Projeto prevê troca de mosaico português no centro de São Paulo por piso de concreto
Substituição causa polêmica por conta do desaparecimento de pavimento histórico
Um projeto prevê uma mudança grande para o Centro Histórico de São Paulo: a troca do mosaico português (ou petit-pavê) nas calçadas e calçadões por um piso de concreto similar ao que há no Vale do Anhangabaú. No entanto, há críticos que são contra o projeto, uma vez que ele “apagaria” a história da cidade.
Sobretudo, a ideia é oferecer maior acessibilidade aos pedestres, uma vez que apresenta desníveis e riscos de queda. “O mosaico português tem uma importância histórica para São Paulo e tantas cidades brasileiras. Mas é um revestimento que exige muita manutenção, pois é assentado em areia e cada pedra é colocada manualmente. Junto a ele, na área central também há placas de granito, formando desenhos com o mosaico.
A base bem feita é muito importante para garantir o máximo de regularidade. Mas ao longo do tempo as pedras podem se deslocar, por conta das intempéries e tráfego de veículos pesados. E as placas de granito tendem a se danificar. A área de calçadão no Centro da cidade tem grande circulação de veículos, leves e pesados: viaturas, veículos de transporte de valores, de coleta de lixo, limpeza, de carga e descarga, etc. O tráfego constante gera desnivelamento no piso. Considerando isso, já seria suficiente para entender que o mosaico com o granito não é compatível com a realidade do local. Quem sofre mais diretamente são os pedestres que trafegam no local e ficam em situação de risco de queda”, explica a arquiteta e urbanista Elisa Prado de Assis.
Para o arquiteto Eduardo Novaes, o mosaico português tem desníveis e é bastante escorregadio em dias de chuva, além de não ser acessível para pessoas com deficiência. De acordo com dados da Prefeitura de São Paulo, as calçadas da região geram 5.400 quedas por ano, que resultam em um custo médio de R$ 31 milhões em tratamento.
O investimento previsto é de R$ 80 milhões e a Prefeitura iria abrir a licitação em maio. No entanto, o Tribunal de Contas do Município (TCM) apontou irregularidades no edital e o processo foi suspenso. Além da troca do piso, o projeto prevê ainda a implementação de acessibilidade universal, de uma nova sinalização turística e da iluminação funcional e cênica, além da instalação da infraestrutura subterrânea de drenagem e instalação de valas técnicas para melhor ordenamento das redes de telecomunicações.
Manutenção do piso português
De acordo com Elisa, por conta da constante manutenção, diariamente a Prefeitura precisa encaminhar equipes para reposição de peças soltas, placas danificadas. “O concreto não tem uma necessidade de manutenção tão constante. São redução de custos com material e mão de obra”, pontua.
Destruição histórica?
Novaes lembra que esta não é a primeira vez que São Paulo realiza a troca do mosaico português pelo pavimento de concreto. O mesmo já aconteceu na calçada da Avenida Paulista, com o mesmo objetivo de promover a acessibilidade. A calçada do Conjunto Nacional, prédio que fica na altura do número 2.000 da avenida, é o único lugar onde o piso de mosaico português foi preservado.
Na opinião do arquiteto, preservar uma área do mosaico e promover a troca na maior parte do espaço é uma boa solução. “Este tipo de piso é muito antigo, do século XIX. E acessibilidade é um assunto relativamente novo. Portanto, ele não é confortável e pode provocar acidentes. E hoje 14% da população tem algum tipo de deficiência – seja temporária ou definitiva. No entanto, como forma de manter parte da história, é importante preservar em alguns trechos. É possível fazer uma paginação que preveja o concreto na maior parte do espaço, ao mesmo tempo em que mantém alguns trechos de petit pavê”, sugere Novaes.
Já Elisa acredita que a questão histórica está preservada em muitos outros pontos do Centro. “Lembrando que o calçadão em mosaico português no Centro de São Paulo foi implementado na década de 70. Então não estamos perdendo uma memória equivalente a este período. Que sim, faz parte também da história dessa área. Mas precisamos entender como uma evolução de qualidade para todos. Mudar o piso não trará perda nesse sentido. E sim ganhos, pois mais pessoas terão acesso à região com segurança e poderão usufruir da ambiência, dos edifícios e de tantos marcos históricos da nossa cidade”, conclui.
Entrevistados
Eduardo Novaes é diretor do Escritório Eduardo Novaes Arquitetura e Urbanismo Ltda. É associado e ex-diretor da ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, filiada à IFLA – International Federation of Landscapes Architects; com participação no IAB, AsBEA, ENEPEA e FNA, como membro da representação da ABAP participou na formatação original do CAU – Colégio de Arquitetura e Urbanismo; e foi membro durante 10 anos, do grupo de desenvolvimento do Congresso Anual de Arquitetura Paisagística.
Elisa Prado de Assis é arquiteta e urbanista, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduada em Tecnologia de Edificações para Engenheiros e Arquitetos, pela POLI-USP e mestra pela FAU-USP com o tema “Acessibilidade nos bens culturais imóveis”. De 2007 a 2012 trabalhou com a Comissão Permanente de Acessibilidade da Prefeitura de São Paulo (SMPED/CPA) ministrando cursos sobre o tema, avaliando projetos de adequação à acessibilidade e realizando vistorias técnicas. Desde 2017 atua representando o IAB na CPA. Ministra cursos e palestras sobre acessibilidade e realiza consultorias e projetos, com o objetivo de garantir a plena acessibilidade nos espaços edificados.
Contatos
Eduardo Novaes – eduardo@eduardonovaes.com.br
Elisa Prado de Assis – contato@elisaprado.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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