Pré-moldado quer abrir portas na universidade
Encontro leva grandes nomes do concreto ao universo acadêmico e mostra verdade absoluta: industrialização na construção civil é inexorável.
Encontro leva grandes nomes do concreto ao universo acadêmico e mostra verdade absoluta: industrialização na construção civil é inexorável
Por: Altair Santos
A construção industrializada decidiu enfrentar um entrave: fazer com que a tecnologia abra as portas do mundo acadêmico e se propague entre os futuros engenheiros civis. As universidades admitem que boa parte dos novos profissionais não domina os processos à base de pré-fabricados. “A maioria das escolas de engenharia e arquitetura não trata este assunto como deveria. Normalmente, o tema é abordado em uma disciplina alternativa, que é ensinada no último ano da graduação, quando o aluno já está mais focado no mercado de trabalho”, revela o professor Mounir Khalil El Debs, do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP).
Um dos marcos desta aproximação da construção industrializada com o universo acadêmico ocorreu no 3º Encontro Nacional de Pesquisa, Projeto e Produção em Concreto Pré-Moldado, onde nomes como Marco di Prisco, professor e chefe do Departamento de Engenharia de Estruturas do Politécnico de Milão, na Itália; Minehiro Nishiyama, professor do Departamento de Arquitetura e Engenharia da Universidade de Kyoto (Japão) e vice-presidente do Instituto do Concreto Protendido do Japão (JPCI); Paulo Helene, professor titular da USP e presidente da Associação Latino Americana de Controle de Qualidade, Patologia e Recuperação das Construções (ALCONPAT) e Sami Rizkalla, professor de Engenharia Civil e diretor do Laboratório de Construção da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mostraram as inovações e aplicações do pré-moldado mundo afora.
No evento, que acontece de quatro em quatro anos, e em 2013 teve a EESC/USP como anfitriã, Sami Rizkalla palestrou sobre o estado atual da aplicação de armadura não metálica em concreto, especificamente para o pré-moldado. Já Marco di Prisco mostrou a evolução de elementos delgados para cobertura, uma tecnologia bem desenvolvida na Itália. Minehiro Nishiyama tratou dos materiais de alta resistência, bem evoluídos no Japão. “São experiências diferentes da nossa. Embora seja outra realidade, temos que ter o discernimento de ver o que podemos pegar de lá e aplicar aqui. Precisamos saber o que está acontecendo, para aprimorar nossos procedimentos em relação ao concreto pré-moldado“, revela Mounir Khalil El Debs.
Outro ponto relevante abordado no simpósio, o qual contou com a parceria da Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto) esteve relacionado aos novos cálculos para edifícios em pré-fabricado sujeitos a sismos. “Isso é algo que, apesar de existir uma norma de sismo no Brasil, os projetistas não estão ainda familiarizados”, completou Mounir Khalil El Debs, lembrando que, entre os palestrantes brasileiros, o professor Paulo Helene foi o que mobilizou as maiores atenções. “Ele abordou a importância do concreto pré-moldado para a questão da sustentabilidade”, destacou.
Do encontro, nasceu um consenso: o de que o avanço da industrialização na construção civil brasileira é inexorável. “Temos que modernizar. Não há como continuar desperdiçando material. As questões envolvendo sustentabilidade, morosidade da construção e perturbação do ambiente, tudo isso são demandas que a sociedade está exigindo que sejam melhoradas. Por outro lado, tem o problema da mão de obra, que está cada vez mais difícil de contratar e não se qualifica no ritmo que é necessário. Fatalmente, a maior parte das etapas no canteiro de obras terá de vir pronta. É uma tendência irreversível”, diz o professor da EESC/USP.
Durante o 3º Encontro Nacional de Pesquisa, Projeto e Produção em Concreto Pré-Moldado foram apresentados 18 trabalhos acadêmicos sobre construção industrializada. Entre os mais relevantes, estão os que tratam de ligações semirrígidas. “São modelos que mostram que a aplicação do concreto pré-moldado pode ser mais palpável. Mas não é um evento específico que vai desmistificar o emprego deste tipo de material. O ideal seria que as escolas aprofundassem o ensino e mostrassem as vantagens da aplicabilidade do pré-moldado. Passa a ser o papel delas a partir de agora”, conclui Mounir Khalil El Debs.
Entrevistado
Mounir Khalil El Debs, professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP)
Currículo
– Mounir Khalil El Debs é graduado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1972), com mestrado em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (1976) e doutorado em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (1984). Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo.
– Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em estruturas de concreto, atuando principalmente nos seguintes temas: concreto pré-moldado, ligações, pontes de concreto, ensaios estruturais e elementos delgados de concreto.
– É autor ou coautor de aproximadamente 150 trabalhos técnicos completos publicados em anais de congressos e revistas, além de autor do livro Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações, publicado pela EESC-USP, em 2000.
Contatos: www.set.eesc.usp.br/3enpppcpm / mkdebs@sc.usp.br
Créditos foto: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos
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