Nova linha férrea a Paranaguá será recortada por túneis

20 de dezembro de 2017

Nova linha férrea a Paranaguá será recortada por túneis

Nova linha férrea a Paranaguá será recortada por túneis 1024 768 Cimento Itambé

Projeto foi apresentado na 23ª Semana de Engenharia, evento promovido recentemente pelo Instituto de Engenharia do Paraná

Alber de Andrade Pinto: projeto começou a ser desenvolvido pelo seu pai e é quase uma linha reta entre Curitiba e Paranaguá


Alber de Andrade Pinto: projeto começou a ser desenvolvido pelo seu pai e é quase uma linha reta entre Curitiba e Paranaguá

Em 2016, o Porto de Paranaguá, no litoral paranaense, movimentou 45,1 milhões de toneladas de cargas. Desse total, apenas 10 milhões foram transportadas por trens. O dado mostra o tamanho do gargalo ferroviário que impede a competitividade de um dos principais terminais portuários do Brasil. Focado neste problema, o engenheiro civil Alber de Andrade Pinto apresentou na 23ª Semana de Engenharia, promovida pelo Instituto de Engenharia do Paraná, um dos projetos mais ousados para a infraestrutura ferroviária nacional: um novo traçado cortando a Serra do Mar, que alavancaria o transporte de cargas por trem até o Porto de Paranaguá.

Pelo terminal portuário paranaense passa boa parte da safra de grãos produzida desde o Mato Grosso, passando por Mato Grosso do Sul e Paraná, sem contar que serve também para escoar as exportações e importações realizadas pelo Paraguai. Por conta dessa importância, o governo federal, através da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), passou todo o ano de 2017 trabalhando na elaboração de uma PMI (Proposta de Manifestação de Interesse), que busca atrair investimentos para modernizar principalmente o trecho ferroviário que liga a Lapa-PR a Curitiba-PR, e o que se estende da capital paranaense a Paranaguá, cortando a Serra do Mar.

No projeto apresentado por Alber de Andrade Pinto, e que tem sido aprimorado desde o seu pai, Reinaldo de Andrade Pinto – também engenheiro civil -, o trecho conhecido como estação Engenheiro Bley, na Lapa-PR, seria o entroncamento ligando o traçado novo às ferrovias que vêm do Mato Grosso do Sul, do interior do Paraná e do oeste de São Paulo. No trecho 1, entre Lapa e Curitiba, seria aproveitado o traçado existente e construída uma terceira via para bitolas mais largas e trens elétricos. Já o trecho 2, entre a capital paranaense e Paranaguá, começaria no bairro Umbará e iria até Alexandra, percorrendo uma extensão de 88,3 quilômetros.

O novo traçado contaria com 222 passagens de nível, desviaria das manchas urbanas, cortando trechos rurais, e passaria por 25 túneis. Cinco destes túneis seriam subterrâneos, com profundidade entre 200 metros e 500 metros, para não causar impactos ambientais no Parque Nacional Guaricana (4 túneis) e no Parque Nacional Saint Hilaire/Lange (1 túnel) – ambos áreas de preservação da Mata Atlântica. Em alguns trechos, o projeto usa como referência o traçado já existente da BR-277, que liga Curitiba a Paranaguá, evitando encostas e com raios de curva de 450 metros, bem diferente da ferrovia existente, inaugurada em 1885, que possui raios de curva de, no máximo, 90 metros.

Valorização da engenharia regional

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No plano apresentado por Alber de Andrade Pinto, toda a tecnologia está disponível na engenharia nacional, principalmente na engenharia paranaense. “As técnicas utilizadas não são diferentes das usadas para construir PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), e que escoam a água por túneis. Obviamente, os túneis para as ferrovias serão maiores. Projetamos túneis com 12 metros de largura e 7,90 metros de altura, que podem ser abertos por detonação, dispensando os chamados tatuzões (Tunnel Boring Machines [TBM], em inglês)”, explica o engenheiro civil. A largura dos túneis se justifica para poder suportar linhas com bitolas mistas. Uma com 1 metro, que é a utilizada atualmente, e outra de 1,60 metro, para trens modernos.

De acordo com o projeto, os túneis terão galerias de fuga e chaminés de ventilação, por causa das locomotivas movidas a diesel. O plano prevê ainda que os trilhos possam capturar a energia gerada pela frenagem dos trens. A tecnologia já está em uso na Europa, nos Estados Unidos e em países asiáticos, como China, Japão e Coreia do Sul. “Cada locomotiva em movimento pode gerar 5 MW ao longo do traçado. Hoje, essa energia é dissipada em forma de calor, mas com a tecnologia os trens podem virar uma PCH em movimento”, revela Alber de Andrade Pinto, prevendo que a obra, atualmente, seria viabilizada com R$ 1,5 bilhão. “O cronograma seria rápido, pois a pesquisa sobre o traçado ideal já está consolidada”, completa.

O engenheiro civil afirma que o segredo da nova ferrovia na Serra do Mar é seguir a formação geológica da região. “O granito é que vai nos mostrar o caminho para a nova ferrovia”, diz. A projeção é que a abertura dos túneis exija a remoção de 2,5 milhões de m3 de escavações subterrâneas. “A opção pelos túneis é a mais segura. Túneis raramente são obras que apresentam problemas e são sustentáveis, pois preservam o meio ambiente”, avalia Alber de Andrade Pinto. Ainda segundo o plano, o traçado antigo, projetado pelos irmãos Rebouças, continuaria em uso, mas apenas para o turismo.

Entrevistado
Engenheiro civil Alber de Andrade Pinto
(com base em palestra apresentada na 23ª Semana de Engenharia, promovida pelo Instituto de Engenharia do Paraná)

Contato: iep@iep.org.br

Créditos Fotos: Enefotos/IEP e Baixaki

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

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