Nova poupança pode baratear financiamento imobiliário

8 de junho de 2012

Nova poupança pode baratear financiamento imobiliário

Nova poupança pode baratear financiamento imobiliário 150 150 Cimento Itambé

Especialista avalia que mudança nas regras da aplicação, acompanhada da queda de juros, estimulará bancos privados a competir com a Caixa

Por:Altair Santos

O governo decidiu mexer nas regras da caderneta de poupança, sob a alegação de que o investimento engessaria a queda de juros. A aplicação é a principal fonte de recursos na área de habitação, pois 65% do saldo das captações têm que ser obrigatoriamente direcionado para o setor. Por isso, temia-se que o novo modelo de remuneração gerasse mais saques que depósitos e desestimulasse o investidor, reduzindo os recursos para o financiamento habitacional.

Fábio Gallo, professor de finanças da PUC-SP: "Financiamento imobiliário tende a se tornar um produto atraente para os bancos".

Mas não é isso que se percebe. Nos primeiros 30 dias em que as novas regras da poupança estiveram em vigor, a captação se manteve em alta. A diferença entre depósitos e retiradas foi positiva em quase R$ 2 bilhões. Além disso, é praticamente unanimidade entre especialistas a opinião de que as mudanças deverão baratear os financiamentos imobiliários.

Compartilha desta ideia o professor de finanças da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Fábio Gallo. “A tendência é que as mudanças nas regras de remuneração da caderneta de poupança tornem o financiamento imobiliário mais barato e também estimulem os bancos privados a quererem competir neste setor. Com a determinação clara do governo de abaixar as taxas de juros, fatalmente isso irá forçar todo o mercado a acompanhar. Quem não quiser acompanhar, estará fora do mercado”, avalia.

Fábio Gallo contesta também a tese de que as mudanças na regra da poupança podem levar a um colapso nos recursos que financiam o crédito imobiliário. “Por enquanto não tem nenhum indicador, mas potencialmente até pode acontecer isso. Porém, o governo tem instrumentos para incentivar este tipo de mercado e eu não acredito muito nesta hipótese. Acredito sim que o mercado vai se sofisticar. Podem surgir iniciativas de securitização do financiamento imobiliário, como os covered bonds (títulos de captação de recursos) mas tudo vai depender da demanda”, afirma.
 
O especialista descarta ainda a possibilidade de, com os juros baixos, as construtoras e as incorporadoras entrarem no mercado de financiamento de imóveis, competindo com os bancos. “As construtoras e as incorporadoras têm os seus orçamentos e os seus financiamentos para erguerem prédios e casas. Não creio que elas queiram mudar o perfil. O modelo de financiamento imobiliário no Brasil funciona através dos bancos e tende a continuar assim”, garante.

O professor de finanças da PUC-SP considera ainda que a nova poupança não vai prejudicar o programa Minha Casa, Minha Vida. “Esse programa tem dinheiro estatal e ação efetiva de bancos estatais, como a Caixa Econômica Federal. Ele tem regras bem definidas e a tendência é que a redução das taxas de juros estimule a demanda”, conclui.

Entenda a mudança

Cada vez que a taxa básica de juros, a Selic, chegar a 8,5% ou menos, o saldo da caderneta de poupança terá rendimento anual inferior aos 6,17%+TR praticados até 3 de maio de 2012. A mudança vale apenas para novos depósitos. O poupador passará a receber rendimento de 70% da Selic (quando ela ficar abaixo de 8,5%), mais TR (Taxa Referencial). “As mudanças das regras da caderneta de poupança foram necessárias para o mercado. Não dava para mantê-la como fixada em lei (6,17% ao ano + variação da TR). Da forma como estava, o governo teria problemas até para se autofinanciar”, explica Fábio Gallo.

Entrevistado
Fábio Gallo Garcia, professor de finanças da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Currículo
– Graduado em Engenharia Agrimensura pela Faculdade de Engenharia Agrimensura de Pirassununga (1979), graduado em Administração de Empresas pela Fundação Octávio Bastos (1981), mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas-SP (1985) e doutor em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas-SP (2002).
– É professor da Fundação Getúlio Vargas e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
– Atualmente é sócio-diretor da LGM Consultoria e Representações Ltda., sócio-diretor da Sinalização e Arte Comunicação Visual Ltda.
– Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração Financeira, atuando principalmente nos seguintes temas: Assimetria Informacional, Finanças Internacionais, Investimentos e Finanças Comportamentais.
Contato: fgallo@pucsp.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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