Desperdício invisível

28 de agosto de 2007

Desperdício invisível

Desperdício invisível 150 150 Cimento Itambé

Erros e mau planejamento geram gastos excessivos nas obras

“A cada três edifícios construídos, um é jogado fora”. Por anos este jargão circulou no meio da construção até ser questionado por alguns profissionais que foram aos canteiros de obra para avaliar as reais proporções das perdas. Um dos estudos mais amplos foi realizado dentro do programa Gesconmat – Gestão de Consumo de Materiais – desenvolvido pela Escola Politécnica da USP e pelo Sinduscon-SP. O programa diagnosticou as perdas em nove empresas e encontrou valores como 17% em argamassa, 5% no concreto e 2,9% em blocos de concreto.

Estes e outros valores normalmente medidos constituem a parte visível ou mensurável do desperdício: a diferença entre os valores efetivamente consumidos e os que foram previstos em projeto. Há, no entanto, uma outra parcela que por vezes já vem incorporada no próprio projeto, aquela representada por materiais que são aplicados em excesso, seja por falta de integração dos projetos, atraso tecnológico da empresa ou falta de percepção do gestor.

Os exemplos são diversos. É o caso do emprego de fôrmas de menor qualidade, que se deformam excessivamente ao serem reutilizadas e que demandam volumes cada vez maiores de concreto a cada pavimento executado. Há registros de pedidos feitos a centrais de concreto com variações de até 10% entre um andar padrão e outro, sem alterações arquitetônicas que justifiquem. Fôrmas irregulares também prejudicam o prumo da fachada do edifício, corrigido depois pela argamassa de revestimento. Efeitos tão comuns que são incorporados ao orçamento e não são percebidos como perdas, mas que talvez pesem mais do que a opção por fôrmas de melhor tecnologia.

O próprio traço do concreto feito em obra costuma ter um elevado consumo de cimento para compensar as variações de resistência decorrentes da falta de precisão das medidas em volume e da ausência de estudos de dosagem. Muitas empresas preferem manter-se fiéis ao famoso “1:3” a investir em um profissional que se responsabilize pela racionalização e controle tecnológico. Isso sem contar os 40% de coeficiente de segurança sobre a resistência característica do concreto aplicada nos cálculos estruturais.

Junte-se a isso o dimensionamento exagerado das armaduras em obras de pequeno porte e pouco carregamento. Ou as paradas de mão-de-obra por mau planejamento de etapas seqüenciadas ou falta de material no canteiro. Empresas que reúnem alguns ou todos estes fatores vêem suas margens de lucro ser reduzidas, sem entender o progresso da concorrente que investe em planejamento e qualidade.

É notória a falta de qualificação da mão-de-obra, mas ela não pode ser responsabilizada por todos os problemas do setor. Estes fatores são de responsabilidade dos gestores do projeto, pelos quais deve-se entender engenheiros e arquitetos envolvidos. São eles e não a mão-de-obra que economizam tempo e verba na etapa de projeto e depois precisam investir muito mais na resolução de incompatibilidades durante a execução. E também deve ser deles a iniciativa de investir em ferramentas e materiais adequados para o operário realizar um bom trabalho. Os conceitos de qualidade estão ao alcance de todos e podem realmente ser incorporados nos processos da modesta e da grande construtora, como provaram as empresas brasileiras que repensaram seus processos e hoje contabilizam seus ganhos.

Créditos: Engª Aline Martins – Assessora Técnico Comercial Itambé

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