Pavimentos permeáveis de concreto avançam no país como solução técnica para drenagem, sustentabilidade e mitigação climática
Pesquisa nacional reúne avanços desse material sobre desempenho mecânico, permeabilidade, uso de agregados reciclados e potencial de captura de CO₂
A adoção de pavimentos permeáveis de concreto vem ganhando relevância no setor da construção civil, especialmente em projetos voltados à drenagem urbana sustentável. Diferentemente dos revestimentos convencionais, esse sistema permite a infiltração da água por meio de uma matriz porosa cuidadosamente projetada, contribuindo para a redução de alagamentos, a diminuição do escoamento superficial e aproximação das cidades do conceito de “cidade esponja”.
Pesquisas conduzidas no Brasil têm aprofundado a compreensão dos mecanismos físicos e químicos que caracterizam esse tipo de pavimento. A engenheira e pesquisadora Kathleen Dall Bello de Souza Risson, do Instituto Federal do Paraná (IFPR), dedica-se ao tema desde 2017. Ao longo de sua investigação, avaliou desde procedimentos de moldagem em laboratório até o desempenho de pistas experimentais construídas em campo. “Minha pesquisa buscou relacionar as propriedades avaliadas em laboratório com aquelas obtidas a partir da extração de testemunhos dos pavimentos”, explica.
Estrutura, composição e parâmetros técnicos essenciais
O pavimento permeável é constituído por concreto de elevada porosidade, com vazios interconectados que normalmente variam entre 15% e 30%. Esses macroporos formam canais contínuos que permitem o escoamento de água, conferindo ao sistema elevada capacidade drenante. As dosagens são definidas em função do uso final do pavimento e podem envolver consumos de cimento entre 180 e 555 kg/m³, agregado graúdo entre 964 e 2000 kg/m³ e teores reduzidos ou até mesmo nulos de agregado miúdo. Relações água/cimento na faixa de 0,22 e 0,43 são comuns, assim como a utilização de aditivos plastificantes ou superplastificantes para a redução do teor de água usada, embora a pesquisa desenvolvida no IFPR tenha optado por não os utilizar.

Crédito: Redação Concrete Show Digital
O procedimento de moldagem também é determinante. No estudo conduzido por Kathleen, a mistura dos materiais foi padronizada em 5 minutos, e a moldagem dos corpos de prova foi realizada com 50 golpes do Martelo de Proctor de 2,5 kg, padronizando a energia de compactação, garantindo assim a equivalência e reprodutibilidade entre amostras. Os corpos de prova foram avaliados quanto à massa específica, porcentagem de vazios, permeabilidade e resistência à compressão. Em paralelo, foram realizados testes de carbonatação para mensurar a difusão de CO2 e sua conversão em carbonatos, um tema ainda incipiente, mas com grande potencial para o setor.
Permeabilidade e captura de CO2
Um dos diferenciais da pesquisa de Risson, é quantificar o CO2 fixado com a incorporação de agregados reciclados de Resíduos da Construção e Demolição (RCD) na produção do concreto permeável. O estudo avaliou substituições de 15%, 30% e 45% da brita basáltica por agregado reciclado do tipo misto, (aquele que pode conter fragmentos cerâmicos, de concreto e argamassa endurecidos, pedras naturais e pequenas frações de outros materiais minerais aderidos, como por exemplo os revestimentos), com dimensão máxima de 19 mm. Os resultados apontam ganhos importantes: “O uso de agregados reciclados favoreceu a difusibilidade de CO2 e intensificou a carbonatação do concreto permeável”, afirma Kathleen.
A incorporação de RCD resultou em melhora do desempenho hidráulico e manteve o atendimento aos requisitos mínimos da NBR 16416:2015, embora tenha provocado redução da resistência à compressão em cerca de 32% aos 28 dias. A pesquisa identificou taxas de área carbonatada que alcançaram 56,45% nas amostras com 45% de substituição, evidenciando maior penetração de CO2 e maior potencial de fixação. A caracterização foi feita com auxílio de indicador fenolftaleína, associada à análise digital por meio do software ImageJ.
Comparações com pavimentos tradicionais e desafios futuros
A principal distinção entre pavimentos permeáveis e convencionais é funcional. Enquanto o concreto tradicional impede a infiltração da água e direciona o escoamento para sistemas de drenagem, o pavimento permeável permite infiltração total ou parcial. Essa característica reduz a pressão sobre galerias pluviais e minimiza a ocorrência de enchentes. “A elevada porosidade implica resistências menores, sendo, portanto, mais indicado para áreas de tráfego leve e moderado, como estacionamentos, calçadas, ciclovias e praças”, observa a pesquisadora.
Além de favorecer a drenagem, os pavimentos permeáveis contribuem para modelos urbanos mais sustentáveis, auxiliando no controle de ilhas de calor e promovendo a economia circular ao reaproveitar resíduos como insumo. Apesar dos avanços significativos, a pesquisadora ressalta que ainda há carência de métricas padronizadas capazes de quantificar a captura de carbono por unidade. “Esse requisito é indispensável para subsidiar sistemas de créditos de carbono que exigem valores mensuráveis e verificáveis. Nesse contexto, o uso combinado de agregados reciclados e pavimentos de concreto permeável merece atenção do poder público, dado o potencial de integrar gestão de resíduos, drenagem urbana e mitigação climática em uma única solução”, pontua.
Tecnologia madura e caminho aberto para cidades resilientes
Os pavimentos permeáveis de concreto evoluíram de experimentos laboratoriais para aplicações reais, apoiados por pesquisas robustas e por normas técnicas específicas. Sua adoção amplia a capacidade de gestão da água, integra resíduos ao ciclo produtivo e oferece potencial adicional de mitigação climática, reunindo um conjunto raro de benefícios em um único sistema construtivo.
Com investimentos adequados em manutenção, regulamentação e mensuração de carbono, a tecnologia tende a se tornar um componente estratégico na infraestrutura das cidades brasileiras. Trata-se de uma solução capaz de unir engenharia, sustentabilidade e resiliência urbana frente aos novos desafios climáticos.
Entrevistada
Kathleen Dall Bello de Souza Risson é graduada em Engenharia Civil pela Faculdade Dinâmica das Cataratas (UDC), especialista em Gerenciamento e Execução de Obras (UDC) e em Docência da Educação Profissional e Tecnológica (IFPR), mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e doutora em Energia e Sustentabilidade pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Atua como docente EBTT e pesquisadora no Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Foz do Iguaçu. Desenvolve pesquisas nas áreas de obtenção, processamento, caracterização e tratamento de resíduos para uso como material cimentício suplementar; mineralização de CO2 em resíduos sólidos como tecnologia para mitigação das emissões de carbono; e dosagem e performance de pavimentos em concreto permeável.
Contato
kathleen.souza@ifpr.edu.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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