Caminho está aberto para empreiteiras estrangeiras
Professor da USP, Paulo Roberto Feldmann entende que reserva de mercado na construção civil contribui com atraso do Brasil em sua infraestrutura
Professor da USP, Paulo Roberto Feldmann entende que reserva de mercado na construção civil contribui com atraso do Brasil em sua infraestrutura
Por: Altair Santos
Com as maiores empreiteiras do país envolvidas no escândalo da Operação Lava-Jato, uma questão que entrou no debate do setor da construção civil é se a abertura de mercado para empresas estrangeiras não seria salutar ao Brasil. Um dos principais defensores desta tese é o professor do departamento de administração da FEA USP, Paulo Roberto Feldmann. Para ele, três motivos já seriam suficientes para que construtoras internacionais passassem a disputar licitações de obras públicas no país: a chance de tirar do atraso a infraestrutura nacional, contratos mais baratos e a entrada de novas tecnologias, equipamentos e sistemas construtivos. “Haveria competição. Hoje há muita acomodação no setor. O dia que houver competição elas vão ter que se desenvolver tecnologicamente para enfrentar as estrangeiras”, avalia.
Paulo Roberto Feldmann explica que, ao contrário do que se pensa, a lei 8.666 (Lei das Licitações) não impede nem dificulta a entrada de construtoras estrangeiras. O problema, segundo ele, é uma espécie de cartel do setor. “As empreiteiras brasileiras exigem de quem promove a licitação que coloque cláusulas no edital que dificultam a participação das estrangeiras. Por exemplo, inclui-se a seguinte cláusula: só pode participar da presente licitação quem apresentar pelo menos 20 obras realizadas no Brasil. Acabou. Ao colocar uma cláusula destas, mata as estrangeiras. Então, o problema não é a lei, mas o fato de que as empreiteiras brasileiras fazem, ou pelo menos faziam, o edital de licitação junto com o governo federal, com os governos estaduais e com as estatais, impondo cláusulas de barreira às estrangeiras”, analisa.
Gigantes de R$ 30 bilhões
O professor Paulo Roberto Feldmann entende também que a abertura do mercado brasileiro da construção civil para multinacionais do setor passa pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato e pelas mudanças nas regras de financiamento para campanhas políticas. “Será difícil mudar, enquanto as empreiteiras estiverem contribuindo com campanhas eleitorais de deputados, senadores, governadores e presidente. Se a Operação Lava-Jato impor punições severas, e isso influenciar na reforma política, aí sim haverá mudanças”, cita, lembrando que o sistema atual prejudica o país. “Concorrência resulta não apenas em preços mais baixos para o governo, mas também em melhor qualidade nos serviços prestados e na busca, pelas empresas concorrentes, das melhores e mais avançadas tecnologias à disposição no mundo”, completa. O mesmo trecho, Feldmann enunciou no artigo “Chega de choradeira: não devemos temer punir as empreiteiras”, escrito para a revista Época.
As grandes empreiteiras brasileiras atuam nos Estados Unidos, em outros países sul-americanos, assim como na África, na Europa, no Oriente Médio e em várias nações asiáticas. Em 2014 – segundo ranking da revista O Empreiteiro -, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS tiveram receita bruta de R$ 30,07 bilhões. Equivale a quase 50% de tudo o que as 25 maiores empresas do setor arrecadaram no ano passado (R$ 60,5 bilhões). Por essas cifras dá para se ter ideia de quão fortes se tornaram essas empresas. Por isso, analistas avaliam que a Lava-Jato poderá pulverizar esses lucros, fazendo com que, não apenas as construtoras estrangeiras, mas também as empreiteiras médias do Brasil, passem a ser protagonistas nas grandes obras nacionais.
Entrevistado
Engenheiro civil, mestre e doutor em administração, Paulo Roberto Feldmann. Autor de três livros, atualmente é professor do departamento de administração da FEA USP.
Contato: feldmann@usp.br
Crédito foto: Divulgação/USP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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