Enchentes no Rio Grande do Sul: como evitar novas tragédias?

Veja as soluções construtivas que podem ajudar a minimizar os efeitos das fortes chuvas

Enchentes no Rio Grande do Sul impactaram 497 municípios.
Crédito: Divulgação/ PMPA

Em setembro de 2023, algumas cidades do Rio Grande do Sul foram atingidas por enchentes que causaram mortes, deslizamentos de terra, danos em edificações de maneira geral e infraestrutura urbana. Cerca de oito meses depois, em maio de 2024, o cenário se repete de forma ainda pior: mais de 90% das cidades gaúchas foram afetadas, isto é, 450 das 497. Os efeitos disso foram devastadores: mortes, muitos perderam suas casas e estão desabrigados, safras foram perdidas, o aeroporto Salgado Filho deve demorar a voltar a operar, dentre muitos outros efeitos. 

As enchentes também devem impactar fortemente a economia. Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), as primeiras estimativas informam que as chuvas e cheias atingem 80% da atividade econômica do estado.

De acordo com o governador Eduardo Leite, serão necessários R$ 19 bilhões para recuperar o Estado. Diante de todo este cenário, como evitar que novas enchentes aconteçam? Que tipos de soluções devem ser pensadas no momento de reconstrução das cidades? Confira abaixo algumas medidas – algumas delas já utilizadas em outros municípios – que ajudam a diminuir os impactos das chuvas e que podem ser estudadas no momento de reconstrução do Rio Grande do Sul:

  1. Planejamento

Em primeiro lugar, uma das grandes dificuldades enfrentadas no Brasil é a falta de planejamento. No entanto, com o aquecimento global, estes eventos climáticos extremos devem se tornar cada vez mais frequentes – consequentemente, deve-se pensar em medidas preventivas. 

Na opinião de José Marques Filho, engenheiro e professor do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é essencial implementar estudos climatológicos e de vazões para previsão de eventos extremos, para permitir ao poder público e representantes da sociedade civil prepararem-se para minimizar os efeitos nas populações. Para Marques Filho, isso inclui uma união de esforços entre os órgãos públicos, representantes da sociedade civil e os responsáveis pelos empreendimentos.

  1. Planejamento urbano e cuidados com o déficit habitacional

Outra grande questão enfrentada no Brasil é o déficit habitacional, que hoje chega a 6,2 milhões de famílias. De acordo com Alzir Felippe Buffara Antunes, professor titular do departamento de Geomática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o poder público é permissivo e deixa que as pessoas ocupem áreas que não podem ser habitadas. Estas regiões costumam ser grandes declives, com áreas de inundação do próprio rio. Ao ocupar áreas irregulares de encosta e de matas ciliares, o problema se agrava. 

“Outros fatores que influenciam são a não-preservação ambiental dos rios, onde o lixo é descartado, assim como a falta de saneamento. Tudo isso leva a uma degradação ambiental. Consequentemente, em caso de eventos com chuvas de grandes volumes, isso gerará um comportamento anômalo, isto é, uma inundação muito maior do que em condições normais”, comenta Antunes.  

  1. Sistemas integrados de drenagem

De acordo com Felipe Guerra e Débora Ciociola, arquitetos do Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA), as soluções para lidar com o escoamento de água pluvial passam pela implementação de sistemas integrados de drenagem. A macrodrenagem envolve o gerenciamento de grandes volumes de água pluvial em áreas extensas, o que inclui a criação de bacias de detenção – geralmente associadas a parques urbanos – e outras estruturas planejadas para controlar o fluxo da água em momentos de altos índices pluviométricos. Já a micro drenagem tem foco em superfícies menores como ruas, calçadas, praças e terrenos particulares em que técnicas diversas são aplicadas, como pavimentação permeável e diversos dispositivos de retenção para gerenciar a água em uma escala mais localizada. 

Em Curitiba (PR), por exemplo, o Parque Barigui foi projetado para receber o excesso de água do rio de mesmo nome e evitar o fluxo para as áreas residenciais.

  1. Pavimentos de concreto permeável

Por muito tempo, a cidade de Barranquilla, na Colômbia, sofreu com as enchentes por não ter construído sistemas de drenagem de águas pluviais. De acordo com o engenheiro colombiano Diego Jaramillo, para solucionar esta questão, foram construídas estradas que funcionam como canais, além de novos sistemas de drenagem e muitas obras de gestão de águas pluviais, feitas em concreto. “Eles têm um bom comportamento em canais de condução de água, boa resistência e não se deterioram rapidamente com a presença da água,”, comenta Jaramillo. 

No Bairro Novo do Caximba, região que está sendo revitalizada em Curitiba, será empregado pavimento de concreto permeável nas calçadas, uma vez que ele permite a absorção de água – que é direcionada para o solo. Desta forma, vai retroalimentar lençol freático, evitando o acúmulo d’água na superfície e o efeito enxurrada.

  1. Piscinões

A cidade de Barueri (SP) vem investindo na construção de reservatórios e um túnel para escoar a água. Um deles é o Piscinão Jardim Silveira, com 24 mil metros quadrados de área e aproximadamente 22 metros de profundidade. Com isso, ele será capaz de reter mais de 200 milhões de litros de água.

  1. Parques lineares

Os parques lineares, como o próprio nome indica, possuem um comprimento que excede significativamente a largura, criando uma “faixa” de área verde. Esses parques são desenvolvidos ao longo de cursos d’água, como rios e córregos, seguindo os seus percursos. Eles funcionam como áreas de inundação natural, reduzindo o risco de enchentes nas áreas urbanas adjacentes.

No Bairro Novo do Caximba também está prevista a construção de um parque linear, como forma de absorção para as grandes chuvas. 

7. Obras de contenção de encostas

Em Maceió (AL), a prefeitura apostou em obras de contenção de encostas em regiões com grande risco de deslizamentos. Segundo a Secretaria de Infraestrutura de Maceió (SEMINFRA), é utilizado um recomposto de PVC, um revestimento seguro de longa durabilidade. A intervenção consiste em aplicar o geocomposto, seguido de uma cobertura de concreto jateado, o que proporciona uma proteção duradoura e oferece segurança a quem mora em áreas de encosta.

Fontes

José Marques Filho é engenheiro e professor do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Alzir Felippe Buffara Antunes é professor titular do departamento de Geomática da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Felipe Guerra e Débora Ciociola são arquitetos do Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA).

Diego Jaramillo Porto é engenheiro e diretor de Pavimentos e Infraestrutura na Federação Iberoamericana de Hormigon Premezclado FIHP. Ele também é gerente técnico da Câmara Colombiana de Cimento e Concreto (PROCEMCO) e líder do Comitê Internacional de Pavimentos e Infraestrutura (FHIP/FICEM). 

Secretaria de Infraestrutura de Maceió (SEMINFRA)

Contatos
José Marques Filho – jmarquesfilho@gmail.com.br
Alzir Felippe Buffara Antunes: felipe@ufpr.br
Jaime Lerner Arquitetos Associados: contato@jaimelerner.com
Secretaria de Infraestrutura de Maceió (SEMINFRA): maceiosecom@gmail.com 

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé. 



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