Tecnologia reduz tempo de construção de usinas

Atualmente, hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte são as obras de infraestrutura que mais consomem concreto no Brasil

Por: Altair Santos

Desde a usina de Hoover, erguida na década de 1930 no rio Colorado, nos Estados Unidos, os métodos para se construir UHEs (hidrelétricas de grande porte) se mantêm praticamente inalterados. Evoluíram os equipamentos, a tecnologia e os materiais, mas o conceito não mudou. Entre as inovações agregadas, a principal surgiu nos anos 1970, com o concreto compactado com rolo (CCR).  Recentemente, o concreto refrigerado também passou a ser utilizado na construção de barragens.

Antônio Fernando Krempel, diretor presidente da Intertechne: "Equipamentos usados nas obras de hidrelétricas evoluíram muito desde Itaipu”.

No Brasil, a primeira UHE a usar concreto compactado com rolo foi Itaipu. A maior hidrelétrica do país consumiu 12,6 milhões de m³ do material. Atualmente as usinas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, que estão em construção na bacia do Amazonas, utilizam o concreto refrigerado. A diferença para o CCR é que esse material diminui o risco de fissuras e absorve menos cimento. Por isso, juntas, as três hidrelétricas em obras irão envolver um consumo de 9,8 milhões de m³ de concreto - pouco mais de 2/3 do que foi gasto em Itaipu.

Segundo o engenheiro civil Antônio Fernando Krempel, diretor presidente da Intertechne - empresa especializada em empreendimentos hidrelétricos - além do tipo de concreto usado na obra, o projeto também influencia no consumo de cimento. "Para cada projeto há uma solução específica compatível com as características do local, de topografia, de fundação, das características do material da fundação e das características do rio. Em função disso, existem barragens de solo, barragens de enrocamento, barragens de concreto, barragens de concreto rolado, enfim, diversas soluções. Cada uma vai demandar um volume de concreto", explica.

Krempel lembra que o cimento pozolânico é hoje o mais aplicado em obras de hidrelétricas, segundo ele por apresentar menos problemas de reatividade aos agregados. O engenheiro destaca ainda os softwares usados para projetar as UHEs e os equipamentos disponíveis. "A tecnologia embarcada é muito mais sofisticada do que há 30, 40 anos, quando Itaipu foi construída. Tudo isso resulta em obras com tempo de conclusão mais rápido. Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, há 30 anos, seriam construídas em oito anos. Hoje, ficarão prontas em três, no máximo quatro anos", avalia.

O especialista ressalta que a engenharia brasileira dispõe de recursos próprios para construir suas  hidrelétricas. Além disso, ele lembra que atualmente o país conta com profundo conhecimento de geotecnologia para detectar o solo ideal para o erguimento de usinas.  "A grande maioria das hidrelétricas é assentada em rocha. Então, hoje, a geologia e a topografia é que determinam que tipo de barragem será construída", diz Antônio Fernando Krempel, lembrando que muitas delas nem necessitam de acentuadas quedas d'água para gerar energia. "Belo Monte é um exemplo", completa.

Santo Antônio

Santo Antônio, também no rio Madeira: consumo estimado de 3,2 milhões de m³ de concreto.

A expectativa é que a usina de Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, comece a operar ainda no primeiro semestre de 2012. O canteiro de obras da hidrelétrica atualmente envolve 13 mil trabalhadores.  Quando totalmente concluída, em 2015, sua potência instalada será de 3.150 megawatts. A construção está a cargo da Odebrecht e o volume de concreto estimado é de 3,2 milhões de m³. Uma curiosidade é que a usina terá as maiores turbinas do tipo bulbo do mundo.

 

 

 

 

 

 Jirau

Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira: previsão de entrar em funcionamento em 2012.

Também em construção no rio Madeira, em Rondônia, a hidrelétrica de Jirau, quando pronta, terá consumido 2,8 milhões de m³ de concreto. No pico, a obra que está a cargo da Camargo Corrêa, terá 22 mil trabalhadores em seu canteiro de obras. A expectativa é que a UHE comece a produzir energia a partir do terceiro trimestre de 2012. Quando totalmente  concluída, entre 2013 e 2014, terá potência instalada de 3.750 megawatts.

 

 

 

 

 

 Belo Monte

Belo Monte: imprescindível para o desenvolvimento do Brasil neste século.

A hidrelétrica em construção no rio Xingu, no Pará, terá suas obras aceleradas em 2012, mas deve ser concluída em 2019. A cargo do consórcio Norte Energia, a usina irá consumir 3,8 milhões de m³ de concreto e, quando pronto, terá potência instalada de 4.571 megawatts. Hoje, o canteiro de obras tem 4 mil trabalhadores, mas no pico irá gerar 18.800 empregos.

Saiba mais sobre Belo Monte: Clique aqui

 

 

 

 

Entrevistado
Antônio Fernando Krempel, diretor presidente da Intertechne - empresa especialista em projetos de hidrelétricas
Currículo

- Antônio Fernando Krempel é engenheiro civil pela Universidade Federal de Uberlândia (1978).
- Tem MBA - Gestão de Empresas, ISAD/Un. do Texas - Austin; MBA - Marketing, ISAE/ FGV e é mestre em gestão de projetos, ISAE/ FGV e Universidade de Lille.
- Engenheiro da Intertechne Consultores S.A. desde maio de 2003. Teve participação abrangente em vários assuntos ligados ao planejamento, projeto e construção de empreendimentos hidrelétricos e de infraestrutura, tanto no Brasil como na América Latina e na África. Desde março de 2009 exerce o cargo de diretor presidente da empresa.
Contato: fkrempel@intertechne.com.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Tecnologia faz pontes estaiadas proliferarem no Brasil

Avanço dos cálculos estruturais, através de softwares, permitiu que modelo construtivo se tornasse o ideal para vãos acima de 120 metros 

Por: Altair Santos

A arquitetura de pontes no Brasil tem dado preferência para o modelo estaiado. Em São Paulo, a Octavio Frias de Oliveira inspirou outras capitais. Curitiba, por exemplo, terá sua primeira ponte estaiada, cortando a Avenida das Torres. Em Manaus, atravessando o rio Negro, foi inaugurada recentemente a segunda maior ponte estaiada do mundo sobre água doce. Seria um modismo? Para o engenheiro civil Catão Francisco Ribeiro, considerado o "pai da ponte estaiada" no país, trata-se de um avanço tecnológico. "Os programas de cálculos estruturais evoluíram muito, o que permitiu aos projetos de pontes estaiadas saírem da teoria para a prática, que é o que a gente chama hoje de o estado da arte", diz.

Catão Francisco Ribeiro, considerado o "pai da ponte estaiada" no Brasil: "Não é modismo, é avanço tecnológico” .

A recomendação técnica é que a opção por projetos de pontes estaiadas prevaleça quando existirem vãos acima de 120 metros. No entanto, ensina Catão Francisco Ribeiro, há situações - principalmente em áreas urbanas - em que a ponte estaiada pode ser a melhor opção mesmo com vãos menores.  "Ela permite trabalhar com tabuleiros finos. Então, às vezes, há pouco espaço entre o lugar onde vai passar o veículo em cima e o lugar onde vai passar o veículo embaixo. Isso obriga a lançar mão de estruturas mais esbeltas", explica, completando que a questão estética também influencia. "Por vezes, o município busca uma referência arquitetônica. Neste caso, é o apelo estético que decide."

A dimensão dos vãos a serem vencidos pelas pontes estaiadas também influencia no custo da obra. "Quanto maior o vão, maior o custo", resume Catão Francisco Ribeiro, ressaltando, porém, que questões ambientais também têm peso na escolha de projetos de pontes estaiadas. "Se o projeto for para uma ponte sobre um rio, e o meio ambiente não permite que se mude a condição de fluição das águas, então você é compelido a fazer um pilar numa margem e um pilar na outra. Isso faz com que o vão aumente e consequentemente o custo da obra aumente. Se for possível colocar pilares dentro da água, para fazer vãos menores, a obra fica mais barata."

Autor de 20 projetos de pontes estaiadas, Catão Francisco Ribeiro trabalha atualmente numa obra em Piracicaba, no interior de São Paulo, em que a encomenda é que o viaduto, além de estaiado, sirva também de mirante para a cidade. "Muitos dos meus projetos se transformaram em elementos turísticos dentro das cidades. Em Teresina, no Piauí, única capital nordestina sem praias, a ponte estaiada tem um mirante panorâmico em que é possível enxergar o mar. Orgulha-me também ter projetado a ponte sobre o rio Negro, em Manaus. É uma obra já considerada tão relevante quanto a ponte Rio-Niterói. Esse  é o verdadeiro estado da arte", elogia.

Outra obra relevante da qual o engenheiro civil participou foi a construção do viaduto Octavio Frias de Oliveira, em São Paulo.  O projeto ganhou prêmios internacionais por seus cálculos aprimorados. "Ela tem um tabuleiro curvo com um raio muito fechado. Tem um cruzamento de estais e um arco em X. É uma obra de engenharia muito antes de ser uma obra de arquitetura. O objetivo principal, que era transpor o rio Pinheiros da melhor maneira possível, foi cumprido milimetricamente", afirma. Catão destaca ainda que hoje só é possível construir pontes estaiadas no Brasil graças a três centros tecnológicos que permitem testes de ensaio em túnel de vento: o do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em São Jose dos Campos-SP, o do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em São Paulo, e o da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) em Porto Alegre. "Temos tecnologia 100% nacional para construir nossas pontes estaiadas", afirma.

Saiba mais

Pontes estaiadas são compatíveis com estruturas pré-moldadas. A que transpõe o rio Negro contou com segmentos de sete metros, que pesavam 250 toneladas e foram moldados in loco. Esse tipo de obra também não requer concretos especiais, apesar de consumir uma quantidade maior de aço em sua estrutura.

Ponte estaiada no Pará, sobre o rio Guamá: construção está presente em todas as regiões do país.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entrevistado
Catão Francisco Ribeiro, engenheiro civil e diretor executivo da Enescil Engenharia de Projetos
Currículo

- Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1975)
- Tem pós-graduação em Pontes pela POLI (1978-1979)
- Cursou a faculdade de Economia e Administração da USP (1983-1984)
- Possui cursos de programação no ITA (1970) e de elementos finitos para aplicação em stress e stardine, na Control Data Systems, nos Estados Unidos
- É diretor executivo da Enescil Engenharia de Projetos, fundada em 1970. Responsável técnico por mais de 1.600 projetos estruturais de obras de arte especiais
Contato: eng.projetos@enescil.com.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Construtoras investem no conceito "morar e trabalhar"

Seja no formato Home Urban Business ou Live & Work, novos empreendimentos aliam, em um só complexo, residência, escritório e shopping

Por: Altair Santos

Diante de um mercado cada vez mais exigente e concorrido, as construtoras e incorporadoras estão constantemente em busca de novos conceitos. A ideia é oferecer mais conforto e mais serviços, de preferência em um só empreendimento. É nisto que se baseia a filosofia "morar e trabalhar", que tem norteado os recentes lançamentos no Brasil.

7Th Avenue, da Thá: torres residencial e corporativa dividindo o mesmo espaço.

Do inglês Live & Work ou Home Urban Business (HUB), o conceito reúne unidades residenciais e comerciais, além de espaços para compras e entretenimento, como num shopping center. São edificações que têm um público alvo: o profissional jovem e o empreendedor ousado. "Quem adere a esse modelo tem um perfil extremamente exigente. Ele busca morar e trabalhar em localizações privilegiadas. Por isso, o empreendimento tem de ser inovador”, explica João Auada Jr., diretor de negócios da Tecnisa.

Atualmente, quase todas as capitais brasileiras têm lançamentos que perseguem a ideia de "morar e trabalhar", o que não é uma exclusividade do mercado nacional. Trata-se de uma tendência mundial do setor imobiliário. Outra característica desses empreendimentos "mixed use" é que eles buscam áreas urbanas que carecem de revitalização. Em Curitiba, há dois bons exemplos com esse perfil: o 7th Avenue, da Thá, e o HUB, da Tecnisa.

No caso do 7th Avenue, seu projeto tem como proposta valorizar o antigo bairro industrial do Rebouças - localizado perto do centro da capital paranaense. Já o HUB surge para revitalizar a área próxima da reitoria da Universidade Federal do Paraná e do Teatro Guaíra. Os dois empreendimentos se inspiram no conceito aplicado no SoHo - bairro da região de Nova York, que entre os anos 1980 e 1990 passou por um processo de renovação urbana e transformou-se em pólo de entretenimento, turismo e negócios, além de referência para outros países.

Público alvo do HUB é o jovem executivo, que busca infraestrutura e comodidade.

Os modelos de construção destes empreendimentos também se assemelham. Geralmente são torres independentes, sendo uma comercial e outra residencial. Na ala habitacional, os apartamentos têm no máximo dois quartos e área útil inferior a 70m².  No setor dos escritórios, as salas não costumam ter mais de 90m². "Tudo é pensado para otimizar os espaços", diz o gerente de produto da Thá Incorporadora, Valdecir Scharnoski.

Outra característica de edifícios com esse conceito é que eles buscam certificações que os identifiquem como "prédios verdes". Em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, imóveis que perseguem a sustentabilidade já dominam quase metade dos lançamentos. Na capital paranaense, englobam 48,3% dos novos empreendimentos lançados a partir de 2011. Em território paulistano, são 47,2% e no Rio chegam a 40,8%. Nas mesmas três capitais, o conceito "morar e trabalhar" já envolve 15% dos novos empreendimentos.

Entrevistados
Assessorias de imprensa das construtoras Thá e Tecnisa

Mais informações

Thá e Tecnisa

Créditos foto: Thá e Tecnisa

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Investir em educação continuada atrai inovação

Promover a busca do conhecimento deve ser mais do que uma orientação da empresa. Precisa estar incorporado ao DNA da companhia

Por: Altair Santos

O que se define hoje de mundo corporativo não consegue mais caminhar dissociado da educação continuada. É através dela que as empresas estabelecem suas estratégias e potencializam a competitividade. Sob o ponto de vista dos profissionais, a educação continuada tornou-se sinônimo de empregabilidade. "Para as companhias, significa a porta de entrada para novos projetos, negócios e inovações. Para os profissionais, é a oportunidade de reciclagem", explica o administrador de empresas Izoulet Cortes, coordenador executivo do Curitiba Offshore Center, vinculado ao Sebrae-PR.

Izoulet Cortes: área da Tecnologia da Informação teve salto de qualidade no Paraná ao investir em educação continuada.

Segundo o especialista, hoje boa parte das empresas brasileiras, direta ou indiretamente, tem a educação continuada agregada ao seu dia a dia. No caso das médias e grandes corporações, ele serve para planejar e direcionar negócios. "Também funciona para a descoberta de processos inovadores, mas não significa necessariamente que essas empresas gerem conceitos inovadores. Esse papel cabe mais às micro e pequenas empresas, normalmente com até dez funcionários. É nesse ambiente onde acontecem as inovações de fato, porque, por necessidade, as micros e pequenas precisam criar alternativas para sobreviver no mercado”, diz Izoulet Cortes.

Outro ponto importante é como a educação continuada é colocada em prática nas médias e grandes empresas e nas micro e pequenas. "Nas pequenas, muitas vezes o profissional se forma por conta, percebe as necessidades do mercado e faz esse direcionamento. Os bem sucedidos acabam absorvidos pelas médias e grandes e levando as inovações para essas corporações. Já os que estão nas grandes companhias geralmente têm o seu processo de educação continuada direcionado pela empresa", revela o administrador.

APL

Para estimular as empresas a praticarem a educação continuada, os estados da região sul têm incentivado os chamados APL (Arranjos Produtivos Locais). Eles fazem parte de uma política nacional que começou antes de 2003 e que hoje está incorporado no Plano Brasil Maior. Através deste projeto, setores calçadista e de vestuário ganharam impulso no Rio Grande do Sul e no Paraná, onde também há uma APL na área de TI (Tecnologia da Informação) e software. Participam destas ações o ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as agências de desenvolvimento e o Sebrae.

Com o incentivo dos APL, o Paraná galgou o segundo lugar, dentro do país, em quantidade de empresas certificadas reconhecidas internacionalmente em tecnologia de informação. "Isto é educação continuada: você incorpora valores, investe na empresa, trabalha os profissionais, certifica estes profissionais e todo mundo ganha em eficiência", afirma Izoulet Cortes, avaliando que a construção civil deve se preparar para seguir o mesmo caminho. "Já existem iniciativas fortes, dentro do Paraná e do Brasil, para incentivar a capacitação da mão de obra no setor.  Não há como fugir disso, já que trata-se de uma área que agregou novos equipamentos e técnicas de construção que exigem mais do perfil do profissional", finaliza.

Entrevistado
Izoulet Cortes, coordenador executivo do Curitiba Offshore Center
Currículo
- Graduado em Administração de Empresas, com pós-graduação em política, estratégia e planejamento pela ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial)
- É consultor regional para internacionalização de Empresas de TI e Software e gerente de projetos junto ao Centro Internacional de Tecnologia de Software  (CITS)
- Atua como consultor do programa de alianças empresariais (SOFTEX / BID)
- Trabalhou no processo de consolidação do APL de Software de Curitiba e é atualmente o Coordenador Executivo do Curitiba Offshore Center, consórcio de exportações de empresas de Software e TI
Contato:izoulet.cortes@cits.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Falta consenso sobre patologias do concreto

Doutor em engenharia civil, Paulo Roberto do Lago Helene alerta que estruturas precisam ter programas de manutenção bem definidos

Por: Altair Santos

Sumidade em patologias do concreto, o doutor em engenharia civil Paulo Roberto Lago Helene usa o exemplo do que aconteceu recentemente com a ponte dos Remédios, em São Paulo, para fazer uma avaliação de como o poder público trata obras que deveriam receber manutenção periódica, mas muitas vezes são abandonadas à própria sorte. 

Paulo Roberto do Lago Helene: "Não há ainda critérios claros que definam a durabilidade do concreto”.

Além disso, ele faz uma avaliação crítica das falhas que ocorrem nos projetos e no uso dos materiais, apesar de hoje em dia existir muito mais diversidade e qualidade do que havia há 20 anos. O especialista também chama a atenção para a falta de consenso sobre as patologias que afetam a durabilidade do concreto, alertando que o material não é eterno. Confira a entrevista:

No final de novembro de 2011, ruiu parte da mureta de proteção da ponte dos Remédios, em São Paulo. A falta de manutenção em estruturas de concreto é o principal motivo para casos de patologias em obras, como esse exemplo?
Sem dúvida. Falta de manutenção no sentido estrito, de fazer algo, e falta de manutenção no sentido amplo, ou seja, falta um plano de inspeção periódica, falta um critério de avaliação, falta massa crítica para elaborar um diagnóstico correto e falta conhecimento e honestidade para elaborar um projeto de intervenção corretiva que seja factível, econômico e durável.

Por que os setores públicos têm tanta carência neste tipo de intervenção? Seria falta de recursos?
O setor técnico responsável tem falta de recursos (material, técnico e humano) porque depende de uma atitude e decisão política, que, infelizmente, privilegia outras necessidades.

Ainda hoje, as estruturas são executadas sem a devida atenção para a questão da durabilidade?
A questão da durabilidade é bastante complexa. As normas NBR 6118 (Projeto de estruturas de concreto) e NBR 12655 (Preparo, controle e recebimento do concreto) deram um grande passo, mas ainda são formas indiretas e aproximadas de tratar o problema. Na verdade não há nenhum critério claro e consensual de definir estados limites de serviço para durabilidade nem critérios para definir estados limites últimos (ELU). Veja, por exemplo o caso de AAR (alcali aggregate reaction): qual a abertura da fissura para se considerar o ELS (estados limites de serviço) ou ELU por conta de AAR ou RAA? No caso de fissuras de retração, qual a abertura limite? E quanto à corrosão? O ELS é quando a frente de carbonatação chega à armadura, quando chega no meio da armadura ou quando envolve toda a armadura? Não existe ainda um sequer estado limite bem definido. Então, como cobrar isso do serviço público? Teríamos de contar com o bom senso deles, o que politicamente falando é muito complicado.

Faltam projetos adequados ou as falhas são na execução?
A maioria das falhas mais graves são sempre de projeto. No caso do exemplo citado na primeira pergunta, foi corrosão de armadura da laje da calçada de pedestres. Porém houve, em 1977, a intervenção corretiva dessa ponte e o projeto não previu a correção da calçada.

Fenômenos climáticos e poluição estão exigindo mais das estruturas em concreto?
Sem dúvida, mas essa ponte citada tem hoje quase 50 anos, ou seja, estaria chegando no limite da vida útil de projeto atualmente consensual. Essa é mais uma razão muito forte para que a PMSP (Prefeitura Municipal de São Paulo) se preocupasse mais com uma manutenção e certamente intervenção corretiva capaz de estender essa vida de 50 anos para mais outros 50 anos.

As edificações que usam concreto estão mais expostas a quais patologias mais frequentemente?
As estruturas de concreto são as mais duráveis. Resistem melhor a diversos meios agressivos e permitem construir reservatórios de água, estações de tratamento de esgotos, fábricas de celulose e papel, siderúrgicas e muitas outras obras impensáveis com outros materiais estruturais, como madeira, aço, cerâmica, etc. Houve um grande período da humanidade que essas estruturas de concreto eram consideradas eternas. Hoje sabemos que isso não é verdade e, mesmo muito resistentes, devem ser objeto de um programa de manutenção.

Os materiais disponíveis atualmente no mercado são adequados para se construir com qualidade?
Sem dúvida. Nos últimos 20 anos houve uma evolução fantástica e positiva na qualidade e diversidade de materiais, mais resistentes do ponto de vista mecânico e muito mais duráveis. Aditivos redutores de água, aditivos redutores de retração, adições ativas de metacaulim e sílica ativa e cinza de casca de arroz, cinzas volantes, escórias de alto forno, calcário moído, fibras de aço e de polipropileno - enfim, só para citar algumas - não havia há 20 anos e hoje conduzem a concretos muito duráveis. Só precisa saber usar. O cimento hoje é muito melhor e mais homogêneo que há 20 anos. O problema é que ficou tão bom que os desavisados não perceberam que em lugar de especificar, projetar e construir com um concreto de 20 MPa, que tem no traço 250 kg de cimento e fator água/cimento de 0,75, mas não vai ser durável, o correto seria especificar um concreto de fck 35 MPa, pois teríamos 300 kg de cimento e um fator a/c menor que 0,55. Novamente é uma falha com origem no projeto, que especifica um concreto inadequado para as altas qualidades e desempenho dos cimentos atuais. Na verdade, todo projetista estrutural deveria saber que os concretos mais sustentáveis são os de alta resistência, acima de 40 MPa. Não só muito mais duráveis como também mais sustentáveis, pois apresentam melhor rendimento, ou seja, melhor índice de MPa/kg de cimento, reforçando a máxima da sustentabilidade, que é fazer mais com menos.

Na questão da qualificação profissional, os engenheiros atuantes no mercado da construção civil estão preparados para enfrentar esses desafios, principalmente as questões de patologias colocadas pelo senhor?
Infelizmente não. Hoje não há como imaginar a profissão do engenheiro se não como uma profissão em crescimento permanente e dinâmica, que requer uma educação continuada por toda a vida. A universidade, na graduação, fornece os instrumentos e ferramentas básicas, conceituais, mas a atualidade deve ser obtida ao longo da carreira através de cursos, eventos, congressos, revistas técnicas, livros, workshops, feiras, cursos de especialização, MBAs, pós stricto sensu, latu sensu, etc. Ser autodidata hoje é imprescindível.

E quanto aos cursos de engenharia civil no Brasil: eles formam profissionais preparados para enfrentar esses problemas ou boa parte dos graduados precisa buscar aperfeiçoamentos posteriores para saber entender sobre patologias do concreto?
Qualquer engenheiro hoje, bem formado, tem muitas vezes mais conhecimentos que eu quando me formei há 40 anos. Naquela época da década de 1970 mal tinha concreto usinado, mal tinha concreto bombeado, mal tinha concreto projetado. Não tinha grua, não tinha ISO 9000, não tinha concreto com fibras, nem autoadensável, nem de alta resistência, nem translúcido, nem fotogravado, nem colorido, nem ISO 14000, nem ISO de vida útil, nem ISO de ciclo de vida, nem ISO de responsabilidade social, nem NR 18, nem NBR 15575, etc. O problema é administrar todo esse conhecimento. Precisa fazer parte de um grupo, de uma boa equipe e saber trabalhar em grupo, ou seja, ser flexível, querer aprender sempre, a vida toda.

Entrevistado
Paulo Roberto do Lago Helene, mestre e doutor em engenharia civil, palestrante especialista em patologias do concreto
Currículo
- Engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1972) e especialista em Patología de las Construcciones pelo Instituto Eduardo Torroja em Madri, Espanha
- É também doutor em engenharia, com pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley.
- Atualmente é pesquisador e consultor de empresas privadas e entidades.
- Orientou 27 dissertações de mestrado e 13 teses de doutoramento, já concluídas, sendo que a maioria desses titulados são atualmente pesquisadores e professores de reconhecidas instituições de ensino e pesquisa.
Contato:paulo.helene@concretophd.com.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

SindusCon-PR prevê mais crédito imobiliário para 2012

Estimativa é que oferta cresça até 30% e consolide o Paraná como um dos cinco estados que mais recebem investimentos na construção civil

Por: Altair Santos

Em seu mais recente balanço anual, o SindusCon-PR (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Paraná) apresentou números positivos. Previu um VAB (Valor Acrescentado Bruto) - o PIB do setor - consolidado em 4,8% para 2011 e estimou que em 2012 o índice atingirá 5,2%. Além disso, estimou que o crédito imobiliário seguirá em alta. A expectativa é que haja crescimento de 30% na oferta de recursos para construções habitacionais, o que fará com que o segmento siga como a locomotiva da construção civil no Paraná.

Paraná alcançou em 2011 o posto de número um no mercado imobiliário da região sul.

Segundo o presidente do SindusCon-PR, Normando Baú, as projeções para 2012 são sustentáveis, sobretudo por que o programa Minha Casa, Minha Vida tem uma demanda grande de contratos a serem firmados no Estado e por que a tendência é que as obras vinculadas ao evento Copa do Mundo de 2014 finalmente ganhem intensidade. "Teremos um volume grande de obras, principalmente em Curitiba, e isso garante um crescimento sustentável", diz Baú, cujo sindicato engloba três mil construtoras no Paraná - a maior parte de pequeno porte.

Além da capital paranaense, Londrina é a outra cidade do Estado com previsão de um número acentuado de obras. Por isso, avalia o SindusCon-PR,  o Paraná seguirá liderando a região sul na construção civil, consolidando-se como o quinto principal do Brasil no setor. "A economia estadual desacelerou menos no fim de 2011 do que em outros estados, o que estimula projeções positivas", analisa Marcos Kahtalian, diretor de marketing do SindusCon-PR.

Outra expectativa é que a construção civil paranaense se mantenha aquecida por conta do programa recentemente lançado pela prefeitura de Curitiba para mudar o perfil urbano da Linha Verde, e cujo investimento estimado é de R$ 3 bilhões. No balanço divulgado pelo SindusCon-PR, esse empreendimento é considerado um dos mais relevantes para 2012. "Com a possibilidade de ampliar as construções em altura, teremos maior volume de habitações e, consequentemente, mais emprego, renda e arrecadação ao município”, afirma Normando Baú.

O SindusCon-PR, no entanto, considera que há gargalos a serem superados no Estado para que a construção civil paranaense apresente números ainda mais relevantes. Entre eles, está a qualificação da mão de obra e o investimento na industrialização do setor. Por isso, em 2012, o sindicato pretende incentivar o combate à informalidade no interior do Paraná, para que os canteiros de obra atinjam níveis iguais aos já alcançados em Curitiba e região metropolitana. Também está nos planos do SindusCon-PR estimular o uso de tecnologia e racionalização de processos. “Ainda é necessário consolidar o setor, principalmente no que se refere a melhorar etapas de industrialização", conclui Marcos Kahtalian.

Entrevistados
Normando Baú e Marcos Kahtalian, respectivamente presidente e diretor de marketing do SindusCon-PR (via assessoria de imprensa)
Contato:
imprensa@sindusconpr.com.br (assessoria de imprensa)

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Projeto muda perfil urbano da Linha Verde

Prefeitura de Curitiba  estimula mercado imobiliário a construir no entorno da avenida, que envolve 22 bairros da capital 

Por: Altair Santos

A cadeia produtiva da construção civil instalada em Curitiba ganhou o incentivo que precisava para manter-se superaquecida. A prefeitura da cidade vai colocar em andamento, a partir de 2012, a Operação Urbana Consorciada Linha Verde. Trata-se de um programa que pretende estimular o mercado imobiliário a construir no entorno da avenida, e que engloba 22 bairros da capital paranaense. O plano será incentivado pela emissão de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). São títulos de potencial construtivo, que, segundo projeções da prefeitura, devem gerar investimento de R$ 3 bilhões ao longo de 4 anos. 

Linha Verde: certificados de potencial construtivo devem atrair R$ 3 bilhões em 4 anos.

 

Os Cepacs potencializam uma área de construção de 4,475 milhões m2 ao longo do eixo urbano que corta Curitiba de norte a sul. Os títulos serão lastreados pela Câmara de Valores Mobiliários (CVM) e terão valor mínimo de R$ 200,00. A partir da vigência da lei, que ainda tramita na Câmara de Vereadores de Curitiba, o município poderá negociar os Cepacs na Bovespa (Bolsa de Valores do Estado de São Paulo) emitindo em etapas 4,83 milhões de títulos, que poderão ser comprados por pessoa física ou jurídica. "O projeto representará um incremento significativo de obras, a partir da parceria público-privada”, avalia o presidente do SindusCon-PR, Normando Baú. 

A operação pretende mudar o perfil do entorno da Linha Verde, que hoje ainda concentra empreendimentos muito vinculados aos tempos em que o eixo era apenas uma extensão da BR-116. "A intenção do projeto é a diversificação de uso. Então, um percentual será para o setor habitacional e outros para negócios, como shopping centers, edifícios comerciais ou de uso misto", explica o arquiteto e urbanista Alexandre Pedrozo, da Ambiens Sociedade Cooperativa - Observatório de Políticas Públicas. Para implementar a mudança, a prefeitura de Curitiba dividiu a avenida em 3 setores: norte, central e sul. 

Ao norte serão 1,28 milhão m2, dos quais 75% (960 mil m2) para empreendimentos residenciais e 25% (320 mil m2) para não residenciais (comércio e serviços). Na área central, 1,27 milhão m2 - 60% (765 mil m2) para residências e 40% (510 mil m2) para edificações não residenciais. Ao sul, 1,92 milhão m2 de área adicional de construção, sendo 80% (1.535 mil m2) para habitações e 20% (385 mil m2) para empreendimentos comerciais. 

Revisão do atual projeto 

Os 3 setores somam 4,475 milhões de m2 de área, sendo 73% (3,26 mil m2) para habitações e 27% (1,21 mil m2) para o comércio e serviços. "A Operação Urbana redesenha o produto imobiliário da cidade. Ao invés de eu lançar o meu empreendimento de escritórios na rua X, eu vou lançar na Operação Urbana da Linha Verde. Em termos de diversificação de uso, o projeto está bem interessante", complementa Alexandre Pedrozo, destacando que a operação também irá propiciar uma revisão do atual projeto da Linha Verde, permitindo, por exemplo, que cruzamentos sejam substituídos por trincheiras. "Haverá também uma requalificação no projeto." 

O plano prevê a construção de 9 trincheiras e 18 praças (duas por trincheira, uma em cada lado) para o acesso e a transposição segura da Linha Verde por pedestres e ciclistas. Os equipamentos serão implantados entre as estações de transporte. Serão passagens livres, sem cruzamentos, distantes um quilômetro entre si, que valorizarão os empreendimentos pela facilidade de transposição e a existência de áreas verdes. Sob o gerenciamento do Ippuc e das secretarias municipais de Meio Ambiente e Obras Públicas, o projeto também irá mapear áreas de riscos de enchentes no entorno da Linha Verde. 

Entrevistado
Alexandre Pedrozo, arquiteto e urbanista da Ambiens Sociedade Cooperativa - Observatório de Políticas Públicas
Currículo

- Arquiteto e urbanista pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
- Especialista em políticas do solo, formado pelo Lincoln Institute, e em produção do espaço urbano e regional
- Trabalha desde 1997 com planos diretores municipais no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul (2003-2006)
- Atuou como consultor do ministério das Cidades e integrou equipes de planos de estruturação urbana nas províncias de Luanda e Kwanza Norte em Angola.
- Também foi professor de especialização da UFPR na disciplina instrumentos de gestão urbana e ambiental
Contato: alexandre@coopere.net

 Crédito: Joel Rocha/SMCS 

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Cimento é material didático da Universidade ABCP

Projeto destina-se a levar aos estudantes de engenharia soluções e tecnologias à base do material que compõe o DNA da associação

Por: Altair Santos

Braço tecnológico da indústria de cimento, a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) tem dado cada vez mais ênfase ao Projeto Universidades, que consiste em levar o ensino dos sistemas construtivos à base de cimento e concreto aos alunos de engenharia civil e arquitetura de várias instituições de ensino. O projeto interage com entidades de ensino técnico e superior e oferece atualização e material didático aos professores. É o que explica o coordenador do projeto, o engenheiro Hugo da Costa Rodrigues Filho, que é gerente de comunicação da ABCP, na entrevista a seguir. Confira:

Hugo da Costa Rodrigues Filho: até 2012, dez universidades estarão conveniadas.

O Projeto Universidades,  da ABCP, foi implantado quando e qual o objetivo?
Oficialmente, ele começou há três anos, em 2008, embora ações similares junto às escolas de engenharia do estado de São Paulo tenham sido conduzidas entre 1997 e 2001, dando à ABCP a base para organizá-lo como hoje ele tem sido conduzido. Entretanto, vale ressaltar que transferir tecnologia através de palestras e cursos faz parte do DNA da associação desde a sua fundação, em 1936. Portanto, há 75 anos ela atua junto às universidades, uma vez que é na academia que está grande parte do conhecimento.

O projeto é direcionado aos professores das universidades de engenharia e arquitetura ou atinge diretamente os alunos?
O projeto destina-se a atingir diretamente os alunos. Isto é, levar a eles o que existe de mais atual sobre sistemas, soluções e tecnologias à base de cimento e que estão sendo aplicados no mercado. Porém, os professores são o canal principal para levar tais informações aos alunos. Daí, sem a participação direta e entusiasmada do corpo docente, é impossível atingir de modo abrangente os alunos. Também deve-se destacar que tão importante quanto o entusiasmo dos professores, é o compromisso da direção da entidade de ensino com a implementação da proposta. Assim, a apresentação do Projeto Universidades da ABCP sempre é feita na presença dos coordenadores e diretores dos cursos ou das reitorias universitárias.

Quantas universidades já são parceiras do projeto?
Somamos hoje dez universidades, sendo sete conveniadas e três em processo, cuja formalização do convênio acontecerá no princípio de 2012. Entretanto, há 26 escolas que já manifestaram interesse e com as quais nos reuniremos para iniciar o processo, que passa pela apresentação à direção da escola e sua sensibilização, adequação de documentos, formalização da parceria e materialização da 1ª edição da proposta acordada.

E sobre as disciplinas, o material didático e a duração do curso?
Por sermos um país tradicionalmente construído em concreto, temos o privilégio de assistir a constante presença do cimento Portland na construção civil. Isso faz com que muitas das disciplinas da grade curricular deem ênfase às soluções que empregam cimento. Por outro lado, isso não é suficiente, porque há sistemas construtivos que são, a cada dia, mais estudados e aplicados no país, e que não são tratados nas escolas. É o caso, por exemplo, dos pavimentos de concreto, que ainda participam de modo tímido do modal de transportes do Brasil, mas cujo emprego está crescendo de modo expressivo, demandando futuros profissionais que conheçam ou já tenham ouvido falar da tecnologia. Desse modo, iniciamos todo o Projeto Universidades com o tema pavimento de concreto, porque ficou claro e comprovado que se trata de assunto não explorado no ensino superior, principalmente porque há uma cultura voltada a pavimentação flexível, ou seja, feita com asfalto. Assim, uma de nossas prioridades é tratar do tema pavimento em concreto, a ser contemplado nas disciplinas de estradas ou transportes dos cursos de engenharia civil.

E quanto ao material didático?
O material didático é totalmente fornecido pela ABCP, composto de cerca de 600 telas de apresentação em power point, mais vídeos e livros, que compõem 16 horas-aula, distribuídas em 5 módulos sequenciais e evolutivos sobre o tema. As aulas devem ser conduzidas diretamente pelos professores da escola, porém se houver alguma dificuldade inicial, em função do ainda pouco conhecimento do tema, instrutores especialistas da ABCP ministram a 1ª edição da atividade. Para 2012, material similar está sendo finalizado sobre alvenaria estrutural com blocos de concreto - outro tema bastante aplicado no mercado e que busca profissionais que o conheçam, mas que também não é tratado nos bancos universitários.

Qualquer universidade pode requisitar a participação no projeto ou a ABCP exige alguns requisitos, como a necessidade de laboratórios equipados, por exemplo?
Qualquer escola pode tomar parte do Projeto Universidades da ABCP. Basta ter interesse e solicitar conhecê-lo, visitando-nos ou pedindo uma visita para apresentação do projeto. Com respeito aos laboratórios, deve-se destacar que boas escolas de engenharia e arquitetura dispõem naturalmente de laboratórios equipados. Entretanto, para os temas mencionados – pavimento de concreto e alvenaria estrutural com blocos de concreto – caso não exista um laboratório, não prejudica o ensinamento dessas tecnologias.

São apenas as universidades que participam ou as escolas técnicas também são contempladas pelo projeto?
Apesar do nome do projeto, as escolas técnicas ou de tecnologia (as FATECs de São Paulo, por exemplo) podem também manifestar seu interesse pelo projeto e solicitar a adesão. Quanto antes acontecer uma ampla e sistematizada abordagem de sistemas ou soluções construtivas à base de cimento comumente aplicadas no mercado, mais cedo aqueles que virão a atuar na cadeia produtiva da construção civil conhecerão o tema e poderão gerenciar mais adequadamente a correta aplicação dessas soluções.

Quantos profissionais da ABCP estão envolvidos no projeto?
Todos os profissionais técnicos da ABCP se envolvem com os projetos da associação, uma vez que todos – projetos e profissionais - são vocacionados e preparados para transferir tecnologias por cursos e palestras. Este é o alicerce do Projeto Universidades: fortalecer uma tecnologia na graduação, por meio da transferência estruturada por cursos e palestras. Neste caso específico, os profissionais que se dedicam aos escritórios regionais da associação assumem um papel fundamental e executam uma tarefa diferenciada, uma vez que são os primeiros a serem acionados no atendimento às escolas interessadas em desenvolver atividades de ensino com a ABCP. Não bastasse o elenco de profissionais próprios, o projeto conta ainda com um grupo de colaboradores terceirizados – consultores especializados – que fortalecem ainda mais a qualidade da abordagem do tema. A coordenação está sob a minha responsabilidade e eu a divido com a equipe da área de comunicação da ABCP que gerencio. São, portanto, mais três profissionais que dedicam parte de suas atividades em me auxiliar na infraestrutura organizacional do projeto.

A duração dos cursos sobre sistemas construtivos à base de cimento e concreto é de quanto tempo?
Cada disciplina que compõe a grade curricular dispõe - em geral – se for semestral, de cerca de 60 horas ou de 120 horas, no caso de uma cadeira anual, o que é uma limitante importante a ser considerada. Em outras palavras, com um número de horas limitado para se cuidar de todos os tópicos da ementa da disciplina, não se pode dispor do tempo que se deseja ou que se considera ideal para tratar de uma determinada tecnologia dentro da ementa. Assim desenhou-se o curso de pavimento de concreto para ser tratado em 16 horas-aula como sendo o tempo “ideal”. Claro que ele pode ser adequado para 8 (mínimo) ou 12 horas e até para mais tempo, o que seria ainda melhor. Entretanto, cada caso é cuidadosamente estudado, uma vez que o mais importante é ter a oportunidade de apresentar uma tecnologia não abordada, ainda que o tempo não seja o mais adequado.

Hoje a ABCP está presente em todos os estados da União? Caso sim, no que isso ajuda no projeto?
Estamos presentes em 12 capitais brasileiras, o que confere à ABCP uma presença marcante. Isso só é possível pelos escritórios e representações regionais, cuja importância para o projeto é fundamental. É através das nossas regionais que damos início, prosseguimento e solidez aos projetos da associação.

Quanto à industrialização na construção civil, o Projeto Universidades tem que tipo de posicionamento?
Pelo que conheço do ensino de graduação de engenharia e arquitetura, não se privilegia, como deveria, a industrialização da construção, pois ela leva à competitividade da obra e da empresa que executa, além de racionalização, ganho de qualidade, redução de desperdício, sem contar que exige maior qualificação da mão de obra. Dentro desses aspectos, os pré-fabricados são a grande vedete da industrialização e o Brasil não fará frente aos desafios da cadeia produtiva da construção civil se continuar empilhando tijolinhos como ainda segue fazendo. Somente a adoção de uma construção industrializada, tendendo à pré-fabricação, é que permitirá atingir melhores resultados. Essa consciência tem de nascer nos bancos universitários e, nesse aspecto, a ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), nossa irmã mais jovem - completou 10 anos de vida em 2011, frente aos 75 da ABCP – também desenvolve importante ação junto ao meio universitário, levando formação sobre o tema para os professores, de modo que eles os transmitam para os alunos. Essa soma de esforços, em breve permitirá ampliar o interesse pela industrialização na construção civil.

Entrevistado
Hugo da Costa Rodrigues Filho, é gerente de comunicação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
Currículo
- Engenheiro civil pela FEB (1977), mestre em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, EPUSP (1993) e especialista em Comunicação e Marketing pelo MBA da Escola Superior de Propaganda e Marketing, ESPM (2002)
- Profissional da ABCP há 35 anos, iniciou sua carreira como pesquisador em cimento e concreto nos laboratórios da Associação, onde trabalhou por 10 anos.
Contato: hugo.rodrigues@abcp.org.br

Créditos foto: Divulgação / ABCP

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Brasil busca modelo próprio para industrializar obras

Dois dos principais especialistas em construção civil revelam o que o país precisa para produzir habitações em alta escala

Por: Altair Santos

A tecnologia está cada vez mais presente na construção civil brasileira, o que permitiria que ela industrializasse sobremaneira os canteiros de obras. No entanto, há obstáculos que impedem esse avanço. Entre eles, a legislação, principalmente a tributária, e também a qualificação da mão de obra. Essas amarras, aliadas a travas culturais, só serão superadas quando o país conseguir encontrar um modelo de industrialização que se adapte às suas exigências legais e às peculiaridades de cada uma das regiões do país, principalmente no setor habitacional. É o que avaliam dois especialistas em industrialização de obras: o professor de engenharia legal Rui Nogueira Paes Caminha Barbosa e a consultora em engenharia civil Maria Angélica Covelo Silva. Confira a entrevista simultânea:

Rui Nogueira: "Existem entraves culturais, técnicos e legais a serem superados”.

Hoje, há um debate sobre a necessidade de o Brasil promover a industrialização da construção civil, para o setor tornar-se mais competitivo. Quais os entraves a serem superados para que isso ocorra?
Rui Nogueira - Em ordem de dificuldade a serem superadas, percebo que existem entraves culturais, técnicos e legais. Não há uma cultura difundida de utilização de processos industriais na construção civil, principalmente no setor residencial. Isso ocorre por algumas razões: rejeição ao novo, por se entender que se perde em identidade de projeto quando há industrialização e ainda porque parte considerável desse setor remanesce bastante pulverizado em pequenas e médias construtoras que entendem, por não terem produção em alta escala, que não aufeririam grandes vantagens com a industrialização do canteiro de obras. Esse elemento cultural pode ser superado pelo próprio mercado, que tende a replicar sempre o que é mais rentável. Ou seja, a partir do momento que as grandes construtoras forem aplicando esses conceitos e que o consumidor perceba vantagem financeira nisso, naturalmente os demais deverão seguir o modelo que melhor responda ao binômio custo x benefício. Nos termos técnicos, é preciso verificar que o Brasil é um país continental e com grandes diferenças regionais, de forma que um modelo de construção civil utilizado no sudeste do país pode não ser a melhor opção para outras regiões mais quentes, como norte e nordeste por exemplo. Nesse caso, talvez um processo descentralizado que aproveite os materiais em abundância de uma determinada região, e que tenha uso mais adequado para aquela área, seja melhor do que uma alternativa homogênea num país extremamente heterogêneo como o nosso Brasil. Também no aspecto técnico há uma carência de pesquisa especializada na área. Por fim, os entraves legais são os de ordem tributária.
Maria Angélica Covelo Silva - Os principais entraves são: capacidade de elaboração de projetos de sistemas industrializados incluindo padronização e coordenação modular, tributação de sistemas industrializados e capacitação de mão de obra para apropriar adequadamente os benefícios dos sistemas industrializados.

Há setores em que a industrialização já é predominante, principalmente em construções como shopping center e supermercados. Por que para essas obras a industrialização funciona e para outras não?
Rui Nogueira - No setor residencial, características como projeto e ambientação são mais relevantes do que nos setores comercial e industrial. A industrialização traz uma série de benefícios, mas com isso também vem algumas padronizações que pode importar em rigidez de projeto. Acomodar mercadorias, em tese, será sempre mais fácil do que acomodar seres humanos, o que demanda um grau maior de personalização em termos de projeto. Também deve-se levar em conta nesse caso o que foi dito anteriormente, com relação ao fato de que o setor comercial e industrial é mais comum às grandes construtoras, as quais têm mais facilidade de adaptação a novas tendências.
Maria Angélica Covelo Silva - Por que nestas obras o investidor/empreendedor precisa colocar o edifício em operação num ciclo curto para ter o retorno do investimento. Então, está disposto a assegurar um fluxo de caixa para a obra que viabiliza os sistemas industrializados. A conta que se faz é que a entrada em funcionamento rapidamente do shopping ou do supermercado representa um faturamento diário de "x" reais. Daí o atrativo de fazer a obra em ciclo curto.

No caso do setor habitacional, haja vista os programas governamentais e a grande demanda por imóveis, por que a industrialização não consegue se fixar?
Rui Nogueira - Acredito que isso esteja mudando e que a industrialização no setor residencial será uma realidade cada vez mais evidente, principalmente no que concerne a grandes projetos habitacionais e àqueles incentivados pelos programas governamentais.
Maria Angélica Covelo Silva - Principalmente em função do fluxo de recursos financeiros que está baseado numa lógica de desembolso mais lenta do que a lógica da industrialização.

O Brasil dispõe de tecnologia, referindo-se a estruturas pré-moldadas, para construir prédios habitacionais?
Rui Nogueira - Diria que o Brasil dispõe de tecnologia para certos tipos de prédios habitacionais, mas possui condições para incrementar aquilo que já possui e desenvolver novas técnicas. Outras regiões do mundo, como Europa e Estados Unidos, estão mais avançadas do que nós nesse quesito.
Maria Angélica Covelo Silva - Sim, dispõe mas isto não é homogêneo em todo o país.

Se fossem adotados processos de industrialização para a construção de habitações populares, por exemplo, o Brasil poderia reduzir o déficit habitacional em um tempo mais curto?
Rui Nogueira - Sim, pois um dos objetivos da industrialização é a redução do prazo da execução do serviço.
Maria Angélica Covelo Silva - Poderia, mas isso não basta para essa redução. Há que ter um programa inteligente de destinação de recursos, a fim de reconhecer quais sistemas industrializados podem ter desempenho superior no setor habitacional.  Outro item importante é a infraestrutura urbana para que se possa instalar estes empreendimentos.

Em termos de custo, uma obra industrializada ainda não consegue ser competitiva com uma obra convencional, por causa da legislação fiscal?
Rui Nogueira - A legislação fiscal atual não permite àqueles que adotam um regime de construção industrializada a tirar o máximo proveito dessa medida. Podemos citar dois casos de entraves tributários: (i) ICMS – as elevadas alíquotas sobre os insumos que integram os sistemas construtivos industrializados acabam por incentivar uso de processos tradicionais (artesanais), com alíquotas inferiores, o que resulta na produção de componentes no próprio canteiro; (ii) INSS – O custo previdenciário na construção civil é tradicionalmente pautado em tabelas de consumo de mão de obra por área construída associado a sistemas construtivos convencionais. Contudo, esse sistema não consegue abarcar os benefícios em economia de mão de obra alcançados pela substituição da produção manufatureira pela industrialização da obra, na qual a produção em fábrica reduziria, em consequência, a mão de obra empregada.
Maria Angélica Covelo Silva - Isso também é forte, mas porque não há uma medição adequada da produtividade e da transferência de ganhos para os preços dos serviços.

O que poderia ser feito para incentivar processos industriais na construção civil?
Rui Nogueira - Dirimir os entraves que mencionamos antes, cultural, técnico e fiscal. Os dois primeiros podem ser resolvidos pelo próprio setor privado da construção civil, o que torna mais fácil a solução. O terceiro item, entraves fiscais, como depende de alteração da legislação, ou pelo menos do entendimento do fisco no caso do ICMS, é mais complicado e acaba por influenciar no processo de industrialização como um todo. Mesmo que haja disposição do mercado consumidor em adquirir unidades cada vez mais pré fabricadas e ocorra um incremento na tecnologia disponível, o risco fiscal pode inviabilizar a opção por esse sistema. Assim, para que se possa traçar o perfeito equilíbrio entre eficiência e celeridade mediante a industrialização do processo construtivo e a acessibilidade do produto ao consumidor final, é latente a necessidade de uma reforma da legislação tributária voltada ao setor da construção civil, acompanhada de incentivos à industrialização e inovação tecnológica do setor, que contemplem os avanços desse mercado e seja comprometida com o desenvolvimento isonômico do país.
Maria Angélica Covelo Silva - Mudar a tributação, criar incentivos de retirada de operações de canteiro de obra, como incentivo às obras com maior grau de industrialização, além de capacitar projetistas, capacitar empresas prestadoras de serviços, inclusive quanto à apropriação da produtividade.

A industrialização esbarra também na pouca capacitação de profissionais que atuam nos canteiros de obras?
Rui Nogueira - Acredito que o Brasil carece de mão de obra qualificada como um todo, especialmente a de ordem técnica. Nesse sentido é louvável que o governo federal e alguns governos estaduais tenham voltado esforços nos últimos anos para a maior formação de técnicos no país. Isso significa que a pouca capacitação de profissionais do setor de construção civil é sim um óbice que precisa ser superado. Contudo, essa já é uma barreira atual, independentemente da industrialização, e que pode ser superada mediante treinamento específico.
Maria Angélica Covelo Silva - Também. Mas é mais fácil capacitar para sistemas industrializados do que para o artesanato do convencional.

Sob o ponto de vista da legislação ambiental, há também entraves que atrapalham a industrialização?
Rui Nogueira - A legislação ambiental no Brasil é tida como avançada e rígida em vários aspectos. No caso da industrialização na construção civil ela não atrapalha, mas é um item a ser observado. Toda atividade que gera impactos ambientais, e esse é o caso da atividade industrial, deverá estar sujeita a licenciamento próprio.
Maria Angélica Covelo Silva - Não, pelo contrário, os sistemas industrializados colaboram com o meio ambiente pela menor geração de resíduos.

Significa que, em termos de sustentabilidade, a industrialização da construção civil deveria ser incentivada?
Rui Nogueira - Essa é uma pergunta que pode gerar respostas divergentes, pois em ambos os processos (artesanal e industrial) tem-se a utilização de insumos e criação de resíduos, que são elementos de impacto ambiental. Contudo, na minha opinião, com vista ao caso específico da construção civil, vejo que o processo industrial mostra-se mais adequado, pois racionaliza o uso da matéria prima e evita os desperdícios comuns aos canteiros de obra. Assim, não há que se falar em entrave ambiental, mas ao contrário, em nome da sustentabilidade, deve ser percebido esse quadro de evolução e serem criadas políticas que estimulem a industrialização por se mostrar medida mais adequada aos caros ideais de sustentabilidade atuais.
Maria Angélica Covelo Silva - Sim, pensando no tripé econômico, social e ambiental só há fatores positivos com a industrialização.

Entrevistados
- Rui Nogueira Paes Caminha Barbosa, advogado e especialista em engenharia legal
- Maria Angélica Covelo Silva, engenheira civil e sócio-fundadora das empresas Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) e Núcleo de Gestão e Inovação (NGI)

Currículos
- Rui Nogueira Paes Caminha Barbosa é advogado, sócio-fundador do escritório Caminha Barbosa & Siphone Sociedade de Advogados
- Bacharel em direito pela Universidade de São Paulo
- Possui MBA em Conhecimento, Tecnologia e Inovação pela Fundação Instituto de Administração (FIA)
- Foi professor de engenharia legal na Faculdade de Engenharia de São Paulo
- É administrador de empresas do ramo imobiliário e hoteleiro e consultor imobiliário para investidores internacionais no Brasil
- Palestrante da Athena – Instituto Brasileiro de Soluções Jurídico-Empresariais
- Maria Angélica Covelo Silva é engenheira civil e mestre pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, além de doutora pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
- É sócio-fundadora das empresas Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) e Núcleo de Gestão e Inovação (NGI)
- Autora de cerca de 100 artigos técnicos publicados em revistas especializadas em engenharia e construção, no Brasil e no exterior
- Também possui livros publicados, dentre eles "Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras"
Contatos: rui.caminha@cbcsadvogados.com / ngi@ngiconsultoria.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330