Na Ponte de Laguna, cada concreto cumpre uma função
Foram empregados materiais distintos em sete partes relevantes da estrutura de 2.830 metros construída na BR-101, em Santa Catarina
Foram empregados materiais distintos em sete partes relevantes da estrutura de 2.830 metros construída na BR-101, em Santa Catarina
Por: Altair Santos
A Ponte de Laguna, inaugurada em 2015 no trecho da BR-101 que corta Santa Catarina, tem a pretensão de ser imune a patologias. O projeto estabelece que ela possa chegar a 100 anos sem risco de que os concretos usados em sua construção venham a sofrer com reações que ameacem suas estruturas. Por isso, os materiais pré-fabricados, protendidos e o concreto autoadensável utilizados na ponte tiveram características diferentes para cada tipo de aplicação.
Segundo o engenheiro civil Denis Fernandes Weidmann, com especialidade em tecnologias do concreto – e que atuou como consultor técnico na obra -, foram empregados materiais distintos em sete partes relevantes da Anita Garibaldi: estacas de fundação, pilares e consoles, aduelas, mãos francesas e pré-lajes e concreto do mastro. “A ponte foi executada com rigoroso controle de qualidade dos concretos, dos métodos construtivos e dos demais materiais empregados. Isso, por si só, já garante menor probabilidade de patologias”, diz.
A dosagem dos concretos convencionais ou autoadensáveis para uso em elementos pré-fabricados e protendidos foi estudada previamente, a fim de atender às especificações técnicas da obra. “O objetivo era buscar as soluções mais adequadas aos sistemas construtivos, adaptando-as às condições de logística. Obviamente, sempre pensando na performance e na produtividade”, explica Denis Fernandes Weidmann, que palestrou sobre o assunto na recente edição do Sempat/SC-2016 (Seminário de Patologia da Construção de Santa Catarina).
Para chegar aos concretos de alto desempenho utilizados na Ponte de Laguna, fez-se uso do que há de mais avançado no Brasil, em termos de tecnologia de aditivos. As empresas envolvidas no consórcio da obra também colocaram a experiência aprendida em outros empreendimentos para desenvolver materiais com características inéditas para a ponte. ”Cada concreto é único, pois ele sofre influência das condições climáticas, dos materiais constituintes e das condições do entorno da obra. Tudo isso foi levado em conta na produção dos concretos usados na Ponte de Laguna”, explica.
Agregados flexíveis
As estruturas da Anita Garibaldi, ao longo de seus 2.830 metros, consumiram 110.000 m³ de concreto. O material que requereu mais inovações tecnológicas foi o utilizado nas 136 estacas, e que totalizaram aproximadamente 30.000 m³. As estruturas possuem 2,5 metros de diâmetro e algumas chegam a mais de 60 metros de profundidade. “Devido ao tempo necessário para transporte e lançamento do concreto nas estacas, ele precisava permanecer plástico por pelo menos 16 horas. Além disso, o material foi formulado para ter a menor exsudação possível, reduzindo o volume necessário a ser expurgado e diminuindo também o arrasamento das estacas depois de concretadas”, revela Weidmann.
Por isso, no concreto usado nas estacas, foram empregados três tipos de aditivos: um modificador de viscosidade para espessar a água, reduzindo a possibilidade de exsudação e propiciando o uso do menor teor de argamassa possível; um aditivo estabilizador de hidratação, para controle do tempo de pega e manutenção de trabalhabilidade do concreto pelo período requerido; e um aditivo superplastificante à base de policarboxilatos, para reduzir ao máximo a quantidade de água, mantendo-se uma boa reologia para aplicação do concreto.
Outro concreto que mereceu atenção especial foi o usado na execução dos mastros. “Ele precisava ser pouco deformável, com elevado módulo de elasticidade. Para estes concretos, foi necessário trazer agregados de origem basáltica da região de Maracajá – 90 quilômetros ao sul de Laguna -, em detrimento dos agregados de origem granítica da região de Tubarão, que foram empregados em todo o restante da obra”, finaliza Denis Fernandes Weidmann, revelando que na Ponte de Laguna cada concreto cumpre uma função.
Saiba mais sobre a Ponte de Laguna
Entrevistado
Engenheiro civil Denis Fernandes Weidmann, especialista em concretos e membro pesquisador do GTec (Grupo de Tecnologia em Materiais a Base de Cimento Portland). É sócio-diretor da WD Consultoria e Engenharia, diretor-técnico regional do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) e coordenador regional do Curso de Pós-Graduação em Tecnologia do Concreto do Instituto IDD.
Contato
denisfw@gmail.com
Crédito Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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