Após uma década de expansão, ferramenta é deixada de lado por escritórios de engenharia e arquitetura, que buscam reduzir custos
Por: Altair Santos
Desde que chegou ao Brasil, em 2004, a plataforma BIM experimentou crescimento até 2014. Com o aprofundamento da crise econômica, os escritórios de engenharia e arquitetura pararam de investir na tecnologia. Motivo: preço elevado do software, necessidade de investimento em computadores mais potentes, pessoal especializado e tempo maior para desenvolver os projetos estão entre as razões que fazem a ferramenta perder força.
Para minimizar custos, os escritórios estão preferindo retornar ao uso do CAD, cujos downloads em 2017 têm sido de 15 mil por mês, em média, contra 5 mil do BIM no primeiro semestre do ano. Outro obstáculo é a dificuldade de encontrar bibliotecas com produtos para atualizar a ferramenta, o que não acontece com o CAD. O tema foi debatido recentemente na mesa-redonda “BIM – Desafios e Oportunidades: Acelerando o BIM no Brasil”.
Segundo Wilton Silva Catelani, coordenador da comissão especial de estudos da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) encarregada de padronizar o uso do BIM no Brasil, a utilização da ferramenta exige trabalho. “Tem que fazer todos os profissionais envolvidos nas obras, além dos fornecedores, interagirem. Isso é um processo complicado”, admite.
Sobre os estudos desenvolvidos na ABNT, Wilton Silva Catelani afirma que o objetivo é oferecer diretrizes sobre os diferentes aspectos da tecnologia, como geometria, parâmetros, caracteres e aquisições, para orientar fabricantes e desenvolvedores na criação de componentes BIM.
Ferramenta ajuda a combater corrupção
Além da entrada da ABNT para regulamentar o uso da ferramenta, em junho de 2017 o governo federal, no âmbito do ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, criou um comitê estratégico de implementação do Building Information Modeling (CE-BIM). “O comitê precisa identificar os atores envolvidos no processo e rever a legislação que trata da contratação de projetos e obras, pois as regras atuais são extremamente ruins. Também é importante definir como tais agentes poderão migrar para essa nova sistemática de contratação de serviços”, avalia Eduardo Sampaio Nardelli, coordenador de educação continuada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
No âmbito de obras públicas, o BIM é também um instrumento de combate à corrupção. “Ele permite projetos mais bem desenvolvidos, com envolvimento de toda a cadeia produtiva, e previsão de custos bem definida, o que impede atos ilícitos, comuns em cenários em que os processos estão soltos e sem metodologias de controle”, completa Nardelli.
Apesar dos efeitos da crise, é consenso de que o BIM influencia positivamente na qualidade e no ciclo de vida das construções. Isso porque, a ferramenta permite análises criteriosas da obra. “Para isso, é preciso que todos tenham consciência e repassem todas as informações, e de forma correta. Não adianta fazer como hoje, em que o incorporador esconde detalhes do arquiteto, que acaba tendo surpresas na hora de aplicar o projeto”, afirma Henrique Cambiaghi, diretor da CFA Cambiaghi Arquitetura, que também participou da mesa-redonda sobre o futuro do BIM no Brasil.
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Entrevistados
Engenheiro civil Wilton Silva Catelani, arquiteto Henrique Cambiaghi e arquiteto Eduardo Sampaio Nardelli (com base em palestras na mesa-redonda “BIM – Desafios e Oportunidades: Acelerando o BIM no Brasil”).
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