Segundo Benedito Abbud, um dos principais especialistas em mobilidade para pedestres do país, poder público deve assumir calçamento nas cidades
Por: Altair Santos
O artigo 5º da Constituição Federal define uma série de direitos do cidadão brasileiro, entre eles o de ir e vir. Por isso, o arquiteto e paisagista Benedito Abbud passou a defender que o poder público assuma integralmente a construção de calçadas no país. Hoje, em boa parte dos municípios brasileiros, sobretudo nas capitais, essa responsabilidade é do morador. O resultado são pavimentos irregulares, sem padronização, o que acaba gerando uma visão negativa do ambiente urbano. “A cidadania passa pelas calçadas, pois consta na constituição o direito de ir e vir com segurança. Se é lei, o poder público é quem deve instalar esses equipamentos e preservá-los”, prega Abbud.
No entender do arquiteto, calçadas bem concebidas, sustentáveis e acessíveis propiciam cidades mais civilizadas, com melhor qualidade de vida para seus habitantes e, consequentemente, com mais cidadania. “É através das calçadas que se tem a imagem da cidade“, diz Benedito Abbud, que desde 2006 vem trabalhando com o projeto Calçada Viva. “Ele foi pensado para ser aplicado pelo poder público. Várias prefeituras se interessaram por alguns dos seus aspectos e algumas estão estudando a viabilidade de implantação”, revela. “A ideia é que, em cada cidade, uma equipe de urbanistas pense as calçadas de acordo com a geografia da localidade e até os aspectos culturais e históricos do município”, completa.
No projeto liderado por Abbud, as calçadas devem ser mais largas, com faixas de serviços para arborização, rampas para cadeirantes e piso táctil de orientação e alerta. “A projeção de calçadas vivas incentivaria as pessoas a caminhar mais. Afinal, a maioria das nossas calçadas são ruins, com desníveis, buracos, pisos irregulares, degraus, entre outros obstáculos. Isso causa acidentes. Se é difícil uma pessoa sem limitações físicas andar a pé, imagina os cadeirantes, cegos e até mesmo os idosos e as mães com carrinhos de bebê? As calçadas deveriam ser acessíveis para o uso comum de todos”, afirma o arquiteto.
Além disso, Abbud defende que deve haver um planejamento em conjunto com as Companhias fornecedoras de energia, água, gás e telefone que quebram constantemente o piso das calçadas, resultando em prejuízos estéticos e obstáculos para o passeio (buracos, emendas e caimentos inapropriados). Nesse caso, são indicados produtos e técnicas para as chamadas calçadas inteligentes, que funcionam como uma galeria no subsolo, permitindo que as fiações da rede elétrica, telefônica, de TV, fibras ópticas, rede de água e esgoto sejam embutidas. A medida ajudaria na manutenção dos serviços sem necessidade de quebrar o piso e ainda diminuiria a poluição visual da cidade.
O projeto Calçada Viva segue os seguintes parâmetros:
– Contribuir para amenizar o ambiente árido de muitas ruas, com projetos paisagísticos para calçadas ajustados à realidade de cada rua, bairro, e inseridos no contexto de uma megalópole numa região de Mata Atlântica.
– Promover a aproximação da comunidade com o meio ambiente natural, com o plantio de ervas e árvores frutíferas naturais de Mata Atlântica nas calçadas, conforme viabilidade.
– Garantir boa acessibilidade para todos no uso dos passeios.
– Aumentar a permeabilidade do solo, colaborando para evitar enchentes e para a reposição dos aquíferos.
– Contribuir para a diminuição da poluição visual e sonora.
– Melhorar a qualidade do ar na cidade, reduzindo os gases tóxicos e nocivos ao clima.
– Melhorar a qualidade de vida da comunidade.
Entrevistado
Benedito Abbud, arquiteto, urbanista e paisagista
Currículo
– Com 40 anos de experiência, Benedito Abbud é formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na qual foi professor na disciplina de paisagismo de 1980 a 1985. Ministrou aulas, também, na Faculdade de Arquitetura da PUC – Campinas de 1977 a 1981. É pós-graduado e mestre pela FAU-USP
– Em 1981, fundou sua própria empresa, que hoje conta com aproximadamente 5.200 projetos paisagísticos desenvolvidos em todo Brasil e em outros países, como Argentina, Uruguai e Angola. Abbud foi presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap) durante os biênios de 1987-1988 e 1999-2000
Contatos: www.beneditoabbud.com.br / babbud@beneditoabbud.com.br
Crédito: Nicola Labete / Michel Willian / SMCS