Bloco de concreto começa a virar o jogo
Com tecnologia, investimento e normatização mais rigorosa, produto ocupa cada vez mais espaço no mercado, aponta presidente da BlocoBrasil
Por: Altair Santos
Essenciais à alvenaria, os tijolos precisam atender a itens básicos, como resistência mecânica, peso, absorção de umidade, características de isolamento e condução térmica, além de se adequarem aos tipos de superfície e à compatibilidade com o acabamento, seja pintura, revestimento com argamassa ou outro material. Atualmente, dois produtos atendem com mais eficácia a esses requisitos: os blocos cerâmicos, popularmente conhecidos como tijolos de barro, e os blocos de concreto.

Hoje, eles disputam o mercado praticamente em condições de igualdade, apesar de os tijolos cerâmicos ainda dominarem uma fatia maior. Não por muito tempo, estima o arquiteto Carlos Alberto Tauil, presidente da BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto). Na entrevista a seguir, ele expõe as razões pelas quais os blocos de concreto já dominam as obras industriais e têm conseguido quebrar preconceitos relacionados às obras residenciais. Confira:
Comparando blocos de concreto aos de tijolos, quais as vantagens e desvantagens de usar um ou outro em uma obra?
No caso do bloco cerâmico (tijolo), existem vários tipos, mas, apesar de a fabricação seguir normas da ABNT, o produto final é irregular. Então, ele exige uma camada de revestimento muito grande. Aí é que o bloco de concreto, falando em alvenaria de vedação, leva vantagem. Ele tem medidas com tolerâncias muito pequenas, o que permite uma redução acentuada na aplicação de revestimento em relação ao tijolo cerâmico. É por esse motivo também que, no caso das paredes em alvenaria estrutural, a maioria das obras opta pelo bloco de concreto.
Em percentual, qual o espaço que cada um ocupa na construção civil brasileira?
Na Grande São Paulo, incluindo capital e região metropolitana, e onde a BlocoBrasil tem um mapeamento do consumo destes dois materiais, é mais ou menos 50% a 50%. Isso falando em paredes de vedação. No caso de parede estrutural, como disse, o bloco de concreto já ocupa 95%. Ainda em se tratando de parede vedação, o uso de tijolo cerâmico e de bloco de concreto varia de região para região. No Norte e no Nordeste do país, o cerâmico está presente em 90% das obras. No Sul, também é muito utilizado o bloco cerâmico, mas o de concreto já ocupa uma boa parcela. Diria que hoje o uso está em torno de 60% cerâmico e 40% concreto.

Por que para as obras industriais o bloco de concreto é mais eficiente?
Os blocos de concreto são mais eficientes para obras industriais, por que, além de ter mais resistência, normalmente são paredes grandes em que eles são deixados aparentes e simplesmente pintados, dispensando o custo com camadas de revestimento.
É possível bloco de concreto e bloco cerâmico conviverem em harmonia numa obra?
Não é recomendável. O que é utilizado muitas vezes é a elevação com bloco de concreto e o revestimento externo com tijolinho comum. São plaquetas de tijolo que são usadas como acabamento de aparência. Daí, a parte interna da parede em bloco de concreto recebe o gesso aplicado diretamente.
Qual mercado hoje é o mais aquecido: o que vende bloco de concreto ou que vende tijolo?
O bloco cerâmico é encontrado em mais pontos de venda do que o bloco de concreto. Por isso, ele ainda é a primeira opção para o chamado consumo formiguinha. Agora, quando o construtor quer realmente tirar partido da economia ele utiliza o bloco de concreto pela vantagem que tem na redução das camadas de revestimento. Então, no Brasil, o bloco cerâmico ainda vende mais, mas o bloco de concreto tem recebido muitos investimentos. Novas empresas têm surgido, a produção aumentou e, consequentemente, os pontos de venda também.
Há termo comparativo de preço: qual é mais barato?
Bloco por bloco, o cerâmico é mais barato. Parede por parede, a parede com bloco de concreto é mais barata pelo fator revestimento.
Em termos de aprimoramento do material, o que se tem hoje de avanço para o bloco de concreto e para o tijolo?
O bloco de concreto tem um desenho que há muitos anos é utilizado e tem uma modulação e uma norma consolidada. Agora, os blocos cerâmicos passaram a imitar as dimensões dos blocos de concreto, principalmente para projetos de alvenaria estrutural, onde a vedação é feita com mais eficiência com blocos de concreto.
Para regiões mais frias do país, por questões de isolamento térmico, o tijolo ainda ocupa mais espaço nas obras ou não?
Se o revestimento externo for realizado com 2,5cm de argamassa e o revestimento interno com gesso, o comportamento térmico entre uma parede com bloco de concreto e uma com bloco cerâmico é praticamente o mesmo. Agora, se não houver revestimento, de fato o bloco cerâmico conduz o calor mais lentamente do que o bloco de concreto.
Em termos de sustentabilidade, qual dos dois materiais é o que causa menos impacto ambiental?
O bloco de cerâmica depende do barro, que é extraído de terra boa. São terras que normalmente seriam utilizadas para o plantio. Alguns países, como a China, já restringem o bloco cerâmico, pois eles prejudicam áreas aráveis. Sob este aspecto, os danos para a natureza são menores quando se opta pelo bloco de concreto, que depende do cimento, que não usa terra, mas tem como elemento básico a rocha.
Algumas pesquisas começam a testar, por exemplo, materiais como entulhos de construção e até papel de sacos de cimento para produzir tijolos e blocos. Qual a eficiência destes produtos?
A eficiência ainda não é comprovada quando se agregam materiais recicláveis. Agora, a dificuldade maior é industrializar isso, obter volume suficiente para manter uma linha de produção. Outra questão é a qualidade do produto. No caso do bloco cerâmico, a argila é selecionada, assim como no do bloco de concreto, em que os agregados, a granulometria e a qualidade do cimento são rigorosamente inspecionados.
Entrevistado
Carlos Alberto Tauil, secretário-executivo da BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto) e especialista em construção industrializada
Currículo
- Arquiteto formado pela FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ) – 1967
- Fez curso de extensão universitária no BOWCENTRUM de Roterdã- Holanda -1971
- Atuou em pesquisa sobre metodologia de projeto com o grupo SAR da Universidade de Eindhoven, utilizando a coordenação modular-1971
- Introduziu o sistema construtivo de Alvenaria Estrutural na Cohab-SP em 1976
- Co-autor dos livros: Alvenaria Armada- 1981 e Alvenaria Estrutural – 2009, da Editora Pini
- Proferiu ao longo da carreira profissional centenas de palestras sobre Alvenaria Estrutural por todo Brasil e Estados Unidos.
Contato
Email: carlosalberto.tauil@gmail.com
Créditos:
Divulgação/ BlocoBrasil
Carlos Alberto/Secom MG
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
PNLT traz novos rumos ao transporte no Brasil
Plano Nacional de Logística e Transportes projeta expansão das ferrovias. Para isso, conta com participação ativa da construção civil
Por: Altair Santos
Lançado em 2007, o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) é o indutor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para obras rodoviárias, ferroviárias e aquaviárias. O objetivo do plano, que foi elaborado pelo Centro de Excelência em Engenharia de Transportes (CENTRAN) – organismo ligado ao Ministério da Defesa – em conjunto com o Ministério dos Transportes, é reequilibrar a matriz de transporte no Brasil, dando ênfase às ferrovias.
Com a reversão proposta pelo PNLT, a expectativa é de que até 2023 a participação do modal ferroviário cresça de 25% para 32%, que o aquaviário se eleve de 13% para 29%, que o dutoviário vá de 3,6% a 5% e o aéreo de 0,4% para 1%. Se atingidas essas metas, a participação do modal rodoviário, principalmente no transporte de cargas, cairia de 58% para 33% no país. Para tal, só o transporte ferroviário prevê investimento de R$ 50 bilhões neste período (veja quadro).

Segundo Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, Coordenador-Geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transportes, o PNLT propõe a construção de pelo menos 12 mil novos quilômetros de ferrovias até 2023. “Hoje nós temos 28 mil quilômetros e iremos para algo em torno de 40 mil”, antecipa. Ainda segundo Ribeiro, o PNLT foi elaborado procurando atender as prioridades estaduais e regionais.

Assim, vários estados também criaram seus próprios planos estaduais de logística e transporte, sintonizados com o Plano Nacional de Logística e Transportes. “A diretriz, quem dá, é o PNLT”, diz o Coordenador-Geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transportes. Os vetores logísticos que norteiam o PNLT são:
AEP (Aumento da Eficiência Produtiva em Áreas Consolidadas): tem como foco o abastecimento e o escoamento em áreas mais desenvolvidas (aumento de capacidade rodoviária, dragagem e administração de conflitos entre ferrovias e espaço urbano).

IDF (Indução ao Desenvolvimento de Áreas de Expansão de Fronteira Agrícola e Mineral): atuará apoiando principalmente a expansão da fronteira agrícola na Região Centro-Oeste e em áreas de exploração mineral (recuperação, reconstrução de rodovias e implantação de novos eixos ferroviários).
RDR (Redução de Desigualdades Regionais em Áreas Deprimidas): almeja, através da implantação de infraestruturas (que atuem enquanto há externalidades positivas), favorecer o desenvolvimento de regiões deprimidas como a recuperação da malha viária e a adequação de portos.
IRS (Integração Regional Sul-Americana): busca melhorar a fluidez das infraestruturas rodoviárias através da construção de pontes em áreas de fronteira.
Construção civil e o PNLT
O PNLT prevê um programa de obras intenso. Independentemente do modal, a construção civil tem participação ativa no que o plano estabelece. Muitos destes projetos não dispensam, por exemplo, o uso do concreto. No caso da expansão das ferrovias, a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) defende, o uso de dormentes em pré-moldado.

Além de colaborar na preservação do meio ambiente, pois substitui o dormente de madeira, o equipamento em concreto tem várias vantagens relacionadas pela ANTF. Entre elas: maior estabilidade da linha, maior vida útil do componente, capacitação para futuros aumentos de carga por eixo e compatibilidade com vários modelos de ferrovias. Ainda de acordo com a ANTF, só este ano 1,5 milhão de dormentes de concreto serão usados na expansão de linhas férreas no Brasil.
Parte desta produção será utilizada na ampliação do ramal ferroviário interligando os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, onde dois novos ramais serão construídos. Segundo o presidente da Ferroeste, Maurício Querino Theodoro, a dotação de recursos para o projeto da ferrovia sairá em 2012, uma vez que parte da expansão já está contemplada no PAC e projetada pelo PNLT.
Entrevistado
Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, Coordenador-Geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transportes
Contato: luis.ribeiro@transportes.gov.br
Crédito: Secom/Ministérios dos Transportes
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Renovada, Coordenação Modular voltou para ficar
Sistema ganha revisão de normas e, incentivado pelo Minha Casa, Minha Vida, rompe o preconceito gerado pelos “pombais” do extinto BNH
Por: Altair Santos
Surgido no pós-guerra, a fim de viabilizar a reconstrução da Europa, o sistema de Coordenação Modular tornou-se agente importante para racionalizar e industrializar a construção civil. No Brasil, o modelo esteve em alta nos anos 1970 e 1980, por conta dos estímulos recebidos do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), mas depois quase caiu em desuso. Agora, começa a ser redescoberto pelo setor, sobretudo pela sua capacidade de reduzir custos, otimizar o uso de matéria-prima, aumentar a produtividade e diminuir desperdícios.
Genericamente, Coordenação Modular pode ser definida como um sistema que racionaliza a construção. Ele proporciona a aplicação eficiente de recursos para viabilizar uma obra, integrando toda a cadeia produtiva. Compreende desde a normalização, certificação e projeto dos componentes, passando pela seleção da matéria-prima utilizada para sua fabricação, pelos projetos arquitetônicos, estruturais e complementares, até a montagem e manutenção das edificações.
Os novos conceitos que norteiam a construção civil também geraram uma onda de pesquisas em torno do sistema de Coordenação Modular, além da revisão das normas que o regem, como a ABNT NBR 15873:2010, que entrou em vigor em outubro de 2010 e condensou cerca de 25 outras normas que tratavam do modelo. A partir dela, os processos de fabricação e de construção industrial passam a adotar medida única de 10 centímetros, eliminando a variação na fabricação de componentes.
É consenso no setor de que a padronização vai incentivar a construção civil a adotar a Coordenação Modular. Principalmente por que o governo federal, por causa do programa Minha Casa, Minha Vida, passou a estimular um marco regulatório dentro da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para a construção civil. Neste marco, a Coordenação Modular é destaque, como revela Sérgio Scheer, professor do Departamento de Construção Civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Segundo ele, o estímulo governamental fez surgir ações orquestradas em diversos níveis, reunindo poder público, universo acadêmico e setor produtivo, que resultara em uma sinergia interessante favorável à Coordenação Modular. “A maturidade do mercado levou à percepção de que estas tecnologias têm resultados palpáveis, desde que implantadas em condições adequadas. Isso leva à capacitação da mão de obra e à melhoria dos insumos usados na construção civil”, resume Scheer.
O professor da UFPR lembra que uma das virtudes da Coordenação Modular é permitir a conectividade entre diversos componentes de um sistema construtivo. “O transporte, o armazenamento e a redução de resíduos de diversos materiais típicos dos canteiros de obras ficam facilitados com o sistema, e a ideia de construção enxuta e de processos racionalizados podem ser bem aproveitados”, explica Scheer, ressaltando que componentes com medidas padronizadas tornam a cadeia produtiva mais eficiente.
Preconceito
Nos anos 1970 e 1980, a Coordenação Modular carregou a fama indevida de ter sido o sistema que estimulou o surgimento dos chamados “pombais” – construções habitacionais financiadas pelo Banco Nacional de Habitação, que seguiam uma única estética, sem levar em consideração questões como funcionalidade, racionalidade e sustentabilidade. Isso gerou um preconceito contra a Coordenação Modular, que o próprio governo federal trata, agora, de combater através de incentivos financeiros.
Recentemente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) criou uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para contemplar a construção industrializada. No entender de Scheer, o estímulo pode levar as empresas a adotarem a norma de Coordenação Modular não apenas para o setor habitacional, mas para outros empreendimentos. “Um projeto modular racional pode ser aplicado em qualquer obra. Óbvio que não é a solução para tudo, mas desde que o projeto tenha qualidade ele pode se encaixar em qualquer tipo de construção”, avalia, sinalizando que a Coordenação Modular voltou com força, e desta vez para ficar.
Entrevistado
Sérgio Scheer
Currículo
Sérgio Scheer é doutor em Informática (Computação Gráfica) pela PUC-RJ, mestre em Engenharia de Estruturas pela UFRGS e Engenheiro Civil pela UFPR. É também professor associado I do Departamento de Construção Civil (DCC) do Setor de Tecnologia da UFPR, diretor do CESEC / UFPR (Centro de Estudos de Engenharia Civil Professor Inaldo Ayres Vieira), Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos em Engenharia da UFPR e Bolsista Produtividade do CNPq nível 2, além de membro do Working Commission 6, Information Technology (WC6) da IABSE (International Association for Bridge and Structures Engineering).
Contato: scheer@ufpr.br
Créditos da foto:
Divulgação/Joka Madruga
Elza Fiuza/ABr
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Mercado imobiliário vive círculo virtuoso
Presidente da Ademi-PR, Gustavo Selig, avalia que incentivo de agentes financeiros manterá setor tão aquecido em 2011 como nos anos anteriores
Por: Altair Santos
A redescoberta do mercado imobiliário pelos bancos privados começa a criar no Brasil um círculo virtuoso, avalia Gustavo Selig, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR). Segundo o dirigente, o que mudou na linha de pensamento das instituições financeiras é o fato de que elas perceberam que o setor imobiliário não só movimenta vários setores da economia do país como permite fidelizar clientes por um longo período. “Nos últimos anos, esses agentes viram a grande locomotiva que é o mercado imobiliário. Além disso, o setor possibilita a fidelização do cliente na instituição por até 30 anos. Desde então, o mercado imobiliário tornou-se o foco dos bancos, o que já era norma em outros países”, diz Selig.

Essa mudança no perfil do investidor não deverá mudar em 2011, avalia Gustavo Selig. Segundo o presidente da Ademi-PR, o mercado imobiliário experimentará neste ano mais um período de crescimento. Ele usa a capital paranaense como exemplo. “Em Curitiba, é esperada uma valorização dos imóveis entre 16 e 18% ao ano, em média”, cita. Selig avalia também que, a partir de agora, o desafio das incorporadoras é achar o ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda. “O Brasil constrói menos que a demanda. Entretanto, esta demanda é crescente. Todo o ano há uma nova necessidade de unidades e, se a demanda anual não é satisfeita, ela se soma à nova, o que faz com que a conta não feche. É preciso achar o ponto de equilíbrio para não haver excessos”, diz.
A avaliação do presidente da Ademi-PR coincide com recente pesquisa da Associação de Investidores Estrangeiros em Mercado Imobiliário (Afire), que mostra que o Brasil é o país emergente preferido dos investidores imobiliários. Segundo o estudo, 40% dos entrevistados confirmam o otimismo em investir no mercado nacional. A pesquisa revelou ainda que para quase 25% dos investidores pesquisados, o Brasil está entre os países que oferece as melhores possibilidades de valorização dos investimentos imobiliários em 2011. Números de Curitiba, citados por Selig, confirmam a tendência. Em 2010, a cidade bateu o recorde na liberação de alvarás para construção de imóveis residenciais horizontais e verticais. A capital chegou a aproximadamente 35 mil unidades.
De acordo com o presidente da entidade, Gustavo Selig, o número é três vezes maior que a quantidade de alvarás, para o mesmo tipo de construção, liberados de 2005 a 2007, que totalizou 11.400. Em 2009, foram liberados alvarás de construção para 25.614 unidades residenciais. “O aquecimento do mercado, fortemente impactado por uma maior oferta de crédito, não apenas para o cliente, mas também para a produção, e a mudança no perfil dos empreendimentos, que hoje têm mais unidades, principalmente os inseridos no Minha Casa, Minha Vida, favoreceram este crescimento”, explica Selig. Ainda segundo o dirigente, o programa habitacional do governo seguirá como o propulsor do mercado imobiliário em todo o país.
O impacto deve ser ainda maior depois que o houve a elevação do teto para financiamento de imóveis com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que passou de R$ 130 mil para R$ 150 mil na capital paranaense. “Havia a necessidade de aumentar este valor, pois, com o crescimento e a valorização do mercado imobiliário, o teto anterior estava dificultando os lançamentos de produtos voltados ao segmento econômico”, comenta Selig, que sugere o aumento da fatia de renda atendida pelo Minha Casa, Minha Vida para alavancar o programa no Paraná. Atualmente, a renda familiar máxima para a liberação de financiamentos com recursos do FGTS é de R$ 4,9 mil para municípios com mais de 250 mil habitantes. “Se isso ocorrer, o círculo virtuoso do setor se fecha”, finaliza Selig.
Entrevistado
Gustavo Selig, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR)
Currículo
Engenheiro civil graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Gustavo Selig é o segundo presidente da Ademi-PR reeleito, em 30 anos de fundação da entidade. Mestre em Administração de Empresas e Negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-PR), Selig é também diretor-presidente da Hestia Construções e Empreendimentos.
Contato: contato@memilia.com (assessoria de imprensa)
Crédito: Enéas Gomez/Ademi-PR
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Norma requalifica profissionais da área de concreto
Revisão da parte 1 da NBR 15146 altera procedimentos que envolvem a produção e o uso de concreto estrutural nas obras
Por: Altair Santos
As obras em concreto estrutural realizadas no Brasil são referência internacional. Conta o livro Concreto - História, Recordes e Realizações, de autoria do professor-doutor Augusto Carlos de Vasconcelos, que as construções e as normas que regem a engenharia e a arquitetura brasileiras servem de modelo, inclusive, para o American Concrete Institute. Uma das virtudes é que o país está constantemente aprimorando suas normas, como o que fez recentemente com a norma ABNT NBR 15146-1:2011 - Controle tecnológico de concreto — Qualificação de pessoal - Parte 1: Requisitos gerais.

Previsto para entrar em vigor em 13 de abril de 2011, o reexame da NBR 15146 foi uma solicitação da comunidade técnica, abrangendo construtoras, projetistas, produtores de insumos para o concreto estrutural e empresas de controle tecnológico. A coordenação dos trabalhos coube ao professor da Universidade Mackenzie Simão Priszkulnik, que teve como relator o engenheiro Bruno Alves de Carvalho - secretariado pela engenheira Roseni Cezimbra. “O objetivo é estimular a melhoria continuada dos profissionais envolvidos na produção e no controle da qualidade das obras em concreto”, explica Priszkulnik.
A instalação da comissão revisora da norma ocorreu no início de 2010, levando em conta textos-base elaborados pelo Núcleo de Certificação Profissional do Instituto Brasileiro do Concreto e do Setor de Qualificação de Mão de Obra da Petrobrás e das diretrizes do INMETRO. Além das reuniões mensais, o assunto foi discutido em eventos do IBRACON e pela comunidade técnica, através dos comentários emitidos na fase de consulta nacional pela ABNT. Num primeiro momento, foi aprovado o projeto relativo aos requisitos gerais para o controle tecnológico do concreto, chamado de "parte 1".
Finalizada a primeira etapa da revisão, que abrange o concreto estrutural, começam os reexames das partes que vão de 2 a 5 da NBR 15146, e que englobam pavimentos, pré-moldados, concreto compactado com rolo e concreto massa. “A parte 2, referente aos pavimentos, já está sendo estudada pela comissão. Depois, deverá ser criada uma parte específica para o concreto pré-fabricado, e assim por diante”, diz o professor Simão Priszkulnik.
O coordenador dos trabalhos que reexaminaram a NBR 15146-1 avalia que a revisão ajudará também a reduzir o impacto ambiental gerado pela indústria do concreto. “Na medida em que ela concorre para a excelência das obras, evitando retrabalhos, desperdício de materiais e menores custos de manutenção, há contribuição importante à preservação do meio ambiente” completa Priszkulnik, para quem a norma também reduzirá os atrasos nos cronogramas das obras. “Com profissionais cada vez melhor preparados, todos os inconvenientes de uma obra tendem a diminuir”, afirma.
Veja como fica a qualificação dos profissionais com a revisão da NBR 15146-1:
Auxiliar
Profissional apto a realizar coleta, redução de amostras de campo (no âmbito das atribuições indicadas no Anexo A da norma) e ensaios básicos de um ou mais grupos de atividades, sem avaliação e emissão de relatórios.
Laboratorista I
Profissional apto a realizar ensaios de um ou mais grupos de atividades conforme Anexo A e efetuar cálculos sem avaliação e emissão de relatórios. Tem sua atuação principal em campo (obra).
Laboratorista II
Profissional apto a realizar ensaios de um ou mais grupos de atividades conforme Anexo A e efetuar cálculos sem avaliação e emissão de relatórios. Tem sua atuação principal em laboratório.
Tecnologista
Profissional apto a realizar ensaios, definir procedimentos executivos de inspeção e amostragem, discernir sobre os limites de aceitação de um ou mais grupos de atividades conforme Anexo A e efetuar cálculos com avaliação e emissão de relatórios.
Inspetor
Profissional apto a realizar todas as inspeções abrangidas na preparação do concreto, a saber: recebimento e armazenamento dos materiais componentes, dosagem, mistura, transporte, lançamento, adensamento, acabamento superficial, proteção, cura, verificação de formas, cimbramentos, armaduras e embutidos. Apto também a analisar e avaliar os resultados dos ensaios discriminados no Anexo A, nos limites de aceitação estabelecidos pelas respectivas normas técnicas.
Obs: os níveis I e II para Tecnologista e para Inspetor foram retirados, pois na prática não se observa esta variação entre os profissionais. Ela só é necessária para os laboratoristas, para os quais cabe diferenciar o profissional de campo e o de laboratório.
Os requisitos de escolaridade e de experiência profissional passaram a ser os seguintes:
* Os candidatos devem apresentar comprovação de conclusão das disciplinas “Resistência dos Materiais” e “Materiais de Construção”.
Entrevistado:
Simão Priszkulnik, engenheiro e professor da Universidade Mackenzie
Currículo
Simão Priszkulnik possui graduação em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1963) e mestrado em Engenharia de Materiais pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1977). Atualmente é da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Infra-Estrutura de Transportes.
Contato: prisz@mackenzie.br
Crédito Foto: Arquivo pessoal
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Itambé sela convênio com a UTFPR
Indústria abre suas portas para contribuir na formação de novos engenheiros e universidade ajuda na busca de inovações na área de cimento e concreto
Por: Altair Santos
O sucesso do convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) levou a Cia. de Cimento Itambé a selar, no início de 2011, acordo semelhante com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Essa parceria permite que a indústria participe na formação dos alunos dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo, além do técnico em Edificações – vinculado ao ensino médio. “Ele abrange todas as disciplinas relacionadas a materiais de construção, independentemente do período. Assim, o aluno, ao concluir o curso, terá um embasamento consolidado sobre a utilização do cimento e do concreto”, explica o engenheiro Jorge Aoki, gerente de assessoria técnica da Itambé.

O convênio permite que os estudantes façam visitas técnicas à fábrica e à jazida da indústria, além de possibilitar que o corpo técnico da Itambé preste assessoramento ao departamento de construção civil da UTFPR, através de palestras e coparticipação nas aulas de laboratório. O acordo também viabiliza o fornecimento de insumos para pesquisas dos programas de mestrado e iniciação científica. “Trata-se de uma via de mão dupla. A Itambé abre para os estudantes a possibilidade de conviver com o dia a dia de uma indústria, com o mercado industrial e com as demandas do consumidor, enquanto a universidade pode contribuir com a empresa no desenvolvimento de inovações”, avalia Cezar Augusto Romano, chefe do departamento da construção civil da UTFPR.
O convênio, no entender da universidade, também pode ajudar na identificação de talentos. “Isso estimula o surgimento de profissionais com alta capacitação”, diz Romano. Para a Itambé, além de ajudar na qualificação dos estudantes, o acordo tem um forte apelo institucional. “Isso fortalece a marca da companhia junto aos futuros engenheiros”, diz Jorge Aoki, lembrando que o sucesso do convênio já faz a Itambé receber propostas até de universidades de fora do Paraná. “É a demonstração da importância deste tipo de parceria. No caso da UFPR, ela vai completar quatro anos. Com a UTFPR, queremos que seja duradoura também”, afirmou.
Cursos
No Sistema de Seleção Unificada (Sisu) realizado em 2010, o curso mais concorrido da UTFPR foi o de Arquitetura e Urbanismo, do Campus Curitiba, com 55,84 candidatos disputando uma vaga. Já com relação às notas de corte, a mais alta foi registrada no curso de Engenharia Civil, do Campus Curitiba: 758,58, seguida de Engenharia Mecânica (Campus Curitiba), com 747,7, e Arquitetura e Urbanismo (Campus Curitiba), com 745,32.
Fundada em 1909, a UTFPR nasceu como Escola de Aprendizes Artífices. Depois passou por várias transformações: Liceu Industrial do Paraná, em 1937; Escola Técnica de Curitiba, em 1942; Escola Técnica Federal do Paraná, em 1959; Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet), em 1978; e Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em 2005. Com a transformação, a UTFPR se tornou a primeira e única universidade federal com vocação para a área de tecnologia do País.
Hoje, a Universidade Tecnológica está presente em 11 cidades do Paraná (Apucarana, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Curitiba, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Londrina, Medianeira, Pato Branco, Ponta Grossa e Toledo), ofertando 77 cursos de graduação, 22 cursos técnicos, 12 cursos de mestrado e dois de doutorado, além de mais de 60 especializações.
Entrevistados:
Jorge Aoki, gerente de Assessoria Técnica da Itambé
César Augusto Romano, chefe do departamento da construção civil da UTFPR
Currículo
Natural de Curitiba-PR, é graduado (1977) em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Licenciado (1990) em Formação de Professores de Disciplinas Especializadas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, com mestrado (2000) e doutorado (2005) em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) desde 1979 (Associado-3). Diretor do Campus Medianeira da UTFPR (1992-1996) e Vice-Reitor da UTFPR (1996-2002), atualmente é Chefe do Departamento Acadêmico de Construção Civil do Campus Curitiba e Conselheiro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação (COEPP) e do Conselho Universitário (COUNI) da UTFPR. Tem experiência nas áreas de Construção Civil e Administração, atuando principalmente nos temas: estratégia, planejamento, gestão, qualidade e inovação.
Contato: caromano@utfpr.edu.br
Crédito: Divulgação/UTFPR
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Construção virtual vira realidade com o BIM
Tecnologia permite projetos em terceira dimensão e começa a ganhar adesão no Brasil, como revela o professor-doutor da USP, Eduardo Toledo Santos
Por: Altair Santos
Realizado em janeiro de 2008, em Los Angeles (EUA), o BIMStorm é considerado um marco da construção civil do século 21. Foi a partir do evento - batizado de o Woodstock da Engenharia -, que começou em todo o mundo a difusão da tecnologia BIM (Building Information Modeling ou Modelo de Informação da Construção), a qual permite a construção virtual de edifícios em terceira dimensão, antes que eles sejam erguidos no plano real.

Entre as vantagens do recurso, está o fato de que ele permite detectar antecipadamente as incompatibilidades construtivas de um projeto. No Brasil, dá para dizer que a tecnologia está engatinhando. Poucas construtoras já aderiram ao BIM. No entanto, a tendência é de que esse cenário se modifique rapidamente. Principalmente a partir de agosto, quando ocorre em Salvador (BA) o 5.º Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção.
O evento trará pela primeira vez ao país alguns dos renomados especialistas internacionais em BIM. O professor-doutor do Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC), da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Eduardo Toledo Santos, define o encontro em uma só palavra: “Imperdível”. Para ele, é a oportunidade para projetistas, arquitetos engenheiros brasileiros não “ficarem para trás”.
Segundo a Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais) um dos entraves para que o uso do BIM ganhe espaço no Brasil está relacionado à ausência de bibliotecas de componentes que aproximem o sistema virtual à realidade da obra e a falta de qualificação de profissionais. Mesmo assim, Eduardo Toledo Santos avalia que a adesão à tecnologia é irreversível. Confira na entrevista a seguir:

O BIM é uma versão nova do CAD ou veio para aposentar o CAD?
CAD significa Projeto Auxiliado por Computador (Computer Aided Design). Neste sentido, o BIM até auxilia mais o projeto do que o CAD, a que todos estavam acostumados até agora. A rigor, o BIM é baseado em um tipo especial de CAD (3D, parametrizado e baseado em objetos). Ele certamente vai aposentar o velho CAD 2D.
Além dos benefícios técnicos, quais serão os impactos que o BIM deve causar sobre os negócios de construtoras e incorporadoras?
A partir do momento em que as construtoras e incorporadoras podem simular virtualmente a construção com o BIM, os riscos do negócio diminuem sensivelmente. Os eventuais erros de projeto são detectados com muito mais antecedência, os orçamentos tornam-se mais confiáveis, pois se pode simular o desempenho da edificação e também planejar o cronograma da obra visualmente, com mais facilidade, menos equívocos e mais eficiência. Com os riscos diminuídos, dá para empreender edifícios mais complexos, tanto do ponto de vista de sistemas prediais quanto de estética, e com isso agregar valor. As incorporadoras também podem oferecer mais personalização nas unidades, pois o BIM agiliza o orçamento e a produção dos desenhos para execução. Tudo isso, em última instância, aumenta os lucros destes agentes.
A utilização do BIM muda o organograma da empresa, no tocante às áreas de projetos, planejamento, orçamentos e canteiro?
No Brasil, as empresas ainda estão se adaptando ao BIM, de forma que o impacto nos organogramas ainda é pequeno. No entanto, não há dúvida de que novos profissionais necessitarão ser incorporados aos quadros das empresas. Na área de projetos, especialmente nas incorporadoras e nos grandes escritórios, a figura do Gerente BIM será essencial. Esse profissional terá inúmeras atribuições, dentre as quais a principal é a supervisão do processo de construção do Modelo da Edificação. Um modelo BIM deve ser integrado e consistente e, idealmente, construído de forma colaborativa. Sem alguém que determine diretrizes para a geração dos modelos referentes a cada disciplina, incluindo nível de detalhes, formatos de arquivos, referências espaciais, bibliotecas de componentes, acesso aos modelos e etc., a integração das várias partes é comprometida. Nas áreas de planejamento e orçamento, possivelmente não serão necessários novos profissionais, mas certamente será requerida a atualização de conhecimentos daqueles que já desenvolvem essas atividades, para que passem a utilizar as novas ferramentas disponíveis. No canteiro, o uso ainda é incipiente, especialmente devido à forma de trabalho que temos no Brasil. Mas creio que um profissional denominado “Facilitador BIM” possa ser útil, operando ferramentas BIM para visualização e extração de informações do modelo, necessárias na etapa de execução da obra.
O BIM já é uma ferramenta usual nas construtoras ou ainda é uma novidade que entra lentamente na construção civil brasileira?
Pouquíssimas construtoras brasileiras já usam o BIM como rotina, mas várias construtoras, incorporadoras e escritórios de projeto estão caminhando rapidamente nesta direção. Como são evidentes os benefícios desta tecnologia para o aumento da eficiência em todas as etapas do empreendimento imobiliário, e estando o mercado extremamente aquecido, mais e mais empresas procuram o BIM como forma de fazer mais rápido com os mesmos recursos, driblando a escassez de mão de obra especializada e outros recursos técnicos em falta no mercado.
Qual a qualificação exigida para que se opere o BIM?
Depende do tipo de profissional. Se for um arquiteto ou projetista, além de saber operar uma ferramenta BIM para projeto, é preciso que tenha mais experiência em construção, pois, como já mencionado, mais que simplesmente fazer uma representação do edifício, com o BIM se constrói virtualmente, resultando na necessidade de projetar de forma menos abstrata do que com o desenho 2D. De forma geral, de todos os profissionais será exigido não só o conhecimento dos softwares de suas áreas, mas também dos conceitos por trás do BIM e a habilidade de trabalhar de forma mais colaborativa, e em equipe.
Projetos virtuais são mais ou menos confiáveis do que os projetos convencionais?
Tudo depende da qualidade da informação que é representada no projeto, seja ele virtual ou convencional. No entanto, um modelo BIM pressupõe informações coordenadas e consistentes, e as ferramentas BIM ajudam nesse sentido. Por exemplo, aplicativos para projeto BIM detectam interferências entre subsistemas e têm algumas regras que impedem que se criem situações incoerentes, como um componente “flutuando”, por exemplo. Com a geração automatizada de documentação, eles mantêm a consistência entre plantas, seções e detalhes. Assim, se bem utilizado, um projeto virtual ganha em confiabilidade.
O BIM serve para todos os projetos ou é mais adequado para construtoras especializadas em obras habitacionais?
O BIM serve para qualquer tipo de obra. É muito usado em edifícios residenciais e de escritórios, porém tem brilhado ainda mais quando empregado em obras complexas, como hospitais e shopping centers, onde as interferências entre instalações são críticas. No Brasil, a construtora mais avançada no uso do BIM não é voltada ao segmento habitacional, dedicando-se a obras comerciais. O BIM também serve para projetos de habitação popular porque, embora tecnicamente menos complexas, essas obras precisam ter o projeto muito otimizado, para que se possa ter ganhos de escala na execução repetitiva de centenas ou milhares de habitações com o mesmo projeto. Neles, há economia com conexões hidráulicas e com recortes de ladrilhos por unidade, o que pode fazer uma boa diferença no lucro do empreendedor, cuja margem é estreita.
Grandes obras também podem se beneficiar da modelagem da informação da construção?
Sem dúvida. Por exemplo, no ano passado a empresa brasileira Figueiredo Ferraz ganhou um prêmio internacional pela utilização de soluções BIM na execução de um grande projeto envolvendo sistemas de drenagem e esgoto, construção de pontes e passarelas de pedestres.
Qual conselho o senhor daria para engenheiros e projetistas que ainda não se familiarizam com o BIM?
Para aqueles que já perceberam os inúmeros benefícios deste novo conceito, a sugestão é que iniciem experiências com o BIM em suas empresas, adotando o BIM em projetos piloto ou mesmo em paralelo às ferramentas convencionais. Já para os que ainda não conhecem a tecnologia, sugiro que tenham iniciativa para não ficarem para trás. Devem tratar de obter vantagens competitivas se atualizando no assunto, através das várias publicações e eventos já disponíveis no Brasil. Um dos principais eventos será realizado em Salvador, no início de agosto deste ano. O encontro trará ao Brasil alguns dos mais renomados especialistas internacionais em BIM. Será imperdível.
Já existem exemplos de obras finalizadas e que foram bem-sucedidas usando o BIM em seus projetos?
No exterior há inúmeros casos que mostram que, apesar dos problemas geralmente enfrentados com as limitações de algumas ferramentas, como falta de interoperabilidade e inexperiência das equipes, os benefícios superam amplamente os entraves, com grandes vantagens em termos de custo total, prazo e qualidade dos empreendimentos. No Brasil, há relativamente poucas experiências, mas os relatos têm sido bastante positivos quando o BIM é empregado.
O BIM é, digamos, a porta de entrada para que a engenharia civil do futuro esteja acoplada ao 3D? No futuro, abrangendo o consumidor, a compra na planta será em 3D?
Costumo dizer que o BIM é a melhor oportunidade para a construção civil recuperar décadas de atraso em relação a outras indústrias no uso de Tecnologia da Informação. Isso porque, o BIM não só é 3D, mas também envolve tecnologias paramétricas e orientadas a objetos, que é o que de mais moderno se tem em termos de projeto auxiliado por computador. Da mesma forma que hoje em dia não existe automóvel ou avião que não seja projetado em 3D, também, num futuro próximo, as construções serão rotineiramente projetadas usando tais ferramentas. No tocante ao consumidor, sim a compra “na planta” será a compra em 3D, pois o modelo 3D é criado antes que o desenho da planta. Hoje, isso já é possível. Estamos desenvolvendo pesquisas para inclusive eliminar a maquete física no estande de vendas, trocada por um sistema interativo com projeção ou TV 3D.
Fique por dentro
TIC 2011 - V Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção
De 4 e 5 de agosto de 2011, em Salvador (BA)
Site: http://www.lcad.ufba.br/tic2011
Entrevistado:
Professor-doutor Eduardo Toledo Santos
Currículo
Eduardo Toledo Santos é professor no Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Engenheiro. Elétrico, Mestre e Doutor em Engenharia de Sistemas Eletrônicos. Atua na área de Tecnologia da Informação na Construção Civil e é orientador do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da EP/USP. É o relator da Comissão Especial de Estudos sobre BIM da ABNT (CEE134) e coordenador geral da Rede TIC Brasil/FINEP, que congrega sete universidades para pesquisa em BIM e outras Tecnologias da Informação aplicadas à Habitação de Interesse Social.
Contato: eduardo.toledo@poli.usp.br
Site: http://toledo.pcc.usp.br
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Engenharia pericial requer estudo intenso
Área de atuação exige conhecimento de normas e leis, e exige especialização que pode ser alcançada através de cursos e pós-graduação
Por: Altair Santos
Teoricamente, todo o engenheiro filiado ao sistema CREA-CONFEA tem habilitação para emitir laudos, realizar perícias, elaborar pareceres e inspecionar obras. Na prática, porém, só se atinge o grau de engenheiro perito com especialização. E isso só é alcançado através de pós-graduação e cursos intensivos. “Essa capacitação vem da busca pelo conhecimento de normas e leis e da própria experiência que o perito adquire em sua área de atuação. Por isso, é um ramo da engenharia em que dificilmente se encontra um recém-formado”, explica Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, presidente do IBAPE-PR (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Paraná).

O engenheiro perito pode entrar em cena acionado pela Justiça ou contratado particularmente. “Por isso, o mercado de trabalho para esse profissional é infinito”, diz Vera Lúcia, contando um caso em que já atuou. “Uma residência foi entregue com inúmeros defeitos de execução e de projeto e nem a construtora nem o engenheiro responsável pela obra se manifestaram. A única maneira encontrada pelo cliente foi protocolar judicialmente um documento técnico, um laudo, que constatasse os defeitos e apontasse o porquê deles, fosse por má execução, má qualidade do material ou erro do projeto. Quem fez essa análise técnica fui eu, que sou engenheira perita”, disse.
A presidente do IBAPE-PR cita que quando a Norma de Desempenho de Edificações (NBR 15.575) estiver plenamente em vigor, haverá uma tendência de que as ações judiciais envolvendo construtores e clientes, que são as que mais demandam trabalho ao engenheiro perito, reduzam. Em tese, a norma passou a valer em 12 de maio de 2010, mas a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil) pediu revisão ao Comitê Brasileiro da Construção Civil, sob alegação de que o mercado ainda não está preparado para atender imediatamente vários parâmetros da NBR 15.575. Assim, o texto passa por revisão e a tendência é de que antes de março de 2012 a norma não seja praticada pela construção civil.
Segundo Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, há muitos casos de execução errada. “A mão de obra que atua na construção civil enfrenta graves problemas de qualificação. Há 33 anos, quando me formei, havia mestres de obras que eram verdadeiras sumidades. Hoje isso não existe mais”, avalia a engenheira perita. Outro motivo que leva o especialista a entrar em ação é o chamado “jeitinho brasileiro”. “As normas que regem a construção civil brasileira são tão boas quanto às de outros países. Só que o jeitinho brasileiro está no nosso DNA. Por isso, a responsabilidade profissional de um perito é sempre muito grande. Ele tem que ter uma postura rígida para não se deixar levar por artifícios”, afirma.
O engenheiro perito tem também a missão de alertar sobre obras que estejam sob risco iminente. “É obrigação técnica acionar os organismos públicos, como a Defesa Civil, por exemplo, se de repente o profissional observar irregularidade em algum imóvel ou aparelho público”, destaca Vera Lúcia. Segundo a presidente do IBAPE-PR, o organismo que ela dirige constantemente promove cursos sobre engenharia pericial. É uma tentativa de suprir a pouca atenção que o nível acadêmico dá para a matéria. “São poucas as faculdades que têm uma ou outra disciplina sobre a iniciação à perícia”, diz. No Brasil, desde 2004, a Escola Politécnica (Poli) da USP (Universidade de São Paulo) oferece as seguintes disciplinas de pós-graduação: Tópicos de Direito Tecnológico, Ciência Forense aplicada a Sistemas de Informação, Fundamentos da Ciência Forense e Metodologia da Prova Pericial.
Quando o engenheiro perito é requisitado:
Vistoria cautelar
Visa o prévio exame de imóveis vizinhos antes da instalação de um canteiro de obras, diante de um risco iminente ou mesmo para a simples verificação de uma situação que possa ter como causa a negligência, vício ou mau uso de material. Outros exemplos são ações para caracterizar responsabilidade por infiltrações em apartamentos ou danos causados a um imóvel pelo inquilino.
Desapropriação
Perícia que visa buscar informações de modo a obter a justa indenização pela expropriação de um bem pelo Poder Público, seu agente ou concessionário de serviço público.
Retificação de registro
Uma retificação de registro ou de metragem de imóveis ocorre nos casos de omissão de medidas ou impropriedade das mesmas nos documentos de propriedade. Obrigatoriamente tem que ser feita por engenheiro. É uma ação de cunho administrativo, em princípio não litigiosa e tem origem nas varas de registro público de imóveis.
Nunciação de obra nova e embargo
Aquela em que há o risco iminente a terceiros (ou danos já ocorreram). O perito deve fundamentar seu parecer de tal forma a afastar a responsabilidade por prejuízos por lucros cessantes decorrentes de um embargo ou nunciação da obra.
Entrevistada:
Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, presidente do IBAPE-PR (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Paraná)
Currículo
Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj
Arquiteta e urbanista, engenheira de segurança no trabalho
Graduada em 1978, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU-Farias Brito (SP)
Pós-graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho, pelo Cefet/PR/UTFPR (2004-2005)
Pós-graduada em Avaliação e perícias de engenharia, pelo Ibape/Moura Lacerda (2009-2010)
Presidente do IBAPE-PR
Vice-presidente do IBAPE Nacional
Contato: proojekt@gmail.com / proojekt@creapr.org.br
Crédito foto: Arquivo pessoal
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Prevenção é a melhor solução contra catástrofes
Apesar de a engenharia já dispor de técnicas para construir em áreas de risco, o ideal é que essas regiões sejam preservadas
Por: Altair Santos
Para o presidente da ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis), Ney Fernando Perracini de Azevedo, o acidente natural que ocorreu no início de 2011 na região serrana do Rio de Janeiro, e que resultou em quase 900 mortes, segundo números oficiais, foi uma catástrofe anunciada. Em novembro de 2010, no 2.º Seminário Brasileiro sobre Catástrofes Naturais e Antropogênicas, realizado coincidentemente no Rio de Janeiro, o alerta já havia sido dado. “Levamos a preocupação às autoridades do Rio e mostramos um fundo de vale cheio de casas nas encostas. Quando apresentamos as fotos, o público ficou abismado. Era um risco real, e aconteceu”, disse o dirigente.

De acordo com Perracini, há no Brasil uma política muito tênue de prevenção contra as chuvas, que é o principal acidente natural a que o país está exposto. “Falta mapeamento de riscos, que deveria ser uma incumbência dos municípios; falta uma fiscalização mais rigorosa, porque há muitas ocupações em áreas irregulares, e faltam planos diretores mais rigorosos”, avalia. No entender do presidente da ABENC, essa política deveria ir muito além da atuação da Defesa Civil, cuja função é atender a emergência e não fazer a prevenção. “É preciso não só uma política nacional, mas estadual e municipal. Principalmente o município precisa desenvolver projetos urbanos que evitem essas catástrofes”, diz.
Os seguidos acidentes naturais no país desencadearam no surgimento da engenharia civil emergencial, que envolve especialistas capazes de saber o que fazer em situações de catástrofe. “Durante o caos é preciso ter gente capacitada para dizer o que é preciso ser feito. Já ouvimos relatos de engenheiros que, quando chegavam ao local de um acidente, viam trator trabalhando em área prestes a desmoronar ou a população presente em um local que deveria estar isolado. Então, surgiu a engenharia civil emergencial para orientar o que deve ser feito. Agora, prevenção é outro aspecto e passa pelo planejamento urbano”, comenta Ney Fernando Perracini de Azevedo.
Como construir
Atualmente, um dos centros de excelência em gestão de risco contra catástrofes naturais encontra-se na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde funciona o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED). Na segunda semana de fevereiro de 2011, houve um encontro entre diretores do CEPED e o consultor oficial do Banco Mundial em gestão de risco e desastre, Aires Zulian da Conceição. Na reunião foram apresentados os projetos e estudos atualmente desenvolvidos na área de desastres, os quais serão incorporados às diretrizes do Plano Nacional de Gestão de Integração de Riscos (GIRD), e que são: gestão para reduzir riscos e ações para responder com rapidez aos desastres.

De acordo com o geólogo e engenheiro Ruan Antonio Altamirano Flores, do CEPED, uma das medidas é impedir que a população avance clandestinamente sobre esses locais ou aquela que já está instalada continue cavando a encosta para a construção de moradias. “Isso desestabiliza todo o morro. Daí, a força da gravidade, aliada às causas naturais, como fortes chuvas, pode provocar deslizamentos”, diz. Segundo Flores, uma maneira de construir em áreas de encosta, desde que haja permissão do poder público, é usar pilares para evitar que o corte desestabilize o morro. No entanto, alerta, toda a operação deve ser precedida de um estudo feito por especialistas, que deve ser contratado por quem realiza a obra.
O presidente da ABENC ressalta que hoje a engenharia brasileira está preparada para construir em qualquer lugar, mas o ideal é que as áreas de risco sejam poupadas. “Por que ocupar uma área de risco se tem outras para se construir? É evidente que não adianta fazer uma construção numa encosta que vai deslizar. Mesmo que se usem todas as boas técnicas de construção virá tudo abaixo. O morro quando desce, desce inteiro, levando não só uma casa, mas um bairro todo como a gente viu nas imagens da tragédia na região serrana do Rio”, disse.

Tipos de acidentes naturais mais comuns no Brasil
Inundações
Áreas de risco: planícies aluviais e áreas baixas do litoral.
Prevenção: construir diques, erguer barragens, limpar o leito dos rios e impedir construção nas áreas de risco.
Agravamento pelo homem: construção nas áreas de risco, obstáculos no leito dos rios, desmatamento e impermeabilização do solo.
Desabamentos, deslizamentos e avalanches
Áreas de risco: regiões com declive acentuado, montanhas e locais cuja composição do solo seja favorável a esse tipo de acidente
Prevenção: impedir construções e erguer muros de suporte
Agravamento pelo homem: desmatamento das vertentes
Entrevistado
Ney Fernando Perracini de Azevedo, presidente da ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis)
Currículo
Ney Fernando Perracini de Azevedo é engenheiro civil, formado pela UFPR em 1965. Trabalhou no Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Região Sul do Brasil (Comitê Sul), que realizou os primeiros estudos do aproveitamento integrado do potencial energético da região. Atuou por 30 anos na Copel, em atividades relativas às obras das usinas de Salto Osório e Foz do Areia, na manutenção de obras civis e, por mais de 16 anos, na Assessoria da Presidência da Empresa. Foi professor da Faculdade Católica de Administração e Economia (FAE), por sete anos. Aposentou-se como Professor Adjunto da UFPR, onde lecionou por 30 anos disciplinas relativas à Estatística e Qualidade. Presidiu o Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) por três gestões e presidiu o Departamento do Paraná da Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC/PR).
Contato: presidencia@abenc.org.br
CEPED UFSC
Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina
O que é
O CEPED UFSC atua nas áreas de ensino, pesquisa e extensão relacionadas à redução de riscos de desastres, com a finalidade de cooperar para o desenvolvimento técnico, científico e cultural da sinistrologia e de sua difusão junto à sociedade.
Foi constituído pelo Acordo de Cooperação Técnica assinado em 13 de novembro de 2000, atende à Política Nacional de Defesa Civil e posteriormente ao Decreto nº 5.376 de 17 de fevereiro de 2005.
A cooperação se estabelece entre o Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil; o Estado de Santa Catarina, por meio do Departamento Estadual de Defesa Civil; e a Universidade Federal de Santa Catarina.
Contato: ceped@ceped.ufsc.br
Créditos Fotos: Agência Brasil

