Para o engenheiro estrutural Mark P. Sarkisian, projetar prédios superaltos requer uma observação minuciosa da natureza. “Os princípios da natureza norteiam os cálculos. Há princípios matemáticos muito definidos e que devem nos inspirar”, diz uma das sumidades mundiais em arranha-céus. Sarkisian esteve recentemente palestrando no ENECE 2019 (Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural) – evento anual promovido pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural).
Entre as análises feitas por Mark P. Sarkisian, ele destacou que o bambu e os furacões são os elementos da natureza que mais o inspiram. “O bambu é uma fonte inspiradora para quem projeta prédios superaltos. Os colmos da planta possuem uma precisão matemática incrível. E são eles que dão sustentação para que o bambu possa atingir até 20 metros, dependendo da espécie”, relata. Sobre os furacões, Sarkisian destaca que a forma de caracol do fenômeno climático é que permite que ele atinja grandes alturas sem perder a sustentação.
Autor do livro “Projetando edifícios altos: estrutura e arquitetura”, o engenheiro lembra em sua palestra que os dois elementos da natureza que mais o inspiram serviram de base para que projetasse as torres do China World Trade Center, em Pequim, inauguradas em 2017, e o Burj Khalifa, em 2010, em Dubai. “Quem vê as torres do CWTC enxerga uma estrutura que lembra muito o bambu. Já o Burj Khalifa tem um formato inspirado em uma espiral e suas fundações tiveram como ponto de partida as raízes e o caule da flor do deserto”, revela.
A princípio, Burj Khalifa havia sido projetado para ter 560 metros
Sócio do escritório Skimore, Owings & Merril, sediado em São Francisco-EUA, Sarkisian conta que, inicialmente, o Burj Khalifa havia sido projetado para ter 560 metros. “No entanto, a base em forma de tripé e o formato espiralado nos deram segurança para que ele fosse crescendo mais. À medida que o edifício ia subindo, menores eram os efeitos do vento sobre ele”, comenta o projetista. Com 828 metros de altura, o Burj Khalifa ainda é o maior prédio do mundo e teve seu projeto estrutural todo concebido em concreto armado.
Por isso, Mark P. Sarkisian avalia que o material seguirá predominante na construção de edifícios superaltos. “Os prédios superaltos têm um futuro ótimo. Também estamos convictos de que essas edificações não precisarão ser construídas com concreto de ultra-alto desempenho (CUAD), mas com concretos com resistência que variem de 80 MPa a 120 MPa. O que eles precisam ser é resilientes. Essa foi a nossa maior lição depois do 11 de setembro (ataques às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 2001): precisamos construir edificações resilientes. E a natureza está aí para nos ajudar”, sentencia.
Mark P. Sarkisian finaliza sua palestra lembrando que os projetos estruturais de edifícios superaltos devem se concentrar no equilíbrio das cargas. “Nem sempre é importante pensar em materiais super resistentes, mas nos princípios matemáticos das forças que vão agir sobre aquela edificação. Principalmente, se formos construir em áreas propensas a furacões e terremotos”, ressalta.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra do engenheiro estrutural Mark P. Sarkisian, sócio do escritório Skimore, Owings & Merril, sediado em São Francisco-EUA, no ENECE 2019 (Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural).
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330