Marisco vira agregado oficial de blocos de cimento

21 de janeiro de 2016

Marisco vira agregado oficial de blocos de cimento

Marisco vira agregado oficial de blocos de cimento 1024 768 Cimento Itambé

Tecnologia sustentável aumenta resistência dos artefatos em cerca de 20% e pode ser aplicada em elementos estruturais e não-estruturais

Por: Altair Santos

Onze anos após os primeiros testes com cascas de mariscos substituindo a areia fina na fabricação de pavers, a indústria de artefatos de cimento de Santa Catarina já considera o beneficiamento das conchas como um agregado oficial na produção de blocos. Desde 2015, a tecnologia evoluiu. Os resíduos de ostras e mexilhões também passaram a ser aproveitados. Além disso, as pesquisas permitiram fabricar outros produtos, como blocos de concreto estruturais e não-estruturais. “Conseguimos produzir elementos com 20% mais resistência que os blocos convencionais”, explica a engenheira civil e ambiental Bernadete Batalha Batista, que desenvolveu a tecnologia.

Cascas substituem agregados finos e médios e atendem a um amplo portfólio de artefatos

Cascas substituem agregados finos e médios e atendem a um amplo portfólio de artefatos

Com o apoio dos departamentos de engenharia das universidades Federal de Santa Catarina (UFSC) e Unisul, a pesquisa conseguiu chegar à composição ideal dos agregados. “Fizemos vários traços para o bloco de concreto. Chegamos a substituir totalmente a areia fina e a areia média pelas cascas, mas no final optamos por usá-las como complemento em quantidades menores, pois a resistência chega a um limite em que não altera mais. Além disso, usando muito as cascas como agregado o bloco perde a aparência lisa e compromete o acabamento. Já no pavimento drenante a areia é substituída totalmente, pois as cascas ajudam a drenar e a aparência não é tão importante”, revela Bernadete Batalha Batista.

Construção sustentável
Chamados no mercado de “blocos verdes”, os artefatos de cimento que usam cascas de mariscos, ostras e mexilhões atendem as especificações da ABNT NBR 6136:2014 – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Requisitos. Com espessura mínima de 25 mm, os elementos têm absorção máxima de água na ordem de 10%. Já a resistência à compressão varia de 3 MPa para os não-estruturais a 20 MPa para os estruturais. Essas características fazem com que os produtos conquistem mercado no segmento de construções sustentáveis. “Em 2015, vários empreendimentos que buscavam o selo de prédio verde, principalmente os que atendiam requisitos da certificação LEED, usaram nossos blocos verdes”, disse a engenheira.

Em Santa Catarina, as parcerias com prefeituras e centros de pescadores que cultivam a maricultura na região do entorno de Florianópolis permitiram que o “bloco verde” fosse vendido com preço igual ao bloco convencional. “No entanto, aplicar a tecnologia em outro estado terá um custo maior”, admite Bernadete Batalha Batista. A engenheira entende também que poderia haver mais fábricas produzindo artefatos com agregados da maricultura, porém, segundo ela, falta cultura ambiental. “Até mesmo em Santa Catarina a produção poderia ser maior, pois o estado é o principal produtor da América Latina de mariscos, ostras e mexilhões. Mas falta entender os conceitos de reciclagem e de que, atualmente, tudo pode ser transformado”, avalia.

Além do uso em blocos de concreto e pavers, os resíduos da maricultura podem ser aplicados em outros materiais usados na construção civil. O Conselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS), através de pesquisas, detectou que as cascas de mariscos, ostras e mexilhões são ricas em carbonato de cálcio (CaCO3) – elemento que pode ser empregado em diversas atividades, como controlador de pH do solo, no processo de fabricação de tintas, vidros e aditivos.

Veja como os resíduos da maricultura são transformados em agregados finos
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Entrevistada
Engenheira civil e engenheira ambiental Bernadete Batalha Batista, especializada em construção sustentável e diretora da BBB Ambiental – Consultoria e Assessoria Ambiental e Civil, Pesquisas e Inovação
Contato: bbbambiental@gmail.com

Crédito Foto: Divulgação/BBB Ambiental

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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