à flexão de 6 MPa em 28 dias.

O edifício The Blonde Apartments, com 13 pavimentos, venceu a categoria design verde. A escória de alto-forno foi usada na proporção de 30% para melhorar o desempenho térmico da construção. Também serviu para conferir uma curva de resistência de 41 MPa ao concreto, aos 28 dias.

Edifício-garagem do hotel Chesapeake Beach Resort and Spa, na Flórida: 50% de escórias de alto-forno na mistura para a fabricação dos elementos pré-fabricados Crédito: Slag Cement Association
Edifício-garagem do hotel Chesapeake Beach Resort and Spa, na Flórida: 50% de escórias de alto-forno na mistura para a fabricação dos elementos pré-fabricados
Crédito: Slag Cement Association

edifício-garagem do hotel Chesapeake Beach Resort and Spa, construído na Flórida, ganhou o prêmio de melhor arquitetura e usou Cimento Portland com 50% de mistura de escórias de alto-forno. A obra, com capacidade para 700 veículos, foi construída com peças pré-moldadas de concreto. As resistências dos elementos variaram de 27 MPa a 35 MPa.

Considerada uma obra inovadora, a recuperação da ponte do lago Tillery, na Carolina do Norte, usou 1.739 m³ de concreto com Cimento Portland com 36% de escória de alto-forno. O objetivo da mistura foi aumentar a durabilidade do concreto, que atingiu 78 MPa, após 28 dias, e mitigar a reação álcali-sílica (RAS). O projeto seguiu o desenho arquitetônico original da ponte, construída em 1927 e com 4 arcos.

Edifício The Blonde Apartments: uso de escória de alto-forno teve o objetivo de melhorar o desempenho térmico das estruturas Crédito: Slag Cement Association
Edifício The Blonde Apartments: uso de escória de alto-forno teve o objetivo de melhorar o desempenho térmico das estruturas
Crédito: Slag Cement Association

Entrevistado
Slag Cement Association (Associação de Cimentos com Escórias) (via departamento de comunicação)

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Concreto sustenta maior ponte pedonal do ocidente

Ponte pedonal de Arouca é formada por 127 seções metálicas e suporta simultaneamente 1.825 pessoas Crédito: Itecons
Ponte pedonal de Arouca é formada por 127 seções metálicas e suporta simultaneamente 1.825 pessoas
Crédito: Itecons

Dois grandes pilares de concreto com formato em “V” sustentam a maior ponte pedonal (somente para pedestres) do ocidente, construída em Arouca, no norte de Portugal. As estruturas tem 35,5 metros de altura e cada uma consumiu 1.060 m³ de concreto com mais de 100 MPa de resistência. As fundações dos pilares têm 42 estacas encravadas em rochas e as características especiais do concreto usado na obra se devem às forças dos ventos na região 

ponte pedonal tem vão de 516,5 metros e está a 175 metros de altura, cruzando o vale do rio Paiva. Apesar da finalidade turística, sob o ponto de vista da engenharia é considerada uma das obras modelares da Europa. O projeto foi concebido dentro do Itecons (Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Coimbra). 

engenheiro civil António Tadeu, que atuou na equipe de projetistas do Itecons, fala dos desafios da obra. “A ideia inicial era a de uma ponte com cerca de 300 metros de vão e 90 metros acima do rio. A topografia local levou a uma primeira revisão do projeto. Por fim, as condições geológicas conduziram ao projeto original, com um vão 516,5 metros e uma altura acima do rio de cerca de 175 metros”, explica. 

tabuleiro da ponte exclusiva para pedestres conta com 127 seções metálicas sustentadas por cabos secundários ligados aos cabos de aço principais, os quais estão fixados nas torres de concreto. Cada cabo principal é constituído por sete cabos de aço agrupados por placas metálicas. A passarela da ponte pedonal de Arouca mede 1,2 metro e foi projetada para suportar simultaneamente 1.825 pessoas – levando em conta o peso médio de 75 quilos. 

Teste em túnel de vento definiu tipo de pavimento para o tráfego de pedestres na 516 Arouca 

A 516 Arouca tem vão de 516 metros, e só perde para a ponte pedonal Baglung Parbat, no Nepal, com vão de 567 metros Crédito: Câmara Municipal de Arouca
A 516 Arouca tem vão de 516 metros, e só perde para a ponte pedonal Baglung Parbat, no Nepal, com vão de 567 metros
Crédito: Câmara Municipal de Arouca

Uma ponte em escala menor foi construída e testada no túnel de vento do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa-Portugal. Após os testes foi sugerido que o pavimento para o tráfego de pedestres fosse do tipo grelha metálica para não oferecer resistência ao vento e tornar a estrutura mais estável. O projeto da ponte foi concebido em 2016, as obras começaram em 2018 e a conclusão ocorreu no final de 2020 

inauguração oficial aconteceu dia 2 de maio de 2021. O custo da obra ficou em 2,3 milhões de euros, com 800 mil euros financiados pela União Europeia. A expectativa é que a ponte se torne um dos principais pontos turísticos de Portugal durante o verão no hemisfério norte. Os ingressos custam 10 euros para crianças acima de 6 anos e jovens até 17 anos, assim como idosos. Adultos até 65 anos pagam 12 euros. Moradores locais pagam 5 euros a cada 3 anos para transitar pela ponte. 

ponte pedonal nasce com uma polêmica. Reivindica ser a maior do mundo com essas características, mas descobriu-se que no Nepal a ponte Baglung Parbat tem vão de 567 metros. Assim, a 516 Arouca, como foi batizada a estrutura portuguesa, pode ser chamada de a maior do ocidente. No Brasil, a maior ponte pedonal é a estrutura metálica construída em 1889, em São Fidélis-RJ. Primeiramente, ela era uma ponte ferroviária e depois atendeu ao tráfego rodoviário da cidade, quando ficou conhecida como a “ponte de um carro só”. Em 2020, foi reinaugurada apenas para o tráfego de pedestres e bicicletas. A estrutura cruza o rio Paraíba do Sul e tem 440 metros. As 10 maiores pontes pedonais do mundo, considerando a extensão do vão, são as seguintes:

1. Baglung Parbat, Nepal – 567 metros
2. 516 Arouca, Portugal – 516 metros
3. Represa Wanjiazhai, China – 500 metros
4. Charles Kunonen, Suíça – 494 metros
5. Kushma Bungy, Nepal – 490 metros
6. Huangchuansanxia Glass, China – 460 metros
7. Barragem Rappbode, Alemanha – 458 metros
8. Daqingshan Glass Footbridge, China – 450 metros
9. Longguwan Glass Footbridge, China – 445 metros
10. Glass Hongyagu, China – 445 metros 

Assista ao vídeo da 516 Arouca

Veja vídeo da ponte pedonal de São Fidélis, no Rio de Janeiro

Entrevistado
Itecons (Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Coimbra) (via assessoria de imprensa) 

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itecons@itecons.uc.pt 

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Altair Santos MTB 2330


Leilão da Cedae tira obras de saneamento básico da inércia

Cedae investia 183 milhões de reais no saneamento básico do Rio de Janeiro. Agora, vai investir 2 bilhões e 188 milhões de reais por ano Crédito: FGV
Cedae investia 183 milhões de reais no saneamento básico do Rio de Janeiro. Agora, vai investir 2 bilhões e 188 milhões de reais por ano
Crédito: FGV

Primeira estatal privatizada depois do marco legal do saneamento básico, a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto do Rio de Janeiro) promete tirar da inércia as obras relacionadas com o setor. Os vencedores da concessão assumiram o compromisso de investir 35 bilhões de reais para universalizar o sistema de abastecimento de água e de coleta de esgoto no estado, além de despoluir áreas relevantes, como a Baía de Guanabara.  

Outra razão que movimenta o mercado é o sucesso do leilão de 30 de abril de 2021, que arrecadou mais de 22 bilhões de reais. Isso despertou outros estados a iniciarem processos de privatização. Amapá, Rio Grande do Sul, Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rondônia tendem a seguir o Rio de Janeiro. No entender de analistas da Fundação Getúlio Vargas, a privatização da Cedae criou um divisor de águas no saneamento básico brasileiro. “Agora há o ‘A.C’ e o ‘D.C’ no setor: o antes e o depois da Cedae”, dizem. 

análise da Fundação Getúlio Vargas é de que o setor de saneamento básico no Brasil tende a se tornar o mais atraente para investidores. A razão é simples: existe demanda e o poder público está convencido de que não tem capacidade de investimento para cumprir o que exige a lei, que é atingir a universalização até 2033. “O cenário mudou muito. Governadores e prefeitos estão quase que compelidos a buscar a privatização de suas companhias ou de parte delas. Isso gera perspectivas de muitos negócios, com projetos para todos os tipos de investimentos”, avalia Guilherme Albuquerque, chefe do departamento de Parcerias Público-Privadas do BNDES. 

Só as estatais de São Paulo, Minas Gerais e Paraná têm investido na melhoria dos serviços  

Segundo Laura Bedeschi Rego de Mattos, chefe do departamento de saneamento ambiental do BNDES, o gap de investimento no saneamento básico é quase 3 vezes menor do que o mínimo necessário para que estados e municípios consigam atingir a universalização. Em sua apresentação, a especialista lembra que atualmente o Brasil tem apenas 3 estados que conseguem manter melhorias do serviço: São Paulo (Sabesp), Minas Gerais (Copasa) e Paraná (Sanepar). Mesmo assim, as companhias paulista, mineira e paranaense investem apenas a metade do que deveriam. 

A situação é crítica no norte e no nordeste do país, onde o déficit no abastecimento de água atinge 67% da população e o de esgoto abrange 49% dos habitantes das duas regiões, aponta a FGV. Para se ter ideia de quanto a privatização do saneamento básico vai atrair recursos, Guilherme Albuquerque cita o volume de recursos movimentados pela Cedae antes e depois da concessão. “Por ano, a Cedae investia 183 milhões de reais no setor. Agora, vai investir 2 bilhões e 188 milhões de reais”, compara. 

A expectativa é que a privatização da Cedae gere 45 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Um dos setores mais beneficiados será o da construção civil, principalmente o segmento de artefatos de concreto. Atualmente, apenas 7% dos municípios brasileiros contam com a participação da iniciativa privada no saneamento básico, o que engloba uma população de aproximadamente 30 milhões de pessoas. Estima-se que o marco legal estenda a participação do capital privado para 50% das cidades nos próximos 10 anos. 

Veja o vídeo do webinar “Novos desafios para o financiamento do setor de água e saneamento no Brasil”

Entrevistado
Reportagem com base no webinar “Novos desafios para o financiamento do setor de água e saneamento no Brasil”, promovido pela Fundação Getúlio Vargas 

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fgvnoticias@e2b.fgv.br 

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Altair Santos MTB 2330


Durabilidade norteia os avanços tecnológicos do pavimento de concreto

Usada no Chile, a tecnologia de “losas cortas” utiliza placas cimentícias delgadas e dispensa uso de barras de transferência Crédito: Maurício Salgado Torres
Usada no Chile, a tecnologia de “losas cortas” utiliza placas cimentícias delgadas e dispensa uso de barras de transferência
Crédito: Maurício Salgado Torres

Pavimentos de concreto que possam suportar 50 anos sem manutenção e que tenham um ciclo de vida útil de 100 anos é o novo alvo dos pesquisadores envolvidos com essa tecnologia. Por isso, a palavra-chave é durabilidade, avaliam dois conhecidos especialistas da engenharia de pavimentos rígidos na América do Sul: o professor-doutor José Tadeu Balbo, da Escola Politécnica da USP, e Maurício Salgado Torres, do Instituto del Cemento y del Hormigón de Chile. Eles participaram recentemente do webinar “Avanços tecnológicos em pavimento de concreto”, promovido pela Sociedade dos Técnicos Universitários do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul, a SUDAER, em parceria com a revista Estradas. 

Em sua palestra, José Tadeu Balbo fez a defesa do pavimento de concreto com armadura contínua. Para ele, trata-se da tecnologia mais eficaz para se obter estradas altamente duráveis. Ao contrário do pavimento rígido convencional, que utiliza juntas de dilatação e barras de transferência, o PCCA (Pavimento de Concreto Continuamente Armado) reduz quase a zero o risco de fissuras. A técnica não é nova e reveste cerca de 40 mil quilômetros de rodovias nos Estados Unidos. Porém, para os padrões brasileiros, ela tornaria o projeto de uma estrada 40% mais caro. Qual seria a inovação neste caso? Segundo Balbo, o desafio é igualar o custo do PCCA ao do pavimento rígido convencional. “Em rodovias de alto tráfego, a baixa manutenção compensa o custo de projeto e de execução”, diz. 

professor-doutor da USP, que é autor do livro “Pavimentos de Concreto” (Oficina de Textos, 472 páginas), entende também que o Brasil pode ampliar a durabilidade de seus pavimentos de concreto se melhorar os processos de texturização. “O Brasil começaria inovando na pavimentação de concreto se controlasse a irregularidade. No país, existe uma dificuldade grande para atingir níveis de irregularidades aceitáveis. Uma medida simples é parar de vassourar o concreto. O correto é usar pentes para criar o gripping no concreto. Uma texturização mal feita pode responder por até 60% da irregularidade no pavimento”, alerta José Tadeu Balbo.  

Pavimentos de concreto bem-sucedidos seguem os parâmetros definidos em projeto 

Perguntado sobre tecnologias como pavimento de concreto permeável, uso de cimentos expansivos e a utilização de sensores que emitem ondas de baixa frequência para evitar fissuras durante o processo de cura do concreto, Balbo avalia que, por enquanto, elas estão limitadas a nichos. “O pavimento permeável é mais recomendado para ciclovias e estacionamentos. Os cimentos expansivos foram usados na Austrália e no Japão, mas o Cimento Portland e o cimento com pozolanas atendem bem projetos de pavimento rígido”, explica. Por fim, sugeriu o que se deve fazer para conseguir uma pavimentação com ciclo de vida longo. “É simples: construam pavimento em que a base dure 100 anos”, resume. 

Mauricio Salgado, que é chefe da área de pavimentação do Instituto del Cemento y del Hormigón de Chile, aproveitou sua participação para expor uma tecnologia inovadora aplicada nas rodovias de baixo tráfego na região de Santiago. Trata-se da técnica das “losas cortas”. São placas cimentícias delgadas, com até 14 centímetros de espessura, e que medem 2 m x 2 m. A inovação está no fato de que não utilizam barras de transferência. “Esse projeto experimental já completou 11 anos e se mantém com bom desempenho nas rodovias secundárias de Santiago e também em trechos urbanos da capital chilena. A única vulnerabilidade que percebemos é que, em curvas acentuadas, a força exercida pelos veículos causou deslocamento das placas em alguns trechos, mas foi um problema pontual”, revela. 

engenheiro civil chileno também fez questão de destacar que o projeto de um pavimento de concreto e a execução obediente ao descritivo são decisivos para que a obra atinja a durabilidade projetada. “Existem pavimentos e pavimentos de concreto. Uns são desenhados para durar 20 anos, mas com 8 anos já exigem restauração. Outros, de fato, cumprem com o que foi definido em projeto, ou seja, duram 20 anos. Os bem-sucedidos, com certeza foram executados de acordo com os parâmetros definidos por um bom projeto. Isso é compromisso com a qualidade, com a tecnologia e com a durabilidade”, define. 

Assista ao webinar “Avanços tecnológicos em pavimento de concreto”

Entrevistado
Reportagem com base no webinar “Avanços tecnológicos em pavimento de concreto”, promovido pela SUDAER, e com participação dos engenheiros civis José Tadeu Balbo e Maurício Salgado Torres 

Contato
sudaer@daer.rs.gov.br 

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Altair Santos MTB 2330


Contratações da construção no PR voltam à fase pré-pandemia

Construção imobiliária lidera a geração de empregos no setor, principalmente nas regiões de Curitiba e Londrina Crédito: AEN
Construção imobiliária lidera a geração de empregos no setor, principalmente nas regiões de Curitiba e Londrina
Crédito: AEN

No Paraná, a construção civil gerou 11.603 novas vagas formais no primeiro trimestre de 2021. O número reconduz o volume de contratações no estado aos patamares da pré-pandemia, ou seja, comparáveis ao quarto trimestre de 2019. O ritmo de abertura de empregos tem duas razões: o Paraná possui atualmente 4 bilhões de reais em investimentos em obras de infraestrutura, somando recursos dos governos estadual e federal, e a construção imobiliária segue com alta produtividade tanto em Curitiba quanto nas principais cidades do interior. 

Das 11.603 vagas criadas pela construção civil paranaense durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 2021, 7.562 se concentraram na capital, segundo dados do Caged (Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). As demais 4 mil contratações foram pulverizadas pelo interior, com destaque para Londrina. A segunda principal cidade do estado tem 18 mil unidades de habitações populares em fase de projeto ou construção, o que, segundo o SindusCon Paraná Norte, devem gerar mais 4 mil novas vagas diretas até o final de 2021.  

O sindicato, que engloba 88 municípios, estima que, se contabilizadas as construções de alto padrão e as obras de infraestrutura em Londrina e região, a expectativa de geração de emprego pode crescer pelo menos mais 50% ao longo do ano. Quem também demonstra otimismo é o SindusCon Noroeste, que acompanha o setor em Maringá e em outros 125 municípios. Na região, a construção civil emprega atualmente 11.056 trabalhadores com registro em carteira. 

Oeste se destaca como a 3ª região do Paraná que mais gera empregos na construção civil 

Situação semelhante é detectada pelo SindusCon Oeste do Paraná, que engloba Cascavel e outros 21 municípios. A região se destaca como a 3ª do estado que mais gera empregos na construção civil. Dois de seus municípios aparecem no top 10 da abertura de vagas em canteiros de obra. A lista completa inclui Curitiba, Londrina, Cascavel, Maringá, Ponta Grossa, Araucária, Pinhais, Pato Branco, Apucarana e Toledo.  

Os recentes dados do Caged também mostram que dos 399 municípios do Paraná, 231 ampliaram o número de vagas formais na construção civil no 1º trimestre de 2021, enquanto 12 se mantiveram inalterados e 156 perderam postos com carteira assinada. Os números se assemelham aos medidos pelo SindusCon-PR, que é o maior do setor no estado e abrange 153 municípios 

O bom desempenho da construção civil na maioria dos municípios paranaenses nos primeiros 3 meses do ano fez o estado se destacar nacionalmente, tornando-se o 3º do país que mais gera vagas no setor, atrás somente de São Paulo e Minas Gerais, ficando à frente de Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará. Atualmente, a construção civil emprega 2.360.889 trabalhadores com carteira assinada no Brasil. Vale destacar que no 1º trimestre deste ano o setor abriu mais 100 mil novas vagas em todo o país. 

Entrevistado
Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho (PDET) – organismo vinculado ao ministério da Economia -, SindusCon-PR, SindusCon Paraná Norte, SindusCon Noroeste e SindusCon Oeste do Paraná 

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Certificação LEED faz 15 anos: o que mudou na construção civil?

Certificação LEED fez a régua subir na cadeia produtiva da construção civil e passou a influenciar de projetistas a fabricantes de materiais Crédito: WorldGBC
Certificação LEED fez a régua subir na cadeia produtiva da construção civil e passou a influenciar de projetistas a fabricantes de materiais
Crédito: WorldGBC

A principal certificação de sustentabilidade para edificações, a Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), completa 15 anos no Brasil. Ela tornou-se referência para projetos de prédios verdes no país e foi tema do debate que aconteceu na versão digital da ConcreteShow – a ConcreteShow Digital Series. O evento teve como principais participantes o CEO da GBC Brasil, Felipe Faria, que é advogado por formação, e o diretor do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), o arquiteto e urbanista Rafael Lazzarini 

Para os especialistas, são flagrantes os impactos positivos que a certificação trouxe à construção civil brasileira. Os números falam por si, diz Lazzarini: “Hoje temos mais de 1.000 edificações com a certificação no país e a LEED fez a régua subir na cadeia produtiva da construção civil. Passou a influenciar tanto quem projeta quanto quem constrói e fabrica materiais. A indústria de materiais de construção e a mão de obra evoluíram com a chegada da certificação LEED e de outras certificações.” 

Felipe Faria avalia que a certificação, que no Brasil é concedida pela Green Building Council Brasil (GBC Brasil), fez as edificações buscarem metas de desempenho acima das normas técnicas convencionais. Também foi lembrado na palestra virtual que a busca pela LEED se tornou abrangente no setor. “Não são mais apenas edifícios corporativos e habitacionais de alto padrão que procuram se adequar à certificação. Ela estendeu-se para shopping centers, galpões industriais, centros de logística, escolas, hospitais e outros tipos de construções”, completa Rafael Lazzarini. 

Os especialistas entendem que os consumidores têm papel preponderante nessa capilaridade da LEED dentro da construção civil. “Os clientes passaram a exigir conceitos de sustentabilidade nos projetos. Não por marketing, mas por causa do retorno real de eficiência energética das construções. E por que isso? Por que ambientes saudáveis geram mais produtividade. Então, o conceito hoje é buscar construir edificações com qualidade ambiental e baixo custo operacional. De olho nessa demanda, os incorporadores estão mais dispostos a investir em construções sustentáveis”, cita Lazzarini. 

Pandemia de COVID-19 potencializa as construções sustentáveis 

Com dados coletados pela equipe técnica da GBC Brasil, Felipe Faria mostrou na palestra que os prédios verdes registram ganhos de 8% a 11% em eficácia energética (menor consumo de água e menor consumo de energia elétrica, principalmente) na comparação com as edificações convencionais. O CEO da GBC Brasil também lembra que a evolução da LEED, que atualmente possui várias categorias e expertises, possibilita que um projeto de prédio verde possa se viabilizar sem aumento do custo da obra. 

No entender de Rafael Lazzarini e de Felipe Faria, a pandemia de COVID-19 potencializa as construções sustentáveis. “A qualidade do ar tornou-se uma exigência nos ambientes construídos. Além disso, a síndrome do edifício doente fica cada vez mais evidente com a epidemia”, avalia. O arquiteto e urbanista entende que, em breve, o poder público passará a exigir que as edificações comprovem eficácia no âmbito da qualidade do ar e do baixo consumo energético. “Quando os governos começarem a sobretaxar as construções que geram impactos ambientais, construir edificações eficazes energeticamente será obrigatório. Isso já começa a acontecer em alguns países europeus”, informa. 

Atualmente, 180 países estão integrados com a certificação LEED. O Brasil é o 5º que mais emite certificações, atrás de Estados Unidos, China, Canadá e Índia. “Praticamente todos os projetos de edifícios corporativos que são registrados nas prefeituras das grandes capitais brasileiras já o fazem requerendo a LEED. O mesmo já começa a acontecer com prédios residenciais de alto padrão, e queremos estender isso para todos os segmentos”, revela Fábio Faria. 

Entrevistado
Reportagem com base no seminário sobre sustentabilidade na construção civil, promovido dentro do Concrete Show Digital Series 

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atendimento.concreteshow@informa.com 

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Altair Santos MTB 2330


Casas com impressão 3D se multiplicam no mundo. E no Brasil?

Participação da iniciativa privada é imprescindível para que a construção com impressão 3D em concreto avance no Brasil Crédito: Banco de Imagens
Participação da iniciativa privada é imprescindível para que a construção com impressão 3D em concreto avance no Brasil
Crédito: Banco de Imagens

Em Eindhoven, na Holanda, um conjunto habitacional para casais da terceira idade foi projetado para ter predominantemente residências construídas com impressão 3D em concreto. As primeiras 5 casas foram entregues no final de abril de 2021. Na Califórnia, nos Estados Unidos, um bairro sustentável terá apenas casas viabilizadas com a tecnologia 3D em concreto. Na Alemanha, o mercado imobiliário já constrói com impressoras 3D. O mesmo acontece no estado do Texas, nos EUA. E no Brasil 

O país ainda engatinha na tecnologia. As iniciativas se restringem ao universo acadêmico. A melhor vem do Rio Grande do Norte, onde estudantes de engenharia civil da Universidade Potiguar (UnP), em parceria com pós-graduados da UFRN, construíram a impressora e viabilizaram uma casa-protótipo de 66 m² na cidade de Macaíba-RN. Praticamente acabam aí os exemplos. Para o engenheiro de estruturas Luiz Henrique Ceotto, isso se deve ao fato da construção civil brasileira ainda estar fortemente atrelada a processos artesanais 

“Tenho insistido que a industrialização da construção é uma necessidade premente para viabilizar o setor, e que já temos toda a tecnologia disponível no Brasil. Mas infelizmente, não a usamos (…). Precisamos analisar essas tecnologias, suas interferências e complementariedades, com o uso de engenharia e da gestão. Precisamos transformar nossa cadeia de suprimentos (empresas do setor) numa real cadeia de valor. Temos um potencial de multiplicar nossa produtividade por 5 a 10 vezes”, escreve Ceotto, em artigo publicado em sua conta no Linkedin, intitulado O que podemos esperar da impressora 3D para a construção de edifícios?. 

Velocidade torna tecnologia adequada para combater déficit habitacional 

Existe a expectativa de que a impressão 3D em concreto dê um salto no país quando entrar em funcionamento o Hubic – Hub de Inovação e Construção Digital. Parceria entre USP (Universidade de São Paulo) e ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), o Hubic contará com uma impressora de grande escala para alavancar a tecnologia não apenas para o setor da construção imobiliária, mas também para obras de infraestrutura. Além da entidade universitária e do organismo de classe, o Hubic terá a participação de 14 empresas, o que abre caminho para que as construtoras possam incorporar a tecnologia em suas linhas de produção.  

Por causa da velocidade na construção, a impressão 3D em concreto está se revelando também uma tecnologia adequada para se combater o déficit habitacional. No estado de Tabasco, uma das regiões do México mais vulneráveis a abalos sísmicos, 50 casas foram construídas para atender famílias carentes e outras 200 estão em fase de planejamento. A vila escolhida para o projeto tem média per capita de 3 dólares por dia – cerca de 90 dólares por mês ou aproximadamente 500 reais. O plano tem à frente a ONG chamada New Story, a qual pretende expandir a construção de casas impressas em 3D para outros países da América Latina, inclusive o Brasil. A meta sempre é substituir as obras precárias de favelas e palafitas por residências que combinem durabilidade e sustentabilidade, virtudes incorporadas na tecnologia 3D em concreto. 

Entrevistado
Construtora Michael Rupp Bauunternehmung GmbH, ICON Build, departamento de engenharia civil da Universidade Potiguar, engenheiro de estruturas Luiz Henrique Ceotto, Hubic (Hub de Inovação e Construção Digital) 

Contatos
press@iconbuild.com 
info@bauunternehmung-rupp.de
empreende@unp.br
https://br.linkedin.com/in/luiz-henrique-ceotto
hubic@hubic.org.br 

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Altair Santos MTB 2330