Bons projetos devem praticar gentileza urbana
Conceito adotado pela arquitetura define obras privadas que agregam intervenções para favorecer o urbanismo e o paisagismo em seu entorno
Conceito adotado pela arquitetura define obras privadas que agregam intervenções para favorecer o urbanismo e o paisagismo em seu entorno
Por: Altair Santos
A gentileza urbana é um conceito amplo. Agrega iniciativas que podem ir desde dispor livros para outras pessoas, enquanto elas aguardam em um ponto de ônibus, até unir um grupo de voluntários para limpar pichações. Na arquitetura, porém, o termo é mais específico. Define obras privadas que agregam intervenções para favorecer o urbanismo e o paisagismo público em seu entorno. Por princípio, somente empresas e empreendedores podem promover gentileza urbana. “Obras executadas pelo poder público, seja municipal, estadual ou federal, não se enquadram neste conceito para não ganharem cunho político”, explica a arquiteta Rose Guedes, presidente da IAB-MG e vice-presidente extraordinária do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil).
O IAB possui até um prêmio que escolhe anualmente as melhores ações praticadas no país. Um prédio que agrega uma praça ao seu projeto paisagístico, e a torna um espaço público, está praticando gentileza urbana. Em tempos de sustentabilidade, uma construção que capta água da chuva e fornece parte do que é armazenado para regar um espaço público também age com gentileza urbana. Um exemplo recente foi contemplado no projeto paisagístico de Benedito Abbud para o edifício Simphonia WOA Beiramar, em Florianópolis-SC. O empreendimento revitalizou e humanizou parte da rua Rui Barbosa, no bairro Agronômica. Além de nova pavimentação, nova sinalização horizontal da via (faixas de pedestres, lombada e ciclovia) e novas calçadas, o trecho ganhou novo passeio público e ajardinamento.
Compromisso do arquiteto
Há outros casos de ações privadas que adotaram espaços públicos, promovendo a revitalização paisagística e até conceitual. A praça da Estação, em Belo Horizonte-MG, é um exemplo deste tipo de gentileza urbana, e que em 2009 foi premiada pelo IAB. Os parklets – minipraças que proliferam nas grandes metrópoles, substituindo vagas para carros estacionarem – também se enquadram no conceito de gentileza urbana, pois normalmente são empreendimentos promovidos pela iniciativa privada, com a concessão do poder público. Já os shopping centers, na opinião de Rose Guedes, surgem como a antítese da gentileza urbana. “Eles, na verdade, são um descompromisso com a cidade”, avalia, citando que atualmente a referência mundial da gentileza urbana concentra-se principalmente no trabalho do italiano Renzo Piano.
Rose Guedes lembra ainda que todo arquiteto deve ter compromisso com a gentileza urbana. “O arquiteto quando faz um projeto, por natureza, tem que ser gentil com a cidade e com quem vive na cidade”, diz. A especialista lembra ainda que não cabe lei para caracterizar uma gentileza urbana. A partir do momento que se tentar legislar sobre uma ação que deve ser voluntária, ela (a gentileza urbana) se descaracteriza. “Não existe lei para isso. Existe incentivo, estímulo, campanhas, mas não existem leis e nem acho que devam existir leis para isso. Tem que ser voluntário, um trabalho de conscientização social, um trabalho de generosidade que as pessoas devem ter, independentemente de leis”, afirma, lembrando que Oscar Niemeyer, ao projetar Brasília, demonstrou esse compromisso do arquiteto.
Entrevistada
Rose Guedes é arquiteta, presidente do IAB-MG, vice-presidente extraordinária do IAB e conselheira do CAU-BR
Contato: roseguedes8@gmail.com
Créditos Fotos: Divulgação/IAB-MG
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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