Controlar temperatura do concreto evita etringita tardia

O ideal é que o processo de hidratação do material não ultrapasse 65 °C, ensina o engenheiro-doutor Selmo Chapira Kuperman
9 de maio de 2018

Controlar temperatura do concreto evita etringita tardia

Controlar temperatura do concreto evita etringita tardia 1024 768 Cimento Itambé

A etringita tardia é uma patologia do concreto descoberta recentemente. Os primeiros estudos, relata o American Concrete Institute (ACI), começaram no final dos anos 1980. Denominada internacionalmente como Delayed ettringite formation (DEF) – formação tardia de etringita -, no Brasil ela passou a ser chamada de etringita tardia. O primeiro caso divulgado em seminários do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) é de 2010, e se refere ao estudo de um bloco de fundação que surgiu com várias fissuras e estrutura comprometida, em um edifício na cidade de São Paulo-SP.

Engenheiro-doutor Selmo Chapira Kuperman: etringita tardia com reação álcali-agregado é uma combinação perigosa para o concreto. Crédito: Cia. de Cimento Itambé

Engenheiro-doutor Selmo Chapira Kuperman: etringita tardia com reação álcali-agregado é uma combinação perigosa para o concreto. Crédito: Cia. de Cimento Itambé

No país, um dos principais pesquisadores desta patologia é o engenheiro -doutor Selmo Chapira Kuperman, que palestrou no 3º Simpósio Paranaense de Patologias das Construções, promovido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) na primeira semana de maio de 2018. Em sua exposição, intitulada “Temperatura do concreto em blocos de fundação”, Kuperman relata que a etringita é um mineral encontrado na natureza, mas também capaz de se formar em maciços de concreto, durante a hidratação do material a altas temperaturas, em função das seguintes combinações: tipo do cimento, agregados e aditivos.

Ao ultrapassar temperaturas superiores a 65 °C durante o período de cura, o concreto pode se tornar propenso a desenvolver etringita tardia. “Após a cura e o endurecimento do concreto, a etringita fica latente e pode se manifestar daqui a cinco anos, dez anos ou vinte anos, nunca se sabe. Para que ela se manifeste, é preciso um ambiente úmido”, relatou Selmo Chapira Kuperman, lembrando que muitas vezes a etringita tardia é confundida com reação álcali-agregado (RAA).  “Etringita não é reação álcali-agregado. Em alguns casos, pode ser muito pior. E quando ocorre etringita combinada com reação álcali-agregado, isso é muito perigoso”, completou.

No final dos anos 1980, quando começaram os estudos desse tipo de patologia, verificou-se que ela se formava com mais frequência em elementos pré-moldados de concreto. Pesquisando, foi descoberta a razão: os fabricantes elevavam a temperatura para acelerar a cura e a desfôrma, desencadeando etringita tardia. Hoje, lembra Selmo Chapira Kuperman, a etringita tardia motiva várias pesquisas mundo afora, principalmente em países que possuem usinas nucleares. “O maior risco é que o calor e a umidade gerados pelos reatores desencadeiem a etringita latente, que possa estar nas paredes de concreto que revestem o núcleo da usina”, citou.

Com laboratórios defasados, Brasil está atrasado nas pesquisas

Os avanços das pesquisas já permitem afirmar que não existe um ensaio que diga se um determinado tipo de cimento vai provocar etringita tardia antes de seu uso no concreto. A única prevenção é o controle da temperatura. No Brasil, é adotado o padrão francês, que recomenda 65 °C como limite de segurança. Já os Estados Unidos são mais tolerantes, aceitando 70 °C. Para criar um padrão nacional, Kuperman recorda que tentou incluir a temperatura na revisão de 2014 da ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento -, mas não conseguiu. “Na nova revisão que está sendo preparada, o tema será incluído, pelo menos como um alerta”, disse.

O engenheiro-doutor apelou também para que o Brasil reaja ao sucateamento dos laboratórios de controle de concreto, o que está deixando o país defasado em pesquisas como a etringita tardia e outras patologias relacionadas à construção civil. “No período de construção de grandes hidrelétricas, estatais como CESP, Furnas, Eletronorte, Itaipu Binacional, Cemig e outras tiveram que montar seus laboratórios para controlar a qualidade do concreto usado na obra. As universidades se abstiveram desse trabalho e hoje isso faz falta. No passado, o Brasil mandava seus ensaios para serem realizados em outros países porque não tínhamos know-how e não tínhamos equipamentos. Hoje, temos conhecimento, mas continuamos a não ter equipamentos. Nossos laboratórios estão definhando”, desabafou.

Entrevistado
Reportagem com base na palestra do engenheiro-doutor Selmo Chapira Kuperman, membro do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto), membro da comissão de Reação Álcali-Agregado da ABNT e membro de outros organismos internacionais, como American Concrete Institute (ACI) e American Society, dentro do 3º Simpósio Paranaense de Patologias das Construções, promovido pela UFPR

Contato: prc.ufpr.contato@gmail.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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