Como a academia e as empresas podem trabalhar juntas pela inovação?

Veja os desafios do setor e iniciativas para incentivar o desenvolvimento da indústria
11 de janeiro de 2024

Como a academia e as empresas podem trabalhar juntas pela inovação?

Como a academia e as empresas podem trabalhar juntas pela inovação? 1024 682 Cimento Itambé
Para ser interessante para empresas e universidades, os projetos devem ser competitivos, atendendo às demandas do mercado brasileiro.
Crédito: Envato

A inovação é fundamental para a evolução do setor da construção civil. Durante o 8º Congresso Brasileiro do Cimento, Vahan Agopyan, secretário de Ciência e Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, ressaltou: “não tem jeito de nos mantermos competitivos como uma indústria se não investirmos pesadamente em inovação”. Dentro deste contexto, como promover uma integração entre o Estado, as universidades e as empresas para incentivar o desenvolvimento de novas técnicas e produtos?

Na opinião de Agopyan, o Brasil enfrenta alguns problemas com relação a este tópico, mas vem evoluindo muito. “Talvez as pessoas não saibam, mas as principais universidades paulistas recebem suporte das empresas equivalentes às principais universidades do mundo. Do orçamento da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 6 a 7% vem das empresas. Similar ao que acontece com o MIT, por exemplo”, afirma.

Neste sentido, Agopyan vê o papel do Estado como um articulador das parcerias. “Buscamos fortalecer a articulação, ampliar a compreensão e promover o desenvolvimento de ambientes inovadores em nosso Estado. A parte científica conta com apoio consistente, como demonstrado recentemente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que, há três meses, destinou quase meio bilhão de reais para laboratórios multiusuários”, esclarece Agopyan.

 As universidades e as empresas estão preparadas para o desafio?

Para Agopyan, a academia brasileira passou por transformações significativas durante as últimas cinco décadas em que esteve envolvido. “Havia, em um passado recente, certo receio de colaboração. As empresas viam a universidade como excessivamente burocrática, enquanto as universidades suspeitavam do desejo das empresas de controle. Felizmente, isso já mudou. Essa mentalidade é agora parte de um passado superado”, defende.

Por outro lado, Agopyan aponta que é preciso aprimorar os canais de comunicação nas empresas. “É notável que ter um representante dedicado à área de pesquisa e desenvolvimento pode facilitar esse contato. Além disso, acredito que as empresas devem cultivar pequenos grupos de pesquisa e desenvolvimento, pois nem todas as questões precisam ser resolvidas por meio da universidade ou do instituto de pesquisa. Existem desafios pontuais que podem ser enfrentados internamente. Ter um pequeno grupo de P&D pode aprimorar significativamente a implementação de inovação dentro das empresas. Atualmente, esse tipo de grupo não demanda necessariamente grandes investimentos, já que os laboratórios das instituições de pesquisa estão disponíveis para a indústria.”, justifica.

Hub de Inovação na Construção Civil (hubIC): Estratégias e Desafios

Durante o 8º Congresso Brasileiro do Cimento, Carlos Massucato, Membro do Comitê Gestor do hubIC, falou sobre esta iniciativa, um convênio de cooperação técnica entre a USP e a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). O objetivo é desenvolver e criar “ambientes cooperativos de inovação especializados na promoção de soluções inovadoras de construção digital, em particular para a cadeia de valor do cimento, que sejam competitivas para países em desenvolvimento e que apresentem baixa pegada ambiental, alta produtividade e qualidade e difundam soluções bem como ações que preparem o setor e a sociedade para a transição para uma economia digital e circular”, segundo informa a entidade.

De acordo com Massucato, o hubIC funciona, pois apresenta uma proposta bastante clara sobre como conduzir essa transformação no setor. As premissas seguidas pelos projetos desenvolvidos pela entidade são:

  • Competitividade, atendendo às demandas do mercado brasileiro;
  • Necessita aumentar a produtividade;
  • Priorizar a rentabilidade;
  • Compromisso com performance e qualidade em todo o processo envolvido.

Um dos pontos chaves para chegar a soluções é ouvir os concorrentes. “Nós unimos um pool de empresas e começamos a compreender suas dores. Não há desafio que seja enfrentado apenas pelo CEO da empresa; ao invés disso, há uma estruturação desse processo para quem realmente enfrenta e busca solucionar essas questões. No hubIC, não abrimos mão do termo ‘pré-competitivo’ e investimos esforços diários nesse aspecto. É simples trazer inovação para um ambiente controlado com seus próprios profissionais, mas é fundamental também dialogar com seus concorrentes. Essa é a grande estratégia do hubIC. É relevante porque muitas questões e desafios são comuns entre os competidores. Por vezes, sentimos receio de admitir que nossos problemas são semelhantes aos dos outros concorrentes. No entanto, ao reunir esses problemas em uma mesma mesa, torna-se muito mais fácil encontrar soluções e reduzir custos”, explica Massucato.

Fontes
Vahan Agopyan é secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo. Engenheiro Civil pela EPUSP – Escola Politécnica da USP (1974), Mestre em Engenharia Urbana e de Construções Civis pela mesma instituição (1978) e PhD (Civil Engineering) pela University of London King’s College (1982). Docente da EPUSP desde 1975, sendo professor titular de Materiais e Componentes de Construção Civil da EPUSP e Reitor da Universidade de São Paulo, na gestão 2018-2022. Fundador e atual conselheiro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), participou de diversos conselhos como o do Instituto de Engenharia (IE), Instituto Mauá de Engenharia (IMT), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e Conselho Superior de Estudos Avançados da FIESP. Foi Diretor da Escola Politécnica da USP, Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP, Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e Coordenador de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Foi conselheiro e vice-presidente do International Council for Research and Innovation in Building and Construction (CIB), conselheiro da FAPESP, do IPT, da CAPES e do Centro Paula Souza. Orientou 22 Teses de Doutorado, 23 Dissertações de Mestrado e 7 alunos de Iniciação Científica. Tem experiência na área de Construção Civil, com ênfase em Materiais e Componentes, atuando principalmente com materiais reforçados com fibras. Mais recentemente, dedica-se aos estudos da qualidade e sustentabilidade da Construção Civil. Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, Eminente Engenheiro do Ano.

Carlos Massucato é mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual De Campinas (Unicamp). É diretor do Instituto Brasileiro do Concreto e Coordenador do CT 101 – Comitê Técnico IBRACON/ ABECE/ABCIC de Sustentabilidade do Concreto. Membro do Comitê Gestor do hubIC, parceria entre Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli USP) e a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Consultor Técnico da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração – CBMM, líder mundial na produção e da tecnologia do Nióbio.

Contatos
Carlos Massucato: Carlos.massucato@massucato.com
Vahan Agopyan: vahan.agopyan@poli.usp.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.

11 de janeiro de 2024

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