Pré-fabricado exige rigor no controle de qualidade
Todos os processos que envolvem a construção industrializada do concreto devem passar por intensa supervisão, alerta o especialista Carlos Franco
Todos os processos que envolvem a construção industrializada do concreto devem passar por intensa supervisão, alerta o especialista Carlos Franco
Por: Altair Santos
O engenheiro civil e de estruturas, Carlos Franco, defende que todos os processos que envolvem a pré-fabricação, desde a comercialização até a contratação, passando por projetos, produção e montagem, só conseguem ser bem-sucedidos se houver controle rígido da qualidade. Para isso, o especialista destaca que seguir a normalização é imprescindível. Se respeitados os parâmetros de qualidade, as vantagens de uso das estruturas pré-fabricadas e suas aplicações se tornam altamente competitivas e garantem obras muito mais sustentáveis do que os sistemas convencionais. Essa é a tese que ele propagou no curso “Pré-fabricados de Concreto: uma Abordagem Completa da Fábrica aos Canteiros de Obra”, ministrado dentro do M&T Expo Congresso, que aconteceu de 10 a 12 de junho na cidade de São Paulo. Confira a entrevista, que resume sua palestra:
Das etapas que envolvem a pré-fabricação do concreto o que deve ser priorizado na hora da comercialização e da contratação?
Ainda que sempre seja possível adaptar um projeto para a pré-fabricação, o ideal é que ele seja pensado na fase de concepção. Daí, a importância do conhecimento, por parte dos arquitetos, das características do sistema construtivo. Um dos objetivos da ABCIC – Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (www.abcic.org.br) – é exatamente a divulgação do sistema junto a esta categoria profissional. A participação de um pré-fabricador ou consultor da área durante o desenvolvimento do projeto pode ser extremamente positiva no sentido de trazer esta expertise ao projeto, agregando assim maior valor à obra. A tomada de decisão baseada em custo/benefício, e não só em termos de custos, é também muito importante.
Projetos que contemplem a construção industrializada de concreto devem priorizar quais requisitos?
Devem priorizar a racionalização da obra. Via de regra, o construtor que adota o sistema pré-fabricado acaba por adotar a industrialização em toda a obra, não apenas na estrutura, na cobertura e nas vedações. Existe uma enorme sinergia entre o pré-fabricado e os demais sistemas industrializados. A própria precisão geométrica do sistema é um enorme facilitador a estes objetivos.
Nas etapas de produção e montagem, a qualidade do concreto e a especialização da mão de obra são imprescindíveis?
Sim, com certeza. Por se tratar de um produto industrializado, o objetivo é empregar um volume muito pequeno de mão de obra, porém extremamente eficiente e eficaz, o que significa uma mão de obra preparada e especializada. É uma visão alinhada com qualquer indústria.
Nestas etapas de produção e montagem, é onde mais se deve ter cuidado com o controle de qualidade?
O controle de qualidade tem de ser sistêmico: da concepção à montagem, passando, entre outras etapas, pela produção e pela análise das matérias-primas recebidas. Dentro desta visão, a ABCIC instituiu um selo de qualidade em que as empresas são auditadas por um organismo independente, no caso o IFBQ (Instituto Falcão Bauer de Qualidade), para verificar se as plantas de produção estão atendendo aos parâmetros de qualidade estabelecidos pelos critérios da Associação. Um dos objetivos deste selo é exatamente garantir a qualidade do pré-fabricado ofertado ao mercado. Hoje, todas as empresas filiadas, ou ao se filiarem, devem aderir a este selo de qualidade.
Hoje, quais as normas técnicas mais relevantes para a construção industrializada de concreto?
O pré-fabricado deve aderir a toda a gama de normas ligadas à cadeia de projetos e produção de concreto, como a NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto — Procedimento, e a NBR 12655 – Concreto de cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação – Procedimento. NBR 9062 – Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, NBR 14861 – Lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido — Requisitos e procedimentos e NBR 16258 – Estacas pré-fabricadas de concreto — Requisitos. Além destas, existem as normas específicas ao pré-fabricado, como:
NBR 9062 – Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, NBR 14861 – Lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido — Requisitos e procedimentos e NBR 16258 – Estacas pré-fabricadas de concreto — Requisitos. Tem ainda norma de painéis de paredes pré-moldadas, que foi colocada em consulta pública pela comissão de estudos, sob o número CE_18_600_19.
Hoje, quais as principais vantagens de uso da construção industrializada de concreto?
Inúmeras. Entre elas, podemos citar:
– Construções com menores prazos para entrega, unindo maior velocidade à redução dos custos fixos, proporcionando a garantia de retorno financeiro rápido
– Busca de maior qualidade, produtividade e redução de desperdícios
– Impulsiona para um modelo de desenvolvimento para a indústria da construção civil (sustentabilidade, qualificação de mão de obra e mudanças culturais)
– Resistência ao fogo inerente ao próprio sistema, o que não temos na estrutura metálica
– Flexibilidade e resiliência
As aplicações da construção industrializada de concreto hoje são diversas. No entanto, no segmento de construção habitacional ela ainda é tímida. Por quê?
Existe, primeiramente, certo desconhecimento do mercado em relação aos sistemas já homologados, inclusive junto aos organismos públicos. Existe também uma resistência, sobretudo dos construtores, em adotar sistemáticas novas, principalmente dentro de produtos com margens tão pequenas, como a da construção da habitação. Principalmente, aqueles dentro do programa Minha Casa Minha Vida. Há também um enorme entrave tributário. O sistema pré-fabricado industrializado está sujeito ao recolhimento de ICMS, o que não ocorre em sistemas totalmente executados no canteiro (inclusive o pré-moldado de canteiro) tirando assim muito da competitividade do sistema. É importante frisar que esta distorção não existe em outros países e é uma herança do Antigo BNH (Banco Nacional da Habitação), que lá nos anos 1970 via o mercado da construção como sorvedouro da então abundante mão de obra não especializada. Hoje o banco não existe mais, mas esta política ainda permaneceu nas entranhas de nossa política de construção e em particular no setor habitacional.
Comparativamente a uma construção convencional, quais as vantagens da construção industrializada de concreto sob o ponto de vista de sustentabilidade?
O pré-fabricado oferece enormes oportunidades para a sustentabilidade. Podemos citar:
– Poupar as jazidas e os recursos naturais
– Emprego de concretos com menor emprego de cimento e, portanto, menor pegada de carbono
– Eliminar a produção de resíduos
– Menor custo de manutenção e maior durabilidade
– Maior eficiência térmica
– Maior refletância luminosa
– Facilita a reciclagem de edifícios (retrofit)
– Racionaliza a construção
– Produz edifícios sustentáveis
– Preservar patrimônio
– Pode assegurar até 23 pontos em certificações de edifícios sustentáveis, como o LEED (Leadership in Energy&Environmetal Design)
Entrevistado
Engenheiro civil e engenheiro de estruturas Carlos Franco, sócio-proprietário da CAL-FAC Consultoria & Engenharia Ltda
Contato: carlos@calfac.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/MTExpo
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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