Minha Casa Minha Vida esquece de reurbanizar favelas
Grupo de arquitetos voltado para a habitação de interesse social tenta compensar falha do programa com adoção de seus projetos pelas Cohabs
Grupo de arquitetos voltado para a habitação de interesse social tenta compensar falha do programa com adoção de seus projetos pelas Cohabs
Por: Altair Santos
Para alguns urbanistas, o programa Minha Casa Minha Vida teve um erro de concepção ao não priorizar a reurbanização de favelas e a recuperação de áreas degradadas nos grandes centros urbanos. Para compensar essa falha, especialistas têm se preocupado em viabilizar projetos que permitam a transformação destes bolsões de pobreza em espaços habitáveis dignamente. Para isso, a solução tem sido sensibilizar organismos como as Cohabs.
Trata-se de um movimento que já constituiu um bom número de projetos, mas cujas parcerias com os poderes públicos municipais e estaduais ainda resultam em poucas ações concretas. No Brasil, atualmente, só há dois cases emblemáticos: a favela do Sapé, no bairro Rio Pequeno, na periferia da cidade de São Paulo, e o conjunto habitacional do Jardim Edite, que convive com uma área nobre da capital paulista.
São complexos de interesse social que se diferenciam do antigo projeto Cingapura, viabilizado pelo então prefeito paulistano Paulo Maluf no início dos anos 1990. “Não é apenas verticalizar as favelas, mas levar para esses espaços serviços públicos como postos de saúde, creches e escolas técnicas que permitam a qualificação dos moradores que irão habitá-los”, explicou o arquiteto Milton Liebentritt de Almeida Braga, do escritório MMBB Arquitetos, em um recente webseminário promovido pelo portal AECweb.
O Jardim Edite ocupa um dos espaços urbanos com o m² mais caro da cidade de São Paulo: o da avenida Berrini. Antes de a infraestrutura rodoviária ser construída, a favela já existia no local. Em vez de removê-la, a prefeitura de São Paulo denominou a área como uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) e abriu para a iniciativa privada pensar em soluções. Da mesma forma ocorreu com a favela do Sapé. Nos dois modelos de reurbanização, as estruturas pré-fabricadas de concreto foram decisivas para o cumprimento do cronograma das obras.
Parcerias público-privadas
Para Milton Braga, é a prova de que a desfavelização é possível. Mas para isso, diz, é importante estabelecer a parceria entre o poder público, que planeja, e a iniciativa privada, que constrói. “O Brasil tem um exemplo eloquente de sua capacidade de desenvolver projetos urbanos planejados, que é Brasília. No entanto, boa parte de suas metrópoles cresceu desordenadamente, pelas mãos dos loteamentos privados, e sem contar com o planejamento do poder público. O resultado é um tecido urbano fragmentado, sem equilíbrio e organização. São Paulo é um exemplo clássico”, afirma.
Diante desta linha de raciocínio, o arquiteto avalia que os cases do Jardim Edite e da favela do Sapé podem servir de exemplo não apenas para habitações de interesse social, mas para se combater um dos males das grandes cidades brasileiras, que são as enchentes e a poluição de rios e córregos. “Com a reurbanização de favelas é possível abrir espaço para restabelecer as áreas verdes no entorno de rios e córregos, criando parques lineares com calçamento e ciclovias”, avalia, convicto de que os primeiros passos para essa transformação começam a ser dados.
Entrevistado
Arquiteto Milton Liebentritt de Almeida Braga, sócio do escritório MMBB Arquitetos (via webconferência do portal AECweb)
Contato: mmbb@mmbb.com.br
Créditos Fotos: Pedro Vannucchi/Divulgação/MMBB
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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