Brasil precisa urgentemente de engenheiros ferroviários
Modal volta a receber investimentos, mas país carece de mão de obra especializada. Por isso, universidades se voltam para a especialização.
Modal volta a receber investimentos, mas país carece de mão de obra especializada. Por isso, universidades se voltam para a especialização
Por: Altair Santos
O Brasil tem a intenção de até 2025, fazer com que o modal ferroviário responda por 35% de sua matriz de transporte. Hoje, essa parcela é de 25%. Para isso, investe em projetos que englobam mais de 21 mil quilômetros de ferrovias, como o TAV (Trem de Alta Velocidade) que ligará São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, além da expansão da ferrovia Norte-Sul, a construção da nova Transnordestina e a ampliação de linhas do metrô em várias capitais. Só que existe um gargalo que pode prejudicar esse plano: a falta de mão de obra especializada em ferrovias.
Há uma profunda carência de profissionais com esse perfil na engenharia nacional. De cada 8 mil engenheiros civis que se formam anualmente no Brasil, apenas 5% migram para a área de transportes. Destes, nem metade se especializa em construção de ferrovias. Foi o que detectou o encontro promovido no final de 2011 pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes). Segundo o professor Fernando Marques de Almeida Nogueira – um dos palestrantes do evento – a saída está na formação de engenheiros ferroviários. “A solução efetiva para esse problema crônico é a criação de cursos de graduação em engenharia ferroviária”, diz.
Mestre da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernando Marques acredita que ainda em 2012 a UFJF irá criar o primeiro curso de graduação em engenharia ferroviária do Brasil. “O projeto está pronto, mas faltam professores. Tão logo o governo federal libere novas vagas para a UFJF, o curso de graduação em engenharia ferroviária será lançado”, afirma. Atualmente, existem no país alguns cursos de nível técnico e algumas especializações (pós-graduação lato sensu) na área de ferrovia. Fora isso, não há nenhum outro investimento na capacitação de pessoal para o setor ferroviário.
Fernando Marques de Almeida Nogueira, que atua na área de pesquisa do setor ferroviário, alerta que o Brasil precisa rapidamente despertar para o setor, como vem fazendo a China. Nos últimos 10 anos, os chineses construíram uma malha de TAV maior que toda a malha existente na Europa. Até mesmo os Estados Unidos, no pós-crise, redescobriram o TAV. “É uma tendência mundial, mas é preciso ter tecnologia. Seria um atraso para o Brasil postergar esse projeto, assim como retardar o investimento em mão de obra qualificada”, avalia o especialista.
O professor da UFJF destaca que o Brasil tem um avançado sistema de transporte ferroviário de cargas e que precisa evoluir no setor de passageiros, ao mesmo tempo em que necessita substituir tecnologia importada por tecnologia nacional. “Infelizmente, as tecnologias empregadas nas empresas são em grande parte ainda importadas. Precisamos de engenheiros que desenvolvam uma tecnologia nacional. Na minha opinião, os países com melhores tecnologias ferroviárias são os Estados Unidos, França, Alemanha, China e Japão”, finaliza.
Leia mais sobre o sistema ferroviário brasileiro: Matérias 01, 02 e 03.
Veja os novos projetos de ferrovias de carga (clique na imagem para ampliar):
Fonte: DNIT
Entrevistado
Fernando Marques de Almeida Nogueira, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e especialista em transporte ferroviário
Currículo
– Graduado em engenharia cartográfica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995)
– Possui mestrado em engenharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1998) e doutorado em engenharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (2007)
– Atualmente, é professor adjunto da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem experiência na área de engenharia de produção, com ênfase em otimização e simulação, atuando principalmente nos seguintes temas: pesquisa operacional (otimização, simulação e scheduling) processamento de imagem, processamento de sinais e transporte ferroviário
Contato: fernando.nogueira@ufjf.edu.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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