UFPR tem centro de excelência para projetos de infraestrutura
Universidade abriga o Instituto Tecnológico de Transporte e Infraestrutura (ITTI) que é referência para estudos que viabilizam construções de estradas, pontes, hidrovias e portos
Por: Altair Santos
Dentro da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, funciona atualmente um dos mais importantes centros de estudo e viabilização de projetos na área de infraestrutura do Brasil. Trata-se do ITTI (Instituto Tecnológico de Transporte e Infraestrutura) que foi criado em 2009 e tornou-se em pouco tempo referência para organismos como DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente). “Um dos nossos objetivos é dar agilidade aos processos para a execução das obras. Fazemos consultorias específicas, usando o conhecimento dos professores da universidade”, explica o coordenador do ITTI, Eduardo Ratton.

Uma peculiaridade do instituto é que ele pode requisitar o conhecimento de qualquer setor da UFPR. “Não são apenas os professores da área de engenharia da universidade que prestam serviço. Os estudos são multidisciplinares e exigem uma série de profissionais. Por exemplo, o porto de Manaus recentemente nos solicitou uma análise de contratos de concessão. Neste caso, foram convocados professores do departamento de contabilidade da universidade”, revela o coordenador do ITTI. “Para cada solicitação, montamos um grupo de trabalho”, completa.
O ITTI não se envolve em execução de obras, mas pode determinar qual sistema construtivo é o mais adequado para o projeto. Isso é normal quando o instituto é acionado para realizar estudos sobre rodovias. “Em nossas análises de viabilidade técnica, econômica e ambiental contamos com um software que aponta, por exemplo, qual o pavimento mais adequado para determinado tipo de estrada. Ele considera o tráfego que aquela rodovia vai receber, o desgaste que isso vai gerar e recomenda se o ideal para aquele trecho é receber pavimento asfáltico ou de concreto. São vários parâmetros que entram nesta análise, e que permitem ao DNIT optar pela melhor solução”, revela Ratton.
Pelos projetos que abraça, o ITTI agrega não só inovação à UFPR, mas cria um orçamento extra para a universidade, gerando recursos para o investimento em equipamentos e pesquisa. “Estamos constantemente comprando máquinas, comprando computadores, comprando uma série de instrumentos auxiliares, que permitem que esta prestação de serviços seja realizada. E estes equipamentos depois ficam todos na universidade”, diz o coordenador do instituto. Segundo Eduardo Ratton, perto de 30% dos valores recebidos pelo ITTI é investido em equipamentos.
O instituto tem três programas: G Pontes, G Rodovias e G Hidrovias. São estudos de gestão ambiental - mais conhecidos como EIA (Estudo de Impacto Ambiental) - para obras já realizadas ou que estão em andamento. Entre elas, uma ponte de 1.400 metros sobre o rio Paraná, na BR-262, que vai ligar as cidades de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, e Castilho, em São Paulo. “Mais um exemplo: fizemos uma avaliação para a BR-285, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que está para ter sua construção anunciada”, diz o coordenador do ITTI.
Outra avaliação do instituto abrange a construção de uma hidrovia no rio Paraguai, na região de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. “Fizemos uma modelagem hidrodinâmica e morfológica para verificar que consequências a dragagem do rio trará para o meio ambiente da região”, finaliza Eduardo Ratton. Desde que foi criado, o ITTI já analisou projetos para obras em dez estados do Brasil.
Entrevistado
Eduardo Ratton, coordenador do ITTI (Instituto Tecnológico de Transporte e Infraestrutura) da UFPR
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela UFPR
- Possui mestrado em Geotecnia, pela Universidade Livre de Bruxelas (Faculdade de Ciências Aplicadas)
- Tem doutorado em Ciências Aplicadas, na área de Planejamento e Transportes da Universidade livre de Bruxelas (Faculdade de Ciências Aplicadas)
- Conta com pós-doutorado em Ciências da Terra pela Universidade de Bonn (Alemanha)
Professor titular do departamento de transporte da UFPR
Contato: eduardo@ambientec.brtdata.com.br
Crédito Foto: Divulgação/UFPR
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Theatro Municipal de São Paulo vira modelo de restauração
Arquitetos e engenheiros se uniram para recuperar construção original de um dos mais importantes patrimônios históricos do Brasil
Por: Altair Santos
Dia 12 de setembro de 2011, o Theatro Municipal de São Paulo festeja 100 anos de construção. Para celebrar o centenário, o patrimônio da capital paulista passou por uma nova intervenção arquitetônica. As obras começaram em 2008 e a reabertura ocorreu em junho de 2011. Inspirado na Ópera de Paris, e concebido pelos arquitetos Ramos de Azevedo e os italianos Cláudio e Domiziano Rossi, desta vez o teatro esteve sob os cuidados de duas arquitetas: Lilian Jaha e Rafaela Bernardes, do departamento de patrimônio histórico da Secretaria Municipal da Cultura - vinculada à prefeitura de São Paulo.

Essa é a terceira vez que o Theatro Municipal passa por reformas. A primeira, em 1951, teve no comando o arquiteto Tito Raucht. Foi a que mais interveio nos espaços do teatro. Ocorreram modificações na sala de espetáculos, como o tratamento acústico, a retirada dos pilaretes de sustentação dos balcões e a mudança na disposição das poltronas, para eliminar os “pontos surdos” e “pontos cegos” da plateia. Para aumentar a boca de cena, foram eliminados os "camarotes de boca”, que deram lugar aos tubos do órgão Tamburini. Além disso, a área do teatro localizada do lado da Rua 24 de Maio, no centro de São Paulo, que continha os camarins dos artistas e dos figurantes, teve seu miolo completamente demolido, dando lugar a um novo edifício, ficando este setor com sete pavimentos, servido por dois elevadores.
A segunda obra ocorreu entre 1986 e 1991, já sob os cuidados do departamento de patrimônio histórico. Os serviços incluíram, além da modernização, a recuperação da infraestrutura do teatro. Assim, toda a instalação elétrica e hidráulica foi trocada. As fachadas, a ala nobre e a sala de espetáculos também passaram por restauração. Na época, no salão nobre, meticuloso trabalho de escoramento foi feito para salvar a pintura de Oscar Pereira da Silva, que ameaçava desabar do teto. O subsolo foi completamente escavado, criando-se o salão dos Arcos. Além disso, a cúpula foi remodelada para ser utilizada como sala de ensaios. Essa foi a reforma que mais precisou de intervenções na construção do prédio. “Devido ao estado precário de conservação do forro do salão nobre, foram substituídas algumas estruturas de estuque (um tipo de argamassa) por concreto. Houve também a escavação para criar o salão dos Arcos”, relatam as arquitetas Lilian Jaha e Rafaela Bernardes.
Já a mais recente intervenção na arquitetura do Theatro Municipal de São Paulo permitiu o restauro completo das fachadas e da ala nobre do edifício. Também foi realizada a modernização tecnológica do palco. Foram recuperados os elementos de pedra, as esculturas de bronze, as esquadrias de madeira e ferro, a cobertura de cobre e os vitrais. No caso do palco, todos os equipamentos de cenotecnia foram substituídos. Houve ainda um acréscimo do número de varas cênicas e da capacidade de elevação de carga das mesmas. O fosso da orquestra recebeu novo tratamento acústico e nova concha foi concebida para melhorar a sonoridade da sala. “Em virtude do aumento do número de varas e da capacidade de cargas, foi necessária a implantação de um reforço estrutural, na cobertura do palco, composto por treliças metálicas. Atualmente, as varas cênicas, que antes aguentavam 180 quilos, agora suportam 780 quilos”, revelam as arquitetas.
Desafio
A recuperação da fachada principal, em arenito, foi a que mais exigiu da equipe do departamento de patrimônio histórico. “O arenito é muito poroso e absorve muita água, o que causa degradação. Ela se inicia no interior para, então, atingir a superfície. Nas áreas em que essa degradação era extensa, foram colocadas próteses do mesmo material. Nas menores, foram realizadas obturações com material que utilizava pó do arenito e resina. A limpeza foi feita com jateamento de microesferas de vidro”, explicam Lilian Jaha e Rafaela Bernardes, que lideraram uma equipe de 60 profissionais. Segundo elas, como o Brasil tem um trabalho recente em recuperação de patrimônio, a mão de obra especializada para esse tipo de intervenção ainda é rara.
Dos profissionais envolvidos na obra estiveram engenheiros com várias especialidades, entre eles das áreas de mecânica, elétrica e civil. A reforma contou também com a participação de engenheiros químicos, que realizaram diagnósticos dos materiais a serem restaurados. No caso do Theatro Municipal de São Paulo, houve o cuidado de se utilizar produtos similares ao da construção original. Para o uso de argamassa, por exemplo, foram realizados testes laboratoriais para a recomposição de traço, buscando um material semelhante ao original. O mesmo ocorreu na recuperação do contrapiso do salão nobre do teatro e dos balaústres. “O projeto teve uma extensa pesquisa para ter uma aparência o mais próxima possível da que tinha na década de 1950, antes da primeira intervenção”, contam as arquitetas. A recuperação do patrimônio paulista custou R$ 28 milhões e os recursos vieram através de financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e da própria prefeitura de São Paulo.

Entrevistadas
Arquitetas Lilian Jaha e Rafaela Bernardes, do departamento de patrimônio histórico da Secretaria Municipal da Cultura da prefeitura de São Paulo
Currículos
- Lilian Jaha é arquiteta formada pela PUC de Campinas
- Trabalha desde 1984 na Secretaria Municipal de Cultura, desenvolve projetos na área cultural, com destaque para as obras do Theatro Municipal de São Paulo, além de atuar também na organização e realização de exposicões e eventos culturais, como Brasil-Itália e Navegar é Preciso
- Como bolsista da Fundação Japão, na área de administração cultural, conheceu e pesquisou a arquitetura e as formas de administrar dos principais espaços culturais japoneses
- Concluiu em 2009 o curso de MBA (Master of Business Administration) do Instituto Mauá de Tecnologia
- Rafaela Bernardes é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)
- Tem pós-graduação em “Teoria e Prática da Preservação e Restauro do Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico”, pela Universidade Católica de Santos
- Ocupa o cargo de arquiteta-chefe da seção Laboratório de Restauro/Divisão de Preservação, do departamento do patrimônio histórico da Secretaria Municipal da Cultura da prefeitura de São Paulo
Contato: smcimprensa@prefeitura.sp.gov.br / agajardoni@prefeitura.sp.gov.br (assessoria de imprensa)
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Lentamente, construção civil está descobrindo o assesment
Ferramenta de gestão profissional tem sido aplicada em fusões de empresas do setor e pode ser útil para reduzir o turnover no canteiro de obras
Por: Altair Santos
A palavra que melhor define assesment é avaliação. O conceito vem dos métodos de recrutamento militar usados para a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No pós-guerra, a Inglaterra passou a utilizar o modelo para selecionar servidores públicos. Até que, a partir de 1956, nos Estados Unidos, o assesment chegou à iniciativa privada, com empresas como AT&T, IBM, Sears, Standard Oil, General Electric e J.C. Penney tornando-se pioneiras no uso da ferramenta. Agora, quase 60 anos depois, quem começa a descobrir esse sistema de gestão é a construção civil brasileira.

Segundo a especialista em assesment, Claudia Riecken, um dos locais em que o método poderia ser bem aplicado é no canteiro de obras. “Com os públicos de chão de fábrica, canteiro de obras ou atividades primárias de operações em supermercados, o resultado tem sido esclarecedor e positivo”, diz. Para isso, ela ressalta que precisa haver um investimento em qualificação. “Para o assessment funcionar, é importante que os sujeitos de pesquisa possuam um grau mínimo de leitura e compreensão”, alerta. Neste caso, a ferramenta funcionaria mais como conceito de gestão profissional. Serviria para avaliar competências e conhecer com maior eficiência e critério as pessoas. “De posse deste entendimento, o RH de uma empresa da construção civil poderá realizar contratações mais estratégicas”, completa Claudia Riecken.
Atualmente, nos canteiros de obras prevalece o que os especialistas em Recursos Humanos chamam de contratação intuitiva. O encarregado da obra entrevista candidatos que vêm por indicação de outros operários, de colegas, de parentes. Esse líder confia em seu “olho clínico” para escolher a equipe e leva em consideração referências como família, antecedentes e até questões religiosas. Para não conflitar com essa metodologia já enraizada na construção civil brasileira, Claudia Riecken sugere que o assesment entre aos poucos no processo. “Ele pode ser usado numa etapa subsequente, como o treinamento, por exemplo, e não necessariamente no recrutamento dos operários”, diz.
Um dos benefícios que a introdução do assesment na construção civil pode trazer é a redução do turnover – a alta rotatividade de contratações e demissões na obra. Neste caso, quando os candidatos têm sua tendência comportamental mapeada, o chefe tem mais informações para diagnosticar os pontos fortes e fracos do trabalhador. Por exemplo: como seria um bom assentador de pisos e azulejos? Ele precisará ter mais iniciativa, pensar mais por conta própria ou obedecer e ajudar mais? Ele precisará ter comunicação fluente ou é melhor que seja concentrado? Paciência é uma qualidade desejável ou ele deverá ser rápido? É preciso que ele siga regras ou que ele tenha jogo de cintura para inovar?
A aplicação do assesment na construção civil também tem sido usada para conduzir modelos de governança. Um case recente é o que deu origem ao Nex Group, no início de 2011. A nova companhia nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, como resultado da fusão das empresas Capa Engenharia, DHZ Construções, EGL Engenharia & Lomando e Aita. Para ajustar o compasso dos 2,9 mil funcionários, o grupo aplicou o assesment combinado com a elaboração do BSC (Balanced Scorecard) - ferramenta utilizada para medir gestão de desempenho e usada para o gerenciamento dos resultados da nova companhia.
Segundo as empresas que utilizam esse tipo de metodologia, o benefício é conseguir, de forma rápida, ajustar pessoas, processos e estruturas às demandas de resultados dos ambientes corporativos. Ela também permite observar melhor a produtividade, a qualidade do profissional (já que ele passa a ser instruído para otimizar suas capacidades) e a fidelizar o colaborador. “O assesment torna os colaboradores mais resilientes, capazes de suportar melhor as mudanças e de se superarem”, avalia Claudia Riecken.
O que o assesment mapeia nos profissionais
Estilo de ação
As pessoas têm mecanismos internos de decisão diferentes. Há os que são independentes, atirados, têm iniciativa, assumem riscos, saem na frente, ousam, se expõem. E há os que cooperam, auxiliam, pensam em equipe, dão apoio à liderança, são solícitos, põem “panos quentes”, são os “conselheiros do rei”.
Estilo de comunicação
Indica como cada um se comunica. Há os que se relacionam bem com as pessoas, falam bem, têm poder de persuasão, de convencimento, vendem ideias, são simpáticos, eloquentes. E há os mais concentrados, os que têm um diálogo interno mais frequente que o externo, focam-se numa atividade, têm raciocínio analítico, inventivo, imaginativo, com senso de adequação. “Só abrem a boca quando têm certeza”.
Relação com o tempo
Cada um se relaciona de uma forma com o tempo. Encontramos pessoas que são calmas, pacientes, sabem esperar o tempo certo para cada coisa, calculam bem de quanto tempo precisam, fazem uma coisa de cada vez e vão até o fim. Outras são agitadas, rápidas, aceleram os colegas, fazem diversas coisas ao mesmo tempo e sabem reorganizar as prioridades quando necessário.
Relação com referenciais externos
Regras, normas e procedimentos têm significado diferente para cada um. Há os que seguem bem regras e procedimentos, precisam da “receita do bolo” para trabalhar bem, são detalhistas, minuciosos, acompanham cada etapa, têm alto senso de dever, necessitam de ambientes controlados para se sentirem seguros, gostam de rotina. E há os que seguem seus referenciais internos, criam melhores maneiras de fazer as coisas, inventam, improvisam, dão um jeito pra tudo e não se preocupam. Com eles “não tem tempo ruim”.
Entrevistada
Claudia Riecken, especialista em assesment e presidente do Grupo Quantum Assessment
Currículo
- Graduada como Design Human Engineering (DHE) nos Estados Unidos e também no México (Instituto de Psicologia Sistêmica do Ocidente – IPSO, credenciado pela Universidade Santa Cruz, Califórnia)
- Foi membro-diretor do grupo mundial Quantum Leap, USA-CA, de John Grinder, co-criador da Programação Neurolinguística
- Conferencista e escritora, é responsável por dezenas de pesquisas sobre a personalidade e a estrutura emocional dos empreendedores, dos sobreviventes, dos contraventores, bem como das tendências comportamentais e suas relações
- Recebeu o prêmio especial “Ser Humano” da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) por meio de uma de suas publicações
- É a criadora do Método Quantum, uma ferramenta comportamental, 100% brasileira, que mapeia detalhadamente os comportamentos preferenciais de uma pessoa, além de dizer como a pessoa está se sentindo em seu momento atual.
Contato: autora@claudiariecken.com.br / fernando@universidadequantum.com.br (assessoria de imprensa) / www.claudiariecken.com.br
Crédito Foto: Divulgação/Quantum
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Consumidor de material de construção pede sofisticação
Consultor avalia que lojas do setor precisam mudar perfil de meros depósitos de mercadorias e conquistar, principalmente, as mulheres
Por: Altair Santos
No primeiro semestre de 2011, o consultor Eugênio Faganholo liderou a missão brasileira na Euroshop 2011 - a maior feira do mundo de materiais e equipamentos para exposição de produtos no ponto de venda. O evento ocorre anualmente na Europa e um dos segmentos destacados foi o da construção civil.

Faganholo avalia que muito do que foi mostrado no velho continente pode ser aplicado no Brasil, principalmente em termos de layout, de apresentação de loja e de distribuição dos produtos. Para o consultor, o modelo de venda de material de construção no país tem um amplo espaço para ser aperfeiçoado. É o que ele explica na entrevista a seguir. Confira:
Em termos de layout, de apresentação de loja, da distribuição dos produtos, como o senhor avalia as lojas de material de construção no Brasil?
No Brasil existe um extraordinário campo de oportunidades para que as lojas de material de construção ganhem uma apresentação mais adequada dos produtos e serviços para os seus clientes. Eu vou exagerar um pouco aqui, mas pecando para poder colocar mais fortemente o meu pensamento. No Brasil, muitas lojas de material de construção têm mais aparência de depósito do que de loja. E o que significa isso? No depósito as mercadorias ficam empilhadas, não tem ordenamento ou há muitos balcões, o que faz com que o cliente dependa muito do atendimento pessoal do vendedor. Isso contraria a tendência atual, que é a valorização da tomada de decisão do consumidor final do material de construção. É preciso fazer uma loja cada vez mais próxima do consumidor final, daquele que toma efetivamente a decisão de comprar A, B ou C. Por isso é que eu vejo um grande campo de oportunidades no sentido de repensar a forma de apresentar a loja para os consumidores e também para os profissionais.
Alguns comércios mais parecem um canteiro de obras que uma loja propriamente dita. É isso?
Exatamente. O comerciante de material de construção precisa entender que a loja dele é um meio para que o consumidor realize um sonho. É o sonho de fazer o puxadinho, é o sonho de fazer um novo cômodo, é o sonho de construir a sua casa, é o sonho de reformar um dormitório. Então este ambiente de sonho é o que muitas vezes falta nas lojas de material de construção no Brasil. Na maioria, elas são muito rústicas, muito espartanas. Então existe um campo de oportunidades a serem exploradas pelas lojas de material de construção. E quando eu falo isso, não significa sofisticar a loja. Significa se organizar melhor para o consumidor final. O objetivo é fazer com que o consumidor enxergue o produto de forma simples e rápida.
Hoje uma tendência forte é que o consumidor pesquise pela internet antes de ir comprar na loja. No que isso tem influenciado na maneira como o ponto de revenda se relaciona com o consumidor?
Atualmente o consumidor, através da internet, tem uma grande fonte de informação e essa informação precisa estar cada vez mais completa dentro do ponto de venda. O quer dizer isso? O pessoal de atendimento de uma loja precisa estar absolutamente bem treinado, porque o consumidor muitas vezes chega tendo um grau de informação muito grande sobre aquela categoria, ainda que jamais tenha comprado aquela categoria. Então os atendentes têm que estar muito bem informados para ratificar a escolha do consumidor. Há uma tendência de que o consumidor compre cada vez melhor e compre aquilo que ele realmente precisa ou necessita na sua obra.
Como o senhor avalia a venda de cimento na loja de material de construção?
Eu diria o seguinte: como é um produto gerador de fluxo e gerador de percepção de preço, é um produto que as lojas entendem, entre aspas, como vendedor por si só. No entanto, por mais que o produto seja gerador de fluxo, ele merece uma atenção, um destaque e um posicionamento na loja que realmente valorize não só a categoria, mas valorize as marcas que ali estão. Porque ele passa a ideia para o consumidor de que é uma commodity. Não importa a marca, se é A ou B, tudo parece ser igual aos olhos do consumidor, principalmente aquele que não está acostumado ou não tem elementos para tomar a decisão pela marca A ou B. Então eu diria que aí também existe uma frente muito significativa para poder fixar a categoria, como uma categoria realmente com mais valor, com mais percepção de valor perante o consumidor final.
O senhor liderou a missão brasileira na Euroshop 2011. O que foi visto lá que se adequaria bem ao mercado brasileiro?
A Euroshop é a maior feira do mundo de materiais e equipamentos para exposição de produtos no ponto de venda. O que a gente verificou ali é que existem tendências muito grandes de simplificar, de baratear, enfim, de fórmulas cada vez mais sustentáveis. Sempre no sentido de ter uma boa exposição, de divulgar e de informar cada vez melhor, de forma impessoal, a mercadoria para o consumidor final. O que nós vimos ali foi exatamente a supremacia cada vez maior do requinte em expor. E quando eu digo requinte não é como sinônimo de sofisticar. Mas é o requinte no organizar, é o requinte no informar, é o requinte em usar materiais que sejam sustentáveis.
Hoje as mulheres vão comprar material de construção na loja, o que antes era uma prerrogativa masculina. No que isso muda na forma de abordagem e de técnica de venda?
Muda na apresentação do produto. Lojas que se assemelham a um depósito não só não atraem a mulher como elas não se sentem à vontade de ir lá. Ao contrário, lojas que sejam mais acolhedoras para o público feminino acabam tendo a grande benesse de atrair mais fluxo, e não só de mulheres. Elas acabam levando os seus maridos e acabam sendo, como constatam as pesquisas, absolutas na decisão do processo, principalmente em material de acabamento e decoração. Portanto, relegar a mulher a um segundo plano, em venda de material de construção, é simplesmente colocar em xeque a sua própria sobrevivência.
Os vendedores das lojas de material de construção estão conseguindo se capacitar para acompanhar as mudanças ou eles ainda carecem de capacitação?
Há um caminho bastante longo pela frente, que é exatamente o da maior e melhor capacitação. Claro que isso tem uma série de dificuldades, pela rotatividade, pelo lançamento cada vez mais constante de produtos novos, mas isso é algo que precisa ser buscado por todas as lojas de material de construção do Brasil.
Como o senhor avalia o setor de venda no varejo da construção civil, comparando com outros setores da economia. Ele está num patamar top ou precisa melhorar?
Alguns segmentos de varejo no Brasil evoluíram de uma forma muito significativa nos últimos 30 anos. Um exemplo é o do setor de supermercados. Já outros setores de atividade varejista evoluíram muito pouco nestes últimos 30 anos, como é o caso de venda de calçados. O segmento material de construção, no meu ponto de vista, evoluiu mais do que média do mercado brasileiro dos segmentos de varejo. No entanto, todo segmento de varejo, independentemente de qual seja, e em particular o de material de construção, tem que ter uma constância evolutiva muito significativa.
Hoje a grande venda de material de construção no Brasil ainda é pelo processo chamado de “formiguinha”. Isso atrapalha ou estimula mudanças no modelo de venda do varejo da construção civil?
Isto na realidade é um grande estímulo, porque faz com que seja um canal privilegiado de venda de material de construção. Este comportamento típico do brasileiro, que é a compra “formiguinha” (venda individualizada e que comercializa pequenos volumes de material), demanda esta evolução absolutamente constante das lojas de material de construção do país.
As megalojas de materiais de construção se propagam pelo país. Esta é uma tendência ou o pequeno comerciante do bairro ainda seguirá tendo seu espaço perante o consumidor, até em função da venda “formiguinha”?
As megalojas de materiais de construção ainda têm algum campo de evolução e crescimento no Brasil. Tem várias cidades no país em que caberiam uma ou mais lojas deste porte, indiscutivelmente. No entanto, o que a gente observa no comportamento do consumidor brasileiro é que ele é cada vez mais multiformato. O que significa isso? Ele não só eventualmente vai comprar numa megaloja, mas ele necessita para o seu dia a dia, para a sua reposição ou até para a sua compra de abastecimento, da loja do seu bairro. Então eu diria que o mercado brasileiro, pelo menos a médio prazo, não só assegura lugar definitivo para as megalojas, mas também para as médias e pequenas lojas, que desempenham uma função que as grandes não conseguem exercer.
Entrevistado
Eugenio Foganholo, diretor da MIXXER Desenvolvimento Empresarial Ltda., consultoria especializada em bens de consumo e varejo.
Currículo
Mestre em administração de empresas, especialidade em marketing, pela EAESP-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas)
É professor titular de pós-graduação das disciplinas “marketing de varejo e canais de distribuição” na BSP (Business School São Paulo) e no INPG (Instituto Nacional de Pós-Graduação)
Diretor da MIXXER, é palestrante e consultor especializado em varejo e bens de consumo, com elevada experiência no assessoramento de fabricantes, redes varejistas e associações do segmento, como APAS (Associação Paulista de Supermercados), ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e Sebrae.
Contato: eugenio.foganholo@mixxer.com.br
Crédito Foto: Divulgação/MIXXER
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Londres 2012 é modelo de planejamento para o Brasil
A um ano dos Jogos Olímpicos, capital inglesa está praticamente pronta para o evento. Bem diferente do país-sede da Copa do Mundo de 2014
Por: Altair Santos
O Brasil está a dois anos e meio do evento Copa do Mundo, que vai acontecer no país, e ainda há muito por fazer. Na opinião do presidente do SINAENCO (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), José Roberto Bernasconi, trata-se de uma oportunidade desperdiçada. “O Brasil foi definido como sede da Copa 2014 em 31 de outubro de 2007. Portanto, com prazo mais que suficiente para planejar bem as obras necessárias, algo que não foi feito. Isso tem o grande demérito de jogar no lixo todo o conhecimento acumulado pela arquitetura e engenharia brasileira”, lamenta o dirigente, para quem o país deveria se espelhar em Londres 2012.

Daqui a um ano, entre 27 de julho e 12 de agosto, a capital inglesa irá sediar os Jogos Olímpicos. Com pontualidade britânica, as obras estão dentro do cronograma. Todos os equipamentos para sediar os eventos esportivos devem começar a ser testados no segundo semestre de 2011 e a mão de obra envolvida na construção se concentra agora na vila olímpica e nas construções de infraestrutura. São mais de 12 mil trabalhadores envolvidos no projeto, cujo canteiro de obras é o maior da Europa. “A principal lição que o Brasil pode extrair da preparação britânica para a Olimpíada 2012 é o planejamento”, avalia Bernasconi.
De fato. Faz sete anos que Londres trabalha diuturnamente para receber as Olimpíadas. Em 2005, os britânicos criaram a Olimpic Delivery Authority (ODA), responsável pela gestão e coordenação de todas as obras relacionadas ao evento. Os dois primeiros anos foram gastos para detalhar rigorosamente os estudos e os projetos. “A construção, contratada com base nesses projetos, está sendo executada rigorosamente dentro do cronograma e do valor global estipulado na contratação”, diz o presidente do SINAENCO. Londres disponibilizou o equivalente a R$ 16 bilhões para as obras – quase cinco vezes menos do que foi gasto em Pequim 2008, que consumiu R$ 74 bilhões.
Todo o complexo dos Jogos, que ocupa uma área de 2,5 milhões de m², está localizado na região de East London, uma das áreas mais pobres da capital inglesa, com índices altos de criminalidade e desemprego. Com o evento, os britânicos aproveitaram para revitalizar a localidade. A ideia é deixar um legado social para a região, criando oportunidades de emprego, de infraestrutura e de moradia para a população. Após as Olimpíadas, a Vila Olímpica irá se transformar em 3 mil apartamentos para famílias carentes de East London. “Infelizmente, a Copa 2014 perdeu a chance de deixar esse legado positivo ao Brasil”, compara José Roberto Bernasconi.
O presidente do SINAENCO avalia que ainda dá tempo para usar o bom exemplo de Londres 2012 e o mau exemplo da Copa 2014 para “salvar” as Olimpíadas de 2016, que vão acontecer no Rio de Janeiro. “O Rio de Janeiro está desenvolvendo, até agora, um bom planejamento. É necessário, porém, que esse planejamento seja seguido por estudos rigorosos sobre o dimensionamento dos equipamentos e instalações públicas para os Jogos Olímpicos, a fim de evitar o que aconteceu nos Jogos Pan-americanos de 2007. Naquele evento, por falta de planejamento, os gastos previstos em R$ 400 milhões transformaram-se em R$ 3,6 bilhões”, lembra Bernasconi.
Como em Londres, onde foi criada a Olimpic Delivery Authority (ODA), no Rio de Janeiro foi instalada a Autoridade Pública Olímpica (APO). Para o presidente do SINAENCO, trata-se de um bom sinal, desde que o organismo tenha, na prática, autonomia para gerenciar a preparação dos Jogos Olímpicos de 2016. “Resta ver se, como os ingleses fizeram ao criar a Olimpic Delivery Authority (ODA), responsável por todo o planejamento e execução das obras em Londres, a APO terá de fato a autoridade e os recursos necessários para realizar essa coordenação geral das obras e serviços envolvidos”, diz, garantindo que o grande exemplo para o Brasil está em Londres 2012.


Entrevistado
José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (SINAENCO)
Currículo
Engenheiro civil, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1965) e advogado, pela Faculdade de Direito UNIP (Universidade Paulista de São Paulo) (2005)
Foi presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo, de 1985 a 1989, e professor da Poli-USP
Contato: sinaenco@sinaenco.com.br / silverio@mandarim.com.br (assessoria de imprensa)
Créditos Fotos: Divulgação/SINAENCO/London2012
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Tradição, estrutura e pesquisa fazem do IME um dos melhores do Brasil
Engenharia de Fortificação e Construção, do Instituto Militar de Engenharia, ocupa segundo lugar no ranking dos melhores cursos de engenharia civil
Por: Altair Santos
O curso de Engenharia de Fortificação e Construção do Instituto Militar de Engenharia (IME) é o mais antigo do Brasil. Ele surgiu no tempo do Império, oficialmente em 1792, com a criação da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, que em seguida recebeu várias denominações: Academia Real Militar (1811), Imperial Academia Militar (1822), Academia Militar da Corte (1832), Escola Militar (1840) e Escola Central (1858). Em 1874, a Escola Central foi desmembrada da Escola Militar e passou a formar exclusivamente engenheiros civis. Daí vem o nome da profissão no país.

No século passado, em 1930, outra mudança: passa a funcionar a Escola de Engenharia Militar, que em 1933 foi rebatizada como Escola Técnica do Exército. Em 1949, surge o Instituto Militar de Tecnologia, que em 1959 realiza fusão com a Escola Técnica do Exército para dar origem ao Instituto Militar de Engenharia, que carrega quase 220 anos de tradição. “Hoje, o IME procura semear esta experiência em alunos de alta capacidade intelectual, que alimentam um processo de ensino e aprendizado mútuo entre discentes e docentes”, explica o major Marcelo de Miranda Reis, coordenador do curso de Engenharia de Fortificação e Construção.
A graduação do IME equivale aos cursos de engenharia civil das demais universidades e obteve em 2011 o 2.º lugar no ranking do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), com base no desempenho do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). A diferença para as outras escolas é que o Instituto Militar de Engenharia forma engenheiros civis e militares. “Os militares são absorvidos pelo próprio Exército e os civis têm encontrado bom espaço no mercado, por serem profissionais generalistas”, explica o major Marcelo de Miranda Reis.
O curso de graduação em Engenharia de Fortificação e Construção do IME tem a duração de cinco anos. “O currículo reúne um conjunto de disciplinas que integram conhecimentos científicos aprofundados, com uma visão interdisciplinar e sistêmica nas áreas de estruturas, recursos hídricos, meio ambiente, geotecnia, edificações e transportes”, afirma o coordenador. Para a formação de seus engenheiros, o campus do IME, no Rio de Janeiro, oferece laboratórios de recursos hídricos, saneamento e máquinas hidráulicas; materiais de construção e concreto; informática; modelagem computacional; ligantes e misturas asfálticas e de solos.
Estudos sobre concreto
O Instituto Militar de Engenharia também investe maciçamente em pesquisas, com o incentivo de órgãos de fomento, como FAPERJ, FINEP, CAPES e CNPq. Alguns dos trabalhos já renderam prêmios, entre eles o de melhor dissertação na área de engenharia civil, com o estudo “metodologia de produção e emprego de agregados de argila calcinada para pavimentação” (Prêmio Dirceu Velloso). Também foram premiadas as pesquisas “características resilientes de solos residuais da região metropolitana de Curitiba” (38.ª RAPv), “comportamento de solos do Estado do Rio de Janeiro estabilizados com emulsão asfáltica” (Prêmio PETROBRAS), “pisos alternativos para passagem de nível” (VIII Prêmio AmstedMaxion de Tecnologia Ferroviária) e “avaliação do comportamento mecânico de misturas asfálticas elaboradas com cimento asfáltico de petróleo modificado por asfalto Natural (CAP TLA)” (Prêmio Oscar Niemeyer-CREA).
Estudos sobre uso do concreto também são contemplados pelo curso, que tem disciplinas específicas como Materiais de Construção II; Teoria das Estruturas I, II e III; Estruturas de Concreto Armado I e II e Estruturas de Concreto Protendido. Além disso, muitos docentes do IME são sócios e representantes dos quadros de diversas associações, dentre as quais IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) e ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). “Há ainda parcerias com organismos de pesquisa nacionais e internacionais, entre os quais a Paristech e a Universidade de Coimbra”, lembra o major Marcelo de Miranda Reis.
Outra peculiaridade do curso é o número reduzido de alunos. Atualmente, menos de cem estudantes integram o corpo discente do Instituto Militar de Engenharia. “Isso permite um ensino muito mais individualizado e um controle mais efetivo e pessoal do rendimento do aluno”, analisa o coordenador do curso. Sobre o corpo docente, ele é constantemente incentivado a se atualizar profissionalmente, o que resulta em um quadro em que a quase totalidade dos professores são doutores, alguns inclusive com curso de pós-doutorado. “O Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro tem uma preocupação constante com o desenvolvimento do curso e de pesquisas aplicadas, empregando anualmente um volume de recursos para esta finalidade”, finaliza Marcelo de Miranda Reis, mostrando o porquê de a Engenharia de Fortificação e Construção do Instituto Militar de Engenharia estar entre as melhores do país.

Entrevistado
Major Marcelo de Miranda Reis, professor-adjunto e coordenador de graduação do curso de Engenharia de Fortificação e Construção do Instituto Militar de Engenharia (IME)
Currículo
Mestre em Planejamento Energético e Ambiental, COPPE/UFRJ, 2001 e doutor em Engenharia Civil, COPPE/UFRJ, 2009
Contato: marceloreis@ime.eb.br
Créditos Fotos: Divulgação/IME
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Conjugação de esforços tenta viabilizar obras no Afonso Pena
Principal terminal aéreo do Paraná ainda discute construção da terceira pista e até a Copa do Mundo de 2014 fluxo anual de passageiros passará de 5,7 milhões para 8,3 milhões
Por: Altair Santos
Em 2010, o aeroporto Afonso Pena, localizado em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, recebeu um fluxo anual de 5,7 milhões de passageiros. Daqui a três anos, por conta do evento Copa do Mundo, as projeções indicam que o principal terminal aéreo do Paraná terá um movimento de 8,3 milhões de pessoas. Por isso, reformas são necessárias. Segundo o superintendente do aeroporto, Antonio Pallu, tem havido uma conjugação de esforços para viabilizar as obras. “Já temos assinado um acordo de cooperação técnica entre o governo do Paraná, o município de São José dos Pinhais e a Infraero. Estamos na fase de realização de estudos, planos, projetos e empreendimentos que visam o desenvolvimento do aeroporto”, diz.

O documento assinado entre o poder público e a Infraero prevê a construção de uma terceira pista e a ampliação do terminal de passageiros. Para isso, será necessária a desapropriação de propriedades no entorno do aeroporto. Atualmente, está em estudo o tamanho da área a ser desapropriada e o custo das indenizações. Feito isso, o governo do Paraná poderá decretar a utilidade pública dos terrenos e dar início a um plano de impacto ambiental para as obras.
Estima-se que o espaço englobe 900 mil m², ocupados hoje por 300 imóveis e aproximadamente mil pessoas. De acordo com planos preliminares, a nova pista terá 3,4 mil metros de extensão e capacidade 65% maior que a atual. A definição sobre que tipo de pavimento ela terá, se asfalto ou concreto, ainda não foi definido.
Como o cronograma é apertado, outras obras que não dependem da burocracia já estão em andamento. Entre elas, a ampliação do estacionamento, que sairá de 670 para 2.200 vagas. Em agosto de 2011, começa a substituição das luzes do eixo da pista do aeroporto, que guiam pousos e decolagens. Atualmente, o Terminal de Logística de Cargas (Teca) também está em reforma. De acordo com Antonio Pallu, o desafio da administração do aeroporto é manter a operacionalidade do Afonso Pena enquanto ele estiver sendo ampliado. “Por isso, estamos em intenso diálogo com a ANAC (Agência Nacional e Aviação Civil), empresas aéreas, órgãos públicos e concessionários para minimizarmos inconvenientes. Medidas para informar os passageiros serão tomadas. O principal é que, ao término do prazo, as melhorias trarão benefícios para os passageiros”, resumiu.
Outros aeroportos
Para dar suporte ao Afonso Pena durante a Copa do Mundo, o aeroporto do Bacacheri, localizado a 7 quilômetros do centro de Curitiba, também será reformado e ampliado. Segundo o superintendente do terminal, José Osmam Oliveira Silva, voos regionais e executivos que operam atualmente no Afonso Pena serão desviados para o Bacacheri. Para isso, entre as obras previstas estão a ampliação do terminal de passageiros, cuja área passará de 156 para 350 metros quadrados, além do aumento de vagas no estacionamento, que sairá de 50 para 150 vagas. Haverá ainda reformas nos aeroportos de Foz do Iguaçu e Londrina. Nestes terminais, as obras, de acordo com a Infraero, são as seguintes: ampliação nas áreas interna e externa, climatização, implantação de novas guaritas e revitalização da aparelhagem de pouso e decolagem. O Paraná tem atualmente 40 aeroportos, dos quais 36 administrados por prefeituras. Destes, apenas quatro operam com voos regulares: os de Curitiba, Foz, Londrina e Maringá.
Recente estudo coordenado pelo professor Elton Fernandes, do Programa de Engenharia de Produção da Coppe-UFRJ, concluiu que a maior parte dos terminais aéreos do Brasil já está com sua capacidade esgotada e que as obras de ampliação previstas pela Infraero não mudarão esse quadro. As exceções são os aeroportos do Rio de Janeiro (Galeão), Brasília, Fortaleza e Manaus.
Baseando-se em padrões internacionais, que pedem um mínimo de 23 metros quadrados por passageiro doméstico no horário de pico e mais 14 metros quadrados por passageiros internacionais, o estudo concluiu que, após as obras, ainda haverá uma carência total de 366 mil m² para atender a demanda de 2014. Isso independe da movimentação adicional causada pela Copa do Mundo, que poderá chegar a 3 milhões de passageiros no total. “O problema não está nesse número, e sim no fato de que, antes do evento, os aeroportos já estarão operando no limite”, diz Elton Fernandes.
A demanda total de passageiros calculada pela Coppe é maior que a prevista pela Infraero no planejamento das obras de expansão. O professor Elton Fernandes prevê que, nos 16 aeroportos diretamente envolvidos com a Copa do Mundo, o número anual de passageiros salte dos 127,72 milhões registrados em 2010 para 187,48 milhões em 2014. Esse acréscimo de quase 60 milhões – mais do que o dobro do movimento total atual dos aeroportos da Argentina, por exemplo – é bem superior ao número levado em conta no planejamento das obras de expansão dos terminais.

Entrevistado
Antonio Pallu, superintendente do aeroporto Afonso Pena
Currículo
Administrador formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), já foi superintendente do aeroporto de Bacacheri (em Curitiba) e gerente de administração e finanças do Afonso Pena. Iniciou na Infraero em 1996, como profissional de serviços aeroportuários, onde atuava no pátio de aeronaves. Prestou serviços nas áreas de operações e segurança e manutenção. Foi um dos responsáveis pela implantação do sistema de gestão da qualidade no aeroporto.
Contato: afonsopena@infraero.gov.br / asscom@coppe.ufrj.br
Créditos Fotos: Luiz Felipe Alves de Abreu/Infraero
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Consórcio de obras exige expertise para obter lucro e evitar prejuízo
Modelo adotado para grandes empreendimentos não é recomendado para pequenas construtoras e requer conhecimento de participações societárias
Por: Altair Santos
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado para fomentar a infraestrutura no Brasil, trouxe a reboque a retomada dos consórcios de obras. Trata-se da união de empresas para construir um grande empreendimento, como hidrelétricas, rodovias e portos, por exemplo.

É uma modalidade, porém, que tem particularidades. Uma delas é de que não é recomendado para todas as construtoras. A outra é que atuar em consórcio requer conhecimento de participações societárias, atenção às legislações e zelo para não virar alvo de investigação de organismos fiscalizadores.
Por isso, em junho de 2011, ocorreu em São Paulo um seminário que dissecou todos os pormenores que abrangem um consórcio de obras. Entre os palestrantes esteve o especialista Samuel Lasry Sitnoveter, que na entrevista a seguir abrange os principais tópicos que devem ser levados em consideração na hora de formar um consórcio de obras. Confira:
Quais as principais particularidades de como constituir consórcios. Boa parte deles é feita por Sociedade em Conta de Participação (SCP) e Sociedade de Propósito Específico (SPE). O que vem a ser isso?
Uma Sociedade de Propósito Específico é formada para evitar quebras. Por exemplo, a Petrobras criou uma para a construção de um gasoduto. A estatal chama os bancos e pede que eles capitalizem a sociedade, enquanto ela gerencia o contrato. Vai ser em nome desta sociedade que será contratada a obra. A Petrobras vai ser a usuária do gasoduto e toda vez que usar o equipamento para passar gás de um lado para o outro vai pagar aluguel pelo uso do gasoduto. Outro exemplo está na Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A Sociedade de Propósito Específico vai construir, e nela estão fundos de pensão, bancos e outros empreendedores. A vantagem da Sociedade de Propósito Específico é que não se confunde o patrimônio da sociedade, que é necessário para uma determinada finalidade, com o patrimônio de seus acionistas.
Já a Sociedade em Conta de Participação é diferente. É quando há o sócio oculto. É uma prática totalmente dentro da lei, que não pode ser confundida com o uso de “laranjas”, em que um investidor não aparece no contrato social. Os sócios ostensivos são os que aparecem em toda a documentação e os sócios ocultos fazem investimento na sociedade para viabilizar o empreendimento.
Quais as melhores práticas em consórcio, envolvendo seguros, riscos e garantias do projeto?
Quando você tem um consórcio, fica estabelecido que um sócio fará um pedaço da obra e outro fará outra parte. Para evitar problemas na contratação do seguro, o ideal é que todas as partes contratem um só seguro, desde o consorciado que vai iniciar a obra até o que entrará na etapa final. Assim, caso venha a ocorrer um acidente ou qualquer outro problema com o empreendimento, o seguro cobre o todo e não apenas uma parte. Mas é importante que o consórcio comunique à seguradora todos os pormenores de como vai ser feita a obra. A obra vai ser feita desta maneira por esse grupo de consorciados, daquela maneira por esse grupo e daquela outra maneira por esse grupo. Então, para que o consórcio assuma a responsabilidade integral, do início ao fim de uma obra, a melhor prática é que todas as partes tenham um só seguro, e que a seguradora tenha conhecimento de todo o projeto de execução. Um exemplo clássico de como um consórcio de obras é protegido pelo seguro ocorreu no desabamento da estação Pinheiros, da linha 4 do metrô de São Paulo, quando ela estava em construção em 2007.
Confira o que foi pago:
Danos à própria obra: tudo o que teve que ser refeito após o desabamento foi pago pelo seguro de Riscos de Engenharia.
Danos aos equipamentos de obra: pago pelo seguro de Riscos Diversos - Equipamentos Móveis.
Danos Materiais a terceiros: engloba casas que desabaram ou ficaram danificadas, veículos e ferimentos causados em pessoas. Pago pelo seguro de Responsabilidade Civil - Danos Materiais.
Danos Corporais a terceiros: envolve gastos médicos de moradores e de pedestres que passavam no local na hora e indenizações por vidas perdidas. Pago pelo seguro de Responsabilidade Civil - Danos Corporais.
Danos a mentes de terceiros: pago pelo seguro de Responsabilidade Civil - Danos Morais.
Danos aos funcionários da obra: quem morreu tinha seguro de vida previsto no acordo coletivo da categoria. Quem processou o consórcio ou o Estado ou o Metrô foi indenizado pelo seguro de Responsabilidade Civil - Empregador.
Tempo parado: a obra ficou paralisada 60 dias por ordem do governador. Os salários, aluguéis de equipamentos parados e demais custos fixos não tinham seguro e foram contabilizados como prejuízo do consórcio construtor.
Processos criminais contra os engenheiros da obra: o custo de defesa judicial de alguns engenheiros foi pago pelo seguro D&O (Responsabilidade civil de dirigentes). Alguns membros de algumas empresas do consórcio não tinham este seguro e o custo de defesa foi pago pelas próprias empresas.
Quando se estabelece um consórcio, que papel desempenham executivos, engenheiros e advogados que atuam nas áreas de contrato, projeto, planejamento e infraestrutura da obra a ser consorciada?
Como o consórcio será um agente à parte de cada empresa, as empresas consorciadas vão designar executivos para em conjunto administrarem o consórcio. As de engenharia vão dispor de alguns dos seus melhores quadros para que o consórcio como um todo tenha um conjunto de engenheiros de bom nível. Da mesma forma, haverá advogados, administradores, pessoas de recursos humanos e, enfim, todo um staff para permitir que o objetivo do consórcio seja cumprido.
Com os programas estabelecidos para estimular a infraestrutura do país, como o PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), o volume de consórcios entre construtoras aumentou consideravelmente?
Sim, por se tratar de um programa que envolve grandes obras. Toda a vez que se tem uma grande obra faz-se a opção pelos consórcios. Por quê? Porque numa grande obra tem várias disciplinas envolvidas, que precisam de várias especialidades. Então, as empresas, no caso do PAC, se aliam em consórcio para poder em conjunto fazer uma obra.
Assim como o PAC, eventos como Copa 2014 e Olimpíadas 2016 também estimulam os consórcios de obras?
São eventos que envolvem obras de grande porte, que vão desde estradas, aeroportos e estádios, o que faz predominar a figura do consórcio. No caso das obras que envolvem esses eventos, o consórcio também surge para se dividir o risco. Quando uma empresa entra numa obra ela projeta lucro, mas às vezes ele não vem da forma esperada. Então, para diminuir o risco, divide-se o empreendimento em consorciados. Se der lucro, divide-se o lucro. Se der prejuízo, o impacto será menor. A teoria diz o seguinte: é menos arriscado eu entrar com metade de dez obras do que sozinho em cinco obras. Porque se alguma obra der errado, eu só tive metade de um prejuízo. Por isso que é melhor se consorciar. Além, é claro, de se tratar de obra de grande porte e dificilmente uma empresa consegue bancá-la sozinha.
É recomendável que pequenas construtoras façam parte de consórcios com outras grandes empreiteiras ou para elas o melhor negócio é entrar como terceirizada no projeto?
Quase sempre é melhor entrar como terceirizada, porque a terceirizada não assume determinados riscos. Por exemplo, o risco de ter que entregar o todo. Uma pequena construtora não domina o todo. Agora, caso ela decida entrar num consórcio, é preciso que esteja num consórcio que vai ser bem vencedor, quer dizer, que dê certeza absoluta de que aquela obra vai dar lucro. Neste caso, se ela entrar meramente como uma contratada, ela vai ter apenas uma pequena margem. Se ela entrar como consorciada, vai participar de todo o lucro da obra.
Há limite para que um número de empresas faça parte de um consórcio ou isso depende da licitação? Qual o número ideal de parceiros para entrar em um consórcio de obras?
Não tem limite. O que tem é o seguinte: em uma obra de porte normal, vai ter um consorciado responsável por toda a parte de construção civil, outro consorciado é responsável pela parte de fornecimento de equipamentos, outro consorciado é responsável pela parte de projetos e outro é responsável pela parte de montagem, etc. Então, tipicamente, é assim. Quando tem obras de grandíssimo porte, aí até para dividir risco você tem um grande número de consorciados. Um exemplo é a Linha 4 do metrô de São Paulo. Ela é uma PPP, porque há investimento da iniciativa privada, e tem participação de todas as grandes empresas da engenharia nacional. As cinco maiores. Todas elas fazem parte do consórcio, dos fornecedores de trem e equipamento de metrô. Todos fazem parte do consórcio, mas cada um faz um pedaço, em vez de cada um querer ganhar o todo. Uma prefere ganhar um pedaço só para ter certeza que se der errado ninguém tem um prejuízo muito grande.
Hoje, com leis ambientais e tribunais fiscalizando grandes obras de infraestrutura, quais cuidados devem ser tomados pelas empresas que entram em um consórcio?
Os mesmos cuidados que uma empresa que entre sozinha, quer dizer, este é um aspecto que todo mundo tem que tomar muito cuidado, pois as multas são pesadas e as consequências de errar ou fazer alguma coisa errada são muito grandes. Mas isso independe de consórcios. O fato de estar em consórcio não muda a responsabilidade e os cuidados que cada um tem que tomar.
Hoje, sabe-se que há uma demanda muito grande por obras. Com os consórcios fica mais fácil conseguir arregimentar mão de obra qualificada?
Infelizmente não. Este é um problema estrutural do Brasil que não tem nenhuma solução fácil. Não tem mão de obra disponível, seja para consórcios ou para quem entra sozinho numa obra.
Como funciona o regime de contratação da mão de obra nos consórcios?
Você tem duas maneiras e cada consórcio decide a forma desejada. Dá para contratar a mão de obra por empresa. Neste caso, cada empresa contrata seus funcionários e aloca os funcionários para a obra que está sendo feita em consórcio. A outra é contratar em nome do consórcio. O que significa escolher cada uma das opções. Contratar dentro do consórcio permite isolar eventuais ações trabalhistas e não mistura o que é ação trabalhista de cada empresa com o que é ação trabalhista do consórcio. No caso oposto, contratar em nome de cada empresa e não do consórcio, é para preservar as políticas trabalhistas de cada corporação. Tem empresas com políticas muito vantajosas, onde até os trabalhadores preferem assim. Então, cada consórcio decide como pretende executar. Cada maneira tem prós e contras.
Entrevistado
Samuel Lasry Sitnoveter, consultor em consórcio de obras
Currículo
- Engenheiro químico formado pela UFRJ, em 1984
- Trabalhou em companhias como Marsh Corretora de Seguros, Shell Brasil, Odebrecht e Quattor
- Atualmente é sócio controlador e diretor da Lasry Corretora de Seguros
- Detentor do título de Conselheiro de Administração concedido pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) concedido em 2010
Contato: samuel@lasry.com.br
Crédito: Divulgação/Lasry
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Construção civil ganha mais um aliado: o engenheiro acústico
Profissão tem curso de graduação na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e uma de suas missões é a busca do conforto acústico em edificações e equipamentos
Por: Altair Santos
Pesquisas realizadas na infraestrutura laboratorial do curso de Engenharia Acústica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, mostram que o concreto tem conseguido atingir cada vez mais níveis elogiáveis de desempenho acústico. Isso ocorre, sobretudo, em construções que utilizam as lajes de entrepiso, em vez do contrapiso zero, e já adequadas à Norma Técnica de Desempenho para edificações habitacionais de até cinco pavimentos – ABNT NBR 15575, que trata primordialmente do desempenho construtivo de edificações de até cinco pavimentos, mas com requisitos que podem ser aplicados em edifícios maiores – entre eles, o conforto acústico.

Esse tipo de estudo acadêmico está entre as atribuições do único curso de graduação em Engenharia Acústica existente no Brasil. Criado em 2008, após aprovação do Conselho Universitário da UFSM e registro no MEC (Ministério da Educação), o curso vai constituir em agosto de 2011 sua terceira turma, cada uma com 40 alunos. Durante cinco anos, os estudantes seguem um programa pedagógico que permite ênfases em acústica, áudio e vibrações. Idealizado pela professora Dinara Paixão, que é engenheira civil, o curso contou com a experiência do professor Felipe Vergara - engenheiro acústico formado no Chile - para a montagem da grade curricular.
Atualmente, além dos dois professores citados, foram concursados outros cinco doutores em diferentes áreas da acústica para atuar no curso. São eles, Marco Antônio Pinheiro, Stephan Paul, Andrey da Silva, Leonardo Ferreira Lopes e Éric Brandão. Brevemente, a UFSM planeja realizar dois novos concursos para a contratação de mais professores. “A ideia começou a ser formatada em 2000, quando o Setor de Acústica do Centro de Tecnologia da UFSM, ligado ao Departamento de Estruturas e Construção Civil da universidade, criou o Grupo de Pesquisa multidisciplinar Acústica, registrado no CNPq”, explica Dinara Paixão, que é quem coordena o curso.
Além de poder atuar em pesquisas que busquem o conforto acústico na construção civil, o profissional da Engenharia Acústica encontra mercado de trabalho também na área industrial, atuando na montagem de máquinas e equipamentos, bem como em projetos de dutos de ventilação e transporte de fluxos que geram vibração estrutural e ruído. O especialista ainda pode trabalhar na busca da melhoria da qualidade vibroacústica em veículos de transporte e em outros produtos como secadores de cabelo, geladeiras, lava-louças, máquinas de lavar, embalagens de alimentos, instrumentos musicais e aparelhos de informática e eletroeletrônicos.
Na construção civil, o Engenheiro Acústico pode atuar como consultor na definição de sistemas construtivos adequados com o ambiente em que o empreendimento será edificado e influenciar também no projeto de execução. “Conseguir o isolamento acústico dos ambientes não é apenas uma questão da escolha dos materiais, mas especialmente da execução. Um piso flutuante, por exemplo, mesmo contando com o melhor material resiliente, pode ter um péssimo desempenho se for mal executado. Paredes bem construídas podem perder o conforto acústico se a escolha das janelas for inadequada. É importante, por isso, que haja um cuidado desde a elaboração do zoneamento do projeto, passando pela integração dos projetos arquitetônico e complementares da edificação, chegando à avaliação específica do desempenho acústico”, explica a professora Dinara Paixão.

Poluição sonora
O curso da UFSM também trabalha com o tema transversal “A responsabilidade socioambiental do Engenheiro Acústico”. Para isso, os alunos estudam questões como o impacto acústico ambiental e aprendem a elaborar projetos de barreiras acústicas e mapas de ruído. “Atualmente, verifica-se que há uma grande dificuldade no controle da poluição sonora no Brasil” diz a coordenadora do curso, que também preside a Sociedade Brasileira de Acústica (SOBRAC). “Estamos atuando junto ao Congresso Nacional na busca da formulação de uma Política Nacional de Educação, Controle e Gestão da Poluição Sonora”, complementa Dinara Paixão.
Entrevistada
Dinara Xavier da Paixão, coordenadora do curso de Engenharia Acústica da Universidade Federal de Santa Maria
Currículo
- Engenheira Civil, Mestre em Educação e Doutora em Engenharia Acústica
- Presidente da Sociedade Brasileira de Acústica (SOBRAC)
- Conselheira da Federação Iberoamericana de Acústica (FIA)
- Coordenadora do Curso de Engenharia Acústica da UFSM
- Professora Associada da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Contato: dinaraxp@yahoo.com.br / http://www.ufsm.br/acustica
Créditos Fotos: Divulgação/UFSM
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Pré-fabricado abre espaço no setor de prédios residenciais
Atualmente, 10% das empresas ligadas à ABCIC já contam com produtos especialmente desenvolvidos para o segmento habitacional
Por: Altair Santos
O setor de construções industrializadas de concreto (pré-fabricado) estima que em 2011 crescerá 20%, em comparação aos 15% alcançados em 2010. Esse percentual refere-se ao crescimento global, que abrange obras comerciais, industriais, de infraestrutura e, sobretudo, residenciais. É neste segmento que o pré-fabricado tem se tornado competitivo. Em 2009, em média, cada uma das empresas ligadas ao setor havia empreendido 10 mil m² em projetos habitacionais. No ano passado, esse número subiu para 30 mil m². A estimativa é de que em 2011 (os números só devem ser fechados no final do ano) o volume seja ainda mais relevante.

Atualmente, 10% das empresas ligadas à Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC) já contam com produtos especialmente desenvolvidos para o segmento habitacional – todas elas credenciadas com o “selo de excelência ABCIC”, que integra qualidade, segurança e respeito ao meio ambiente. Agora, com o recente lançamento da segunda etapa do Minha Casa, Minha Vida, a expectativa é de que o pré-fabricado se consolide como um dos sistemas construtivos capazes de dar agilidade ao programa. “Como entidade entendemos que seguramente temos muito a contribuir com a demanda gerada pelo governo nos programas habitacionais”, avalia Iria Lícia Oliva Doniak, presidente-executiva ABCIC.
Segundo ela, o que precisa é que o governo federal retire barreiras que atrapalham o setor. “Diferentemente do que ocorre nos países desenvolvidos, no Brasil a carga tributária que incide sobre as construções com pré-fabricados de concreto é maior do que sobre os sistemas convencionais, o que, em alguns casos, inviabiliza a adoção do sistema”, aponta Iria Doniak. Por isso, para induzir a construção industrializada, a ABCIC, desde 2009, possui o Comitê Habitacional e o Subcomitê de Habitação de Interesse Social. O primeiro, para tratar das questões habitacionais, independentemente do tipo de empreendimento; o segundo, com foco nas habitações populares.
A presidente-executiva da ABCIC cita que recentemente esteve na Finlândia, participando de evento da Federação Internacional do Concreto (FIB), e que naquele país europeu a pré-fabricação em concreto para estruturas abrange 50% do mercado, enquanto a aplicação em empreendimentos habitacionais atinge 80%. “Poderíamos dizer que andar em Helsinki é como estar numa “Precast land” (terra dos pré-fabricados)”, diz, completando que no Brasil um case foi a reconstrução de moradias no Morro do Bumba, em Niterói – região atingida por deslizamentos em 2010 -, usando o pré-fabricado.
Porém, além das aplicações de cunho social, o pré-fabricado comporta atualmente desde edifícios de alto padrão até prédios comerciais de múltiplos pavimentos. “Como estamos falando de estrutura, embora haja variações de dimensionamento de elementos estruturais em função do número de andares e outras características, é importante ressaltar que a qualidade dos materiais empregados é a mesma, independentemente da aplicação”, afirma Iria.
Segundo a presidente-executiva da ABCIC, as vantagens de se adotar o sistema em pré-fabricados de concreto são as seguintes:
- Construções com menores prazos para entrega, unindo maior velocidade à redução dos custos fixos, proporcionando a garantia de retorno financeiro rápido.
- Busca de maior qualidade, produtividade e redução de desperdícios.
- Sustentabilidade.
- Mão de obra qualificada.
- Resistência ao fogo.
“Quando produzimos as peças em pré-moldado na indústria, o processo de canteiro de obras diz respeito somente à montagem, ou seja, é seco. Não há necessidade de produção de concreto ou concretagem no local. Na indústria, em ambiente controlado, é mais fácil racionalizar o processo, reaproveitar água e produzir baixo percentual de resíduos sólidos em canteiro”, garante.
Além de avançar no segmento habitacional, as estruturas de concreto pré-fabricado são aplicáveis em obras industriais, comerciais, habitacionais, shopping centers, escolas, hipermercados, centros de distribuição e logística e estádios de futebol. “Para as obras da Copa de 2014, boa parte dos estádios em construção ou em reforma usarão o pré-fabricado. Estas aplicações se dão sem tolher a liberdade arquitetônica. Foi-se o tempo em que a imagem do pré-fabricado era associada somente a galpões industriais, embora este segmento ainda seja um dos consumidores do produto”, finaliza Iria Lícia Oliva Doniak.

O que é o selo ABCIC
A ABCIC possui um programa denominado “selo de excelência ABCIC”, que integra qualidade, segurança e meio ambiente. Trata-se de um programa evolutivo, no qual as empresas podem ingressar no nível I e gradativamente atingir o nível II ou ingressar diretamente nos níveis II e III. Os níveis possuem enfoques distintos e contemplam em seus requisitos a ABNT NBR 9062 - Projeto e Execução de Estruturas Pré-moldadas, norma técnica aplicável ao setor, NR-18 Norma Regulamentar de Segurança para a Construção Civil, ISO 9001, ISO 14001 e Responsabilidade Social.
No nível I o enfoque é de controle, no nível II garantia e, por fim, no nível III gestão. Este programa é gerenciado pelo CTE Centro de Tecnologia em edificações o qual é responsável pelas avaliações iniciais e semestrais de manutenção das empresas. Há uma Comissão de Credenciamento que é voluntária e composta por representantes de entidades afins (Projetistas Estruturais, Arquitetura, Normas Técnicas, Sindicato da Indústria da Construção Civil entre outras) que detêm a autoridade de validar os processos e promover alterações nas normas estabelecidas,assegurando desta forma a confiabilidade do processo.
A norma de requisitos para obtenção do Selo de Excelo de Excelência bem como todos os regimentos encontram-se disponíveis no site www.abcic.org.br em certificação.
Sugestão
A ABCIC está reeditando o livro “Pré-fabricados de Coletânea de Obras Brasileiras”, uma importante referência de aplicações nos diversos segmentos, lançado em 2008 pela associação e que pode ser obtido através do site www.abcic.org.br.
Entrevistada
Iria Doniak, Presidente Executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto)
Currículo
- Engenheira civil graduada pela PUC-PR em 1988
- Atua no setor concreto desde 1986, tendo iniciado suas atividades em Laboratório de Controle Tecnológico, posteriormente atuou em central de concreto, abrangendo gerência operacional e técnica
- De 1997 a 2008 foi consultora da D.O. Engenharia e Projetos, cujo foco principal de atuação foi a construção pré-fabricada
- Membro do Comitê de Revisão da NBR 9062 - Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-moldado
- Membro do Comitê de Revisão da NBR 14861 - Lajes alveolares, no âmbito ABNT entre outras comissões (entre 1998 e 2007)
- Auditora BVQI (Bureau Veritas Quality International) para os programas ISO 9001 e PBQP-h
- Diretora de Qualidade ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) de 2003 a 2007
- Diretora Executiva da ABCIC de 2008 a 2010
- Presidente Executiva da ABCIC a partir de outubro de 2010
- Representante da ABCIC na FIB (Federation Internationale du Beton) onde é membro da Comission 6: Prefabrication FIB
- Membro do Conselho Diretor IBRACON (atual gestão), como representante da ABCIC e do Conselho Editorial revista Concreto e Construções/IBRACON
Contato: iria@abcic.org.br
Créditos fotos: Divulgação/Governo do RJ/ABCIC