Quais os efeitos da estiagem na construção civil?
Estudo mostra que aproximadamente 55% do território brasileiro está em risco por conta da seca
Uma pesquisa da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) indicou que a seca prevista para 2024 tem potencial para ser a mais grave já registrada no país. O estudo, que utilizou imagens de satélite, aponta que aproximadamente 55% do território brasileiro está em risco por conta da estiagem. Diante desse panorama, como essa situação poderá impactar o setor da construção civil?
EPIs e cuidados com os trabalhadores
Os cuidados usuais com a segurança incluem a hidratação periódica e a proteção solar. Porém, devido à exposição dos trabalhadores, principalmente em obras de infraestrutura, os cuidados devem ser redobrados. “Além do desgaste físico já inerente às atividades desses trabalhadores, períodos de estiagem também são associados a exposições solares de maior intensidade e baixa umidade do ar. Esse fato prejudica ainda mais os trabalhadores expostos à poeira, que devem intensificar o uso de máscaras para evitar doenças respiratórias”, justifica Lucas Vaslanv da Silva Wolff, professor dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura da FAE Centro Universitário.
Além da responsabilidade ética com os funcionários, a preocupação das empresas em treinar, conscientizar, exigir o uso dos EPIs e promover a hidratação dos trabalhadores representa um investimento menor do que os custos com eventuais afastamentos que possam ocorrer. “Esses afastamentos não apenas possuem implicações quanto às responsabilidades trabalhistas, mas também afetam o planejamento e a produtividade da obra”, defende Wolff.
Leia mais: Como lidar com as altas temperaturas nas obras?
Bandeira vermelha
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) anunciou que a bandeira tarifária será vermelha, patamar 2, em outubro. A sinalização demonstra que haverá cobrança complementar na conta de luz para os consumidores de energia elétrica.
O professor dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura pontua que a construção civil é responsável por um alto consumo de água e energia elétrica, sendo afetada duplamente neste quesito em períodos de estiagem. “Uma boa parte dos equipamentos leves utilizados em construção são elétricos e de alta potência, consumindo muita eletricidade em seu uso. Mesmo o uso de geradores ou equipamentos a combustão são afetados, pois caso exista uma alternativa à combustão do equipamento, o aumento da demanda pelo uso destes pode gerar uma correção de valores pelo mercado, tanto de combustível como de equipamentos”, aponta Wolff.
Outro ponto importante é que a disponibilidade de água não é afetada apenas pelas chuvas, mas também pela poluição dos rios. “Mesmo que seja para geração de energia elétrica ou abastecimento, a água poluída de um rio afeta o desgaste nas turbinas de geração, promove a eutrofização dos rios e reservatórios, onerando ainda mais o processo de geração de energia em um momento em que a disponibilidade está baixa”, destaca Wolff.
Indiretamente existe a elevação dos custos em que a energia elétrica e a água afetam na produção ou transporte – lembrando que existe um gasto considerável quando há a necessidade de limpeza dos pneus dos caminhões e vias afetadas, segundo Wolff.
“Além destes, a logística pode ser diretamente afetada caso a obra esteja em região de rodízio de fornecimento de água, causando até sua paralisação”, informa Wolff.
Impactos nas obras
Embora períodos sem chuva possam proporcionar frentes ininterruptas de serviço, principalmente em obras de terraplanagem, a escassez de chuvas também pode provocar a compactação do solo com umidade abaixo da desejável (umidade ótima), precisando ser molhado por caminhões-pipa.
De acordo com Wolff, com a baixa umidade do ar, a perda de água do concreto para o ambiente se acentua significativamente, sendo necessários cuidados extras com a cura do concreto para evitar patologias relacionadas à retração autógena. “Além da necessidade de umedecimento mais frequente das superfícies do concreto recém-endurecido, pode-se também cobrir as superfícies com geotêxteis encharcados, que evitem a evaporação da água, e utilizar curas químicas”, explica.
Outros problemas relacionados à estiagem
Wolff também menciona alguns problemas menos comuns relacionados à estiagem: “Recalques em edificações devido ao rebaixamento do lençol freático, principalmente em fundações diretas, e falhas no fornecimento de serviços cuja infraestrutura esteja abaixo do solo, também por deformações de adensamento profundo, como na distribuição de água potável, gás, recolhimento de esgoto sanitário e águas pluviais. Além disso, a pavimentação pode ser afetada, surgindo afundamentos e quebras nos materiais envolvidos”.
Entrevistado
Lucas Vaslanv da Silva Wolff é professor dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura da FAE Centro Universitário, com mestrado na área de estruturas e geotecnia.
Contato
lucas.wolff@fae.edu
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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