Projetado por pesquisadores do IFSTTAR (Instituto Francês de Ciência e Tecnologia de Transporte, Planejamento e Redes), o CUD (do francês Les Chaussées Urbaines Démontables [Pavimentos Desmontáveis Urbanos]) se espalha pela Europa e chega ao Canadá. A ideia é oferecer soluções para as ruas, quando elas precisam passar por manutenção ou serem abertas para o uso de serviços como água e esgoto, energia elétrica ou gás. “Propusemos um piso modular que pode ser instalado e removido indefinidamente para permitir que a cidade se adapte continuamente às mudanças”, explica o engenheiro Thierry Sedran, vice-chefe do Laboratório de Materiais Inovadores para Infraestruturas de Transporte do IFSTTAR.
O CUD é formado por blocos pré-fabricados de concreto em formato hexagonal, que podem ser retirados e recolocados sem grandes operações de retrabalho. O IFSTTAR justifica o desenho hexagonal das peças por elas terem ângulos abertos. Com isso, minimiza o risco de quebras no concreto. Os blocos possuem 1 metro de diâmetro por 20 centímetros de espessura. “Nem todas as geometrias permitem pavimentar um espaço. Os blocos em forma de triângulo e quadrado concentram tensões e correm o risco de quebrar. Daí a ideia do hexágono, que permite ângulos mais abertos, o que minimiza o risco de quebra do pavimento”, diz Thierry Sedran.
A primeira cidade francesa a receber o pavimento desmontável urbano foi Nantes, há 12 anos. Nesse período, o IFSTTAR monitorou as ruas onde o CUD foi instalado. Mesmo com montagem e remontagem das vias, o instituto francês atesta a boa qualidade das peças de concreto. “A vida útil de um bloco hexagonal é de 30 anos, ou seja, um pavimento bastante competitivo se uma cidade pensar no longo prazo”, avalia o engenheiro Thierry Sedran. Após perceber o bom desempenho das estruturas hexagonais em ruas urbanas de Nantes, a prefeitura de Paris também aderiu à ideia. Barcelona, na Espanha, as adotou recentemente. Agora chegou a vez de Toronto, no Canadá, usá-las na construção de um bairro inteligente.
Todas as vias do Quayside, em Toronto, vão usar invenção francesa
A subsidiária do Google, a Sidewalk Labs, projeta desde 2017 a construção do Quayside, que sairá do papel em 2020. A ideia é que o bairro possa receber carros autônomos, calçadas rolantes, robôs que farão o gerenciamento dos resíduos sólidos e uma rede de sensores capaz de monitorar ruídos, tráfego e poluição. O projeto prevê coleta de dados em todo o bairro, para aprimorar sua gestão e mantê-lo dentro dos padrões de sustentabilidade. Por isso, as ruas terão alta tecnologia por baixo do pavimento, o que levou os idealizadores do Quayside a optar pela versatilidade do CUD.
O bairro – pequeno para os padrões urbanos atuais – terá 48,6 mil m2 (pouco mais de 4 hectares e meio) e o investimento para construí-lo será de 3,9 bilhões de dólares. Com vocação residencial, o Quayside terá 2.600 moradias e promete gerar 3.900 empregos diretos durante a fase de construção, além de 9.000 indiretos. A previsão é que a execução se dê ao longo de 5 anos.
Veja vídeo sobre como são montadas e desmontadas as placas nas ruas
Entrevistado
Engenheiro Thierry Sedran, vice-chefe do Laboratório de Materiais Inovadores para Infraestruturas de Transporte do IFSTTAR
Contato
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thierry.sedran@ifsttar.fr
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330