A ponte Morandi, construída para cruzar o rio Polcevera, em Gênova, na Itália, desabou na manhã de 14 de agosto, causando 43 mortes (dados oficiais). Inaugurada em 1967, a estrutura passou por reformas na década de 1990 e em 2016. As investigações preliminares dos organismos de engenharia da Itália estimam que a ponte não havia sido projetada para receber os 25 milhões de veículos que por ela passaram a trafegar anualmente. Há também outras opiniões que sugerem que recente manutenção em um dos pilares pode ter influenciado na queda.
O diagnóstico mais verossímil parece estar no relatório de 2016, feito pelo engenheiro-estrutural Antonio Brencich, que também leciona na disciplina de concreto armado pela Universidade de Gênova. O documento aponta que a ponte deveria ter sido demolida e não reformada. “Há erros nesta ponte, que vêm de falhas de execução em relação ao projeto. São falhas estruturais no convés da ponte que influenciam em seu balanço. Mais cedo ou mais tarde terá que ser substituída. Há vários aspectos problemáticos, cuja reforma fica mais cara que a demolição e a construção de uma estrutura nova”, alertou na época. Dois anos depois, a ponte, que tinha 1.182 metros, viu um vão de 206 metros entrar em colapso.
Em seus estudos sobre a ponte Morandi, Antonio Brencich descobriu que a obra foi construída com estrutura mista – concreto protendido no convés e concreto armado nas torres e pilares. “É bom enfatizar que o colapso de uma ponte é a soma de uma longa série de erros: concepção construtiva, manutenção e uso inadequado em relação ao projeto. Quem, por exemplo, autorizou o trânsito de veículos pesados na ponte, o que fez com que as cargas sobre a estrutura extrapolassem o que é permitido em norma, que são duas vezes e meia a que ela normalmente suportaria?”, questiona o professor da Universidade de Gênova.
Raio e falhas geológicas foram descartadas pelos especialistas
Outras teses, não avalizadas por engenheiros, foram incorporadas à tragédia que ocorreu na Itália. Uma delas, segundo relatos de testemunhas, é que um raio atingiu a ponte segundos antes de ela desabar. De fato, no horário em que a estrutura desabou – por volta de 11h30 – chovia forte em Gênova, mas especialistas não relacionam o fenômeno meteorológico à queda da ponte. Da mesma forma, ruiu a tese de que os pilares estariam assentados sobre uma falha geológica. A ordem dos geólogos da Itália descartou essa hipótese, afirmando que o terreno não sofreu nenhuma instabilidade.
As investigações seguem e o laudo oficial sobre a causa do colapso só deve ser conhecido em seis meses. No entanto, as análises preliminares indicam tratar-se de uma fadiga estrutural, ainda que a concessionária que administrava o trecho que englobava a ponte, a Autostrade per l’Italia, tenha afirmado que realizava vistorias rotineiras na obra e que não encontrou nenhuma patologia antes do desabamento. De qualquer forma, o acidente colocou o governo da Itália em alerta. Motivo: o país tem pelo menos 300 estruturas, entre pontes, viadutos e túneis, que estariam em situação semelhante à da Morandi, que não foi a única a desabar recentemente na Itália. Estima-se que, desde 2013, dez pontes ruíram no país. A maioria sem vítimas fatais.
Entrevistado
Reportagem com base em coletânea de entrevistas que o engenheiro-estrutural Antonio Brencich concedeu à imprensa italiana, após a tragédia
Contato: dicca@pec.unige.it
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330